MANUAL DA CONFRARIA
da Paix達o
MANUAL DA CONFRARIA
da Paixão
JOSÉ CARLOS PEREIRA
Preparação: Renato da Rocha Capa: Walter Nabas Foto de AlienCat/© Fotolia LLC Diagramação: Ronaldo Hideo Inoue Revisão: Sandra Garcia Custódio
Congregação da Paixão de Jesus Cristo Missionários Passionistas Província do Calvário Rua Cardeal Arcoverde, 950 – Pinheiros 05408-001 São Paulo, SP T 55 11 3085 1307 www.paroquiadocalvario.org.br Edições Loyola Jesuítas Rua 1822, 341 – Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP T 55 11 3385 8500 F 55 11 2063 4275 editorial@loyola.com.br vendas@loyola.com.br www.loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
ISBN 978-85-15-04238-8 © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................
9
PRIMEIRA PARTE
A CONFRARIA DA PAIXÃO 1.
DEFINIÇÃO CONCEITUAL .................................................................................
17
2.
A FUNDAÇÃO DA CONFRARIA DA PAIXÃO .........................................................
18
3.
A CONFRARIA DA PAIXÃO EM PARÓQUIAS BRASILEIRAS .................................
31
4.
ORAÇÕES E CÂNTICOS DA CONFRARIA DA PAIXÃO ..........................................
33
5.
A CONFRARIA DA PAIXÃO COMO SINÔNIMO DE SOLIDARIEDADE .............................................................
35
SEGUNDA PARTE
MANUAL DA CONFRARIA DA SAGRADA PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO INTRODUÇÃO .............................................................................................................
42
1.
HISTÓRIA DA CONFRARIA ................................................................................
43
REGRAS A SEREM OBSERVADAS PELOS CONFRADES .......................................
44
I ....................................................................................................................... II ...................................................................................................................... III ..................................................................................................................... IV ..................................................................................................................... V ......................................................................................................................
44 44 44 45 45
2.
VI ..................................................................................................................... VII ....................................................................................................................
45 45
3.
ILUSTRAÇÕES DAS REGRAS DOS CONFRADES ................................................. 1ª) DEVOÇÃO À PAIXÃO. FIM PRINCIPAL ....................................................... 2ª) DA MEDITAÇÃO ....................................................................................... 3ª) DA LEMBRANÇA DA PAIXÃO .................................................................... 4ª) A SEXTA-FEIRA ....................................................................................... 5ª) ESCAPULÁRIO......................................................................................... 6ª) A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DAS DORES ........................................... 7ª) FREQUÊNCIAS DOS SACRAMENTOS ........................................................
46 46 47 50 51 52 53 54
4.
CONCLUSÃO .....................................................................................................
55
5.
CONDIÇÕES PARA A FUNDAÇÃO DE UM CENTRO DA CONFRARIA .......................................................................
55
6.
CONSELHO DIRETIVO .......................................................................................
58
7.
ELEIÇÃO DO CONSELHO ...................................................................................
58
8.
ATRIBUIÇÕES DE CADA MEMBRO DO CONSELHO ............................................. A. DO DIRETOR ........................................................................................... B. DO PRESIDENTE ..................................................................................... C. DO SECRETÁRIO ..................................................................................... D. DO TESOUREIRO ..................................................................................... E. DO MESTRE DOS POSTULANTES..............................................................
59 59 59 60 60 60
9.
RITUAL PARA A RECEPÇÃO DOS CONFRADES .................................................. ORÉMUS .......................................................................................................... ORÉMUS .......................................................................................................... ATO DE CONSAGRAÇÃO A JESUS CRUCIFICADO ................................................
61 62 63 64
10.
CERIMONIAL PARA AS REUNIÕES .................................................................... OREMOS .......................................................................................................... ORAÇÃO ........................................................................................................... CONSAGRAÇÃO A JESUS CRUCIFICADO ............................................................
65 65 66 66
11.
TESOURO DE INDULGÊNCIAS PARA OS CONFRADES ........................................ A. INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS ..................................................................... B. INDULGÊNCIAS PARCIAIS ........................................................................
67 67 68
TERCEIRA PARTE 1.
2.
RITO DE INVESTIDURA DE NOVOS MEMBROS DA CONFRARIA DA PAIXÃO (Modelo adaptado) ............................................... INTERROGATÓRIO............................................................................................. IMPLORAÇÃO DA GRAÇA DIVINA ....................................................................... PROPÓSITO DOS NOVOS MEMBROS DA CONFRARIA DA PAIXÃO ............................................................................... BÊNÇÃO E ENTREGA DAS VESTES .................................................................... COLOCAÇÃO DAS VESTES E DA FITA DA CONFRARIA .................................................................................
73 74 74 75 76 76
OBJETOS, SÍMBOLOS E PROCEDIMENTOS DOS CONFRADES................................................................. A. SÍMBOLOS E OBJETOS ............................................................................ B. PROCEDIMENTOS DOS CONFRADES ........................................................
77 77 80
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS — SUGESTÕES DE ORAÇÕES PARA OS CONFRADES........................................ A. RELÓGIO DA PAIXÃO ............................................................................... B. VIA-SACRA ............................................................................................. C. MEDITAÇÃO DAS SETE DORES DE NOSSA SENHORA ................................ D. O TERÇO DAS SETE DORES DE NOSSA SENHORA .................................... E. MEDITAÇÃO DA COROA DAS CINCO CHAGAS ...........................................
82 82 83 84 89 92
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................
95
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................
99
3.
INTRODUÇÃO
Embora intitulado Manual da Confraria da Paixão, este subsídio não pretende ser um material restrito aos membros dessa Confraria, mas atender a todos os que desejarem exercitar a espiritualidade da Paixão ou simplesmente conhecê-la. A espiritualidade da Paixão é a espiritualidade que emana da Cruz de Cristo que envolve tudo a ela relacionado. Por essa razão, o Manual da Confraria da Paixão se dirige a todos os cristãos católicos que conseguem enxergar na cruz de Cristo a redenção; aos que conseguem ver nela a “obra mais estupenda do amor de Deus”, como dizia São Paulo da Cruz, e tê-la como único caminho para a Páscoa ou ressurreição. Quem medita a Paixão de Cristo sente mais de perto a presença amorosa de Deus, conseguindo assim superar as situações de dor e sofrimento. Estas páginas contêm preciosidades, pérolas da Sagrada Paixão para fortalecer a fé, ao exercitar a espiritualidade da cruz — uma via eficaz de chegada ao Reino de Deus. Para facilitar o uso e entendimento do manual, ele foi esquematizado em três partes. A primeira faz um apanhado histórico da Confraria da Paixão, ou Confraria da Sagrada 9
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou ainda Archiconfraria da Paixão, como era chamada em seus primórdios. Nessa parte é feita uma breve incursão pelo conceito de Confraria, passando pela sua fundação e pelos Centros que ainda funcionam em paróquias do Brasil. Constatamos que ainda há diversos Centros da Confraria, em várias regiões do país, mas apenas dois se destacam: em São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda nessa primeira parte, retomamos algumas orações e cânticos da Confraria usados no século passado, alguns deles ainda em latim. Por fim, abordamos a Confraria como meio de praticar a caridade: quem fizesse parte da Confraria da Paixão tinha que ter necessariamente obras de caridade, de solidariedade com o próximo. É o que encontramos nas anotações, livros de ata e revistas da década de 1920, em São Paulo. Em razão dessa prática, existente ainda hoje, a Confraria da Paixão é uma irmandade de pessoas que não somente rezam, mas também exercem ações concretas de caridade e solidariedade. A segunda parte deste subsídio é o Manual da Confraria da Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, propriamente dito. Consiste na reprodução fiel desse documento, que guia ainda hoje os Centros da Confraria. Resgatado por antigos confrades do Rio de Janeiro, o documento possui uma riqueza indescritível e um valor incomensurável. Tudo nele é muito breve e objetivo, o que facilita seu estudo e sua vivência. Ele contém uma breve introdução, seguida de um breve resgate histórico, passando pelas Regras a serem observadas pelos confrades. Podemos dizer que aqui 10
está o coração do Manual da Confraria da Paixão, porque tais Regras, baseadas nas Regras dos religiosos passionistas, expõem como devem ser os procedimentos dos confrades, isto é, dos membros da Confraria. Essas Regras são ilustradas com exemplos e apontam sete elementos fundamentais da vida dos confrades: 1˚) a devoção à Paixão, tendo-a como fim principal; 2˚) a meditação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que consiste no cerne da espiritualidade da Paixão; 3˚) a memória da Paixão, que o documento traz como “lembrança da Paixão” (este item, juntamente com o primeiro e o segundo, completa a espiritualidade da Confraria); 4˚) a sexta-feira, dia importante para os confrades, por remeter à Sexta-Feira da Paixão. Nesse dia da semana os confrades têm procedimentos específicos, como podemos conferir nas Regras; 5˚) o escapulário, um dos símbolos que identificam os membros da Confraria. Vale lembrar aqui que o escapulário é uma fita roxa que tem nas pontas o emblema da paixão: pode ser o coração passionista, ou a cruz, ou ainda ambos, um de cada lado. Esse escapulário se assemelha à fita usada pelos membros do Apostolado da Oração, diferindo apenas na cor e na ilustração; 6˚) a devoção à Nossa Senhora das Dores, que é também uma prática espiritual dos confrades, relacionada à Paixão do Senhor; 7˚) a frequência dos sacramentos, isto é, a quantidade de vezes ao ano que um confrade deve se confessar. São orientações importantes para manter os membros da Confraria em sintonia com a espiritualidade da Paixão e com o carisma passionista, isto é, o carisma da Paixão. Por fim, o ma11
nual traz uma breve conclusão, seguida das condições para a fundação de um Centro da Confraria; as normas do Conselho Diretivo da Confraria; os procedimentos para a eleição do Conselho Diretivo; as atribuições de cada membro desse Conselho (diretor, presidente, secretário, tesoureiro e mestre dos postulantes). Em seguida, apresenta um ritual para a recepção dos confrades, orientações ou cerimonial para as reuniões dos membros da Confraria. Encerra com o tesouro de indulgências para os confrades, indicando quais práticas conferem aos penitentes indulgências plenárias e indulgências parciais. A terceira e última parte deste subsídio oferece uma sugestão de rito de investidura de novos membros da Confraria. Esse ritual foi adaptado para as atuais circunstâncias e pode ser ainda readaptado, conforme a realidade de cada Centro da Confraria. Ainda nessa terceira parte encontramos uma lista de objetos e símbolos da Confraria da Paixão, bem como indicações de procedimentos que são, na verdade, uma síntese do que se encontra nas Regras supracitadas. Essas indicações ajudam a elucidar a prática da espiritualidade da Paixão, que são completadas com os exercícios espirituais indicados para os confrades — por exemplo, a prática do Relógio da Paixão, da Via-Sacra, da meditação das Sete Dores de Nossa Senhora e da meditação da Coroa das Cinco Chagas, entre outras. Além de ajudar a fortalecer a espiritualidade do confrade, essas práticas mantêm a unidade da Confraria naquilo que ela tem de essencial: a meditação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. 12
Por fim, são feitas algumas considerações finais e fornecidas sugestões bibliográficas relacionadas ao tema da espiritualidade da Paixão, ou da devoção ao Cristo Crucificado. Este manual atende, portanto, a toda e qualquer pessoa que desejar aprofundar ou exercitar tal carisma ou a espiritualidade da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
13
PRIMEIRA PARTE
A CONFRARIA DA PAIXÃO
1. DEFINIÇÃO CONCEITUAL O termo confraria vem de frater, palavra de raiz indo-europeia (bhrater) que quer dizer irmão, ou seja, de uma mesma fratria, segundo definição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Segundo essa mesma fonte, por confraria designa-se uma associação laica que funciona sob os princípios religiosos — neste caso, sob os princípios religiosos da Congregação da Paixão de Jesus Cristo. Em sentido amplo, Confraria é uma associação comumente fundada por pessoas piedosas que se comprometem a realizar conjuntamente práticas criativas, assistenciais, religiosas etc. Caracteriza-se também como confraria uma associação ou conjunto de pessoas do mesmo ofício, da mesma categoria ou que levam um mesmo modo de vida (cf. Houaiss). Confraria e irmandade são praticamente palavras sinônimas. A Confraria da Paixão surge desse contexto e com objetivos similares. Vinculada a uma congregação religiosa — a Congregação da Paixão de Jesus Cristo (mais conhecida como Congregação Passionista) —, visava reunir companheiros, coirmãos que vivessem os princípios de uma instituição re17
ligiosa cujo carisma fosse a Paixão de Cristo, ou o fazer memória da Paixão de Jesus, por meio das práticas penitenciais — como o jejum, a oração, a prática da caridade e dos ritos sacrificiais —, numa espécie de imitação dos sofrimentos de Cristo em sua Paixão e morte.
2. A FUNDAÇÃO DA CONFRARIA DA PAIXÃO Fundada por volta de 1770 por Paulo da Cruz, místico italiano que viveu entre os anos de 1694 e 1775, é considerada uma das primeiras Confrarias para leigos, com uma espiritualidade voltada diretamente à Paixão. A organização oficial desse movimento data do ano de 1775, em Veroli, Fronsinone, Itália, quando alguns leigos reuniram-se para dar início oficialmente à Confraria da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Regra era a mesma dos religiosos passionistas, adaptada para leigos e aprovada pessoalmente por São Paulo da Cruz, conforme podemos conferir na segunda parte deste opúsculo. Com o evento da Cristandade, que acentuava a devoção à cruz, a Confraria se expandiu rapidamente da Itália para outros países da Europa e América, chegando ao Brasil envolta no contexto da colonização lusitana, que havia preparado o terreno para a expansão de Ordens e Congregações Religiosas de cunho sacrificial, como é o caso da Congregação da Paixão de Jesus Cristo — que, apesar de ter aportado 18
em terras brasileiras no início do século XX (1911), não demorou a expandir seu carisma entre os leigos por meio da Confraria da Paixão. Nos arquivos da Igreja do Calvário, em São Paulo, há correspondências da época que descrevem sua fundação, como a que reproduzimos abaixo, conforme encontrada. Na Capella do Calvário, em Villa Cerqueira Cezar, no dia 1 de janeiro de 1922, foi solennemente installada a Archiconfraria da Sagrada Paixão de N. S. Jesus Christo, aggregada à séde principal da Escada Santa, em Roma. Pela manhã, foram rezadas diversas missas com muito concurso de fieis, que devotamente receberam a santa communhão. Às 7 1/2, o Rvmo. Don Miguel Kruse, DD. Abbade de S. Bento, celebrou a S. Missa, proferindo ao evangelho um bellissimo discurso referente ao acto. O coro das orphãzinhas do Abrigo Santa Maria executou durante a Missa bellos e devotos cânticos. Às 6 horas da tarde, o Rvmo. Padre Estanislau, Visitador Geral dos padres passionistas no Brasil, após a leitura do decreto de erecção da nova associação, com palavras eloqüentes e piedosas, explicou aos novos confrades as vantagens, os thesouros de graças e a abundancia de indulgências que contêm a nova Arcfraria. Em seguida, impoz o Escapulário da sagrada Paixão a 120 confrades, terminando-se a tocante cerimônia com o hiymno de acção de graças “Te-Deum”. Fazemos votos para que esta nova Associação da Sagrada Paixão possa progredir de dia para dia e 19
espalhar-se por todos os recantos do Brasil, terra abençoada da Santa Cruz, produzindo assim fructos de verdaeirapiedade Christã1.
Em princípio composta só de homens, a Confraria da Paixão procurava reproduzir a vivência e os ideais da vida religiosa dos padres. Mais tarde passou a receber também mulheres, sem perder as características originais. As Regras de 1939 já falavam da admissão de pessoas de ambos os sexos, a partir dos 12 anos de idade, conforme podemos constatar abaixo na parte das Regras que corresponde às condições para a fundação de um Centro da Confraria. Desde o começo, é a irmandade que se responsabiliza pelas atividades e eventos diretamente ligados à Paixão, como, por exemplo, as comemorações, ou celebrações, da SextaFeira Santa, como a liturgia da Paixão e a procissão do Senhor morto, característica mantida ainda hoje. No início da sua fundação, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, a Archiconfraria mantinha um amplo calendário de atividades, o que revelava sua importância e participação na Igreja, coordenando grande número de atividades litúrgicas e devocionais, não só restrita à Paixão propriamente dita, como podemos constatar abaixo, no quadro (calendário) de atividade anual da Archiconfraria, do ano de 1922, data de sua fundação em São Paulo, na então Capela do Calvário: 1
Cf. O Calvário. Periódico mensal. Órgão da Archiconfraria da Paixão, dirigido pelos P.P. Passionistas. São Paulo, anno 1, n. II, fev. 1922, p. 15. 20