Diálogo: Primeiros estudos em Filosofia

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AMOSTRA

Ensino Médio

DIÁLOGO: PRIMEIROS ESTUDOS EM FILOSOFIA Professor, apresentamos nesse volume uma amostra referente à obra Diálogo: Primeiros Estudos em Filosofia. Aqui, você encontra trechos do livro e conhece um pouco do material que foi desenvolvido para proporcionar aulas ainda mais dinâmicas e completas. A obra se caracteriza pelo vínculo entre a vida e a Filosofia, fazendo a reflexão sobre as ações humanas que dão origem aos

DIÁLOGO: PRIMEIROS ESTUDOS EM FILOSOFIA RICARDO MELANI

problemas que a disciplina discute. No livro, os alunos também entrarão em contato com o pensamento dos principais filósofos, enquanto analisam os conceitos filosóficos a partir de sua realidade cotidiana.

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Nossos consultores estão à sua disposição para fornecer mais informações sobre esta obra.

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CONFIRA: • Sumário da obra • Unidade 4, com 3 capítulos • Suplemento para o professor da Unidade 4

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AMOSTRA Ensino Médio

DIÁLOGO: PRIMEIROS ESTUDOS EM FILOSOFIA Volume único

Ricardo Melani

1a edição

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Ricardo Melani É graduado e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, instituição na qual também se graduou em jornalismo e lecionou por mais de dezoito anos. É autor de livros didáticos e paradidáticos para o ensino médio e superior, além de editor executivo das revistas PUCviva e Cultura Crítica.

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Conversa com a filosofia

A

filosofia tem início no encantamento do homem pelo mundo. Na admiração pelas coisas e pelos seres. São essa admiração e esse encantamento que impulsionam a busca por desvelar o que existe. O que é tal coisa? Por que ela é assim? Qual é a sua essência? São perguntas que movem o homem desde sempre. Mas, se o homem é um ser que pergunta sobre o que existe, antes de tudo, ele pergunta sobre si mesmo. Quando os primeiros filósofos indagavam a natureza, sabiam que as respostas revelariam também algo do homem. Quando os primeiros astrônomos olhavam as estrelas, viam no brilho que viajava milhões de anos-luz alguma mensagem para o ser humano. Investigavam o céu para desvendar a alma humana e a vida terrestre. Por sorte nossa, a admiração pelas coisas e pelas pessoas não cessa; e, portanto, também não cessam as perguntas. O homem não cansa de refletir sobre o mundo e sobre sua própria existência; sobre as suas alegrias e seus sofrimentos. O homem não para de refletir sobre suas próprias criações. Não para de criar teorias e explicações sobre a arte, a ciência, a política, a ética, o conhecimento, a linguagem, a metafísica, a história, a cultura, a religião... Este livro é uma proposta de conversa a respeito do encantamento do homem pela vida e as suas formulações teóricas; mais especificamente é uma proposta de conversa com a filosofia. Uma conversa sobre um segundo tipo de admiração: a admiração pelo pensamento racional. No processo de elaboração da obra, houve preocupação, por um lado, com o rigor conceitual, com os problemas filosóficos, com os nexos teóricos entre os filósofos e as filosofias - sem os quais se perderia o coração das reflexões filosóficas; por outro lado, esteve sempre presente a ideia de aproximar a filosofia da vida. A ideia de que a filosofia é uma reflexão sobre o encantamento com a vida e com a existência humana. Por isso, o texto básico do livro tem uma linguagem direta, simples e de fácil compreensão, que busca, sempre que possível, relacionar os conceitos estudados com a realidade dos dias de hoje. Esse cuidado em facilitar a compreensão e aproximar o conteúdo filosófico da vida concreta esteve presente também na elaboração do projeto gráfico do livro e nas escolhas das imagens, fruto de uma intensa pesquisa iconográfica. Os elementos gráficos foram concebidos em unidade com o conteúdo. Eles facilitam, informam e ajudam a esclarecer os conceitos e as ideias expostos pelo texto. Há ainda mais um aspecto que norteia toda a obra: a ideia de que todos podem filosofar, isto é, que a reflexão racional radical é imanente ao homem. Que a centelha da filosofia pode alcançar a todos. Assim a obra também é um exercitar a filosofia. Ela está permeada de atividades, indagações, exercícios e estímulos à reflexão e ao desenvolvimento de competências necessárias ao modo filosófico de pensar. Dessa maneira, entende-se que o conversar com a filosofia é em alguma medida filosofar. Esperamos que a conversa cause admirações. Isto é, que o estudo das noções filosóficas seja algo significativo para a vida. Um ótimo estudo!

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A organização deste livro Esta obra é composta de uma introdução e 21 capítulos distribuídos em 6 unidades. Ela foi concebida e estruturada para facilitar a conversa com a filosofia e aproximar os alunos e os professores da história da filosofia e de alguns temas filosóficos. Veja, a seguir, a organização interna da obra:

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POPPERFOTO/GETTY IMAGES

UNIDADE

Filosofia contemporânea III

Abertura de Unidade Apresenta um texto contextualizando historicamente as concepções filosóficas que serão estudadas na unidade, imagens, um sumário dos capítulos da unidade e uma cronologia (com exceção da unidade 6) que localiza no tempo os principais pensadores do período histórico estudado.

p. 14 22

CAPÍTULO 10 2

A teoria marxista Sócrates, Platão eo ospositivismo sofistas O homem As reflexões como centro de filosóficas atenção dasobre filosofia. o capitalismo. p. 27

CAPÍTULO 11 3

Aristóteles O homem ée mais a filosofia que a razão helenística O estruturação A indivíduo e a existência do conhecimento: humana entramfilosofia, em cena.

ético e metafísica. p.ciência, 42 p.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A reação O pensamento ao Iluminismo racional e a investigação criação dos sistemas da natureza. idealistas

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Capitalismo e existência humana O século XIX assinalou a consolidação do poder da burguesia e do sistema capitalista, o avanço da ciência como instrumento fundamental de conhecimento e de relação com a natureza e a intervenção progressiva desse conhecimento na sociedade por meio da tecnologia. No entanto, a Revolução Industrial tinha criado não só o lado positivo do capitalismo, mas também o negativo, os explorados pelo sistema. A maioria dos trabalhadores não tinha acesso a boa parte dos bens produzidos pela grande indústria, e as condições de trabalho e de vida eram muito precárias. Nesse sentido, o século XIX também foi marcado pela eclosão de movimentos, revoltas e revoluções sociais de trabalhadores e desfavorecidos. As filosofias e as teorias políticas que surgiram nesse período, direta ou indiretamente, refletiram a nova realidade. Hegel, Marx, Comte, Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Freud são alguns dos principais pensadores que refletiram sobre a existência humana e a vida na sociedade capitalista e elaboraram teorias sobre o assunto.

CAPÍTULO 91

O idealismo surgimento alemão da filosofia

Trabalhadores em greve caminham sobre a Ponte de Londres, na Inglaterra, em 1910. Foi nos países europeus pioneiros na industrialização e na organização do operariado que nasceram as teorias críticas e reflexivas sobre a vida humana no sistema capitalista.

Cronologia representada sem escala temporal.

Marx

COLEÇÃO PARTICULAR

AKG-IMAGES/ ALBUM/LATINSTOCK

Engels

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O homem é mais que a razão

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE COLEÇÃO PARTICULAR

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COLEÇÃO PARTICULAR

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A era industrial: o idealismo alemão, o positivismo e o marxismo

Sö re Kier n (181 kega 3-18 ard 55 )

Idade Contemporânea – Filosofia contemporânea I

Schopenhauer

Nietzsche

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Sentimento de infinito

instante? Mais do que o Não sei... já sentiu? Como se a vida fosse mais do que esse que permanece em movimento de seus olhos sobre estas palavras ou da sua respiração, e houvesse uma força esequilíbrio? Como se a vida fosse para além do pensamento ao redor e dentro de nós? tranha e misteriosa, mas, ao mesmo tempo, íntima, presente é claramente decifrável Não há como falar diretamente dessa força ou energia. Ela não intensamente. sentida ser ou definível. Não pode ser apreendida pela lógica, mas pode no mundo e no homem, A ideia de que existe uma força infinita que está no Universo, Para alguns române que domina todas as coisas, foi central no movimento romântico. e teria expressão nas artes e ticos, essa força infinita se manifestaria nos sentimentos o mundo. organiza que razão uma tudo na religião. Para outros, o infinito seria antes de no final do século XVIII, O romantismo foi um movimento espiritual europeu que surgiu a cultura em geral. Esse movise desenvolveu no século XIX e envolveu a arte, a filosofia e tempo que foi influenciado mento influenciou fortemente o idealismo alemão ao mesmo e Hegel. Schelling Fichte, foram alemão idealismo por ele. Os principais representantes do

Reflita

visível 1. Você já teve a sensação da existência de uma força não

de fevereiro de 1998.

Hegel e a marcha do espírito Você já ouviu falar do livro Odisseia, de Homero? Trata-se de um poema épico sobre as peripécias e adversidades vividas pelo protagonista Odisseu (Ulisses), rei de Ítaca, em sua viagem de volta para casa depois de lutar na guerra de Troia. Durante dez anos Odisseu enfrentou todo tipo de obstáculos – monstros, fúria de deuses, intempéries –, mas não desistiu de seu propósito: retomar seu reino e o seu lugar ao lado de sua esposa, Penélope. Todas as dificuldades só valorizaram a conquista de seu objetivo. Podemos fazer uma analogia dessa narrativa de Homero com o argumento central do pensamento do filósofo alemão Hegel, exposto em sua obra Fenomenologia do espírito. Nesse livro, considerado o ponto culminante do idealismo alemão, Hegel trata do percurso do Espírito Absoluto em direção à sua própria realização. Quer dizer, o Espírito Absoluto ou Razão Absoluta, para Hegel, não era algo acabado, fixo e imutável; antes de tudo, era um processo, uma atividade que passava por altos e baixos, por afirmações e negações, por contradições, que seguia em frente em marcha irregular, porém progressiva. A Fenomenologia do espírito era a odisseia do espírito rumo à sua afirmação. Mas o que significava dizer que o espírito marchava para a sua realização? Vejamos com mais detalhes o sistema idealista de Hegel, que buscava abarcar a totalidade do real mantendo coerência entre todas as suas partes.

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CASPAR DAVID FRIEDRICH - HAMBURGER KUNSTHALLE,

O peregrino sobre o mar de brumas, pintura de Caspar David Friedrich, 1818. O artista tenta apreender um sentimento de infinitude (grandeza) a partir da contemplação de um peregrino postado no topo de uma rocha.

9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei

Abertura do capítulo Com imagem e questões para a reflexão, o texto de abertura procura sensibilizar o aluno para o estudo que se inicia e estimular sua capacidade argumentativa.

Boxes complementares Apresentam informações que ampliam o estudo do capítulo, articulando os conteúdos filosóficos com outras áreas do conhecimento.

Intempérie. Irregularidade ou perturbação do clima como, por exemplo, uma tempestade.

Homero e a guerra de Troia Ilíada e Odisseia são dois poemas épicos gregos atribuídos a Homero. O primeiro trata da guerra de Troia, e o segundo, do retorno para casa do herói grego Odisseu, rei de Ítaca, após a derrota dos troianos. As duas obras são fontes históricas que elucidam um conjunto de tradições e de costumes da Grécia antiga. Homero teria vivido no século IX a.C., cerca de três séculos após o fim da guerra. Mas essas datas são controversas entre os historiadores.

que envolve tudo o que

existe? força 2. Para você, essa força é sobrenatural ou natural, isto é, uma 3. De que maneira esse sentimento faz parte da sua vida?

MANOHEAD

Friedrich Schelling

Friedrich Schelling (1775-1854) nasceu na cidade de Leonberg, Alemanha. Considerado um dos principais representantes do idealismo alemão pós-kantiano, o filósofo romântico iniciou seus estudos na Universidade de Tübingen, onde cursou teologia ao lado de Hegel. Inspirado pelas obras de Fichte e Kant, Schelling deu os primeiros passos em direção à sua consagração como filósofo ao lançar sua principal obra, O sistema do idealismo transcendental. Após romper com Fichte, Schelling criou um novo conceito de identidade, superando a dicotomia entre a subjetividade e a objetividade e priorizando a existência em relação à essência. Suas principais obras são Ideias para uma filosofia da natureza, Sobre a alma do mundo, Filosofia e religião e As idades do mundo.

O idealismo alemão

espiritual ou física?

G. DAGLI ORTI/DEA PICTURE LIBRARY/ GLOWIMAGES-BARDO MUSEUM, TUNIS

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HAMBURGO

Capítulo

12

Odisseu (Ulisses) amarrado ao mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias, passagem da Odisseia representada em mosaico romano do século III.

Boxes de biografias Breve biografia dos principais pensadores estudados.

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2. Na concepção de Feuerbach, o homem não é criação de Deus. Ao contrário, Deus foi criado pelo homem como forma de representação dos desejos humanos.

DO LOUVRE, PARIS

Reprodução proibida. Art.184 do

Código Penal e Lei 9.610 de 19

de fevereiro de 1998.

Para pensar Hegel acreditava que a arte desvelava o absoluto, ou seja, expunha a unidade do homem (o finito) com Deus (o infinito). Essa ideia de desvelamento ou de transcendência da arte estava apoiada no poder que as manifestações artísticas têm de remeter para algo superior a elas, que estaria no terreno da emoção, do pensamento ou da religião. 1. O quadro abaixo, A liberdade guiando o povo, de 1830, de Eugène Delacroix (1798-1863), está relacionado à Revolução de 1830 na França. No entanto, a pintura remete a ideias ou conceitos que vão além e da própria pintura. Explicite a transcendência do acontecimento histórico da obra de Delacroix. 2. Dê um exemplo de obra de arte que transcenda ao infinito. Justifique.

Materialismo histórico 1. Marx e Engels são os fundadores do materialismo histórico, teoria segundo a qual a sociedade e os acontecimentos históricos são explicados a partir das condições materiais de produção e de distribuição das riquezas. 2. Para o materialismo histórico, não é a ideia ou a consciência que determina a realidade, como afirma o idealismo dialético, e sim a realidade material, a vida concreta e social do homem que determina a consciência humana. 3. Segundo Marx, ideologia é o conjunto de ideias e valores da classe dominante que são apresentados para a sociedade como verdades absolutas e universais.

A liberdade guiando o povo, pintura

de Eugène Delacroix, 1830.

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3. Com esse entendimento, Feuerbach iniciou um giro filosófico que partiu do idealismo alemão em direção ao materialismo histórico.

Multimídia • A liberdade guiando o povo

4. Para Marx, a principal atividade do homem é o trabalho, compreendido como ação do homem sobre a natureza. O trabalho é responsável pela humanização do homem e fonte de riqueza.

5. As mercadorias, por mais diferentes que sejam, têm um aspecto em comum: o trabalho incorporado. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo médio socialmente necessário à sua produção. É essa característica que permite a troca de distintas mercadorias. 6. No capitalismo, o trabalho oprime o indivíduo. O trabalho se transforma em algo alheio ao trabalhador, que é alijado do planejamento da atividade e não é dono daquilo que produz. O trabalhador se transforma em uma peça, uma coisa no processo de produção capitalista. 7. Em seus estudos, Marx concluiu que a história da humanidade tinha sido, até então, a história da luta de classes. Esse conflito só teria fim após a tomada do poder pelo proletariado, que iniciaria as mudanças para a construção de uma sociedade sem classes e sem Estado, o comunismo.

Comte e o positivismo 1. Saint-Simon foi o inspirador de Comte e da filosofia positivista. As duas ideias principais da concepção de Saint-Simon são: a história da humanidade é caracterizada por um contínuo progresso; estava próximo o florescer de uma nova sociedade, baseada no conhecimento científico positivo e no desenvolvimento da indústria. 2. Comte defendia a criação de uma física social ou sociologia, que teria como objeto de estudo os fenômenos sociais. O propósito dessa ciência seria a descoberta de leis sociais invariáveis, como ocorria na física newtoniana.

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MARIANA COAN

1. Pouco depois da morte de Hegel, nas fileiras de seus discípulos surgiram as principais críticas ao idealismo dialético. Entre essas críticas, estavam as concepções de Feuerbach, que influenciaram profundamente as elaborações de Marx e Engels.

MARIANA COAN

Remissão ao DVD Caixinhas identificadas por um ícone remetem ao objeto digital do DVD.

Síntese Antecedentes do materialismo histórico

EUGÈNE DELACROIX - MUSEU

Para pensar Propostas de reflexão que estimulam a problematização dos conceitos e temas estudados.

A religião também revelaria o Espírito Absoluto por meio do sentimento religioso – sentimento de vinculação com o divino – e da representação. Suas histórias propiciariam, segundo Hegel, o pensamento sobre o vínculo do homem com Deus. A principal delas era a vida de Jesus. Jesus seria a encarnação do espírito. Ele fez o espírito ter visibilidade. Nele, o homem e Deus (o finito e o infinito) seriam um só. Jesus se constituía na superação da oposição entre o finito e o infinito. Por sua vez, nessa medida, a filosofia também seria considerada uma espécie de religião, porque, segundo Hegel, tinha o mesmo propósito de todas as religiões: restabelecer o vínculo com Deus ou o absoluto. Mas a filosofia superaria a forma religiosa, porque iria além das histórias e das representações . Ela restabeleceria ou evidenciaria o vínculo entre o finito e o infinito por meio de conceitos, por meio da razão. Assim, a filosofia poderia pensar as formas e todas as manifestações do Espírito Absoluto como unidade e a experiência humana, a história, a arte, a religião e a própria filosofia como revelações e a concretude dessa unidade. Ou seja, a filosofia seria o saber absoluto e totalizante.

Síntese No final de cada capítulo, traz os principais conceitos e ideias dos filósofos estudados.

3. Por meio dessas leis sociais invariáveis e da observação da situação imediata, o homem poderia analisar o presente e prever acontecimentos sociais futuros. 4. Comte acreditava que sua grande descoberta teria sido a lei dos três estágios, que analisava a história humana como uma sucessão de etapas rumo ao progresso final: o estágio teológico, o estágio metafísico e o estágio positivo.

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Atividades

Peanuts, tirinha do cartunista norte-americano Charles Schulz, 1960.

3. Exponha qual era para Schleiermacher o significado do sentimento do infinito. 4. Apresente a crítica de Fichte à filosofia transcendental kantiana diferenciando o sistema idealista dos dois filósofos. 5. Explique a filosofia da natureza em Schelling e a sua relação com o absoluto. 6. Por que a filosofia de Hegel é conhecida como idealismo dialético? 7. Por que Hegel deu tanta importância à história humana?

12. Em dezembro de 2010, a morte de um jovem vendedor ambulante na Tunísia, que se autoimolou em protesto contra o desemprego e a corrupção policial, foi o início de uma sequência de manifestações que levaram à queda do ditador tunisiano Ben Ali. O exemplo da Tunísia logo se espalhou pelo Egito, pela Líbia e pelo Oriente Médio em uma onda revolucionária que levou à queda de ditadores e mergulhou a Síria em uma guerra civil que até 2013 tinha feito quase 40 mil vítimas e cerca de 500 mil refugiados. Denominada pela imprensa de Primavera Árabe, a revolução expressou o desejo por democracia, emprego e melhores condições de vida. Reflita sobre esses acontecimentos e o texto a seguir, de Hegel, para responder à seguinte questão: Segundo a concepção de história de Hegel, os acontecimentos da Primavera Árabe seriam racionais? Explique.

Questões de vestibulares e do Enem Hegel 1. (UFU-2009) A respeito do conceito de dialética, faz a seguinte afirmação: “O interesse particular da paixão é, portanto, inseparável da participação do universal, pois é também da atividade do particular e de sua negação que resulta

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A virgem e o menino Jesus, escultura de artista desconhecido, século XIII.

MICHEL URTADO/RMN-GRAND PALAIS/OTHER IMAGES - MUSEU NACIONAL DA IDADE MÉDIA - MUSEU DE CLUNY, PARIS

Atividades Ao final de cada capítulo, são apresentadas questões em ordem crescente de dificuldade que visam sistematizar os conhecimentos e aprofundar o aprendizado.

o universal.”

alterCom base no pensamento de Hegel, assinale a nativa correta. do a) O particular é irracional, por isso é a negação universal, portanto, a história não é guiada pela razão, mas se deixa conduzir pelo acaso cego dos acontecimentos que se sucedem sem nenhuma relação entre eles. modo de b) O universal é a somatória dos particulares, que a história é tão só o acumulado ou o agregado das partes isoladas, e assim elas estão articuladas tal como engrenagens de uma grande máquina. c) O particular da paixão é a ação dos indivíduos, sempre em oposição à finalidade da história, isto é, do universal da razão que governa o mundo, os mas esta depende da ação dos indivíduos, sem quais ela não se manifesta. d) O universal é a vontade divina que por intermédio de da sua ação providente preserva os homens todos os perigos, evitando que se desgastem com suas paixões, assim, o humano é preservado desde o seu surgimento na Terra.

8. Para Hegel, a arte, a religião e a filosofia são formas do Espírito Absoluto. Explique. 9. Explicite os principais argumentos de Kierkegaard em oposição ao idealismo de Hegel, os quais estão na origem de sua filosofia existencialista. 10. Hegel desenvolveu o seu método do pensar e do agir partindo do princípio de que a razão é o que distingue os homens dos outros animais. Explique a relação entre razão, verdade e eternidade na filosofia hegeliana.

HEGEL, G. W. F. Filosofia da história. 2. ed. Trad. Maria Rodrigues e Hans Harden. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 35.

2. (UFPA-2009) No início do século XIX, mais precisado mente com Hegel, a arte é concebida no interior tal domínio do absoluto, isto é, da verdade enquanto essa e dos elementos que a expõem. Tendo em vista concepção, é correto afirmar: toa) O absoluto não se expressa, de uma vez por das, no domínio artístico. isto b) Ao apresentar o absoluto sob forma sensível, a é, concreta e singular, a obra de arte não efetiva transfiguração da realidade. trac) Na atividade artística, apenas alguns de seus ços essenciais estão ligados ao ser verdadeiro. d) A beleza é, enquanto produto da arte, manifestação sensível do absoluto. cume) Na arte, a totalidade que se torna aparição pre suficientemente suas determinações.

“O único pensamento que a filosofia traz para o tratamento da história é o conceito simples de razão, que é a lei do mundo e, portanto, na história do mundo as coisas aconteceram racio­ nalmente.” HEGEL. A razão na história. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Moraes, 1990. p. 53.

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o 3. (UFU-2000) Sobre a filosofia de Marx, analisando conceito de trabalho, é correto afirmar que: exisI. a produção e a reprodução das condições de tência se realizam através do trabalho; diviII. a divisão social do trabalho não é uma simples da são de tarefas, mas a manifestação da existência propriedade;

porIII. os seres humanos distinguem-se dos animais que são dotados de consciência, e não porque produzem.

Questões de vestibulares e do Enem Ao final de cada unidade, são apresentadas questões selecionadas do Enem e dos principais vestibulares do país.

Assinale a alternativa correta. a) II e III b) III c) I e III d) I e II mar4. (UFRN-2011) As ideias de diversas correntes xistas deram as bases teóricas das grandes revolude ções políticas no século XX: a Revolução Russa 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e a Revolução Cubana de 1959. ser Nos três exemplos, a inspiração marxista pode identificada da a) no anarquismo, que propunha a destruição propriedade privada e a abolição das hierarquias dentro do Estado, e que serviu de base norteadora para essas revoluções. de b) no combate ao capitalismo, visando à formação um mundo novo, que aboliria a desigualdade social e integraria o proletariado no cenário da política. c) na forte vinculação existente entre as propostas lidos revolucionários e aquelas defendidas pelo beralismo, sobretudo a defesa dos interesses dos

e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

11. A tira abaixo “brinca” com o estado depressivo, fenômeno comum na sociedade contemporânea. Reflita sobre ela e estabeleça relações com a filosofia de Kierkegaard.

2. Como a arte e a religião revelariam o infinito, segundo Hölderlin, Schlegel e Novalis? Em que aspectos a escultura abaixo extrapola o finito e remete ao infinito?

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Aprofunde

1. O conceito ou a noção de infinito é um aspecto comum nas várias vertentes do romantismo. O que era o infinito para o movimento romântico?

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Sistematize o conhecimento

trabalhadores. um d) na condução do processo revolucionário por soconjunto de partidos políticos defensores do cialismo, sob lideranças camponesas, mas com frágil repercussão no proletariado.

5. (UFU-2000) “Friedrich Nietzsche (1844–1900) opõe à moral tradicional, herdeira do pensamento socrático-platôde nico e da religião judaico-cristã, a transvaloração todos os valores. Conforme Aranha e Arruda (2000): ‘Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche Depreconiza a ‘transvaloração de todos os valores’. esnuncia a falsa moral, ‘decadente’, ‘de rebanho’, ‘de humildade, a cravos’, cujos valores seriam a bondade, a a piedade e o amor ao próximo. Dessa forma, opõe moral do escravo à moral do senhor, a nova moral.”

ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. p. 286.

da Assinale a alternativa que contenha a descrição “moral do senhor” para Nietzsche. a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação da alegria. vitais. b) É negativa, baseada na negação dos instintos alémc) É transcendental; seus valores estão no -mundo. d) É positiva, baseada no sim à vida.

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Leitura complementar A noção de progresso à luz da psicanálise

Dois trabalhadores limpam outdoors em um shopping center de Pequim, China, 2010.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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LIU JIN/AFP

“Começarei definindo os dois tipos fundamentais do conceito de progresso que caracterizam o período moderno da civilização ocidental. De acordo com um deles, o progresso é definido sobretudo quantitativamente, evitando-se dar ao conceito qualquer valoração positiva. Aqui entende-se por progresso que, no curso do desenvolvimento da civilização, apesar de muitos períodos de regressão, aumentaram os conhecimentos e as capacidades humanas em seu conjunto, e que ao mesmo tempo eles foram utilizados visando a dominação cada vez mais universal do meio humano e natural. O resultado desse progresso é a riqueza social crescente. Na mesma medida, com o desenvolvimento da civilização, aumentam as necessidades humanas e também os meios de satisfazê-las. A questão que permanece em aberto é se esse progresso contribui igualmente para o aperfeiçoamento humano, para uma existência mais livre e mais feliz. A esse conceito quantitativo de progresso podemos chamar de progresso técnico e podemos opor-lhe o conceito qualitativo de progresso, tal como foi elaborado sobretudo na filosofia idealista e talvez de maneira decisiva por Hegel. Aqui o progresso na história consiste na realização da liberdade humana, da moralidade: um número cada vez maior de seres humanos torna-se livre e a própria consciência da liberdade incita a uma ampliação do âmbito da liberdade. O resultado do progresso aqui consiste na humanização progressiva dos homens, no desaparecimento da escravidão, do arbítrio, da opressão e do sofrimento. Podemos chamar humanitário (humanitüren) a esse conceito qualitativo de progresso. Entretanto existe uma conexão íntima entre o conceito quantitativo e o conceito qualitativo de progresso: o progresso técnico parece ser a precondição de todo progresso humanitário. A ascensão da humanidade a partir da escravidão e da miséria a uma liberdade cada vez maior pressupõe o progresso técnico, quer dizer, um alto grau de domínio da natureza, o único que leva à riqueza social, por meio da qual as necessidades humanas podem ser configuradas e satisfeitas de maneira cada vez mais humana. Por outro lado, não é de modo algum evidente que o progresso técnico leve automaticamente ao progresso humanitário – precisaríamos saber de que modo a riqueza social é repartida e a serviço de quem são empregados os crescentes conhecimentos e capacidades dos seres humanos. O progresso técnico que, como tal, é precondição da liberdade não significa de modo algum a realização de uma liberdade maior. Basta-nos evocar a ideia de um Estado de bem-estar totalitário, que há muito deixou de ser tão abstrata e especulativa, para perceber que aqui as necessidades humanas são mais ou menos satisfeitas, mas de tal maneira que os seres humanos, tanto na sua existência privada quanto na sua existência social, são administrados do berço ao túmulo. Caso ainda se possa falar de felicidade, trata-se tão somente de uma felicidade administrada. Constatamos na formulação filosófica do conceito de progresso uma tendência manifesta a neutralizar o próprio progresso. Enquanto ainda no século

que seria uma produtividade legítima, e temos o direito de deixar em aberto a pergunta: produtividade para quê? Parece que a produtividade é cada vez mais um fim em si mesma, e a pergunta sobre a sua utilização não só permanece em aberto, como é cada vez mais recalcada. Mas como a produtividade é inseparável do moderno princípio do progresso, resulta daí que a vida é sentida e vivida como trabalho, que o próprio trabalho se torna o conteúdo da vida. O trabalho é concebido como socialmente necessário, útil, sem ser em absoluto concebido como trabalho individualmente satisfatório, individualmente necessário. Instaura-se assim uma separação entre a necessidade social e a necessidade individual, e o desenvolvimento da sociedade industrial sob esse princípio de progresso só faz provavelmente com que isso se acentue. Em outras palavras, o trabalho, que se torna a própria vida, é trabalho alienado. Ele deve ser definido como trabalho que impede os indivíduos de realizarem suas capacidades e necessidade humanas e, quando permite alguma satisfação, esta é passageira ou vem depois do trabalho. Isto significa que segundo a ordem de valores do conceito de progresso essencial ao desenvolvimento da sociedade industrial, satisfação, realização, paz e felicidade não são fins, não são certamente os valores mais altos e caso sejam reconhecidos surgem e permanecem como subordinados. Essa ordem de valores, que vê tão somente na satisfação e na felicidade individuais um elemento secundário, corresponde a uma hierarquia das faculdades humanas própria ao conceito de progresso: o ser humano se divide em faculdades superiores, espirituais, e inferiores, sensíveis, que se relacionam entre si de tal maneira que as faculdades superiores e a razão são determinadas e definidas por oposição às pretensões dos sentidos, das pulsões. A razão aparece essencialmente como um princípio de renúncia e que coage à renúncia, e sua tarefa consiste não só em dirigir os sentidos, as faculdades inferiores humanas, mas em reprimi-los. Como consequência, segundo esta ideia de progresso, a liberdade é definida como liberdade em relação à coação das pulsões e dos sentidos, como transcendência em relação à satisfação e como a autonomia dessa transcendência. A satisfação nunca deve ser aquilo que constitui o conteúdo e o espaço da liberdade.”

Leitura complementar A seção propõe a análise de um ou mais textos filosóficos que permitem o contato direto com as ideias e reflexões estudadas e comparações com os conteúdos dos capítulos.

MARCUSE, Herbert. Cultura e psicanálise. Trad. Wolgang Leo Maar e outros. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 99-103.

Atividades 1. Atividade em grupo. Expliquem: a) os dois tipos de conceito de progresso expostos no texto e como eles se relacionaram na história humana. b) a crítica de Marcuse a respeito de a produtividade ser um valor fundamental da sociedade. c) a relação entre trabalho e produtividade na sociedade contemporânea, segundo Marcuse. 2. Dê sua opinião. Como fazer para que o trabalho não seja alienado? É possível?

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Nosso cotidiano

saudável de fazer. Nós não estamos condenados ao embrutecimento, nem à infelicidade. Para falar como um filósofo que estudaremos no ano que vem, Sartre, nós estamos condenados a ser livres, isto é, condenados a decidir sobre nosso destino. A decisão sobre a profissão que escolhemos e a vida que queremos ter é uma das inúmeras decisões que temos de realizar durante a nossa vida.

Trabalho e felicidade Lúcia, a professora de filosofia, é uma das que eu mais gosto. Ela não se porta como se fosse a dona da verdade. Procura ouvir os alunos e sempre está atenta às nossas preocupações e dúvidas. Suas aulas são interessantes. Em uma delas, quando falava do conceito de felicidade, Flávia fez uma pergunta que acabou estimulando a atenção e a reflexão de muitos colegas, inclusive a minha.

— Nós vimos na aula de história e também na de sociologia que Marx falava que, pelo trabalho, o homem se humanizou; ao mesmo tempo, ele dizia que há um processo de alienação e de embrutecimento do trabalhador. Por isso fiz essa pergunta. Mas o que mais me preocupa é saber como será meu futuro, quando escolher uma profissão e tiver um trabalho definitivo. Minha vida será boa? Serei feliz? Antes que a professora respondesse, Paulo, meu parceiro de futebol, disse de maneira firme: — Vida boa é ter dinheiro!

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

— Flávia, antes de tentar responder à sua pergunta, responda-me outra: por que você fez essa pergunta?

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

— Professora, afinal, o trabalho humaniza ou desumaniza o homem?

Operários, pintura da artista brasileira Tarsila do Amaral, 1933. TARSILA DO AMARAL - ACERVO ARTÍSTICO-CULTURAL DOS PALÁCIOS DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nosso cotidiano Como uma reflexão em voz alta, a seção apresenta relatos ficcionais, centrados em um personagem adolescente, que trazem os conceitos e problemas filosóficos para a realidade cotidiana dos jovens de hoje.

A professora Lúcia solicitou que Paulo explicasse sua afirmação. — Professora, nesse sistema só se dá bem quem tem dinheiro. Para ser feliz, é preciso ganhar bem. — Você está dizendo, Paulo, que ser feliz é poder comprar coisas, não é? — a professora Lúcia indagou. — Claro. Com dinheiro, você pode aproveitar a vida. Comer bem, ter roupas boas, carro e casa legais.

REPRODUÇÃO

Trabalhar cansa (Brasil, 2011). Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra. Duração: 100 min.

Vamos ficar atentos • À gradativa tensão do cachorro e no aumento da umidade na parede do mercado; são metáforas da deturpação das relações familiares, sociais e trabalhistas dos personagens. • À atmosfera que se cria no espectador, que não consegue imaginar para onde o filme será conduzido. Agora vamos buscar responder • Qual é a relação entre o filme Trabalhar cansa e o livro O mal-estar na civilização, de Sigmund Freud?

2. Explicite a relação entre trabalho e felicidade feita pela professora Lúcia e a estabelecida por Paulo. 3. Escreva, com base nos aspectos tratados no texto, a respeito de suas expectativas em relação ao seu futuro profissional.

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Pintura

O marxismo dará saúde aos doentes (México, 1954). Artista: Frida Kahlo. O autorretrato de Frida Kahlo remete explicitamente ao interesse social e político da artista, pois os elementos presentes na obra expressam seus sentimentos e convicções de que o comunismo de Karl Marx substituiria o capitalismo – principal causa, segundo a artista, das mazelas do mundo. Frida e seu marido Diego Rivera hospedaram o líder revolucionário russo León Trotsky quando ele se exilou no México. Agora, vamos refletir e buscar responder • Qual é o significado dos elementos que compõem a obra? Interprete-os à luz da oposição entre capitalismo e comunismo, estudados no Capítulo 10.

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Atividades 1. Quais são os dois sentidos do conceito de “trabalho” explorados no texto?

MUSEU FRIDA KAHLO, CIDADE DO MÉXICO

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19

de fevereiro de 1998.

O filme aborda o drama social causado pela desumanização do homem por meio do trabalho. Otávio passa de executivo a desempregado, enquanto sua esposa, antes uma dona

Vários colegas se manifestaram contra ou a favor do que Paulo havia dito, mas parecia que todos estavam preocupados com o futuro e com a vida adulta que se aproxima. Então, a professora Lúcia falou:

de casa, torna-se proprietária de um mercadinho. A mudança impulsiona a inversão dos papéis sociais do casal e a tensão nas novas relações trabalhistas.

ILUSTRAÇÕES: MARIANA COAN

Ampliando Cinema

Ampliando Propostas de trabalho com filmes, livros, entrevistas e obras de arte que visam ampliar a reflexão a respeito dos temas estudados e colaboram para o desenvolvimento da compreensão leitora de diversas linguagens.

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Sumário INTRODUÇÃO A filosofia e a vida A centelha da filosofia é comum a todos Viver reflexivo O pensar filosófico Pensar a si mesmo Filosofia: origem oriental ou “milagre grego”?

Capítulo 3 • Aristóteles e a filosofia helenística

Atividades Unidade

1

A realidade do mundo inteligível Pelos sentidos percebemos a aparência das coisas O conhecimento da essência Sócrates e Platão: aproximação e afastamento Síntese Atividades

FilosoFia antiGa

Capítulo 1 • O surgimento da filosofia “Diga-lhes que esta vida não cessou de me maravilhar” Uma nova maneira de organizar o mundo O pensamento mítico A unidade e a variabilidade da natureza A matéria primordial e a tentativa de explicação racional Pitágoras e as relações numéricas do mundo Em busca de leis primordiais Heráclito: a essência da natureza é o movimento Parmênides: o ser é eterno e imutável Síntese Atividades

Capítulo 2 • Sócrates, Platão e os sofistas “A alegria é a prova dos nove” Dialogando sobre a realidade e sobre o homem O movimento sofista e a relatividade das coisas humanas Persuasão A experiência humana Sócrates e a busca da verdade As verdades universais Diálogo, o filosofar socrático Só sei que nada sei Conhece-te a ti mesmo A busca do caminho ético Natureza humana e felicidade Platão e a descoberta do mundo suprassensível Relembrando a polêmica entre Heráclito e Parmênides Teoria das Formas

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O homem criando o homem Continuador e crítico do platonismo Olhar para a experiência A ciência e os níveis de conhecimento O ordenamento do conhecimento científico Filosofia primeira O conceito de substância As quatro causas e a mudança das coisas Ato e potência Teologia: o estudo do divino A prática humana: ética e política Lógica: a criação de um instrumento de demonstração As escolas helenísticas e a busca da paz interior A vida cínica: indiferença diante de tudo O prazer de Epicuro: ausência de dor e imperturbabilidade da alma Estoicismo: a virtude como vida racional Ceticismo: abstenção do juízo Médio platonismo e neoplatonismo Síntese Atividades Leitura complementar: As origens do teatro: a primeira forma de diversão pública Nosso cotidiano O império da imagem Questões de vestibulares e do Enem Ampliando Unidade

2

FilosoFia meDieVal

Capítulo 4 • A Patrística Deus e o diabo na terra do Sol Do cristianismo à filosofia cristã Razão e revelação

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Antecedentes místicos e religiosos da filosofia grega

Copérnico e o sistema heliocêntrico

Patrística: racionalizando a revelação divina

Kepler e as leis para o movimento dos planetas

Agostinho: a procura de Deus O ser verdadeiro é Deus O bem e o mal A procura interior Viver segundo a carne ou segundo o espírito Necessidade da iluminação divina O lógos se fez carne O lógos habita em nós Síntese

Galileu e as descobertas que abalaram o sistema ptolomaico-aristotélico Investigando diretamente a natureza A condenação pelo Santo Ofício Investigação moderna Newton e a simplificação do Universo As três leis fundamentais da mecânica A gravitação e a explicação do movimento dos planetas A descrição matemática das causas físicas Síntese

Atividades

Capítulo 5 • A Escolástica O encontro da razão com a fé A filosofia das escolas cristãs Carlos Magno e a proliferação das escolas religiosas Surgimento das universidades A reflexão filosófica a serviço da fé O realismo O nominalismo Traduções A síntese entre fé e filosofia A redescoberta do aristotelismo: resistência e aceitação Alberto Magno: aristotelismo e cristianismo Filosofia tomista: a unidade entre a razão e a fé Deus é a primeira causa de tudo O homem é composto de alma e corpo A busca do bem Síntese Atividades Leitura complementar: A luta das vontades Nosso cotidiano: O ser humano e a religiosidade Questões de vestibulares e do Enem Ampliando Unidade

3

FilosoFia moDerna

Capítulo 6 • A ciência moderna O Universo e o Bóson de Higgs A passagem entre dois mundos O sistema de Ptolomeu e a física aristotélica

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Atividades

Capítulo 7 • O racionalismo e o empirismo O Universo e o conhecimento Qual é a origem do conhecimento? Descartes: a preocupação com o método Dualismo: a substância pensante e a substância extensa O inatismo e a existência de Deus O mundo é uma máquina O corpo humano cartesiano O homem e o problema mente-corpo Descartes: um marco na filosofia moderna Espinosa e a presença de Deus em tudo Existe apenas uma substância Necessidade geométrica Radicalização do racionalismo Leibniz e o melhor dos mundos possíveis Verdades da razão e verdades de fato O princípio da razão suficiente As mônadas e a harmonia preestabelecida Locke: a experiência como base do conhecimento As ideias derivam da experiência interna ou externa A atuação da mente Berkeley: ser é ser percebido Empirismo imaterialista A causa das ideias sensíveis Hume: as impressões sensíveis e a natureza humana A observação e a refutação da metafísica As impressões sensíveis, as ideias e a explicação do mundo

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Limite do entendimento humano Crítica ao princípio da causalidade O que se pode conhecer com certeza? Síntese Atividades

Capítulo 8 • A filosofia iluminista “Há mais coisas entre o céu e a terra do que jamais sonhou a nossa vã filosofia” A luz da razão A razão pragmática Investigação de todos os aspectos da experiência humana Tolerância religiosa e liberdade Voltaire: o espírito do Iluminismo Montesquieu: história e sociedade Progresso e felicidade A Enciclopédia iluminista Rousseau: o iluminista crítico do Iluminismo Kant e a virada copernicana A busca pelo conhecimento necessário e universal A experiência é um composto Sensibilidade humana Entendimento humano Possibilidades e limites do conhecimento humano Fim da metafísica clássica Síntese Atividades Leitura complementar: Ciência e razão iluminista Nosso cotidiano: Ciência para o bem e para o mal do homem Questões de vestibulares e do Enem Ampliando Unidade

4

FilosoFia contemporânea i

Capítulo 9 • O idealismo alemão Sentimento de infinito A arte e a religião revelam o infinito Hölderlin Schlegel Novalis Schleiermacher O idealismo e a marcha do espírito Fichte e o idealismo subjetivo

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Schelling e o Absoluto Hegel e a marcha do espírito Kierkegaard e o existencialismo Síntese Atividades

Capítulo 10 • A teoria marxista e o positivismo No contexto do capitalismo A crítica ao capitalismo Feuerbach: a virada em direção à natureza Da teologia à antropologia Do idealismo ao materialismo Marx e Engels e o materialismo histórico O ser social determina a consciência Ideologia: as ideias da classe dominante se tornam universais Trabalho: a principal atividade do homem Trabalho capitalista: valor e alienação Mais-valia: trabalho excedente não pago Alienação: o homem não se reconhece no trabalho Luta de classes e comunismo Comte e a ciência social positiva Antecedentes teóricos: Saint-Simon e a história como progresso Comte e a física social Comte e a lei dos três estágios Uma nova religião Síntese Atividades

Capítulo 11 • O homem é mais que a razão Não consigo parar de viver Schopenhauer: o mundo como vontade e representação O mundo como vontade O corpo: vontade visível A vontade é cega, e a vida, sem sentido Libertação da vontade pela arte Negação do querer viver Kierkegaard: o indivíduo e a existência entram em cena Possibilidade, angústia e desespero Os estágios da existência humana e a escolha da fé Legado para o existencialismo Nietzsche e a aurora de novos valores humanos Crítica ao racionalismo: Sócrates e a tragédia grega

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Cristianismo: o platonismo para as massas A vontade de potência e o super-homem Freud: a descoberta do inconsciente Instintos primordiais e repressão Id, ego e a intermediação do superego O mal-estar na civilização Síntese Atividades Leitura complementar: A noção de progresso à luz da psicanálise Nosso cotidiano: Trabalho e felicidade Questões de vestibulares e do Enem Ampliando Unidade

5

Capítulo 14 • Filosofia analítica e filosofia da linguagem FilosoFia contemporânea ii

Capítulo 12 • A Escola de Frankfurt Ter e ser na sociedade de consumo Desenvolvimento e barbárie A Escola de Frankfurt A crítica à Teoria Tradicional O que é a Teoria Crítica? A razão instrumental A ciência e a dominação da natureza A dominação do homem Indústria cultural: o engano e o controle das massas Massificação da arte Os consumidores ou a anulação do indivíduo A sociedade unidimensional O homem unidimensional Walter Benjamin e a perda da aura da arte Os limites e as possibilidades da arte Erich Fromm: ter ou ser? O legado da Escola de Frankfurt Síntese Atividades

Capítulo 13 • A fenomenologia e o existencialismo A existência humana Fenomenologia: a ciência das essências A crítica ao psicologismo Intuição de fatos e de essências

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Os diversos reinos das essências A consciência é intencionalidade Existencialismo: o indivíduo e a existência humana Da fenomenologia ao existencialismo Heidegger e o sentido do ser Sartre: o homem está condenado a ser livre Liberdade: o homem é o que ele faz de si Merleau-Ponty e a relação entre o homem e o mundo A fenomenologia da percepção Hermenêutica: a busca do sentido Síntese Atividades

O maior palavrão do mundo A busca da clareza Frege: sentido e referência O valor objetivo do sentido Análise da linguagem e análise do pensamento Russell e a clareza da análise lógica Conhecimento por familiaridade e por descrição Teoria das Descrições Um exemplo de análise de descrição Moore: refutação do idealismo e apelo ao senso comum Filosofia e linguagem comum Análise do conceito de bem A filosofia da linguagem e os dois Wittgenstein O Tratado lógico-filosófico Investigações filosóficas O Círculo de Viena e o positivismo lógico Empirismo e a análise lógica da linguagem Síntese Atividades

Capítulo 15 • O pós-modernismo Um fragmento? O mundo pós-moderno As transformações e a nova realidade pós-moderna O mundo de informações e a fragmentação da realidade Fábrica de desejos e consumo obsessivo O afastamento da realidade: o império da imagem Esvaziamento do sujeito A filosofia pós-moderna

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Lyotard: as narrativas modernas e pós-modernas O descrédito nas grandes narrativas O caleidoscópio dos pequenos relatos O saber na sociedade informatizada Derrida e a desconstrução do logocentrismo Desconstruir: reconstruir como o não dito Deleuze: a experimentação de novos modos de vida e de pensamento A lógica do sentido O anti-Édipo e a experiência do esquizofrênico Retomando a psicanálise O complexo de Édipo O anti-Édipo de Deleuze e Guattari A experiência do esquizofrênico Foucault: o arqueólogo dos saberes Crítica à história e à noção de progresso A produção das relações de submissão A relação entre saber e poder O Panóptico Síntese Atividades Leituras complementares: O mundo percebido O homem entre a autorrealização e o mimetismo Nosso cotidiano: Uma aula-debate sobre tecnologia na comunicação Questões de vestibulares e do Enem

Cultura como produção intelectual e artística Síntese Atividades

Capítulo 17 • Estética Um mundo dentro de um mundo Afinal, o que é arte? A reflexão sobre o belo e as manifestações artísticas A arte como imitação A imitação se distancia da verdade A arte e a noção de belo A ciência poética e a catarse A imitação de Deus e das coisas divinas As artes do Renascimento Reflexões modernas sobre a arte Kant e o juízo de gosto A arte como criação A arte como expressão Outras teorias e ideias sobre a arte A arte das vanguardas artísticas Reflexões sobre a arte contemporânea O artista é filho de seu tempo e de seu espaço Síntese Atividades Leitura complementar: O gesto de fotografar Nosso cotidiano: Respirando arte

Ampliando Unidade

6

Capítulo 18 • Teoria do conhecimento e filosofia da ciência aÇÃo e reFleXÃo HUmanas

Capítulo 16 • O homem e a cultura O mundo humano O ser cultural O que é cultura? O aparecimento do homem moderno Linguagem e ordenamento do mundo A realidade simbólica da linguagem As peculiaridades culturais Culturas dentro da cultura Globalização e cultura Diversidade cultural e padronização Imposição de valores comerciais ou combinações culturais? Globalização e multiculturalismo

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Bicho que conhece Trajetória da reflexão sobre o conhecimento Os pré-socráticos: a via das sensações e a via do pensamento Sócrates: a busca do autoconhecimento Platão: conhecimento como recordação Aristóteles e os tipos de conhecimento Descartes: a dúvida e as ideias inatas Locke: a experiência é a única fonte de conhecimento Kant: o conhecimento como síntese Desdobramentos da reflexão sobre o conhecimento A filosofia da ciência Progresso e crise da ciência moderna As leis newtonianas não explicam o eletromagnetismo

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O mundo pequeno não funciona como o mundo grande Afinal, o que é ciência O funcionamento da ciência O problema da indução O Círculo de Viena e a verificabilidade Popper e o falsificacionismo Kuhn e os paradigmas científicos Crítica à teoria de Kuhn Síntese Atividades

Capítulo 19 • Lógica O tempo e a lógica

Razão, autonomia e liberdade Os problemas éticos da sociedade contemporânea Novamente: o que devo fazer? Ética: uma necessidade fundamental Síntese Atividades

Capítulo 21 • Política O mundo da prática humana coletiva Política: a organização da pólis A democracia ateniense As instâncias da democracia ateniense

A pérola falsa Primeira tentativa de solução Segunda tentativa de solução Raciocínios, argumentos e proposições O caminho da lógica A lógica aristotélica Os três princípios lógicos Silogismo Lógica formal A lógica simbólica Sistemas lógicos Formalização mais rigorosa Proposições e valores de verdade Conectivos lógicos Cálculo proposicional e tabelas de verdade Evolução e aplicações da lógica Síntese

República: o Estado ideal de Platão A ordem natural e o governo dos filósofos

Atividades

Atividades

Capítulo 20 • Ética As pessoas, as coisas e os animais O anel mágico e os nossos valores Reflexão ética Os valores humanos são relativos ou absolutos? Razão, prática humana e felicidade Valores suprassensíveis Ser racional e político Paz e tranquilidade interior Felicidade plena em outra vida

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Aristóteles: o homem é um animal político que visa ao bem A distinção entre ética e política Maquiavel e as exigências da política Hobbes: o estado de natureza e o contrato social Locke: a sociedade civil organizada Rousseau: a sociedade e as tendências naturais do homem Montesquieu: a divisão dos três poderes Liberalismo e Estado O conceito marxista de Estado O Estado de bem-estar social O Estado neoliberal Síntese Leitura complementar: Liberdade e eugenia Locke e a sociedade política Nosso cotidiano: Violência: a banalização da vida Questões de vestibulares e do Enem Ampliando

Ampliando um pouco mais Índice de nomes e conceitos Bibliografia

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UNIDADE

1 4

Filosofia contemporânea III Capitalismo e existência humana

O idealismo surgimento alemão da filosofia A reação O pensamento ao Iluminismo racional e a investigação criação dos sistemas da natureza. idealistas p. 14 22

CAPÍTULO 10 2

A teoria marxista Sócrates, Platão eo ospositivismo sofistas Ashomem O reflexões como centro de atenção dasobre filosóficas filosofia. o capitalismo. p. 27

CAPÍTULO 11 3

O homem ée mais Aristóteles a filosofia helenística que a razão O estruturação A indivíduo e a existência do conhecimento: humana entramfilosofia, em cena. ético e metafísica. p.ciência, 42 p.

O século XIX assinalou a consolidação do poder da burguesia e do sistema capitalista, o avanço da ciência como instrumento fundamental de conhecimento e de relação com a natureza e a intervenção progressiva desse conhecimento na sociedade por meio da tecnologia. No entanto, a Revolução Industrial tinha criado não só o lado positivo do capitalismo, mas também o negativo, os explorados pelo sistema. A maioria dos trabalhadores não tinha acesso a boa parte dos bens produzidos pela grande indústria, e as condições de trabalho e de vida eram muito precárias. Nesse sentido, o século XIX também foi marcado pela eclosão de movimentos, revoltas e revoluções sociais de trabalhadores e desfavorecidos. As filosofias e as teorias políticas que surgiram nesse período, direta ou indiretamente, refletiram a nova realidade. Hegel, Marx, Comte, Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Freud são alguns dos principais pensadores que refletiram sobre a existência humana e a vida na sociedade capitalista e elaboraram teorias sobre o assunto.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CAPÍTULO 91

Trabalhadores em greve caminham sobre a Ponte de Londres, na Inglaterra, em 1910. Foi nos países europeus pioneiros na industrialização e na organização do operariado que nasceram as teorias críticas e reflexivas sobre a vida humana no sistema capitalista.

Hegel

Cronologia representada sem escala temporal.

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Frie (17 drich 75 -18 Sche 54 ) lling couDioN biblioteca NacioNal Da FraNça, Paris

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A era industrial: o idealismo alemão, o positivismo e o marxismo

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Idade Contemporânea – Filosofia contemporânea I

Comte

Marx

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Engels

coleção Particular

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Schopenhauer

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O homem é mais que a razão

Nietzsche

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PoPPerFoto/GettY iMaGes


O peregrino sobre o mar de brumas, pintura de Caspar David Friedrich, 1818. O artista tenta apreender um sentimento de infinitude (grandeza) a partir da contemplação de um peregrino postado no topo de uma rocha.

Sentimento do infinito Não sei... já sentiu? Como se a vida fosse mais do que esse instante? Mais do que o movimento de seus olhos sobre estas palavras ou da sua respiração, que permanece em equilíbrio? Como se a vida fosse para além do pensamento e houvesse uma força estranha e misteriosa, mas, ao mesmo tempo, íntima, presente ao redor e dentro de nós? Não há como falar diretamente dessa força ou energia. Ela não é claramente decifrável ou definível. Não pode ser apreendida pela lógica, mas pode ser sentida intensamente. A ideia de que existe uma força infinita que está no Universo, no mundo e no homem, e que domina todas as coisas, foi central no movimento romântico. Para alguns românticos, essa força infinita se manifestaria nos sentimentos e teria expressão nas artes e na religião. Para outros, o infinito seria antes de tudo uma razão que organiza o mundo. O romantismo foi um movimento espiritual europeu que surgiu no final do século XVIII, se desenvolveu no século XIX e envolveu a arte, a filosofia e a cultura em geral. Esse movimento influenciou fortemente o idealismo alemão ao mesmo tempo que foi influenciado por ele. Os principais representantes do idealismo alemão foram Fichte, Schelling e Hegel.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O idealismo alemão CASPAR DAVID FRIEDRICH - HAMBURGER KUNSTHALLE, HAMBURGO

Capí tulo

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Reflita 1. Você já teve a sensação da existência de uma força não visível que envolve tudo o que existe?

2. Para você, essa força é sobrenatural ou natural, isto é, uma força espiritual ou física? 3. De que maneira esse sentimento faz parte da sua vida?

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Retrato de Friedrich Hölderlin, de Franz Karl Hiemer, 1843.

Schleiermacher A relação do infinito com o finito também foi um dos temas centrais da teoria do teólogo e filósofo alemão Friedrich Schleiermacher (1768-1834). Para ele, a religião não buscava explicar ou determinar o Universo e a natureza, como fazem o pensamento e a filosofia. A essência da religião seria a intuição e o sentimento. Por meio da intuição e do sentimento, o homem poderia perceber que faz parte de uma totalidade, ou seja, que é uma manifestação particular ou individual de uma unidade infinita, de uma realidade superior. Para Schleiermacher, o homem, ao voltar-se para seu interior, poderia sentir a sensação de ser criatura, de ser dependente desse todo maior e superior. Poderia sentir a necessidade de aspirar ao infinito. Essa sensação, que o teólogo chamou de sentimento do infinito, seria aquilo que para ele caracteriza toda e qualquer religião. O sentimento do infinito seria, por um lado, a afirmação do indivíduo na medida em que ele reconhece depender do infinito; por outro, seria sua negação, pois o sentimento do infinito visa à superação da particularidade e ao encontro com a totalidade, momento em que o homem perde a sua individualidade e se funde com o Universo.

Retrato de Friedrich Schlegel, de Delphine de Custine, 1816.

FrieDrich voN harDeNberGNovalis MuseuM, wieDersteDt

Novalis O escritor alemão Georg Philipp Friedrich von Hardenberg, mais conhecido como Novalis (1772-1801), talvez seja o artista que mais evidenciou a relação do romantismo com o místico e o divino. Para ele, existe uma força divina que cria, ordena e rege o mundo e com a qual o homem poderia e deveria estar em sintonia por meio da fé. O sentimento de fé seria a expressão do divino que existe no homem e que determina seu poder infinito sobre o mundo – poder que é exercido por meio do pensamento (filosofia) e da poesia.

akG-iMaGes/albuM/latiNstockGoethe-MuseuM, FraNkFurt

Schlegel O poeta alemão Friedrich Schlegel (1772-1829) também ressaltou a importância da poesia e de seu vínculo com a religião. Ele, que também era filósofo, acreditava que a poesia poderia levar o homem, que é finito, para o infinito e para o eterno. Daí a função religiosa da poesia. Schlegel entendia o artista como uma espécie de intermediário ou mediador entre o homem e o divino.

Retrato de Friedrich von Hardenberg, conhecido como Novalis, de Franz Gareis, 1799. akG-iMaGes/albuM/latiNstockcoleção Particular

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Hölderlin Em suas obras, principalmente no romance Hyperion, o poeta e romancista alemão Friedrich Hölderlin (1770-1843) apresentou algumas das principais características da concepção romântica. Hölderlin defendia a necessidade de o homem retornar a uma unidade básica e fundamental, ao todo da natureza, uma espécie de infinito divino que, segundo ele, existe fora e dentro do homem. Uma totalidade que rege as coisas e na qual as coisas têm sua origem. Para o poeta, esse Uno Infinito não poderia ser alcançado apenas pela razão, pois mais importantes que ela eram o sentimento e a experiência com a beleza. A beleza revelaria o infinito, o divino. Por esse motivo, Hölderlin enalteceu a arte, principalmente a poesia, e a religião, pois elas seriam expressões do infinito.

akG-iMaGes/albuM/latiNstockschiller-NatioNalMuseuM, Marbach

A arte e a religião revelam o infinito

Retrato de Friedrich Schleiermacher, de Franz Krüger, c.1820.

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Para pensar

As Torres Gêmeas As Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, na foto ao lado, foram construídas entre 1972 e 1974, assumindo o posto de edifícios mais altos do mundo. Com 110 andares e uma estrutura de aço, alumínio e concreto, as duas torres foram destruídas no dia 11 de setembro de 2001, depois de um ataque terrorista atribuído ao grupo fundamentalista islâmico Al-Qaeda.

Cena do documentário O equilibrista, 2007, do diretor James Marsh, mostrando o momento em que o francês Philip Petit, “equilibrista” profissional, atravessou o espaço entre as Torres Gêmeas, em Nova York, em 1974, equilibrando-se em um cabo de aço. O ângulo vertiginoso da foto propicia o sentimento de pequenez do homem diante das dimensões da metrópole.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

New York Post/rex Features/GruPo keYstoNe

De alguma maneira, a relação entre o finito e o infinito está presente na vida humana como reflexão ou sentimento. Ela pode ser pensada ou sentida na contraposição (ou complementação) entre homem e Deus, homem e natureza, indivíduo e espécie, indivíduo e sociedade. • Pensando na relação indivíduo e sociedade, você sente que a sua individualidade é reprimida ou potencializada pela sociedade?

O idealismo e a marcha do espírito Kant, na Crítica da razão pura, deixou claro que o ser humano só pode conhecer os fenômenos ou representações, e que as coisas externas ao homem existem porque afetam os órgãos dos sentidos, mas não podem ser conhecidas como elas são em si mesmas. Apesar de Kant ter refutado explicitamente as concepções idealistas que negavam a existência da matéria externa, sua formulação deixava uma porta entreaberta para elas. Afinal, se as coisas em si mesmas não podem ser conhecidas pelo homem, o que garante que elas existam? Como afirmar a existência física de algo que não se pode conhecer? Fichte, Schelling e Hegel, os três grandes filósofos do idealismo alemão – ou da filosofia romântica –, partiram desse problema para constituir seus sistemas idealistas. Eles se apoiaram na atividade da mente, do espírito ou mais especificamente da razão como a origem ou o fundamento de todas as coisas existentes. 16

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Fichte (1762-1814) nasceu em Rammenau, Alemanha. Estudou teologia e filosofia, tornando-se professor nas universidades de Iena e Berlim. Quando jovem, foi recomendado por Kant a um editor e caiu nas graças dos intelectuais de sua época após o lançamento de seu primeiro livro. Despojando-se do elemento transcendente da filosofia kantiana, Fichte encontrou na consciência o fundamento para explicar a experiência humana. Considerado um dos principais representantes do idealismo alemão, diferenciou seu pensamento da filosofia de Kant, pois, para ele, o idealismo deveria ser prático e permeado pela ética humanista. Suas principais obras foram Discursos à nação alemã, Doutrina da ciência e Ensaio de uma crítica de toda revelação.

Apesar de sua filosofia ter se inspirado na filosofia transcendental, Fichte criticava a ideia kantiana de que a coisa em si seria em parte a origem da experiência sensível. Para ele, a coisa em si, como algo externo e independente da consciência, seria uma fantasia. Então, se a matéria da intuição sensível não deriva da coisa em si (dos objetos externos), de onde derivaria? Kant estabeleceu a atividade do sujeito a partir de uma realidade dada. Para ele, o sujeito seria o centro do processo de conhecimento por conformar a experiência sensível. As coisas em si mesmas existiriam independentemente do homem. No entanto, o homem só poderia conhecer as representações dessas coisas, ou seja, o sujeito do conhecimento seria ativo, mas limitado à experiência sensível. Fichte ampliou a atividade do espírito ou do sujeito. Para esse filósofo, era a própria atividade subjetiva que produzia o material sensível. Não seria uma coisa externa ao homem que o afetaria. O sujeito não só possibilitava a experiência sensível, conformando as impressões sensíveis, como afirmava Kant, mas produzia o que chamamos de realidade objetiva. O mundo seria a representação das nossas ideias e dos nossos sentimentos. Por causa dessa formulação, a filosofia de Fichte também é conhecida como idealismo subjetivo, pois nela tudo parte da atividade do sujeito. Tudo parte do Eu Absoluto. As formulações iniciais de Fichte identificavam a infinitude com o eu ou com a atividade do eu. O eu seria infinito porque a partir dele tudo teria sido criado. Posteriormente, nas últimas obras, o filósofo passou a defender o infinito como algo exterior ao homem, mais especificamente como Deus. Nesse caso, a atividade central do homem seria elevar-se acima do mundo e do saber humano, quer dizer, negar o valor da realidade sensível e buscar por meio da contemplação a direção do puro pensamento do Ser Absoluto.

Autorretrato no espelho do banheiro, pintura de Pierre Bonnard, século XX. Para Fichte, tudo é criado a partir do eu. boNNarD, Pierre/liceNciaDo Por autvis, brasil, 2013. JacQues FauJour/ rMN-GraND Palais/other iMaGes - Museu NacioNal De arte, Paris

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Johann Gottlieb Fichte

MaNoheaD

Fichte e o idealismo subjetivo Para o teólogo e filósofo alemão Fichte, existiriam dois tipos de homem: os que buscam a liberdade e os que tomam o caminho oposto. Dessas tendências decorreria a decisão sobre qual filosofia seguir. Os que buscam ser atuantes e livres, e têm consciência dessa busca, seriam os idealistas, que se apoiam na capacidade criadora do espírito. Os que são inconscientes da sua vontade de liberdade e que não distinguem entre o ser das coisas e o seu ser seriam os dogmáticos, que acreditam na realidade material das coisas e se subordinam a ela.

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“[...] a arte é o que há de mais elevado para o filósofo, porque lhe abre, por assim dizer, o santuário onde arde em uma única chama, em eterna e originária união, o que está separado na natureza e na história, e que na vida e na ação, assim como no pensamento, há de escapar eternamente [...]. O que chamamos de natureza é um poema cifrado em maravilhosos caracteres ocultos.” SCHELLING [1907]. In: BARROS, Evelyn G. Petersen de. A poesia em Schelling e o ritmo universal do absoluto. Griot: revista de filosofia, v. 4, n. 2, dez. 2001.

Mauricio siMoNetti/tYba

Vista do morro Pai Inácio, na Chapada Diamantina, Bahia, 2011. Para Schelling, a natureza é espírito visível, momento do absoluto.

Schelling e o absoluto “O mundo infinito não é mais do que o nosso espírito criador, nas suas infinitas produções e reproduções”, afirmou o filósofo alemão Schelling, que partiu da filosofia de Fichte para criar um idealismo próprio. Assim como Fichte, Schelling tinha como centro de sua filosofia o princípio do infinito ou da atividade infinita. No entanto, ele formulou um idealismo que superava o idealismo subjetivo de Fichte. Schelling entendia que a posição de Fichte, ao acentuar o papel absoluto da atividade da razão ou do sujeito (Eu Absoluto), conferia à natureza um lugar secundário ou de mera ilusão, destituída de autonomia e de realidade. Schelling acreditava que, além de justificar a atividade infinita da razão ou do eu, era preciso justificar a atividade infinita da natureza, e estabelecer a relação entre os dois. Quer dizer, para o filósofo, existia um princípio infinito mais profundo do que o Eu Absoluto de Fichte. Um princípio que abarcava tanto a atividade da razão ou da consciência quanto a atividade da natureza. Que abarcava tanto o sujeito quanto o objeto, tanto o espírito quanto a natureza. O absoluto de Schelling era, por um lado, o princípio da atividade consciente do espírito, ou seja, do conhecimento, e, por outro, da atividade inconsciente, que produz a natureza. Por meio desse entendimento, Schelling procurou investigar a natureza instituindo uma filosofia da natureza, e o espírito, desenvolvendo uma filosofia transcendental. Ambas as investigações tratavam de aspectos de uma mesma unidade, o absoluto, e de manifestações do princípio explicativo de toda a realidade.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A arte e a natureza

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Hegel e a marcha do espírito Você já ouviu falar do livro Odisseia, de Homero? Trata-se de um poema épico sobre as peripécias e adversidades vividas pelo protagonista Odisseu (Ulisses), rei de Ítaca, em sua viagem de volta para casa depois de lutar na guerra de Troia. Durante dez anos Odisseu enfrentou todo tipo de obstáculos – monstros, fúria de deuses, intempéries –, mas não desistiu de seu propósito: retomar seu reino e o seu lugar ao lado de sua esposa, Penélope. Todas as dificuldades só valorizaram a conquista de seu objetivo. Podemos fazer uma analogia dessa narrativa de Homero com o argumento central do pensamento do filósofo alemão Hegel, exposto em sua obra Fenomenologia do espírito. Nesse livro, considerado o ponto culminante do idealismo alemão, Hegel trata do percurso do Espírito Absoluto em direção à sua própria realização. Quer dizer, o Espírito Absoluto ou Razão Absoluta, para Hegel, não era algo acabado, fixo e imutável; antes de tudo, era um processo, uma atividade que passava por altos e baixos, por afirmações e negações, por contradições, que seguia em frente em marcha irregular, porém progressiva. A Fenomenologia do espírito era a odisseia do espírito rumo à sua afirmação. Mas o que significava dizer que o espírito marchava para a sua realização? Vejamos com mais detalhes o sistema idealista de Hegel, que buscava abarcar a totalidade do real mantendo coerência entre todas as suas partes.

MaNoheaD

Friedrich Schelling Friedrich Schelling (1775-1854) nasceu na cidade de Leonberg, Alemanha. Considerado um dos principais representantes do idealismo alemão pós-kantiano, o filósofo romântico iniciou seus estudos na Universidade de Tübingen, onde cursou teologia ao lado de Hegel. Inspirado pelas obras de Fichte e Kant, Schelling deu os primeiros passos em direção à sua consagração como filósofo ao lançar sua principal obra, O sistema do idealismo transcendental. Após romper com Fichte, Schelling criou um novo conceito de identidade, superando a dicotomia entre a subjetividade e a objetividade e priorizando a existência em relação à essência. Suas principais obras são Ideias para uma filosofia da natureza, Sobre a alma do mundo, Filosofia e religião e As idades do mundo.

Intempérie. Irregularidade ou perturbação do clima como, por exemplo, uma tempestade.

Ilíada e Odisseia são dois poemas épicos gregos atribuídos a Homero. O primeiro trata da guerra de Troia, e o segundo, do retorno para casa do herói grego Odisseu, rei de Ítaca, após a derrota dos troianos. As duas obras são fontes históricas que elucidam um conjunto de tradições e de costumes da Grécia antiga. Homero teria vivido no século IX a.C., cerca de três séculos após o fim da guerra. Mas essas datas são controversas entre os historiadores.

G. DaGli orti/Dea Picture librarY/ GlowiMaGes-barDo MuseuM, tuNis

Homero e a guerra de Troia

Odisseu (Ulisses) amarrado ao mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias, passagem da Odisseia representada em mosaico romano do século III.

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Muitas pessoas imaginam os filósofos reclusos em uma biblioteca, totalmente absorvidos pelos estudos e apartados da vida social. Mas, se com muitos foi assim, esse não foi o caso de Hegel. Em sua carreira profissional, Hegel foi professor particular, professor e diretor do ginásio (jovens entre 12 e 17 anos), conselheiro escolar da cidade de Nuremberg e, depois, professor universitário. Embora não tenha escrito obras específicas sobre o assunto, em seus livros expressou sua visão de educação: ela deve promover a autonomia do indivíduo, a sua realização no meio social, o acesso ao conhecimento da história e das tradições do seu povo, pois aprender é aprender com alguém. Para o filósofo, a educação é um processo mediante o qual se adquire consciência; é uma conquista do espírito individual das realizações do espírito universal.

O progresso da consciência Assim como seus antecessores românticos, Hegel tomava como preocupação de sua filosofia a relação entre o infinito e o finito, ou a relação entre o absoluto (espírito) e a realidade (natureza). Como Schelling, Hegel também postulava a ideia de que existe uma unidade entre as manifestações do conhecimento e da natureza. Mas Hegel, ao contrário de Schelling, partia do conhecimento parcial da consciência comum para demonstrar como a consciência chega a um conhecimento total ou absoluto, que é o conhecimento de si mesma. Quer dizer, para Hegel, as experiências que o sujeito comum desenvolvia eram manifestações inconscientes de um ordenamento racional do Universo. Segundo o filósofo, para a consciência do ser humano comum, o saber fenomênico, isto é, o saber das representações, é provocado por objetos externos ao homem. Assim, o sujeito do conhecimento e o objeto do conhecimento seriam duas coisas distintas. O sujeito e o objeto se contraporiam. No entanto, a evolução em direção ao autoconhecimento da consciência levará o sujeito (consciência) a atingir o saber absoluto, momento em que o espírito reconhece a sua própria atividade como criadora de toda a realidade, momento no qual não se estabeleceria mais a divisão entre o sujeito e o objeto, entre finito e infinito, entre natureza e espírito. isMael NerY-coleção Particular

A educação para Hegel

Autorretrato, pintura de Ismael Nery, 1930.

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Georg Friedrich Hegel Hegel (1770-1831) nasceu em Stuttgart, Alemanha, e é considerado o filósofo mais importante do idealismo alemão pós-kantiano. Em 1788, ingressou em filosofia na Universidade de Tübingen e, alguns anos mais tarde, defendeu sua tese para lecionar na Universidade de Iena. Em Iena, colaborou com Schelling no jornal filosófico Gazeta de Bamberg, tornando-se redator-chefe em 1807. Em 1816 tornou-se professor de filosofia na Universidade de Heidelberg e, tempos depois, assumiu uma cadeira de filosofia na Universidade de Berlim, onde alcançou o apogeu de sua carreira. Hegel rompeu com a filosofia transcendental kantiana partindo da necessidade de examinar as etapas de formação da consciência, até chegar ao que intitulou Espírito Absoluto. Sua filosofia dialética influenciou o pensamento de Marx e Engels. Suas principais obras são Fenomenologia do espírito, Ciência da lógica, Lições sobre a história da filosofia e Princípios da filosofia do direito.

Dialética. Termo derivado de diálogo. Está relacionado à argumentação e à contra-argumentação. No entanto, essa expressão não possui apenas um significado na história da filosofia. Em Hegel, ou seja, na filosofia do idealismo romântico, dialética se refere ao movimento necessário realizado pelo espírito e pela realidade concreta, que nada mais é do que a manifestação do espírito. Esse movimento é feito de afirmações, negações e sínteses.

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A dialética do espírito Em certa medida, Hegel retomou o pensamento de Heráclito, pelo menos a ideia de que a realidade seria o movimento, a mudança, a transformação. Para o filósofo alemão, a mudança ocorre na natureza, na sociedade e na história por meio de um processo dialético. Para entender a dialética hegeliana, pode-se tomar como exemplo a própria relação entre o finito e o infinito. O homem existiria como ser finito que, por natureza, buscaria o infinito e seria guiado por ele. Ao mesmo tempo, o infinito ou absoluto iria se tornando real nas realizações do homem ou do finito. Em outras palavras, por um lado as ações humanas seriam momentos ou episódios do Espírito Absoluto e estariam sob suas regras e leis – quer dizer, sob sua racionalidade; por outro, o espírito se realizaria progressivamente nas atividades do finito. O finito e o infinito teriam, então, uma relação complementar e seriam aspectos de um processo único. Não haveria o finito sem o infinito, e, por sua vez, o infinito só se realizaria por meio do finito. Assim, Hegel retomava o que durante muito tempo havia sido menosprezado pelos filósofos: o movimento ou a mudança. Desde Parmênides, a maioria dos filósofos entendia a mudança como algo que apontava para o não ser, para algo que não podia ser conhecido; afinal só se conhece o que é fixo, o que não muda. Mas, para a dialética hegeliana, o movimento seria característica da realidade da natureza e do espírito. Hegel voltou-se para o entendimento dessa realidade e, por isso, prestou atenção ao movimento. Prestar atenção ao movimento significa prestar atenção ao devir, quer dizer, a como as coisas vêm a ser ou deixam de ser, como elas se constituem ou desconstituem. Hegel logo percebeu que o vir a ser das coisas não acontecia de maneira linear. Havia nesse constituir afirmações e negações, estabilidades e instabilidades, equilíbrios e desequilíbrios. Nesse devir dramático, as coisas iriam se estabelecendo e desaparecendo, existindo e deixando de existir. Mas, de maneira progressiva, iriam afirmando o Espírito Absoluto. Dito de outra forma, a totalidade infinita se constituiria por meio dos momentos parciais ou finitos. O Espírito Absoluto seria, então, sobretudo, atividade.

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Pool/GaMMa-raPho/GettY iMaGes

Multidão de manifestantes se aglomera no Muro de Berlim, na então Alemanha Oriental, em 12 de novembro de 1989. Para Hegel, os acontecimentos históricos são momentos particulares da evolução do espírito.

História, arte, religião e filosofia Ao se compreender que o devir é a realização do espírito, ou seja, que a realidade é a realização do absoluto, que está presente em tudo, compreende-se também a afirmação de Hegel sobre a natureza e a história. Para o filósofo, a natureza era a manifestação do espírito no espaço, e a história, a manifestação do espírito no tempo. A atenção do filósofo estava voltada sobretudo para a história, que, para ele, era muito mais do que uma cronologia de eventos. Por meio do estudo desses eventos, podia-se vislumbrar a trajetória ou os passos do espírito. Isto é, podia-se perceber que os acontecimentos históricos são momentos particulares do espírito, partes de um todo, que a história em geral se desenvolve segundo um plano racional. Assim, mais do que sucederem uns aos outros, os acontecimentos ou eventos históricos são expressão de um processo de recorrente superação do espírito. Determinado evento histórico só seria possível porque foi precedido de outros que foram superados. E esse novo evento também seria negado e superado por eventos posteriores, sendo, de alguma maneira, um pressuposto para os eventos subsequentes. Assim, o espírito iria se revelando como história humana. Ao filósofo investigador da história caberia apreender a razão nas ações do homem ou apreender o infinito em seus momentos particulares (ou finitos). Caberia também perceber os eventos como momentos de um sistema totalizante de explicação do mundo e como caminho de realização do espírito. Hegel via na arte, na religião e na filosofia formas privilegiadas de manifestação e de revelação do espírito. Segundo ele, a arte revelaria o absoluto ou divino por meio da intuição sensível, isto é, por meio de formas materiais, a arte manifestaria algo que estava além dessas formas, um conteúdo espiritual, que é a realidade verdadeira. Por exemplo, o sentido de uma música ou de uma pintura não se esgotaria no som ou nas cores, nem em seus elementos sensíveis. As imagens e as representações artísticas seriam expressões de algo mais, e, nesse sentido, ultrapassariam a visão meramente parcial ou finita. Esse algo mais, para Hegel, seria o espírito. A arte seria então uma forma de revelação do espírito.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Filme • Amadeus

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mariana coan

A religião também revelaria o Espírito Absoluto por meio do sentimento religioso – sentimento de vinculação com o divino – e da representação. Suas histórias propiciariam, segundo Hegel, o pensamento sobre o vínculo do homem com Deus. A principal delas era a vida de Jesus. Jesus seria a encarnação do espírito. Ele fez o espírito ter visibilidade. Nele, o homem e Deus (o finito e o infinito) seriam um só. Jesus se constituía na superação da oposição entre o finito e o infinito. Por sua vez, nessa medida, a filosofia também seria considerada uma espécie de religião, porque, segundo Hegel, tinha o mesmo propósito de todas as religiões: restabelecer o vínculo com Deus ou o absoluto. Mas a filosofia superaria a forma religiosa, porque iria além das histórias e das representações. Ela restabeleceria ou evidenciaria o vínculo entre o finito e o infinito por meio de conceitos, por meio da razão. Assim, a filosofia poderia pensar as formas e todas as manifestações do Espírito Absoluto como unidade e a experiência humana, a história, a arte, a religião e a própria filosofia como revelações e a concretude dessa unidade. Ou seja, a filosofia seria o saber absoluto e totalizante.

Hegel acreditava que a arte desvelava o absoluto, ou seja, expunha a unidade do homem (o finito) com Deus (o infinito). Essa ideia de desvelamento ou de transcendência da arte estava apoiada no poder que as manifestações artísticas têm de remeter para algo superior a elas, que estaria no terreno da emoção, do pensamento ou da religião. 1. O quadro abaixo, A liberdade guiando o povo, de 1830, de Eugène Delacroix (1798-1863), está relacionado à Revolução de 1830 na França. No entanto, a pintura remete a ideias ou conceitos que vão além do acontecimento histórico e da própria pintura. Explicite a transcendência da obra de Delacroix. 2. Dê um exemplo de obra de arte que transcenda ao infinito. Justifique.

Multimídia • A liberdade guiando o povo

EugènE DElacroix - musEu Do louvrE, Paris

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para pensar

A liberdade guiando o povo, pintura de Eugène Delacroix, 1830.

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Kierkegaard e o existencialismo A filosofia hegeliana sofreu inúmeras críticas, principalmente depois da morte de Hegel. Entre elas, estão as do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard. Sua importância na filosofia é grande, pois, embora suas concepções e ideias não tenham sido bem recebidas em sua época, posteriormente serviram de inspiração a vários pensadores. Kierkegaard é considerado o precursor do existencialismo. Para o filósofo dinamarquês, a filosofia hegeliana, ao tentar explicar a realidade como manifestação da Razão Absoluta, ou seja, como uma realidade estritamente racional, estabeleceu um rigoroso determinismo nas ações humanas e, ao mesmo tempo, deixou de lado o que mais importava para o ser humano: a existência individual.

eDuarDo kNaPP/FolhaPress

Kierkegaard (1813-1855) nasceu em Copenhague, Dinamarca. Filósofo e teólogo, é considerado o precursor do existencialismo. Durante boa parte da vida padeceu de depressão e, recluso, dedicou-se intensamente aos estudos. Valorizava a vivência da religiosidade em detrimento da religião institucionalizada. Kierkegaard colocou a existência individual e o primado da vontade no cerne de sua reflexão. Teve boa parte de suas obras publicada sob pseudônimos e sua influência se expandiu no século XX, principalmente nas áreas de estudo sobre ética e religião. Suas principais obras são Ou... ou, Temor e tremor, O conceito de angústia, Migalhas filosóficas e O desespero humano ou Doença até a morte.

O Universo não era, segundo Kierkegaard, uma totalidade fechada regida por um sistema coerente e lógico e na qual as coisas e o ser humano estavam previamente ordenados. O homem não era uma obra realizada pelo infinito. O indivíduo se encontrava por sua conta e risco no contingente, no campo das possibilidades e da sua liberdade de escolha. Estar no campo das possibilidades significava que não havia garantias para o resultado das ações humanas. Como as ações não eram necessárias, as consequências poderiam ter êxito ou não e, portanto, não se podia falar de progresso inevitável da humanidade. Dessa maneira, viver seria sempre um risco, e o indivíduo estaria às voltas com as contingências de sua existência, com suas escolhas diante das possibilidades que o mundo oferecia e com sua realidade existencial, marcada por dor, sofrimento, desespero, angústia, doença e morte, temas que eram recorrentes nas filosofias existencialistas.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sören Kierkegaard

MaNoheaD

Existencialismo. Expressão utilizada para designar várias tendências filosóficas que possuem em comum como temática central o indivíduo, sua existência, experiência e escolhas.

Metaforicamente, um cruzamento de trânsito pode ser comparado às contingências da existência, segundo Kierkegaard: as pessoas se encontram por sua conta e risco no campo das possibilidades.

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carlos caMiNha

Síntese O romantismo e o idealismo alemão

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1. O romantismo foi um movimento filosófico e artístico que se originou na Europa e se expandiu depois por boa parte do mundo, se expressando em diversas correntes. Nesse sentido, pode-se falar de romantismos e de filosofias românticas. No entanto, todas as vertentes do romantismo tinham em comum a crença na existência de uma força infinita presente no Universo, no mundo e no homem. 2. Para alguns românticos, a força infinita se manifesta mais claramente por meio do sentimento do homem e tem expressão na arte e na religião; para outros, a força infinita é, sobretudo, uma razão que organiza o Universo e determina como as coisas e o homem devem ser. 3. A relação do Espírito Infinito ou da Razão Absoluta com o finito, quer dizer, com o homem e a natureza, é o tema central do idealismo alemão.

A arte e a religião revelam o infinito 1. Hölderlin, Schlegel, Novalis, cada qual à sua maneira, ressaltaram a importância da poesia como expressão do infinito e acreditavam que essa manifestação artística era a melhor forma de estabelecer o vínculo do ser humano com o divino. 2. Como a poesia teria o poder de religar o homem com o divino, esses pensadores destacaram o caráter religioso da arte. 3. Schleiermacher ressaltou que a essência da religião eram a intuição e o sentimento. Por meio de seu sentimento interior, sentimento do infinito, o homem pode perceber-se como criatura finita que faz parte de uma realidade superior ou de uma totalidade.

O idealismo alemão 1. Os filósofos idealistas criticavam a posição de Kant sobre a coisa em si. Para eles, não havia uma realidade externa independente do sujeito ou do espírito. 2. Para Fichte, é a própria atividade subjetiva, o eu penso, que produz o material sensível. O mundo é a representação de nossas ideias e de nossos sentimentos.

3. Schelling formulou um princípio mais geral, o absoluto, que abarcava não só a atividade da razão ou da consciência, mas também a atividade da natureza. 4. Hegel elaborou um sistema de compreensão da realidade, tendo como fundamento a atividade do Espírito Absoluto e o progresso ou evolução da consciência humana, que parte do nível mais simples de compreensão do mundo, no qual predomina a cisão ou a oposição entre o sujeito e o objeto, até o conhecimento absoluto, momento em que o espírito se reconhece como produtor de realidade.

Kierkegaard, o existencialismo e a oposição a Hegel 1. Kierkegaard se contrapôs ao sistema hegeliano, principalmente ao determinismo das ações humanas pelo Espírito Absoluto, que, segundo ele, seria um dos aspectos fundamentais das formulações de Hegel. Também rejeitou a falta de interesse pela realidade individual humana, que era deixada de lado por Hegel em suas formulações genéricas sobre a afirmação do espírito. 2. As ações do indivíduo não fazem parte de um ordenamento estabelecido e, portanto, são contingentes. Cada indivíduo tem de escolher entre as possibilidades que se apresentam a ele em determinada circunstância ou situação. 3. A filosofia deve refletir sobre todas as questões que dizem respeito à existência individual humana. 25

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Atividades Aprofunde

1. O conceito ou a noção de infinito é um aspecto comum nas várias vertentes do romantismo. O que era o infinito para o movimento romântico?

11. A tira abaixo “brinca” com o estado depressivo, fenômeno comum na sociedade contemporânea. Reflita sobre ela e estabeleça relações com a filosofia de Kierkegaard.

3. Exponha qual era para Schleiermacher o significado do sentimento do infinito. 4. Apresente a crítica de Fichte à filosofia transcendental kantiana diferenciando o sistema idealista dos dois filósofos. 5. Explique a filosofia da natureza em Schelling e a sua relação com o absoluto. 6. Por que a filosofia de Hegel é conhecida como idealismo dialético? 7. Por que Hegel deu tanta importância à história humana?

Peanuts, tirinha do cartunista norte-americano Charles Schulz, 1960.

12. Em dezembro de 2010, a morte de um jovem vendedor ambulante na Tunísia, que se autoimolou em protesto contra o desemprego e a corrupção policial, foi o início de uma sequência de manifestações que levaram à queda do ditador tunisiano Ben Ali. O exemplo da Tunísia logo se espalhou pelo Egito, pela Líbia e pelo Oriente Médio em uma onda revolucionária que levou à queda de ditadores e mergulhou a Síria em uma guerra civil que até 2013 tinha feito quase 40 mil vítimas e cerca de 500 mil refugiados. Denominada pela imprensa de Primavera Árabe, a revolução expressou o desejo por democracia, emprego e melhores condições de vida. Reflita sobre esses acontecimentos e o texto a seguir, de Hegel, para responder à seguinte questão: Segundo a concepção de história de Hegel, os acontecimentos da Primavera Árabe seriam racionais? Explique.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A virgem e o menino Jesus, escultura de artista desconhecido, século XIII.

Michel urtaDo/rMN-GraND Palais/other iMaGes - Museu NacioNal Da iDaDe MÉDia - Museu De cluNY, Paris

2. Como a arte e a religião revelariam o infinito, segundo Hölderlin, Schlegel e Novalis? Em que aspectos a escultura abaixo extrapola o finito e remete ao infinito?

© PeaNuts worlDwiDe llc./Dist. bY uNiversal uclick

Sistematize o conhecimento

8. Para Hegel, a arte, a religião e a filosofia são formas do Espírito Absoluto. Explique. 9. Explicite os principais argumentos de Kierkegaard em oposição ao idealismo de Hegel, os quais estão na origem de sua filosofia existencialista. 10. Hegel desenvolveu o seu método do pensar e do agir partindo do princípio de que a razão é o que distingue os homens dos outros animais. Explique a relação entre razão, verdade e eternidade na filosofia hegeliana.

“O único pensamento que a filosofia traz para o tratamento da história é o conceito simples de razão, que é a lei do mundo e, portanto, na história do mundo as coisas aconteceram racionalmente.” HEGEL. A razão na história. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Moraes, 1990. p. 53.

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Capí tulo

A teoria marxista e o positivismo

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Alex AlmeidA/FolhApress

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No contexto do capitalismo Crise econômica, desemprego, mercado, bolsa de valores, mercadoria, capital, trabalho, produtividade, lucro, oferta e demanda são termos muito utilizados nos dias atuais. Basta acompanhar os noticiários econômicos na TV, no rádio, ler os jornais e as revistas ou consultar os sites jornalísticos para deparar com algumas dessas expressões. O emprego desses nomes tem relação direta com o desenvolvimento do sistema capitalista, que se estabeleceu mais plenamente em meados do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial. Desde então, as pessoas têm pensado e planejado sua vida no contexto do capitalismo, ou seja, seus estudos, trabalhos e outras atividades do cotidiano têm sido pautados pela lógica desse sistema. Marx e Comte refletiram sobre o capitalismo e projetaram perspectivas para o ser humano. O primeiro defendeu a necessidade da revolução proletária e da construção da sociedade comunista; o segundo, o aperfeiçoamento da sociedade capitalista por meio da aplicação das leis sociais.

Índices do mercado financeiro em painel da Bolsa de Valores de São Paulo, 2008.

Reflita 1. O que você pensa sobre seu futuro profissional? Converse com os colegas sobre o assunto. 2. O que você pensa sobre a sociedade capitalista?

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Corbis/lAtinstoCk

Em certa medida, as ideias iluministas, vistas no Capítulo 8, representaram, no campo da teoria política e do conhecimento, os interesses da classe social ascendente do século XVIII: a burguesia. Era a filosofia interpretando e procurando entender o contexto da época. Mas a filosofia não reproduz a realidade social como se fosse um espelho. Ela desenvolve uma r e f le x ã o so b r e e ssa r e al i d ad e , analisando-a e estabelecendo um posicionamento crítico. Foi o que fez Marx, o filósofo que mais bem analisou o sistema capitalista, ao desenvolver, com Engels, a teoria do materialismo dialético. Outras correntes e pensadores marcaram a filosofia contemporânea a partir da crítica e do enaltecimento do sistema capitalista. Entre eles, destacam-se as correntes positivistas, que tiveram em Comte uma grande referência. Camponesas trabalham no cultivo de batatas. Ucrânia, c. 1900-1920. As relações de trabalho, no campo e na cidade, constituíram um dos principais objetos de reflexão de Marx e Engels.

Compêndio. Síntese ou resumo do que há de mais importante em um estudo.

Feuerbach: a virada em direção à natureza A filosofia de Hegel gozou de grande prestígio e de certa hegemonia entre os filósofos, embora tenha sido muito criticada posteriormente, conforme menção no Capítulo 9, quando se abordou brevemente a filosofia de Kierkegaard. Além do pensador dinamarquês, muitos filósofos se opuseram à concepção hegeliana. Entre os próprios discípulos de Hegel surgiu o embrião das principais críticas ao idealismo dialético. O filósofo e teólogo alemão Ludwig Feuerbach foi aluno de Hegel e, em um primeiro momento, defensor fervoroso de suas ideias. Mas logo a especulação hegeliana provocou-lhe estranhamento. Feuerbach passou a considerar a filosofia de Hegel abstrata e vã, pois as especulações do ser em geral, do Espírito Absoluto, não levavam em consideração a natureza e o homem reais. Nesse aspecto, a filosofia de Feuerbach acabou por se constituir quase no inverso da filosofia de Hegel.

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A crítica ao capitalismo

“A filosofia é a ciência da realidade em sua verdade e totalidade, mas o compêndio da realidade é a natureza (a natureza no sentido mais universal da palavra). Os segredos mais profundos se acham ocultos nas coisas naturais mais simples, que são pisoteadas pela fantasia especulativa que tende para o além. A única fonte de salvação consiste no retorno à natureza [...]. A natureza não só construiu o vulgar laboratório do estômago: também construiu o templo do cérebro.” FEUERBACH. In: REALE, Miguel; ANTISERI, Dario. Trad. do autor. Historia del pensamiento filosófico y científico. Barcelona: Herder, 1988. p. 163.

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Feuerbach (1804-1872) nasceu em Landshut, Alemanha. Ainda jovem iniciou seus estudos universitários em teologia, mas em 1824 abandonou a carreira para dedicar-se à filosofia. Elaborou uma série de críticas ao pensamento de Hegel, integrando a chamada “esquerda hegeliana”. Refutando o aspecto absoluto e central do processo dialético hegeliano, Feuerbach colocou o homem no lugar de Deus e afirmou que a religião seria apenas “um sonho da mente humana”. Em virtude de suas interpretações polêmicas sobre a religião como alienação humana, em 1830, ao publicar sua primeira obra, foi expulso da universidade sob acusação de ateísmo. Suas ideias exerceram forte influência sobre o pensamento de Karl Marx e diz-se que foi responsável pela origem do “humanismo ateu”. Suas principais obras foram A essência da religião, A essência do cristianismo e Contribuição à crítica da filosofia de Hegel.

Para Feuerbach, o amor, o querer e o pensar eram realidades essenciais do homem – realidades sem limites, infinitas. Ou seja, para o filósofo, era inconcebível pensar um limite para o amor, para o querer ou para o pensar. Nessa medida, o infinito ou a ideia do infinito já estava presente no interior do homem, na sua essência. Feuerbach acreditava que a ideia da existência de Deus, de um ser infinito ou de um ser absoluto era apenas a projeção da essência do homem. Assim, as qualidades que as religiões atribuíam a Deus eram, para o filósofo, as qualidades próprias do ser humano. Dito de outra maneira, Deus seria uma criação humana, uma criação imaginária que representaria a essência do homem.

© tAmAyo, ruFino/liCenCiAdo por Autvis, brAsil, 2012

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Ludwig Feuerbach

mAnoheAd

Da teologia à antropologia No idealismo hegeliano, a natureza e o homem são expressões parciais da totalidade do Espírito Absoluto. É no Espírito Absoluto que se realiza plenamente a unidade do finito e do infinito. A filosofia hegeliana é idealista, pois explica a realidade a partir da consciência ou do espírito. Em Feuerbach, a natureza existe independentemente de qualquer filosofia ou especulação idealista. A natureza e a sociedade são a base sobre a qual o homem se desenvolve em sua totalidade. Ele não existe fora da natureza e da sociedade humana.

Homem ante o infinito, obra de Rufino Tamayo, 1950. Para Feuerbach, os segredos mais profundos se achavam ocultos nas coisas naturais mais simples.

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Para pensar “A credulidade dos homens supera o que se imagina. Seu desejo de não enxergar a evidência, sua avidez por um espetáculo mais divertido, mesmo que pertença à mais absoluta ficção, sua vontade de cegueira não conhece limites. Antes fábulas, ficções, mitos, histórias para crianças do que assistir à revelação da crueldade do real que obriga a suportar a evidência trágica do mundo.” ONFRAY, Michel. Tratado de ateologia. Trad. Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. XX.

Do idealismo ao materialismo Por que o ser humano teria concebido um ser supremo e infinito? Segundo Feuerbach, o homem, como ser natural, tem necessidades, sofre dores e sente angústias. Como ser que vive em natureza e dela depende, sente-se limitado e encontra na figura de Deus a possibilidade da infinitude e da realização dos desejos humanos. A partir dessa ideia, Feuerbach entendia que toda religião ou teologia tratava fundamentalmente do homem e, portanto, toda religião ou teologia era uma antropologia, ou seja, um estudo do homem. Ao tomar a natureza como fundamento da realidade, o homem como centro de reflexão e os dogmas religiosos como projeções humanas, esse filósofo iniciou um importante giro na forma de entender o mundo e a sociedade. Ele partiu da filosofia idealista de Hegel e caminhou em direção a uma filosofia materialista, embora o próprio Feuerbach não se considerasse um materialista. Esse giro filosófico só se consolidaria plenamente com as elaborações de Marx e Engels, os fundadores do materialismo dialético.

Marx e Engels e o materialismo histórico

Muitos historiadores da filosofia não consideram Karl Marx um filósofo, embora ele tenha se formado nessa área de estudo. Geralmente ele é classificado como um teórico político. O próprio Marx queria distância das especulações filosóficas, que, segundo ele, não tinham como propósito a transformação do mundo. Transformar o mundo e modificar as condições 2. Opine sobre o texto. de vida do ser humano, principalmente a situação da classe operária, buscando construir uma sociedade sem explorados e exploradores, eram os propósitos mais gerais de suas ações e reflexões. Marx dedicou sua vida a organizar a luta dos trabalhadores e a refletir teoricamente sobre a política, a economia e a filosofia da época em que viveu, período em que o capitalismo se estabelecia plenamente. Suas obras principais foram Manuscritos econômico-filosóficos (1844), Teses sobre Feuerbach (1845), A ideologia alemã (1846), Manifesto do Partido Comunista (1848) e O capital, publicado em três volumes (1867, 1885 e 1893). Durante sua vida de ação e elaboração teórica, Marx teve um parceiro indissociável, Friedrich Engels. Engels colaborou na formulação do Manifesto do Partido Comunista e na edição dos volumes 2 e 3 de O capital, publicados depois da morte de Marx. Engels ainda escreveu várias obras, entre elas A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1844), A situação da classe operária na Inglaterra (1845) e Anti-Dühring (1878).

Karl Marx Frontispício do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels. Londres, Inglaterra, 1848.

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier, Alemanha, em uma família de judeus convertidos ao protestantismo. Estudou direito na universidade e especializou-se em filosofia. A partir do contato com as obras de Adam Smith, David Ricardo e Feuerbach, rompeu com a tradição idealista da filosofia alemã e com o pensamento de Hegel, desenvolvendo o conceito de “materialismo histórico”, peça fundamental de sua teoria. Dono de uma vasta obra, parte dela escrita em parceria com Friedrich Engels, nunca abandonou a militância pelo socialismo, pois acreditava que as transformações da realidade deveriam ser empreendidas também pela prática política. Responsável por uma verdadeira revolução no pensamento de sua época, Marx exerceu grande influência também nos campos da história, da economia e das ciências políticas. Suas principais obras são Manifesto do Partido Comunista, A ideologia alemã, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Crítica da economia política e os três volumes de O capital.

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reproduÇÃo - ColeÇÃo pArtiCulAr

1. Estabeleça relações entre a posição do filósofo Michel Onfray e a concepção de Feuerbach.

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“Os filósofos não fizeram mais que interpretar o mundo de forma diferente; trata-se, porém, de modificá-lo.”

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MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa-Omega, s.d. v. 3, p. 210.

A teoria que dava suporte à ideia de modificar ou transformar o mundo era a do materialismo histórico, criada por Marx e Engels apoiando-se, por um lado, na dialética de Hegel, e, por outro, contrapondo-se ao idealismo hegeliano. Para Marx e Engels, as coisas e a realidade não eram expressões de um ser infinito. A natureza e a sociedade não eram manifestações de uma realidade espiritual, o Espírito Absoluto – como afirmava Hegel –, mas sim da própria realidade. As ideias, as concepções, as teorias, as representações, tudo o que é criado ou aparece para a consciência do homem teria origem na realidade material, e não o contrário. Dessa maneira, a relação entre a ideia (a consciência) e a realidade apresentada pelo idealismo hegeliano estava invertida. Não era a consciência dos homens que determinava seu ser, mas o contrário: era seu ser social que determinava sua consciência. O que significava isso? Que, segundo Marx, a realidade do homem era determinada por suas atividades materiais, por seu trabalho, pelas relações que estabelece com outros homens, e os meios utilizados para se comunicar com eles, quer dizer, pela forma como esse homem vive concretamente, pela forma como a sociedade produz bens e os distribui. Mas o materialismo histórico é sobretudo dialético, isto é, Marx defendia que a realidade social é dinâmica, está em transformação permanente, evoluindo por meio de contradições. Para o revolucionário alemão, assim como as contradições do modo de produção feudal produziram o embrião do capitalismo, as contradições do capitalismo levariam a uma nova sociedade. A dialética é a lei de desenvolvimento da realidade histórica.

Materialismo histórico. Teoria segundo a qual a sociedade e os acontecimentos históricos devem ser explicados a partir das condições materiais de produção e distribuição das riquezas produzidas pela sociedade. Dito de outra maneira, para compreender uma sociedade e os acontecimentos históricos de determinada época é necessário investigar os fatores econômicos dessa sociedade: as formas de produção, as técnicas de trabalho adotadas na produção, as relações estabelecidas entre os homens etc. Materialismo dialético. Filosofia desenvolvida principalmente por Engels que estende a aplicação do método dialético para o campo da natureza. Segundo essa filosofia, as leis da dialética – o movimento de afirmação, negação e síntese – estão presentes em toda a realidade material, seja na natureza, seja na sociedade humana, e estabelecem um contínuo e perpétuo estado de mudança.

Crianças sentadas em calçada no bairro operário de Vauxhall, em Londres, Inglaterra, c. 1860. Para Marx, as condições materiais de existência do homem determinavam sua consciência e criavam condições para que essa existência fosse transformada. hulton ArChive/Getty imAGes

O ser social determina a consciência Marx e Engels fizeram parte da esquerda hegeliana e valorizaram as críticas feitas por Feuerbach à filosofia idealista de Hegel. No entanto, achavam que as conclusões desse filósofo não eram completamente consequentes. Se a religião era uma criação do homem motivada por sua realidade de sofrimento, angústia e tristeza, se a sociedade não permitia o desenvolvimento pleno do ser humano, se ela trazia infelicidade, caberia buscar uma teoria que tivesse como centro a transformação dessa realidade. Marx externou essa posição em uma tese famosa:

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Barricada construída por trabalhadores nas ruas do subúrbio de Saint-Antoine, durante o movimento revolucionário da Comuna de Paris, França, 1871. Na segunda metade do século XIX, trabalhadores de Paris, rebelados, depuseram o governo e constituíram um governo popular na capital francesa. Após dois meses, o movimento foi violentamente reprimido pelas forças do governo francês, que prenderam e mataram grande parte dos insurretos. O movimento serviria de forte inspiração para a Primeira Internacional, liderada por comunistas e anarquistas.

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONEBIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA, PARIS

Ideologia: as ideias da classe dominante se tornam universais A ilusão ou o engano de que as ideias ou a consciência são algo independente da realidade social concreta do homem propiciou o que Marx chamou de ideologia. Para o revolucionário alemão, ideologia era um conjunto de ideias, representações, valores e teorias que legitimavam e ajudavam a sustentar a sociedade e as relações sociais. Em outras palavras, segundo Marx, a classe social dominante agia para que suas ideias e seus valores se tornassem universais, ela transformava suas representações em ideias abstratas válidas para o conjunto da sociedade, ocultando ou dissimulando as desigualdades sociais e as condições que as sustentavam. Por exemplo, a ideia de que todos os homens têm oportunidades iguais e que o sucesso profissional depende da capacidade de cada um dissimularia a relação de exploração presente na sociedade capitalista. A ideologia seria, então, um instrumento de dominação social.

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MANOHEAD

Friedrich Engels Friedrich Engels (1820-1895) nasceu na região da Renânia, Alemanha, em uma rica família de proprietários industriais do ramo têxtil. Ainda jovem, foi para Manchester, na Inglaterra, administrar uma filial da empresa da família. Estudou na Universidade de Berlim, dedicou-se à filosofia, ao jornalismo e à militância política, aderindo à esquerda hegeliana e às ideias comunistas. Engels mantinha uma estreita relação de amizade e colaboração teórica com Marx, que conheceu na Inglaterra por volta de 1842. Os dois filósofos tornaram-se fiéis parceiros e passaram a escrever quase sempre juntos, desenvolvendo a filosofia marxista a quatro mãos. Entretanto, alguns conceitos específicos da teoria marxista, como o materialismo dialético, são atribuídos a Engels. Suas principais obras são A sagrada família, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, Anti-Dühring e Do socialismo utópico ao socialismo científico.

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Trabalho: a principal atividade do homem Para o marxismo, o homem é determinado pelas condições materiais de sua existência, pela maneira como, interagindo com a natureza, satisfaz suas necessidades, transforma a si próprio e constrói uma nova natureza. A atividade fundamental do homem, segundo a teoria marxista, é o trabalho. “Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza.”

O ser humano, então, para Marx, trabalha para satisfazer suas necessidades, como vestir-se e alimentar-se. O trabalho, aqui, é entendido em seu sentido mais amplo: a atuação do homem, com suas forças naturais, sobre a natureza. A ação humana modifica a natureza e tem como fim um produto que satisfaz uma necessidade. Por exemplo, a criação de ovelhas, a extração de lã e a confecção de um casaco são atividades realizadas para obter um produto, o casaco, feito com o propósito de abrigar o homem do frio. Há dois aspectos do trabalho humano destacados por Marx que o diferenciam da relação que os demais animais estabelecem com a natureza. Em primeiro lugar, o ser humano amplia suas forças naturais por meio da criação de instrumentos ou ferramentas. Para pescar, o homem criou varas e redes; para caçar, inventou arcos e flechas; para se abrigar da chuva e do frio, construiu casas. Quer dizer, apenas o ser humano é capaz de criar instrumentos para auxiliá-lo a satisfazer suas necessidades, que podem ser de alimento, comunicação, transporte, saúde, educação, entre outras. O segundo aspecto característico do trabalho humano é o planejamento. O ser humano não apenas age sobre a natureza, mas age guiado por um plano estabelecido na consciência. Ele transforma a natureza de acordo com uma intenção previamente determinada. Por exemplo, um indivíduo que planeja construir uma casa tem um projeto de casa na mente e desenha esse projeto no papel. Ele, então, compra os materiais necessários para a construção, contrata ajudantes para auxiliá-lo no trabalho e constrói a casa de acordo com o modelo planejado.

Corbis/lAtinstoCk - AustriAn stAte ArChives, vienA

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MARX, Karl. O processo de produção do capital. In: O capital. Livro 1. 8. ed. Trad. Reginaldo Sant’Anna. São Paulo: Difel, 1982. p. 202.

Trabalhadores operam máquinas de impressão em uma fábrica em Viena, Áustria, c. 1890.

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Força de trabalho. Conjunto de capacidades físicas e intelectuais utilizadas no trabalho. No sistema capitalista, o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de salário.

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Tirinha do cartunista Henfil, s. d.

Trabalho capitalista: valor e alienação Mais do que estudar as características gerais do trabalho no desenvolvimento do homem, Marx analisou minuciosamente essa atividade no capitalismo. Sua investigação o levou a concluir que, nesse sistema, o trabalho é fonte de riqueza e ao mesmo tempo de alienação. Como isso acontece? Na sociedade capitalista, os produtos do trabalho adquirem a forma de mercadoria. Isso significa que os homens estabelecem relações entre si para vender e comprar os produtos de seu trabalho. Em outras palavras, no capitalismo as mercadorias não têm apenas valor de uso; elas também têm valor de troca, pois podem ser trocadas por outras mercadorias. É essa propriedade de troca, comum a todas as mercadorias, que lhes imprime um padrão monetário único, uma unidade de medida comum a todas elas. Por mais diferentes que sejam as mercadorias, elas têm em comum o trabalho social incorporado nelas. Por exemplo, um lápis e uma bola de gude são duas mercadorias muito diferentes; no entanto, mesmo tendo formas, composições e funções diferentes, elas têm em comum o trabalho humano incorporado. Como se mede o valor de uma mercadoria? O seu valor é medido, ou determinado, pelo tempo médio de trabalho socialmente necessário para produzi-la. Dessa forma, pode-se estabelecer uma relação de valor entre dois objetos distintos. Se o lápis, para ser produzido, demanda 1 minuto de trabalho, e a bola de gude, 15 segundos, então se chega à conclusão de que 1 lápis é equivalente a 4 bolas de gude. Segundo a teoria marxista do valor, todas as mercadorias podem ser reduzidas à mesma unidade de medida: o tempo de trabalho médio socialmente necessário para produzi-las. Note-se que se trata de uma medida social, quer dizer, o tempo de trabalho incorporado a uma mercadoria não está explícito nela e não pode ser percebido por qualquer órgão do sentido. No entanto, é determinado socialmente, ou seja, pela média social de tempo necessário para produzi-la.

Mais-valia: trabalho excedente não pago Como já foi afirmado, o trabalho, para Marx, é a principal atividade humana. O homem, ao transformar a natureza por meio de sua ação, ao criar e utilizar instrumentos, desenvolve, ao longo da sua história, as características físicas, emocionais e psíquicas que o identificam. Nessa medida, o trabalho é o responsável pela humanização do homem. Sem o trabalho, o ser humano não seria o ser que é. Mas, ao investigar o trabalho assalariado no sistema capitalista, Marx percebeu que essa atividade, longe de desenvolver e potencializar o ser humano, o degradava. E essa degradação seria decorrente de características próprias do sistema capitalista. Em primeiro lugar, o capitalismo baseia-se na propriedade privada dos meios de produção (fábricas, instrumentos, matérias-primas, terras etc.), que pertencem aos capitalistas. O trabalhador, para poder sobreviver, dirige-se aos capitalistas e oferece sua força de trabalho. Quer dizer, em troca de salário, o indivíduo permite que sua energia, sua força física e mental, seja utilizada no processo de produção de mercadorias. Ou seja, a força de trabalho também se transforma em mercadoria.

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Meios de produção. Meios necessários para a realização do trabalho – instrumentos, máquinas, infraestrutura (energia, água, transporte), matérias-primas, terras etc.

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Alienação: o homem não se reconhece no trabalho Com a propriedade privada dos meios de produção e o emprego da força de trabalho, o trabalho deixa de ser uma atividade social que humaniza o trabalhador para se transformar em algo alheio a ele. O produto de sua atividade não lhe pertence mais. A riqueza que produz passa a ser propriedade de outros. Além disso, o trabalhador deixa de guiar o processo de produção. Suas ações não estão subordinadas ao seu planejamento, mas dependem de planos e objetivos do capitalista. O trabalhador passa a ser mais uma peça da engrenagem produtiva. Nesse aspecto, pode-se dizer que o trabalhador foi coisificado, ou seja, tornou-se uma coisa, um elemento do processo de produção. Ademais, com a intensa divisão de trabalho da produção capitalista, ele passou a realizar operações extremamente simples e repetitivas, situação que o embruteceu e o privou de conhecimentos. Para designar esse processo negativo, que tem origem na separação entre o trabalhador e o produto do seu trabalho, Marx utilizou o termo alienação. O trabalhador não se realiza no trabalho. O trabalho se transformou em uma atividade que ele se vê forçado a realizar para sobreviver. Não haveria, portanto, desenvolvimento das potencialidades humanas nem realização ou satisfação. O trabalhador não se reconheceria nessa atividade.

mArCos issA/bloomberG/Getty imAGes

Na empresa, porém, o trabalhador produz mais valor do que o que recebe em forma de salário, isto é, o valor das mercadorias produzidas pelo trabalhador é superior ao valor do seu salário. Isso significa que há um trabalho excedente não pago pelo capitalista, que Marx chamou de mais-valia. É do trabalho excedente não pago, da mais-valia, que se origina o lucro do capitalista. Assim, para Marx, o sistema capitalista se baseia na exploração do homem, por meio da utilização de sua força de trabalho; e isso só é possível por causa da existência da propriedade privada dos meios de produção. Operário solda o bagageiro de um carro em uma linha de montagem de automóveis em São José dos Campos, São Paulo, 2010.

Multimídia • Tecnologia e exclusão

Luta de classes e comunismo Para Marx, a principal característica da história humana é a luta entre classes sociais. No capitalismo, essa luta é travada entre a burguesia e o proletariado. Segundo o revolucionário, o proletariado seria o embrião de uma nova sociedade, a sociedade comunista, na qual seriam suprimidas as bases da dominação e da desigualdade entre os homens: a propriedade privada dos meios de produção, as classes sociais, a alienação e a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Além disso, a economia seria planificada de acordo com as necessidades de toda a população. No entanto, uma vez que o proletariado chegasse ao poder, o comunismo não se realizaria de uma hora para outra. A extinção das classes sociais e do Estado seria paulatina. Marx previa um estágio transitório entre o capitalismo e o comunismo, a ditadura do proletariado, período em que os proletários utilizariam seu domínio para implantar medidas de avanço para uma sociedade sem classes e sem Estado. 35

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Para pensar

“Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, premência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É doce andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que incidência demito-me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo, Ser pensante e solitário

Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comprazo, tiro glória De minha anulação. Não sou — vê lá — anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo dos outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.”

roGério borGes

Marx afirmou que o trabalhador, na produção capitalista, tornou-se coisa, quer dizer, um elemento utilizado como peça de uma enorme engrenagem do sistema de produção. O processo de coisificação do trabalhador não se restringe à produção fabril. Ele pode ser verificado em diversos âmbitos da sociedade capitalista. Leia o poema “Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade, e debata com os colegas se a transformação do homem em homem-anúncio evidencia um processo de perda de identidade e de coisificação.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 1.252-1.254.

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Antecedentes teóricos: Saint-Simon e a história como progresso Grande parte dos temas que foram objeto de reflexão de Comte já estava presente na obra do industrial e pensador francês Saint-Simon (1760-1825), que foi o inspirador de Comte. Suas obras tinham como temas principais a organização da sociedade, o sistema industrial e a ciência. A história da humanidade, segundo Saint-Simon, seria uma sucessão de épocas orgânicas, nas quais o sistema social estaria bem estabelecido, e de épocas críticas, nas quais o progresso humano questionaria os valores do sistema, e este entraria em crise. De qualquer maneira, a passagem de uma época a outra traria avanços para o ser humano. Saint-Simon acreditava estar próxima a época de predomínio de uma filosofia positiva, que seria o fundamento de uma moral, educação, política e religião novas. A filosofia positiva permitiria compreender mais profundamente a sociedade, cuja organização deveria se basear nas ciências e na indústria, os dois pilares de sustentação do progresso. Assim, as perturbações e os conflitos sociais seriam amenizados ou controlados.

biAnChetti/leemAGe - ColeÇÃo pArtiCulAr

Um pouco mais jovem, porém contemporâneo de Marx, o filósofo francês Auguste Comte, considerado o pai do positivismo social, tinha uma visão diferente do capitalismo. Para ele, os problemas da sociedade industrial, como a miséria e a exploração do proletariado, não eram estruturais do sistema capitalista, mas passageiros, e poderiam desaparecer por meio do conhecimento, da educação da sociedade e do desenvolvimento da riqueza. Comte pregava a necessidade de conhecer profundamente as leis da sociedade. A partir delas o homem poderia aperfeiçoar o sistema industrial que, para ele, representava o ápice do desenvolvimento da história humana. O positivismo surgiu na Europa, no século XIX, e teve ampla repercussão filosófica, política e pedagógica em vários países do continente. Posteriormente, o movimento se expandiu para outras regiões do mundo, incluindo o Brasil, e influenciou diversos pensadores. O movimento positivista se desenvolveu no contexto de afirmação da sociedade industrial. Em certa medida, a filosofia positiva exaltava, no campo teórico, os benefícios do capitalismo industrial, que se apoiava, em grande parte, no avanço da ciência e na aplicação do conhecimento científico à produção industrial. Para os filósofos positivistas, as mudanças produzidas pelo capitalismo apontavam para uma melhoria das condições de vida, e a ciência era o principal instrumento de aperfeiçoamento e de progresso da nova ordem social que se firmava.

Gravura retratando o pensador e industrial francês Saint-Simon, artista desconhecido, século XIX.

Positivismo. Conceito com distintos significados. De acordo com Comte, consiste em uma filosofia baseada na observação dos fatos dados – que são reais ou positivos, dos quais se originaria a verdadeira ciência. A filosofia positiva é, para esse pensador, a ciência que estabelece a unidade entre todas as ciências. GirAudon/the bridGemAn Art librAry/Grupo keystone - museu do louvre, pAris

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Comte e a ciência social positiva

Pintura de Theodore Chasseriau que representa trabalhadores em uma fábrica na região de Creusot, na França, 1836.

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O filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) foi secretário e colaborador de Saint-Simon, de quem recebeu influência na elaboração de sua doutrina. Da mesma maneira que Saint-Simon, Comte acreditava no caráter progressivo da história e buscava uma reorganização da sociedade, tendo como base o desenvolvimento científico. Esse objetivo está evidenciado no título de uma obra escrita em sua juventude, Plano dos trabalhos científicos necessários para organizar a sociedade (1822), republicada posteriomente com o título Sistema de política positiva. A esse livro seguiram-se diversos outros, que fundamentariam sua filosofia positivista. Entre eles estão Curso de filosofia positivista e Catecismo positivista.

mAnoheAd

Auguste Comte

“Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo especial de suas pesquisas.” COMTE, Auguste. In: Comte: sociologia. Evaristo de Moraes Filho (Org.). São Paulo: Ática, 1978. p. 53.

Para pensar

Para reorganizar a sociedade, Comte pensava ser necessário instituir uma ciência que tivesse o propósito de descobrir as leis sociais, com o mesmo grau de invariabilidade presente nas leis naturais – na física, na química e na fisiologia. Chamou essa ciência de física social e posteriormente de sociologia. O filósofo francês buscava, por meio da observação de fatos sociais, descobrir as leis das transformações sucessivas pelas quais a espécie humana passa. A combinação entre o conhecimento das leis sociais invariáveis e a observação da situação imediata revelaria com nitidez as tendências de cada período. Isso possibilitaria não só entender o presente, mas também prever o futuro, segundo Comte.

Você acha possível estabelecer leis sociais que tenham a mesma invariabilidade das leis naturais? Justifique sua resposta.

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Logo da gravadora norte-americana Victrola RCA Victor, 1900.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Comte e a física social

Comte e a lei dos três estágios Comte considerava a lei dos três estágios sua grande descoberta. Para ele, em sua evolução, a humanidade e também cada um dos conhecimentos científicos passariam sempre por três estágios: teológico, metafísico e positivo. No estágio teológico, que seria o estágio inicial da inteligência do homem, a investigação humana da realidade se dirige à natureza íntima dos seres, às causas primeiras e finais de todas as coisas. As explicações dos fenômenos e das irregularidades da natureza teriam como base agentes sobrenaturais. A imaginação dominaria a observação. Por exemplo, um trovão poderia ser explicado como consequência da fúria de um deus.

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No estágio metafísico, a realidade é explicada como a manifestação de essências, ideias e forças ou capacidades abstratas. Esse estágio seria um momento intermediário no desenvolvimento humano, pois suas explicações não são completamente sobrenaturais, como no estágio anterior, porém não se atêm às leis naturais, como no estágio posterior. Por exemplo, os filósofos desse estágio, para explicar os fenômenos da natureza ou da sociedade, formulam a ideia de uma força geral abstrata ou essencial que a tudo comandaria, uma entidade metafísica, como a Razão Absoluta ou o infinito, conceitos presentes no idealismo alemão. No estágio positivo, os cientistas e filósofos perceberiam que o conhecimento humano teria limite. Que não seria possível conhecer as causas metafísicas e teológicas dos fenômenos. As investigações teriam o propósito de descobrir as leis que interligam os fenômenos da natureza. Isso seria feito sobretudo por meio da observação e da razão humana. O modelo mais claro do estágio positivo na ciência é a física newtoniana. Para Comte, os estágios do desenvolvimento humano também corresponderiam a formas de organização social e política específicas. O sistema próprio do estado teológico seria o feudal; o estado metafísico seria caracterizado pela deterioração das crenças religiosas e pelas revoluções liberais, como a Revolução Francesa de 1789, que assinala o fim da época anterior. Os processos revolucionários, necessários para o avanço da humanidade, trouxeram, porém, desordem, inquietação. O estado positivo estabeleceria uma nova ordem, baseada no desenvolvimento da ciência e da indústria. Para o filósofo francês, a sociedade industrial (capitalista) seria o último estágio, no qual o homem atinge sua organização social definitiva.

Uma nova religião A preocupação com a reforma da humanidade, baseada no desenvolvimento da ciência e da indústria, em oposição às concepções metafísicas e teológicas, levou Comte a propor uma nova religião. Para o filósofo francês, o amor a Deus deveria ser substituído pelo amor à humanidade. A humanidade seria o Grande Ser, responsável pela unidade dos indivíduos do passado, do presente e do futuro. Em outras palavras, a humanidade seria a tradição contínua da espécie humana. Para organizar a religião da humanidade, Comte se inspirou no catolicismo e buscou na filosofia positiva e nas leis científicas os dogmas da nova fé. Assim, ao sacralizar a humanidade, o filósofo trilhou, em certa medida, o caminho da metafísica que sua filosofia havia condenado.

O positivismo de Comte influenciou fortemente muitos intelectuais e políticos brasileiros a partir da segunda metade do século XIX, principalmente republicanos, como Benjamin Constant, Botelho de Magalhães e Raimundo Teixeira Mendes. Em 1876, em decorrência da influência crescente das concepções de Comte no país, foi fundada no Rio de Janeiro a Sociedade Positivista Brasileira, que posteriormente se transformaria na Igreja Positivista Brasileira. O registro mais importante da influência do positivismo são os dizeres da bandeira nacional republicana “Ordem e Progresso”, inspirados na ideia comtiana de que a sociedade positiva deve ter o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como meta.

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Ordem e progresso: o positivismo no Brasil

Detalhe da bandeira oficial do Brasil. Adotada em 1889, sofreu poucas alterações desde então.

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Síntese

1. Pouco depois da morte de Hegel, nas fileiras de seus discípulos surgiram as principais críticas ao idealismo dialético. Entre essas críticas, estavam as concepções de Feuerbach, que influenciaram profundamente as elaborações de Marx e Engels. 2. Na concepção de Feuerbach, o homem não é criação de Deus. Ao contrário, Deus foi criado pelo homem como forma de representação dos desejos humanos. 3. Com esse entendimento, Feuerbach iniciou um giro filosófico que partiu do idealismo alemão em direção ao materialismo histórico.

Materialismo histórico 1. Marx e Engels são os fundadores do materialismo histórico, teoria segundo a qual a sociedade e os acontecimentos históricos são explicados a partir das condições materiais de produção e de distribuição das riquezas. 2. Para o materialismo histórico, não é a ideia ou a consciência que determina a realidade, como afirma o idealismo dialético, e sim a realidade material, a vida concreta e social do homem que determina a consciência humana.

mAriAnA CoAn

3. Segundo Marx, ideologia é o conjunto de ideias e valores da classe dominante que são apresentados para a sociedade como verdades absolutas e universais. 4. Para Marx, a principal atividade do homem é o trabalho, compreendido como ação do homem sobre a natureza. O trabalho é responsável pela humanização do homem e fonte de riqueza.

5. As mercadorias, por mais diferentes que sejam, têm um aspecto em comum: o trabalho incorporado. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo médio socialmente necessário à sua produção. É essa característica que permite a troca de distintas mercadorias. 6. No capitalismo, o trabalho oprime o indivíduo. O trabalho se transforma em algo alheio ao trabalhador, que é alijado do planejamento da atividade e não é dono daquilo que produz. O trabalhador se transforma em uma peça, uma coisa no processo de produção capitalista. 7. Em seus estudos, Marx concluiu que a história da humanidade tinha sido, até então, a história da luta de classes. Esse conflito só teria fim após a tomada do poder pelo proletariado, que iniciaria as mudanças para a construção de uma sociedade sem classes e sem Estado, o comunismo.

Comte e o positivismo 1. Saint-Simon foi o inspirador de Comte e da filosofia positivista. As duas ideias principais da concepção de Saint-Simon são: a história da humanidade é caracterizada por um contínuo progresso; estava próximo o florescer de uma nova sociedade, baseada no conhecimento científico positivo e no desenvolvimento da indústria.

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Antecedentes do materialismo histórico

2. Comte defendia a criação de uma física social ou sociologia, que teria como objeto de estudo os fenômenos sociais. O propósito dessa ciência seria a descoberta de leis sociais invariáveis, como ocorria na física newtoniana. 3. Por meio dessas leis sociais invariáveis e da observação da situação imediata, o homem poderia analisar o presente e prever acontecimentos sociais futuros. 4. Comte acreditava que sua grande descoberta teria sido a lei dos três estágios, que analisava a história humana como uma sucessão de etapas rumo ao progresso final: o estágio teológico, o estágio metafísico e o estágio positivo.

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Atividades Sistematize o conhecimento 1. De acordo com o que você aprendeu a respeito do pensamento de Karl Marx, exponha o conceito de mais-valia. 2. Por que Comte chamou de física social a disciplina que mais tarde seria batizada como sociologia?

4. Os pensadores Marx e Engels, por um lado, e Auguste Comte, por outro, formularam suas respectivas teorias no contexto de consolidação da sociedade capitalista, no século XX, e podem ser considerados pioneiros das ciências sociais. Com base no que você estudou neste capítulo, responda. a) Qual é a diferença entre a visão marxista e a visão comtiana no que diz respeito à desigualdade social no capitalismo? b) Apesar das diferenças de pontos de vista entre Marx e Comte, você consegue enxergar semelhanças entre os dois pensamentos ao longo deste capítulo? Quais? 5. Analise a tirinha abaixo, de André Dahmer. a) Identifique e exponha uma importante caracte-

rística do trabalho humano apontada por Marx, a qual aparece no primeiro quadro dessa tirinha. b) Na sequência da tirinha, há referências a uma importante característica da organização do trabalho no sistema capitalista. Que característica é essa? c) A crescente degradação ambiental impõe à sociedade contemporânea uma mudança drástica e urgente no modelo de produção e consumo iniciado com a industrialização. Em grupos, reflitam e respondam às seguintes questões: O que você e seus colegas sabem sobre os debates relacionados ao ambiente? Que medidas têm sido tomadas? Que interesses pesam nas decisões sobre o assunto? Que interesses deveriam ser considerados?

“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.” MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Trad. M. H. B. Alves. São Paulo: Martins Fontes, 1977. p. 24.

Aprofunde 7. O que Marx provavelmente diria do conhecido ditado “o trabalho enobrece o homem”? 8. A desigualdade social, as crises econômicas e as melhorias na sociedade, temas que moveram os pensamentos de Marx, Engels e Comte no século XIX, permanecem urgentes e atuais no Brasil e no mundo. Para você, por que, mesmo com todo o desenvolvimento científico e tecnológico dos dois últimos séculos, o mundo continua convivendo com profundas crises econômicas, graves distorções sociais e o crescimento vertiginoso da violência? O que é preciso fazer para universalizar as conquistas da ciência, da indústria e da tecnologia? André dAhmer

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3. Explique a lei dos três estágios de Comte. Por que se pode dizer que Saint-Simon foi uma importante influência para a formulação dessa lei?

6. Neste trecho, de uma obra de 1859, ao mesmo tempo que estabelece um debate com o pensamento filosófico de sua época, Marx enuncia um princípio fundamental do materialismo histórico. Identifique o debate e exponha sucintamente esse princípio.

Tirinha da série Os malvados, de André Dahmer, 2012.

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O homem é mais que a razão

O triunfo de Baco e Ariane, de Annibale Carracci, 1597-1600.

Reflita • Você acredita que há forças no homem muito mais potentes do que a razão? Como elas interferem na própria razão humana? Como essas forças interferem na sua vida? Em grupo, debatam sobre esse assunto.

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Não consigo parar de viver “Um mundo fantástico me rodeia e me é. Ouço o canto doido de um passarinho e esmago borboletas entre os dedos. Sou uma fruta roída por um verme. E espero a apocalipse orgásmica. Uma chusma dissonante de insetos me rodeia, luz de lamparina acesa que sou. Exorbito-me então para ser. Sou em transe. Penetro no ar circundante. Que febre: não consigo parar de viver.” LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 61.

O que é o homem? É vida, força, potência, vontade, instinto. Algo que nenhum conhecimento pequeno e racional pode abarcar. A consciência é apenas um cômodo de uma ampla casa, uma razão menor dentro de uma razão maior. O que caracteriza o ser humano e o mundo é a abertura para a vida, a vontade de ser, a busca da satisfação do instinto. Mas também a dor, o sofrimento, a angústia, a morte. A existência humana guarda o belo e o trágico, o afeto e a agressão. É para ela, para a existência humana, que os pensadores Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Freud se voltaram. Cada um a seu modo tentou desvelar o que estava escondido por trás da imagem racional do homem.

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Schopenhauer: o mundo como vontade e representação

O mundo como vontade Ainda que Schopenhauer condene o idealismo alemão nas figuras de Fichte, Schelling e principalmente de Hegel, a quem considerava “charlatão” e seu pensamento uma “palhaçada filosófica”, há um aspecto básico e central que o aproxima do idealismo e da filosofia romântica. Trata-se da ideia do infinito. Se, para Hegel, o infinito se traduzia como Espírito Absoluto e a realidade como sua realização, para Schopenhauer a essência da realidade é a vontade, uma força irracional do Universo que se manifesta em tudo.

“[...] na força que faz crescer e vegetar a planta e cristalizar o mineral; que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que experimenta com o contato de dois metais heterogêneos [...] nas afinidades eletivas dos corpos, que se manifestam sob a forma de atração ou de repulsa, de combinação ou de decomposição... na gravidade que age com tanto poder em toda a matéria que atrai a pedra para a terra, como a terra para o sol.” SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. p. 21.

A vontade é uma energia que está para além do conhecimento humano. Não é uma representação ou fenômeno. É, antes de tudo, a essência íntima de todo o Universo que abarca a natureza, os seres animados e inanimados e, portanto, o homem e todos os fenômenos do conhecimento humano. A razão humana é apenas uma ínfima parte da vontade una e universal. Antes de ser sujeito do conhecimento, o indivíduo é vontade, e pertence à essência íntima de todas as coisas. A vontade é a coisa em si, a essência de tudo, que não pode ser alcançada pela razão e pelo conhecimento, mas pode ser sabida e sentida pelo corpo.

A força que mantém a agulha da bússola sempre ao norte foi uma das metáforas usadas por Schopenhauer para dar uma ideia concreta da essência da realidade, a vontade. gaLushKo sErgEy/shuTTErsToCK

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“O mundo é minha representação.” Assim o filósofo alemão Arthur Schopenhauer inicia sua principal obra: O mundo como vontade e representação, publicada em 1819. O que o filósofo queria dizer com essa afirmação? Em parte, nada mais do que Kant já havia dito: só podemos conhecer as representações, os fenômenos, como aparecem para a nossa mente. Nesse sentido, o mundo e todas as coisas que pertencem a ele nada mais são do que as representações ou os fenômenos do sujeito que conhece. No entanto, Schopenhauer deu à expressão “fenômeno” um sentido bem diferente do que havia sido dado por Kant. Para Kant, o fenômeno é a única realidade que o ser humano pode conhecer. O objeto externo ao homem, sua essência ou o que de fato ele é não pode ser alcançado pelo conhecimento humano. Para Schopenhauer, o fenômeno é uma ilusão, uma aparência, algo que encobre a verdadeira realidade. E qual é a verdadeira realidade? Entender o mundo como representação é apenas uma parte da verdade; a outra, a principal, é que o mundo é sobretudo vontade.

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Para pensar

A vontade é cega, e a vida, sem sentido

Segundo Schopenhauer, o ser humano tem vontade infinita e satisfação muito limitada.

• Com base nessa ideia do autor, reflita como o duKE

capitalismo explora essa condição humana.

A culpa pelo aquecimento global é da sociedade de consumo, charge de Duke, s.d.

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O corpo: vontade visível Qual é a relação entre a vontade universal e a vontade humana, presente em cada indivíduo? A unidade de todas as coisas. A vontade se expressa de diversas maneiras, e, como foi dito, está presente em tudo. No ser humano, ela se expressa não apenas na vontade que é determinada por motivos conscientes e se manifesta em atos ou ações voluntárias, como ler um livro ou assistir a um filme, mas, sobretudo, nas ações inconscientes, como os processos vitais, vegetativos, digestivos, a secreção, o crescimento, os processos reprodutivos, enfim, tudo o que está fora do âmbito do conhecimento. Imagine, por um instante, que o coração necessitasse de um comando consciente a cada batida. A atenção do indivíduo ficaria totalmente voltada para a manutenção do batimento cardíaco. Mas, assim como ocorre com as ações do coração, o corpo tem milhares ou milhões de operações responsáveis pela vida. Essas ações, para o filósofo alemão, são expressões da vontade. O corpo inteiro é expressão da vontade. O corpo é vontade objetivada, quer dizer, que se torna objeto, que se concretiza. Se o intelecto humano conhece o mundo como representação, o corpo humano sabe e sente o mundo como vontade. Ele percebe essa energia universal em tudo o que não é conhecimento, fenômeno ou representação.

ManohEad

Arthur Schopenhauer Arthur Schopenhauer (1788-1860) nasceu em Dantzig (atual Gdansk), que hoje pertence à Polônia. Na juventude, estudou medicina na França e na Inglaterra, mas deixou a medicina para estudar filosofia. Influenciado por Kant, por Platão e pelo budismo, enfatizava o caráter absurdo, trágico e doloroso da existência humana, desenvolvendo uma filosofia ascética e pessimista. Em 1830, mudou-se para Frankfurt, onde continuou a produzir e a publicar suas obras. Inicialmente, suas ideias tiveram pouca repercussão, e somente no final da vida teve reconhecimento, influenciando pensadores como Nietzsche, Freud e Heidegger. Suas principais obras são O mundo como vontade e representação, Sobre o fundamento da moral, Parerga e Paralipômena e Aforismos para a sabedoria da vida.

A ideia de que existe um ser que estabelece unidade a múltiplas manifestações ou fenômenos, e de que estes só existem como expressões daquele, está presente no pensamento de vários filósofos, como Heráclito, Espinosa, Hegel e muito outros. Então, qual é a diferença? O que Schopenhauer trouxe de novo? Ao contrário da tradição filosófica ocidental que o antecedeu, Schopenhauer não pensou a unidade essencial de tudo o que existe como ordem e razão. A vontade não é racional e, portanto, sua presença em tudo o que existe no Universo não determina nenhuma ordem racional. Ao contrário, a vontade é cega, age sem motivo racional e discernível. Dito de outra maneira, o Universo não é harmonioso. O mesmo acontece com a vida humana individual. Ela não tem sentido. O ser humano tem vontade infinita e satisfação muito limitada. Não alcança o que deseja e, nas raras vezes em que isso acontece, logo surgem outras vontades e outros quereres. O prazer e a felicidade – que o filósofo caracteriza como ausência de dor – são ilusórios.

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rodrigo abd/ap/gLowiMagEs

Mulher que teve o marido e dois filhos mortos pelo exército sírio chora, em Idlib, norte da Síria, 2012. Para Schopenhauer, a vida humana é marcada por dor, sofrimento e morte.

A esmo. Ao acaso, à toa. Fruição. Gozo, desfrute.

EadwEard MuybridgE/ThE bridgEMan arT Library/grupo KEysTonE

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Libertação da vontade pela arte A vida individual é marcada por sofrimento, doença, miséria, guerra, dor e degradação. Assim, como ocorre com os outros animais, o homem sofre a esmo, sem nenhuma razão de ser, caminhando para a morte. Sua situação é ainda mais deplorável por ter consciência de que vai morrer. Utilizando as palavras de Schopenhauer, a vida é um negócio que não cobre os custos. Ao contrário do que pregava Hegel, na visão de Schopenhauer, não há na história e na sociedade humana progresso e racionalidade. A história humana seria a descrição da trajetória da dor, da catástrofe e da tragédia. O único sentido da existência do indivíduo é ser um elemento da espécie, que, ao contrário dele, perpetua-se. Apesar do pessimismo em relação à vida, Schopenhauer acreditava que era possível sair dessa incessante tormenta impulsionada pela cega e irrefreável vontade humana. Quando o homem conseguisse compreender que ele e a realidade nada mais são do que vontade, daria o primeiro passo para a libertação, que está relacionada com o deixar de querer. Um exemplo disso seria a experiência estética. Para o filósofo, quando o homem admira uma obra de arte ou está concentrado nela, de alguma maneira deixa de lado os seus desejos, mergulha na admiração artística e se esquece da dor. Em outras palavras, ele não observa a manifestação artística como um objeto a mais entre outros objetos e não busca meramente estabelecer uma relação de utilidade. Na visão desse filósofo, a experiência estética é capaz de conduzir o homem para algo diferente da aparência, de transportá-lo para a essência das coisas e de trazer a paz. Por esse motivo, Schopenhauer enaltecia a arte como um momento em que o homem rompe com a prisão da vontade. Ou seja, a fruição da arte neutraliza o sofrimento. No entanto, os momentos livres de contemplação estética são breves, passageiros, fugidios e raros. Para que o homem consiga a libertação ampla e duradoura em relação à tragédia de sua vida, seria preciso suprimir a base do egoísmo e dos desejos desenfreados: a vontade de viver. É essa vontade, expressão da vontade cósmica, que faz o indivíduo, apesar da dor e do sofrimento, querer viver. Como suprimir a vontade de viver? Sequência de fotografias da bailarina norte-americana Isadora Duncan, de Eadweard Muybridge, 1887. A arte, para Schopenhauer, seria uma experiência capaz de refrear no ser humano a vontade que o atormenta e proporcionar-lhe momentos de liberdade e satisfação.

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Ascese. Referente a asceta, pessoa que dedica sua vida a práticas espirituais, à contemplação e à mortificação dos sentidos.

Negação do querer viver Se o indivíduo sabe que ele é vontade, sabe que os outros indivíduos também o são. Portanto, todos os seres humanos, assim como todas as coisas que existem, fazem parte de uma mesma unidade. Por assim dizer, os homens estão todos no mesmo barco da existência. Ao reconhecer que a distância entre ele e o outro é muito curta, que seu sofrimento é também o do outro e de toda a humanidade, o ser humano é capaz de controlar o desejo e libertar-se do sofrimento. É a compreensão da dor do próximo como a sua própria dor. Em outros termos, o filósofo está se referindo aos sentimentos de compaixão e piedade. Mas a compaixão é, em certa medida, a dor ou a infelicidade do outro presente em nós. Schopenhauer, então, afirma que a única maneira de acabar com a dor e erradicar a vontade de viver é a ascese:

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. p. 410.

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Assim, o sofrimento voluntário imposto ao corpo, a abstinência sexual, a fome, o castigo físico, o autoflagelo, a negação das paixões são ações defendidas pelo filósofo Schopenhauer como meio de combater a vontade, como forma de negação do querer viver, como o caminho para encontrar a alegria e a paz duradoura. Nesse aspecto de sua metafísica, Schopenhauer foi profundamente influenciado pelo cristianismo e principalmente pelos fundamentos do hinduísmo. Para o filósofo, os melhores exemplos de negação do querer viver são os santos e religiosos místicos que se autoinfligiram terríveis castigos e suplícios, mortificando suas vontades.

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“Pela palavra ascetismo, que já empreguei tantas vezes, entendo rigorosamente o aniquilamento refletido do querer que se obtém pela renúncia aos prazeres e pela procura do sofrimento; entendo uma penitência voluntária, uma espécie de punição que a pessoa se inflinge para chegar à mortificação da vontade.”

Voluntários ajudam a descarregar um helicóptero com donativos para as vítimas das chuvas intensas em Ilhota (SC), 2009.

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Para pensar “Um mérito duradouro de Schopenhauer é ele ter aberto os olhos da filosofia para a profundeza obscura que se encontra no ser humano abaixo da superfície da sua consciência... Schopenhauer foi o primeiro a abrir caminho para uma filosofia e uma psicologia do inconsciente.” STÖRIG, Hans Joachim. História geral da filosofia. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 449.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A “profundeza obscura” é o inconsciente, que é muito mais poderoso e determinante do que a consciência. Essa ideia influenciou diversos pensadores e cientistas. Entre eles Nietzsche e Freud. A teoria psicanalista freudiana se apoia em grande medida nessa ideia. O que você acha: há no homem o inconsciente? Há quereres (vontades), desejos ou sentimentos escondidos da consciência? Faça um breve comentário sobre isso, justificando sua posição.

Kierkegaard: o indivíduo e a existência entram em cena

© dE ChiriCo, giorgio/LiCEnCiado por auTVis, brasiL, 2012 MusEu dE arTE ConTEMporânEa da usp, são pauLo

O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard também foi um crítico feroz do idealismo alemão e especialmente de Hegel. Sua principal crítica aos sistemas metafísicos e racionalistas estava relacionada a uma ausência: o indivíduo. Quer dizer, os filósofos anteriores buscavam explicar o mundo na sua totalidade. Utilizavam um conjunto de conceitos e de generalizações que, por fim, deixava o indivíduo de lado. Ora, para Kierkegaard, o que interessava era a realidade humana, que para ele era uma realidade singular. O indivíduo ou homem singular não poderia ser explicado ou entendido por meio de conceitos que simplesmente não considerassem a existência concreta. Em outras palavras, conceitos como humanidade ou Espírito Absoluto, por exemplo, não dariam conta da existência concreta de João, José e de Maria, que têm existências irrepetíveis, insubstituíveis, pois cada indivíduo é uma singularidade. Para o filósofo dinamarquês, a filosofia não deveria ter como centro de atenção a construção de sistemas especulativos, que são uma ilusória e mentirosa explicação do Universo. O filósofo deveria olhar para a existência humana. Nela, na existência concreta dos indivíduos, ele encontraria a verdadeira realidade do homem, seus desejos mais íntimos e seu sofrimento.

O enigma de um dia, pintura de Giorgio de Chirico, 1914.

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aLbuM/aKg-iMagEs/LaTinsToCK - MusEuM für angEwandTE KunsT, LEipzig

Retornando ao nada, gravura de Max Klinger, 1884. Para Kierkegaard, o homem viveria sempre na indeterminação, na instabilidade, na contingência de um fracasso ou de um nada.

Os estágios da existência humana e a escolha da fé Kierkegaard acreditava que havia três estágios na existência humana: o estético, o ético e o religioso. No estético, o indivíduo teria como preocupação central a busca pelo prazer. No ético, predominariam o respeito às leis sociais e a obediência à moral da sociedade. O estágio religioso seria caracterizado pela fé, pela relação do indivíduo com Deus. Como pensador religioso, o filósofo dinamarquês acreditava que só a fé cristã poderia salvar o homem da angústia e do desespero existencial. No entanto, escolher a vida religiosa, a opção pela crença e pela fé, seria muito difícil, porque a crença não tem justificação ou certeza racional. Para ele, poucos seguiriam o caminho para além da razão, para além do entendimento ou da compreensão. A crença seria uma escolha íntima, necessariamente solitária, do indivíduo perante Deus. Seria o encontro do subjetivo (indivíduo) com o absoluto (Deus). No estágio religioso, o homem, em sua condição de miséria e insignificância, entrega-se nas mãos de Deus e percebe sua dependência em relação a ele e sua ilusão em relação ao mundo. Nesse estágio, o homem prioriza sua interioridade, negando-se e afirmando o amor a Deus. Para Kierkegaard, o indivíduo nessa condição assumiria uma existência autêntica, baseada na relação com Deus. Sem essa existência autêntica, o indivíduo estaria condenado à angústia e ao desespero recorrentes.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Inerente. Que faz parte, intimamente unido.

Possibilidade, angústia e desespero Ao contrário do que os sistemas racionais e idealistas pregavam, para o filósofo dinamarquês a existência do homem não seria determinada por uma necessidade racional, na qual o destino está traçado de antemão. A existência real e concreta do indivíduo estaria marcada pelo contingente. Isso significa que as ações e decisões do indivíduo poderiam levá-lo para esta ou para aquela situação e poderiam beneficiá-lo ou prejudicá-lo. A existência estaria relacionada à possibilidade, isto é, àquilo que poderia ou não acontecer. Em certa medida, a existência seria um salto no escuro. Haveria sempre a possibilidade do desfavorável, da miséria, do engano, do terrível. A desgraça seria um aspecto sempre presente na existência. Porém a maior desgraça não seria o resultado dessa ou daquela decisão, mas a própria possibilidade, a indeterminação permanente, o estado de equilíbrio instável da vida. A existência seria sempre um talvez, a iminência de um fracasso ou de um nada. Essa situação, que para Kierkegaard era inerente à existência humana, provocaria angústia. A angústia, então, seria o sentimento de possibilidade presente na existência, ou seja, uma de suas características. Mas há outro sentimento básico da existência humana que estaria vinculado à angústia, mas que seria distinto dela: o desespero. A angústia decorre da relação do indivíduo com o mundo – possibilidade de situações, acontecimentos, relações, circunstâncias etc. O desespero acontece quando o indivíduo olha para si mesmo. Segundo Kierkegaard, o homem é uma síntese de finito e infinito, de temporal e eterno, de corpo e alma. O eu é a consciência da relação entre os termos envolvidos na síntese. O eu pode querer se firmar ou se negar, mas qualquer uma dessas alternativas não pode ser bem-sucedida. O eu não pode se firmar plenamente porque o homem não é um ser autossuficiente e completo. Não pode se negar, porque seria buscar ser algo que não é na verdade. Essa situação de impossibilidade causaria o desespero. Assim, para o filósofo, a existência humana seria uma recorrência de situações geradoras de angústia e desespero.

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Legado para o existencialismo Ao questionar de maneira veemente tanto as religiões quanto as filosofias que em tudo buscavam fundamentos racionais, ao pôr no centro de sua preocupação o indivíduo e a existência humana, com suas debilidades e contradições, e ao chamar a atenção para temas que até então não tinham despertado preocupação, como a angústia, o desespero, o sofrimento, a solidão, Kierkegaard influenciou inúmeros filósofos contemporâneos que tiveram ou têm o homem e a existência humana como objeto central de reflexão. Por isso, Kierkegaard é considerado o fundador do existencialismo.

Nietzsche e a aurora de novos valores humanos A filosofia de Schopenhauer influenciou profundamente o pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A leitura da principal obra de Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, causou-lhe ao mesmo tempo admiração e frustração.

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Por um lado, o filósofo concordava com a posição de Schopenhauer sobre a vida. Nietzsche admitia que a vida é sofrimento, dor, miséria, degradação e morte. A vida, enfim, não teria sentido, ou seja, não teria racionalidade, nem ordem, nem finalidade. Não haveria leis inexoráveis guiando as ações humanas, e o homem estaria solto na contingência e no acaso. O processo irracional do Universo e do homem seria preponderante. Nesse aspecto, Nietzsche saudava a ideia de Schopenhauer a respeito do predomínio da vontade sobre a razão humana. Por outro lado, contrapunha-se com veemência à atitude de Schopenhauer de renúncia à vida e refutava a ideia de que a única maneira de acabar com a dor era o aniquilamento do querer, a renúncia aos prazeres, a penitência voluntária, enfim, a mortificação da vontade. Nietzsche não pregava a renúncia à vida, ao contrário, ele exaltava e aclamava toda a potencialidade desconhecida que havia nela, com suas contradições e sua irracionalidade. Nietzsche combatia todos os sistemas filosóficos ou religiosos que negavam a vida e os princípios vitais ou que criavam consolos imaginários para que o ser humano pudesse aturá-la. Para o filósofo alemão, não se tratava de suportar a vida, mas de festejá-la. Ele foi um crítico voraz do idealismo alemão, do racionalismo, que acreditava ter origem em Sócrates e Platão, do cientificismo, que em sua época era representado principalmente pelo positivismo, e do cristianismo, a quem acusava de enfraquecer o que há de mais forte e vital na natureza humana.

Voraz. Destruidor, insaciável, devorador.

franK & ErnEsT, bob ThaVEs © 2011 ThaVEs/disT. by uniVErsaL uCLiCK for ufs

Sobretudo, Nietzsche denunciava a crise de valores humanos do século XIX, que deveriam ser ultrapassados por um novo entendimento do mundo e do homem. O filósofo era o combatente desses novos tempos.

Tira dos personagens Frank & Ernest, dos cartunistas Bob e Tom Thaves, 2011. Por que, nessa tira, a superbactéria é associada à figura de Nietzsche?

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Escultura romana em bronze do deus grego Dioniso, século II. Na tragédia grega, Dioniso simboliza, para Nietzche, a força dos instintos, das paixões e da liberdade.

ManohEad

Crítica ao racionalismo: Sócrates e a tragédia grega Nietzsche acreditava que a arte era a mais importante manifestação humana e que só ela poderia, exaltando o belo e a própria vida, ajudar o indivíduo a enfrentar o sofrimento inerente à existência. A arte, para o filósofo alemão, admitia o que há de terrível na vida. Em seus primeiros escritos, A visão dionisíaca do mundo e O nascimento da tragédia, Nietzsche exemplificava essa possibilidade com a tragédia grega. A tragédia grega teria surgido como síntese de tendências artísticas que expressavam duas forças presentes no mundo, na vida e na sociedade grega: a apolínea e a dionisíaca. Apolo, na interpretação de Nietzsche, é o deus da ordem, da razão, da aparência, da luz (brilho) e da beleza, enquanto Dioniso é o deus da força instintiva, da paixão, da embriaguez, da alegria, da liberdade e dos prazeres. Para Nietzsche, enquanto houve equilíbrio entre essas forças, a arte prosperou e estabeleceu o ponto mais alto da cultura grega. No entanto, quando o apolíneo passou a preponderar, quando a razão e a ordem subjugaram os instintos e a paixão, quando a compreensão do mundo tornou-se unilateral, a sociedade grega teria entrado em decadência. No campo da arte, isso teria se verificado com o poeta trágico Eurípides (480-406 a.C.), que tratou de eliminar os elementos dionisíacos da tragédia. Na filosofia, o marco inicial desse declínio estaria em Sócrates, que buscou compreender a vida e dominar a natureza humana com a razão, e em Platão, que teria criado um mundo metafísico fictício (o mundo inteligível), que se sobrepunha à irracionalidade do mundo e da vida reais, como uma espécie de consolo para o homem. Segundo Nietzsche, a partir de então o predomínio da racionalidade (o pequeno saber) sobre os instintos (o grande saber) marcou toda a história ocidental.

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hErVé LEwandowsKi/rMn-grand paLais/oThEr iMagEs-MusEu do LouVrE, paris

Friedrich Nietzsche Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu na Prússia, na região da atual Alemanha. Filho de um pastor protestante, estudou nas universidades de Bonn e Leipzig e aos 24 anos ocupou a cadeira de filologia grega na Universidade da Basileia. Dez anos mais tarde, passou a se dedicar aos estudos e à escrita. Influenciado pelo pensamento de Schopenhauer, iniciou sua obra refletindo sobre a presença do pensamento grego na cultura ocidental. Segundo ele, os valores da cultura ocidental e os dogmas religiosos submetiam o ser humano a viver sem criatividade, sendo tarefa da filosofia libertá-lo dessa condição. Suas principais obras são Assim falou Zaratustra, Ecce Homo, A gaia ciência, O Anticristo e Além do bem e do mal.

A tragédia grega surgiu no século VI a.C., derivada da tradição poética e mítica da Grécia antiga. A encenação era desenvolvida em forma de um drama, no qual se apresentavam conflitos entre o personagem e o poder ou forças superiores, como a lei, a sociedade, os deuses e o destino. Os três maiores dramaturgos da Grécia antiga foram Ésquilo (525-456 a.C.), cujas principais obras são

As suplicantes, Prometeu acorrentado, Os persas, Os sete contra Tebas e a trilogia de Oréstia; Sófocles (c. 496-406 a.C.), que criou, entre outras peças, Édipo rei, Antígona e Electra; e Eurípides (c. 484-406 a.C.), que escreveu quase uma centena de peças, sendo as mais conhecidas O ciclope, Medeia, Hércules, Andrômaca, As bacantes, As troianas e As suplicantes.

gérard bLoT/rMn grand paLais /oThEr iMagEs MusEu do LouVrE, paris

A tragédia grega

Vaso de cerâmica grego representando as figuras míticas de Orestes, Electra e Hermes na tumba de Agamenon, s.d.

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“O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios e tentações.”

LauriE ChaMbErLain/Corbis/ LaTinsToCK - basÍLiCa dE são pEdro, CidadE do VaTiCano

Pietá, escultura de Michelangelo, 1497-1499. Para Nietzsche, o sentimento cristão de piedade anula a vitalidade da natureza humana.

NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 40.

A vontade de potência e o super-homem O racionalismo, com seus sistemas idealistas e metafísicos, e o cristianismo, com sua moral de resignação, haviam levado, segundo ele, à negação da vida e dos princípios vitais. Nietzsche, ao exaltar a vida, resgata o que para ele seria a tendência ou o elemento fundamental da natureza humana: a vontade de potência. Vontade de potência seria para o filósofo a energia da existência, a vontade de ser, de durar, de se desenvolver e intensificar a vida. À vontade de potência estariam vinculadas todas as funções orgânicas (corporais ou mentais). Trata-se de um impulso ou de uma força para a vida, o mais forte de todos os instintos, que procuraria não só a sobrevivência, mas um ir além em todas as suas possibilidades, como se fosse uma vontade de ser mais. Em sua obra A gaia ciência, Nietzsche anunciou a morte de Deus. O que o filósofo quis dizer com essa afirmação? Ele estava anunciando o fim de um tempo, uma linha divisória na história do homem, que até o século XIX estruturava seu mundo e sua vida com base em verdades eternas e absolutas, na crença em um ser divino que estabelecia harmonia no Universo e justificava a tranquilidade dos homens em seu futuro – ou seja, um ser cuja existência e valores davam sentido à vida. Com a morte de Deus e com o fim das explicações sobrenaturais sobre a realidade terrena, na visão de Nietzsche desabava também o conjunto de valores que orientavam o viver do ser humano. Segundo o filósofo, era chegada a hora de o indivíduo, ele mesmo, assumir o sentido de sua vida, sem subterfúgios, sem ilusões, sem o engodo dos além-mundos, sem os valores morais que oprimiam os seus instintos.

O atleta jamaicano Usain Bolt cruza a linha de chegada e conquista a medalha de ouro na final dos 100 metros rasos nos Jogos Olímpicos de Londres, na Grã-Bretanha, em 2012.

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Cristianismo: o platonismo para as massas Nietzsche afirmava que o cristianismo era uma espécie de platonismo para as massas ou para o povo. Da mesma maneira que a teoria de Platão, o cristianismo teria sido criado para consolar o homem e ajudá-lo a suportar a vida. Como a realidade é cruel, o cristianismo seria uma invenção moral e religiosa criada para dar sentido à existência humana com a ideia de uma vida além da morte. Ao fazer isso, na visão de Nietzsche, o cristianismo negava a vivência concreta do homem no tempo, negava seu caminho inexorável para a morte, pois só a matéria e a vida terrena pereciam. A imortalidade e a felicidade estariam reservadas em outro mundo para todo aquele que seguisse os preceitos cristãos. Segundo Nietzsche, a moral cristã nada mais era do que a pregação da renúncia à vida e do ascetismo. O cristianismo iria contra tudo o que é vital e digno no homem, opondo e reprimindo sua natureza.

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Terapêutica. Relativo à terapia, tratamento de doenças ou distúrbios psíquicos. Onírico. Relativo à natureza dos sonhos; refere-se ao estado da consciência caracterizado pela sensação de irrealidade.

Para a realização dessa tarefa que se vislumbrava no horizonte, era preciso um ser humano de outro tipo, que fosse além do ser humano obediente e pessimista em relação à vida: um super-homem. “Somente agora dará à luz a montanha do futuro humano. Deus morreu: agora nós queremos que viva o super-homem.” NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Trad. Eduardo Nunes Fonseca. São Paulo: Hemus, 1979. p. 218.

Esse super-homem, sobretudo, ama a vida e construirá o sentido de sua existência na sua natureza, na sua vontade de potência, apoiado não em um mundo celeste inexistente, mas na Terra e nas coisas terrenas, em seu corpo e em seus instintos.

Sigmund Freud (1856-1939) não foi um filósofo. Ele começou sua carreira como médico neurologista e posteriormente dedicou-se à psiquiatria. No entanto, sua teoria, que deu origem à psicanálise, foi formada com base em sua experiência clínica e em conceitos abordados por filósofos que se contrapunham ao racionalismo, principalmente Schopenhauer e Nietzsche. Esses dois filósofos ressaltaram que a razão humana é uma parte menor do humano, que é guiado, sobretudo, por uma força natural muito mais poderosa do que a consciência, que Schopenhauer chamou de vontade e Nietzsche, de vontade de potência. Em Assim falava Zaratustra, Nietzsche afirma o poder do corpo e dos instintos: “Por detrás dos seus pensamentos e sentimentos, meu irmão, há um senhor mais poderoso, um guia desconhecido. Chama-se ‘eu sou’. Habita no seu corpo; é o seu corpo. Há mais razão no seu corpo do que na sua melhor sabedoria.”

EVErETT CoLLECTion/grupo KEysTonE

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. São Paulo: Hemus, 1979. p. 26.

Quer dizer, a razão ou consciência humana não reina de forma absoluta. Ao contrário, em relação aos instintos, ela é uma força menor, apenas uma parte da vida psíquica ou mental, que é, em certa medida, comandada pelos instintos. A partir dessa ideia genérica do poder dos instintos sobre a razão ou a consciência, e da sua experiência como neurologista e psiquiatra, Freud elaborou uma teoria e metodologia terapêutica que passou a ser chamada por ele mesmo de psicanálise, ou seja, a análise da vida psíquica.

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Freud: a descoberta do inconsciente

Fotogramas do filme Um cão andaluz, dirigido por Luis Buñuel, 1929. O cineasta espanhol explorava em suas obras as questões do inconsciente humano. O discurso não linear, pouco inteligível e permeado de símbolos buscava traduzir o universo onírico e subjetivo presente no inconsciente humano.

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Sublimação. Mecanismo de defesa, no qual a energia de impulsos instintivos é desviada para objetivos socialmente aceitáveis. Libidinal. Relativo à libido, energia vital do indivíduo que se expressa na sexualidade.

O método criado por Freud consiste basicamente em estimular o paciente a desenvolver a associação de imagens e ideias que surgem na sua mente sem se importar com qualquer sentido lógico ou moral – a chamada livre associação. A análise dessas imagens e ideias e também o estudo da forma como são expressas – hesitação, interrupção, resistência, eloquência – permitem que o psicanalista penetre nos níveis mais profundos da personalidade do paciente.

Instintos primordiais e repressão Segundo Freud, existem dois instintos fundamentais: o instinto de vida e o instinto de morte. A vida psíquica é afetada, ou mais propriamente dominada, pelo conflito entre esses dois instintos. Um, tendendo ao amor e à construtividade, manifesta-se mais claramente em desejos sexuais; o outro, mais propenso ao ódio e à destruição, manifesta-se principalmente nos desejos de agressividade. Esses instintos, por sua vez, são regulados por dois princípios: o do prazer e o da realidade. O princípio do prazer é a busca de satisfação imediata da necessidade instintiva. O princípio da realidade atua quando a satisfação do instinto ou o prazer não pode se dar de maneira livre e direta, por causa de algum obstáculo social ou moral. É o caso, por exemplo, de normas sociais, culturais ou religiosas que podem dificultar a satisfação dos desejos sexuais. Geralmente, quando o desejo instintivo não é satisfeito diretamente, ele tende a se manifestar na forma de desvios de conduta ou de sublimações. Para Freud, quando a repressão aos desejos instintivos – principalmente sexuais – é muito acentuada, ela pode provocar distúrbios mentais, como psicoses e neuroses. “Conforme aprendemos, os sintomas neuróticos são, em sua essência, satisfações substitutivas para desejos sexuais não realizados. [...] Agora parece plausível formular a seguinte proposição: quando uma tendência instintiva experimenta a repressão, seus elementos libidinais são transformados em sintomas e seus componentes agressivos em sentimento de culpa.” FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1997. p. 103.

Segundo Freud, então, a vida psíquica está diretamente relacionada aos instintos básicos e aos princípios que os regulam. Mas como os desejos são satisfeitos ou reprimidos?

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Sigmund Freud (1856-1939) nasceu na região da Morávia, mas logo mudou-se para Viena, na Áustria. Em 1873, ingressou no curso de medicina da Universidade de Viena. Em Paris, no hospital psiquiátrico de Salpêtrière, entrou em contato com a histeria, doença que seria fundamental para seus estudos do inconsciente humano. A razão e a consciência humanas seriam frontalmente questionadas pela psicanálise freudiana. Freud também criou uma metodologia específica para a formação e os estudos psicanalíticos. Suas principais obras foram Estudos sobre a histeria, O eu e o id, A interpretação dos sonhos, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, O mal-estar na civilização e A psicopatologia da vida cotidiana.

ManohEad

Sigmund Freud

Fotogramas do filme Correndo com tesouras, dirigido por Ryan Murphy, 2006. Em uma sessão de terapia, a personagem Deirdre, interpretada pela atriz Annette Benning, é levada por seu psicanalista a gritar, pois dessa forma ela poderia expressar a raiva e a dor reprimidas que a faziam se sentir angustiada.

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O mal-estar na civilização Em O mal-estar na civilização, obra de 1930, Freud fez considerações sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade e concluiu que há conflito de interesses entre ambos. A sociedade só pode existir se conseguir frear ou reprimir os instintos primordiais dos indivíduos. Por exemplo, o instinto de agressividade em sua manifestação plena inviabilizaria a relação entre as pessoas, que viveriam em estado permanente de conflito. Outro exemplo: se não houvesse restrição às pulsões sexuais, seria difícil encontrar a estabilidade necessária para cultivar relações duradouras.

Para pensar Segundo Freud, “o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança”, isto é, teve de abdicar de sua liberdade instintiva para viver em uma sociedade civilizada. Essa troca implica perdas e ganhos. Reúnam-se em grupos e debatam essa questão, perguntando-se de que forma esse assunto interfere na sua vida. Depois, façam uma síntese das principais ideias discutidas.

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O sonho, aquarela de Ferdinand Hodler, 1897. Para a psicanálise, todo ser humano mantém marcas psíquicas inconscientes que em algum momento da vida tentarão voltar à tona, seja por meio de sintomas, atos falhos, seja por meio dos sonhos.

Id, ego e a intermediação do superego Na obra A interpretação dos sonhos, publicada em 1900, Freud procurou demonstrar que os sonhos são manifestações de desejos inconscientes e que a memória do inconsciente é muito mais ampla do que a memória consciente. Ele chegou a essa conclusão analisando imagens de sonhos de pacientes que traziam recordações de acontecimentos que há muito tinham desaparecido da memória consciente deles. Em sonho, o indivíduo podia se lembrar, por exemplo, do nome científico de uma planta, sem saber disso ao estar acordado, ou do rosto de uma pessoa que teria visto uma vez há trinta ou quarenta anos. Eram lembranças que já tinham fugido da memória consciente, mas que não escapavam à memória inconsciente. Freud percebeu que, ao contrário do que se pensava, a vida psíquica ou da mente humana não se reduzia a processos conscientes. Em 1923, Freud publicou O eu e o id, obra na qual expôs sua teoria sobre o funcionamento da psique humana. O fundador da psicanálise dividiu a psique humana em três partes: o id, o ego e o superego. O id é o inconsciente, no qual atuam as forças instintivas. O ego é o eu consciente, que realiza as vontades e os desejos conscientes. Mas entre o ego e o id há conflito, pois o ego não pode realizar tudo o que o id manifesta ou deseja. Assim, o superego é constituído de um caráter repressivo – ele retira da consciência (ego) alguns acontecimentos ou fatos e os “empurra” para o id, impedindo que alguns desejos do id passem para o ego.

“[...] é impossível desprezar até que ponto a civilização é construída sobre a renúncia ao instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a não satisfação (pela opressão, repressão, ou algum outro meio?) de instintos poderosos. Essa ‘frustração cultural’ domina grande campo dos relacionamentos sociais entre os seres humanos.” FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1997. p. 52.

Na teoria de Freud, portanto, a sociedade sobreviveria apoiada na repressão instintiva. O prazer advindo da satisfação plena dos instintos teria de ser sacrificado, e o preço por esse sacríficio era uma vida menos feliz. O homem civilizado teria trocado uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança propiciada pela vida social.

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Síntese

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Schopenhauer e o mundo como vontade e representação 1. Segundo Schopenhauer, para o conhecimento ou para a razão humana, o mundo nada mais é do que representações (fenômenos). 2. A essência da realidade é a vontade, uma força irracional do Universo que se manifesta em tudo o que existe. A vontade está fora dos limites do conhecimento humano. 3. A vontade humana é uma ínfima parte dessa vontade una e universal que se expressa, sobretudo, no corpo. O corpo é a vontade objetivada, concretizada em matéria. 4. Para esse filósofo, não há uma razão universal governando o mundo. A vontade é irracional. A vida nada mais é do que dor e sofrimento. 5. Schopenhauer vislumbra algumas formas de acabar com a tragédia na vida humana ou de atenuá-la: a arte, a compaixão e a ascese.

Kierkegaard e a existência do indivíduo 1. Kierkegaard empreendeu uma profunda crítica ao idealismo alemão e a todos os sistemas metafísicos e racionalistas, que deixavam de abordar a existência do indivíduo. 2. A filosofia deve ter como centro de investigação a existência humana concreta, que é única e original para cada indivíduo. 3. Como a vida humana não é guiada por nenhuma necessidade racional ou destino previamente estabelecido, a existência do indivíduo depende de suas ações e escolhas. 4. A existência é um salto no escuro, rondada sempre pela possibilidade do fracasso. 5. Há três estados da existência humana: o estético, o ético e o religioso. Só este último, baseado na fé, pode salvar o indivíduo da angústia e do desespero existencial.

Nietzsche e a aurora de novos valores humanos 1. Segundo Nietzsche, a vida é irracional e o sofrimento, a dor, a degradação e a morte são suas principais características. 2. O filósofo exaltava a vida com suas contradições e irracionalidade, criticando todos os sistemas filosóficos e religiosos que criavam mundos imaginários para explicá-la e levavam o homem a suportá-la e, em certa medida, negá-la.

3. Segundo Nietzsche, há duas forças naturais, a apolínea e a dionisíaca. A primeira está relacionada à ordem, à razão, à aparência e à beleza; a segunda, ao instinto, à paixão, à alegria e aos prazeres. 4. O predomínio da visão racionalista teria marcado toda a história do Ocidente. Esse processo teria se iniciado com Sócrates e Platão. 5. Para Nietzsche, o cristianismo é uma invenção moral e religiosa criada para dar sentido à vida, contrapondo-se a tudo o que é vital e digno no homem e reprimindo sua natureza instintiva. 6. Todos esses sistemas baseados em um além-mundo falseiam o que há de fundamental na vida humana: a vontade de potência, uma espécie de energia da existência, uma força que impulsiona a vida. 7. Segundo Nietzsche, a sua época marcava o fim dos além-mundos e a morte de Deus, quer dizer, o fim das explicações e dos valores que tinham como base a negação da vida. 8. É o momento de o indivíduo assumir o sentido de sua vida apoiado na sua vontade de potência, nas coisas terrestres, no seu corpo e nos seus instintos. Para essa tarefa é preciso um ser humano de outro tipo: um super-homem.

Freud e a vida psíquica do ser humano 1. Segundo Freud, existem dois instintos fundamentais, o de vida e o de morte; e dois princípios reguladores desses instintos, o princípio do prazer e o princípio da realidade. 2. Freud divide a psique humana em três partes: o id, o inconsciente no qual atuam as forças instintivas; o ego, o eu consciente; e o superego, de caráter repressivo, produz esquecimentos de alguns fatos desagradáveis, deslocando-os para o id, e impede que alguns desejos do id passem para o ego. 3. Para o pai da psicanálise, a repressão exacerbada dos instintos pode provocar distúrbios e doenças mentais. 4. Freud acredita que a relação entre indivíduo e sociedade é responsável em grande parte pela angústia e neuroses entre os mesmos. A sociedade só pode existir freando ou reprimindo os instintos primordiais dos indivíduos. O homem civilizado teria trocado a sua felicidade, fruto da satisfação de seus instintos, pela segurança social. 55

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Atividades 1. Explique o título da principal obra de Schopenhauer: O mundo como vontade e representação. 2. Por que se afirma que Kierkegaard é o fundador do existencialismo? 3. Segundo Nietzsche, o cristianismo é uma espécie de platonismo para as massas. Explique. 4. Para Freud, quais são os principais instintos e os princípios naturais do homem? 5. Em oposição a Schopenhauer, Nietzsche escreveu que o homem é detentor de “vontade de potência”, uma pulsão de vida que estaria em todas as funções do corpo e da mente e que levaria o homem para além de suas possibilidades. De acordo com o que foi estudado, quais são as diferenças e semelhanças entre a vontade de potência em Nietzsche e a vontade em Schopenhauer?

Aprofunde 6. Para Schopenhauer, Nietzsche e Freud, a razão não é absoluta na vida dos homens. a) Explicite a posição de cada pensador sobre esse assunto. b) Você acha que existe algo além da razão e do raciocínio em suas ações do dia a dia? 7. Que relação é possível estabelecer entre o pensamento de Kierkegaard e a prática do diálogo? Explique. 8. Para Freud muitas de nossas vontades e desejos ficam reprimidos no inconsciente e se tornam inacessíveis para o nosso entendimento, manifestando-se, muitas vezes de forma cifrada, nos sonhos. Transcreva um sonho do qual se recorde e troque o texto com um colega. Em seguida, discutam a respeito dos possíveis significados dos dois sonhos.

11. No texto abaixo, Nietzsche retoma o mito grego da caixa de Pandora ao refletir sobre o papel da cultura grega na formação da civilização ocidental. Depois de ler o texto, responda por que, para Nietzsche, os valores gregos, representados na tragédia, teriam anulado a criatividade humana.

“Pandora trouxe o vaso que continha os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, exteriormente um presente belo e sedutor, denominado ‘vaso da felicidade’. E todos os males, seres vivos alados, escaparam voando: desde então vagueiam e prejudicam os homens dia e noite. Um único mal ainda não saíra do recipiente: então, seguindo a vontade de Zeus, Pandora repôs a tampa, e ele permaneceu dentro. O homem tem agora para sempre o vaso da felicidade, e pensa maravilhas do tesouro que nele possui; este se acha à sua disposição: ele o abre quando quer; pois não sabe que Pandora lhe trouxe o recipiente dos males, e para ele o mal que restou é o maior dos bens – é a esperança. Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.” NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 63.

12. Para Schopenhauer, a apreciação de uma obra de arte rompe com a prisão da vontade e momentaneamente neutraliza o sofrimento. a) Explique a concepção desse filósofo sobre a experiência estética e a relação com a vontade. b) Como é a sua experiência estética? Explique sua

relação com a arte a partir daquela de que você mais gosta (música, cinema, pintura, poesia etc.).

andré dahMEr

9. Schopenhauer afirma que a vida humana não tem sentido. Você concorda com essa afirmação? Saberia mencionar algum momento irracional na história humana? Como podemos associar a tirinha a seguir ao pensamento de Schopenhauer? Reúnam-se em grupos de três e debatam o assunto.

10. O que são o id, o ego e o superego? Identifique ações cotidianas que podem ser associadas a esses três conceitos criados por Freud.

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Sistematize o conhecimento

Tirinha da série Quadrinhos dos anos 10, do cartunista André Dahmer, 2011.

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Leitura complementar

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“Começarei definindo os dois tipos fundamentais do con-

Liu Jin/afp

A noção de progresso à luz da psicanálise ceito de progresso que caracterizam o período moderno da civilização ocidental. De acordo com um deles, o progresso é definido sobretudo quantitativamente, evitando-se dar ao conceito qualquer valoração positiva. Aqui entende-se por progresso que, no curso do desenvolvimento da civilização, apesar de muitos períodos de regressão, aumentaram os conhecimentos e as capacidades humanas em seu conjunto, e que ao mesmo tempo eles foram utilizados visando a dominação cada vez mais universal do meio humano e natural. O resultado desse progresso é a riqueza social crescente. Na mesma medida, com o desenvolvimento da civilização, aumentam as necessidades humanas e também os meios de satisfazê-las. A questão que permanece em aberto é se esse progresso contribui igualmente para o aperfeiçoamento humano, para uma existência mais livre e mais feliz. A esse conceito quantitativo de progresso podemos chamar de progresso técnico e podemos opor-lhe o conceito qualitativo de progresso, tal como foi elaborado sobretudo na filosofia idealista e talvez de maneira decisiva por Hegel. Aqui o progresso na história consiste na realização da liberdade humana, da moralidade: um número cada vez maior de seres humanos torna-se livre e a própria consciência da liberdade incita a uma ampliação do âmbito da liberdade. O resultado do progresso aqui consiste na humanização progressiva dos homens, no desaparecimento da escravidão, do arbítrio, da opressão e do sofrimento. Podemos chamar humanitário (humanitüren) a esse conceito qualitativo de progresso. Entretanto existe uma conexão íntima entre o conceito quantitativo e o conceito qualitativo de progresso: o progresso técnico parece ser a precondição de todo progresso humanitário. A ascensão da humanidade a partir da escravidão e da miséria a uma liberdade cada vez maior pressupõe o progresso técnico, quer dizer, um alto grau de domínio da natureza, o único que leva à riqueza social, por meio da qual as necessidades humanas podem ser configuradas e satisfeitas de maneira cada vez mais humana. Por outro lado, não é de modo algum evidente que o progresso técnico leve automaticamente ao progresso humanitário – precisaríamos saber de que modo a riqueza social é repartida e a serviço de quem são empregados os crescentes conhecimentos e capacidades dos seres humanos. O progresso técnico que, como tal, é precondição da liberdade não significa de modo algum a realização de uma liberdade maior. Basta-nos evocar a ideia de um Estado de bem-estar totalitário, que há muito deixou de ser tão abstrata e especulativa, para perceber que aqui as necessidades humanas são mais ou menos satisfeitas, mas de tal maneira que os seres humanos, tanto na sua existência privada quanto na sua existência social, são administrados do berço ao túmulo. Caso ainda se possa falar de felicidade, trata-se tão somente de uma felicidade administrada. Constatamos na formulação filosófica do conceito de progresso uma tendência manifesta a neutralizar o próprio progresso. Enquanto ainda no século

Dois trabalhadores limpam outdoors em um shopping center de Pequim, China, 2010.

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XVIII até a Revolução Francesa o conceito de progresso técnico era concebido também qualitativamente e o aperfeiçoamento técnico como tal não se separava do aperfeiçoamento da humanidade – sobretudo em Condorcet –, isto muda no século XIX. Se compararmos o conceito de progresso de Comte e Mill com o de Condorcet, veremos imediatamente que existe ali uma neutralização consciente; Comte e Mill procuram definir o conceito de progresso sem recorrer a valores: do progresso técnico enquanto tal não pode resultar a perfeição humana. Isso significa entretanto que o elemento qualitativo do progresso se vê cada vez mais relegado para o domínio da utopia. Ele se encontra nos sistemas pré-científicos, em seguida nos socialistas-científicos em que o elemento humanitário triunfa sobre o elemento técnico, e não no próprio conceito de progresso. Este é neutro, livre de valores ou pretensamente livre de valores. O conceito de progresso, pretensamente livre de valores, cada vez mais característico do desenvolvimento da civilização e da cultura ocidentais desde o século XIX, contém um valor bem determinado que indica o princípio imanente do progresso sob o qual a sociedade industrial moderna se desenvolveu empiricamente. Seus elementos essenciais poderiam ser assim caracterizados: o mais alto valor consiste na produtividade, não somente no sentido de aumentar a produção de bens materiais e intelectuais, mas também no sentido de uma dominação universal da natureza. Surge a pergunta: produtividade para quê? A resposta invariavelmente dada é clara: para satisfazer as necessidades melhor e numa escala mais ampla, já que o fim último da produtividade consiste na produção de valores de uso que devem reverter em favor dos seres humanos. Mas quando o conceito de necessidades engloba tanto alimentação, roupa, moradia quanto bombas, máquinas, caça-níqueis e a destruição de produtos invendáveis, então podemos afirmar como certo que o conceito é tão desonesto quanto inútil para determinar o

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pETEr Mason/sTonE/gETTy iMagEs

Aqui, um código de barras ganha forma através da silhueta de corpos humanos, demonstrando o quão intrínseco se tornou o consumo para o ser na atualidade.

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que seria uma produtividade legítima, e temos o direito de deixar em aberto a pergunta: produtividade para quê? Parece que a produtividade é cada vez mais um fim em si mesma, e a pergunta sobre a sua utilização não só permanece em aberto, como é cada vez mais recalcada. Mas como a produtividade é inseparável do moderno princípio do progresso, resulta daí que a vida é sentida e vivida como trabalho, que o próprio trabalho se torna o conteúdo da vida. O trabalho é concebido como socialmente necessário, útil, sem ser em absoluto concebido como trabalho individualmente satisfatório, individualmente necessário. Instaura-se assim uma separação entre a necessidade social e a necessidade individual, e o desenvolvimento da sociedade industrial sob esse princípio de progresso só faz provavelmente com que isso se acentue. Em outras palavras, o trabalho, que se torna a própria vida, é trabalho alienado. Ele deve ser definido como trabalho que impede os indivíduos de realizarem suas capacidades e necessidade humanas e, quando permite alguma satisfação, esta é passageira ou vem depois do trabalho. Isto significa que segundo a ordem de valores do conceito de progresso essencial ao desenvolvimento da sociedade industrial, satisfação, realização, paz e felicidade não são fins, não são certamente os valores mais altos e caso sejam reconhecidos surgem e permanecem como subordinados. Essa ordem de valores, que vê tão somente na satisfação e na felicidade individuais um elemento secundário, corresponde a uma hierarquia das faculdades humanas própria ao conceito de progresso: o ser humano se divide em faculdades superiores, espirituais, e inferiores, sensíveis, que se relacionam entre si de tal maneira que as faculdades superiores e a razão são determinadas e definidas por oposição às pretensões dos sentidos, das pulsões. A razão aparece essencialmente como um princípio de renúncia e que coage à renúncia, e sua tarefa consiste não só em dirigir os sentidos, as faculdades inferiores humanas, mas em reprimi-los. Como consequência, segundo esta ideia de progresso, a liberdade é definida como liberdade em relação à coação das pulsões e dos sentidos, como transcendência em relação à satisfação e como a autonomia dessa transcendência. A satisfação nunca deve ser aquilo que constitui o conteúdo e o espaço da liberdade.” MARCUSE, Herbert. Cultura e psicanálise. Trad. Wolgang Leo Maar e outros. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 99-103.

Atividades 1. Atividade em grupo. Expliquem: a) os dois tipos de conceito de progresso expostos no texto e como eles se relacionaram na história humana. b) a crítica de Marcuse a respeito de a produtividade ser um valor fundamental da sociedade. c) a relação entre trabalho e produtividade na sociedade contemporânea, segundo Marcuse. 2. Dê sua opinião. Como fazer para que o trabalho não seja alienado? É possível?

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Nosso cotidiano

Trabalho e felicidade

— Professora, afinal, o trabalho humaniza ou desumaniza o homem? — Flávia, antes de tentar responder à sua pergunta, responda-me outra: por que você fez essa pergunta? — Nós vimos na aula de história e também na de sociologia que Marx falava que, pelo trabalho, o homem se humanizou; ao mesmo tempo, ele dizia que há um processo de alienação e de embrutecimento do trabalhador. Por isso fiz essa pergunta. Mas o que mais me preocupa é saber como será meu futuro, quando escolher uma profissão e tiver um trabalho definitivo. Minha vida será boa? Serei feliz? Antes que a professora respondesse, Paulo, meu parceiro de futebol, disse de maneira firme: — Vida boa é ter dinheiro!

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Lúcia, a professora de filosofia, é uma das que eu mais gosto. Ela não se porta como se fosse a dona da verdade. Procura ouvir os alunos e sempre está atenta às nossas preocupações e dúvidas. Suas aulas são interessantes. Em uma delas, quando falava do conceito de felicidade, Flávia fez uma pergunta que acabou estimulando a atenção e a reflexão de muitos colegas, inclusive a minha.

A professora Lúcia solicitou que Paulo explicasse sua afirmação. — Professora, nesse sistema só se dá bem quem tem dinheiro. Para ser feliz, é preciso ganhar bem. — Você está dizendo, Paulo, que ser feliz é poder comprar coisas, não é? — a professora Lúcia indagou. — Claro. Com dinheiro, você pode aproveitar a vida. Comer bem, ter roupas boas, carro e casa legais. Vários colegas se manifestaram contra ou a favor do que Paulo havia dito, mas parecia que todos estavam preocupados com o futuro e com a vida adulta que se aproxima. Então, a professora Lúcia falou:

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iLusTraÇÕEs: Mariana Coan

— Vocês falaram sobre muitas coisas interessantes e sobre a preocupação que têm com seu futuro. Queria fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, Flávia, você tem razão. Marx e Engels escreveram sobre a humanização resultante do trabalho e também sobre o embrutecimento do trabalhador no sistema capitalista. Mas, veja, são coisas diferentes. Quando Marx afirma que o homem se humaniza pelo trabalho, nesse caso, a palavra “trabalho” significa, para ele, toda e qualquer ação do homem que interfere e modifica a natureza, para que o ser humano obtenha algum benefício. Ao modificar a natureza, o próprio homem se modifica, desenvolvendo suas capacidades propriamente humanas. Foi assim que o homem teria evoluído e adquirido as características do homem moderno. De certa maneira, foi assim que cada um de nós cresceu e adquiriu as qualidades humanas, vivendo em sociedade, aprendendo sobre os produtos criados pelos homens na sua relação com a natureza e interferindo na realidade. Outra coisa é o trabalho assalariado... — São dois sentidos diferentes? — Isso mesmo, Flávia. Marx desenvolveu um estudo profundo sobre o capitalismo, que deu origem a sua obra teoricamente mais importante, O capital. Nessa obra, ele descreveu o processo de alienação sofrido pelo trabalhador e seu embrutecimento. Mas, nesse caso, ele estava se referindo ao trabalho assalariado no capitalismo, no qual há divisão de trabalho, o trabalhador deixa de ser dono do produto que é fruto de seu esforço e acaba não se reconhecendo nessa atividade. Nesse caso, pode-se dizer que há um processo de desumanização. — Mas o que isso tem a ver com a gente? — Paulo perguntou. — Isso tudo não está relacionado com o início do processo fabril e a introdução das máquinas? Nossa realidade

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TarsiLa do aMaraL EMprEEndiMEnTos - insTiTuTo dE EsTudos brasiLEiros/usp, são pauLo

não é outra ou estamos condenados ao embrutecimento? — Flávia indagou, meio ansiosa pela resposta.

— Como assim? — perguntou Cláudia.

Autorretrato, pintura de Tarsila do Amaral, 1918.

— Veja, Cláudia: Marx denunciou que a atividade do trabalho no sistema capitalista, ele se referia ao trabalho do operário, era desumano ou desumanizante. Isso porque o trabalhador não se reconhecia nessa atividade, nem no produto dessa atividade, que passou a ser do dono da fábrica, da empresa ou do capitalista. O trabalhador nessas condições deixou de planejar sua atividade. Até mesmo seu ritmo de trabalho passou a ser decidido pelas necessidades da produção. Nessa medida, o trabalho, uma atividade eminentemente humana, por incrível que pareça, passou a ser algo desumano. É como se o trabalhador passasse a ser uma coisa entre outras coisas no processo de produção. Bem, é possível ser feliz assim? Quero dizer, o trabalho é uma atividade central na vida de qualquer pessoa, como ser feliz, se essa atividade não nos afirma, não nos desenvolve como pessoa, não promove nossa criatividade ou nossa imaginação? Então, voltando para os dias de hoje, depois de tanto desenvolvimento e avanço tecnológico, podemos nos sentir realizados no trabalho?

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

— Essas últimas perguntas me permitem relacionar tudo o que foi tido com o tema da felicidade – afirmou a professora Lúcia, e continuou. – Paulo, acho que todo mundo gosta de conforto e de ter dinheiro para comprar o que quiser, ou pelo menos quase todo mundo, mas não acredito que ter dinheiro ou ter coisas é sinônimo de felicidade. O próprio conceito de felicidade não é algo claro, varia de sociedade para sociedade e, às vezes, de pessoa para pessoa, mas acho que não basta ter coisas para ser feliz, se sua vida não faz sentido para você mesmo.

— Professora, meus pais estão sempre nervosos e estressados por causa do trabalho — disse Daniela. Vários colegas aproveitaram a deixa da Daniela para falar sobre os desconfortos que seus pais sentiam em relação ao trabalho. Mas Mário e Teresa foram exceções. Afirmaram que seus pais adoravam o que faziam e se sentiam felizes. Nesse momento, Flávia estava meio chateada: — Professora, assim eu fico desanimada, parece que trabalho e felicidade não combinam. — É o que eu disse: o negócio é o dinheiro — reforçou Paulo. — Flávia e Paulo, tudo o que foi dito aqui não está no campo da certeza. Estamos refletindo sobre possibilidades de futuro. Algo muito

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saudável de fazer. Nós não estamos condenados ao embrutecimento, nem à infelicidade. Para falar como um filósofo que estudaremos no ano que vem, Sartre, nós estamos condenados a ser livres, isto é, condenados a decidir sobre nosso destino. A decisão sobre a profissão que escolhemos e a vida que queremos ter é uma das inúmeras decisões que temos de realizar durante a nossa vida.

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TarsiLa do aMaraL - aCErVo arTÍsTiCo-CuLTuraL dos paLÁCios do goVErno do EsTado dE são pauLo

Operários, pintura da artista brasileira Tarsila do Amaral, 1933.

Atividades

2. Explicite a relação entre trabalho e felicidade feita pela professora Lúcia e a estabelecida por Paulo. 3. Escreva, com base nos aspectos tratados no texto, a respeito de suas expectativas em relação ao seu futuro profissional.

iLusTraÇÕEs: Mariana Coan

1. Quais são os dois sentidos do conceito de “trabalho” explorados no texto?

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Questões de vestibulares e do Enem

HEGEL, G. W. F. Filosofia da história. 2. ed. Trad. Maria Rodrigues e Hans Harden. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 35.

Com base no pensamento de Hegel, assinale a alternativa correta. a) O particular é irracional, por isso é a negação do universal, portanto, a história não é guiada pela razão, mas se deixa conduzir pelo acaso cego dos acontecimentos que se sucedem sem nenhuma relação entre eles. b) O universal é a somatória dos particulares, de modo que a história é tão só o acumulado ou o agregado das partes isoladas, e assim elas estão articuladas tal como engrenagens de uma grande máquina. c) O particular da paixão é a ação dos indivíduos, sempre em oposição à finalidade da história, isto é, do universal da razão que governa o mundo, mas esta depende da ação dos indivíduos, sem os quais ela não se manifesta. d) O universal é a vontade divina que por intermédio da sua ação providente preserva os homens de todos os perigos, evitando que se desgastem com suas paixões, assim, o humano é preservado desde o seu surgimento na Terra.

2. (UFPA-2009) No início do século XIX, mais precisamente com Hegel, a arte é concebida no interior do domínio do absoluto, isto é, da verdade enquanto tal e dos elementos que a expõem. Tendo em vista essa concepção, é correto afirmar: a) O absoluto não se expressa, de uma vez por todas, no domínio artístico. b) Ao apresentar o absoluto sob forma sensível, isto é, concreta e singular, a obra de arte não efetiva a transfiguração da realidade. c) Na atividade artística, apenas alguns de seus traços essenciais estão ligados ao ser verdadeiro. d) A beleza é, enquanto produto da arte, manifestação sensível do absoluto. e) Na arte, a totalidade que se torna aparição cumpre suficientemente suas determinações. 3. (UFU-2000) Sobre a filosofia de Marx, analisando o conceito de trabalho, é correto afirmar que: I. a produção e a reprodução das condições de existência se realizam através do trabalho; II. a divisão social do trabalho não é uma simples divisão de tarefas, mas a manifestação da existência da propriedade;

III. os seres humanos distinguem-se dos animais porque são dotados de consciência, e não porque produzem. Assinale a alternativa correta. a) II e III b) III c) I e III d) I e II

4. (UFRN-2011) As ideias de diversas correntes marxistas deram as bases teóricas das grandes revoluções políticas no século XX: a Revolução Russa de 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e a Revolução Cubana de 1959. Nos três exemplos, a inspiração marxista pode ser identificada a) no anarquismo, que propunha a destruição da propriedade privada e a abolição das hierarquias dentro do Estado, e que serviu de base norteadora para essas revoluções. b) no combate ao capitalismo, visando à formação de um mundo novo, que aboliria a desigualdade social e integraria o proletariado no cenário da política. c) na forte vinculação existente entre as propostas dos revolucionários e aquelas defendidas pelo liberalismo, sobretudo a defesa dos interesses dos trabalhadores. d) na condução do processo revolucionário por um conjunto de partidos políticos defensores do socialismo, sob lideranças camponesas, mas com frágil repercussão no proletariado. 5. (UFU-2000) “Friedrich Nietzsche (1844–1900) opõe à moral tradicional, herdeira do pensamento socrático-platônico e da religião judaico-cristã, a transvaloração de todos os valores. Conforme Aranha e Arruda (2000): ‘Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a ‘transvaloração de todos os valores’. Denuncia a falsa moral, ‘decadente’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. Dessa forma, opõe a moral do escravo à moral do senhor, a nova moral.”

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1. (UFU-2009) A respeito do conceito de dialética, Hegel faz a seguinte afirmação: “O interesse particular da paixão é, portanto, inseparável da participação do universal, pois é também da atividade do particular e de sua negação que resulta o universal.”

ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. p. 286.

Assinale a alternativa que contenha a descrição da “moral do senhor” para Nietzsche. a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação da alegria. b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais. c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo. d) É positiva, baseada no sim à vida.

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Ampliando Cinema rEproduÇão

Trabalhar cansa (Brasil, 2011). Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra. Duração: 100 min.

Vamos ficar atentos • À gradativa tensão do cachorro e no aumento da umidade na parede do mercado; são metáforas da deturpação das relações familiares, sociais e trabalhistas dos personagens. • À atmosfera que se cria no espectador, que não consegue imaginar para onde o filme será conduzido. Agora vamos buscar responder • Qual é a relação entre o filme Trabalhar cansa e o livro O mal-estar na civilização, de Sigmund Freud?

Pintura MusEu frida KahLo, CidadE do MéXiCo

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O filme aborda o drama social causado pela desumanização do homem por meio do trabalho. Otávio passa de executivo a desempregado, enquanto sua esposa, antes uma dona

de casa, torna-se proprietária de um mercadinho. A mudança impulsiona a inversão dos papéis sociais do casal e a tensão nas novas relações trabalhistas.

O marxismo dará saúde aos doentes (México, 1954). Artista: Frida Kahlo. O autorretrato de Frida Kahlo remete explicitamente ao interesse social e político da artista, pois os elementos presentes na obra expressam seus sentimentos e convicções de que o comunismo de Karl Marx substituiria o capitalismo – principal causa, segundo a artista, das mazelas do mundo. Frida e seu marido Diego Rivera hospedaram o líder revolucionário russo León Trotsky quando ele se exilou no México. Agora, vamos refletir e buscar responder • Qual é o significado dos elementos que compõem a obra? Interprete-os à luz da oposição entre capitalismo e comunismo, estudados no Capítulo 10.

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A Abelardo, Pedro (1079-1142). Filósofo francês, 126. Adorno, Theodor W. (1903-1969). Filósofo alemão, 214, 217, 219, 220, 221, 222, 226, 228, 230, 284, 362. Agostinho (354-430). Bispo de Hipona (África), teólogo e filósofo, 68, 70, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 83, 84, 94, 95, 97, 99, 100, 344, 360, 365, 391. Alberto Magno (1200-1280). Filósofo, teólogo e padre alemão, 69, 88, 89, 92. Alcuíno (730-804). Filósofo, 83. Alembert, Jean d’ (1717-1783). Matemático e filósofo francês, 141, 142, 152. Anaxágoras (c. 499-c. 428 a.C.). Filósofo grego, 20, 23. Anaximandro (c. 610-547 a.C.). Filósofo grego (Mileto), 20, 23, 26, 27. Anaxímenes (588-524 a.C.). Filósofo grego, 20, 23, 26. Anselmo (c. 1034-1109). Filósofo e teólogo italiano, 69, 85, 99, 100. Antístines (445-360 a.C.). Filósofo grego, 55. Aristarco (c. 280 a.C.). Filósofo e astrônomo, 106. Aristóteles (c. 384-322 a.C.). Filósofo grego, 13, 20, 21, 23, 32, 34, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 58, 60, 61, 66, 67, 72, 76, 79, 84, 86, 87, 88, 90, 92, 93, 99, 106, 108, 109, 111, 115, 116, 125, 158, 235, 304, 305, 314, 315, 320, 324, 337, 341, 342, 343, 345, 347, 351, 353, 359, 364, 365, 368, 370, 371, 372, 380, 389, 390, 391. Arte, 13, 15, 16, 17, 20, 33, 34, 36, 39, 44, 48, 49, 55, 58, 66, 73, 78, 82, 83, 84, 89, 92, 101, 102, 116, 141, 142, 143, 144, 162, 163, 170, 173, 193, 203, 204, 212, 229, 230, 237, 243, 262, 264, 281, 286, 291, 292, 297, 300-303, 305-308, 310, 311; segundo Schelling, 166; segundo Hegel, 170, 171, 212; segundo Nietzsche, 198; segundo Horkheimer, 222; segundo Adorno, 222; segundo Benjamin, 226, 227; segundo Deleuze, 272, 273; segundo Platão, 303, 304; segundo Aristóteles, 304; segundo Kant, 309; segundo Croce, 311. Averróis (1126-1198). Filósofo árabe, 69, 86. Avicena (980-1037). Filósofo islâmico, 69, 86.

B Bacon, Francis (1561-1626). Filósofo e político inglês, 102, 326. Bacon, Roger (c. 1214-1292). Filósofo e frade franciscano, 69, 156. Bauman, Zygmunt (1925). Sociólogo polonês, 224, 393. Baumgarten, Gottlieb Alexander (1714-1762). Filósofo alemão, 302, 303, 308. Beauvoir, Simone de (1908-1986). Filósofa francesa,

239, 241. Belo, 300, 302, 314; segundo Plotino, 305; segundo Kant, 308, 309. Benjamin, Walter (1892-1940). Filósofo alemão, 214, 217, 226, 227, 230, 284. Bentham, Jeremy (1748-1832). Filósofo inglês, 277, 278. Berengario de Tours (1000-1088). Filósofo e teólogo francês, 84. Berkeley, George (1685-1753). Filósofo irlandês, 103, 118, 128, 129, 130, 131, 132, 134, 135, 321, 325, 326. Bobbio, Norberto (1909-2004). Filósofo e historiador, 377. Bohr, Niels (1885-1962). Físico dinamarquês, 330. Bolyai, János (1802-1860). Matemático húngaro, 332. Brentano, Franz (1838-1917). Filósofo e psicólogo alemão, 233, 234. Bruno, Giordano (1548-1600). Filósofo italiano (Nápoles), 102, 110, 391. Buffon, Georges (1707-1788). Filósofo francês, 142.

C Cantuária, Anselmo de (c. 1034-1109). Filósofo, teólogo e bispo, 85. Cassirer, Ernst (1874-1945). Filósofo alemão, 153, 292, 298. Catarse, 304, 305. Ceticismo, 59. Champeaux, Guilherme de (1070-1121). Filósofo francês, 85. Chaui, Marilena (1941). Filósofa brasileira, 99, 392, 393. Ciência moderna, 26, 104, 111, 115; segundo Johannes Kepler, 107; segundo Galileu Galilei, 107, 108, 110; segundo Isaac Newton, 114. Ciência, 45, 81, 96-98, 114, 136, 152-155, 328-332; segundo Karl Marx, 40; segundo Aristóteles, 47-49, 53, 54, 60, 341, 359; segundo Johannes Kepler, 107; segundo Galileu Galilei, 107, 108, 110; segundo Voltaire, 141; segundo Comte, 185, 186; segundo Descartes, 220; segundo Husserl, 232, 244; segundo Kuhn, 335, 336. Clemente de Alexandria (c. 150-c. 215). Teólogo, 68. Collingwood, Robin George (1889-1943). Filósofo e historiador britânico, 311. Comte, Auguste (1798-1857). Filósofo francês, 160, 175, 185, 186, 187, 189, 206, 275. Condorcet (1743-1794). Matemático e filósofo francês, 141, 142, 206. Conhecimento, 31, 17, 47, 48, 49, 58, 101, 117, 118, 128, 134, 142, 148, 149, 160, 229; segundo Heráclito, 28, 31; segundo Platão, 39-44, 66, 100; segundo Aristóteles, 34, 47, 48, 49, 60, 61, 235; segun-

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Índice de nomes e conceitos

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do Sócrates, 37, 38, 42, 43, 44; conhecimento científico, 15, 17, 47-49, 54, 60, 61, 84, 87, 104, 115, 122, 133, 146, 155, 185, 186, 188, 220, 229; teoria do conhecimento, 44, 58, 60, 133, 135, 149, 176; segundo Agostinho, 76, 100; segundo Tomás de Aquino, 91-93, 99, 100; segundo Descartes, 119, 122, 134, 158, 218; segundo Espinosa, 124, 135; segundo Locke, 127, 128, 134; segundo Berkeley, 129, 130, 134; segundo Diderot, 142; segundo Kant, 145-146, 149-151, 232; segundo Hegel, 168, 173. Conhecimento empírico, 257, 259; segundo Aristóteles, 90; segundo Kant, 232. Contrato social, 373, 374, 380; segundo Rousseau, 376. Copérnico, Nicolau (1473-1543). Cônego, médico e astrônomo polonês, 106, 110, 112, 115, 116, 149, 156, 158. Copi, Irving Marmer (1917-2002). Filósofo norte-americano, 341. Cornford, Francis Macdonald (1874-1943). Erudito e poeta inglês, 26, 44, 46. Croce, Benedetto (1866-1952). Filósofo e escritor italiano, 311.

D Alighieri, Dante (1265-1321). Poeta e pensador italiano, 89, 391. Darwin, Charles (1809-1882). Cientista inglês, 158. Deleuze, Gilles (1925-1995). Filósofo francês, 215, 261, 266, 272, 273, 274, 275, 278, 279, 285. Democracia, 367, 368, 369, 380, 390. Demócrito (c. 460-c. 370 a.C.). Filósofo grego (Abdera), 20, 23, 66, 158. Derrida, Jacques (1930-2004). Filósofo francês, 215, 261, 266, 269, 271, 272, 278, 279. Descartes, René (1596-1650). Filósofo francês, 102, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 125, 127, 129, 130, 134, 135, 138, 152, 156, 157, 158, 159, 218, 234, 266, 284, 321, 325, 335, 337, 338, 392. Dialética, segundo Hegel, 169; segundo Marx, 179; segundo Korsik, 323. Diderot, Denis (1713-1784). Filósofo francês, 103, 141, 142, 144. Dilthey, Wilhelm (1833-1911). Filósofo alemão, 243, 244. Diógenes (c. 400-c. 325 a.C.). Filósofo grego, 21. Discurso racional, 26, 28, 31.

E Eco, Umberto (1932). Filósofo italiano, 84, 93, 391, 393. Einstein, Albert (1879-1955). Cientista alemão, 330. Empédocles (c. 493-c. 433 a.C.). Filósofo grego (Magna Grécia), 20, 23.

Engels, Friedrich (1820-1895). Filósofo alemão, 160, 161, 169, 175, 176, 178, 179, 180, 188, 189, 209, 378. Epicuro (341-271 a.C.). Filósofo grego (Samos), 21, 23, 56, 57, 391. Espinosa, Baruch (1632-1677). Filósofo holandês, 102, 118, 122, 123, 124, 125, 126, 134, 135, 138, 152, 192, 273, 325. Espírito Absoluto, 167, 169, 171, 173, 177, 267, 309, 314, 328. Ésquilo (525-456 a.C.). Teatrólogo grego, 63, 198. Essência, 27, 31; quinta-essência, segundo Pitágoras, 27, 30; segundo Heráclito, 28, 30; segundo Parmênides, 29, 30. Estado de natureza, 373, 374, 376, 380, 385, 386. Estética, 300, 302, 314; segundo Schopenhauer, 193; segundo Kant, 308, 309. Ética, 38, 356, 362-364; segundo Aristóteles, 53, 359; segundo George Moore, 254, 259; segundo Platão, 358; segundo Kant, 361; segundo Maquiavel, 371, 372. Eurípides (485-406 a.C.). Teatrólogo grego, 198. Experiência sensível, 118, 134, 334; segundo Kant, 146; segundo Fichte, 168.

F Faraday, Michael (1791-1867). Físico inglês, 330. Felicidade, 32, 141, 208-211, 357, 360; segundo Sócrates, 38, 358; segundo Aristóteles, 370, 380. Feuerbach, Ludwig (1804-1872). Filósofo alemão, 160, 176, 177, 178, 179, 188. Fichte, Johann Gottlieb (1762-1814). Filósofo alemão, 160, 162, 164, 165, 166, 167, 173, 174, 191, 309. Fílon de Alexandria (c. 20 a.C.-50 d.C.). Filósofo judeu-helenista, 68, 72, 77, 79. Flusser, Vilém (1920-1991). Filósofo tcheco, naturalizado brasileiro, 317. Foucault, Michel (1926-1984). Filósofo francês, 215, 261, 266, 275, 276, 277, 278, 279, 285. Frege, Gottlob (1848-1925). Lógico e matemático, 215, 232, 247, 248, 249, 250, 254, 255, 259, 260. Freud, Sigmund (1856-1939). Fundador da psicanálise, morávio (República Tcheca) radicado na Áustria, 160, 190, 192, 195, 200, 201, 202, 203, 204, 213, 218, 224, 225, 227, 273, 274, 285, 362, 392. Friedman, Milton (1912-2006). Economista norte-americano, 379. Fromm, Erich (1900-1980). Filósofo alemão, 214, 217, 227, 230.

G Gadamer, Georg-Hans (1900-2002). Filósofo alemão, 243, 244. Galileu Galilei (1564-1642). Físico, astrônomo e filósofo italiano, 102, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 114, 116, 118, 138, 154, 156, 158, 328, 336. Gauss, Carl Friedrich (1777-1855). Matemático, astrônomo e físico alemão, 332. 67

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H Habermas, Jürgen (1929). Filósofo alemão, 214, 228, 284, 362, 383. Hayek, Friedrich August von (1899-1992). Economista austríaco, 379. Hegel, Georg Wilhelm Friedrich (1770-1831). Filósofo alemão, 160, 162, 164, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 176, 177, 178, 179, 188, 191, 192, 193, 195, 205, 212, 218, 219, 232, 266, 267, 275, 309, 310, 314, 328, 337, 379. Heidegger, Martin (1889-1976). Filósofo alemão, 99, 192, 214, 225, 233, 235, 236, 237, 238, 239, 241, 243, 244, 245, 267, 284, 362. Heisenberg, Werner Karl (1901-1976). Físico alemão, 330, 331. Heráclito (c. 567-c. 450). Filósofo grego (Jônia), 20, 23, 28, 29, 30, 31, 40, 41, 50, 66, 78, 169, 192, 321. Hermenêutica, 243, 244. Hesíodo (c. 700 a.C.). Poeta grego, 24, 25. Hipátia de Alexandria (360-415 d.C.). Filósofa e matemática grego-egípcia, 67. Hipócrates (460-377 a.C.). Médico e escritor grego, 158. Hobbes, Thomas (1588-1679). Filósofo inglês, 102, 157, 326, 373, 374, 376, 380, 381, 386, 388, 392. Holbach, Barão D’ (1723-1789). Filósofo francês, nascido na Alemanha, 142. Hölderlin, Friedrich (1770-1843). Escritor alemão, 163, 173, 174. Homero (c. séc. IX-VIII a.C.). Poeta grego, 24, 25, 93, 167, 391. Horkheimer, Max (1895-1973). Filósofo alemão, 214, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 224, 226, 230, 281, 284. Hume, David (1711-1776). Filósofo escocês, 103, 118, 128, 131, 132, 133, 134, 135, 138, 147, 151, 156, 308, 321, 325, 326, 373. Husserl, Edmund (1859-1938). Filósofo alemão, 214, 225, 232, 233, 234, 235, 236, 239, 241, 244, 245, 280, 284.

I Idealismo, 164, 173, 178, 188; segundo Berkeley, 129; segundo Fichte, 165; segundo Schelling, 166; segundo Hegel, 167, 177, 267, 328; segundo Moore, 253.

Idealismo subjetivo, 165. Inconsciente, 195, 200, 202, 203, 273, 274.

J Juízo de gosto, 308, 309, 314. Justino (103-165). Teólogo e filósofo, 68, 73, 80.

K Kant, Immanuel (1724-1804). Filósofo alemão, 103, 128, 136, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 156, 157, 164, 165, 167, 169, 173, 174, 191, 192, 218, 232, 284, 308, 309, 314, 315, 321, 326, 327, 328, 337, 338, 361, 362, 364, 365. Kepler, Johannes (1571-1630). Matemático e astrônomo alemão, 102, 104, 106, 107, 111, 112, 114, 115, 116, 336. Keynes, John Maynard (1883-1946). Economista e filósofo inglês, 379. Kierkegaard, Sören (1813-1855). Filósofo dinamarquês, 160, 161, 172, 173, 174, 176, 190, 195, 196, 197, 203, 204, 235, 262, 363. Kosik, Karel (1926-2003). Filósofo tcheco e militante marxista, 323, 362. Kuhn, Thomas (1922-1996). Filósofo e físico norte-americano, 335, 336, 337, 338.

L Laplace, Pierre Simon (1749-1827). Físico, astrônomo e matemático francês, 330. Lavoisier, Antoine (1743-1794). Químico francês, 141. Lei da natureza, 43, 140, 372, 374, 384, 388. Leibniz, Gottfried (1646-1716). Filósofo alemão, 102, 118, 122, 125, 126, 134, 135, 138, 152, 248, 321, 325, 335, 347, 373.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Gilson, Etienne (1884-1978). Filósofo e historiador, 71, 72, 73, 85, 87, 91, 93. Gleiser, Marcelo (1959). Físico e astrônomo brasileiro, 331. Globalização, 294-296, 298. Górgias (c. 485-380 a.C.). Filósofo grego (Magna Grécia, Sicília), 21, 34, 44. Guattari, Felix (1930-1992). Filósofo e psicanalista francês, 273, 274, 278, 279, 285. Guilherme de Ockham (1280-1349). Filósofo, teólogo e frade franciscano, 69, 85, 86, 99.

Leucipo (séc. V a.C.). Filósofo grego, 20, 23. Lobachevsky, Nikolai (1792-1856). Matemático russo, 332. Locke, John (1632-1704). Filósofo inglês, 102, 118, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 134, 135, 138, 139, 140, 151, 321, 325, 326, 337, 373, 374, 375, 376, 377, 380, 381, 384, 385, 386. Lógos, 26; segundo Heráclito, 28, 30; segundo Plotino, 77; segundo Agostinho, 78; segundo Derrida, 270. Lyotard, Jean-François (1924-1998). Filósofo francês, 215, 261, 266, 267, 268, 269, 272, 278, 279.

M Maiêutica, 36, 66. Maimônides, Moisés (1135-1204). Filósofo e teólogo judeu, 69, 86.

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Suplemento de apoio ao professor

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Sumário Considerações sobre o ensino de filosofia 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

A filosofia e a vida A filosofia e os problemas filosóficos A filosofia e a educação As competências filosóficas O processo de avaliação A filosofia e a interdisciplinaridade Referências bibliográficas

A organização do livro

1. Rigor conceitual e vínculos com o cotidiano 2. A programação de conteúdos e as seções

O livro na sala de aula

1. A grade de conteúdos e suas possibilidades 2. Orientações e sugestões Introdução UNIDADE 1 Filosofia antiga Capítulo 1 O surgimento da filosofia Capítulo 2 Sócrates, Platão e os sofistas Capítulo 3 Aristóteles e a filosofia helenística UNIDADE 2 Filosofia medieval Capítulo 4 A Patrística Capítulo 5 A Escolástica UNIDADE 3 Filosofia moderna Capítulo 6 A ciência moderna Capítulo 7 O racionalismo e o empirismo Capítulo 8 A filosofia iluminista UNIDADE 4 Filosofia contemporânea I Capítulo 9 O idealismo alemão Capítulo 10 A teoria marxista e o positivismo Capítulo 11 O homem é mais que a razão UNIDADE 5 Filosofia contemporânea II Capítulo 12 A Escola de Frankfurt Capítulo 13 A fenomenologia e o existencialismo Capítulo 14 Filosofia analítica e filosofia da linguagem Capítulo 15 O pós-modernismo UNIDADE 6 Ação e reflexão humanas Capítulo 16 O homem e a cultura Capítulo 17 Estética Capítulo 18 Teoria do conhecimento e filosofia da ciência Capítulo 19 Lógica Capítulo 20 Ética Capítulo 21 Política

Textos e atividades complementares (capítulos de história da filosofia) Respostas das atividades do livro do aluno Respostas das atividades propostas no Suplemento (capítulos de história da filosofia)

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Unidade

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Filosofia contemporânea I

A unidade 4 é composta de três capítulos: capítulo 9, O idealismo alemão; capítulo 10, A teoria marxista e o positivismo; capítulo 11, O homem é mais que a razão. As filosofias ou teorias de Hegel, Marx, Comte, Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Freud são os destaques dessa unidade.

• Abertura

A abertura busca contextualizar o período no qual esses pensadores elaboraram as suas teorias. Trata‑ ‑se de um período de consolidação da burguesia e do sistema capitalista, de expansão das ideias liberais e nacionalistas e de avanço da ciência e da tecnologia. Mas também de contradições, revoltas e revoluções. É importante explorar a linha do tempo, situando historicamente os pensadores para o aluno. Além disso, há uma foto muito significativa de trabalhadores ingle‑ ses em greve que também merece destaque e atenção, pois sinaliza a situação convulsiva da época. Capítulo 9

O idealismo alemão

Abertura Sentimento de infinito A abertura utiliza a pintura O peregrino sobre o mar de brumas, de Caspar David, que busca exprimir o sentimento de infinitude (grandeza) do homem ao contemplar o mar e as montanhas. O texto trata exatamente desse sentimento que é difícil definir, mas que muitas pessoas sentem, e vem acompanhado da ideia ou da sensação de que há uma força, energia ou inteligência presente no Universo, na natureza e no homem. A ideia de que existe um poder infinito, sublime, que domina as coisas finitas, como o próprio ser humano, é central no romantismo e está presente no idealismo alemão. Para alguns pensadores, essa força se manifesta no sentimento, nas artes e nas religiões. Outros destacam o infinito como uma razão organizadora do mundo. O sentimento ou a sensação de infinito do próprio aluno pode estabelecer o elo com o assunto do capítulo.

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Reflita: comentários sobre as questões A atividade é aberta e procura estimular a reflexão do aluno sobre uma ideia ou conceito presente de ma‑ neira diversa no romantismo e no idealismo alemão e que, em certa medida, está presente também no imagi‑ nário ou na vida de muitas pessoas: a existência de uma força infinita. O romantismo ressalta principalmente a ideia de sentimento do infinito, e o idealismo alemão, a ideia de que há uma razão que governa o mundo. É possível aproximar essas ideias à realidade do jo‑ vem, que pode ter sentimentos místicos ou religiosos de unidade ou conceber o Universo como uma totalidade na qual existe interação entre seus elementos.

• Aspectos a serem destacados 1. O idealismo alemão. Fichte, Schelling e Hegel, os três grandes nomes do idealismo alemão, partiram da problemática kantiana para elaborar seus sistemas. Se, como dizia Kant, as coisas em si mesmas não podem ser conhecidas, pois o ser hu‑ mano só conhece os fenômenos, quem garante que elas existam? Talvez o fundamento ou a origem de todas as coisas que existem sejam a mente, o espírito ou a razão. Hegel é o mais importante dos filósofos do idealis‑ mo alemão. Seu sistema metafísico influenciou e até hoje influencia filósofos e correntes filosóficas con‑ temporâneas. No centro de sua filosofia está a ideia de percurso do Espírito Absoluto. Espírito Absoluto, antes de tudo, é atividade, está em marcha e se realiza a partir de afirmações e negações. Daí o caráter dialético da sua realização progressiva. É importante destacar a importância da dialética idealista de Hegel para a filosofia, que em certa medida resgatou o movimento e a negação para o pensamento racional. Ambos, desde a formulação de Parmênides, eram considerados insólitos, enganosos, opostos ao ver‑ dadeiro ser, que deveria ser imóvel e não poderia não ser. Hegel retomou Heráclito e afirmou não só o movimento do espírito, mas o fato de que ele se move por processos de afirmação, negação e síntese. Um motivo adicional para ressaltar a importância da dialética hegeliana é sua influência na teoria de Marx. O materialismo histórico‑

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‑dialético herdou o conceito de dialética de Hegel e o aplicou à vida concreta dos homens. Segundo Hegel, a evolução do conhecimento leva o homem comum do saber meramente fenomênico, inconsciente do movimento do espírito, que entende o sujeito do conhecimento e o objeto conhecido como duas coisas distintas, ao saber absoluto, momento de consciência da marcha do espírito, quando o espírito reco‑ nhece sua própria atividade como criadora da realidade. Aproveite o conceito de dialética de Hegel na análise do boxe que trata do herói grego Odisseu e da guerra de Troia (p. 19). Esclareça a analogia feita no texto principal entre a trajetória do espírito, concebida por Hegel, e a epopeia de Odisseu, narrada na Odisseia, de Homero. 2. Kierkegaard: o crítico de Hegel. Kierkegaard será retomado no capítulo 13, que trata da fenomenologia e do existencialismo. Mas, aproveitando o frescor que as ideias de Hegel, recém‑ ‑estudadas, ainda têm entre os alunos, recomendamos esclarecer a ideia básica do filósofo dinamarquês que se contrapõe à filosofia de Hegel. Para Kierkegaard, Hegel, ao tentar explicar a realidade como manifesta‑ ção estritamente racional do espírito, deixou de lado a existência individual. A semente do existencialismo está nessa crítica. Sugestão bibliográfica HYPPOLITE, Jean. Gênese e estrutura da fenomenologia do espírito de Hegel. 2. ed. Trad. Sílvio Rosa Filho e outros. São Paulo: Discurso Editorial, 2003.

Capítulo 10

A teoria marxista e o positivismo

Abertura No contexto do capitalismo A abertura deste capítulo utiliza uma foto de painel da Bolsa de Valores de São Paulo, com índices finan‑ ceiros, e um texto que enfatiza um conjunto de termos e expressões como “crise econômica”, “desemprego”, “mercadoria”, “capital”, “trabalho” e “lucro”, vistos com frequência em jornais, revistas e em noticiários de televisão e na internet, o que evidencia que essas expressões fazem parte do dia a dia da sociedade con‑ temporânea. Todos esses termos são relacionados ao capitalismo, sistema que se estabeleceu plenamente a partir do século XVIII. Esse é o mote para preparar o aluno para o estudo do capítulo que tratará da teoria marxista e do positivismo social. A ideia é trazer à consciência do aluno como a nossa vida está marcada pelo contexto social e econômico, no

caso, pelo sistema capitalista. Dessa forma, o estudo de concepções e teorias sobre o capitalismo está de alguma maneira relacionado à nossa vida. Reflita: comentários sobre as questões É uma oportunidade para que o aluno reflita sobre uma preocupação frequente do jovem que está cur‑ sando o ensino médio: sua perspectiva profissional. O ensino médio tem como uma de suas finalidades, afirmadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando. É importante explorar bastante esse tema, estabelecendo relações entre a vida, o estudo, o trabalho e a sociedade, chamando a atenção para a necessidade de o aprendizado e a capa‑ citação serem contínuos na sociedade contemporânea, marcada por processos ininterruptos de mudanças e transformações. A avaliação do aluno sobre a sociedade capitalista pode ser positiva, negativa ou uma combinação de am‑ bos. De qualquer maneira, a análise ou a reflexão sobre a sociedade interfere na projeção que cada indivíduo faz de seu futuro. Além disso, prepara o aluno para o estudo do capítulo.

• Aspectos a serem destacados

Sugerimos que as seguintes ideias ou conteúdos sejam destacados pelo professor no transcurso do es‑ tudo deste capítulo: 1. O materialismo histórico. É importante estabelecer as relações entre o mate‑ rialismo histórico e o idealismo dialético, afinal Marx e Engels integraram a esquerda hegeliana e dela partiram para elaborar suas formulações. Nesse aspecto, mere‑ cem destaque as formulações e a crítica de Feuerbach a Hegel, que levaram ao materialismo, embora o próprio pensador não se considerasse materialista. Em relação a Marx e Engels, para que o aluno com‑ preenda o materialismo histórico, o professor pode re‑ tomar a dialética hegeliana e mostrar como o marxismo aplicou esse conceito na análise da história concreta dos homens, a partir de sua efetiva existência, condições de trabalho e formas de organização social. Além do materialismo histórico, há um conjunto de conceitos marxistas que devem ser esclarecidos, porque eles não perderam a sua atualidade e consti‑ tuem ainda instrumentos importantes de análise da sociedade contemporânea. 2. O positivismo social. A teoria de Comte buscou afirmar a sociedade industrial. O filósofo entendia que os problemas que o capitalismo apresentava não eram estruturais e que Suplemento de apoio ao professor

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o progresso com ordem poderia dissolvê‑los. Exaltava o avanço científico e sua aplicação na produção industrial. Comte acreditava que, assim como nas ciências naturais há leis necessárias, não contingentes, e preci‑ sas, essas leis também existem na sociedade. É preciso fundar uma ciência social, uma física social, que busque as leis sociais. Os governantes, de posse dessas leis, podem atuar corretamente e promover o desenvolvi‑ mento da sociedade. Outro destaque importante sobre Comte e o posi‑ tivismo é a teoria das leis dos três estágios. Sugerimos explorar essa teoria do autor e discutir com os alunos que esse pensamento forneceu o suporte ideológico para a expansão europeia no século XIX e para o discurso da obra civilizadora do homem branco. Se o capitalismo industrial representava o estágio superior da civilização humana, cabia aos europeus, agentes desse movimento, levar o progresso e a civilização aos povos atrasados da África e da Ásia. Sugestão bibliográfica CAFIERO, Carlo. O capital: uma leitura popular. Trad. Mário Curvello. São Paulo: Polis, 1980. MARX, K. Manuscritos econômico‑filosóficos. In: Marx. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores) MÉSZÁROS, István. A teoria da alienação em Marx. Trad. Isa Tavares. São Paulo: Boitempo, 2006. FILHO, Evaristo de Moraes (Org.). Auguste Comte: sociolo‑ gia. São Paulo: Ática, 1978.

Capítulo 11

O homem é mais que a razão

sobre aspectos primordiais da existência humana, que não se pode reduzir à razão ou ao conhecimento.

• Aspectos a serem destacados

Sugerimos que as seguintes ideias ou conteúdos sejam destacados pelo professor no transcurso do es‑ tudo deste capítulo: 1. Schopenhauer: o conceito de vontade; o corpo como vontade visível; o papel da arte; e a negação do querer viver. Em Schopenhauer, vontade é uma força irracional do Universo que se manifesta em tudo, que está presen‑ te quando um pássaro constrói um ninho ou uma aranha tece sua teia. Não há nenhum motivo racional envolvido nas ações desses animais. Por exemplo, a aranha não projeta antecipadamente a futura presa, e o pássaro não tem nenhuma representação dos ovos que ocuparão o ninho. As ações desses animais são uma objetivação individual da vontade cega do Universo. “Em nós, também, a vontade é cega em todas as funções do nosso corpo, que nenhum conhecimento rege, em todos os seus processos vitais ou vegetativos, na digestão, secreção, crescimento, reprodução. Não são só as ações do corpo, é o próprio corpo todo inteiro que é, vimo-lo, a expressão fenomenal da vontade, a vontade objetivada, a vontade tornada concreta: tudo que se passa nele deve, portanto, sair da vontade; aqui, contudo, esta vontade já não é guiada pela consciência, já não é regida por motivos; ela age cegamente e segundo causas que, sob este ponto de vista, denominamos excitações.” SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002. p. 124.

Abertura Não consigo parar de viver O trecho do livro Água viva, de Clarice Lispector, usado na abertura deste capítulo, tem o propósito de instigar o aluno a pensar a respeito de sentimentos, sensações e emoções que não são explicáveis e, no en‑ tanto, fazem parte da vida. Aliás, a maior parte do que sentimos não é explicável pela razão. A consciência, o pensamento racional, representa apenas uma peque‑ na parcela do mundo que é o humano. Pelo menos era assim que pensavam Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Freud, que serão estudados neste capítulo.

A vontade é uma energia cega que está além do conhecimento humano, a essência una do Universo que abarca toda a realidade, a natureza, os animais, as plantas, os homens. Para o filósofo é a coisa em si, aqui‑ lo que o entendimento e o conhecimento não podem alcançar nem explicar, mas que o homem pode sentir. Essas ideias aproximam esse filósofo de concep‑ ções românticas que tratavam da relação entre finito e infinito. A vontade do Universo está presente na vontade irracional ou inconsciente do homem, que é objetivada no corpo. O corpo é a vontade visível. O corpo e a vontade são uma coisa só.

Reflita: comentários sobre a questão O texto da abertura do capítulo e a atividade pro‑ posta visam sensibilizar o aluno sobre alguns conceitos que serão estudados. Além disso, estimulam a reflexão

2. Kierkegaard: o interesse pelo indivíduo e a realidade humana; e os conceitos de angústia e de desespero. Como foi visto no capítulo 9, Kierkegaard criticava os sistemas metafísicos racionalistas e idealistas que

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afirmavam a racionalidade do mundo e da vida humana. Para o filósofo dinamarquês, a vida humana é marcada pela contingência. As decisões e escolhas do homem podem ou não ser benéficas para ele. Sua vida é um salto no escuro, que pode ser um sucesso ou um fracasso. Para Kierkegaard, as generalizações dos sistemas racio‑ nalistas deixam de lado o indivíduo concreto, cuja vida é singular, irrepetível e difícil, carregada de sofrimento, solidão, angústia e muitas vezes desespero. É para essa situação, para a existência humana, com todas as suas vicissitudes, que a filosofia deve dirigir o seu foco. Essas ideias e esses conceitos devem ser destacados. Muitos deles serão retomados pelos filósofos da existên‑ cia, e, em especial, por Heidegger e Sartre. Portanto, são conceitos ainda vigorosos na filosofia contemporânea. 3. Nietzsche: o conceito de vontade de potência; a crítica ao racionalismo e a Sócrates e Platão; crítica ao cristianismo (o platonismo para as massas); o super‑ ‑homem, o além do homem. O conceito de vontade de potência de Nietzsche se aproxima do conceito de vontade de Schopenhauer. Nietzsche ficou muito bem impressionado com as ideias de Schopenhauer quando leu sua obra prin‑ cipal, O mundo como vontade e representação. Para Nietzsche, de fato, a vida não era guiada por princípios racionais, isto é, não tinha um sentido ou uma fina‑ lidade racional. O homem estava solto ao acaso, e a contingência podia levá‑lo ao sofrimento e à desgraça. Nietzsche também acreditava que a vontade de potência, essa força cega da natureza, é muito mais ampla e profunda do que a razão humana; que os instintos e as forças inconscientes são muito mais poderosos do que a pequena razão humana. No entanto, o filósofo se contrapôs à atitude de re‑ núncia à vida defendida por Schopenhauer, que afirmava que a única maneira de acabar com a dor e o sofrimento é a mortificação da vontade, a negação do querer viver, a autopunição, a renúncia aos prazeres. Nietzsche, ao contrário, defendia a exaltação da vida. Ele criticava os sistemas metafísicos racionalistas, o cristianismo e o platonismo, porque, em seu entendimento, eles negavam a vida. O filósofo defendia a transmutação, dos valores. Os “altos” valores desses sistemas e suas filosofias só faziam apequenar a vida. Nietzsche queria enaltecer a vida com toda a sua dramaticidade. Para ele, não se tratava de suportar a vida em nome de uma vida no além, ou de negar os princípios vitais em nome de outros valores. “‘A vontade de potência’ não é somente a vontade de dominar. O nietzscheismo não é, ou não é unicamente uma metafísica da violência. O título da obra enganou muitos intérpretes. ‘Vontade de

potência’ é somente o esforço para triunfar do nada, para vencer a fatalidade e o aniquilamento: a catástrofe trágica, a morte. Vontade de potência é, assim, a vontade de durar, de crescer, de vencer, de estender e intensificar a vida... Não é, pois, somente, a luta da vontade de preservar o ser, instinto de conservação, senão vontade de ‘ultrapassar’.” FERREIRA SANTOS, Mario D. Prólogo do livro vontade de potência, de Nietzsche. Trad. Mario D. Ferreira Santos. São Paulo: Escala, s/d. p. 68.

4. Freud: as ideias principais da psicanálise freudiana como inconsciente, instinto de vida e instinto de morte, princípio do prazer e princípio da realidade, repressão instintiva, sublimação, formação do id, ego e superego, a relação do indivíduo com a sociedade (necessidade e repressão). Freud partiu da ideia do poder dos instintos sobre a razão ou a consciência, presente nas filosofias de Schopenhauer e de Nietzsche, e de sua experiência como psiquiatra, para elaborar uma nova teoria e metodologia terapêutica, a psicanálise. Sugerimos que o professor trabalhe com os concei‑ tos psicanalíticos freudianos, esclarecendo‑os aos alu‑ nos, porque, apesar de existir muita contraposição às suas teses, a teoria freudiana é uma referência central na psicanálise e também na filosofia – seus conceitos interagem com conceitos filosóficos e, com filósofos, como é o caso dos frankfurtianos e, mais recente‑ mente, de Deleuze, que, junto com Guattari, escreveu O Anti-Édipo, criticando o princípio de Édipo freudiano. Há um livro de Freud em especial que instigou e ainda instiga muitos pensadores das ciências huma‑ nas: O mal-estar na civilização. O sociólogo Zygmunt Bauman, inspirado nas reflexões de Freud, escreveu O mal-estar da pós-modernidade, em 1997. Sugestão bibliográfica FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 2002. LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. Petrópolis: Vozes, 2005. TANNER, Michael. Schopenhauer: metafísica e arte. Trad. Jair Barbosa. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

Leitura complementar A noção de progresso à luz da psicanálise O texto aborda a noção de progresso e mudança de sentido operada pela sociedade contemporânea, que separou a ideia de progresso das satisfações hu‑ manas e do aperfeiçoamento do homem. O sentido Suplemento de apoio ao professor

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de progresso da sociedade atual está relacionado à noção de produtividade, isto é, de aumento da produção de bens materiais e intelectuais, com o maior lucro, e de domínio cada vez maior sobre a natureza. Nesse contexto, o trabalho não é uma atividade de realização humana, não satisfaz as necessidades do indivíduo, mas é trabalho alienado, determinado pelo interesse social. Isso significa que a satisfação, a realização pessoal, a paz e a felicidade não fazem parte dos objetivos da sociedade da produtividade. Decorre dessa situação social a valorização da razão como instrumento de repressão e de ordenamento dos sentidos e das pulsões. A razão aparece como um princípio de renúncia da satisfação individual.

Nosso cotidiano Trabalho e felicidade A partir de indagações de alunos feitas à professo‑ ra de filosofia e contadas pelo personagem‑narrador, desenvolve‑se um processo reflexivo em sala de aula sobre a relação entre trabalho e felicidade.

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Trata‑se de uma oportunidade para debater com os alunos desejos e inquietações a respeito de seus futuros profissionais e perspectivas de vida, e, ao mesmo tempo, esclarecer ideias sobre o conceito de trabalho. Em uma das atividades, solicita‑se a elaboração de um texto sobre as perspectivas profissionais do aluno. Mais outra oportunidade de reflexão e de exercitar a competência da escrita.

Ampliando A proposta desta seção é o trabalho com dois ob‑ jetos: um filme e uma pintura. • O filme brasileiro Trabalhar cansa, dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, possibilita reflexões sobre o mundo do trabalho: papéis sociais e desumanização. A atividade procura estimular o aluno a pensar sobre a relação do filme e o livro O mal-estar na civilização, de Freud. • A pintura da artista mexicana Frida Kahlo, O marxismo dará saúde aos doentes, é um autorretrato físico e também uma expressão das convicções políticas da artista. Na tela, há ícones da vitória do marxismo sobre o capitalismo.

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Respostas das atividades do livro do aluno

Unidade

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Filosofia contemporânea I

que vai se realizando nas coisas finitas, quer dizer, ele é movimento, mudança, transformação. O Espírito Absoluto se efetiva progressivamente nas ações humanas e no desenvolvimento da consciência, ou seja, em um processo marcado por afirmações, negações, contradições e superações. Por isso, além de ser idealista, a filosofia de Hegel é também dialética.

7. Para Hegel, a história humana é muito mais do que uma sequência

Capítulo 9

O idealismo alemão

Atividades Sistematize o conhecimento 1. O movimento romântico tem inúmeras vertentes. Em todas elas, está presente a ideia ou a crença de que existe uma força que comanda o universo. Essa força, que é infinita e organiza o mundo, a natureza e o homem, manifestar-se-ia de várias maneiras. As filosofias e teorias românticas ressaltam diferentes expressões do infinito, como o sentimento, a arte, a religião, a natureza e a própria filosofia.

2. Para Hölderlin, o Uno Infinito não pode ser alcançado apenas pela razão humana. É principalmente através da arte, em especial a poesia, e do sentimento religioso que o infinito aparece para o homem. Schlegel comunga da mesma ideia, ressaltando que a poesia é uma espécie de elo entre o finito e o infinito, e o artista é um mediador entre o homem e o divino. Para Novalis, é principalmente o sentimento da fé que demonstra a existência do divino no homem; e é essa existência divina no interior do ser humano que determina o poder infinito do homem sobre o mundo, poder esse exercido por meio da filosofia e da poesia.

3. Schleiermacher acreditava que o homem, fazendo uma introspecção – olhando para o seu interior –, pode se sentir como parte de um todo maior do que ele, pode se perceber como criatura e sentir a necessidade de ir em direção ao infinito ou à totalidade. É esse sentimento que Schleiermacher designa de sentimento do infinito. O sentimento do infinito estaria presente em toda religião, pois toda religião expressaria uma necessidade de aspiração do indivíduo para o infinito.

4. Fichte critica a filosofia transcendental kantiana no que diz respeito à maneira que o sujeito entra em contato com o mundo sensível. A teoria kantiana afirma que toda a realidade existe independentemente do sujeito, e este só pode entrar em contato com o universo circundante a partir do intelecto; portanto, só é capaz de conhecer a representação da realidade. Por outro lado, o idealismo subjetivo de Ficthe permite maior autonomia ao sujeito afirmando que tudo no mundo é a representação das nossas ideias e sentimentos, sendo a atividade subjetiva responsável por produzir todo o material sensível.

5. Schelling defendia a necessidade de um sistema explicativo da realidade abarcar não só a atividade infinita da razão, como a filosofia de Fichte fazia, mas também a atividade infinita da natureza. Nesse sentido, Schelling dizia existir um princípio ainda mais profundo do que o Eu Absoluto de Fichte. O absoluto de Schelling é o princípio tanto da atividade consciente do espírito quanto da atividade inconsciente da natureza, ou seja, o Absoluto produz a natureza.

6. Idealista é toda a concepção ou filosofia que explica a realidade como fundamentada na mente ou no espírito. É o caso da filosofia hegeliana, baseada na existência do Espírito Absoluto como produtor de toda a realidade. Além disso, o Espírito Absoluto hegeliano não é fixo e externo à natureza e à sociedade humana. Ele é sobretudo atividade

de eventos. Os eventos históricos não são aleatórios. Eles obedecem à razão ou aos princípios racionais do Espírito Absoluto. Quer dizer, eles são necessários, nada acontece ao acaso. Isso porque os acontecimentos históricos corporificam a marcha do Espírito. Assim, refletir sobre a história humana é perceber a evolução da consciência e da afirmação do Espírito.

8. O sentido das expressões artísticas não se esgota em seus elementos materiais ou sensíveis. As imagens ou representações artísticas são expressões de algo mais, algo para além delas. Segundo Hegel, a arte remeteria para o caminho espiritual ou para a revelação do Espírito. A religião seria outra forma do Espírito Absoluto. Ela o revelaria por meio do sentimento religioso e das histórias bíblicas, que evidenciariam o vínculo do homem com Deus. A filosofia teria o mesmo propósito das religiões: restabelecer o vínculo do homem com Deus. Mas superior às religiões, a filosofia restabelece esse vínculo por meio de conceitos; e, portanto, pode pensar ou refletir sobre todas as manifestações do Espírito Absoluto como unidade. Nesse sentido, a filosofia é saber absoluto totalizante.

9. Para Kierkegaard, o universo não é uma totalidade fechada, no qual imperam princípios lógicos racionais e rigoroso determinismo, como o sistema hegeliano de explicação do mundo faz crer. Por esse motivo, não se pode falar de progresso inevitável da humanidade. Além disso, a filosofia hegeliana não levaria em consideração devida a existência individual. A existência individual seria integrada e diluída no sistema em que tudo é manifestação necessária do Espírito Absoluto. É exatamente para a existência individual que Kierkegaard dirige sua atenção e suas reflexões. Para o filósofo dinamarquês, o indivíduo humano não é obra e confirmação do infinito, nem suas ações estão determinadas. O indivíduo sempre escolhe em um campo de possibilidades e, portanto, suas ações podem ou não ser bem-sucedidas. Se se olha para a realidade existencial, deixando de lado especulações abstratas, percebe-se o sofrimento da existência, a angústia da dúvida, a dor, a doença e a morte. Temas da filosofia existencialista.

10. Para Hegel, a razão está estritamente ligada à verdade; sendo a verdade algo identificado com afirmação e negação, conclui-se que não existe uma verdade eterna. A verdade muda de acordo com o curso da história, logo, a razão e a verdade são mutáveis.

Aprofunde 11. A filosofia de Kierkegaard tinha como centro a reflexão sobre a existência humana. Todos os aspectos envolvidos na existência do homem seriam dignos de ser alvos da reflexão filosófica, como a dor, o sofrimento, a velhice, a doença e a angústia. Com certeza, a depressão contemporânea, que se mistura e se confunde com o sentimento de angústia, também faz parte dessa realidade humana que merece ser pensada.

12. Para Hegel, os acontecimentos históricos são momentos particulares da evolução do Espírito, partes de um todo. Assim, a história, em geral, se desenvolve segundo um plano racional, e os acontecimentos históricos são parte de um processo recorrente de superação do espírito. A Primavera Árabe seria então, para Hegel, um evento particular, uma expressão finita de uma realização do infinito, isto é, do Espírito Absoluto.

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Capítulo 10

A teoria marxista e o positivismo

Para pensar 1. A concepção de Feuerbach não foi tão radical quanto as teses do ateísmo de Onfray. Feuerbach acreditava que as religiões eram projeções dos desejos humanos mais íntimos e, nesse sentido, eram importantes. Mas esse filósofo foi fundamental para a passagem do idealismo ao materialismo, defendendo a tese de que o homem não é criação de Deus; ao contrário, Deus é uma criação humana, uma projeção dos desejos humanos. E por que o homem criaria Deus? Por causa do desejo de ultrapassar a realidade humana de dores e angústias. Nesse aspecto, podemos dizer que as ideias de Onfray se aproximam das de Feuerbach. Segundo Onfray, o homem preferiria ficções, mitos e fábulas à crueldade do real, isto é, Deus e as histórias da Bíblia teriam sido criadas para que o homem não enxergasse a realidade nua e crua da sua existência.

2. Atividade livre cujo desenvolvimento depende das convicções de cada um. O importante é o aluno mostrar entendimento sobre as afirmações de Onfray e opinar sobre elas com argumentos bem elaborados.

Para pensar O poema de Drummond, além de bonito, é crítico à sociedade industrial, baseada na propaganda de produtos. Nessa sociedade, o homem é subsumido às engrenagens do consumo a tal ponto que ele mesmo se transforma em anunciante itinerante das marcas das mercadorias. Como suporte de propaganda, homem-anúncio, ele perde sua identidade, suas peculiaridades, sua individualidade. Assim, o homem torna-se um não eu, um universal: uma coisa entre outras.

Atividades Sistematize o conhecimento 1. Mais-valia, para Marx, é sinônimo de trabalho não pago; ela é a diferença retida pelo burguês entre o valor que o trabalhador produz em mercadorias e o valor pago a ele na forma de salário. A mais-valia, para Marx, é sustentada pela propriedade privada dos meios de produção. É por não ter acesso aos instrumentos para produzir o próprio sustento que o trabalhador se vê obrigado a procurar a fábrica e oferecer sua força de trabalho em troca de um salário, submetendo-se às regras de produção impostas pelos capitalistas, estes sim, detentores dos meios de produção.

2. O nome provisório da nova ciência idealizada por Comte se deveu à inspiração deste último nas ciências naturais, principalmente na física newtoniana. Como nestas ciências, Comte pretendia explicar os fenômenos sociais por ele observados através de leis naturais universais e imutáveis.

3. Com a lei dos três estágios, Comte concebeu os três momentos necessários e progressivos da evolução da humanidade e do conhecimento. Os três estágios são o teológico, o metafísico e o positivo. Em cada um deles as pessoas têm uma visão diferente da realidade que as cerca e uma organização social determinada. No estágio teológico, procurando as causas primeiras e finais das coisas, o homem as atribui a agentes sobrenaturais; a organização política aí é feudal. No estágio metafísico, os fenômenos são remetidos a essências ou capacidades abstratas dos objetos, que não são mais sobrenaturais, mas sim entidades metafísicas; o traço social particular deste estágio é a oposição ao período anterior, caracterizada pelas revoluções e pela desordem delas decorrente. No estágio positivo, por sua vez, a investigação da natureza oculta dos objetos é definitivamente abandonada em favor do reconhecimento dos limites da razão humana, capaz não de descobrir a verdade profunda das coisas, mas apenas de descrever as relações observáveis entre elas. Com o desenvolvimento da ciência e da indústria neste estágio, as sociedades humanas atingiriam o seu

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auge, a sua forma definitiva, em que os conflitos do período anterior seriam finalmente controlados. É de Saint-Simon que Comte herda a visão da história humana como um progresso, passando por diferentes formas sociais orgânicas, com valores e um sistema econômico particulares, em direção a um último estágio dito “positivo”, em que os conflitos e problemas sociais poderiam ser finalmente controlados.

4. a) Para Marx, o capitalismo se define, precisamente, pela desigualdade entre burgueses e trabalhadores, que está por trás da exploração dos segundos pelos primeiros. Uma vez que a desigualdade faz parte da própria estrutura da sociedade, sua solução corresponderia à própria extinção do regime capitalista, que deveria ser substituído por um novo tipo de sociedade sem classes, fruto da revolta dos proletários explorados contra o domínio exercido pelos burgueses. Já para Comte, o capitalismo corresponderia ao apogeu da história humana. A desigualdade social, deste ponto de vista, não seria um traço intrínseco à sociedade capitalista, mas apenas um problema passageiro, passível de ser corrigido por meio do conhecimento e do progresso, no seio do próprio regime e graças a ele. b) Tanto Marx quanto Comte se preocupam com os problemas enfrentados pela sociedade capitalista e pensam em formas de superá-los. Além disto, ambos tentam fazê-lo desenvolvendo uma ciência que seja propriamente social, ou seja, que descubra as leis ou os princípios de funcionamento da sociedade.

5. a) No capitalismo, o planejamento e os objetivos do trabalho ficam a cargo do burguês ou do empresário, detentores dos meios de produção e patrões dos trabalhadores que utilizarão. Na tirinha de André Dahmer, este é o papel do personagem de bigode, que condiciona a aplicação do plano apresentado pelo primeiro personagem ao lucro que sua realização poderá proporcionar. b) No primeiro quadro da tirinha, o personagem fala sobre um plano para evitar o colapso ambiental. É, justamente, o planejamento uma característica do trabalho humano segundo Marx: os homens realizam seu trabalho conforme um plano estabelecido anteriormente, em função de objetivos por eles traçados. c) Atualmente, a elaboração e a aplicação de planos para a solução das questões ambientais estão sujeitas a interesses comerciais e financeiros de empresários e governos de diversos países, o que acaba atrasando um processo de recuperação e transformação que deveria estar bem mais adiantado. Um exemplo disto é a resistência dos Estados Unidos e da China aos acordos internacionais para a diminuição da emissão de gases relacionados ao aquecimento global. Tal resistência se deve, justamente, ao impacto que as medidas necessárias teriam sobre a produção industrial e as políticas de produção e consumo de energia. Outro exemplo, desta vez nacional, é a dificuldade para a criação e a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro, em função das pressões exercidas sobre o Congresso Nacional pelos produtores rurais, que cada vez mais penetram nos espaços das florestas, destruindo-as para transformá-las em pastagens para o gado ou solo para a monocultura. É certo que a solução do problema ambiental não deve comprometer a economia dos países e a vida de suas populações. Afinal, são precisamente os interesses destas últimas que devem ser levados em conta na elaboração e aplicação dos planos para a solução da crise. E é justamente por esta razão que, na elaboração e aplicação dos planos, não podem prevalecer apenas os interesses econômicos de determinado país ou de determinado setor, mas sim o interesse geral. Os lucros de alguns não podem ficar à frente da sobrevivência e da qualidade de vida de todos. É em função desta sobrevivência e desta qualidade que os planos devem ser traçados e as decisões devem ser tomadas. Sendo assim, é importante perceber que são as próprias pessoas que devem se mobilizar, que devem se preocupar com a questão ambiental e a elaboração de planos para solucioná-la; são elas que devem pressionar governos e empresas para que as medidas corretas e mais eficazes sejam tomadas, em vez de apenas acusá-los pelos rumos que a situação está tomando. Se é na vida em sociedade que as coisas se resolvem e se são os interesses de toda a sociedade que estão em jogo, então são todas as pessoas que devem se empenhar para resolvê-los.

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6. O debate de Marx é com o pensamento hegeliano. Segundo este, a realidade é uma determinação da consciência ou do espírito, ela depende deles. Marx inverte a fórmula hegeliana, afirmando que é a consciência dos homens e tudo aquilo que nela se passa que depende da realidade em que eles vivem, produzem e pensam. É este, precisamente, o princípio do materialismo histórico enunciado no trecho acima. Segundo tal princípio, a história humana é determinada, em última instância, pelas relações econômicas estabelecidas entre as pessoas, ou seja, pelo “modo de produção da vida material” adotado por elas em cada período, pelas condições gerais segundo as quais o trabalho humano se exerce e seus produtos se distribuem em cada sociedade particular.

Aprofunde 7. De modo geral, talvez não discordasse dele, uma vez que, para Marx, o trabalho era a atividade humana fundamental. No entanto, ao considerar o trabalho especificamente no regime capitalista, pode-se dizer que Marx não apenas discordaria do ditado acima, como também acusaria o seu teor ideológico. Isso porque, no capitalismo, para Marx, o trabalhador foi reduzido à condição de coisa, despojado dos instrumentos e dos produtos gerados pelo seu trabalho, e submetido ao ritmo opressivo e repetitivo da máquina. A frase, na visão de Marx, teria uma função ideológica, que seria a de incutir, na consciência dos trabalhadores, uma visão positiva do trabalho, um compromisso moral com os valores que sustentam a ordem capitalista.

8. Aqui, os alunos devem ter liberdade para pensar e chegar às suas próprias conclusões. Alguns temas, entretanto, deveriam ser levantados. Por um lado, a experiência soviética provou que não basta que haja uma revolução para que a situação realmente melhore. A implantação de uma ditadura que limite as liberdades tampouco parece uma medida interessante. A questão então é: como colocar ordem nas coisas, uma vez que a revolução foi realizada? O que garante que as coisas mudarão para melhor e que uma nova dominação de classes não se estabelecerá? Dada esta dificuldade, talvez se considerasse melhor transformar as coisas devagar, no interior do sistema em que nos encontramos, tentando torná-lo mais justo e igualitário. Nesse caso, outras dificuldades se impõem. Pois, se Marx está certo, é a própria organização da nossa sociedade que reproduz a desigualdade e depende dela. Afinal, é verdade que um trabalhador pode “subir na vida” e até vir a se tornar burguês, mas isto depende de que haja outros trabalhadores a quem ele possa explorar. As transformações necessárias para a melhoria da sociedade esbarrariam sempre, desta forma, nos interesses da burguesia, em sua busca por lucros sempre em primeiro lugar, e em sua relação privilegiada com os governos. Isto se comprova em qualquer situação de crise econômica, como a atual crise financeira na Grécia ou na Espanha. Lá, os governos cortam gastos com educação e com aposentadorias, por exemplo, apenas para pagar sua dívida com bancos e não ameaçar o sistema financeiro global, transferindo todo o sofrimento com a crise para a população comum, que não a causou. O importante, já que as opiniões podem divergir, não é encontrar uma conclusão para a questão, mas sim levar os alunos a perceberem que é na prática e não na teoria que ela se resolve definitivamente. A mudança na sociedade não é apenas uma mudança de regime de governo, mas uma transformação no próprio modo de vida das pessoas. Esta mudança precisa ser de grandes proporções, mas passa primeiramente pelas atitudes de cada um. Não deixa de ser o descompasso entre as condutas efetivas das pessoas e a sociedade que elas afirmam querer construir o responsável seja pelo fracasso das revoluções, seja pelas mazelas do regime em que atualmente vivemos.

Capítulo 11

O homem é mais que a razão

Atividades Sistematize o conhecimento 1. A razão humana só pode conhecer o mundo como representação, isto é, como havia dito Kant, só podemos conhecer os fenômenos, aquilo que aparece para a nossa mente. Mas o fenômeno, para

Schopenhauer, é algo ilusório, que encobre a verdadeira realidade: o mundo é sobretudo vontade. A vontade não é uma representação, é uma energia, essência do Universo, que abarca a natureza, o homem e, portanto, também sua razão e seu conhecimento. A vontade é a essência de tudo, que não pode ser conhecida, mas pode ser sabida e sentida. Schopenhauer, no título de seu livro, sintetizou os dois aspectos da verdade do mundo.

2. A principal crítica de Kierkegaard aos sistemas metafísicos e racionalistas era que eles não tratavam ou não consideravam adequadamente o indivíduo. Para esse filósofo, o indivíduo não pode ser compreendido por meio de conceitos que fazem parte de sistemas genéricos sobre a humanidade. O que interessava era a realidade humana, a existência concreta do indivíduo. Só na existência humana concreta pode-se conhecer a verdadeira realidade do homem, seus desejos e seus sofrimentos. Assim, a filosofia de Kierkegaard inaugura a reflexão sobre a existência humana. A importância desse filósofo para o pensamento filosófico foi reconhecida muito tempo depois de suas formulações terem sido elaboradas. Suas reflexões sobre a existência humana, desvinculada da religiosidade, influenciaram todos os pensadores existencialistas.

3. Nietzsche criticava a teoria metafísica de Platão, que dividia a realidade em visível e inteligível, subordinando a primeira à segunda. Da mesma maneira, o cristianismo teria criado a ideia de uma vida além da morte, como consolo, para que o ser humano suportasse a realidade cruel da vida mundana. A imortalidade e a felicidade estariam reservadas para o além-mundo. Segundo Nietzsche, a moral cristã, então, seria um discurso de renúncia à vida real.

4. Segundo Freud, existem dois instintos fundamentais: o instinto de vida, tendente ao amor e à construtividade, que se manifesta nos desejos sexuais; e o instinto de morte, tendente ao ódio e à destruição, que se manifesta nos desejos de agressividade. Dois princípios regulam esses instintos: o princípio do prazer, que busca a satisfação imediata da necessidade instintiva; e o princípio da realidade, que atua quando o instinto não pode ser satisfeito livre e diretamente por causa de algum obstáculo social.

5. Tanto a vontade em Nietzsche quanto em Schopenhauer são forças irracionais, naturais, que dão impulso à vida e estão presentes no homem. No entanto, Schopenhauer defende que o homem negue a sua vontade, expressão particular da vontade do universo, por meio da ascese, a vontade de querer viver, para acabar com o seu sofrimento existencial. Nietzsche contrapunha-se à renúncia à vida e aos prazeres, ao aniquilamento do querer, à penitência voluntária, enfim, à mortificação da vontade. Em vez de combater a vida e a vontade, Nietzsche queria exaltar toda a potencialidade das duas.

Aprofunde 6. a) Para Schopenhauer, a verdadeira realidade é a vontade, uma energia que está para além da razão e do conhecimento humanos, essência do Universo. A razão humana é apenas uma ínfima parte da vontade, que é una e universal; para Nietzsche, o elemento fundamental da natureza humana é a vontade de potência, que é a vontade de ser e de desenvolver a vida. A razão é uma parte menor do ser humano, que é guiado pela vontade de potência à qual estão vinculadas todas as funções orgânicas, corporais ou mentais; para Freud, a razão ou consciência humana não reina de maneira absoluta como se pensava; ao contrário, a razão ou a consciência é uma parte pequena da vida psíquica, que é, em certa medida, guiada pelos instintos. b) A atividade busca aproximar as reflexões desses três pensadores, em relação à razão, para a realidade do aluno, para a realidade de sua vida. Afinal, as considerações sobre a existência humana feitas por Schopenhauer, Nietzsche e Freud ainda hoje são bastante profícuas.

7. Kierkegaard refletiu sobre a existência humana, seus escritos tratam de diálogos internos sobre as coisas mais íntimas do homem: o sofrimento humano, a angústia e o desespero. Sentimentos que são íntimos, porém universais. Por isso, o filósofo foi inspirador de diversas correntes e concepções como a filosofia existencial, a filosofia do diálogo e a teologia existencial.

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8. Atividade que busca aproximar os estudos psicanalíticos acerca dos sonhos, que desde a publicação de A interpretação dos sonhos, de Freud, revolucionou a forma como encaramos nossas fantasias oníricas. Ao trocar os relatos dos sonhos, os alunos exercitam sua capacidade de pensar além da razão consciente e do óbvio palpável da realidade, entrando em contato com camadas inconscientes, como propôs o pai da psicanálise.

9. Deixe os alunos trabalhar as questões e criar as suas próprias hipóteses, sejam relacionadas às suas vidas ou ao mundo. Organize este debate em ideias apontadas na lousa e crie um diálogo com os alunos sobre estas relações, se há ou não razão em certas atitudes humanas. Por exemplo: se por um lado a guerra tem objetivos econômicos, sociais, religiosos, a violência usada na guerra é muitas vezes irracional e bruta; assim, não poderia existir outra ação humana que gerasse os mesmos resultados da guerra para a economia, a religião e a sociedade sem violência e brutalidade? Por que o homem opta por esta solução? Ele pensa nesta ação ou simplesmente sente a vontade?

10. As forças instintivas do id não são controladas racionalmente e podem aparecer em situações de perigo ou em que a pessoa se sinta ameaçada. Podem, por exemplo, manifestar-se em uma atitude exageradamente agressiva. O ego, como eu consciente, está presente em praticamente todas as ações do cotidiano. O superego atua em acontecimentos profundamente desagradáveis, que são “escondidos” no inconsciente. Por exemplo, isso pode acontecer com pessoas que foram abusadas sexualmente na infância.

11. Nietzsche avaliava que a fase mais vigorosa da arte grega tinha sido aquela do equilíbrio entre os valores associados a Apolo (razão, ordem, beleza) e os valores associados a Dioniso (força, paixão, prazeres), presentes na tragédia antiga, na época dos pré-socráticos. Quando as forças apolíneas prevaleceram sobre as forças dionisíacas, a sociedade grega perdeu a sua vitalidade e entrou em declínio. A tragédia passou a ser construída para despertar no público sentimentos de compaixão e pavor, atuando para formar um homem piedoso, racional, prudente em suas ações, prisioneiro dos valores morais e refreado em seus instintos naturais. Para Nietzsche, a obra de Eurípides exemplificava essa tentativa de eliminar os elementos dionisíacos em favor dos elementos apolíneos. No caso do mito de Pandora, a esperança, vista como o mais valioso dos bens, para Nietzsche é o pior dos males, pois ela faz o homem suportar o sofrimento à espera de dias melhores. Nietzsche, crítico tenaz de toda forma de pensamento contendo a ideia de paciência, moderação e a promessa de um futuro melhor, via nesse mito também a contenção da energia instintiva do ser humano, a troca do viver intensamente o presente pela esperança em um futuro redentor.

12. a) Para Schopenhauer, a vida é impulsionada pela cega e irrefreável vontade humana; uma vontade que nunca é satisfeita pela realidade da existência do homem, marcada pelo sofrimento, pela doença, pela miséria, pela guerra, pela dor e pela degradação. Mas o filósofo via na arte um momento de atenuação do sofrimento existencial, pois quando o homem admira uma obra de arte ou está concentrado nela, de alguma maneira deixa de lado os seus desejos, mergulha na admiração artística e se esquece da dor. A experiência estética, para Schopenhauer, transporta momentaneamente o homem para a essência das coisas e provoca paz em seu interior. A arte neutraliza o sofrimento. b) Resposta pessoal.

Leitura complementar Atividades 1. a) O progresso pode ser entendido como avanço quantitativo nos conhecimentos e nas capacidades humanas. Essa ampliação dos conhecimentos e das capacidades é utilizada para dominar cada vez mais acentuadamente o meio natural e social, resultando em riqueza social crescente. O outro sentido de progresso é o qualitativo, isto é, desenvolvimento no processo de humanização. O homem vai deixando para trás todas as formas de opressão, de escravidão, de arbítrio, de sofrimento e de miséria e ascende a

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uma liberdade cada vez maior. Marcuse chama esse progresso de humanitário. Sintetizando, há dois tipos de progresso: o técnico e o humanitário. Segundo Marcuse, até o século XVIII, entendia-se que o progresso técnico era uma espécie de precondição para o progresso humano. Ou seja, o progresso técnico estaria subordinado a um objetivo mais geral: o desenvolvimento humano. Isso não significa, no entanto, que o progresso técnico e o consequente acúmulo de riqueza social levariam automaticamente o homem ao progresso humanitário. O progresso técnico era entendido como uma precondição para a liberdade. Para o filósofo, há uma mudança de entendimento no século XIX. O conceito de progresso passa a ser desvinculado de valores. O progresso passa a ser relacionado fundamentalmente com a ideia de produtividade, visando à produção de bens e ao domínio universal da natureza. b) A importância dada à produtividade é justificada porque ela serviria para satisfazer as necessidades humanas de bens de consumo em uma escala melhor e mais ampla. Marcuse critica esse argumento como desonesto, porque o homem produz todo o tipo de coisas, de ajuda e de conforto à vida e de destruição e morte. Portanto, essa justificativa não serve para determinar o que é produtividade legítima. Nesse sentido, permanece aberta a questão: produtividade para quê? c) Marcuse desenvolve uma análise sobre o trabalho na sociedade contemporânea, na qual a produtividade é valor fundamental. O trabalho, como produtividade individual, passa a ser o centro da vida do homem. Mas o trabalho que é exaltado como importante é o que é produtivo socialmente, o que é útil para a sociedade e não para o indivíduo. Trata-se de trabalho alienado, isto é, que não tem como objetivo que o indivíduo desenvolva suas capacidades e necessidades humanas. Não fazem parte da ideia de progresso como produtividade a satisfação, a realização, a paz e a felicidade.

2. Atividade livre, que busca a reflexão do aluno sobre a problemática do trabalho alienante no mundo contemporâneo. Ele pode ter uma visão completamente negativa, positiva ou intermediária sobre as condições alienantes do trabalho. De qualquer maneira, trata-se de uma realidade que ele já enfrenta ou vai enfrentar e que está diretamente relacionada com a sua vida. Disso decorre a pertinência da reflexão.

Nosso cotidiano Atividades 1. No texto, há referência à utilização que Marx faz do conceito de trabalho. Dois sentidos são distinguidos: a) trabalho como toda ação humana sobre a natureza, isto é, o homem usa sua natureza, seu corpo, seus nervos, seus músculos para transformar a natureza e obter benefícios; b) trabalho assalariado capitalista, trabalho realizado pelo operário do processo de produção capitalista, no qual, segundo Marx, há alienação e embrutecimento.

2. Paulo estabeleceu uma relação direta entre ter coisas e ser feliz, entre ganhar bem, ter uma vida confortável, e a felicidade. A professora Lúcia, tendo em conta que o trabalho é uma das principais atividades humanas, chamou a atenção para a necessidade de o trabalho ser algo que desenvolva as qualidades humanas e faça com que a pessoa se sinta realizada. A professora Lúcia não definiu o que é felicidade, mas a realização no trabalho como uma atividade que promove a imaginação, a criatividade e outras qualidades humanas seria uma espécie de pré-requisito para a felicidade.

3. Atividade aberta que busca estimular a reflexão do aluno sobre o seu futuro profissional. Ele pode apresentar uma posição favorável aos argumentos de Paulo, ou aos da professora, um meio-termo entre os dois, ou ainda uma crítica às relações estabelecidas entre trabalho e felicidade e entre ter e felicidade. O importante é que, em qualquer dos casos, o aluno pondere e argumente sobre perspectivas de vida.

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DIÁLOGO: PRIMEIROS ESTUDOS EM FILOSOFIA RICARDO MELANI

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