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YVES SAINT LAURENT BRILHA

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DESPERDÍCIOS SEM

DESPERDÍCIOS SEM

Entre a homenagem ao gênio criativo do mestre e o processo de criação de coleções, o museu parisiense mergulha literalmente na art de vivre de la haute couture e no fascinante universo do couturier

POR MÁRCIA LENCIONI

A celebração do 60º aniversário da primeira coleção de Yves Saint Laurent com o próprio nome e o 5º aniversário da abertura do Museu Yves Saint Laurent, em Paris, estão acontecendo este ano. Para comemorar a dupla efeméride, o Museu lançou a mostra GOLD, os ouros de Yves Saint Laurent, em cartaz até 14 de maio, que explora os toques de ouro que permearam a obra do couturier.

Inaugurado quinze anos após o fechamento da maison de alta-costura, em 3 de outubro de 2017, o Museu ocupa a área de 450 metros quadrados no emblemático endereço 5 avenue Marceau, no 16º arrondissement, na histórica casa de moda onde Saint Laurent imaginou e desenhou suas criações por quase 30 anos, de 1974 a 2002.

O evento é uma ótima oportunidade para conhecer o espaço inaugurado três semanas após a morte de Pierre Bergé (em setembro de 2017), sócio e companheiro por 50 anos do estilista, que passou seus últimos anos encontrando um lar para todas as obras de arte de Saint Laurent.

O projeto foi assinado pelo designer de interiores Jacques Grange em parceria com a cenógrafa Nathalie Crinière, que, após colaborarem em vários projetos da Fundação, redesenharam os espaços expositivos na atmosfera original da casa de alta-costura. Foi o primeiro espaço dessa magnitude dedicado à obra de um dos maiores criadores do século 20 a ser inaugurado na capital da moda.

O acervo do museu é composto pelos mais importantes modelos das coleções de Yves Saint Laurent. Quarenta anos da Maison são apresentados por meio de 55 mil croquis de moda, 100 mil desenhos e amostras de tecidos, 130 mil fotografias e 20 mil peças de roupas, acessórios e objetos diversos com suporte audiovisual que auxiliam o visitante a compreender o universo criativo do lendário estilista. Todo esse acervo é o resultado de um trabalho pioneiro e sistemático decidido por Saint Laurent em 1964.

Por meio de um breve tour, nos deparamos com a primeira galeria que concentra a inspiração masculina que caracteriza muitos de seus designs femininos em toda a sua glória. Estão lá o 'Le Smoking', o trench coat de couro e a jaqueta saariana, peças que refletem a apropriação dos códigos da vestimenta masculina para o guarda-roupa feminino, um ponto decisivo na história da moda. "Se Chanel libertou as mulheres, Saint Laurent deu-lhes o poder com roupas de homens”, afirmou Bergé.

A segunda galeria ressalta o mix de referências culturais – asiáticas, africanas e russas –, que trouxe exotismo ao ethos essencialmente parisiense da YSL. O terceiro espaço mostra a paixão de Saint Laurent pelas artes plásticas e a consequente influência da arte em seu trabalho, com peças inspiradas por Matisse, Van Gogh e Mondrian. E ainda há uma galeria dedicada à primeira coleção da grife de 1962. No caminho entre as galerias, paredes com croquis e fotos – incluindo a série de retratos pop art de Andy Warhol e o box gigante com as belas joias da maison –, uma sala dedicada a um curta de 15 minutos, que narra a história do encontro entre Saint Laurent e Bergé, e outra com vídeos que dissecam o passo a passo das coleções: os desenhos, a confecção, os acessórios e a apresentação para a imprensa.

No entanto, o elemento essencial do museu é o estúdio de Saint Laurent detalhadamente recriado em uma sala com janelas amplas e grande espelho ao fundo, o que permitia ao estilista visualizar as roupas nas modelos (não usava manequins) em todos os ângulos durante as provas. Há tecidos, botões, muitos desenhos e prateleiras repletas de livros. A mesa está como ele deixou em 2008, ano da sua morte, com bibelôs, amuletos, anotações e os icônicos óculos. Mais que um museu monográfico, ele testemunha a história e a tradição da prática da alta-costura no século 20.

Nesse espaço, Yves exerceu sua criatividade e savoirfaire por quase 30 anos.

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