Existe outra saída sim

Page 1





2ª edição Fortaleza CE 2010


Copyright©2003 by Edições Demócrito Rocha

Fundação Demócrito Rocha Presidente Luciana Dummar Diretor de Conteúdo Paulo Linhares Diretor de Projetos Fábio Campos

Edições Demócrito Rocha (EDR) (Marca registrada da Fundação Demócrito Rocha.)

Editora Regina Ribeiro Editor de Design Deglaucy Jorge Teixeira Capa e Projeto Gráfico Arlene Holanda e Deglaucy Jorge Teixeira Editoração Eletrônica Suzana Paz Revisão Ortográfica Edísio Fernandes Catalogação na Fonte Adelly Maciel Seleção de Crônicas Tércia Montenegro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Q3e

Queiroz, Rachel de. Existe outra saída, sim / Rachel de Queiroz. – 2 ed. – Fortaleza : Edições Demócrito Rocha, 2010. 128p. : il. color. ISBN 978-85-7529-459-8 1. Crônicas brasileiras. I. Título.

Edições Demócrito Rocha

CDU 82-94(81)

Av. Aguanambi, 282 - Joaquim Távora - Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6270 - 3255.6036 - 3255.6256 - Fax (85) 3255.6276 edicoesdemocritorocha.com.br edr@fdr.com.br I livrariaedr@fdr.com.br


Apresentação

O gosto de ler não é um dom. O gosto de ler se pega, se ganha e fica para toda a vida. O livro, o jor­nal, a revis­ta, o folhe­to, o qua­dri­nho são os ami­gos de todas as horas. É o cachor­ro enca­ der­na­do, que vem com você, sem­pre solí­ci­to, mesmo nos pio­res momen­tos. Quando tudo vai mal, o livro nos puxa lá do fundo. Nas boas horas, traz as idéias que nos fazem voar. No pouco tempo vago que tenho e nas quase duas horas diá­rias de trans­por­ te, no ôni­bus, no táxi, no metrô, a mochi­la car­re­ga a com­pa­nhia que torna o tra­je­to na cida­de engar­ra­fa­da uma via­gem mais amena. Esse mundo de pos­si­bi­li­da­des eu ganhei de minha avó. Sentado ao pé de sua rede, eu era o escu­ta­dor pri­vi­le­gia­do de his­ tó­rias medie­vais dos reinos de França e da Inglaterra, de trai­ções, vila­nias e atos heroicos. E tam­bém das len­das e his­tó­rias do ser­tão, que ela escu­ta­va dos cabo­clos e recon­ta­va, não só para mim, mas tam­bém para todos os seus lei­to­res, pois que era esse recon­to o char­me de sua prosa. A con­ta­do­ra de his­tó­rias, com a paciên­cia e o amor de vó, repe­tia e repe­tia, a pedi­do do neto, as mes­mas his­ tó­rias e as melho­res pas­sa­gens, pois a repe­ti­ção é a alma do apren­ di­za­do. E o neto per­ce­bia que havia, aqui e ali, uma mudan­ça, que às vezes o abor­re­cia, mas que lhe dava a per­cep­ção da fali­bi­li­da­de da ver­da­de his­tó­ri­ca. Deixando de lado a avó, o que falar das crô­ni­cas de Rachel? Sobre ela, muito já se disse, sobre­tu­do o fato de ser ela ser­ta­ne­ja. Mas o que é ser ser­ta­ne­jo? Quais os pre­di­ca­dos que emba­sam a gene­ra­li­za­ção? Rachel com cer­te­za é ser­ta­ne­ja, na medi­da em que sua prosa é seca como a caa­tin­ga. A lin­gua­gem é sim­ples e dire­ta,


as idéias são de fácil enten­di­men­to, mas o con­teú­do chega a ser agres­si­vo, pela falta de con­tem­po­ri­za­ção com as fra­que­zas huma­ nas. Nestes tem­pos de pro­li­fe­ra­ção de manuais de autoajuda, car­ re­ga­dos de lições morais para o bem viver, Rachel des­pon­ta como refe­rên­cia opos­ta, pela ausên­cia de mora­lis­mo em suas men­sa­ gens, pela ine­xis­tên­cia de recei­tas do que é bom e do que é mau. Às vezes, chega a trans­pa­re­cer, nas entre­li­nhas, sua cer­te­za de que os maus sen­ti­men­tos são a norma entre os seres huma­nos e que as boas coi­sas cons­truí­das pelo homem visam à neu­tra­li­za­ção dessa deca­dên­cia moral. O outro lado do ser­ta­ne­jo é a sua heran­ça rural. Mesmo que viven­do há déca­das na cida­de, ele guar­da o ser­tão como sua mora­da espi­ri­tual. O espa­ço urba­no não é mais do que um lugar de sobre­vi­vên­cia do modus viven­di do ser­ta­ne­jo. (Lembro aqui um por­tei­ro do pré­dio de minha mãe, que tei­ma­va em san­grar um porco em uma gara­gem de um pré­dio de apar­ta­men­tos na zona sul do Rio de Janeiro). O olhar rural e agudo de Rachel sobre o mundo mode­no e urba­no do Rio, de onde escre­ve para seus con­ ter­râ­neos, per­pas­sa todas as suas crô­ni­cas, fazen­do o con­ta­to entre os dois mun­dos. Aparecem metá­fo­ras com ani­mais, para expli­car o mundo dos huma­nos, e refe­rên­cias ao tempo de espe­ra do ser­ta­ne­jo, que aguar­da a chuva como uma reden­ção bíbli­ca, fazen­do da espe­ra um exer­cí­cio de apro­fun­da­men­to do coti­dia­no. Vocês pode­rão ver nas crô­ni­cas como é coti­dia­na a base da refle­ xão, como nada de gran­dio­so é pre­ci­so acon­te­cer para que se anime o pen­sa­men­to. O cen­tro de sua preo­cu­pa­ção é o mundo moder­no: a sua des­cren­ça na tec­no­lo­gia e o seu des­con­for­to com a velo­ci­da­de con­tem­po­râ­nea são ambí­guos, pois, por vezes, surge um des­lum­ bra­men­to com algu­ma máqui­na ou com algu­ma faci­li­da­de da vida moder­na, como é o caso do heli­cóp­te­ro, que lhe traz fas­ci­na­ ção por se asse­me­lhar a um pas­sa­ri­nho, que plana e evo­lui duran­


te o voo. Para depois sur­gir o auto­mó­vel, como máqui­na que des­truiu o modo de viver tra­di­cio­nal. Essa mes­cla de des­cren­ça e fas­cí­nio dá ao seu con­ser­va­do­ris­mo um tom espe­cial, de alguém que, sau­do­so do pas­sa­do, con­tem­pla a ine­vi­ta­bi­li­da­de do futu­ro. E, por fim, as memó­rias. Poucas mulhe­res no Brasil vive­ram o sécu­lo XX com a inten­si­da­de de Rachel. Em meio às refle­xões sobre temas diá­rios, surge um fato inu­si­ta­do, uma pri­são em uma uni­da­de de um corpo de bom­bei­ros durante o Estado Novo, uma via­gem de ITA do Norte de Belém ao Rio, uma dan­ça­ri­na do caba­ ré da Lapa dos anos 30. Poucas pes­soas dis­põem de tão vasta memó­ria sobre o Brasil do sécu­lo pas­sa­do. A memó­ria de Rachel é car­re­ga­da de um encan­ta­men­to do mundo, de momen­tos subli­ mes, como a ida a cava­lo à serra de Guaramiranga, nos idos de 1919. Esse encan­ta­men­to ela pas­sa­va ao neto que a escu­ta­va e apa­re­ce no fundo das crô­ni­cas, como um con­tra­pon­to ao mundo desen­can­ta­do que a tec­no­lo­gia pro­du­ziu e que a ser­ta­ne­ja estra­ nha. O mundo de Rachel é o mundo medie­val, das gran­des nave­ ga­ções, do Infante D. Henrique, do ima­gi­ná­rio fan­tás­ti­co do ser­ta­ ne­jo, povoa­do de Mapinguaris, onde a cro­nis­ta urba­na é uma exi­la­da, que faz de sua crí­ti­ca o seu pro­tes­to eco­ló­gi­co e liber­ta­ dor.

Flávio de Queiroz Salek



Sumário

A cobra que morde o rabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Crônica dos dias grandes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Além das praias e caatingas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 O que nem a morte separa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Todo dia é da mãe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Pequena história do dia a dia de meninos de rua . . . . . . . . . . . . 25 O eterno feminino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 O fim das famílias numerosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Os pássaros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Ai, que saudade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Quem prende o guarda? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 A força da gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 A fábula do homem e seu garrafão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Quem com ferro fere... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 O imaginário mágico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Saudades de Guaramiranga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Esta minha eterna litania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Nosso velho problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Eu e o meu bisneto Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 40 graus à sombra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 O carnaval, a língua e o correr do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 A “incendiária” e os bombeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Não se cantam pesares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Prego de biela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Velhos carros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 Amor & poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Uma história de Natal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89


Você tem medo da morte? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Existe outra saída, sim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Falem também na música, nas flores e nos amores . . . . . . . . . . . 99 Enxertando a vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Prazeres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Esse estranho animal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 Muito além do rock . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 A imagem do homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 O voo do helicóptero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 O mistério da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 O saber e o falar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.