Dave Grohl - Nada a perder

Page 1





DAVE GROHL

Nada a Perder


Publicado originalmente em inglês pela Titan Books sob o titulo: DAVE GROHL - NOTHING TO LOSE, em 2006 e atualizado em 2011. © 2006, 20011 Titan Books - Ltd of 144 Southwark Street, London SE1 OUP, England. ISBN original: 978-08-576-8597-1 Direitos de edição e tradução para a língua portuguesa. © 2012, Edições Ideal / Ideal Records ISBN - 978-85-62885-03-7 Editor: Felipe Gasnier Maria Maier Diagramação e Capa: Felipe Gasnier Tradução: Tony Aiex Revisão: João Gremmelmaier Candido Aline Cristina Krupkoski Fotos: Steven Dewall/Redferns (Capa) / Rick Diamond/WireImage / Jeff Kravitz/FilmMagic, Inc Kevin Nixon/Classic Rock Magazine. Getty Images Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Heatley, Michael DAVE GROHL - Nada a Perder / Michael Heatley ; Tradução: Tony Aeix - SBC/SP: Edições Ideal, 2012 Título original: DAVE GROHL - NOTHING TO LOSE ISBN: 978-85-62885-03-7 1. DAVE GROHL (Músicos de Rock) 2. Grupo de Rock 3. Biografia Indices para catálogo sistemático I. Músicos de Rock: Biografia e obra 782.42166092

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou de qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Edições Ideal, na pessoa de seu editor (Lei n˚9.610, de 19.2.98) Todos os direitos desta edição, dentro do território brasileiro reservados pela: Edições Ideal - Rua João Pessoa, 327 sala 23 - CEP: 09715-000 - SBC - SP Telefone: 11 41235765 - www.edicoesideal.com


DAVE GROHL

Nada a Perder Michael Heatley Tradução:

Tony Aiex



Índice

INTRODUÇÃO.....9 Primórdios.....13 O CAMINHO PARA O NIRVANA.....27 O FENÔMENO NEVERMIND.....43 O ZEPPELIN EXPLODE.....69 MEMENTO MORI.....83 COMEÇANDO COM FORÇA.....91 CORTANDO E MUDANDO.....115 PRIMEIRA DIVISÃO.....151 AVENTURAS PARALELAS.....173 PÚBLICO E PRIVADO.....185 “ISSO NUNCA ENJOA...”.....199 DIscografia.....222 VIDEOGRAFIA .....230 Índice Remissivo.....236



Introdução Bateristas que cantam... Bom, há o Phil Collins, Ringo Starr, Don Henley, Roger Taylor e, hmm – isso é mais ou menos o que existe. Seria necessário um quê de astrólogo para prever que o homem cabeludo das baquetas quebrando tudo atrás de Kurt Cobain e seus hinos grunges no Nirvana iria tornar-se o líder de uma das maiores bandas de rock da atualidade. Dave Grohl confundiu estereótipos e excedeu as expectativas ao emergir como líder do Foo Fighters, uma banda que começou como um projeto solo de estúdio e ao mesmo tempo se tornou possivelmente o primeiro supergrupo do milênio. É uma banda cuja popularidade está intrinsicamente ligada ao próprio Grohl – tanto que até o recrutamento do ex-baterista de Alanis Morissette, Taylor Hawkins, e após dois álbuns, poucos além dos fãs mais devotos poderiam te dizer o nome de outro membro do grupo. A banda foi batizada com o nome de Foo Fighters, expressão dada a misteriosas bolas prateadas de luz vistas por Aliados e Alemães sobre o Reno em Dezembro de 1944, e apesar de serem explicadas oficialmente como fenômenos naturais, os pilotos de avião acreditavam que fossem de origem extraterrestre. De maneira parecida, Grohl deu o nome de Roswell para sua gravadora, em homenagem ao nome da cidade no Novo México onde, diz a lenda, um OVNI caiu em 1947 e evidências dos visitantes não-identificados ainda estão guardadas em segredo. Depois de utilizar um disco voador na capa do single de estreia do Foo Fighters e uma arma-laser no primeiro álbum, Dave iria parar com as ligações a extraterrestres.

Nada a Perder

9


Procure o nome “Grohl” no Google e você encontrará mais de 15 milhões de referências. E apesar de nem todas serem relacionadas ao nosso cara, não há tantas outras alternativas. Nada mal para um baterista. Ainda que a bateria sempre tenha sido o meio para um fim, para um cara cujo primeiro instrumento foi uma guitarra. E desde que começou com o Foo Fighters, a bateria se provou ser um passaporte para a liberdade quando as pressões aumentaram. Ele sempre estará cotado como um dos mais importantes bateristas de sessões do mundo, e há poucas dúvidas de que se o Led Zeppelin decidisse fazer uma apresentação final ao vivo, seu antigo fã de Springfield, Virginia seria a primeira escolha para o lugar do saudoso e grande John Bonham. É claro, é o curto tempo de Dave no Nirvana que lhe garante um lugar na história do rock – mesmo que ao escrever esse texto, ele já tenha passado três vezes mais tempo com o Foo Fighters. A banda um dia classificada por seu líder Kurt Cobain como “musicalmente e ritmicamente retardada” mostrou que, assim como a primeira onda punk, o rock precisava dar um passo para trás para seguir em frente. Desde o lançamento do clássico álbum Nevermind, em 1991, bandas e discos têm sido regularmente classificados como pré ou pós-Nirvana. Se Grohl aprendeu uma coisa de sua experiência com o Nirvana, foi isso: lide com a mídia, mas demarque os limites desde o começo. Essa tática de “cara legal” lhe proporcionou passar por um divórcio com poucas consequências negativas e manteve seu nome fora das capas dos tabloides na maioria das vezes. Privacidade não tem preço nos dias de hoje, com a Internet e notícias de televisão, e seu modo de lidar com a mídia sempre foi lição aprendida, sem dúvidas, de observações próximas de problemas dos seus antigos colegas de banda. É certo que Dave Grohl surfou para o sucesso em uma onda de aprovação pública. Ele é o “irmãozão” de todos, melhor amigo, enfim. Os vídeos do Foo Fighters mostram uma escolha de senso de humor que sem dúvida alguma teve imensa importância em converter os não-comprometidos, e parece não haver motivos para que seu recorde de 17 anos de sucesso não possa ser substancialmente estendido no futuro.

10

Dave Grohl


Em uma era onde há intensa categorização de estilos musicais, o Foo Fighters provou ser adepto de manter seus pés em vários deles. Seus vídeos têm alta rotação na MTV, VH1 e outros canais de televisão mais populares, enquanto a conexão com o Nirvana garante que eles nunca serão ignorados pela fraternidade do heavy metal. E os singles parecem ter ganchos o suficiente para pegar os ouvidos dos responsáveis pela programação das rádios – até mesmo aqueles obcecados com música eletrônica, como os da Radio 1 Britânica. Um exemplo disso tem sido a habilidade dos Foos de arrebatar prêmios Grammy sem nunca serem acusados de terem “se vendido”. Ao invés disso, há um senso comum como se eles tivessem subvertido a ordem – a banda que faz a limpa nos prêmios mas ao mesmo tempo mantém sua credibilidade. Uma relação especial foi criada com o Reino Unido graças a alguns personagens simpáticos como Steve Lamacq e Jo Whiley da Radio 1 e o jornalista Everett True. O país também foi casa de vários shows históricos do Nirvana, então Dave sempre gostou de tocar para fãs Britânicos. E um show em 2006 no Hyde Park para 60.000 espectadores cimentou a posição do Foo Fighters como uma das maiores atrações ao vivo do país, seguindo os passos de Roger Waters e The Who. Em 2005, a revista New Musical Express perguntou a Grohl, relaxado e feliz em seu estúdio 606 em Northridge, California, se ele tinha mais orgulho de suas realizações com o Foo Fighters ou com o Nirvana. Vindo do cara que um dia perguntou “Ao final do dia, eu ainda serei lembrado como o cara que tocou bateria no Nirvana, não importa o que eu faça a respeito?”, a resposta era previsível. “Definitivamente o Foo Fighters”, ele disse ao jornalista Ian Winwood, “porque é muito mais pessoal para mim. Quando eu penso no Nirvana é como uma grande nuvem. Você tem que lembrar que eu só estive na banda por três anos e meio e tudo aquilo aconteceu em tão pouco tempo. Na maioria do tempo nem parece realidade para mim – isso e o fato de que eu fui o sexto baterista da banda... Mas essa outra coisa é um trabalho de amor.” Aproveite os frutos desse trabalho – e esse registro deles.

Nada a Perder

11



Primórdios David Eric Grohl nasceu em Warren, Ohio, uma cidade com menos de 50.000 habitantes, em 14 de Janeiro de 1969. A ascendência de sua mãe, Virginia, é Irlandesa, e de seu pai James, Alemã, daí o seu nome. Sua casa ficava perto da Kent State University, o centro de aprendizagem onde, no ano seguinte, quatro estudantes protestando contra a Guerra do Vietnã foram mortos por Guardas Nacionais. Neil Young escreveu “Ohio” como uma resposta sentimental aos eventos. Dave passou a maior parte de sua infância em Springfield, Virginia, para onde a família se mudou depois de Columbus quando ele tinha três anos de idade; seu pai James escrevia para um jornal do grupo Scripps-Howard e precisava estar perto de Washington DC para seu trabalho. (Com um timing impecável, eles se mudaram logo antes da explosão do escândalo Watergate). Desde então Dave tem descrito seus pais como sendo lados opostos do espectro político, seu pai um conservador austero e sua mãe uma liberal de pensamento aberto. Seus pais já haviam tido uma filha, Lisa, três anos antes de Dave. Mas a feliz família americana média seria machucada com o divórcio dos pais; Dave tinha sete anos de idade. Antes desse triste evento, Dave havia testemunhado seu primeiro evento de música ao vivo quando, com apenas dois anos, visitou a Ohio State Fair com a família e viu o Jackson Five. Depois do divórcio, James voltou para Ohio enquanto Virginia, uma professora, viu-se como responsável pelo ganha-pão da família. Ela foi forçada a conseguir trabalhos extra para ir atrás do sustento de todos e Dave lembra de “difíceis períodos quando nós comíamos manteiga de amendoim e sanduíNada a Perder

13


ches”. A relação dos dois ficou mais forte na adversidade, a ponto de Dave ter incluído sua mãe, ainda jovem de espírito, nas atividades de backstage de turnês do Foo Fighters. “Minha mãe trabalhou em três empregos para sustentar a mim e minha irmã”, ele explicou. “Ela era uma professora de Inglês do Ensino Médio. Ela trabalhava em uma loja de departamentos à noite. E no fim de semana, ela fazia cotações para uma companhia que lavava carpetes. Ela trabalhava seus dedos até os ossos para garantir que a gente sobrevivesse. Agora ela está aposentada, e eu comprei a casa em que a gente cresceu e construí um outro novo setor nela. Ela vem para shows das turnês em lugares especiais, como a Austrália. Nós nos divertimos muito. Nós fomos para reservas de animais e alimentamos cangurus.” No meio dos anos setenta, a consequência inevitável de uma família com apenas um pai era que Dave tinha muito tempo sem supervisão de ninguém em suas mãos. Uma boa proporção desse tempo, se é possível acreditar, foi gasta deitado no chão do jardim tarde da noite esperando ver um OVNI: “Eu queria que eles me abduzissem. Era tipo, Me levem! Me Levem! Por favor me tirem daqui.” Outro interesse era hóquei no gelo, e seu primeiro ídolo veio da esfera do esporte – Jim Craig, o goleiro do time Americano de hóquei. “Jim era, sem dúvida alguma, o maior herói na minha vida quando eu era uma criança. Quando eu era jovem, eu jogava hóquei, lacrosse e outras coisas, e por algum motivo, durante as Olimpíadas daquele ano, quando o time dos Estados Unidos venceu, ele deixou uma impressão particular em mim. Ele é a única pessoa que eu lembro de ter sido um herói para mim quando eu era pequeno.” A música “My Hero” do Foo Fighters pode ter sido inspirada em Craig. Vários anos depois, quando o Foo Fighters tocou nas Olimpíadas de Inverno de 2002, Craig telefonou para ele em um ponto em que Dave estava tendo uma ansiedade pré-show acima do normal devido a um grande período de inatividade. “Ele me deu um discurso que, eu juro por Deus, mudou minha vida. Eu não lembro exatamente o que ele disse, mas foi algo parecido com, ‘Bem’, com seu sotaque de Boston, ‘hoje à noite você vai fazer o que o time dos Estados Unidos fez em 1980’. Foi tão incrível! Surreal.” 14

Dave Grohl


Grohl classifica seu progresso acadêmico como “muito bom até que eu entrei no Ensino Médio. Aí eu comecei a fumar maconha e não me importava com nada”. Ele diz que se dava bem com todos os estereótipos sociais – “os durões, os drogados, os geeks, praticamente todo mundo”. Aos quatorze anos de idade ele passou da maconha para os cogumelos em um Natal quando um amigo lhe deu alguns de presente. De forma não muito inteligente, ele os levou para a festa de Natal da família, mas sua “corrida ao redor da festa, me divertindo como nunca” foi interrompida quando um amigo de sua mãe o puxou de lado e o acusou de estar sob o efeito de cocaína. Ele não foi criado em uma casa religiosa – “Não havia muita coisa da Igreja rolando” – mas as festas eram celebradas com sentimento de família. O Natal, por exemplo, significava “um monte de whisky e um monte de presentes. Sempre havia uma festa gigante – a gente nem precisava mandar os convites, já que cem ou mais amigos próximos iriam aparecer e tudo se tornaria uma furiosa festa com bebidas. Essas festas eram sempre bastante épicas.” A escola rapidamente se transformou de uma atividade obrigatória para opcional à medida que se aproximava a puberdade, mas Dave, agora o homem da casa, não estava afim de estragar o ambiente. “Eu podia cuidar de mim mesmo facilmente, então foquei em fazer com que a família estivesse feliz – Eu tenho feito isso desde então”. Os professores na Fairfax County High viam muito potencial desperdiçado: “Meus boletins antigos registravam preocupações com minha hiperatividade”, ele lembraria depois. “Os professores todos diziam, ‘David poderia ser um grande aluno se ele conseguisse ficar quieto em apenas um lugar’. Havia vários pedidos para que minha mãe fosse até lá para conversar sobre o assunto”. Seu pai, um requisitado escritor de discursos para o partido Republicano que uma vez recusou um emprego com o candidato Bob Dole, assistia tudo à distância e daria a seu filho o “State Of The Union Address” quando ele fizesse besteira. Esse discurso é feito uma vez por ano pelos presidentes dos Estados Unidos para falar sobre as prioridades do país. Dave admitiria depois que, apesar de ser um pouco intimidado por seu pai, ele provavelmente cresceu com uma atitude mais tolerante em sua ausência. “Eu

Nada a Perder

15


aprendi a aceitar a relação que nós temos, e ele é um grande cara, mas crescer sem uma grande influência masculina teve uma grande influência em mim. Quando eu tinha 12 anos, eu estava em grupos de teatro e eles eram predominantemente gays. As pessoas normalmente se afastam – ou têm medo – de pessoas que são gays. E crescendo em uma área rural de Virginia onde todo mundo ou é fazendeiro ou trabalha para o Pentágono, ser tão tolerante quanto aos gays era um verdadeiro bônus.” Dave descreve os Grohls como “uma família muito próxima” e sugere que o divórcio de seus pais veio muito cedo em sua vida para que ele o entendesse completamente. “Simplesmente parecia anormal para todos meus amigos terem um pai; Eu achava que crescer com minha mãe e minha irmã era como deveria ser.” Ele descreve Virginia como “forte, independente, doce, inteligente e engraçada... simplesmente a melhor.” A primeira experiência musical de Grohl, como muitos de sua geração, veio com o programa de televisão Saturday Night Live. “O B-52’s tocou ‘Rock Lobster’ em um programa que eu estava vendo em 1979 – eles simplesmente me deixaram doido.” Sem que Dave soubesse, Kurt Cobain também estava aproveitando essa experiência e a achando (além da performance do Devo) igualmente arrebatadora. Então o que foi que o atraiu ao B-52’s, aquele quinteto estranho de Athens, Georgia? “Aquelas guitarras! Duas cordas! Que legal! Aquela bateria! Slap slap slap! Simples assim! As mulheres pareciam que eram de outro planeta e tudo se ligava – as capas dos discos, os sons, as roupas, a iconografia, o logotipo, tudo. Eu acho que quando você é uma criança, é isso que você procura, um sentimento unificado com uma banda, e era isso que o B-52’s oferecia. Suas músicas eram fáceis de aprender, elas fizeram com que eu começasse a tocar instrumentos com facilidade. Essa foi definitivamente a primeira coisa depois do KISS ou Rush que me absorveu de tal maneira.” A mamãe Virginia havia, em sua juventude, cantado em um grupo vocal e o pai de Dave tocou flauta, então quando Dave apareceu com alguma habilidade musical ela ficou feliz em aceitá-la. O papai, em compensação, era um flautista tão disciplinado quanto jornalista, e estimulava dedicação. “Ele

16

Dave Grohl


achava que a menos que você praticasse por seis horas em um dia, você não poderia ser chamado de músico; esse tipo de método de trabalho teve um grande impacto em mim”, diz Grohl. “Meu pai era um cara bem sério, mas um doido por jazz. Eu sempre estava cercado por cultura, música e literatura então eu fui definitivamente a exceção no meu bairro. Eu não cresci como um completo idiota.” De forma surpreendente, os Grohls não tinham um toca-discos, mas a mãe de Dave, como professora, podia trazer uma vitrola da escola aos finais de semana para que eles pudessem ouvir seus discos. Normalmente eles eram escolha da mãe, como os Beatles, até que Dave juntou dinheiro suficiente para começar a comprar os seus próprios álbuns. Todo mundo se lembra do primeiro disco que comprou. No caso de Dave, aos sete anos de idade, foi uma compilação da K-Tel de hits do rock. Poder ouvir a instrumental “Frankenstein” de Edgar Winter gravada em 1973, com Ronnie Montrose na guitarra solo, foi “a primeira vez que eu ouvi música que mexeu comigo. Eu achava aquilo a coisa mais legal do mundo. Era minha favorita”. Um violão Espanhol com cordas de nylon sempre estava pela casa desde que sua mãe o comprou para seu pai como presente de Natal. Dave conseguiu aprender alguns sons dos Beatles sem ajuda – com sua mãe tendo comprado o catálogo completo do Fab Four em partituras, ele até conseguiu tocar a favorita “Rocky Rackoon” para um teatro cheio de estudantes do Ensino Médio. As coletâneas “Red” e “Blue” dos Beatles foram marcos de infância, com “Paperback Writer” sucedendo “Rocky Racoon” como sua favorita. “Ela tinha aquele groove sacana. Eu achava ótimo que eles poderiam parecer verdadeiros cavalheiros e ao mesmo tempo soarem como caras maus.” Sua primeira paixão de adolescente foi por Chrissie Hynde, vocalista do grupo The Pretenders, ainda que Dave insistisse que “Eu nunca fui muito de colocar pôsters de mulheres no meu quarto, eu ligava mais pro rock – Sex Pistols e KISS.” Com toda essa atividade relacionada ao pop rolando, era inevitável que ele tivesse a permissão para fazer aulas de música – nem que fosse para fazê-lo parar de tocar seu riff favorito, o de “Smoke On The Water” do Deep Purple toda hora naquelas seis cordas de nylon. A próxima parada? Uma guitarra elétrica...

Nada a Perder

17


A ocasião foi seu décimo segundo aniversário, e o instrumento uma Silvertone. Essas guitarras de barganha ganharam um status icônico devido a tantos nomes terem tocado seus primeiros solos em uma delas, além do fato singular de que algumas delas tinham um pequeno amplificador incorporado a seus cases, suprimindo a necessidade de gastos maiores com outra compra. A parente levemente mais cara da Silvertone, a Danelectro, foi idolatrada por nomes como Jimmy Page do Led Zeppelin, mas é a Silvertone, com seu corpo feito de placas de Masonita ao invés de madeira de verdade, que tem o maior lugar na mitologia do rock’n’roll. Apesar de Dave ter expandido logo para uma Les Paul (uma “Memphis” ao invés da inalcançável original da Gibson), a Silvertone tem um lugar guardado em sua memória. Falando de Jimmy Page, sua banda, o Led Zeppelin, nunca estava longe do rádio do Fusca de Dave. Ele dirigia para a escola, “muito chapado”, ouvindo várias e várias vezes à faixa “Friends”, do terceiro álbum do Zep, de 1970. Ele acredita que isso o levou ao “meu próprio pequeno estado de transe, como o Sting com aqueles shamans na Amazônia. Mas tudo que eu tinha era um bong e uma fita do Led Zeppelin.” De forma interessante, a dicotomia acústica/ elétrica que o Zep mostrou nesse álbum iria refletir na música do Foo Fighters anos depois, principalmente no disco parcialmente acústico In Your Honor. Dave já disse publicamente que “o Heavy Metal não existiria sem o Led Zeppelin – e se existisse, seria uma droga.”. Uma coleção de tatuagens de círculos ligados em seus pulsos e braços inspirados pelo baterista John Bonham só servem para enfatizar a questão. Mas sua primeira aventura musical foi, tecnicamente falando, uma dupla sem bateristas, a The H G Hancock Band, que ele formou com seu melhor amigo Larry Hinkle. Os dois celebraram seus laços de forma permanente na forma de um pequeno “X” tatuado no cotovelo de cada um. “Larry e eu decidimos que seríamos ‘irmãos’ e ambos fizemos essas cruzes em nossos cotovelos quanto tínhamos doze anos de idade. Mas eu esqueci completamente sobre aquilo e oito anos depois eu estava no trânsito com meu braço pra fora da janela, aí eu olhei para o espelho e vi esse “X” no meu cotovelo. Eu fiquei tipo, ‘Que diabos é isso?’, levei alguns minutos até me lembrar. Claramente é a tatuagem mais idiota que

18

Dave Grohl


eu já fiz.”. Ela rivaliza, de certa maneira, com “uma tatuagem do Black Flag que eu mesmo fiz com uma caneta quando tinha 11 anos de idade.” O Led Zeppelin também deixou uma impressão permanente depois que Dave ouviu a antêmica “Stairway To Heaven” quando tinha sete ou oito anos de idade. “Minha mãe sempre sintonizava a mesma estação de rádio... Zeppelin foi a primeira banda que eu ouvi, e eu fiquei obcecado com ‘Trampled Underfoot’ e ‘No Quarter’ durante um ano. Tudo naquela banda é alucinante.”. Ele também admite um espaço para o pop melódico do Abba, enquanto os hard-rockers Australianos do AC/DC também tinham espaço em uma lista pessoal dominada por nomes como Rush e KISS. Dave cursou a Thomas Jefferson High School for Science And Technology perto de Alexandria (cidade onde fica o bairro de “Arlandria”, presente na letra de “Headwires” e título de uma faixa do disco Wasting Light) e era muito popular com seus colegas, que o elegeram vice-presidente de classe. Isso lhe dava o privilégio de tocar alguns minutos de música, tipicamente bandas como o Bad Brains ou Circle Jerks, através do intercomunicador da escola. Mas seu auto-confesso excesso de necessidade por drogas (“entre os 15 e os 20 anos eu fumava de quatro a cinco vezes por dia... e muito”) refletiu em suas notas acadêmicas e ele foi transferido, a pedido de sua mãe, para uma escola Católica local, a Bishop Ireton, onde ele deveria andar com um pessoal mais “careta”. De fato, ele descreve os dois anos na escola como “uma memória bem assustadora. Por que eu fui? Eu era um garoto malvado – não me importava com nada, de verdade. Uma lembrança contínua dessa escola é ter ficado muito chapado e sentado e ter que passar por todo o ritual de orações da manhã. Eu estava tão chapado que aquilo meio que me levou a um ataque de pânico.”. Talvez as drogas compensassem a tendência que Dave tinha de ser “super hiperativo”. Quando era adolescente, Dave conversava com seu gravador de fitas sobre seus problemas para conseguir dormir. Aí ele rebobinava a fita e ouviria a si mesmo, até cair no sono. Nada convencional, talvez, mas parece ter funcio-

Nada a Perder

19


nado. Ele tem, e revolou isso depois, adaptado uma aborgadem confessional parecida para seu processo de composição. “Há algumas coisas que você não quer dizer em voz alta, mas por algum motivo quando há 10.000 pessoas dizendo com você, tudo fica bem.”. Algo e tanto para a hora de dormir. Uma viagem de férias em família em 1982 aos 13 anos de idade iria abrir seus olhos e ouvidos. A Família Grohl não sabia, enquanto fazia sua viagem anual para Evanston, Illinois para visitar seus parentes, os Bradfords, que um deles havia passado por uma experiência que mudou sua vida. “A prima Tracey tinha se transformado na punk Tracey - cabelos espetados, correntes, tudo! As semanas seguintes mudaram minha vida para sempre! A coleção de discos dela era maravilhosa.”. O próximo passo era ver seu primeiro show de rock, com as bandas Naked Raygun e ROTA, em um clube local chamado Cubby Bear’s. “Eu corri imediatamente para a loja de discos e comprei o single “Nazi Punks Fuck Off”, do Dead Kennedys – uma pura e simples bomba de hardcore.”. Ele “totalmente se apaixonou por essa inacreditável rede underground da qual ela fazia parte... era selvagem, cara. Dali em diante foi sempre aquilo ali.”. De uma hora para outra as covers de Beatles deram lugar ao punk rock, levando a uma abordagem renovada em relação a sua guitarra, com sons mais agressivos em mente. “Sentado no sofá assistindo TV, eu sempre estava com a minha guitarra nas mãos”, ele diz. “Minha mãe falava tipo, ‘Guarda isso e vá fazer sua tarefa de casa!’”. Ele até guardava a guitarra, mas aí pegava um par de baquetas. A inspiração para sua recém–descoberta direção percussiva parece ter vindo após ver o Devo, uma banda de estilo robótico de Akron, Ohio, que ele achava “ter sido trazida de algum universo paralelo. Todo mundo na minha série na escola queria estar no Devo, eles eram esses alienígenas que você realmente queria conhecer, realmente queria fazer parte. Além disso eles eram de Ohio, que é de onde eu sou, e servia de inspiração não apenas por ser uma banda de Ohio devastando Nova York, mas também por eles serem tão avançados, recriando-se tanto. Além disso suas músicas eram bastante simples para se aprender a tocar. Elas meio que me fizeram começar a tocar bateria.”.

20

Dave Grohl


A troca da guitarra para a percussão resultou em novas aulas na escola – mas como o dinheiro era curto e a casa pequena, um kit de bateria para tocar em casa precisava esperar. Enquanto ele economizava e guardava dinheiro, uma improvisação com travesseiros foi criada e era tocada com grandes baquetas de uma banda marcial que ele havia misteriosamente adquirido: Dave admite o fato de que ele tinha que bater forte para ouvir alguma coisa e isso pode ter influenciado em seu estilo pesado de hoje em dia. Uma vez com os equipamentos corretos, ele começou a tocar sons de Rolling Stones e The Who em uma banda local. Bailes, aniversários e até uma casa de repouso estavam entre os locais onde a banda mandava ver em uma seleção de covers de rock clássico. A essa altura, Dave Grohl se parecia com qualquer outro jovem Americano da época – com um corte de cabelo que ele definia como “roqueiro do futebol – ‘mullet’ parece um pouco depreciativo! Eu tinha 13 anos de idade e ouvia The Police. Todo mundo no time de futebol tinha um corte de cabelo como o do Sting em 1983.”. Logo, como todos os adolescentes daquela idade, ele se apaixonou. Tinha 16 anos de idade, mas o objeto de sua afeição se mudou para o Arizona com sua família não muito tempo depois deles terem começado a sair. “Partiu meu coração. Tudo que eu queria fazer era desistir da escola e pegar o carro para estar com ela.”. Pouco tempo depois, ele perdeu sua virgindade com uma jogadora do time de basquete junior. Mas foi uma experiência longe de ser prazerosa, e realizada em silêncio quase absoluto. “Eu era um calouro, e eu nunca mais a vi novamente. Ela mandou em mim como um animal dentro de uma jaula. Foi como o filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, apenas silêncio até que o monolito veio caindo em cima.”. Apesar disso, como sempre, ele poderia achar consolo em suas ambições musicais. Na verdade, ele iria revelar depois que a arte de tocar bateria e fazer amor são, em sua visão, relacionadas. Ambas tem a ver com “groove e força. A coisa mais importante em foder é o seu tempo e ritmo, sabendo quando sair pra trás e quando deixar rolar... Você vai de algo lindo, gentil e delicado a apenas bater em alguém pra lá e pra cá.”.

Nada a Perder

21


Seu ídolo – como baterista, ao invés de amante – foi inevitavelmente John Bonham do Led Zeppelin: “Eu aprendia todas as viradas, preenchimentos, tudo que ele fazia.”. O que o atraía era o fato de que “Bonham não estava nem aí para as limitações convencionais de ser um baterista de rock. Ele me influenciou e a milhares de outros bateristas a tocar bateria com a alma e sentimento ao invés de apenas proficiência.”. Bonham, claro, havia morrido em 1980 após uma maratona de bebidas. O Zeppelin tinha morrido com ele, e a cena musical estava em estado de mudança. O punk Britânico tinha queimado a si mesmo à medida que os anos 80 começaram, e à medida que nomes do movimento New Romantic como Adam And The Ants enraizaram seu padrão no topo das paradas Britânicas, ficou a cargo dos Estados Unidos levar os ideiais do Punk a uma nova dimensão. Washington se tornaria algo como uma ponte e, estando ao alcance, seria onde Dave experimentaria música ao vivo tanto quanto espectador como, mais tarde, na posição de artista. Essa onda do novo punk Americano, liderada por bandas como Naked Raygun e Bad Brains, o ensinou uma importante lição – “que você não precisava ser Eddie Van Halen para tocar coisas incrivelmente poderosas e intensas. E isso foi um incentivo para que todos o fizessem por conta própria.” . O Bad Brains era uma banda que fazia exatamente isso. Um grupo de negros Rastafari do hardcore e inspirados no The Clash, que deixaram sua marca ao tocar em bairros menos privilegiados de Washington em uma tentativa bem-sucedida de alcançar uma base de fãs populares. E o jovem Grohl estava feliz em jurar fidelidade. Depois de assistir ao Bad Brains ao vivo, ele classificou o show da banda como “uma das experiências mais intensas e poderosas que você poderia ter. Eles eram simplesmente, oh Deus, me faltam palavras, incríveis. Eles estavam conectados de uma maneira que eu nunca havia visto. Eles me deixaram absolutamente determinado em me tornar um músico, eles basicamente mudaram minha vida, e mudaram as vidas de todos que os viram. Ninguém mais mexeu tanto com a minha cabeça quanto o Bad Brains. Eu vou dizer agora, eu nunca, nunca, nunca, nunca, nunca vi uma banda fazer algo parecido... O Bad Brains é uma daquelas bandas que todo mundo que já ouviu saiu com

22

Dave Grohl


uma reação realmente extrema, seja de amor ou ódio. Eu os amava. O fato de que havia esses quatro caras negros vindo a uma cena predominantemente branca, e eles simplesmente passaram por cima dela com tudo que fizeram, simplesmente te deixava espantado.”. Outra não-usual marca musical, e uma que também ficaria com ele pelo resto da vida, chegou na forma dos goth-rockers Britânicos do Killing Joke em 1982 ou 1983. O homônimo disco de estreia da banda, de 1980, tem sido citado com frequência como um de seus favoritos de todos os tempos; além disso, o Foo Fighters tocou algumas vezes a faixa de abertura desse álbum, “Requiem”. “A música do Killing Joke é tudo que eu amo”, Dave aponta. “Relevante, melódica, energética, e poderosa. É uma daquelas grandes coisas de bandas que tinham um lado político, como o Clash, MC5 ou Fugazi. Faz você pensar. E você tem tudo isso em cima de melodia e poder da música.”. Tempo depois ele descreveria o frontman Jaz Coleman como “um de meus heróis da voz, que soa como se tivesse tomado uma garrafa de ácido sulfúrico e decidido ir ao palco para berrá-lo para fora.”. Era finalmente chegada a hora de Dave deixar as margens da cena musical e se tornar um participante efetivo. E sua passagem de espectador para o palco veio quase que ao acaso. Uma viagem para Washington no Verão de 1984 o levou a um encontro com Brian Samuels, um jovem punk que tocava baixo em uma banda chamada Freak Baby. Uma audição bem sucedida viu Dave, então com 15 anos, entrar para o grupo como segundo guitarrista, o que veio acompanhado de uma sequência de shows em escolas. Dave havia encontrado uma pessoa influente em seu desenvolvimento musical quando a banda havia feito uma fita demo nos estúdios Laundry Room, em Arlington, Virginia. Essa pessoa era Barrett Jones, cujos pais eram donos da casa em que ficava o estúdio. “Eu basicamente gravei todas as bandas em que ele esteve”, disse Jones. “A gente sempre estava fazendo música juntos quando ele não estava excursionando ou algo assim.”. Dave até teve uma passagem pela banda de Jones, Churn, à medida que a relação entre os dois crescia. Depois de seis meses no Freak Baby como guitarrista-base, Dave passou para a bateria quando uma sessão pós-ensaio impressionou seus colegas de banda. Nada a Perder

23


O baterista original David Smith passou para as atividades de quatro cordas com gosto, tendo iniciado sua vida musical nesse instrumento antes de ter ido para a bateria por desejar ter alguém com mais talento na banda. O estilo distinto de Dave, que o iria deixar em um lugar tão bom depois, começou a evoluir rapidamente: “Eu não tinha ideia de como montar a bateria, mas eu amava simplesmente bater nela até cansar”. Bryant Mason (guitarra solo) e Chris Page (vocais) concordaram que essa troca radical de instrumentos foi benéfica e agregou muito à força da banda, e Brian Samuels, o homem que havia apresentado o recém-chegado na cidade, se viu fora do esquema. Rebatizando a si mesmos como Mission Impossible para marcar a mudança, eles deram um salto em relação a seus shows e começaram a abrir para nomes como Troublefunk e Fugazi. “Estávamos vivendo nosso sonho do hardcore”, disse Grohl, que fez sua primeira aparição em um disco quando a banda gravou um single de 7 polegadas dividido com uma banda chamada Lunchmeat, o EP “Thanks”, lançado via Sammich/Dischord, com apenas 500 cópias prensadas. Eles mudaram seu nome novamente para Fast, até terminarem em Agosto de 1985; Page e Mason olharam para o futuro e optaram pela Universidade ao invés de continuarem com as vidas de punks. O baterista local Dante Ferrando, agora o dono da boate Black Cat em Washington, ficou imediatamente impressionado com o jovem Grohl, que compensava com força o que ele ainda não tinha de técnica. “Ele era bastante jovem, e as coisas que ele estava tocando eram simples, mas ele fazia com tanta força e precisão. Eu lembro de alguém me falar que ele estava tocando ao vivo havia apenas oito meses, e como eu poderia acreditar? Eu tinha inveja porque tocava há anos e não conseguia tocar assim.” . O Mission Impossible havia aberto shows para a banda Obsessed, que deixou uma marca indelével no cérebro musical de Grohl como a que ele mesmo deixou na de Dante Ferrando. Ele os descreve como “loucura metal, suja, cheia de energia”, admitindo que o público da banda, formado por motociclistas, era “muito louco” também. “Além disso, você via todos aqueles skatistas do hardcore também. O Obsessed acabou com todas as outras bandas que eu vi.”.

24

Dave Grohl


O único lado negativo de tocar para o público era que Dave tinha tendência a ataques de ansiedade antes dos shows. Esse sentimento iria aumentar à medida que a quantidade de público para quem ele tocava foi crescendo, mas com 13 ou 14 anos de idade ele tentou seguir o conselho de um amigo e se hipnotizar para fora disso. Não era uma prática a ser recomendada, como ele explicou tempo depois. “Alguém me disse que você poderia se hipnotizar ao ficar se olhando no espelho durante horas”, ele revelou. “Eu fiz isso e me assustou pelo resto da vida de uma forma muito, muito feia.”. Empregos iniciais como um aluno incluiram trabalhos em uma enfermaria e como pedreiro. Mas o pior deles, de alguma forma, foi em uma pizzaria chamada Shaky’s. “Aquele trabalho foi uma merda.”, ele lembra. “Eu trabalhei o Verão inteiro, ralando minha bunda, fedendo a pepperoni, só para comprar meus livros para a escola. E eu sabia que eventualmente eu iria jogá-los fora de qualquer jeito. Eu era higiênico? Bom, eu tinha 16 anos de idade, e eu tenho certeza que minhas mãos estiveram em lugares que os apreciadores de pizza não gostariam de saber.”. “Eu não tinha aquele lance de ser preguiçoso. Sim, eu abandonei a escola e eu posso ter aparecido tarde quando trabalhei para a Tower Records aos 18 anos de idade. Mas tocar em uma banda não parece um emprego para mim. É minha maior paixão. É a única coisa que não pode me faltar.” O Freak Baby/Mission Impossible/Fast tinha dividido contas com um grupo impressionante conhecido como AOC e, ao seu fim, Dave espertamente recrutou seu baixista Reuben Radding para seu próximo projeto, improvavelmente batizado de Dain Bramage. A ideia era “brincar com clichês do rock clássico em uma forma barulhenta e punk”, e Radding, cujas influências incluíam o art-punk do Television e Gang Of Four era um vocalista barulhento que se encaixava. Dave Smith do já defunto Freak Baby/Mission Impossible/ Fast completava o line-up da banda, que fez seu primeiro show em Dezembro de 1985 no Burke Community Center em Virginia. “Eu não sei de onde diabos tiramos aquele nome Dain Bramage”, ele ri. Mas a banda tinha uma conexão com seu futuro ao introduzi-lo para um método mais relaxado e espontâneo de trabalhar e compor. “Você sabe, eu lembro de

Nada a Perder

25


quando entrei no Nirvana e pensei ‘Wow, isso é exatamente como o Dain Bramage.’ . Não na música que escrevíamos, mas na maneira como a banda escrevia músicas. Em todo ensaio do Dain Bramage a gente entrava, ligava os cabos e simplesmente ia. Por praticamente meia hora. E por mais ridículo que isso soe, às vezes músicas surgem disso. “Come As You Are”, “Smells Like Teen Spirit” ou “Drain You”, todas surgiram a partir de jams.”. Dave disse ao biografista oficial do Nirvana, Michael Azerrad, que a mistura de hardcore com sons de bandas como Television e Mission Of Burma presente no som do Dain Bramage não foi bem recebida: “Todo mundo odiava a gente.”. Aparentemente, se você não estava na gravadora Dischord, co-fundada por Ian MacKaye, do Minor Threat e Fugazi, você não servia. Foi nesse período, entretanto, que Dave conseguiu desenvolver um estilo de tocar bateria que poderia chamar de próprio – mesmo que ele admitisse que fosse uma mistura de seus músicos preferidos. “Você pega pedaços de outros bateristas, como o baterista do Bad Brains, até o John Bonham e o baterista do Devo e eventualmente se transforma nessa grande mistura. Esse sou eu – apenas um grande copião!”. Depois de gravar uma fita demo “obrigatória” com a assistência de Barrett Jones, a banda a usou para atrair a atenção de Reed Mullin, da banda Corrosion Of Conformity. Ele, em contra-partida, os apresentou a uma gravadora indie de Los Angeles chamada Fartblossom e o resultado foi um álbum, I Scream Not Coming Down, produzido por Jones. “Nada disso foi lançado em mais do que 500 ou 1.000 cópias no total, e nunca foi distribuído”, Jones disse sobre um álbum que Grohl descreve como a combinação de “rock, art punk e hardcore – eu ainda gosto.”. Tudo estava indo bem para o Dain Bramage. Mas uma tentação muito forte apareceu para Dave na forma da banda Scream.

26

Dave Grohl




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.