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DISSONNETTO SOBRE UM HABITUÊ NUMA DEPRÊ [2886]

Garçon, não quero nada. Nem café, nem leite, nem manteiga na torrada, nem agua bem gelada. Nada, nada! Só quero ficar só, chorar, até. Si as coisas não chegassem nesse pé, eu ia até pedir a marmellada da casa, aquella torta recheada de nozes e castanhas… Um filé, talvez, antes da torta, um medalhão ao molho de mostarda, que convida a arroz e frictas juncto, hem? Que pedida, não acha? Ou cê tem outra suggestão? Lombinho com farofa? Puxa vida! Foi muito bem lembrado! Traga, então, um pratto de torresmo, uma porção maior, p’ra accompanhar… Sim, a bebida!

MEZZO MOZZA [4926]

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Pedi napolitana e penso: em Roma será que comem pizza? Essa rodella de massa vem de Napoles! E nella, em cada parte, algum sabor se somma. Aberta a caixa, a pizza expalha aroma de queijo e de tomate, alem daquella fatal herva cheirosa. Ah, mas que bella fatia! Como esperam que eu a coma? Sim, uso as mãos, é claro! Me lambuzo todinho, chupo os dedos, sorridente! Me sujo, mas degusto inteiramente, de borda a borda, a pizza! Ah, como as uso! Pudera! Aqui no apê nunca vem gente que possa reparar! Si estou recluso, eu quero é mais! E como mesmo, abuso! Ao menos a approveito emquanto quente!

UM GRAMMA DE GRAMA [4184]

Si houver consummação, pode o consumo ficar muito mais caro em minha mesa. Si o pratto consumido é da franceza cozinha, me abhorresço e me consumo. Pois facto consummado é que, si o rhumo for esse de evitar a pança obesa, porções sempre menores, com certeza, virão, e as refeições nunca eu consummo. Terei, portanto, o estomago vazio, quer seja o preço baixo ou elevado, ao fim de cada almosso onde o boccado não chega! E, quando passo fome, eu chio!

O duro é pagar caro e, consummado o assalto ao bolso, sem nem dar um pio ao ver a compta, achar que me enfastio por só ter consumido um grão piccado!

Eu quero ser o riso e ser o dente. Eu quero ser o dente e ser, tambem, a faca, a faca e o corte, um corte bem profundo, bem vermelho e sorridente. Sou raiva, sou vaccina, sou somente o espaço entre o que é sem e o que contem, a briga do que vae com o que vem, de espelho e luz, de passaro e semente. Meu berço, eu faço e fiz na viração.

Na tempestade, appenas, addormesço. Descanso só si estou no furacão.

Não tenho nem patrão, nem endereço.

Não faço nem poema, nem canção. Fazer, no som, nonsense, tem seu preço.

Alguns ja me entenderam, outros não.

Um dia, eu vingo, eu cresço, eu apparesço.

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