A BIOGRAFIA
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182 A B I O G RA F I A
Joe Shooman Tradução:
Tony Aiex
Publicado originalmente no ano de 2010 em inglês pela editora Independent Music Press sob o título: blink-182: The Bands, The Breakdown & The Return Direitos de edição e tradução para a língua portuguesa. © 2012, Edições Ideal ISBN - 978-85-62885-04-4 Editor: Felipe Gasnier e Maria Maier Diagramação e Capa: Felipe Gasnier Tradução: Tony Aiex Revisão: Gustavo Tolhuizen e Bruna Corrêa Introdução e Curiosidades (pag.250): Bruno Clozel Texto Contracapa e Discografia: Tony Aiex Foto Capa: Allen J. Schaben Contour By Getty Images Foto Contracapa: Jim Steinfeldt / Michael Ochs Archives/Getty Images Foto do Tom Intro: Bill McCay /WireImage /Getty Images Fotos da banda ao vivo por: Bruno Clozel (Action-182) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Shooman, Joe blink-182: A Biografia / Joe Shooman, tradução Tony Aiex - São Paulo Edições Ideal, 2012. Título Original: blink-182: The Bands, The Breakdown & The Return ISBN: 978-19-06191-10-8 1. Grupos de Rock 2. Músico de rock - Biografia Índices para catálogo sistemáticos: 1. Músicos de rock: Biografia e obra 782.42166092
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou de qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Edições Ideal, na pessoa de seu editor (Lei n˚9.610, de 19.2.98) Todos os direitos desta edição, dentro do território brasileiro reservados pela: Edições Ideal - Rua João Pessoa, 327 sala 23 - CEP: 09715-000 - SBC - SP Telefone: 11 41235765 - www.edicoesideal.com Apoio TENHO MAIS DISCOS QUE AMIGOS www.tenhomaisdiscosqueamigos.com ACTION-182 www.action182.com
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Índice Introdução............9 Uma Nova Banda............17 Os Primeiros Passos ............19 Caindo Fora ............23 Sorrir para Vencer............33 Qual é o meu nome novamente?............41 Na estrada com um 182 no reboque............47 Assine aqui............53 Velocidade da luz, Parte 2............61 Homem ao mar............67 Perturbação na Força............77 Oh Buddha!............81 Finn-lândia............87 Sorrindo como um Cheshire...............93 Pequenas e Grandes Coisas............101 O Show Deve Continuar............107 Vida Real e Atividades Extra Curriculares............119 Batalha pelo Império............131 Cirurgia............137 Banda caseira............143 Tudo diz respeito aos bateristas............151 Qual é meu nome novamente (novamente)?............159 2004............171 Qual é o seu número?............187 A Corrida pelo Lançamento............193 Absinto Faz o Peido Crescer a Honda............205 O Império Morde Novamente............211 Política e Mixtapes............223 Despedidas............229 Reunião de família............235 Você Sabia? ............250 Fotos............257
Introdução Se para muitos o blink-182 é aquela banda de três loucos que correram pelados por aí em um dos seus clipes cômicos, para os fãs é o trio que, ao longo dos seus 20 anos de existência, ensinou a usar a música como diversão e inspirou grande parte do cenário musical de 2000 em diante. Para mim, vai um pouco além de tudo isso: é metade de uma vida inteira dedicada à banda. Em 1992, Mark Hoppus e Tom DeLonge se conheceram e logo começaram a compor em uma garagem. De forma simples, surgiu a banda que apoiamos até hoje. A grande explosão do blink-182 veio em 1998, com a troca de baterista - saída de Scott Raynor e entrada do mestre Travis Barker - e o lançamento do álbum Enema Of The State, em 1999. Tamanho sucesso chegou ao Brasil e a banda chegou a ser cotada para o Rock In Rio em 2001, mas o sonho dos fãs brasileiros acabou no momento em que o líder da banda Guns N’Roses, Axl Rose, vetou a participação do trio californiano no festival. Anos mais tarde, a banda voltou a ser convidada para vir ao Brasil e, dessa vez, foi confirmada no Chimera Music Festival, em 2005. Entretanto, mais uma vez, a felicidade dos fãs brasileiros não durou muito tempo: o blink-182 anunciou sua separação e cancelou toda sua agenda. Durante o “hiato indefinido”, as relações com o Brasil começaram a ganhar ainda mais força e, junto ao reconhecimento dos membros, surgiu a parceria com o portal brasileiro Action182.com. Dessa forma, a chama da esperança se manteve acesa - mesmo com o trio separado - e os fãs ficaram um pouco mais perto da banda. Em maio de 2009, o portal teve a honra de receber diretamente de Mark Hoppus o “Octopus Flash Drive”, projeto em parceria com Pete Wentz (Fall Out Boy). A proposta contava com pendrives personalizados: de um lado, um polvo (marca de Hoppus) e, do outro, um desenho do Fall Out Boy. Apenas 100 peças com conteúdo exclusivo foram fabricadas, as quais foram distribuídas por todo o mundo. E duas delas foram feitas especialmente para nós, brasileiros. Mark recebeu todas as fotos do evento realizado no Brasil para a entrega
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dos pendrives e soube detalhes de como tudo aconteceu. Em 2011, lá estava eu na turnê do Neighborhoods para mais três shows da banda em cobertura exclusiva. O terceiro e último show, em Jones Beach (Nova York), foi transmitido ao vivo para o Brasil, através de um celular, e mais de 12 mil fãs no mundo inteiro acompanharam em tempo real. Os desafios são muitos, mas o calor e apoio dos fãs brasileiros tornam imensurável a honra e o prazer de oferecer, de certa forma, conteúdo exclusivo do blink-182 por aqui. Com um álbum confirmado para 2013, o blink-182 entra em seu vigésimo primeiro ano com o pé direito, deixando os fãs cada vez mais ansiosos com o novo capítulo de sua história que nos contagia desde os acordes mais simples. Após dez anos de dedicação de trabalho com o apoio de dezenas de pessoas ao longo desse tempo, hoje, o Action182 é a referência da banda no Brasil. Mas a missão ainda não está totalmente cumprida: ainda aguardamos o ápice dessa saga, com o épico e tão esperado show do trio californiano em terras brasileiras. Bruno Clozel, diretor do portal Action182.com
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A Biografia
Hรก muito, muito tempo atrรกs em uma cidade muito, muito distante...
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Episódio IV
Uma Nova Banda É um período de conflitos internacionais, onde nações invadem nações por petróleo e têm sua glória manchada. Pior de tudo, os Estados Unidos proíbem implantes de silicone nos seios. Em todos os locais, pequenos grupos de músicos rebeldes estão começando a aparecer, usando bermudas grandes e tocando acordes de pestanas com linhas melódicas no topo para derrubar um império do mal que está no poder há muito tempo. Há uma batalha moral nascendo entre músicos do grunge com cabelo caído e músicas introspectivas e aqueles que têm planos para criar uma arma definitiva: uma banda de skate-punks com músicas tão poderosas, piadas tão idiotas e peidos tão ofensivos que eles poderiam infectar um planeta inteiro com sorrisos novamente. Perseguido por ninguém em particular, o baixista californiano amante do skate Mark Allan Hoppus sai de sua casa em Washington D.C. em direção a San Diego, com planos de salvar a música e resgatar a loucura do pop-punk à galáxia...
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Os Primeiros Passos Thomas Matthew DeLonge Jnr nasceu em 13 de Dezembro de 1975 e cresceu em Poway, Califórnia. É uma cidade com menos de 50 mil habitantes no Condado de San Diego. Um bom lugar para se viver, mesmo que um pouco devagar se comparada às luzes das grandes cidades que ficam por perto. Poway é um antigo lar para Índios Americanos com um nome que significa “os dois pequenos vales” e muitas pontas de lança e de flecha foram escavadas ao longo do riacho Poway, transformando o local em algo valioso e histórico. Tudo isso provavelmente estava na cabeça do jovem Tom que foi expulso da escola Poway High por ir a um jogo de basquete bêbado. Não foi algo bom para a sua carreira no ensino médio; eventualmente brilhante para sua carreira como músico. Inevitavelmente, DeLonge precisava se matricular em outra escola e a escolhida foi Rancho Bernardo High. Em 1992 ela trouxe uma segunda chance a Tom e uma oportunidade de se aprofundar na música, que naquela época estava direcionada ao punk rock (com o Descendents sendo sua banda favorita). O melhor de Rancho Bernardo, entretanto, foi a propensão do local em organizar competições de bandas. Para um jovem que crescia com uma atitude contra o sistema – e um novo violão velho como presente de aniversário – parecia um presente dos céus. Ele imediatamente começou a compor material para tocar em seu violão, e quando o dia do show chegou, ele estava pronto para fazer barulho, assim como vários outros jovens de sua escola. “Minha banda, The Necropheliacs, tocou uma cover de ‘Creeping Death’ do Metallica,” se lembra o músico local e primeiro baterista do blink-182, Scott Raynor, com exclusividade para esse livro. “Tom tocou uma música própria chamada ‘Who’s Gonna Shave Your Back Tonight?’ sozinho com seu violão, para uma quadra de basquete cheia de pessoas.” Essa performance – que pode ter sido feita sob o apelido de Big Oily Men – impressionou a plateia, e também Raynor, cujo próprio grupo logo se desestabilizaria com a saída do membro fundador Paul Scott, que estava saindo do Estado. Mas antes disso Paul apresentou Raynor a DeLonge em uma festa onde os dois viram que tinham muitas coisas em comum. Tom explicou que era um guitarrista/vocalista procurando por uma banda permanente e então ele e Scott decidiram se reunir para algumas jams. 19
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“Começamos a escrever algumas músicas na casa dos meus pais,” diz Raynor a respeito dessas primeiras sessões, quando os dois não tinham nenhuma ambição além de se divertir muito e tocar música barulhenta. Scott William Raynor Jnr nasceu em 23 de Maio de 1978 e sempre quis levar suas técnicas de bateria adiante, muito em função de sua participação em várias bandas de metal durante a juventude. “Eu vinha tocando bateria há uns três ou quatro anos antes de conhecer Tom,” continua Scott. “Na maioria delas eu tocava covers com meus amigos. A primeira música que eu toquei foi com meu amigo Ryan Kennedy; ambos tínhamos onze anos de idade e havíamos sido influenciados pelo Metallica. A banda era muito técnica, então aprendemos ‘Twist Of Cain’ do Danzig e ‘London Dungeon’ do Misfits. Nós tocamos essas músicas na escola em uma dessas atividades de mostrar seu talento e falar a respeito dele. A primeira música que eu toquei em um show de verdade foi ‘Vlad The Impailer’ do Gwar. Mas eu não havia estado em nenhuma banda que eu considerasse ‘séria’ em termos de sucesso.” As sessões de Raynor e DeLonge com uma variedade de baixistas (a lenda diz que houve até um chamado Derek, apesar disso poder ser uma referência cômica a Derek Smalls do Spinal Tap) não estavam indo adiante, ao contrário das piadas e do skate. Mas isso logo iria mudar. Aí entrou Mark Allan Hoppus, mais velho que os outros dois caras, nascido em 15 de Março de 1972. Hoppus estava morando em Ridgecrest, Califórnia, que já foi brilhantemente chamada Crumville. Mark tocava baixo desde que ganhou um de presente pelo seu aniversário de quinze anos, e quando sua família começou a pensar em se mudar para San Diego, ele já havia tocado em várias bandas incluindo o Pier 69 e um grupo chamado The Attic Children, que em 1988 gravou algumas demos – a maioria baseada em covers dos góticos Britânicos do The Cure. Outra banda foi o Of All Things, que em 1992 tocava mini-shows de verdade em festas de amigos e na casa de shows The Oasis em Ridgecrest, mesmo que boa parte do set fosse composta de covers do Descendents. Mas um show é um show, e a experiência deixou Mark com sede por performances ao vivo. Durante um tempo depois de se mudar para San Diego, Hoppus continuaria a ir para Ridgecrest nos
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finais de semana onde ensaiava e tocava com o Of All Things, mas depois de um tempo a distância ficou muito grande para se enfrentar e então tudo acabou. O que também foi uma boa coisa, pois senão ele não teria tempo livre quando sua irmã, Anne, lhe apresentou a Tom DeLonge através de seu namorado da época. “Tom e Scott se conheceram em uma festa há muito tempo e começaram a conversar então decidiram que gostariam de começar uma banda,” Mark disse depois. “Ao mesmo tempo, minha irmã estava saindo com um dos melhores amigos de Tom, então ela me apresentou ao Tom e nós começamos a compor músicas juntos, e tudo começou ali.”1 A brincadeira começou imediatamente: um dos primeiros encontros da dupla foi em um parque de skate local onde Hoppus, ao tentar fazer uma manobra melhor que seu novo amigo, conseguiu se atrapalhar de forma espetacular, caindo de um poste e quebrando seus tornozelos, um machucado que lhe deixou de muletas por três semanas. Mas baixistas são destemidos e o encontro entre DeLonge e Hoppus formou uma dupla de comédia que se entendeu perfeitamente desde os primeiros momentos. Scott Raynor se empolgou com esses acontecimentos em seu mundo musical. “Eu gostava muito da companhia deles. Eu achava que eles eram hilários, mesmo tendo quatorze ou quinze anos quando os conheci. Quero dizer, eu nem tinha carteira de motorista ainda, então eu ganhei muito ao andar com eles e seus grupos de amigos.” Tom e Mark também, crucialmente, achavam os trabalhos musicais um do outro muito divertidos, facilmente trabalhando com seus riffs como se estivessem tocando há anos. “Nós começamos ensaiando em meu quarto,” disse Raynor. “Meus pais até nos defendiam quando os vizinhos reclamavam. Já era difícil o suficiente ouvir a nossa banda quando a gente ensaiava, imagina quando estávamos começando.” Naquele verão, os novos colegas de banda ficaram juntos, tocando constantemente e fazendo piadas sempre que possível. “Nós fomos a vários shows de punk e ao cinema,” continua Scott, “e comemos muito fast food. Fize1
Entrevista no www.cacophony.com, 1996
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mos coisas estúpidas como passar trotes e armar pegadinhas. Eu me lembro da primeira noite quando fui à casa do Mark, ele e vários amigos do Tom convidaram outro amigo que nunca tinha ido à casa dele para aparecer por lá, mas eles lhe deram o endereço da casa ao lado. Aí eles foram até a casa do vizinho e deixaram uma placa na porta onde estava escrito ‘Não bata, entre direto.’ Nós ficamos lá fora escondidos nos arbustos esperando para ver o que iria acontecer. Ele chegou e tentou abrir a porta, mas para sua sorte ela estava trancada.” O amor por brincadeiras do tipo “câmera escondida” poderia se resumir a simplesmente dar uma boa risada, mas as piadas eram criativas. “Tom ligava para comércios locais fingindo ser um vendedor de produtos para o controle de pragas,” ri Raynor. “Ele tentou convencer os donos de um Pizza Hut local para lhe pagar para espalhar ‘urina sintética de coiote’ pelo terreno a fim de manter os roedores longe. Só coisas idiotas, mas [esses caras] eram muito divertidos.” Ocasionalmente eles também tocavam música.
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Caindo Fora Mesmo em um estágio tão empolgante quanto esse início, a nova banda poderia ter ido por água abaixo quando a então namorada de Mark Hoppus pediu para que ele basicamente escolhesse entre ficar com ela ou continuar com a banda. Mesmo que ele tivesse acabado de comprar um novo amplificador de baixo e apesar de suas reclamações iniciais ele decidiu optar por ir em frente com a moça. Então, a contra gosto, ele deixou Tom e Scott sozinhos. Mas da mesma forma que o término com o Of All Things não tinha feito sua veia musical parar de pulsar, o curto tempo longe de seus amigos (e de sua música) logo se tornou insuportável. “Nós gravamos algumas demos em um gravador de quatro pistas com Cameron Jones [amigo e eventual colaborador musical],” se lembra Scott Raynor. “Uma tinha Tom e eu, e eu acho que Cam no baixo. De qualquer modo eu não me lembro da cronologia do término delas.” Não muito tempo depois, Hoppus ouviu que Scott e Tom estavam gravando suas músicas em um local de ensaio no quarto de Scott e Mark sentia-se tentado a voltar para o grupo. Quando ele retornou, os três fizeram uma promessa de fazer com que as coisas fossem adiante. A primeira tarefa - encontrar um nome para o projeto. Os três estavam brincando com os nomes Duck Tape e Figure 8 nesse ponto, mas não haviam decidido em nada concreto. Quando eu perguntei a ele, Scott Raynor disse que durante um ensaio em particular, DeLonge veio armado com uma ideia. “Tom apareceu com o nome ‘Blink’ um dia,” explica Scott. “Ele disse que gostava do nome porque era um verbo que significava uma ação rápida.” Os outros concordaram. Recém-batizado de Blink, o grupo agora precisava de outra fita demo para celebrar o retorno de Hoppus. Como a fita original com Cameron Jones/Scott Raynor/Tom DeLonge, essa foi gravada em um gravador de quatro pistas - uma peça estranha em tempos onde temos o computador e o Pro Tools ao nosso alcance, mas naquela época uma parte essencial do arsenal de qualquer banda (em 1992 os computadores não eram nada perto do que são nos dias de hoje, e a ideia de gravar múltiplas pistas de áudio em um PC era tão absurda quanto, por exemplo, Arnold Schwarze23
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negger se tornar governador da Califórnia). Para aqueles nascidos depois de 1990, um gravador de quatro pistas utilizava uma fita de áudio normal como mídia de gravação, gravando dois dos lados da fita e permitindo que várias pistas de baixo, guitarras, baterias, etc fossem gravadas separadamente em cassette. Era e ainda é uma mídia completamente analógica, onde os níveis de ruído crescem a cada vez que a fita passa pela máquina e degradações e distorções nas músicas são uma parte inevitável (e às vezes criativa) do processo. Por outro lado, assim como as práticas de gravação de hoje em dia, era um modo relativamente barato de reproduzir sua música e para uma banda começar uma carreira era essencial que uma fita fosse produzida para ser enviada a promotores de eventos, casas de shows, jornalistas e até mesmo gravadoras. A nova demo foi batizada de Flyswatter pelo Blink, e tinha as músicas “Reebok Commercial”, “Time”, “Red Skies”, “Alone”, “Point Of View”, “Marlboro Man”, “The Longest Line” (cover de NOFX) e “Freak Scene”. Era uma mistura de covers e músicas originais compostas no quarto, mas com uma qualidade de som horrível e uma qualidade de desempenho que, no melhor dos casos, é ingênua. O Blink tem se distanciado desse trabalho ao longo dos anos quando explica exatamente o que é essa fita - os imaturos e barulhentos primeiros passos. A fita, que foi “lançada” pela banda em sua gravadora inventada, a Fags In The Wilderness Records (com uma capa desenhada por Mark), captura certa empolgação, mas também tem várias notas esquisitas e gravações ruins. Ela soa tão inacabada quanto você pode imaginar, e apesar de ter um valor histórico, você não teria necessariamente vontade de colocá-la para tocar em seu aparelho de som. Na verdade, Mark disse a um repórter em 1996, “Confie em mim. Nós éramos muito piores do que somos agora.”2 Outra fita, apropriadamente intitulada Demo No. 2, teve um valor incalculável em ajudar a banda a aumentar seu poder ao vivo à medida que o nome do Blink começou a se espalhar. Um dos primeiros apoiadores da banda foi o chefe de Mark Hoppus em seu 2
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trabalho dentro de uma loja de discos, Patrick Secor. “A loja [em que trabalhamos juntos] se chamava The Wherehouse - Onde? The Wherehouse!,”, Secor explicou para este livro. “Eles são uma cadeia de lojas que na época era como uma Tower light, uma loja normal de discos e vídeos em North County San Diego. Eu tinha sido assistente da gerência em outro lugar e fui transferido para a loja onde Mark trabalhava, onde eu seria o gerente e foi quando o conheci. Era o trabalho mais legal que você poderia ter comparado ao que todo mundo estava fazendo, e todas as pessoas que trabalhavam lá eram interessadas em música. Eu tinha acabado de sair do ensino médio então era ótimo comparado a outros trabalhos, porque você poderia comprar discos com desconto! Todo dia você era exposto a música, você estava bem no meio das coisas.” Os dois se deram bem desde o começo, apesar de Secor ser mais velho. O gerente se lembra de quais foram suas primeiras impressões a respeito do jovem Hoppus. “Mark era muito carismático, engraçado, fácil de lidar e nos demos bem desde o começo. Ele era um bom trabalhador e nós nunca tivemos problemas. Tínhamos vários interesses em comum. Ele tinha acabado de se juntar com os outros caras e começou a banda ao mesmo tempo em que eu queria começar minha própria gravadora.” A atitude jovem de sentir que poderia fazer qualquer coisa, além da empolgação, era algo muito positivo mas no início dos anos 90 arranjar shows era outra questão completamente diferente em uma cidade com pouquíssimas opções quando o assunto era arrumar uma casa de show. “O primeiro show do Blink foi em uma escola,” se lembra Secor. “Eles fizeram um show durante o recreio. Para ser honesto, San Diego era muito conservadora e não havia muitos lugares para menores de idade - na época dois terços da banda eram muito novos para tocarem em uma casa de show de verdade. Houve shows beneficentes, um com o Bad Radio, que era a primeira banda de Eddie Vedder. Era muito diferente de hoje em dia e da Bay Area, onde há dezenas de lugares para tocar. Era algo absolutamente DIY (faça você mesmo) - quando você era pequeno e estava começando havia poucos clubes e lugares para tocar, então você tinha que ser criativo se quisesse divulgar o som de sua banda, [encontrar] lugares onde poderia reunir um público.
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Obviamente depois de um tempo eles poderiam tocar em qualquer lugar que quisessem mas, no começo, eles tinham que criar suas próprias plateias.” As primeiras aparições do Blink foram registradas no San Diego’s Spirit Club - a estreia da banda em um lugar que não fosse uma escola - e a influente loja local Alley Kat Records. 1993 viu a banda se consolidar e começar a tocar no The Dungeon, um palco paralelo do maior clube da cidade, o SOMA, onde em 9 de Abril de 1993 eles tocaram junto com os locais Papillon, Product, Grip e Loophole. “O SOMA estava começando e era tipo um pequeno porão de um prédio,” explica Secor. “Era meio cru, e o único local permitido para menores em San Diego. Havia muita energia positiva lá. As opções eram ir para o SOMA ou para Tijuana [cidade Mexicana do outro lado da fronteira] se você era menor então era bom ter um lugar assim em San Diego.” A participação de Secor na história foi a de facilitar algumas coisas; ele gostava das músicas do Blink e também queria começar sua própria gravadora. Logo a ideia veio à tona: levar o Blink a um estúdio de verdade com o objetivo de lançar na recém-criada gravadora de Secor, a Filter Records. “Se você conseguisse um microfone bom naquela época, você já estava muito à frente da maioria das bandas,” se lembra Secor. “Hoje em dia qualquer um pode conseguir algum software de graça e alguns microfones baratos para ligar em seu computador e obter ótimos resultados, mas naquela época eu tinha um velho computador 386 que eu usava para fazer trabalhos da faculdade. Não havia Internet pública. O problema era, ‘Como diabos eu faço com que as pessoas ouçam minha banda?’ Hoje em dia você pode simplesmente enviar as músicas para o MySpace. Mas naquela época você gastava horas gravando várias fitas para entregar às pessoas. Minha ideia com a Filter Records era de começar pequeno, fazer com que a banda ficasse conhecida, levar seu som às pessoas, começar a ter resenhas do trabalho que pudessem levantá-lo e enviar essas fitas para que shows fossem marcados. O objetivo era tocar em tantos locais quanto fosse possível e fazer com que os comentários a respeito da banda fossem espalhados. Era algo muito local.”
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“Eu ia até a casa de Scott para ver seus ensaios. Eu saía com eles; eles eram divertidos e eu achava que seria uma ótima banda para começar o selo. O propósito era contratá-los, lançar um disco e continuar indo em frente. Eles fizeram várias músicas, Mark e eu conversamos a respeito então eu disse, ‘Vamos lançar um disco’. Naquela altura eles tinham tocado o suficiente para começar um bom processo de divulgação então eu peguei todo o dinheiro que tinha guardado e nós entramos em estúdio durante dois dias.” Era uma época de muita empolgação para o time. O estúdio foi o Doubletime em Santee, Califórnia, onde o engenheiro era Jeff Forrest. “Eles estavam tocando bastante no SOMA e levando muita gente para os shows,” Forrest explicou para este livro. “Eles ainda estavam na Poway High School mas levavam ótimos públicos para seus shows. A ideia com a demo, como com qualquer banda, era a de espalhar a música da banda para conseguir outros shows em vários locais. Então eles tinham esperanças de aumentar seus públicos, ampliar os horizontes e ir para outras cidades.” Já estava funcionando; o grupo tinha ido a lugares como o Soul Kitchen em El Cajon. Tom mesmo voltou para Poway High onde vendia cópias de Flyswatter no recreio para conseguir que a molecada gostasse de sua banda, além de colocar cartazes em quaisquer lugares que conseguisse. E o público crescia à medida que eles faziam isso. “Eu fui a alguns desses shows,” se lembra Jeff Forrest. “Era louco; quando eles tocavam o lugar ficava cheio havia umas 600 pessoas indo à loucura. Eu acho que eram todos skatistas naquela época.” Seiscentos fãs? Mais do que suficiente para justificar o tempo gasto em estúdio. O projeto seria intitulado Buddha. “A fita Buddha era basicamente uma coleção que representava quase todas as músicas que havíamos criado até aquele ponto,” explica o baterista Scott Raynor. “Mark tinha um amigo que pagou pela gravação e nós fomos até o Doubletime e fizemos tudo. A fita foi prensada em fábrica. Eu não me lembro agora se fizemos as capas artesanalmente e embalamos todas as fitas ou se elas já vieram assim. Começamos a vendê-las nos shows e na escola, e ajudou bastante para que as pessoas fossem aos shows.” 27
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Na verdade, as fitas foram fabricadas em um local profissional, mas os encartes para as fitas foram fotocopiados, cortados e dobrados à mão. A banda dirigia pela cidade para entregar cópias a lojas onde conversavam com seus donos para que vendessem as fitas. Havia também uma máquina para a banda fazer suas camisetas malucas, que hoje em dia tornaram-se itens de colecionador. As sessões de Buddha - como foram chamadas - foram marcadas em torno dos horários de trabalho e da escola, mas infelizmente naquela época Mark estava sofrendo um pouco com problemas de saúde. Destemida, entretanto, a banda continuou como quaisquer bons punks deveriam - comprovando sua excelente atitude, de acordo com Forrest, que diz que sessões tão curtas eram comuns. “Várias bandas passaram pelo estúdio,” ele diz. “Várias delas com o mesmo estilo musical do Blink. Mas o Blink parecia não ser pretensioso; eram apenas jovens se divertindo. Buddha foi gravado ao vivo e adicionamos os vocais depois. Dois dias e tudo estava pronto - incluindo a mixagem. É meio que o padrão para uma jovem banda punk. Eles venderam várias fitas em seus shows.” O rock estava crescendo nessa época; guitarras estavam na moda, assim como ser diferente, alternativo ou fora do comum. Entre 1991 e 1994 as paradas foram invadidas por bandas como Nirvana, Soundgarden, The Smashing Pumpkins, Pearl Jam, Mudhoney e Alice In Chains, todas elas que, de uma maneira ou outra, faziam parte do movimento dominante: o grunge. O grunge tinha sido levado ao mainstream por uma variedade de grupos de Seattle e cidades próximas, com sua mistura de guitarras sujas e barulhentas com versos limpos que atraíram uma geração de jovens que achavam que o heavy metal era ridículo mas eram muito novos para terem sido punks em uma geração anterior. A rudeza do grunge tinha sido influenciada diretamente pelo punk e alguns elementos do metal, e as letras falavam de apatia, rejeição, alienação e desencantamento com a sociedade. As paradas de 1994 estavam cheias desses temas mas junto com as bandas de grunge, uma nota mais positiva estava começando a ser tocada por ban-
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das como The Offspring, Rancid e Green Day, com os dois últimos trazendo mais questões políticas do que os grupos de grunge, assim como serem mais apaixonados pelos acordes e energia de bandas como Descendents, Ramones e outras no mesmo estilo. Os californianos do Green Day em particular tinham explodido para a consciência musical e trouxeram novo interesse no punk rock para uma geração inteira. Apesar do fato de ter assinado com uma grande gravadora ter gerado críticas a partir dos punks mais radicais, a ação foi um sucesso absoluto - o terceiro álbum da banda, Dookie, lançado em 1994, vendeu 15 milhões de cópias ao redor do planeta. Mas todo mundo tem que começar em algum lugar. Billie Joe e seus rapazes começaram com shows pequenos e uma gravadora independente, o que lhes deu as manhas da rua e credenciais com o punk. Eles eram uma inspiração imensa para bandas de todo o mundo - e para um trio de músicos que estava a poucos quilômetros dali, a ascensão do Green Day representava o rascunho para o sucesso. Em contraste, San Diego em 1994 estava longe de ser um bom lugar para atividade musical; havia shows para se tocar mas, de acordo com o músico contemporâneo AK Skurgis, se preparar para tais apresentações era algo complicado. “Não havia estúdios de ensaio o suficiente,” ele diz. “As bandas alugavam galpões, garagens - quaisquer lugares que pudessem para economizar tempo e dinheiro e as inevitáveis brigas com proprietários e a autoridade. Meu local de ensaio favorito eram os estúdios Nestor em El Cajon.” Havia, entretanto, uma quantidade surpreendente de casas de shows onde mostrar seu grupo, continua AK. “Havia poucos lugares realmente legais: The Casbah, The Spirit, The Velvet, Crowbar, Bodies, SOMA - e alguns cafés traziam bandas ao vivo também. Eu sei que o Café Chabalaba o fazia... assim como o The Ché Café na UCSD. O Blink era uma pequena banda de power pop coesa.” Graças em parte à habilidade do trio em ensaiar na casa de Scott Raynor ao invés de ir atrás dos poucos lugares na cidade, além do sucesso de suas fitas em lhes conseguir shows, o Blink estava se tornando parte de um circuito que tinha nomes como o Ten Foot Pole. 29
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“Como um cara de fora chegando para fazer shows,” explica Denny Jegard dessa banda, “tudo se resumia a tocar no SOMA, que tinha um palco grande onde poderíamos abrir para bandas maiores como o Pennywise, ou sermos a atração principal quando estávamos bem, e um palco menor onde tocamos algumas vezes. Eu não me lembro de ter feito um show ruim lá, e eu me lembro de respeitar muito o Len, dono/promotor e sua equipe. Depois aquele prédio foi fechado e um novo foi aberto, também chamado SOMA (eu acho), onde tocamos com o Millencolin em uma turnê da coletânea Punk-O-Rama da Epitaph.” “San Diego é radical,” Tom DeLonge disse a John Robb. “É muito suburbana. Várias praias, vários surfistas... vários cinemas. São os subúrbios. San Diego parece ter mais locais legais do que qualquer outra cidade nos Estados Unidos.” 3 Sempre houve um fascínio com o punk em SD, algo que o trio gostava bastante. “É uma enorme quantidade de punks,” continuou DeLonge. “É maior no Sul da Califórnia do que em qualquer outro lugar, além de Quebec. É porque o Sul da Califórnia tem tantos skatistas; a cena musical é tão grande lá porque você está ao lado de Los Angeles e San Francisco - o centro da indústria do entretenimento. Todos esses jovens surfando, andando de skate e praticando snowboard gostam de estilos de vida alternativos. Eles não querem ouvir o rádio, eles querem ouvir coisas mais desafiadoras. O Sex Pistols abriu as portas e a onda seguinte de bandas veio... e era ainda mais furiosa. Era algo muito baseado em Nova Iorque/Costa Leste; a cena da Costa Oeste não era tão furiosa. Cada nova banda punk tinha um novo ponto de vista e tornou-se mais popular e aprendeu a tocar. O Bad Religion começou com os oohs e aahs e os vocais malucos. Os subúrbios californianos da classe média não têm nada com o que se aborrecer. Nova Iorque é escura, sombria e fria. Isso produz música diferente.” 4 Blink, graças ao crescente número de fãs e bom momento, tinha agora subido para o palco principal no recém reformado SOMA, algo que os deixava extremamente felizes mas também assustados. 3
Entrevista com John Robb, 2000
4 Ibid 30
A Biografia
“Os shows no SOMA eram muito divertidos,” diz Scott Raynor. “Eventualmente nós começamos a fazer o papel de atração principal. É difícil descrever em palavras o sentimento misturado de medo e empolgação que eu tinha quando começamos a ver filas de pessoas na porta do local esperando para nos ver tocar.” O álbum Buddha tinha saído em fita pela Filter Records e estava claramente fazendo com que a banda fosse percebida pelos jovens em todos os lugares. Para a banda e o novo chefe de gravadora, foi uma época excitante onde todo mundo estava no mesmo barco. Enquanto isso, a banda tinha que se sustentar de alguma maneira. San Diego podia ser uma área relativamente rica mas isso não significava que as coisas vinham de graça. DeLonge possivelmente tinha um dos trabalhos mais pesados que existem, trabalhando sua musculatura todos os dias. “Eu levantava concreto para os perfuradores,” ele falou a respeito de seu trabalho, que também envolvia dirigir e carregar sacos de 50 quilos por aí. “[Não eram] apenas sacos, [havia] paletes. E a empilhadeira quebrava, então eu tinha que erguer paletes de concreto e areia com a mão.” 5 Que nunca seja dito que ele tem medo de trabalhar. Sonhos de tornar a música em trabalho estavam aparecendo e em 1994 a banda estava prestes a alcançar o cálice sagrado - um contrato com a bem estabelecida gravadora Cargo Records.
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Entrevista com a Thrasher, 1996
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Criando uma base de fãs no undergr ound por pura e simples mente imensa vontade de tocar, empenh o e divulgaç ão dos seus bons discos, o blink-18 2 chegou até uma grande gravado ra e explodiu com um disco que trouxe músicas , clipes e nus artístico s que fizeram as pessoas sorrirem como há um bom tempo ninguém fazia.
s, da da , as su nto s ma is sé rio oli ns co ira rre ca a um io ve De po is dis so , ele me nto s qu e raç ão e o ret orn o, tod os pa se a , ros cu es is ma s dis co ia. os pa ra um a gra nd e his tór dã o ton s ép ico s e dra má tic na da se i qu e nã o há as m i, se o nã si m es m o e pu nk ou nã o, eu fa ze r vo cê rir de e S e o bl in k- 18 2 é qu do r do ic as e ta ár io e lib er nd as , no va s m ús ba s va no m ai s re vo lu ci on re ob m m ae st ria . en qu an to de sc to ob rig ad o! ) co ui co m se us am ig os (m z fe 2 18 kis so o bl in no vo s es til os . E