Do Nordeste ao Infinito

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Rachel de Queiroz Rachel de Queiroz - Do Nordeste ao Infinito

Do Nordeste ao Infinito Colet芒nea de Cr么nicas





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Rachel de Queiroz Do Nordeste ao Infinito Colet芒nea de Cr么nicas

Fortaleza - CE 2010


©2010 by Maria Luiza de Queiroz Salek

Fundação Demócrito Rocha Presidente: Luciana Dummar

Edições Demócrito Rocha (EDR) (Marca registrada da Fundação Demócrito Rocha)

Editora: Regina Ribeiro Editor de Design: Deglaucy Jorge Teixeira Capa e Projeto Gráfico: Suzana Paz e Deglaucy Jorge Teixeira Ilustrações: Carlus Campus Editoração Eletrônica: Mônica Meneses e Suzana Paz Catalogação na Fonte: Adelly Maciel Apoio Técnico: Ana Maria Sousa Ribeiro Revisão Ortográfica: Nataly Pinho e Fernando de Souza

Esta obra integra o projeto Rachel de Queiroz - 100 anos, desenvolvido pela Fundação Demócrito Rocha, com o apoio da Academia Cearense de Letras. Concepção do Projeto: Cliff Villar Coordenação Editorial: Regina Ribeiro Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

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Queiroz, Rachel de – 1910 / 2003 Do Nordeste ao infinito: coletânea de crônicas. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2010. 200 p. il. ISBN 978-85-7529-461-1 I. Literatura Brasileira II. Crônica III. Título CDU 82-94(81)

Edições Demócrito Rocha

Av. Aguanambi, 282 - Joaquim Távora - Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6270 - 3255.6036 - 3255.6256 - Fax (85) 3255.6276 edicoesdemocritorocha.com.br edr@fdr.com.br I livrariaedr@fdr.com.br


(...) O mais Ê a paz, o sol, o mormaço. R.Q.



Apresentação Regina Ribeiro


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O sertão encantado A partir de meados de 2009, passei a ler e reler as crônicas da escritora Rachel de Queiroz. Não estou falando dos textos mais recentes publicados pelo O POVO e outros jornais de circulação nacional, os quais acompanhei como boa parte dos seus leitores. Refiro-me àqueles que foram produzidos pela moça recémchegada aos 20 anos. Depois, àquelas crônicas tecidas enquanto Rachel fazia a travessia do Junco – fazenda da sua família, em Quixadá – para o mundo e, ao mesmo tempo, enquanto se enraizava no Rio, sem que, do sertão, nunca tivesse saído. Ao todo, li mais de 1.000 crônicas, grande parte delas já publicada em livros desde a década de 1940 pela editora José Olympio, uma vez que Rachel passou a escrever para jornais e revistas cariocas logo após sua chegada ao Rio de Janeiro, no final dos anos 30. As crônicas escolhidas para este Do Nordeste ao Infinito foram aquelas que, de alguma forma, atravessam temas relacionados com o Ceará e o Nordeste, o chão de onde a escritora fez a colheita da memória que produz seus textos. Nesta edição, o leitor encontrará crônicas publicadas entre os anos de 1940 e 2002. Rachel de Queiroz foi uma senhora do século XX, e o que a escritora costura nesses textos enxertados de cotidiano são janelas por onde espia um outro mundo. Sim, porque o misterioso mundo sertanejo de Rachel é a fonte criadora que transforma personagens e casos em narrativas que extrapolam o datado, o episódico, o simplesmente factual, exigido pelas páginas dos jornais. O gênero, nas mãos da cronista, é apenas moldura. O que ela constrói é a paisagem de um tempo, o pincel são as lembranças. As cores, o leitor poderá observar: ora aparecem luminosas feito o sol do Nordeste, ora ficam cinza e triste


como uma seca no sertão que com a chuva esverdeia e torna o Ceará o melhor lugar do mundo. Enquanto lia essas crônicas, deparei-me inúmeras vezes com a ideia de que a escritora cearense tenha sido única na tarefa de traduzir o Nordeste e o sertão para os brasileiros. A vida na fazenda, os gestos e a fala do sertanejo, sua culinária e cotidiano arrastado à espera dos caprichos do céu são emoldurados pela aridez sincera das palavras que traduzem sentimento, apego e o amor sem explicação que a autora preserva pela sua origem. Não poupava a ironia bem humorada para a composição solene de uma crítica. Como se estivesse a se embalar na rede, à varanda da fazenda, a crônica ganha ares de uma prosa elegante. A linguagem flui com uma oralidade veemente, desconcertando arrodeios estilísticos. As lembranças emergem amalgamadas por uma extrema e perene afetividade. O texto do dia a dia surge, então, temperado com o que de melhor pode ter a literatura. Por isso, se conserva intacto no tempo. É o caso da crônica História de Jagunço, que abre esta coletânea. Nela, a escritora recria uma história contada pelos familiares, vivida no Junco, quando um jagunço, recebido como trabalhador na fazenda, reencontra o bando. Na despedida, Zé Antônio rouba um cacho do cabelo da menina, que à época contava três ou quatro anos: “Dei risada satisfeita vendo o tufo de cabelo na mão de Zé Antônio; ele sabia muito bem que eu detestava aqueles meus cachos” (pg. 21). Dessas lembranças, cozidas no tacho do tempo-criação, saem sobremesas, digo, belas crônicas que o leitor terá o prazer de saborear. Algumas delas servidas na companhia de personagens como Leonardo Mota, o Leota; Capistrano de Abreu, Osmundo Pontes, José de Alencar, Demócrito Rocha, Euclides da Cunha,


Moreira Campos. Talvez, porém, o principal aliado seja o Sertão, personagem que impera na maior parte da obra da escritora. “Aqui no sertão, eles sonham”, garante Rachel de Queiroz na crônica Sonhos. O sertão é o mundo real e maravilhoso, no qual a realidade e o onírico se prolongam na direção um do outro sem que haja qualquer alteração de ânimos. Esse é o mistério que a escritora tenta decifrar no labirinto dos anos. Para encerrar esta conversa, quero lembrar que os textos publicados nesta coletânea foram submetidos a uma revisão ortográfica, respeitando imperiosamente o texto original publicado pelo O POVO. Numa segunda edição seguirão notas com atualizações históricas de alguns temas tratados pela autora. No entanto, o melhor delas está aqui: no entrelaçado das memórias que borda a crônica poética da escritora Rachel de Queiroz. Março, 2010


Sumário 17 24 28 32 37 41 43 47 51 55 60 63 67 70 72 75 78 82 85 88

História de jagunço O pão nosso Leonardo mota O Dragão do Mar Um livro cearense O canto do cabeça-chata O melhor é viajar A propósito de José de Alencar O POVO, jornal do ceará Morreu irmã Simas Capistrano de Abreu Cangaceiros Nobre cidade do Crato O profeta Roque Literatura cearense Luar Carta de amor Frugalidade Sonhos A gente não muda


91 94 97 100 103 106 109 112 115 119 123 126 130 132 135 137 140 143 146 150

Cinquentenário de jornal Notícias do Ceará Os bichos e os homens (1) Os bichos e os homens (2) Nobre cidade do Crato Microcosmo Comida Viajar é bonito Moysés Vellinho Masmorras, enxovias São Francisco A seca e a emergência Chegando do Ceará E o Nordeste Chuva no Nordeste Desculpem, mas ainda é Nordeste O Cego Aderaldo Carta do sertão Leota e o Adagiário Família sertaneja


154 158 160 162 165 168 171 173 176 179 182 185 188 191 193 195

Nordeste e Sul maravilha O sertão e o seu mistério (1) O sertão e o seu mistério (2) Cobra-coral A Nação dos nordestinos Meu maior fiasco Falando em Revolução Francesa O rei e o coronel Bom tempo, mau tempo Cozinha sertaneja “Este céu, este mar, esta gente feliz...” O retorno da escuridão Mande o seu recado As vozes do calabouço Eternidade Do Nordeste ao infinito



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