O Reino sangRento Do
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O reino sangRento Do
Publicado originalmente no ano de 2007 em inglês pela editora Omnibus Press. Título original: The Bloody Reign Of Slayer Copyright © 2013, Edições Ideal editor :
Marcelo Viegas
capa , projeto gráfico e composição: tradução:
Daniel Justi
Marcelo Viegas
colabor ar am na tr adução :
Lalo Tonus Filho, Marcelo Jacote, Renato Puppi Munhoz,
Marcos Garcia e Anderson Mattiello revisão:
Mário Gonçalino
foto da contracapa : LFI
catalogação na publicação bibliotecária :
Flávia L. B. Ranna Castainça CRB-7: 6117
M478r – 2. ed. M c Iver , J oel O reino sangrento do Slayer / Joel Mclver ; tradução Marcelo Viegas. 2. ed., ampl e rev. - São Paulo: Edições Ideal, 2013. 368p. : 23 cm Tradução de: The Bloody Reign Of Slayer ISBN: 978-85-62885-14-3 1.Slayer (Conjunto musical). 2. Grupos de rock - Estados Unidos Biografia. I. Título. CDD: 927.8166 Todos os direitos desta edição em língua portuguesa reservados a Edições Ideal. E D IÇ Õ ES I D EAL
Rua João Pessoa, 327 São Bernardo do Campo/SP CEP: 09715-000 11 4941-6669 www.edicoesideal.com
Este livro ĂŠ dedicado a Jeff Hanneman
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O triunfo da agressividade (por Tor Taiul), IX Prefácio (por Municipal Waste), XIII Introdução, XV Introdução à segunda edição brasileira, XIX Antes de 1983, 21 Show No MeRcy, 41 1983 † 1984, 53 Haunting The ChaPel e Live UnDeaD, 67 1984 † 1985, 75 Hell Awaits, 87 1986, 97 Reign In BlooD, 107 1987 † 1988, 123 South Of Heaven, 131 1988 † 1989, 141 Seasons In The AByss, 149 1990 † 1992, 155 DecaDe Of AggRession, 167
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1992 † 1994, 177 Divine InteRvention, 185 1995 † 1997, 195 UnDisPuteD AttituDe, 205 1998 † 2000, 213 DiaBolus In Musica, 225 2001, 235 GoD Hates Us All, 245 2001 † 2003, 257 2004, 271 2005 † 2006, 287 ChRist Illusion, 295 2007, 305 2008 † 2010, 317 WoRlD PainteD BlooD, 331 Discografia, 339 Jeff Hanneman 1964 † 2013, 341 Cronologia visual, 345
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o tRiunfo Da agRessiviDaDe
por Tor Tauil*
Meu pRiMeiRo contato com o Slayer foi por volta de 1984 ou 85. Eu já tinha sido contaminado pelo vírus do Heavy Metal alguns anos antes, através dos discos do Black Sabbath, das fitas K7 do Iron Maiden e de toda a cena emergente vinda da Inglaterra, conhecida como “New Wave Of British Heavy Metal”, que apesar de ter surgido em 1979/80 só chegou por aqui alguns anos mais tarde (estamos falando de uma época em que não existia internet, e toda informação que se conseguia era através de alguns poucos fanzines como Rock Brigade e Heavy Metal Maniac, além das trocas de correspondências e fitas caseiras, geralmente conseguidas nos classificados desses zines). E eis que um dia chega em minhas mãos uma dessas fitas, com duas novas bandas americanas que estavam fazendo um tipo de Metal nunca ouvido antes. No lado A, a gravação de um disco chamado Kill ‘Em All, de um grupo com um nome que soava estranho e genial ao mesmo tempo: Metallica. E, no lado B, uma banda ainda mais pesada, mais agressiva, mais suja, mais rápida e mais diabólica chamada simplesmente Slayer, trazendo com ela a representação mais brutal do inferno. O disco? Show No Mercy. O nome das músicas também eram os mais assustadores e violentos até então. Pérolas como “Evil Has No Boundaries”, “The Antichrist”, “Die By The Sword” e a minha preferida de todos os tempos, “Black
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Magic”. Imagine alguma coisa como as guitarras dobradas do Judas Priest misturadas com uma base onde podia se notar a influência do Hardcore, com letras insanas, sendo tocadas por moleques provavelmente “alterados” da Califórnia... Era isso tudo e muito mais. Não preciso dizer que fiquei obcecado com essa nova música e não demorou muito para que eu perseguisse até encontrar fotos e os discos originais dessa banda. Quando me deparei com esses caras provavelmente só alguns anos mais velhos do que eu, com seus braceletes de pregos, correntes, indumentária militar, pentagramas, caveiras, demônios e todo resto, tive certeza que nada poderia ser tão ofensivo quanto isso, e o círculo se fechou. Logo dezenas de bandas no Brasil e outras centenas pelo mundo afora foram formadas ou influenciadas pelo Slayer. Voltando ao começo desta história (e só para comparar com a outra banda que dividia minha velha “fita pirata” com eles), enquanto o Metallica transformava o Metal em “estado de arte” com obras primas como Ride The Lightning e Master Of Puppets, conseguindo a cada disco chegar mais próximo do grande público, até se tornar a maior banda do planeta (mesmo que para isso tenham se desvirtuado em alguns momentos), o Slayer ia se tornando ainda mais denso, pesado, sombrio, explorando temáticas desagradáveis e ofensivas para muitos, e inovando dentro do seu próprio estilo. Trabalhando com o lendário produtor Rick Rubin, e lançando ano após ano discos fenomenais como Hell Awaits (esse ainda produzido por Brian Slagel), Reign in Blood, South of Heaven, Seasons in the Abyss, culminando com a perfeita celebração dessa época de ouro no duplo ao vivo Decade of Aggression. Na minha opinião, nenhuma banda jamais superou o Slayer em agressividade. Seus primeiros discos foram a pedra fundamental não só para o Thrash Metal, mas para muitos outros estilos que estavam por vir. A questão não era o quão rápido eles podiam tocar, mas sim o quão pesado, sujo e diabólico eles podem e conseguem soar. Sobreviveram aos anos 90 e continuam lançando discos relevantes até hoje. Nunca mudaram seu estilo, nunca amoleceram e nunca fizeram concessões. Se o Black Sabbath criou o Heavy Metal, o Slayer o levou a um outro patamar, o qual poucos podem
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sequer se aproximar. O legado do Slayer é o “Triunfo da Agressividade”. E que assim seja, porque o Mal não tem fronteiras, o Inferno Espera e Não Mostra Piedade. Portanto, aproveite sua leitura e, mais do que isso, vá ouvir os seus discos do Slayer! E se você não tem nenhum, não merece viver. * Tor Tauil (Zumbis do Espaço) São Paulo, 8 de novembro de 2012
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PRefácio por Municipal Waste*
O SlayeR conquistou minha alma quando eu era muito jovem. Meu irmão mais velho e eu ouvíamos o Show No Mercy no último volume até que o toca-fitas engolisse a fita: nós éramos os únicos do colégio que tinham camisetas do Slayer. Os outros alunos espalhavam rumores dizendo que éramos adoradores de satã, mas eles nunca nos olhavam nos olhos. Eu usava minha camiseta rasgada com a estampa Root Of All Evil quase todos os dias. Fui atraído pela influência tradicional de heavy metal do Slayer combinada com o hardcore punk agressivo. É óbvio o efeito que eles provocaram no meu jeito de compor para o Municipal Waste – os andamentos super rápidos de shred guitar deles eram bom demais para não serem imitados, parte por parte. Acredito que quase toda as bandas de thrash copiaram o Slayer – embora ninguém tenha conseguido continuar tão diabólico e dominante quanto eles ao longo dos anos. Curvem-se todos diante dos reis do thrash metal! Ryan Waste, guitarrista O Slayer é, sem sombra de dúvidas, a banda de thrash metal mais influente de todos os tempos. É impressionante a quantidade de músicas eternas que eles escreveram. Além de terem um repertório que você sabe que só
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um por cento das bandas que existem por aí vai chegar perto de ter. Lembro nitidamente da primeira vez que ouvi a banda: eu tinha 16 anos e morava em um subúrbio de Richmond, Virgínia, à noite costumava ficar doidão com meus amigos e sair dirigindo pela mata, ouvindo bandas de metal. Em uma dessas noites, meu amigo disse “Você precisa ouvir isso!” e colocou o Reign In Blood. É um álbum perfeito desde o primeiro riff de “Angel of Death”. De alguma maneira, a música do Slayer fala: ela possui aquele pó mágico que faz com que todo mundo a ame. Muitas bandas têm o som um pouco parecido com o deles, mas nunca será igual, porque ninguém chega aos pés do melhor. Land Phil, baixista Quando eu comecei a gostar de metal, e alguém mostrou o Reign In Blood para mim, foi a coisa mais incrível que já tinha escutado. Eu não conseguia parar de ouvir. Fiquei viciado. Como baterista, minha vida nunca mais foi a mesma depois que ouvi aquele pedal duplo em “Angel of Death”. O Slayer tomou conta de todos os bares com seu thrash metal, e os agitou muito mais do que qualquer um já conseguiu. Eles evocam o demônio em todos nós. Dave Witte, baterista Slayer? Fuck, yeah! Tony Foresta, vocalista
* O Municipal Waste é uma banda norte-americana de thrash metal/crossover. Uma de suas maiores influências é sem dúvida o Slayer. Apesar de ser uma banda contemporânea (o quarteto foi formado em 2001 e o primeiro disco é de 2003), eles se vestem, tocam e fazem farra como se estivessem na Bay Area dos anos 1980.
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INTRoDUçÃO
Bem-vindos ao Reino Sangrento do Slayer e, para aqueles que querem tanto saber sobre a banda a ponto de terem comprado, pegado emprestado ou roubado este livro, espero que não se decepcionem. Ao escrever esta biografia, eu evitei, deliberadamente, incorrer no mesmo erro que nós (os babões que escrevem sobre metal) cometemos que é focar nos primeiros anos da banda, tentando mostrar que somos fãs sérios, old school e nascemos usando jaquetas jeans sem manga. Já que as raízes do Slayer são relativamente bem documentadas, fiz questão de aprofundar a carreira deles do meio para frente, quando a cena do metal extremo que eles ajudaram a criar estava no seu auge. Na maioria dos livros que escrevi anteriormente (incluindo Metallica e Black Sabbath) eu não me incomodei em pedir autorização para escrever sobre os assuntos em questão, porque sentia que ter um selo de aprovação iria me impedir de falar livremente sobre algumas músicas não tão boas (ou seja, ruins) dos seus repertórios. Não tive muito esse receio com o Slayer, pois acredito que eles sempre fizeram as escolhas certas. Mesmo assim, busquei ativamente o envolvimento deles. Em janeiro de 2007, entrei em contato com o empresário da banda, Rick Sales, e informei que gostaria de escrever uma biografia completa do Slayer com a participação oficial deles. Rick me pediu uma proposta na
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íntegra, a qual enviei juntamente com alguns dos meus trabalhos anteriores para que Tom, Kerry, Jeff e Dave pudessem ter uma ideia do que eu estava tentando fazer. Pode ser que o grande número de compromissos que a banda tinha naquele ano (que incluíam uma turnê com Marilyn Manson) fez com que fosse impossível chegar a uma decisão. Porém, as coisas foram acontecendo lentamente desde então, e a comunicação entre Rick e eu chegou ao fim, embora ele e seu assistente Andrew Stuart tenham sido educados e profissionais desde o começo. Oito meses após o meu contato inicial (e apenas três meses antes do prazo de entrega do texto para publicação) a banda ainda não tinha tomado uma decisão, então eu falei para o Rick que não dava mais tempo de tornar esse livro “oficial” e o agradeci pelos seus esforços. Desejo tudo de bom a todos eles: tenho certeza que o Slayer escreverá um livro oficial um dia, e eu comprarei um exemplar. Fico surpreso pelo fato de que ninguém tenha feito uma biografia em língua inglesa sobre o Slayer antes. Escrever sobre bandas de rock como uma profissão significa que eu passo mais tempo pensando sobre quais atos valem a pena ser documentados do que o considerado saudável. Eu me pergunto se uma banda em particular fez boa música, viveu uma trajetória interessante ou passou dos limites de maneira notável. Geralmente a resposta para todas ou quase todas essas perguntas é “Não”. No caso do Slayer, no entanto, a resposta é um enorme “Sim” para todas. Escrever este livro foi divertido do começo ao fim porque sou um grande fã do Slayer, e tenho sido por 20 anos, mas esse não deve ser o motivo pelo qual você deve lê-lo. Com O Reino Sangrento do Slayer tentei dar ao leitor uma visão única da banda, apesar da grande quantidade de informações encontradas na internet e dos milhares de artigos que são publicados sobre a banda todos os anos. Uma série de testemunhas foram contatadas, e seus depoimentos são apresentados aqui pela primeira vez. As vozes dos integrantes do Slayer também estão presentes (em entrevistas que foram cedidas ao autor ao longo de vários anos). Você encontrará detalhes dos empresários de turnê, fotógrafos, jornalistas e músicos que acompanharam a banda durante a sua carreira longa e singular.
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Ouvir as histórias que essas pessoas tinham para contar fez eu me sentir lá também – naqueles bares sujos de São Francisco em 1982, em um palco de um grande estádio uma década mais tarde, e hoje, como respeitados padrinhos do metal, ainda fazendo música brutal e ainda longe de pendurarem suas guitarras. Espero que você se sinta da mesma forma – em saber como foi quando Kerry King me mostrou como tocar “Raining Blood” minutos antes de entrar no palco em Cardiff em 2003, ou quando Tom explodiu em gargalhadas quando eu contei a ele que o título de Live Intrusion me lembrava de um episódio de South Park chamado Cartman Gets An Anal Probe (Cartman Recebe Uma Sonda Anal)... Joel McIveR, 2008
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INTRODUÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO BRASILEIRA BeM-vindo à segunda edição de O Reino Sangrento do Slayer, a tradução em língua portuguesa para a minha biografia do Slayer, cujo título em inglês é The Bloody Reign Of Slayer, uma menção ao clássico álbum Reign In Blood. Eu tenho uma conexão com o Brasil, pois, em 2013, eu coescrevi a autobiografia de Max Cavalera, talvez o músico de heavy metal mais famoso do país. Espero um dia poder visitar o Brasil. Em maio de 2013, recebemos a triste notícia da morte de Jeff Hanneman, guitarrista do Slayer, em decorrência de insuficiência hepática. Este livro é para ele. Joel McIveR, maio de 2013
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antes de 1983
CoMo toDa Boa história de terror, a do Slayer começa sob uma nuvem de tempestade. Embora quase todos os acontecimentos deste livro ocorram em uma Califórnia ensolarada, as raízes de uma das bandas mais intransigentes que o mundo já viu ficam a 8000 quilômetros de distância, no Chile. Em 1961, a família de Tomas Enrique Araya estava se preparando para seguir os passos de muitos dos seus compatriotas, emigrando para os Estados Unidos a fim de escapar da tormenta que estava por vir: uma revolução política que acabou remodelando permanentemente a vida no Chile. Nascido no dia 6 de junho daquele ano, Tom foi o quarto de nove filhos. Nos quatro primeiros anos de sua vida, ele morou na cidade costeira de Viña Del Mar, próximo ao porto de Valparaíso, antes de seus pais se mudarem para o subúrbio de South Gate, um distrito de classe operária nos arredores de Los Angeles. Como era de se esperar, Tom não tem muitas memórias de sua infância no Chile, embora seus pais tenham levado os elementos de seu país natal para os EUA, especialmente a música. “Você conhece um verdadeiro chileno quando ele reconhece uma música e começa a cantá-la, porque é uma coisa muito característica. Acho que faz parte da minha cultura”, recordou-se muitos anos mais tarde. “Mas as minhas lembranças daque-
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les tempos são somente de quando eu morava aqui nos EUA – meus pais tocando música da época em que fomos embora”. Durante décadas supôs-se que a família Araya saiu do Chile porque o golpe militar estava em curso, mas Tom descarta essa afirmativa: “Quando isso aconteceu, em 1971, nós já estávamos nos EUA”. Na verdade, o golpe militar que depôs o governo socialista de Salvador Allende aconteceu em 11 de setembro de 1973. Foi o início de um período vergonhoso para a história do país. Sem dúvida, a família Araya concluiu que foi uma sábia decisão (para dizer o mínimo) a mudança para a América do Norte pouco antes do início do reinado de tortura e assassinatos comandado pelo General Pinochet. Tom Araya era uma criança com dom musical, nascida numa família de músicos em um momento fortuito para a música popular. De meados até o final dos anos 1960, ele testemunhou uma explosão de experimentos e realizações musicais que o deslumbraram de sua infância até a adolescência. Embora South Gate não fosse um pólo de atividade cultural, porque a maioria de seus habitantes queria apenas viver um dia após o outro em um bairro degradado, Los Angeles era, e continua sendo, o centro do entretenimento mundial. Apesar de demonstrar uma resistência inicial em discutir as reviravoltas violentas que marcaram a história do seu país natal (“Não quero me envolver com uma coisa sobre a qual não sei nada”), Araya tornou-se, mais tarde, o integrante mais sincero da banda sobre assuntos políticos. É um ponto interessante, embora seja um exagero concluir que a eloquência de Araya em assuntos políticos tenha sido um resultado dos problemas que varreram o Chile durante a sua infância. O que acontece com o impulso criativo de um garoto que deixa o seu país por um outro completamente diferente, onde ele cresce, e vê o seu país de origem passar por apuros? A família Hanneman, que vivia em Long Beach, Califórnia, também conhecia mais do que a média sobre conflitos violentos: dois filhos no Vietnã, e o pai era veterano de combate na França durante a Segunda Guerra Mundial. O filho mais novo, Jeff, nasceu em 31 de janeiro de 1964, exatamente quando a família Araya estava se preparando para emigrar.
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É de se esperar que as lembranças de Jeff sobre sua infância incluam conversas sobre a guerra durante a janta e construção de modelos de tanques e aviões. Não há dúvidas de que o assunto no qual ele se especializou dentro da banda – guerra e agressão – foi impulsionado por essas primeiras experiências. Pouco mais de quatro meses depois, no dia 3 de junho, Kerry King nasceu. Junto com as suas duas irmãs Karen e Kathie (repare que todos na família tem a inicial K), Kerry recebeu uma base sólida sobre os princípios da vida dos seus pais – um inspetor de aviação e uma funcionária de telecomunicações – e isso incluía a música. Como King relatou em 2004, “Eu não tinha muito interesse em aprender a tocar um instrumento, mas meu pai tinha uma guitarra em casa e essa era uma de suas primeiras opções para me manter longe de problemas. Então foi assim que comecei. O primeiro riff que aprendi foi ‘Children Of The Sea’ do Black Sabbath. Eu me lembro dele até hoje”. Enquanto as famílias Hanneman e King batalhavam pela vida nos subúrbios de Los Angeles e os Araya partiram do Chile em meados dos anos sessenta, outra família latina estava pensando em se mudar de um sistema político agitado para uma vida mais tranquila na América do Norte. David Lombardo nasceu em Havana, Cuba, no dia 16 de fevereiro de 1965, e sua família emigrou para os EUA quando ele tinha apenas dois anos de idade. “Meus pais me mandaram para uma escola particular católica em South Gate, Califórnia, onde morávamos”, lembrou-se Lombardo. “Quando eu estava na terceira série, minha sala teve um show and tell day1 e, como eu era tímido, levei um conjunto de bongôs e um disco do Santana, e toquei junto com a música”. Para um grupo que ganhou fama escrevendo músicas violentas, é fascinante notar que as primeiras canções que atraíram a seção rítmica do Slayer ao escolher seus instrumentos estavam longe de ser agressivas. Araya
1 Show And Tell Day consiste em um dia em que as crianças levam para a escola algo especial para compartilhar com os colegas.
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e Lombardo, que da perspectiva atual formam uma das parcerias mais intransigentes e precisas no baixo e na bateria do rock moderno, eram cercados pelo balanço e vibração descontraída da música latina desde pequenos. South Gate era e continua sendo uma cidade predominantemente latina e hispânica, com 95% de seus 100.000 habitantes de origem latina e sua vida noturna girando em torno de bares e casas noturnas especializados em música mexicana, sul-americana e cubana. Em 1969, Araya segurou um baixo pela primeira vez, como ele se lembrou mais tarde: “Meu irmão mais velho estava aprendendo a tocar guitarra sozinho e eu pensei em aprender a tocar baixo para acompanhá-lo. Esse foi o motivo pelo qual aprendi a tocar baixo e, depois disso, tocávamos juntos porque era legal... Nós aprendíamos a tocar músicas dos Beatles e dos Rolling Stones daquela época (anos 60). Isso foi meio o que me inspirou a tocar... qualquer música dos anos 60. O que quer que estivesse tocando no rádio nos anos 60; quero dizer, nós ouvíamos rádio o tempo todo”. Embora o adorado rádio de Araya - cuja transmissão FM era cristalina lá pela metade da década - estivesse apenas tocando sons de white guitar, por volta de 1976, Tom havia levado sua música para uma direção diferente. Lombardo, numa entrevista para a revista Decibel, recordou-se da visão surpreendente daquele jovem baixista no palco, muito tempo antes de qualquer um dos dois sonhar em tocar heavy metal: “Quando eu tinha 11 anos eu vi Tom tocar em uma banda num clube cubano que meus pais costumavam frequentar. Eles faziam matinês aos domingos por volta das três ou quatro da tarde, e chamavam essas bandas para tocar para a molecada. Ele tinha 15 anos na época. Lembro de perguntá-lo sobre isso quando nos conhecemos”. As sementes foram plantadas, não apenas para a carreira de Tom como artista, mas também para o seu gosto musical variado e um tanto eclético. O cantor de músicas como “Necrophiliac” e “Sex. Murder. Art.” sempre teve interesse em músicas mais sutis e suaves, como ele contou em 1999: “Eu fiz algumas baladas mais lentas, com alguns acordes básicos só para mim. Ainda canto sobre assassinatos e morte, mas em um estilo country,
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sabe? É muito provável que essas músicas não sejam lançadas, os caras teriam que aprovar e a nossa banda é uma democracia...” Enquanto Araya improvisava nos sets latinos e Lombardo tocava bongô no colégio, Kerry King estava fazendo progresso na guitarra. Quando ele fez 13 anos, no verão de 1977, estava tocando um instrumento muito improvável para um pioneiro do metal extremo, como ele se lembrou: “Era uma Gibson ES-175 [do meu pai], loira com um puta corpo gordo”. O modelo Gibson ES-175 é um instrumento popular entre os músicos de jazz e blues, porém serviu King Jr o suficiente até que algo mais apropriado surgisse no mercado – no caso de Kerry, a primeira de uma longa linha de guitarras BC Rich, um instrumento que continua a defini-lo. “Peguei a minha primeira BC Rich Mockingbird quando troquei uma Strat Série L 1963, que acho que é algo especial”, lembrou-se King. “Vi que a BC Rich tinha várias chaves seletoras de captador e eu pensei, ‘Posso fazer qualquer tipo de merda com isso’. É claro que eu quebrei o braço dela no primeiro dia”. O primeiro rock que ele aprendeu a tocar foi “Cat Scratch Fever” do Ted Nugent, seguida de uma rápida sucessão de músicas de bandas de metal em ascensão como Judas Priest, que se tornou uma grande influência para King. Impulsionado pelo sucesso com o bongô na Pius X High School, Lombardo logo começou a tocar bateria na banda marcial da escola. O instrumento se tornou sua paixão rapidamente. “Você começava em casa deixando seus pais loucos, batucando em latas de lixo, tocando junto com o rádio, usando potes e panelas, e aumentando o volume”. Dois eventos quase simultâneos decidiram o caminho de Dave daquele momento em diante: uma bateria Maxwin de 5 peças, presente de seu pai, e a descoberta do disco ao vivo Alive!, do Kiss. Esse LP de 1975 marcou um grande salto na trajetória do Kiss, que estava prestes a desmoronar. A banda de Nova York conseguiu transmitir para o disco a força visual do seu show, e isso causou um impacto profundo no jovem Lombardo. Ciente sobre a possibilidade de que ouvir músicas de rock obscenas em volumes que fazem o ouvido sangrar pudesse ser uma experiência transcendental, Lombardo logo dominou a música “100,000 Years”
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e começou a aplicar sua capacidade atlética nas batidas com um nível apaixonado de comprometimento. No entanto, esse não foi o fim do fascínio de Lombardo por outros estilos musicais – no final dos anos 1970 dois estilos estavam dominando: disco e punk. Dave foi apresentado ao primeiro deles por seus amigos do colégio e tal foi seu entusiasmo que não demorou muito para ele estar tocando DJ Sets em festas. Ele até adotou um nome: A Touch Of Class (Um Toque de Classe). Dave Lombardo: “Eu chegava em casa às quatro da manhã e meus pais ficavam putos, ameaçando me mandar para o colégio militar. Por baixo da camisa, da calça com pregas e do sapato social ainda tinha um grande fã de rock. A música a qual eu estava exposto naquela época me mostrou os efeitos do ritmo no corpo. As diferenças entre disco e rock eram tão grandes que me intrigaram e eu descobri que tocar junto com a música me mostrou o groove. Eu senti essa energia, que fazia as pessoas dançarem e não apenas ouvirem, e foi incrível, como deve ser com o rock”. Pode parecer confuso para alguns que um baterista de heavy metal tenha passado parte de sua adolescência girando vinis do Chic e Kool & The Gang, mas deve-se notar que, de fato, heavy metal e disco têm muito em comum – ambos os estilos são intensamente rítmicos, com as frequências dos graves em destaque. Os bateristas de disco music estão entre os melhores profissionais de ritmo, mantendo o sincronismo agudo do funk e R&B, mas sem a extravagância inerente do gênero com uma precisão que um aficionado do heavy metal apreciaria. No final da década, somente Jeff Hanneman ainda não tinha escolhido um instrumento. Como Lombardo ouvia disco music, Hanneman, que nunca foi um garoto popular (“Tentei surfar, mas eu era horrível. Então ficava na praia olhando as garotas”) virou punk e foi conquistado por sua atitude suja e velocidade implacável. Ao ganhar destaque em Nova York e no Reino Unido em 1975 e 76, a enfurecida e vibrante música que transformou o cenário obsoleto do rock surgiu em cidades por toda a América, com um movimento local particularmente saudável na Califórnia – talvez como uma reação às vibrações calmas e estilo de vida tranquilo do
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Golden State. As bandas locais de maior destaque eram Black Flag (cujo impacto foi sentido nacionalmente), Dead Kennedys e TSOL, todas especializadas em música agressivamente rápida com bateria desenfreada e progressão de acordes que iam e vinham em um instante. Hanneman tinha o cabelo raspado até o final da década, época em que ele começou a pensar em aprender a tocar guitarra. Enquanto isso, em 1978, quando perguntado por seus amigos músicos se poderia tocar “Moby Dick”, um verdadeiro showcase de John Bonham no segundo LP do Led Zeppelin, Dave Lombardo foi atrás do disco e ficou paralisado imediatamente. “A exposição ao Led Zeppelin II me mostrou um lado da música ao qual eu não era muito familiarizado, o blues. Essa banda carregava uma quantidade incrível de sentimentos, e não apenas como um todo, mas o baterista John Bonham tocava com tanta emoção que eu senti ter aprendido aquele elemento e o levei comigo durante toda a minha carreira. Anos depois, aprendi que isso se chamava crescendo e diminuendo”. O estilo exuberante de Bonham e o brio aparentemente sem esforço com o qual ele executou os seus padrões na bateria, fisgaram Lombardo aos 13 anos, que dedicou ainda mais tempo em aprender a tocar bateria. Ele começou a improvisar com os guitarristas do colégio alguns covers básicos, como “Purple Haze” e “Johnny B Goode”; uma apresentação dessa última no show de talentos da escola, num duo de guitarra e bateria, foi recebido calorosamente. “Nunca irei me esquecer dos gritos da plateia durante o solo de bateria”, lembrou-se Lombardo. “Nós botamos a casa abaixo”. Isso não aconteceu muito antes da música começar a consumir todo o tempo de Lombardo. Antes de ser transferido da Pius X para a South Gate High, ele recrutou dois guitarristas (cujos nomes, infelizmente, foram esquecidos com o tempo) e deu o nome ao trio de Escape. Somando um vocalista de South Gate, eles mudaram o nome para Sabotage e começaram a fazer shows. No entanto, os pais de Dave notaram que seu desempenho escolar estava ficando em segundo lugar e sugeriram que ele saísse da escola e arrumasse um emprego. Aceitando a sabedoria desse conselho, foi o que ele fez, apesar de isso significar, infelizmente, a sua saída da banda.
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Dave Lombardo: “O dito empresário [do Sabotage] chegou até a escrever um poema sobre minha saída para o jornal do colégio, dizendo ‘Veremos quem vai chegar mais longe – vamos fazer uma aposta’. Eu deveria ter apostado”. Abandonando o colégio e a banda para trabalhar como entregador de pizza, Lombardo começou a procurar uma nova banda. Seu pai lhe emprestou U$ 1.100,00 para comprar uma bateria Tama Swingstar com um conjunto de pratos Paiste. Porém, enquanto Dave estava procurando por músicos, a última banda que ele achou que poderia entrar foi justamente uma que ele viu antes de sair da South Gate High... No verão de 1980, Tom Araya estava tocando baixo em uma banda de rock chamada Tradewinds. Inicialmente, seu setlist era composto por músicas de sucesso que agradavam ao público, embora tenha tomado uma direção mais pesada quando descobriram Van Halen. De um ponto de vista moderno, é fácil subestimar o impacto que essa banda teve no cenário californiano do rock, como afirmou a compositora veterana Sylvie Simmons: “A única banda de metal notável em LA [na época] era Van Halen, que era um fenômeno único – eles surgiram em Pasadena com toda essa força que te golpeava direto no estômago. Era absolutamente fantástico. Eles eram uma banda completamente ‘que se foda’. Ah, e eles tocaram na última tour do Black Sabbath, e os destruíram completamente”. Um dos companheiros de Araya no Tradewinds (que logo mudaria o nome para Quits) era professor de guitarra, e um dos seus alunos, chamado Kerry King, estava provando ser um prodígio. King sabia que seu professor tocava em uma banda. “Dava pra ver que meu professor de guitarra estava me preparando para ser o substituto do outro guitarrista, porque ele estava me ensinando todas as músicas da banda. Eu tinha 16 anos e pensava ‘Isso vai ser louco, eu vou estar em uma banda, fazendo shows de verdade!’ Depois que eu entrei, nós fizemos uns dois shows e a banda se separou...” Antes do Quits acabar, eles tocaram no auditório do South Gate Park, e Lombardo lembrou-se mais tarde de ter assistido essa apresentação. Esse
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show aconteceu no final do ano de 1980, e é a primeira data precisa de qualquer performance ao vivo com dois membros do Slayer tocando juntos. Tom Araya, que liderava a banda no baixo e vocal, tinha acabado de começar um curso de terapia respiratória. Ele relembra: “Minha irmã mais velha que sugeriu [o curso]. Ela disse que tinha amigos que eram terapeutas respiratórios e era um curso fácil. Meu pai ficou tipo ‘Ou você faz isso ou você trabalha’. Então eu escolhi estudar. Fiz o curso técnico de aproximadamente dois anos e aprendi muito. Aprendi sobre proporções da mistura do ar e coisas do tipo. Aprendi a tirar sangue e estava aprendendo a entubar pessoas, que é colocar um tubo em suas gargantas”. No entanto, seu foco ainda era a música, e em seu tempo livre, Araya procurava por uma banda após o término do Quits. Kerry King estava ocupado com uma série de empregos sem promessa de futuro, um deles em um campo de mini golfe (“Eu fiquei lá quase um mês, mas eles me mandaram cortar o cabelo, então eu mandei eles tomarem no cu e fui embora!”) e outro em um pet shop (“Eu costumava roubá-los, eu era um bom ladrão na época”). Como aconteceu com Araya, ele ansiava tocar em uma banda, e como muitos colegas músicos de Los Angeles, ele lia avidamente a coluna Musicians Wanted do famoso jornal local The Recycler. King: “Em algum momento em 1981 eu fiz teste para uma banda chamada Ledger, e, cara, eles eram uma merda – eles tocavam rock sulista, tipo Lynyrd Skynyrd. Nem consigo me lembrar do que aconteceu lá”. O destino é caprichoso: Hanneman, que finalmente estava estudando guitarra, também foi ao teste. “Estava trabalhando com telemarketing na época, e estava com alguns caras do trabalho em outra sala daquele espaço para ensaios. Depois que o Kerry fez o teste pro Ledger, nós começamos a improvisar algumas músicas do Priest com o baterista, que era bem mais novo que os outros caras [do Ledger]. Então ele diz ‘Ei, você quer montar uma banda?’ E eu, ‘Porra, claro que sim!’” Hanneman e King imediatamente juntaram seu amor por tocar guitarra rápido, apesar de seus gostos serem de áreas completamente diferentes. Hanneman ainda era punk, enquanto King tinha ido de Judas Priest à nova onda de Heavy Metal britânico, com Iron Maiden e outros.
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Jeff Hanneman: “O que fez com que eu e Kerry nos juntássemos foi o fato de que eu estava saindo de coisas como Iron Maiden, Judas Priest, Led Zeppelin, e estava começando no punk. Mas ainda sabia tudo do Maiden e do Priest, então começamos tocando esse material”. Mas não havia comparação: King era um demônio da velocidade na guitarra, graças aos seus três anos de experiência à frente de Hanneman. Jeff Hanneman: “Eu lembro que era um merdinha assustado. Eu era o que tocava há menos tempo, então era horrível. Só tocava há um mês quando conheci Kerry, e depois que o vi tocar fiquei ‘Ah, cara, preciso aprender mais rápido’”. King, cuja reputação como um “traficante de guitarras” havia se estendido para o resto da vizinhança, não sabia que um jovem músico igualmente talentoso morava a apenas cinco quadras, até que um carro de entrega de pizza estacionou em frente a sua casa numa tarde. King relembra: “Um garoto para o carro e diz ‘Ei, você é o cara com todas as guitarras?’ E eu falei ‘Eu tenho algumas guitarras – não tenho todas elas’. Ele disse que tocava bateria e morava no fim da rua”. Dave Lombardo: “Kerry me deu uma lista de músicas que ele sabia tocar na guitarra e eu fiquei impressionado, porque a lista era muito grande. Eu conhecia muitas delas, então ele trouxe o amplificador no dia seguinte e começamos a tocar. Alguns ensaios depois ele trouxe o Jeff”. Com dois guitarristas e um baterista a postos, só faltava então um vocalista e um baixista: Kerry imediatamente pensou em seus colegas do Quits. Tom Araya: “Bem na época em que Kerry estava tentando montar uma banda, eu já tinha feito testes em duas outras [bandas] para vocalista. Quando Kerry ligou, perguntei quais músicas eles estavam tocando e ele me entregou uma lista. Eu conhecia todas, menos as do Iron Maiden, então fui à loja e comprei o disco. Van Halen era o que eu tinha ouvido de mais pesado até então, mas tinha amigos que tocavam Judas Priest e Black Sabbath, [então] eu sabia do que se tratava. Demorei uma semana para tirar as músicas do Iron Maiden, e todos apareceram na minha casa para o primeiro ensaio. Tocamos todas as músicas sem problema, então olhei para eles e disse ‘Estou dentro’”.
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Poucas bandas tiveram uma gênese tão suave – e isso diz muito sobre a natureza de Araya e, até certo ponto, sobre a natureza do próprio Slayer. Araya: “Eu costumo acreditar que o destino vai tomar o seu curso e não devo me preocupar. Parece que tudo se encaixa com o tempo. No final sempre dá certo e é assim que vejo a vida. E foi desse jeito que a banda se juntou: Kerry me ligou, eles apareceram e não eram apenas um bando de garotos que se reuniam para tocar e curtir, eles tinham uma ideia e um objetivo do qual todos nós compartilhávamos. Todos nós estávamos buscando aquele ponto de fuga”. Enquanto esse “ponto de fuga” ainda era desconhecido, os primeiros passos da banda foram ensaiar e fazer alguns shows: no final de 1981 a banda tinha ensaiado covers suficientes na garagem de Araya para compor um setlist, embora ainda não tivessem decidido por um nome. Uma vez que o nome ‘Slayer’ foi trazido em pauta, Dave criou um logo, conforme explicado por ele próprio: “Estávamos sentados na sala do Tom, pensando em como poderíamos fazer o nosso logo. Eu coloquei um papel no chão e fiquei na frente dele com uma caneta. Desenhei marcas de risco, como se fossem cortes feitos por facas – pode notar que são apenas traços –, como se um assassino estivesse cortando a palavra Slayer”. Um mito que durou décadas foi de que o primeiro nome da banda era, na verdade, “Dragonslayer’, encurtado pelos integrantes já que eles achavam que era brega demais. Embora essa tenha sido uma premissa interessante, não foi o que aconteceu de fato: o mal-entendido ocorreu depois de um dos membros ter contado à imprensa que o nome da banda era “Slayer, como em Dragonslayer2”. Tal comentário foi mal compreendido ou transcrito incorretamente. O primeiro show do Slayer, que aconteceu no auditório do South Gate Park no Halloween de 1981, não chamou tanto a atenção, o que é normal para debuts. Já a segunda apresentação, na Huntingdon Park High
2 Dragonslayer é um filme de fantasia de 1981. Co-produção Walt Disney e Paramount Pictures.
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School, foi melhor, com covers do UFO (“Lights Out”), Iron Maiden (“Wrathchild”), Montrose (“Rock The Nation”) e uma versão de “Somebody Get Me A Doctor” do Van Halen. King gravou esse show em um toca-fitas portátil e ainda tem a fita: anos depois, descreveu o cover de Van Halen como “uma merda horrorosa”. Em seguida, o Slayer embarcou num processo pelo qual muitas bandas de metal iniciantes passam para conseguir algum status. O fato é que o Slayer era apenas uma de muitas outras bandas cover que tocavam nos subúrbios de Los Angeles, mas os músicos tentaram se destacar logo de cara. Inicialmente, eles usavam roupas de couro pretas que simbolizavam o rock e o metal, mas conforme rolaram os shows nas escolas Warren, South Gate e Bell, a banda percebeu que precisava de algo mais. King foi o primeiro a moldar seu “nicho visual”. Com um punhado de pregos e uns pedaços de couro comprados numa loja local, ele sentou-se na mesa da cozinha e criou um bracelete tipo porco-espinho de aparência assustadora. Conforme recordou, “Comecei a fazer meus braceletes pontudos desde cedo. Sempre achei que o único jeito de ser único era fazer algo você mesmo. Então fui até uma loja que vendia couro e comprei couro marrom, cortei e o tingi de preto. Depois acrescentei o que eu quis nele”. O resultado – uma faixa que cobria o antebraço inteiro de King, com enormes spikes de metal – rapidamente se tornou sua marca registrada.3 Dave Lombardo: “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para nos promover quando começamos. Imagine isso: íamos em escolas, pulávamos o muro e colávamos panfletos em todos os armários. Para a iluminação dos nossos shows, nós levávamos as nossas próprias luzes porque éramos o Slayer. Levávamos nossa própria fumaça e acessórios de pirotecnia e, para as luzes, nós roubávamos as lâmpadas das varandas das casas, você sabe, aquelas lâmpadas coloridas, e fazíamos nosso próprio show de luzes com essas coisas. Nós éramos determinados”.
3 Kerry King usou esse acessório durante anos, e apenas reduziu seu uso quando as companhias aéreas internacionais o impediram de passar pela alfândega.
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Kerry King fala sobre a iluminação embrionária da banda: “Nós vasculhávamos todos os prédios que tinham holofotes do lado de fora – geralmente usávamos luvas ou algo parecido, porque aquelas merdas eram quentes –, desenroscávamos e levávamos pra casa. A primeira coisa que fizemos foi um painel triangular que colocamos atrás do Dave. Depois, fizemos duas cruzes de cabeça para baixo com os holofotes, e colocamos entre os amplificadores”. Depois de estabelecer uma rotina regular de shows, o Slayer aos poucos começou a ser notado no cenário musical suburbano. Desde o início, aqueles que iam aos shows notavam que a banda tinha uma forte combinação de força e precisão, o que forneceu a singularidade do Slayer. Fãs de metal já tinham ouvido músicas violentas, e também já tinham ouvido músicas com qualidades técnicas, mas dificilmente já tinham ouvido essas duas coisas juntas. A habilidade precoce de Lombardo na bateria e a precisão da palhetada de King foram as coisas que mais se destacaram no começo: Araya era um baixista mais funcional do que extravagante (embora seu estilo de vocal tivesse sido inovador desde o início), enquanto Hanneman ainda estava melhorando na guitarra, mas num ritmo acelerado. Não demorou muito para que a habilidade e o entusiasmo juvenil da banda os levasse a escrever músicas próprias, e foi Hanneman o primeiro a tentar compor. “Nós começamos a compor músicas no nosso segundo ensaio”, disse Tom. “Eu lembro que o Jeff chegou e disse algo como ‘Eu tenho uma música...’” Kerry lembrou-se de uma música chamada “Simple Deception” (“Hoje em dia é meio rock’n’roll pro Slayer, mas tinha ótimos riffs”), de uma instrumental chamada “Delphic Oracle”, um título tipicamente épico (e brega), e de uma outra faixa chamada “Ice Titan”. As novas músicas agradaram as plateias dos colégios, dos clubes e das festas onde o Slayer vinha tocando, mas o progresso nas composições foi lento no início. Quando eles não estavam ensaiando, os integrantes da banda estavam dedicando suas energias aos seus empregos chatos ou tentando persuadir proprietários de casas de shows para deixá-los tocar. Tom Araya: “Tentamos tocar em alguns clubes... [mas] naquela época, se você não tinha um público, ninguém queria que você tocasse. Você
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tinha que sair e fazer propaganda do seu show, então acabamos tendo a ideia de ter um pequeno local nosso. Nós mesmos alugamos o local, fizemos panfletos, distribuímos pela vizinhança [e] nas escolas, que eram os locais onde os jovens estariam. Com cinco dólares você poderia nos ver tocando. Pois é, foi uma luta árdua para que conseguíssemos ser ouvidos”. O truque de abrir mão de um produtor e marcar seus próprios shows funcionou perfeitamente para a banda, embora tenha sido necessário tempo e esforço. Dave Lombardo: “Eu e Kerry íamos até alguns prédios e falávamos: ‘Ei, gostaríamos de alugar seu espaço para fazer um show de rock’, então nós éramos nossos próprios promoters. Nós íamos a galerias que tinham um pouco de espaço para bandas e perguntávamos se podíamos tocar. Nós éramos assim. Eu, Kerry e um amigo, dirigindo para cima e para baixo pelas ruas, com um velho megafone e anunciando: ‘Vejam o Slayer em tal escola, em tal horário’”. A imagem do Slayer convocando pedestres com um megafone é surreal – mas não demorou muito para que as coisas ficassem ainda mais estranhas. Imagine a cena: em 1982, Lombardo tinha 17 anos; King e Hanneman tinham 18; Araya era o mais velho da banda, com 21 anos. Embora os quatro tenham curtido o hard rock americano desde a infância, um novo som havia se infiltrado no cenário de South Gate através de LA. Uma variante mais rápida e perigosa da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) tinha começado a fazer sentir sua presença. O Venom, um trio de Newcastle (Inglaterra) que tocava músicas rápidas e guturais, com letras assustadoras sobre Satã, estava prestes a lançar seu segundo álbum, Black Metal, um título criado pelo vocalista Cronos ou pelo guitarrista Mantas (ambos reivindicam a paternidade) quando perguntados sobre que tipo de música eles tocavam. Como o Venom tinha um orçamento quase inexistente para a gravação, criaram músicas que soavam cruas e sem foco, mas que eram absolutamente maléficas para os padrões da época, e essa agressividade suja causou um grande impacto nos jovens fãs de metal em todo o mundo. O impacto que o Venom causou no Slayer, em particular, foi imediato, duradouro e profundo. Chocados com a raiva blasfematória de Black Me-
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tal e do seu predecessor, Welcome To Hell, os quatro garotos de South Gate – um lugar não muito diferente de Newcastle em muitos aspectos – começaram a aplicar essa fórmula em suas próprias músicas. Dave Lombardo: “Nós íamos nos chamar Slayer e seríamos tudo aquilo que não fosse Hollywood. Não seríamos garotos bonitinhos e sim os caras feios. Não íamos escrever sobre festas, e sim sobre Satanás... Kerry gostou da coisa do satanismo, o Venom foi uma grande influência e começamos a trabalhar e desenvolver nossas próprias músicas”. Dave estava dando tudo de si para o Slayer, e por isso mal tinha tempo para fazer qualquer outra coisa, até mesmo para sua namorada, Theresa. “Eu ia pro colégio, tinha um emprego e estava tocando no Slayer! Houve uma época da minha vida em que eu não tinha tempo para nada. Eu estava em movimento constante... Depois dos ensaios, eu tentava ficar um pouco com a Theresa. E em algumas noites nós tínhamos shows!” Assim como Dave, Jeff também equilibrava seus ensaios com o tempo que passava com sua namorada de longa data, Kathryn. “Basicamente, a conheço desde sempre. Ela foi minha namorada da adolescência, ou seja lá como você queira chamar. Desde que ela me conhece eu estou nessa banda, então ela sabe como é.” Depois de seis meses, o Slayer tinha dez músicas prontas para serem tocadas ao vivo, embora eles ainda fossem uma banda novata e estivessem a um longo caminho de suas encarnações posteriores. O ponto principal a ser apreciado nessa fase da banda é que, desde o início, houve um choque profundo entre a influência de Metal de Kerry King e a obsessão Punk de Hanneman, e isso rapidamente estabeleceu uma simbiose entre os melhores elementos desses dois estilos. Jeff Hanneman: “Eu conhecia bem o material do Judas Priest e do Iron Maiden, então começamos tocando esse tipo de coisa. E então comecei a mostrar o punk para os caras, e foi assim que conseguimos a nossa velocidade e que ficamos mais agressivos. Dave aderiu ao movimento punk logo de cara, mas demorou um pouco para que o Kerry e o Tom fizessem o mesmo. Com o tempo, nossas músicas começaram a ficar cada vez mais rápidas”.
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Dave Lombardo: “Foi um pouco antes do nosso estilo começar a pegar. As novas músicas [do Slayer] eram sempre pesadas, mas tinham muita influência de [Judas] Priest e [Iron] Maiden. Foi aí que o Jeff apareceu com o punk. Ele tinha raspado a cabeça e entrado com tudo no punk. Ele realmente gostava, e começou a me mostrar os sons, e eu achei que eram bem intensos. Então comecei a ouvir, a tocar mais rápido, e fiquei animado, tocando cada vez mais rápido, até que disse ‘Vamos mudar pra isso’. Assim, um riff que poderia ser de tal maneira, tocado mais lentamente, também poderia ser tocado mais rápido, e isso abriu um mundo novo de ideias”. O hardcore punk era agressivo, sem rodeios e, acima de tudo, rápido, com bateristas produzindo levadas de caixa e bumbo rápidas como tiros, que mais tarde formariam a base da nascente cena do metal extremo. A ideia de uma banda de metal tocando com a velocidade do hardcore/ punk não era completamente nova – tentativas desse tipo estavam sendo feitas em 1982 – mas, para a maioria dos ouvintes, era nova o suficiente para chocar. Junto com um setlist original de músicas aceleradas, um novo ponto de vista satânico em muitas letras e sua iluminação de palco, o Slayer também conseguiu seu primeiro empresário, Steven Craig, que produziu alguns panfletos para os seus shows e entrou em contato com a primeira gravadora da banda. Pessoas próximas ao Slayer acreditam que Craig talvez fosse amigo da família de algum dos integrantes. Ele providenciou um telefone para contato e distribuiu muitos releases de imprensa. A vantagem de ter um empresário e uma presença visual fez a diferença pela primeira vez num show no Woodstock Theater, em Anaheim, onde eles abriram para a banda Bitch, de LA. Nessa época, Los Angeles era o lar de um grupo seleto de fãs que seriam fundamentais para a construção de um novo cenário do metal na cidade. Um deles era Brian Slagel. Assim como os membros do Slayer, ele era um grande fã da NWOBHM e obcecado por Venom. Ele escrevia sobre a música no seu respeitado fanzine The New Heavy Metal Revue. Em 1981, Slagel fundou a gravadora Metal Blade e lançou a compilação Metal Massacre, com bandas de rock e metal de Los Angeles.
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Por maior que tenha sido o impacto de suas descobertas anteriores, como o Metallica, Slagel ficou sem palavras ao ver o Slayer em Anaheim. Conforme disse ao autor: “O que realmente me surpreendeu foi que o Slayer fez um cover de ‘Phantom Of The Opera’, do Iron Maiden, que na época era a melhor banda do mundo para mim. O vocal de Tom Araya me impressionou muito também. Eles mandaram muito bem naquela versão”. Naquele exato momento Slagel soube o que queria fazer para o Slayer. “Fui até o Steve Craig e disse ‘Ei, acabei de lançar um disco chamado Metal Massacre, e tenho planos de lançar outras coletâneas. Eu adoraria ter a banda na próxima. Rola de gravar uma faixa? E ele disse ‘Sim, parece uma boa’. Até então, eles não tinham nem uma demo-tape!” A banda sabia quem era Slagel, cuja presença no cenário do metal era famosa, inclusive em São Francisco, onde um novo cenário do metal (ainda sem nome) estava se desenvolvendo. Entretanto, nem a banda e nem o empresário tinham muito dinheiro ou uma ideia concreta sobre a melhor forma de apresentar uma música para a coletânea. Felizmente, um dos principais colaboradores de Slagel era Bill Metoyer, um engenheiro de som e fã de metal. Slagel: “O Bill foi falar comigo quando eu estava trabalhando numa loja de discos, Oz Records. Ele disse ‘Sou um grande fã de heavy metal e engenheiro de som, e se você puder jogar algum trampo na minha mão seria ótimo’. E foi assim que Bill entrou em contato com o Slayer.” O resultado da primeira colaboração da banda com seus mentores Slagel e Metoyer4 foi a gravação da faixa “Aggressive Perfector”, uma das músicas que a banda aperfeiçoou nos ensaios na garagem da família Araya. Com duas décadas de distanciamento, essa versão original da música não parece particularmente rápida ou pesada, mas, na época, com exceção do Metallica, não havia nada parecido.
4 Nenhum deles percebeu que um sobrenome começa com ‘Sla’ e o outro termina com ‘yer’ até que eu mencionei isso para eles, embora os fãs venham falando disso por 23 anos!
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Bill Metoyer, que agora dirige a Skull Seven Productions, relembra seu tempo com o Slayer: “Eles apareceram no estúdio Track Records, em Hollywood. Eu nunca tinha escutado a banda, embora Brian tivesse me falado sobre eles. Pareciam ser bons garotos, e foram se ajeitando pra tocar. Eles começaram a se aquecer, e uma coisa que lembro é deles tocando Judas Priest, nota por nota. Era incrível – se fechasse meus olhos, parecia que o Priest estava tocando ali na sala. Tom não estava cantando – eram versões instrumentais – mas a música era sólida”. Uma vez que a música começou a tomar forma, Metoyer lembrou-se novamente de Judas: “Quando eles acertaram ‘Aggressive Perfector’, achei que tinha influência de Judas Priest, até mesmo por causa do título daquela música famosa do Priest, ‘Dissident Aggressor’. Tudo foi feito praticamente em um take; fiquei impressionado pela forma como eles pareciam seguros. Para um bando de pirralhos, eu fiquei maravilhado com as habilidades musicais deles – embora, sendo honesto com você, quando eu ouvi o vocal foi um pouco diferente”. Hoje, o estilo de vocal gutural death metal não é novidade nenhuma, e por isso o vocal cru de Tom Araya pode parecer limpo, ou até mesmo discreto. Em 1983, no entanto, o mais perto que alguém tinha chegado de um vocal não melódico no metal era o rosnado contido de James Hetfield (Metallica), ou o sotaque Geordie de Cronos (Venom), mas nenhum deles era realmente “áspero”. A música “Aggressive Perfector” é baseada em um rápido riff central, sustentado pela poderosamente veloz bateria de Lombardo e pelo vocal rosnado de Araya, que se esforça um pouco para atingir as notas mais altas, especialmente em um ou dois gritos que ele profere. O primeiro [grito], no início do segundo verso, está desafinado – você pode ouvi-lo se esforçando para conseguir consertar na metade, porém sem sucesso. “Aggressive Perfector” está longe de ser uma das melhores músicas do começo do Slayer (o final é exagerado demais para uma música tão curta, por exemplo), mas o elemento principal – a assustadoramente precisa distribuição de riffs – já estava presente. Ignore os solos e ouça a palhetada (tremolo picking) de fundo: é muito rápida, muito precisa e muito, muito típica do
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Slayer. Um exemplo perfeito do início do thrash metal, antes mesmo do termo ter sido inventado. Brian Slagel: “A primeira vez que ouvi ‘Aggressive Perfector’ achei incrível – e eu soube que teria que ser a primeira faixa do Metal Massacre III. A velocidade e a agressividade da música a tornaram diferente do que estava sendo feito na época. O Mötley Crüe tinha se afastado da música pesada e o Metallica tinha se mudado para São Francisco, então o Slayer era meio peixe fora d’água em Los Angeles – mas quando eu mostrei a música para as pessoas, todo mundo começou a prestar atenção”. Quando a coletânea Metal Massacre III foi lançada, no ano seguinte, os ouvintes ficaram surpresos com a faixa de abertura, não só pela música em si, mas pela violência das letras: “‘Aggressive Perfector’ é como o Exterminador”, Araya contou ao autor em 1999, acrescentando que “Ele não pode ser parado!” A velocidade dos riffs fisgou os ouvintes logo de cara, proporcionando uma adrenalina que não podia ser encontrada em outras faixas do disco, de bandas como Bitch, Tyrant, Medusa, Test Pattern, Black Widow (não confundir com o cultuado grupo de doom metal dos anos setenta), Warlord, Sexist, Znowhite, Marauder e La Mort. Apenas a banda Virgin Steele teria longevidade no metal, ainda que a música “Let’s Go All The Way” estivesse muito distante do power metal “certinho” que eles tocariam anos mais tarde. “Aggressive Perfector” foi um marco na carreira do Slayer. Porém, um passo gigante para se distanciar do relativo anonimato estava prestes a acontecer. Brian Slagel: “Depois disso, eu disse, ‘se vocês fizerem um álbum completo, eu irei lançá-lo...’”
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Existem muitas bandas de metal, mas apenas um Slayer. Soberano, intransigente, cultuado, pioneiro, agressivo, rápido, pesado, polêmico... Único! O Reino Sangrento do Slayer, do especialista em heavy metal Joel McIver, conta toda a história da banda, disco por disco, desde os primórdios em “bares sujos de São Francisco em 1982” até a conquista do planeta, tocando “num grande estádio uma década mais tarde”. Jeff Hanneman, Dave Lombardo, Tom Araya e Kerry King construíram uma trajetória que se confunde com a história do gênero que eles ajudaram a criar e difundir: o thrash metal. Essa é a segunda edição do livro no Brasil. Ampliada, revisada, com nova tradução e novo projeto gráfico. A versão brasileira traz um prefácio escrito pelo músico Tor Tauil, do Zumbis do Espaço, além do prefácio da edição inglesa assinado pelos maníacos do Municipal Waste. O livro também apresenta fotos raras do início da banda, cartazes das antigas, registros de backstage, etc. O Reino Sangrento do Slayer é destinado a todos que querem conhecer as histórias que marcaram a trajetória brutal, “sangrenta” e única do Slayer.