Família: caminho da sociedade e da Igreja

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FamĂ­lia: caminho da sociedade e da Igreja



João Carlos Petrini Rafael C. Fornasier

Família: caminho da sociedade e da Igreja A geração dos vínculos: pessoa, família, comunidade e sociedade


Preparação: Maurício Balthazar Leal Capa: Viviane B. Jeronimo Foto de © ratkom/Fotolia Diagramação: Rosilene de Andrade Revisão: Mônica Aparecida Guedes

Edições Loyola Jesuítas Rua 1822, 341 – Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP T 55 11 3385 8500 F 55 11 2063 4275 editorial@loyola.com.br vendas@loyola.com.br www.loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

ISBN 978-85-15-04279-1 © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2015


“Toda doutrina social que visa a destruir a família é má, e para mais inaplicável! Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo, mas sim a família.” Victor HUGO, in Miscelânea de literatura e filosofia



Sumário

Introdução...................................................................................................... 11 I. Fragilidade dos vínculos interpessoais................................................. 15 1. A família é tudo ou é nada?......................................................................................19 2. O entrelaçamento de amor, sexualidade e fecundidade.........................................21 3. Redução da cooperação entre sexos e entre gerações..........................................22 4. A família no contexto político...................................................................................23 5. Desconstrução do passado, evaporação do futuro: a implosão do tempo.................................................................................................24 6. A desconstrução do futuro.......................................................................................25 7. A primazia do aqui e agora.......................................................................................26 8. O mercado coloniza o mundo da vida......................................................................27 9. O processo de banalização.......................................................................................28 10. A família resiste e adapta-se às mudanças............................................................31


II. A família e a transformação das relações humanas na sociedade........................................................... 35 1. “Novos modelos de família” na sociedade?............................................................36 2. Fragilidade dos vínculos e bens relacionais no seio da família.............................42 3. “Desejo de família” e promoção dos vínculos interpessoais.................................45 4. A família e a juventude: “o trabalho e a festa”........................................................48 a) Juventude e família.............................................................................................49 b) Juventude e trabalho..........................................................................................51 c) Juventude e festa................................................................................................53 5. Reforçar os vínculos interpessoais para uma “cultura da família”...................................................................................................54 a) Fidelidade............................................................................................................55 b) Perseverança......................................................................................................57 c) Fecundidade........................................................................................................60 6. A família como valor e recurso para a pessoa e a sociedade................................62 7. Família como mediação da cultura secular e da cultura cristã.............................64 8. Pedagogia divina: lei da gradualidade.....................................................................67

III. A contribuição do papa São João Paulo II.............................................. 71 1. A família imagem da Trindade..................................................................................72 2. O ser humano é pessoa, é alguém, não é uma coisa..............................................73 3. “À imagem de Deus Ele o criou [o homem], homem e mulher Ele os criou”..............................................................................................................75 4. A diferença sexual vem desde o princípio..............................................................76 5. A linguagem do corpo...............................................................................................78 6. Amor no casamento: dom sincero de si..................................................................80 7. Família, Igreja doméstica.........................................................................................82 8. Sujeito de evangelização..........................................................................................85


IV. Família como comunidade e comunidade eclesial como família........................................................ 87 1. A casa de família e a casa-comunidade na experiência eclesial..........................88 2. Relação entre Ecclesia domestica e domus Ecclesiae na comunidade paroquial.........................................................................................90 a) Ecclesia domestica como família-comunidade................................................93 b) Domus Ecclesiae como comunidade-família....................................................94 3. A fraternidade como conditio sine qua non da comunidade eclesial.................................................................................................97

V. Desafios e possibilidades da família na Igreja e na sociedade atual................................................. 103 1. Os desafios e os passos para consolidar a família cristã....................................103 2. Desafios de caráter social......................................................................................103 3. Desafios de caráter cultural e antropológico........................................................104

Considerações finais................................................................................... 109



Introdução

O filósofo Michel Foucault, em As palavras e as coisas, afirmara que o “decreto” da morte de Deus proclamado por F. Nietz­ sche em sua obra Assim falou Zaratustra fora também o decre­ to da morte do seu “matador”, ou seja, o homem. John Henri Newman reforçou esta estreitíssima relação entre a “crença” no homem e a crença em Deus. No seu célebre texto intitu­ lado Apologia pro vita sua, Newman não hesitou em afirmar que acreditava em Deus porque acreditava em si mesmo. Ver­ dade é que a relação entre antropologia e teologia é estreitíssi­ ma. Como o diz o Concílio Vaticano II, ao se revelar, Deus não somente se revela a si mesmo, mas também revela ao homem quem ele é (cf. GS, n. 22). Num certo sentido, a busca sincera do homem por sua vocação e seu destino acaba por colocá-lo inexoravelmente diante do seu Criador. A escritora Mary Eberstadt, em seu livro How the West Really Lost God (Como o Ocidente realmente perdeu Deus), faz uma li­ gação com a perda de Deus e a fragmentação da família na socie­ dade contemporânea. A autora considera que, se é verdade que a diminuição da referência a Deus na atualidade tem impactos


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diretos na vida familiar, também o inverso é verdade: a deses­ truturação da família tem fortes incidências na referência a Deus e na experiência religiosa. Com efeito, a família, como mediação por excelência entre natureza e cultura, faz convergir a reflexão antropológica e teo­ lógica sobre o próprio homem e sobre Deus mesmo. Neste sen­ tido, o texto que ora se oferece ao leitor busca delinear não só a partir da teologia, mas também das ciências humanas e sociais, uma reflexão que identifica a necessidade de suscitar e fortalecer os vínculos interpessoais constitutivos da vida familiar como es­ truturantes para a vida da pessoa, da sociedade e também da Igreja. O presente texto assume e reorganiza uma série de con­ ferências, artigos, palestras, entrevistas, frutos de incessante tra­ balho com e em favor das famílias nos últimos anos. No primeiro capítulo avalia-se, a partir de dados empí­ ricos, a situação da fragilidade dos vínculos no seio da famí­ lia. Sob a óptica da análise sociocultural, apontam-se algumas causas dessa fragilidade e dessa fragmentação das relações, e se busca perceber como a família e a pessoa transitam em meio a questões políticas e de mercado. A oscilação diante do valor que representa a família para a pessoa parece ceder o passo a uma capacidade de adaptação da família diante dos novos desafios. No segundo capítulo se acentua a necessidade de geração dos vínculos interpessoais e familiares. Neste sentido, merece atenção particular a juventude, que com frequência é sacudi­ da por ideologias que tendem a legitimar todas as experiências afetivas e de relacionamento sem compromisso. A necessidade imperativa de se estar próximo e acompanhar as diversas situa­ ções familiares que podem surgir na atualidade não diminui a urgência de se identificar as relações humanas com maior pos­ sibilidade de suscitar bens relacionais. Distinguir não significa


Introdução

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discriminar, mas reconhecer o que cada situação tem como po­ tencial para gerar capital humano e social. Os passos em dire­ ção ao fortalecimento dos vínculos interpessoais e à proposta que se apresenta através da boa-nova da família requerem pa­ ciência e crescimento gradual ao longo da caminhada. O terceiro capítulo detém-se sobre a contribuição da re­ flexão de São João Paulo II a respeito da relação do mistério de comunhão trinitária com a comunhão que se estabelece entre os membros de uma mesma família e entre as famílias elas mesmas no seio da sociedade e da Igreja. Na comunhão de pessoas, é a própria identidade da pessoa que se manifesta, notadamente através do dom sincero de si, que se expressa pela linguagem do corpo, vivida de modo privilegiado através da união sacramental. No quarto capítulo, dando continuidade à reflexão já ini­ ciada com o pensamento de São João Paulo II sobre a família como Igreja doméstica, o texto faz um aprofundamento da re­ lação da noção de família como Igreja doméstica e da comu­ nidade eclesial que também é chamada a se realizar nas casas das famílias. A íntima relação entre a comunidade eclesial e a família abre largas expectativas, sobretudo no que concerne às iniciativas de grupos e fraternidades de famílias, para uma re­ novação da missão e da vida da Igreja na sociedade atual. Por fim, no quinto capítulo, como em forma de síntese recapitulativa, conclui-se mencionando alguns desafios para a vida familiar tanto no âmbito da Igreja como no âmbito da sociedade e indicam-se passos para enfrentá-los.




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