Como se forma um papa jesuita

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365 Como se forma um pa pa j e s u Ă­ ta


Obras do autor por Edições Loyola Cada dia 365 — Drogas, prevenção, soluções, 2ª ed. Caminho da sobriedade (O) — A fazenda do Senhor Jesus e o Amor-Exigente, 4ª ed. Comunidade trinitária, 2ª ed. Cristo não aceitou tóxicos, 2ª ed. Espiritualidade no Amor-Exigente, 3ª ed. Esse terrível jesuíta!, 3ª ed. Estórias que Padre Haroldo conta, 2ª ed. Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola — O caminho para a saúde espiritual (Coautoria com Núbia Maciel França.) Relaxando com a fé ecumênica — 365 exercícios, 5ª ed. Relaxe e viva feliz, 48ª ed. (Coautoria com Núbia Maciel França.) Sereis batizados no Espírito, 9ª ed. (Coautoria com Maria Lamego.) Yoga cristã e espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, 3ª ed.


H a r o l d o J . R a h m , SJ

365 Como se forma um pa pa j e s u Ă­ ta

Volume III


Preparação: Mônica Aparecida Guedes Capa: Walter Nabas juanjo tugores/© PhotoXpress Diagramação: Ronaldo Hideo Inoue Revisão: Renato da Rocha

Edições Loyola Jesuítas Rua 1822, 341 – Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP T 55 11 3385 8500 F 55 11 2063 4275 editorial@loyola.com.br vendas@loyola.com.br www.loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

ISBN 978-85-15-04335-4 © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2015


Dedico este livro a

Zu e Maria Ângela Guimarães, Dra. Sofia e Dr. Daniel Acioli, Maria Emília e Márcio de Paiva, de Maceió, AL, Dr. Juca e Mara Silva Carvalho de Menezes, Dr. Carlos Alberto Ribaldo e Bete, sua esposa, e Dr. Luis Fernando Cauduro e Cleide Cauduro, Presidentes do Amor-Exigente.



Sumário

Apresentação.................................................................................................................................................. Introdução....................................................................................................................................................... Instrução.......................................................................................................................................................... História dos jesuítas brasileiros...................................................................................................................... Um leigo casado escreve sobre os pensamentos do Papa jesuíta................................................................

15 17 18 19 21

Inácio de Loyola...........................................................................................................................................

25

Feliz Ano-Novo!.................................................................................................................. Inácio de Loyola.................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. Fundamento....................................................................................................................... Tanto quanto...................................................................................................................... O Reino............................................................................................................................... As duas bandeiras............................................................................................................... Nosso modo de proceder................................................................................................... Eleições................................................................................................................................ Espiritualidade.................................................................................................................... Ser feliz................................................................................................................................ Contemplação inaciana..................................................................................................... O discernimento de “espíritos”......................................................................................... A consolação espiritual...................................................................................................... A desolação espiritual........................................................................................................ O sentido da desolação...................................................................................................... Jejum................................................................................................................................... O misticismo........................................................................................................................ Encontrar a Deus em todas as coisas................................................................................. Conceber Deus em todas as coisas..................................................................................... Contemplativos na ação..................................................................................................... Desejos................................................................................................................................ Que confusão!.................................................................................................................... Subida ao Carmelo............................................................................................................. Socorro!............................................................................................................................... Enfarte espiritual................................................................................................................ O que quero........................................................................................................................ Teilhard de Chardin, seguidor inaciano............................................................................ Meditação de Teilhard de Chardin, SJ............................................................................... Sociedade trinitária............................................................................................................

26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60

Fé.....................................................................................................................................................................

61

A fé trinitária...................................................................................................................... Fé e salvação....................................................................................................................... Fé cósmica........................................................................................................................... A fé na perspectiva cósmica............................................................................................... Fé questionada do homem moderno................................................................................ O pescador feliz..................................................................................................................

62 63 64 65 66 67

1º de janeiro 2 de janeiro 3 de janeiro 4 de janeiro 5 de janeiro 6 de janeiro 7 de janeiro 8 de janeiro 9 de janeiro 10 de janeiro 11 de janeiro 12 de janeiro 13 de janeiro 14 de janeiro 15 de janeiro 16 de janeiro 17 de janeiro 18 de janeiro 19 de janeiro 20 de janeiro 21 de janeiro 22 de janeiro 23 de janeiro 24 de janeiro 25 de janeiro 26 de janeiro 27 de janeiro 28 de janeiro 29 de janeiro 30 de janeiro 31 de janeiro 1º de fevereiro 2 de fevereiro 3 de fevereiro 4 de fevereiro

5 de fevereiro 6 de fevereiro 7 de fevereiro 8 de fevereiro 9 de fevereiro 10 de fevereiro


Fé......................................................................................................................................... O elefante e o rato............................................................................................................. Pequena montanha............................................................................................................ Pensamentos....................................................................................................................... Pavor................................................................................................................................... Revelação na natureza....................................................................................................... Caridade salva a fé............................................................................................................. Pensamentos que alimentam............................................................................................ Fé e humanização............................................................................................................... O nada e o ego................................................................................................................... Pássaro................................................................................................................................ Diógenes............................................................................................................................. Apenas visitando................................................................................................................ Não seja uma fotocópia..................................................................................................... São José de Anchieta, homem de fé................................................................................. Como eu vos amei..............................................................................................................

68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83

Amor...............................................................................................................................................................

85

Amor de verdade................................................................................................................ Amor que esquece.............................................................................................................. Coração de Jesus................................................................................................................. Amou até o fim................................................................................................................... Pensar no futuro................................................................................................................. Amados como somos.......................................................................................................... A escrava............................................................................................................................. Tipo de vida........................................................................................................................ Segurança........................................................................................................................... Matrimônio......................................................................................................................... Dificuldades no matrimônio.............................................................................................. Espaguete queimado......................................................................................................... O diálogo com as religiões................................................................................................. Honrar pai e mãe................................................................................................................ Eu sou assim........................................................................................................................ Vou perdoar?...................................................................................................................... Amor fiel............................................................................................................................. Desprograme-se................................................................................................................. Não se prenda..................................................................................................................... O amante tagarela............................................................................................................. Amor-Exigente.................................................................................................................... A ira..................................................................................................................................... Alívio insignificante............................................................................................................ A vida..................................................................................................................................

86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109

11 de fevereiro 12 de fevereiro 13 de fevereiro 14 de fevereiro 15 de fevereiro 16 de fevereiro 17 de fevereiro 18 de fevereiro 19 de fevereiro 20 de fevereiro 21 de fevereiro 22 de fevereiro 23 de fevereiro 24 de fevereiro 25 de fevereiro 26 de fevereiro

27 de fevereiro 28 de fevereiro 29 de fevereiro 1º de março 2 de março 3 de março 4 de março 5 de março 6 de março 7 de março 8 de março 9 de março 10 de março 11 de março 12 de março 13 de março 14 de março 15 de março 16 de março 17 de março 18 de março 19 de março 20 de março 21 de março

Pobreza.......................................................................................................................................................... 111 22 de março 23 de março 24 de março 25 de março 26 de março 27 de março 28 de março 29 de março 30 de março 31 de março 1º de abril

América Latina.................................................................................................................... Revelação na perspectiva latino-americana..................................................................... Pobre................................................................................................................................... Os pobres............................................................................................................................ O mundo dos pobres.......................................................................................................... “E os pobres?”.................................................................................................................... Revelação e opção pelos pobres........................................................................................ O santuário do sofrimento................................................................................................ Miséria................................................................................................................................. Jó......................................................................................................................................... Fé e justiça...........................................................................................................................

112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122


2 de abril 3 de abril 4 de abril 5 de abril 6 de abril 7 de abril 8 de abril 9 de abril 10 de abril 11 de abril 12 de abril 13 de abril 14 de abril 15 de abril 16 de abril 17 de abril

Deus da justiça para os pobres.......................................................................................... Leitura da palavra de Deus na vida................................................................................... Injustiça............................................................................................................................... Exclusão dos pobres........................................................................................................... Estruturas sociais injustas................................................................................................... Liberdade............................................................................................................................ Uma espiritualidade da libertação.................................................................................... A perspectiva da libertação............................................................................................... Testemunho da vida........................................................................................................... Maria dos pobres................................................................................................................ Desapareça o dia em que nasci.......................................................................................... Deus da vida........................................................................................................................ Roubar................................................................................................................................. O Papa Francisco, Papa pobre............................................................................................ Recados profundos do Papa.............................................................................................. Eu nunca vi um Papa….......................................................................................................

123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138

Cristo.............................................................................................................................................................. 139 18 de abril 19 de abril 20 de abril 21 de abril 22 de abril 23 de abril 24 de abril 25 de abril 26 de abril 27 de abril 28 de abril 29 de abril 30 de abril 1º de maio 2 de maio 3 de maio 4 de maio 5 de maio 6 de maio 7 de maio 8 de maio 9 de maio 10 de maio 11 de maio 12 de maio 13 de maio 14 de maio 15 de maio 16 de maio 17 de maio 18 de maio 19 de maio 20 de maio 21 de maio 22 de maio 23 de maio 24 de maio 25 de maio

Jesus Cristo.......................................................................................................................... Jesus Cristo é o Senhor!...................................................................................................... Proceder em Cristo............................................................................................................. O divino engenheiro.......................................................................................................... Jesus da história.................................................................................................................. Atletas e missionários de Cristo......................................................................................... Redentor e redimido.......................................................................................................... Redenção............................................................................................................................ O que Jesus de Nazaré queria............................................................................................ Dimensão cristológica........................................................................................................ A luz do mundo.................................................................................................................. Os lírios do campo.............................................................................................................. Seguimento de Jesus.......................................................................................................... Por meio de Jesus............................................................................................................... Jesus, o centro..................................................................................................................... Jesus: centro da revelação................................................................................................. O carpinteiro....................................................................................................................... O conhecimento de Cristo................................................................................................. Jesus manso e humilde....................................................................................................... São José de Nazaré............................................................................................................. Dia das Mães....................................................................................................................... Criança................................................................................................................................ Vida oculta de Jesus........................................................................................................... Contemplação e ação......................................................................................................... Dai-lhes de comer............................................................................................................... O banquete do Reino......................................................................................................... Corpo de Cristo................................................................................................................... “Desejei ardentemente”.................................................................................................... Pão vivo............................................................................................................................... Vinho................................................................................................................................... A linguagem da cruz.......................................................................................................... A agonia.............................................................................................................................. Gotas de sangue................................................................................................................. Flagelação........................................................................................................................... Jesus que padece................................................................................................................ A subida do Calvário.......................................................................................................... As mulheres........................................................................................................................ O servo sofredor.................................................................................................................

140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177


26 de maio 27 de maio 28 de maio 29 de maio 30 de maio 31 de maio 1º de junho 2 de junho 3 de junho 4 de junho 5 de junho 6 de junho 7 de junho 8 de junho 9 de junho 10 de junho 11 de junho 12 de junho 13 de junho 14 de junho

Crucifica-o........................................................................................................................... Crucificado.......................................................................................................................... Oração sobre o Calvário..................................................................................................... Sepultamento..................................................................................................................... Ressurreição........................................................................................................................ Ascensão............................................................................................................................. Ressurreição da carne......................................................................................................... Vida eterna......................................................................................................................... Anunciar Jesus.................................................................................................................... Novos céus e novas terras.................................................................................................. Os sete jarros de ouro........................................................................................................ Deus na Criação.................................................................................................................. Relação................................................................................................................................ Humildade.......................................................................................................................... Paulo e o crucificado.......................................................................................................... Só por mim.......................................................................................................................... Os envios............................................................................................................................. Cultura dominante............................................................................................................. Águia-galinha..................................................................................................................... João Bosco Penido Bournier, SJ, seguidor de Cristo.........................................................

178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197

Alegria. .......................................................................................................................................................... 199 15 de junho 16 de junho 17 de junho 18 de junho 19 de junho 20 de junho 21 de junho 22 de junho 23 de junho 24 de junho 25 de junho 26 de junho 27 de junho 28 de junho 29 de junho 30 de junho 1º de julho

A alegria.............................................................................................................................. A alegria de Jesus............................................................................................................... Felicidade............................................................................................................................ Verdadeira felicidade......................................................................................................... Alegria e felicidade............................................................................................................ A alegria do Consolador.................................................................................................... A alegria do evangelizador............................................................................................... Segredo............................................................................................................................... Bailarino.............................................................................................................................. Dançando com Deus........................................................................................................... Desperte em você a felicidade........................................................................................... A dança............................................................................................................................... Felicidade e paz.................................................................................................................. A realidade......................................................................................................................... Qualidade de vida.............................................................................................................. Paz interior......................................................................................................................... Acabar com a infelicidade.................................................................................................

200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216

Cinco sentidos.............................................................................................................................................. 217 2 de julho 3 de julho 4 de julho 5 de julho 6 de julho 7 de julho 8 de julho 9 de julho 10 de julho 11 de julho 12 de julho 13 de julho 14 de julho 15 de julho

Vivendo os cinco sentidos.................................................................................................. Homem, descobre seu corpo............................................................................................. Sensações corporais............................................................................................................ O corpo: expressão da pessoa no estar-aí......................................................................... Alimento para os que têm fome....................................................................................... Ouvir.................................................................................................................................... Ouviu aquele pássaro cantar?........................................................................................... Deus ouve nossas orações.................................................................................................. A audição............................................................................................................................ Invenção dos óculos........................................................................................................... Orar com a imaginação...................................................................................................... Você está dormindo?.......................................................................................................... As riquezas do seu coração................................................................................................ Nosso coração fala..............................................................................................................

218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231


16 de julho 17 de julho 18 de julho 19 de julho 20 de julho 21 de julho 22 de julho 23 de julho 24 de julho 25 de julho 26 de julho 27 de julho 28 de julho

Revelação na história......................................................................................................... A vida observada................................................................................................................ A canção do sapo................................................................................................................ Vivendo dentro de Deus.................................................................................................... Pessoa integral.................................................................................................................... Desperte.............................................................................................................................. Defeitos............................................................................................................................... Conhecer-se a fundo.......................................................................................................... A paz................................................................................................................................... Gratuidade.......................................................................................................................... Macaco salvando peixe...................................................................................................... Retiro de Yoga Cristã.......................................................................................................... O sopro da vida...................................................................................................................

232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244

Oração............................................................................................................................................................ 245 29 de julho 30 de julho 31 de julho 1º de agosto 2 de agosto 3 de agosto 4 de agosto 5 de agosto 6 de agosto 7 de agosto 8 de agosto 9 de agosto 10 de agosto 11 de agosto 12 de agosto 13 de agosto 14 de agosto 15 de agosto 16 de agosto 17 de agosto 18 de agosto 19 de agosto 20 de agosto 21 de agosto 22 de agosto 23 de agosto 24 de agosto 25 de agosto 26 de agosto 27 de agosto 28 de agosto 29 de agosto 30 de agosto 31 de agosto 1º de setembro 2 de setembro 3 de setembro 4 de setembro 5 de setembro 6 de setembro 7 de setembro

Rezemos.............................................................................................................................. Rezar................................................................................................................................... Oração inaciana.................................................................................................................. Vigilância............................................................................................................................ Silêncio................................................................................................................................ Um exercício de oração...................................................................................................... Palavras de Jesus sobre o Pai eterno................................................................................. Oração de Jesus.................................................................................................................. O Pai-nosso......................................................................................................................... Que é o silêncio?................................................................................................................. Exercício de oração orientada........................................................................................... Uma fantasia do sol de Deus............................................................................................. Servidores de oração.......................................................................................................... Salmos................................................................................................................................. Ouvimos com o coração..................................................................................................... A coroação de espinhos..................................................................................................... Deus Trino........................................................................................................................... Elevação espiritual.............................................................................................................. Em Deus encontramos a paz.............................................................................................. O “Amém”.......................................................................................................................... Oração................................................................................................................................. Oração pessoal.................................................................................................................... Oração oficial...................................................................................................................... Desejos santos..................................................................................................................... Ação de graças.................................................................................................................... A contemplação.................................................................................................................. Limpeza............................................................................................................................... Intercessão.......................................................................................................................... Sabedoria............................................................................................................................ Liturgia................................................................................................................................ Verdadeira oração.............................................................................................................. Meditação........................................................................................................................... Choro................................................................................................................................... Fácil e difícil........................................................................................................................ Aprendizado....................................................................................................................... Centrar-se............................................................................................................................ Mudar.................................................................................................................................. Não cair em tentação......................................................................................................... Executivos........................................................................................................................... Eu, o nada. Deus, o tudo.................................................................................................... A dualidade e a Trindade...................................................................................................

246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286


8 de setembro 9 de setembro 10 de setembro 11 de setembro 12 de setembro 13 de setembro 14 de setembro 15 de setembro

Pluralismo religioso............................................................................................................ A estátua queimada........................................................................................................... Resolvemos os problemas.................................................................................................. Cosmologia......................................................................................................................... O peixinho.......................................................................................................................... A religião da velhinha........................................................................................................ Religiões como revelação................................................................................................... Gandhi.................................................................................................................................

287 288 289 290 291 292 293 294

Espírito Santo............................................................................................................................................... 295 16 de setembro 17 de setembro 18 de setembro 19 de setembro 20 de setembro 21 de setembro 22 de setembro 23 de setembro 24 de setembro 25 de setembro 26 de setembro 27 de setembro 28 de setembro 29 de setembro

Creio no Espírito Santo…................................................................................................... Por que necessitamos do Espírito Santo?.......................................................................... Papel do Espírito Santo...................................................................................................... Presença e ação do Espírito Santo..................................................................................... Tudo em Cristo.................................................................................................................... Comunidade....................................................................................................................... Graça................................................................................................................................... Aliança................................................................................................................................ Bombeiros........................................................................................................................... A rosa.................................................................................................................................. Remissão dos pecados........................................................................................................ Categorias coloridas........................................................................................................... O projeto de Deus.............................................................................................................. Padre Georges Lemaître vivia no Espírito.........................................................................

296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309

Maria.............................................................................................................................................................. 311 30 de setembro 1º de outubro 2 de outubro 3 de outubro 4 de outubro 5 de outubro 6 de outubro 7 de outubro 8 de outubro 9 de outubro 10 de outubro 11 de outubro 12 de outubro 13 de outubro 14 de outubro 15 de outubro 16 de outubro 17 de outubro 18 de outubro

Nossa Senhora Aparecida.................................................................................................. Aparecida (jesuítas)............................................................................................................ Guadalupe.......................................................................................................................... Nossa Senhora de Lourdes................................................................................................. Maria Imaculada................................................................................................................. Nossa Senhora de Fátima................................................................................................... Nossa Senhora das Dores................................................................................................... Nossa Senhora Desatadora dos Nós.................................................................................. O mistério da solidão......................................................................................................... Théotokos........................................................................................................................... Sempre Virgem................................................................................................................... Maria Santíssima................................................................................................................. A solidão no Calvário......................................................................................................... Servimos a Deus.................................................................................................................. Buscando trincheiras.......................................................................................................... Fraternidade....................................................................................................................... A tartaruga......................................................................................................................... Repouse o corpo................................................................................................................. Um poema para a Virgem Maria.......................................................................................

312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330

Bíblia............................................................................................................................................................... 331 19 de outubro 20 de outubro 21 de outubro 22 de outubro 23 de outubro 24 de outubro 25 de outubro 26 de outubro

A Bíblia................................................................................................................................ Inspiração da Bíblia............................................................................................................ Verdade na Bíblia............................................................................................................... A beleza das revelações..................................................................................................... Aspecto social da inspiração.............................................................................................. Revelação............................................................................................................................ A Bíblia na mão do povo.................................................................................................... Sagrada Escritura................................................................................................................

332 333 334 335 336 337 338 339


27 de outubro 28 de outubro 29 de outubro 30 de outubro 31 de outubro 1º de novembro 2 de novembro 3 de novembro 4 de novembro 5 de novembro 6 de novembro 7 de novembro 8 de novembro 9 de novembro 10 de novembro 11 de novembro 12 de novembro 13 de novembro 14 de novembro 15 de novembro 16 de novembro 17 de novembro 18 de novembro 19 de novembro 20 de novembro

Palavra da vida.................................................................................................................... Tradição............................................................................................................................... Evangelho de Jesus Cristo.................................................................................................. Retornar.............................................................................................................................. Gênesis................................................................................................................................ Caim e Abel......................................................................................................................... Jacó: seus problemas.......................................................................................................... Noé...................................................................................................................................... Abrão vira Abraão.............................................................................................................. José, o provedor do Egito.................................................................................................. Paulo................................................................................................................................... A Carta aos Hebreus........................................................................................................... Símbolos.............................................................................................................................. Sabedoria do coração......................................................................................................... A rosa.................................................................................................................................. Oh feliz culpa...................................................................................................................... Senhor, Senhor.................................................................................................................... Revelação universal............................................................................................................ Deus Criador....................................................................................................................... Depoimento falso............................................................................................................... Muito bem, muito bem...................................................................................................... Procrastinação.................................................................................................................... Ilusão................................................................................................................................... Prática de caridade e serviço.............................................................................................. A historicidade....................................................................................................................

340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364

Religião.......................................................................................................................................................... 365 21 de novembro 22 de novembro 23 de novembro 24 de novembro 25 de novembro 26 de novembro 27 de novembro 28 de novembro 29 de novembro 30 de novembro

Igreja................................................................................................................................... Bênçãos............................................................................................................................... Sal e algodão no rio........................................................................................................... Leigos.................................................................................................................................. Idolatria............................................................................................................................... Deus dos homens................................................................................................................ As relações entre ortodoxia e ortopráxis.......................................................................... Ideologia............................................................................................................................. Necessidade da Igreja......................................................................................................... Entre o ateísmo e a idolatria.............................................................................................

366 367 368 369 370 371 372 373 374 375

Histórias......................................................................................................................................................... 377 1º de dezembro 2 de dezembro 3 de dezembro 4 de dezembro 5 de dezembro 6 de dezembro 7 de dezembro 8 de dezembro 9 de dezembro 10 de dezembro 11 de dezembro 12 de dezembro 13 de dezembro 14 de dezembro 15 de dezembro 16 de dezembro

Tarde................................................................................................................................... Freemind............................................................................................................................. Viva como as flores............................................................................................................. O ovo................................................................................................................................... Dignidade........................................................................................................................... Dois fazendeiros................................................................................................................. O coco.................................................................................................................................. Neurótico............................................................................................................................ Não tenha medo................................................................................................................. O espelho no campo........................................................................................................... O diamante......................................................................................................................... Confiança............................................................................................................................ Sempre mais alto................................................................................................................ A inveja............................................................................................................................... A juventude e o mundo digital......................................................................................... Imperador da China...........................................................................................................

378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393


17 de dezembro 18 de dezembro

A formiga e a pomba......................................................................................................... 394 Cidades-símbolo................................................................................................................. 395

Os Escritores................................................................................................................................................. 397 19 de dezembro 20 de dezembro 21 de dezembro 22 de dezembro 23 de dezembro 24 de dezembro 25 de dezembro 26 de dezembro 27 de dezembro 28 de dezembro 29 de dezembro 30 de dezembro 31 de dezembro

Padre Raul Pache de Paiva, SJ............................................................................................ Joseph A. Tetlow, SJ............................................................................................................ Pe. Roque Schneider, SJ...................................................................................................... João Batista Libanio, SJ (19/2/1932-30/1/2014)................................................................. Anthony de Mello, SJ......................................................................................................... A história do Natal: o nascimento de Jesus...................................................................... Natal.................................................................................................................................... A árvore da vida................................................................................................................. Concentração...................................................................................................................... Deus é o autor.................................................................................................................... Pluralismo........................................................................................................................... Sagrada Escritura................................................................................................................ Apocalipse...........................................................................................................................

398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410

Padre Haroldo................................................................................................................................................. 411


Apresentação

A

gradeço a Deus a oportunidade que me dá de escrever estas páginas de apresentação. Creio que o Espírito Divino lhes dará a unção, sem a qual nenhum fruto pode ser produzido. E peço também a Virgem de Guadalupe que alcance a abundância do Espírito de luz e força para aquele que Ele escolheu para ser um de seus mais íntimos colaboradores na conquista do Reino. Como jesuíta, o Papa Francisco, e outros companheiros, luta para estabelecer o “Reino”. A cada homem que cria, Deus tem desígnios de eterno amor. A felicidade verdadeira está proporcionada à realização desses desígnios que exigem colaboração, generosidade, entrega. Quando Padre Haroldo veio ao mundo, sua mãe estava muito doente e ela logo o consagrou para um dia ser sacerdote. Teve a felicidade de ser consagrado a Maria. Quando jovem, leu um panfleto de Padre Daniel Lord, SJ. Tratava de um padre jesuíta que narrava sua imensa felicidade na vocação sacerdotal. O livrinho influiu para que ele fosse jesuíta. O desejo e a profecia de sua mãe se realizaram. E o padre só o soube depois de sua ordenação. A Virgem Maria, a quem nunca deixou de invocar, o levou sempre mais perto do Divino Espírito, tornando-o mais sensível à sua ação. Ele escreveu ter prestado atenção às suas inspirações, às vezes leves como uma brisa, mas tantas vezes fortes como um vendaval. Sentiu muitas vezes a influência e o impulso do Espírito guiando-o, sobretudo depois que leu o livro O Santificador, do Arcebispo Martinez. Mais tarde, leu e estudou todos os livros que encontrou sobre o Espírito Santo. Orou e meditou sobre Ele. O Espírito Santo foi sempre a grande influência e o grande atrativo de sua vida espiritual. E ainda, por Maria, vai recebendo sempre mais graças desse Espírito Divino. Esse nosso “terrível jesuíta”, como ele mesmo se autodenomina, é um homem de Deus. Tenho a graça de conviver com ele há 38 anos, de desfrutar sua amizade, de trabalhar a seu lado no apostolado, de aprender com sua pureza de alma. Padre Zezinho, SCJ, escreveu uma vez: “Se eu fosse Papa, canonizaria um mês depois da morte o Padre Haroldo. É o meu jeito de dizer que ele semeou a inquietação social, a inquietação pelo espiritual e conseguiu ser homem de profunda contemplação, profunda meditação e de profundo compromisso com os sofredores. Ele personalizou muito os dois braços da cruz, o vertical e o horizontal”. Padre Haroldo vive os “Exercícios Espirituais”; que ele é um homem de Deus é indiscutível. Ouvi contar certa vez: numa reunião do clero da diocese do Rio de janeiro, tratava-se da crise de vocações sacerdotais; um sacerdote se ajoelhou e prometeu trabalhar por dez. Outros fizeram o mesmo. “O problema estava resolvido”, disse o bispo. Costumo dizer: Padre Haroldo não trabalha por dez, mas por cem. É o maior apóstolo vivo que eu conheço. Tem um indefectível desejo de auxiliar os outros em todas as suas situações. Está sempre voltado para o outro. Creio que essa doação aos outros também esteja presente na vida de muitos outros padres e leigos. A diferença é que o Padre Haroldo trabalha por cem. Talvez eu exagere por conta da admiração que nutro pelo padre, mas um dado verídico permanece: é um jesuíta incansável, dotado de uma resistência fora do comum para trabalhar. Não há espaço nestas folhas para narrar o que ele já fez e faz. O padre não poderia ter realizado toda essa lida apostólica nos seus 96 anos de vida, se não houvesse um segredo para sua resistência. Uma vez por semana ele folga para descansar física, mental e espiritualmente. É o dia em que jejua para disciplinar o corpo e se unir mais exclusivamente a Deus. A doação completa do sacerdócio Padre Haroldo encontrou na oração que Santo Inácio ensina: “Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, a minha inteligência e toda a minha vontade. Tudo o que tenho ou possuo Vós me destes. A Vós, Senhor, restituo. Tudo é vosso. Disponde segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e a vossa graça. Pois ela me basta”. 15


Ele procura empregar todos os meios espirituais e materiais ao seu alcance para fazer feliz seu irmão. É sua a frase: “Todas as noites vou dormir exausto, porém feliz porque servi o meu irmão”. O Padre escreveu sobre as ideias espirituais do Papa Francisco e de outros jesuítas. Eu quis escrever sobre as ideias espirituais dele como seguidor de Santo Inácio. Termino esta pequena apresentação desejando aos leitores um grande proveito espiritual.

Núbia Maciel França Socióloga e advogada

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Introdução

O

rganizei este livro como uma feijoada espiritual dos pensamentos dos padres jesuítas para que os primeiros missionários do Brasil e os fundadores da cidade de São Paulo sejam conhecidos; e os fiéis modernos entendam os pensamentos de seus discípulos. Entre estes discípulos está também o popular Papa jesuíta Francisco, que, com os seus companheiros segue a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola. Com a licença de Edições Loyola e a permissão explícita dos autores que cito, eu copiei parágrafos, pensamentos, citações e reescrevi muitas linhas usando suas ideias. Os grandes escritores são: o Papa Francisco e alguns amigos meus que são padres jesuítas. As citações bíblicas são, principalmente, de Raul Paiva; as lições dos “Exercícios Espirituais” foram copiadas de José Tetlow; a libertação dos pobres e mais necessitados veio das páginas de João Batista Libanio; a parte de vida cotidiana veio de Roque Schneider; e as histórias orientais vieram de Anthony de Mello. Eu, pessoalmente, escrevi muitos capítulos. Se tem algo errado, sou responsável. Amanda Mello, minha grande amiga e excelente assessora, cuidou de todos os escritos e deu vida a nossas ideias. Durante dois anos estudei os escritos desses amigos maravilhosos e separei, combinei e reeditei como uma moqueca espiritual de espiritualidade jesuíta. Desta maneira organizei estas páginas. Espero que ao ler e meditar sobre o conteúdo destas páginas você tenha o mesmo prazer que eu tive de estudar, meditar e refazer os pontos espirituais dos meus amigos da Companhia de Jesus (os jesuítas), seguidores de Jesus e de Maria vivendo os “retiros” de Inácio de Loyola.

Haroldo J. Rahm, SJ

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Instrução

O

s “exercícios” que aí vão têm um poder que dificilmente será experimentado se estas páginas forem simplesmente lidas. São exercícios para serem feitos. Isso se aplica a quase cada uma das frases que os compõem. Muitos deles, à primeira leitura, poderão parecer um conjunto de palavras sem muita inspiração; uma vez, porém, levados à realização, podem tornar-se, surpreendentemente, uma porta maravilhosa para a iluminação interior. Se estes exercícios forem feitos em grupo, um dos participantes os deverá ler, em voz alta, com frequentes pausas… Cada membro do grupo, entretanto, deverá manter seu próprio ritmo interior e não o do leitor; isto é: deverá sentir-se livre para ir mais lentamente e atrasar-se enquanto o leitor segue em frente; poderá, até mesmo, deixar de atender às palavras que continuam sendo lidas, se alguma ideia convida a parar para uma melhor reflexão. Se o trabalho é feito individualmente ou em grupo, aconselha-se ler um exercício atentamente e, depois, deixando de lado o livro, fazer quanto se pode e se consegue lembrar do que foi recomendado. Neste caso, não se recomenda voltar ao livro e reabri-lo com frequência: isso constituiria uma fonte de distração. Não é preciso que alguém faça cada exercício em sua totalidade; pode-se escolher uma parte apenas — ou porque, talvez, o tempo seja curto ou porque a parte escolhida ofereça tanto alimento espiritual que não se sinta nem inclinação nem necessidade de recorrer a outras partes. É recomendável, também, que se faça o mesmo exercício mais de uma vez, porque, muitas vezes, na repetição, o leitor pode atingir níveis mais altos ou mais profundos. Pode também acontecer que, em um segundo esforço, se consiga romper a crosta externa de um exercício, que a primeira leitura revelara resistente e impenetrável. Ao trabalhar em um exercício, sozinho ou em grupo, você notará, algumas vezes, que a escrita ajuda para estimular sua mente, quando ela é muito vagarosa, ou para concentrá-la quando dissipada. Mas tenha sempre presente que a escrita é apenas uma “plataforma de lançamento” que deve ser imediatamente descartada a partir do momento em que você se sinta “em pleno voo”. Antes de começar qualquer exercício, procure desenvolver dentro de si a seguinte disposição: entrar nesse trabalho de meditação não somente por sua própria utilidade, mas também para que o aproveitamento de toda transformação que você venha a experimentar redunde em benefício ao mundo inteiro. Ficará surpreso em ver quanta diferença acarreta essa atitude tomada assim, conscientemente. Este livro pretende guiar o leitor: da região mental para o sensível, do pensamento para a fantasia e o sentimento e, finalmente — assim o esperamos — através do sentimento, da fantasia e dos sentidos, pretende levá-lo ao “silêncio”. Use-o, portanto, como uma escada que leve você ao terraço. Uma vez lá em cima, deixe de vez a escada; senão, não verá o céu.

Para refletir

Quando tiver chegado ao silêncio, este livro se tornará seu inimigo. Livre-se dele!

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História dos jesuítas brasileiros

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m 1534, surge a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola, obtendo a aprovação do Papa Paulo III em 1540. Os jesuítas eram considerados soldados do Papa e de Cristo, lutando pela Igreja e pela difusão da fé católica. A Companhia de Jesus tinha sua sede na Espanha. O Brasil tornou-se a sexta província dessa organização, em 1553. Os primeiros jesuítas chegaram com o primeiro governador, chefiados pelo Padre Manoel da Nóbrega. Outro nome importante a ser citado é o de São José de Anchieta. Veio com o segundo governador, ainda noviço, aos 17 anos de idade. Nascido em Tenerife, nas Canárias, foi ordenado padre aqui no Brasil. Foi professor, catequista, poeta, linguista, teatrólogo, cozinheiro, sapateiro, padre, diretor de colégio, entre outras atividades. Juntamente com Manoel da Nóbrega, fundou a cidade de São Paulo. Os jesuítas estavam interessados na pacificação dos índios. Construíram colégios e reuniram os índios em pequenas aldeias, missões ou reduções, como às vezes se intitulavam. Aprenderam a viver de um modo sedentário, trabalharam em lavouras, foram catequizados e aprenderam ofícios. Viveram em paz com os brancos. Por este trabalho e por negar a escravidão do índio, os jesuítas entraram em conflito com os colonos e chegaram a ser expulsos, como aconteceu em 1641, em São Paulo. Porém, prestaram importantes trabalhos na formação do povo, na parte cultural e na colonização do Brasil. 1500 — O fidalgo Pedro Álvares Cabral comanda uma esquadra que parte de Portugal em 9 de março de 1500, afasta-se da rota traçada por Vasco da Gama e avista novas terras em 21 de abril de 1500, aproximando-se, no dia seguinte, de um monte que chamou “Pascoal” e mais tarde passou a ser denominado Brasil, pela abundância da madeira chamada pau-brasil. Estima-se que, antes da chegada dos europeus, a população indígena oscilava entre 1 milhão e 3 milhões, ficando reduzida, em cinco séculos, a cerca de 270 mil indivíduos. Os primeiros colonizadores serviram-se dos índios para o trabalho nas lavouras e engenhos. Com a chegada dos jesuítas, os índios passaram a ser protegidos por eles. O primeiro governador-geral chegou à Bahia em princípios de 1549, acompanhado de muitas famílias — uns 200 homens de armas, cerca de 300 colonos, numerosos artífices (carpinteiros, pedreiros), 400 degredados e “seis jesuítas”, incluindo o superior, o Padre Manoel da Nóbrega, com o objetivo de iniciar a catequização dos índios, implantando uma disciplina rígida na colônia. A mais proveitosa administração foi a de Mem de Sá. Logo ao chegar, procurou harmonizar os colonos e os jesuítas. Sob a direção do Padre Manoel da Nóbrega, reuniu os índios mansos em grandes aldeamentos, chamados “missões”. O segundo governador-geral chegou à Bahia em 1553. Trouxe consigo “nove jesuítas”, entre os quais o então noviço José de Anchieta. Havia sérias divergências entre os colonos e os jesuítas por causa da escravização dos índios. Em viagem para o Brasil em 1572, D. Luís de Vasconcelos morreu juntamente com toda a sua tripulação, que incluía cerca de “40 jesuítas”, quando sua expedição foi atacada por corsários franceses. No princípio, os colonos e os bandeirantes apresaram os índios em qualquer parte, e, posteriormente, foram buscá-los nas chamadas “reduções”, aldeamentos organizados pelos padres jesuítas. Nessas aldeias, os índios tinham uma vida mais sedentária, eram cristianizados, aprendiam a plantar, criar gado e outros ofícios. Manoel da Nóbrega e São José de Anchieta fundaram o Colégio de São Paulo de Piratininga no planalto em 25 de janeiro de 1554, que deu origem à cidade de São Paulo.

P

Para refletir

or que tornar-se ou permanecer jesuíta? Aceitamos ao nosso redor companheiros vivendo em uma prontidão para um serviço desinteressado realizado em silêncio, uma prontidão para a oração, para o abandono à incompreensibilidade de Deus, e para a aceitação tranquila da morte em qualquer 19


forma que Deus escolhe; para dedicação total ao seguimento de Cristo crucificado e ressuscitado no poder do Espírito Santo. Vivemos com a Virgem Maria sempre procurando o amor e a maior glória de Deus. Assim é a breve história dos jesuítas brasileiros.

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Um leigo casado escreve sobre os pensamentos do Papa jesuíta

G

raças sejam dadas a Deus nosso para sempre, pois houve por bem manifestar publicamente o que somente em oculto deu a sentir a seu servo e a nosso Pai Inácio.” Com essas palavras, Francisco Xavier escrevia da Índia aos companheiros de Roma em 15 de janeiro de 1544, alegrando-se pela aprovação canônica da Companhia de Jesus. Meu primeiro encontro com os jesuítas deu-se em abril de 1975, quando fui participar de um retiro para jovens, o TLC — Treinamento de Liderança Cristã, fundado pelo Padre Haroldo em Campinas. Foi uma experiência transformadora em minha vida e, a partir daí, passei a frequentar a paróquia São Luís Gonzaga e atividades pastorais do Colégio São Luís, ambos situados na conhecida avenida Paulista, em São Paulo. Destaco a seguir o que mais me influenciou e me impressionou nos jesuítas, contando algumas experiências que tive ao longo da minha vida. ACOLHIMENTO: Nosso pároco no São Luís era o Padre Aloísio Pena, que anos depois veio a ser Dom Aloísio, SJ, bispo da diocese de Bauru. Tinha eu 17 anos de idade e dava meus primeiros passos na vivência em uma Comunidade Paroquial Jesuíta, onde me senti totalmente acolhido e valorizado, sendo que esse acolhimento foi o impulso inicial e motivador para perseverar. Essa dimensão do acolhimento dos padres jesuítas com quem convivi foi um alicerce importante da minha religiosidade. EDUCAÇÃO: Com o tempo, aproximei-me das ações pastorais do Colégio São Luís, apesar de nunca ter sido seu aluno. No Colégio, conheci alguns padres que me impressionavam com seu saber e com sua maneira de ensinar. Padre Aquino, Padre Klein, Padre Peters e Padre Paiva são quatro deles, e percebi ali uma das principais vocações dos jesuítas, a Educação. Santo Inácio, vivendo seu profundo processo de discernimento para entender qual a vontade de Deus para ser o Carisma e a Missão da recém-formada Companhia de Jesus, percebeu logo que a Educação e a formação intelectual de crianças, jovens e adultos seriam grandes projetos e desafios. Com Inácio como Prelado e Superior Geral dos jesuítas, quarenta e seis colégios foram fundados entre 1540 e 1556, e, a partir daí, colégios e universidades jesuítas estão presentes por todo o mundo com ensino de alta qualidade. CULTURA RELIGIOSA: Nos anos de 1977-1978 os padres do Colégio São Luís passaram a oferecer para os alunos e para os jovens da comunidade paroquial a “Escola de Fé”, em que, semanalmente, padres jesuítas nos ensinavam sobre doutrina católica, interpretação da Sagrada Escritura, história e outros conhecimentos e reflexões próprios da espiritualidade e da religiosidade. Mais uma vez eu ficava encantado com o saber e o amor com que ensinavam, e destaco um dos nossos professores, o Padre Terra, SJ, reconhecido como um dos maiores conhecedores da Sagrada Escritura no Brasil. Também o Padre João B. Libanio, SJ, nos deu aula e fazia uma análise crítica e construtiva dos movimentos de juventude católica como o TLC. VOCAÇÃO: Em 1979 tive duas das experiências mais ricas em minha vida. Eu vivia um momento interior de muita inquietude sobre minha vocação religiosa e sobre o que Deus queria de mim. Conversava muito com Padre Guy Rufier, SJ, que era então o nosso novo pároco. O Padre Guy, educador e pastor de primeira grandeza e muito rico em cultura, pediu que o superior do noviciado jesuíta em Campinas me acolhesse e me desse a oportunidade de vivenciar um pouco o dia a dia no noviciado. Foram quatro meses de muita oração e partilha com os padres e com os noviços, que me ajudaram a discernir que o projeto de Deus para mim seria um sacerdócio laico. O tempo no noviciado foi um rico alicerce para a sequência da minha vida. Mais uma vez me impressionou a maneira consistente e absolutamente sem pressão com que os jesuítas contribuíram para meu processo de amadurecimento vocacional. MISSIONÁRIO: Ainda em 1979, ao término do meu tempo no noviciado, mais uma vez o Padre Guy promoveu, com o Bispo da Diocese de Juazeiro –­ BA, um intercâmbio para o qual prontamente aceitei o convite. Éramos cerca de trinta jovens e adolescentes e, juntos com Padre Guy, fomos fazer uma experiência missionária. Chegando lá, fomos separados, individualmente ou em duplas, e seguimos para diferentes localidades da Diocese. Eu e meu amigo Ricardo fomos viver por algumas semanas numa casa de sapê no vale do Salitre, numa propriedade rural distante cerca de duas horas de Juazeiro, e lá desenvolvemos algumas atividades com a Pastoral da Terra. No final, fui ameaçado por grandes latifundiários e fiquei três 21


dias protegido, morando na casa do Bispo. Mais uma vez fiquei encantado com a dimensão missionária que os jesuítas me proporcionaram, lembrando a vida de São Francisco Xavier e de tantos outros. PROTAGONISMO POLÍTICO: Voltando de Juazeiro, vivíamos tempos em que a ditadura militar dava seus últimos golpes. Eu participava na liderança da Pastoral da Juventude, e, como cristãos, estávamos bastante mobilizados clamando por justiça e liberdade. Nos reuníamos muito com Padre Brandão, SJ, e Padre Sefrim, SJ, no Colégio Anchietano, em São Paulo. Lá recebíamos formação política à luz do Evangelho, líamos muitos textos de Dom Hélder Câmara e organizávamos nossas manifestações e participações em atos contra a ditadura. Conheci ali o protagonismo político de muitos jesuítas que, com coragem, enfrentavam os aparelhos da repressão. ESPIRITUALIDADE: “O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor e assim salvar-se.” Assim começam os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola que o Papa Francisco faz todos os anos. Comecei a praticá-los por volta de 1978, não na dinâmica de trinta dias, mas por três ou sete dias, e também praticando-os no dia a dia em casa. Tive alguns orientadores valiosos, como Padre Pedreira, SJ, mas a experiência dos EE é individual e totalmente à disposição da Graça de Deus. Pelos EE compreendi melhor o sentido da vida, superei um pouco meus apegos desordenados, aprendi a refletir, meditar, contemplar a Deus, e também a escutar e discernir o que é a vontade de Deus. Com isso, aprendi a fazer minhas eleições e escolher minha bandeira. Me aprofundei em reconhecer meus erros e pecados, pedir perdão e experimentar mais profundamente a Graça transformadora da misericórdia e contemplar, dentro das minhas limitações, a infinita grandeza e bondade do Reino de Deus. Mais uma vez os jesuítas me surpreenderam e me apresentaram um roteiro de crescimento espiritual transformador e santificador: os Exercícios Espirituais Inacianos. CARIDADE E PIEDADE: Na Pastoral da Juventude, tive a graça de conhecer um Santo Homem. Para mim, ele é aquele que expressava todas as virtudes que em minha experiência pessoal encontrei nos jesuítas: acolhimento, educação, formação, humildade, serviço, missão, liderança, compaixão e protagonismo político à luz do Evangelho. Refiro-me a Dom Luciano Mendes de Almeida. Escutá-lo era uma tarefa prazerosa, mas não fácil, pois seus conhecimentos eram inesgotáveis. O amor e a mansidão com que transmitia sua sabedoria e sua fé não eram suficientes para que conseguíssemos absorver o conteúdo, tamanha a riqueza e diversidade de abordagens. Um dia fui buscar Dom Luciano em São Paulo para que ele desse uma palestra num encontro da Pastoral da Juventude. Ele havia chegado na véspera do encontro dos bispos em Puebla com o Cardeal Bergoglio. Fomos em direção a Itaici, eu dirigindo e ele ao meu lado, contando um pouco do que havia vivenciado em Puebla. Em certo momento, ele adormeceu e, depois de poucos minutos, acordou e continuou me contando. Era a bondade e a disponibilidade em pessoa. Os mais próximos dizem que ele pouco dormia, pois chegava em casa cansado, tarde da noite, e punha-se em oração por horas ao longo da madrugada. Coloco sempre em oração meu desejo da canonização de Dom Luciano, pois ele sempre será uma referência como modelo de vida em Cristo a ser seguido. AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO: Eu e a Lúcia nos conhecemos no TLC e nos casamos em fevereiro de 1983. Quatro padres jesuítas, todos nossos amigos, presidiram o casamento: Padre Araújo, Padre Melchert, Padre Pedreira e Padre Aquino. Tivemos três filhos, e agora temos dois netos. No final de 1996, por motivos profissionais, nos mudamos de São Paulo para Campinas. Chegando a Campinas, participei de um retiro em que conheci o fundador do TLC, Padre Haroldo Rahm, SJ, outro Santo Homem. Mal sabia eu que aquele encontro com o Padre Haroldo iria dar novo rumo à nossa vida. Padre Haroldo nos chamou, eu e Lúcia, minha esposa, para participar do TLC em Campinas como casal de apoio, e me convidou a me tornar um voluntário da sua obra, levando uma palavra de espiritualidade aos acolhidos em recuperação por uso e dependência de álcool e drogas. Doze anos depois fui convidado a assumir a presidência da obra por ele fundada, “Instituto Padre Haroldo”, que conta com três programas de acolhimento, cuidado e educação voltados prioritariamente para a população carente, vulnerável e em situação de risco. São mil atendidos diariamente, duzentos profissionais na equipe e mais de mil voluntários e mantenedores. Mais uma vez um padre jesuíta fez a Graça de Deus chegar a mim de maneira abundante, pois é um privilégio amar e servir a Deus e aos irmãos numa obra que vive fortemente o Amor. AMAR E SERVIR: Padre Haroldo é, como ele mesmo diz, “um terrível jesuíta”. Alegre, criativo, gosta das artes e da ciência com a mesma intensidade, incentiva o esporte, transita pelo ocidente e pelo oriente com sua Yoga Cristã, é amoroso, compassivo e, às vezes, rígido e severo. Com a mesma satisfação, convive com miseráveis e ricos, mas seu apostolado é voltado, em primeiro lugar, a acolher o sofrimento humano 22


e oferecer oportunidades para que as pessoas superem o sofrimento e possam ser felizes. Vive uma espiritualidade contagiante e cativante, tendo nos exercícios inacianos e na sua devoção a Virgem de Guadalupe seus caminhos preferidos. Considero Padre Haroldo um jesuíta exemplar, pois vive com amor e fidelidade o ideal pregado por Santo Inácio. Não importa onde esteja, não importa com quem esteja, não importa em que situação, Padre Haroldo sempre busca viver o lema inaciano: AMDG (EM TUDO AMAR E SERVIR PARA A MAIOR GLÓRIA DE DEUS) O slogan do Papa Francisco é “Amar e Servir”.

Luis Roberto Sdoia

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Padre Haroldo

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hegou ao Brasil em 1964. Naturalizou-se brasileiro em 1986. É cofundador dos seguintes movimentos: Treinamento de Liderança Cristã (TLC); Renovação Carismática Católica (RCC), Paróquia de São Pedro Apóstolo em Campinas; Paróquia de São José em Osasco; Centro Social Presidente Kennedy; Fazenda do Senhor Jesus; Amor-Exigente (AE), Centro de Estudos e Promoção da Mulher Marginalizada (CEPROMM); Associação Promocional Oração e Trabalho (APOT), para pessoas de ambos os sexos, vítimas dos transtornos decorrentes de substâncias psicoativas; Casa Guadalupana, para crianças e adolescentes de ambos os sexos em situação de rua; Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (FEBRACT); Federação Latino-Americana de Comunidades Terapêuticas (FLACT); Yoga Cristã. É o vice-presidente da Federação Mundial de Comunidade Terapêutica (WFTC) e cofundador do Programa Freemind.

Você tem problemas com álcool e/ou com outras drogas? Nós temos a solução! Instituto Padre Haroldo Rua Doutor João Quirino do Nascimento nº 1.601 — Jd. Boa Esperança CEP 13.091-516 Campinas, SP Para mais informações, ligue:

(19) 3794-2500 Ou envie um e-mail para: hrahmsj@yahoo.com Visite também: www.padreharoldo.org.br www.padreharoldo.blogspot.com “Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, memória, entendimento e toda a minha vontade. Tudo o que tenho ou possuo Vós me destes. A Vós, Senhor, restituo. Tudo é vosso. Disponde segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e a vossa graça. Pois ela me basta” (Oração de Santo Inácio de Loyola).

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Este livro foi composto nas famílias tipográficas PMN Caecilia e Frutiger e impresso em papel Pólen Soft 80g/m2



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