JESUÍTAS uma pequena história ilustrada
IDEALIZAÇÃO E PROJETO
Pateo do Collegio
JESUÍTAS uma pequena história ilustrada
Ilustrações Luiz Boschi Grecco Texto Pe. Gerardo Cabada Castro, SJ
“Os jesuítas são, até hoje, homens do Renascimento. Não no sentido de terem ficado anacronicamente presos ao seu tempo. Mas no sentido de que o espírito do Renascimento, isto é, o humanismo, é que inspira a sua ação apostólica” Alceu Amoroso Lima, 1940.
O Anjo da Guarda do Capitão Íñigo de Loyola, observava atentamente o que acontecia em Pamplona, capital de Navarra, na Espanha. Até a nuvem, de onde vigiava atentamente seu protegido, chegava o barulho da batalha entre os invasores franceses, que pretendiam apoderar-se da cidade, e o exército espanhol, onde o corajoso Capitão Íñigo organizava a defesa da fortaleza, cercada pelo inimigo. O Anjo sentiu uma leve brisa quando seu amigo, um Anjo aposentado, que tinha protegido muitos habitantes da terra durante muitos e muitos séculos, sentou-se ao seu lado:
- Como está seu protegido? - perguntou. - Numa situação difícil! No seu coração não há lugar para o medo. Isso é muito perigoso numa batalha. Sempre querendo ser mais que os outros. - É por isso que Deus o escolheu? - Sim. Mas o que ele escolhe não corresponde aos desejos de Deus. Quer ser o cavaleiro mais valente, quer ser o mais elegante, quer ser o mais gentil, quer até mesmo paquerar a filha do imperador, que dizem ser a mais bela princesa da Europa... - O que você está fazendo para mudar suas escolhas? - Tudo. Mas não adianta. Apesar disso, sinto que Deus tem algum plano em mente. - Sei como age Deus. Você deve lembrar-se de que eu fui o Anjo da Guarda de Paulo, perseguidor incansável dos primeiros cristãos. Deus só conseguiu transformá-lo em seu discípulo e apóstolo derrubando-o do cavalo em que galopava. - Pois nesta batalha não há cavalos... - Mas há canhões... - Não está pensando que...
Não acabou a frase. A detonação de um tiro de canhão fez tremer a nuvem onde estavam conversando. Quando olharam para o terraço da fortaleza, Capitão Íñigo de Loyola jazia no chão, ensanguentado, uma perna quebrada e a outra muito ferida...
Era o dia 20 de maio de 1521.
Íñigo já estava devidamente acomodado num quarto de seu castelo natal em Loyola, na Espanha, onde passaria vários meses recuperando-se das feridas recebidas em Pamplona. O antigo Anjo da Guarda de Paulo, percebendo a semelhança dos acidentes de seu antigo protegido e de Íñigo, continuou ao lado do Anjo da Guarda de Íñigo. Comunicando-se com os Anjos da Guarda dos chefes militares franceses, conseguiram deles um médico que lhe fez os primeiros curativos e soldados que o transportaram a Loyola. Ambos sabiam que seria uma longa convalescência. Não é a mesma coisa recuperar-se de uma queda de cavalo que de uma bala de canhão. A bala tinha atingido a perna de Íñigo, mas o que Deus mirava com o canhão não eram as suas pernas, mas o seu interior. Mesmo assim, o valente e elegante capitão resistia tenazmente a abandonar os “mais” anteriores à bala de canhão. Por isso, quando percebeu que um osso da perna quebrada, já soldado aos outros ossos, tinha ficado saliente, desfigurando o perfil de um perfeito cavalheiro, exigiu que os médicos o cortassem, preferindo sofrer as dores dessa cruel operação, sem anestesia, à vergonha de um perfil deselegante. A leitura é geralmente a melhor companhia para uma longa recuperação. Curiosamente, no castelo, não havia os livros de aventuras cavalheirescas, que Íñigo tanto admirava, e teve que contentar-se com as desinteressantes vidas dos santos e de Jesus. Os Anjos sorriram. Era a brecha que Deus tinha aberto para chegar ao seu coração, passando pela cabeça...