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DISSONNETTO DOMESTICO [0436]

Estava o cachorrão sozinho e triste, trancado na casinha, come-e-dorme. Seu unico brinquedo, aquelle enorme, surrado pé de tennis, que resiste. Ja victima das linguas e do chiste, a edade faz que quasi se conforme. Seus donos usam botas e uniforme. De fuga não ha ropta que os despiste. Até que um lindo e timido gattinho, em busca de refugio, certa feita, se acchega ao cachorrão e alli se deita. Naquelle apperto, pisa-lhe o focinho. O cão accorda, extranha, mas acceita. Resiste à temptação de ser mesquinho e, em vez de defender, divide o ninho. Agora a dupla vive satisfeita.

ALEM DO AMEN [6361]

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Alguem olha por mim, que ja não vejo com olhos desta Terra, mas presinto, em plena pandemia, por instincto vital, que me proteja no varejo. Alem da protecção astral, protejo meu corpo, para andar no labyrintho, no braço do parceiro por quem sinto amor, seja de espirito ou desejo. Do mundo dos espiritos Akira paresce-me enviado. Que seria dum cego nesta absurda pandemia na falta da alma gemea que me inspira? Ainda antes de estar, com minha lyra, na hora da afflictissima agonia, a Alguem eu aggradesço pelo guia que em vida me emprestou e não me tira.

ETERNO CALOR MATERNO [5651]

A minha mãe morreu soffrendo. Tento lembrar-me disso o quanto menos, mas me lembro quando as coisas andam más. Ninguem meresce tanto soffrimento. Coitada, agonizou. Eu não aguento soffrer nem a metade do que, nas semanas terminaes, ella, tenaz, passou. Ja passei, acho, uns dez por cento. Mas, quando supportando não vou mais, não rezo, propriamente, nem levanto as mãos ao céu. Appenas, no meu cantho, concentro-me e, por ella, choro uns ais. Milagre não direi, mas cruciaes symptomas cessam. Para meu expanto, meus ais escuta alguem que, tanto quanto sei, vive eternamente entre os mortaes.

SAUDADES DA SAUDADE [7066]

Saudade, esse vocabulo de lusa feição, não se traduz por nostalgia, tampouco pelo termo que quem via e está, como hoje estou, nas trevas, usa. É muito mais e envolve, na reclusa vidinha solitaria, aquella thia solteira que ser freira não quiz, pia e crente no perdão pela recusa. Envolve, na viuva, a sensação da perda. Nos escravos, o lamento do banzo. Nos edosos, o momento que chega de partir, da prece em vão. Envolve, alem daquelles que se vão, cadernos, livros, photos… Quando tento das cores recordar, vem-me, cinzento e vago, um sentimento de illusão.

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