Fazer catequese com adolescentes

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Rui Alberto

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Ficha Técnica © 2016 Rui Alberto © 2016 Edições Salesianas Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 4022-001 Porto Tel: 225 365 750 Fax: 225 365 800 www.edisal.salesianos.pt edisal@edicoes.salesianos.pt Publicado em Julho de 2016 Capa: Paulo Santos Paginação: João Cerqueira Impressão e acabamentos: PRINTHAUS ISBN: 978-972-690-955-2 D.L.: 411574/16

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I Introdução Com frequência tenho encontrado muitos grupos de catequistas que querem pensar sobre formas de melhorar a catequese dos adolescentes. Ouvindo as suas necessidades, identificando as boas práticas que, aqui e ali, vão aparecendo, tenho vindo a construir uma síntese, a arrumar as ideias. Quero começar por apresentar o mundo dos adolescentes. É um mundo complexo, contraditório. Sem ser enciclopédico, quero deixar algumas chaves para compreendermos o que está a acontecer nas vidas, mentes e corações dos adolescentes a quem somos enviados. A seguir, quero deixar claras quais as metas da catequese. Para lá dos detalhes, a catequese serve para quê? O Directório Geral de Catequese ajudou-nos a descobrir que a catequese tem como meta a formação de um adulto crente. O terceiro capítulo ajuda-nos a perceber que essa meta se atinge através de seis tarefas. A catequese deve iniciar à fé, à oração, aos sacramentos, à moral, a ser Igreja e à missão. No quarto capítulo aterramos no fazer catequese. Quero recordar como podemos aprender com Jesus a fazer catequese. A animação acaba por ser uma ferramenta poderosa para implementar uma catequese eficaz. No quinto capítulo identifico aqueles que, no meu parecer, são os cinco factores de qualidade mais importantes. 5

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No capítulo seis, escrito com a colaboração de tantos leitores e amigos da internet, tento dar resposta a problemas comuns que os catequistas da adolescência enfrentam. Espero que a leitura e a reflexão sobre estes textos ajude a experimentar coisas novas, aumente o entusiasmo por levar o Evangelho aos adolescentes.

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1 O mundo dos adolescentes

1. Os desafios de ser adolescente A primavera da vida é bonita de viver, Tão depressa o sol brilha como a seguir está a chover. Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar, Parece que o mundo inteiro se uniu pr’a me tramar! (Rui Veloso) Se queres fazer catequese com adolescentes tens de conhecer razoavelmente bem o que é a vida dos teus catequizandos. Não basta imaginares que eles estarão a viver experiências semelhantes às que tu viveste quando foste adolescente. Não é fácil resumir todo o mundo de vivências e contradições que marca a adolescência. Ficam alguns alertas.

Desafio 1: Um corpo que muda O corpo dos adolescentes parece um vídeo em alta velocidade. Há muita coisa a mudar ao mesmo tempo. Aumento 7

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de tamanho, de peso, desenvolvimento sexual... hormonas aos saltos... Tudo isto traz uma enorme insegurança aos adolescentes. Tu deves valorizar positivamente todo este oceano de mudanças. E deves ajudar os adolescentes a verem como positivas todas estas mudanças. Não é fácil para um adolescente lidar com a acne. Tu podes ajudá-lo a perceber que também ela faz parte de um processo de mudança e crescimento que é positivo. O mobiliário e os espaços onde decorre a catequese têm de estar adequados a todas estas novas situações. Usar mesas e cadeiras de crianças de 8 anos com catequizandos que já medem mais de 1,60 m é uma mensagem insultuosa. É dizer: Não queremos que cresças. Volta a ser criança! Por outro lado, já deves ter observado que os ritmos de crescimento dos adolescentes são muito variáveis. Alguns crescem fisicamente muito mais depressa do que outros.

Desafio 2: Um novo pensar Durante a adolescência há um salto de qualidade nos modos de pensar. Os adolescentes tornam-se capazes de especular, hipotizar, inventar... O que, por vezes, os leva a dar mais peso às possibilidades do que às realidades. Ao contrário das crianças, cujo pensamento está ligado às operações concretas, os adolescentes podem construir sistemas formais e teorias gerais que superam (e às vezes ignoram) a experiência prática. O seu raciocínio pode ser formal e abstracto, mais que empírico e concreto. Estas capacidades, associadas à grande disponibilidade de informações novas (escola, televisão, internet...), dão-lhes uma intensa capacidade de contestar tudo o que sabiam antes. Mais uma vez, o catequista alegra-se com estas novas capacidades e 8

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estimula a sua vontade de crescer. Sem medo, ajuda os adolescentes a superar o irrealismo que reduz o mundo às dimensões do seu pensar.

Desafio 3: Construir a identidade De forma tantas vezes inconsciente, os adolescentes estão chamados a definirem qual é a sua identidade. Idealmente, os adolescentes superam este desafio descobrindo quem são, encontrando a sua unicidade e estabelecendo uma identidade sexual, “política” (= forma de estar na “cidade”), moral e profissional. Por vezes, a pressão para superar este desafio é muito grande e em vez de explorar diversas possibilidades os adolescentes são obrigados a assumir os papéis que lhes são impostos pelo ambiente ou pelos pais. Nas sociedades desenvolvidas como a nossa, as possibilidades são tantas que a tarefa de construir a identidade é muito mais lenta.

Desafio 4: Do egocentrismo à relação Muitos adolescentes vivem uma vida muito isolada. Como nunca experimentaram nada parecido com o que lhes sucede agora, imaginam que nunca ninguém pensou o que eles pensam, sentiu o que estão a sentir. Como em muitas famílias há dificuldades de comunicação, sentem-se sozinhos nesta tarefa. Tudo isto aumenta o desejo forte de relações que os ajudem a superar este sentimento de isolamento e solidão. O “estar com os amigos” passa a ser uma opção prioritária. O estar juntos ampara na tarefa de construir uma identidade, ajuda a encontrar caminhos e novas possibilidades de existência. A escola (ou a catequese) vale na medida em que permite contacto com os amigos. 9

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Outros desafios Há ainda outros processos a que deves estar atento: • As profundas diferenças de desenvolvimento e oportunidade entre rapazes e raparigas; • As contradições entre o desejo de superar e regressar à infância; • A força dos afectos; • A necessidade de não confundir a pré-adolescência com a adolescência; • O impacto que tem a passagem do ensino básico para o secundário.

2. Uma chave de leitura global: construir a identidade O desenvolvimento de uma identidade estável, forte e serena é uma das tarefas centrais da adolescência. É uma tarefa de toda a vida. Mas é na adolescência que ela tem mais urgência. Até chegar a esta idade, as pessoas são “filhos”: dos pais, das experiências vividas em família, na escola… Com a adolescência, essas agências e pessoas continuam a exercer a sua influência sobre nós. Mas com a adolescência começamos a ter a possibilidade de decidir o que fazemos com essa influência. Tornamo-nos senhores de nós mesmos. Muita gente ainda tem uma ideia tempestuosa da adolescência. Ela seria o tempo das grandes maluqueiras, das grandes crises, dos grandes dramas… Os bons psicólogos ajudaram-nos a perceber que a adolescência se define melhor como o tempo 10

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em que a tarefa de construir a identidade é prioritária. Esta tarefa é um processo dinâmico que permite ao adolescente ser ele mesmo, apesar das mudanças que enfrenta e das escolhas que faz. Apesar de todas as mudanças, o adolescente mantém o sentimento da sua identidade. Ele sente que é a mesma pessoa, apesar de todas as mudanças que ocorrem dentro dele e à sua volta.

Exploração e compromisso Segundo James Marcia, a construção da identidade vai acontecendo através de duas estratégias: a exploração e o compromisso. Os adolescentes exploram novas possibilidades, novas ideias, novas formas de vestir, novos papéis sociais. Ou não: podem agarrar-se às formas que já tinham. E podem comprometer-se com determinadas escolhas. Ou podem estar numa hesitação indecisa. Estas duas estratégias podem combinar-se de formas diferentes e dar origem a diferentes estatutos de identidade.1

Exploração

Alto

Identidade em moratória

Identidade realizada

Baixo

Identidade difusa

Identidade outorgada

Baixo

Alto Compromisso

Identidade difusa Este é o estatuto mais elementar. Os níveis de exploração e de compromisso são baixos. O adolescente nesta situação não 1

Investigações recentes lideradas por Wim Meeus sugerem a existência de uma ter­ ceira estratégia: a reconsideração dos compromissos. Esta estratégia tem que ver com a disponibilidade dos adolescentes em abandonar compromissos prévios em busca de compromissos diferentes. As sugestões de Meeus têm bastante suporte empírico em diferentes culturas. Mas, num livro de divulgação como este, deixo de lado esta terceira estratégia.

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faz ideia de quem é, nem do que quer fazer na vida. Não tem opinião, nem desejos, nem sonhos para o futuro. Além de não saber o que fazer com a sua vida, também não está a experimentar coisas novas nem a explorar novas possibilidades. É como se estivesse com medo de se aventurar no mundo exterior ou de assumir compromissos. Imagina que estás no meio do oceano, sem GPS nem bússola nem mapa. Este adolescente flutua no seu barquinho sem ir a lado nenhum, nem se importando muito com isso. Muitas vezes, os adolescentes neste estatuto sentem-se sozinhos e assustados. Estes adolescentes não prestam atenção à sua identidade nem assumem quaisquer objectivos. São reactivos e vão reagindo passivamente às urgências que cada dia lhes traz. A única coisa que parecem querer é evitar chatices e sentir-se minimamente bem. Imagina o caso do João. Chumbou uma vez no 8º ano e acabou de passar no 9º ano (à rasquinha). O João não faz ideia do que quer fazer e ser na vida. A verdade é que não pensou muito sobre estas coisas. Quando os pais lhe perguntam o que é que ele quer da vida, ele não tem resposta. Foi a mãe que o inscreveu no secundário, já fora do prazo, porque ele diz que não está motivado para continuar a estudar. No Verão faz uns biscates numa pizzaria. Para ajudar em casa é sempre um suplício. Identidade outorgada Este estatuto apresenta um nível baixo de exploração e um nível alto de compromisso. Os adolescentes situados neste estatuto não estão empenhados em determinar o que é importante para eles. Não questionam os valores e as crenças com que foram ensinados. Em vez disso, estes adolescentes afirmam a sua identidade aceitando as crenças e valores da família, da comunidade e da cultura dominante. Num certo sentido, aceitam passivamente a identidade que lhes foi atribuída. Eles 12

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comprometem-se com os valores e metas que lhes atribuíram. Não se perguntam porque é que tem de ser assim. Não gastam tempo a pensar em alternativas. Imagina a Carolina. Diz que quer ser médica, como a mãe e o avô e “decidiu” fazer o secundário e tirar boas notas. Ela não pensou a sério se tem gosto em medicina, se tem jeito, se será capaz de tirar as médias altas que serão necessárias. Quando lhe perguntam pelos seus planos, ela responde: “Vou seguir a tradição da família. Se funcionou para eles também deve ser bom para mim.” A Carolina aceitou que vai ser como os seus familiares esperam que ela seja. Não se perguntou se o percurso que a família lhe propôs é bom para ela. Passivamente, aceitou a proposta que estava em cima da mesa. Identidade em moratória Este estatuto de identidade apresenta níveis altos de exploração e níveis baixos de compromisso. Neste estatuto, os adolescentes sentem-se numa “crise” de identidade que foi desencadeada por explorarem e experimentarem diferentes e novos valores, crenças e objectivos. Mas ainda não tomaram uma decisão final acerca dos valores, crenças e metas que são realmente importante para eles, nem sobre os princípios que devem orientar a sua vida. Por isso, ainda não se comprometeram com uma identidade particular. Mantêm todas as opções em aberto. À espera, em moratória, para decidir mais tarde. Imagina o caso do Carlos. Sempre foi um rapazinho bem comportado, obediente, empenhado nos estudos. Nos últimos tempos começou a discutir com a mãe acerca da roupa que quer usar. Diz que está farto de ser “beto” e que quer ser gótico. Depois de muita discussão a mãe lá acedeu em comprar-lhe umas roupas mais escuras. Mas o pai dele “passou-se” quando o Carlos falou em meter um piercing. E o Carlos meteu a viola 13

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no saco. Ele gostava de experimentar ser um gótico a sério, com um grampo de metal na orelha… mas não está disposto a arranjar chatices com o pai. O Carlos tem experimentado possibilidades novas de ser, de se apresentar. Novas em relação ao que ele fazia habitualmente e em relação ao que as pessoas esperam dele. Identidade realizada Neste estatuto de identidade há, ao mesmo tempo, níveis altos de exploração e de compromisso. Os adolescentes chegam a este estatuto de identidade através de um processo de exploração activa e de forte compromisso com um conjunto determinado de valores, crenças e objectivos na vida, que foram seleccionados a partir de uma exploração enérgica e de uma avaliação criteriosa. Neste estatuto, os adolescentes já decidiram quais os valores e metas que são importantes para eles. Já decidiram o que é que querem fazer com a vida deles. Neste estatuto eles são capazes de estabelecer prioridades, de escolher o que vem em primeiro lugar e o que vem depois. No meio das tantas possibilidades que estão ao seu alcance, já tomaram uma decisão sobre o que querem e sobre quem querem ser. Já experimentaram diferentes crenças e valores e pesaram os pros e os contras das opções que têm pela frente. Para atingir este tipo de identidade, os adolescentes sentem-se positivos e confiantes acerca das suas decisões e dos seus valores. Ao acabar o 9º ano, a avó da Maria deu-lhe como prémio umas centenas de euros. Ela ficou agradecida, contente… mas sem saber muito bem o que fazer. Falou com os pais e disse-lhes que iria gastar o dinheiro segundo os seus gostos. Ao longo de várias semanas foi falando com os pais e amigos sobre várias hipóteses que tinha: um telemóvel topo de gama, uns brincos, juntar dinheiro para uma mota… Com calma, foi pesando as 14

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vantagens e inconvenientes de cada uma das possibilidades. Por fim decidiu-se, avisou os pais e os amigos e foi às compras.

Sem conclusões precipitadas O conteúdo que cada adolescente atribui à sua exploração e ao seu compromisso pode ser muito variado. Um adolescente, criado numa família de ateus, que se dá bem com um dos teus catequizandos, pode sentir curiosidade pela fé e pela experiência que estás a fazer no teu grupo e querer começar a aparecer na tua catequese, sem ser baptizado. Para ele, isso é exploração de novas possibilidades. Mas podes ter um dos teus catequizandos que não faltava a uma reunião de catequese, que era acólito, que andava nos escuteiros e que agora diz que não tem tempo para a religião e quer usar todo o fim-de-semana a ensaiar numa garagem com uns amigos que fundaram uma banda reggae. Também isto é exploração. É importante que os catequistas não se precipitem a fazer uma avaliação “moral” sobre as escolhas de vida dos adolescentes. O importante é perceber a lógica do que eles estão a fazer. Isso não nos impede de ter preferências: mais exploração é melhor do que menos exploração; mais compromisso é melhor do que menos compromisso. Sabendo isso, temos a legitimidade para incentivar os adolescentes à identidade realizada. Mas sabemos também que cada um deles tem o seu ritmo de amadurecimento. Que cada um deles vai “misturando” exploração e compromisso à sua maneira. Que podem avançar e regredir. Que esta tarefa de construir a identidade é séria, leva tempo e pede muito esforço.

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3. O mundo religioso dos adolescentes O mundo religioso em que habitam os adolescentes é plural e sempre em mutação.

Muitos modos de crer O número de adolescentes com algum interesse nos temas da fé é ainda relevante. Segundo dados do European Social Survey de 2012, 74,7% dos jovens entre os 15 e os 20 anos (em Portugal continental) declara pertencer a alguma religião. 15,4% participa no culto semanalmente e 9,9% fá-lo mensalmente. 29,1% reza semanalmente e 7% fá-lo ao menos uma vez por mês. Mas por detrás destes números há uma ampla variedade de posições e sensibilidades. 1. Um acreditar convicto. Sustentado pela Palavra de Deus, pelo ensino da Igreja. Pela pertença comunitária. 2. Um acreditar sincero mas que rejeita certas posições. Há adolescentes que dizem fazer parte da Igreja mas que rejeitam certos conteúdos ou têm dúvidas sérias. Esta divergência pode nascer de uma catequese deficiente mas também do subjectivismo que está hoje de moda. Esta discrepância face à Igreja tem que ver com questões mais ou menos importantes mas não essenciais. 3. Um acreditar honesto mas com graves lacunas. Outros adolescentes não acreditam em conteúdos centrais da nossa fé (ressurreição, dados bíblicos). 4. Um acreditar mudo e cheio de dúvidas. As dúvidas são tantas que se torna impossível falar de Deus. Nem eles têm claro aquilo em que acreditam ou não acreditam.

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São dúvidas sobre a existência de Deus mas também sobre questões mais concretas. 5. Um acreditar acomodado. Foram educados a acreditar e, por interesse ou por preguiça não põem nada em questão. A fé é-lhes indiferente, não tem grande importância na sua vida. Excepto nos momentos de aflição. 6. Um acreditar recuperado. Há adolescentes que, lá atrás abandonaram a fé e que, agora, por algum motivo, voltaram a acreditar. 7. Um acreditar subjectivo. Há adolescentes que inventam a sua própria fé. Não aceitam que a Igreja ou a Bíblia tenha alguma coisa a dizer-lhes. Conversando com os seus botões, fazem uma lista de lista de valores e crenças… que muda bastante ao sabor das circunstâncias. 8. Um acreditar intermitente. Há adolescentes que, em certas alturas da sua vida, deixam de acreditar para, logo a seguir, voltar a acreditar. Essa intermitência pode não depender do tempo mas da zona da sua vida. 9. Nem sim nem sopas! Estão a meio caminho entre acreditar e não acreditar. Não aceitam nem rejeitam a religião. Estão sem razões para se decidir em favor de uma coisa ou outra. 10. Um laicismo fechado a Deus. Há também adolescentes com uma certa hostilidade à fé e à Igreja. 11. Crenças de substituição. Não acreditam em Deus, rejeitam a Igreja mas estão disponíveis para acreditar na sorte, no horóscopo, na magia, nos Ovnis…

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12. A vida depois da morte. Podem não acreditar em Deus nem em nada parecido mas pressentem que a morte não é o fim.

As imagens de Deus dos catequizandos Tive recentemente a oportunidade de investigar a forma com os adolescentes que frequentaram os dez anos de catequese acreditam. Partilho aqui algumas conclusões que podem servir de inspiração para detectar lacunas e reforçar boas práticas. Detectei quatro representações acerca de Deus. A primeira chama-se “Crença e Dúvida” mostra como estes adolescentes acreditam em Deus, confiam n’Ele, ao mesmo tempo que duvidam. Atendendo à fase de amadurecimento e exploração em que estão, é uma representação previsível. Mais preocupante é o facto de não fazerem referência ao papel de Jesus para conhecer/acreditar em Deus. A segunda representação é “Qualidade relacional”. Está em linha com o dado bíblico e sublinha o papel da confiança em Deus para uma vida de qualidade. Mas a forma “utilitarista” como se vê a Deus tem alguns riscos de individualismo. A representação “Relações e Ritual” partilha com a anterior a atenção dada à qualidade de relação com Deus e enriquece-a com as práticas rituais (oração, liturgia). Esta abertura ao ritual está ligada a uma maior atenção à dimensão comunitária da fé. Finalmente temos a quarta representação, “A alteridade de Deus”. Esta representação avalia positivamente a qualidade de relação com Deus mas sublinha a assimetria fundamental nessa relação entre Deus e o crente. Isto permite superar os riscos de narcisismo religioso. Todas estas quatro representações são escassas na referência cristológica. A fé em Jesus Cristo exprime-se com três representações diferentes. A primeira, “Títulos cristológicos” recupera uma 18

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longa tradição que descreve Jesus a partir de um conjunto relevante de títulos. Alguns dos títulos escolhidos vêm da Bíblia e outros ecoam uma sensibilidade mais contemporânea mas sublinhando sempre o estilo de acção de Jesus, tal como representado nos evangelhos. “Gosto de Jesus” é a segunda representação. Sublinha a relação pessoal que o adolescente estabelece com Jesus. É parecida com a representação “Confiança e Qualidade” (a respeito de Deus). Mas este Jesus de quem se gosta não tem um rosto muito claro. A terceira representação encontrada sobre Jesus sublinha “As atitudes de Jesus”. Corrige as omissões da representação anterior e sublinha a praxis de Jesus. Acreditar em Jesus é, para estes adolescentes, fazer memória da sua acção salvadora em favor da humanidade. A respeito do Espírito Santo, os nossos catequizandos têm muitas dificuldades. As respostas são escassas e pouco ­elaboradas. Consegui detectar três representações diferentes. A primeira apresenta o Espírito como “Paz e Amor”. O Espírito está associado a sentimentos positivos, muito ancorados na psicologia positiva. Não é claro (nem para mim nem para boa parte dos adolescentes) se eles entendem o Espírito como fonte desses sentimentos positivos ou como uma mera metáfora para esses sentimentos. A segunda representação chama-se “O Espírito e a Trindade” e mostra o Espírito em relação com o Pai e o Filho. Os adolescentes limitam-se a repetir várias fórmulas trinitárias sem equacionar a relação do crente com a Trindade. Por fim temos “Pentecostes e Igreja”, que associa o Espírito Santo aos sacramentos do baptismo e do crisma bem como às imagens do Pentecostes.

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