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LITERATURA NEGRA E MARGINAL/PERIFÉRICA: IDEIAS E PROBLEMAS

83 Cuti, Literatura negro-brasileira: notas a respeito de condicionamentos, Estudos Afro-Asiáticos , n. 8-9, 1983, p. 215-9.

84 Oubi Inaê Kibuko, Lamentos, ressentimentos, vingança… Ou um alerta de resistência e sobrevivência?, Estudos Afro-Asiáticos, n. 8-9, 1983, p. 220 (grifos meus).

85 “Até o início deste século, poucos foram os literatos negros que, assumindo sua negritude, escreveram sobre si mesmos, sobre os brancos, sobre nosso país. Contudo, ultimamente o número de escritores negros tem crescido consideravelmente, apesar de todos os obstáculos, de todas as adversidades existentes neste mundo branco, em que o negro que almeja sair de sua dolorosa situação de miséria e humilhações, em que o negro que reivindica direitos é acoimado de subversivo etc. […] De alguns tempos para cá, talvez de uns dez, quinze anos atrás, apareceu no pedaço uma constelação de jovens escritores que, unidos aos mais velhos, denunciam a pobreza extrema, a discriminação racial, a segregação das favelas, mocambos e alagados, a espoliação, o subemprego, o desemprego, as humilhações e perseguições sem conta e outras mazelas sociais que parecem querer levar o negro à extinção. Mostram o ridículo do branco ou brancoide brasileiro que teima em se dizer cristão, mas trata a seu semelhante como animal ou coisa.”

Cf. Carlos de Assumpção, Uma nova literatura emergente, Estudos Afro-Asiáticos, n. 8-9, 1983, p. 228.

86 O entusiasmo de Assumpção prossegue, como se pode ver a seguir: “Além do valor artístico das produções literárias dos Cadernos Negros, há que se destacar a união desses jovens literatos negros, que, conscientes de sua missão, se cotizam para editá-los periodicamente, num cooperativismo inusitado. Esses rapazes têm lutado arduamente. Com suas ‘rodas de poemas’ e outras atividades intelectuais têm formado um público ouvinte e ledor cada vez maior, driblando o silêncio inimigo da grande imprensa, que, instrumento de domínio do capitalismo insensível, não divulga reivindicações de negros, por mais justas que sejam. […] Mas os moços estão aí, no pedaço, falando e escrevendo, em prosa e versos, a um público certo, sob a liderança incansável de Cuti (Luís Silva), um dos maiores poetas e contistas dessa plêiade de jovens escritores […]”. Ibid., p. 230. É bom assinalar que, no ano anterior [1982], Assumpção acabara de lançar uma coletânea de poemas chamada Protesto, homônima ao longo texto que o revelou em 1956, quando o declamou na Associação Cultural do Negro e na Biblioteca Municipal de São Paulo, a convite do seu diretor, o sociólogo Sérgio Milliet. Nesse meio-tempo, Assumpção esteve ausente da produção literária, tendo sido recuperado pelo grupo dos Cadernos Negros, no início dos anos 1980.

87 Edu Omo Oguiam, Por uma literatura dinâmica e participante, Estudos Afro-Asiáticos , n. 8-9, 1983, p. 232. Como afirma o autor: “[…] Dinâmica no conteúdo: com uma clara proposta de elevação da consciência étnico-político-cultural-social e religiosa do negro afro-brasileiro. […] Dinâmica na forma: usando-se uma linguagem de fácil entendimento, ou seja, uma linguagem corrente, usual, para a comunidade à qual é dirigido o trabalho, levando-se em conta (inclusive) o regionalismo, haja vista que somos um povo de tradição cultural basicamente oral. Que seja uma literatura dinâmica, de modo que estas informações cheguem à comunidade de maneira clara, para que a questão “O negro brasileiro” não fique confiada (?) a um número reduzido de homens politizados. É preciso trazer um maior número de mentes à tona. […] Portanto, faz-se necessário que todos aqueles que usam da palavra escrita desprendam esforços na dinamização de uma literatura que lute pela elevação da consciência do povo negro”.

88 Estevão Maya-Maya, Um caminho para a literatura afro-brasileira, Estudos

Afro-Asiáticos, n. 8-9, 1983, p. 233-5.

89 Órgão criado junto ao poder estadual, ligado ao PMDB e ao movimento negro, durante a vigência do governo de André Franco Montoro. Sobre o conselho, checar o livro de Ivair Augusto Alves dos Santos, baseado em sua dissertação de mestrado defendida na Unicamp, em 2001: O Movimento Negro e o Estado (1983-1987): o caso do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra no Governo de São Paulo, São Paulo: Prefeitura Municipal de São Paulo/Coordenadoria dos Assuntos da População Negra, 2007.

90 Quilombhoje, 1985, op. cit., p. 13.

91 Observe-se atentamente que os próprios escritores manifestam um embate terminológico ao tratar da confecção literária negra como literatura negra, literatura negro-brasileira, literatura afro-brasileira etc.

92 Quilombhoje, 1985, op. cit., p. 13-14.

93 Cuti, 1983, op. cit., p. 16.

94 “Lino Guedes, um dos primeiros poetas negros a revelar em seus trabalhos a busca de uma identidade em nosso século, abriu e se manteve com frequência na linha do lamento, extravasado em versos aproximados do cordel. O flagelo da escravidão ocupou lugar predominante em sua obra. […] Também a presença do movimento apelativo à religião, tanto para explicar quanto para amenizar as amarguras, continua hoje marcando os textos. Achar que Deus nos esqueceu é um desencanto que a religiosidade, católica, sobretudo, nos legou diante da exploração do homem sobre o homem. [Crítica ao livro de estreia de Oswaldo de Camargo, 1959, Um homem tenta ser anjo] […] Tanto Oswaldo de Camargo […] quanto Eduardo de Oliveira […] estreavam com livros onde suas vivências de negros estão submersas em queixumes. Evoluíram, sem dúvida […] Solano Trindade, a figura mais conhecida da poesia negro-brasileira, antecedeu os dois autores citados. A obra de Solano, com Poemas de uma vida simples e Cantares ao meu povo, deu o grande salto político-poético, apesar do reduzido alcance psicológico de seu trabalho. […] É de 1956 o surgi- mento, no meio das reuniões de debate da questão racial, do poema ‘Protesto’, de Carlos [de] Assumpção, marcando assim um dos grandes lances de contundência na poesia negra que muitos ainda hoje estranham e evitam. […] marca uma ruptura ou propõe que ela seja feita – tendo em vista a pertinência de condicionamentos que ainda confundem o literato negro.” Ibid., p. 20-2.

95 Ibid., p. 22.

96 “[…] Alguns autores, como Cuti e Jamu Minka, seus fundadores, participam desde a primeira edição, enquanto outros, como Miriam Alves, Éle Semog e Carlos Limeira, colaboraram em várias edições, além de publicarem outras obras isoladamente. Eduardo de Oliveira e Oswaldo de Camargo, representantes da velha guarda, produziram para os números 1 e 3, desistindo depois por não concordarem com o sistema de seleção dos textos a serem incluídos nas antologias. Outros dois poetas que contribuíram nos primeiros Cadernos e que posteriormente preferiram ir para a publicação individual foram Oliveira Silveira e Paulo Colina. […] Estas antologias, sobretudo nos últimos anos, têm revelado uma importância mais social e cultural do que propriamente artística. O que efetivamente tem ocorrido é que o critério editorial parece estar sendo o de dar oportunidade a jovens poetas inéditos que mantêm a poesia muito próxima dos referentes imediatamente reconhecíveis sem a mediação da linguagem simbólica, sem a qual não há poesia, mas um mero extravasar de sentimentos. O tom de panfleto, dominante em muitos trabalhos, sufoca a linguagem poética que, construindo-se com uma intencionalidade ideológica muito precisa, acaba configurando-se como repetitiva e redundante. O que foi o ato criador nos primeiros poetas do grupo Quilombhoje torna-se ritual; o que foi sacrílego se banaliza.” Cf. Bernd, 1987, op. cit., p. 129-30 (grifos meus).

97 “[…] Foi um lance muito bom. Foi um lance que obrigou as pessoas a escreverem, a se olharem de novo como escritores. Os mais velhos, sem dúvida, eram o Eduardo de Oliveira e eu. […] Mas eu sempre tive uma crítica muito forte, aos Cadernos, no começo. Os Cadernos surgiram para colocar textos. Tudo bem. Mas textos sem passar pelo crivo de nada. Punha texto quem pagasse. No começo, era mais ou menos assim. Pagava, punha. E eu achava que na altura que nós estávamos já, depois… bons autores negros, autores com certa tarimba, era necessário educar esse pessoal, que pega um poema da gaveta e fala: ‘Eu também sou poeta!’ O que era necessário, era fazer um Caderno que contemplasse, sobretudo, as pessoas que estavam iniciando. Mas eu fui vencido. Fui vencido e saí dos Cadernos. Não comecei a publicar mais. […] Não havia discussão de textos, não havia nada. Eu estava sempre pedindo isso, que nós fizéssemos alguma coisa… Que podia ser, ao mesmo tempo, uma espécie de escola. […] até que o Quilombhoje acordou, os Cadernos acordaram e começaram a fazer a triagem também. Aquilo que eu propunha, depois de tanto tempo, eles perceberam que era necessário, de fato. Daí começaram a fazer. Hoje em dia é triado; hoje em dia, os Cadernos têm, passam por leituras, não sei o quê…”. Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida a Mário Augusto M. da Silva em 29 jul. 2007, em São Paulo.

98 “O contexto histórico em que atua o literato negro hoje, apesar de suas condições precárias, apresenta possibilidade de múltiplos relacionamentos com outras áreas daquilo que se costuma chamar de Movimento Negro. As entidades negras e grupos dos mais diversos estados brasileiros acenam com a esperança de um público consumidor dessa literatura, não apenas comprador do livro, mas leitor e interessado […], no entanto, a questão de valor é fonte de conflito […]. Se a questão da qualidade é relevante, o problema do condicionamento é quem vai garantir que forma e conteúdo não fiquem brigando por privilégios, porque, ao escritor, o maior privilégio é poder mergulhar com a sua arte na medula do seu povo, redimi-lo, consolá-lo e sobretudo lutar com ele”. Cf. Cuti, 1983, op. cit., p. 22-3 (grifos meus).

99 Esmeralda Ribeiro, Literatura infantojuvenil, em Quilombhoje (org.), Reflexões sobre a literatura afro-brasileira, São Paulo: Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985.

100 José Abílio Ferreira, Considerações acerca de um aspecto do fazer literário ou de como um escritor negro sofre noites de insônia, em: Quilombhoje (org.), Reflexões sobre a literatura afro-brasileira, São Paulo: Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985.

101 Jamu Minka, Literatura e consciência, em: Quilombhoje (org.), 1985, op. cit.

102 Márcio Barbosa, Questões sobre a literatura negra, em: Quilombhoje (org.), 1985, op. cit., p. 50 (grifos meus).

103 Ibid., p. 50-1. Nessa acepção de dupla consciência, o autor ainda afirmará que a “História da literatura brasileira mostra-nos alguns outros escritores negros. Dentre eles, interessa-nos em especial Lino Guedes. Este dá um passo fundamental em direção a uma ‘literatura negra’. Sua opção primordial é o lamento. Seu tema, a história de seu grupo social. Como a escolha subjetiva do tema envolve a escolha objetiva da forma, Lino Guedes se vê num dilema crucial: ora, a arte do oprimido deseja ser idêntica ao seu modelo, que é a arte do opressor, e aperfeiçoa-se mais e mais até atingir esse objetivo. Só que, quando é colocada frente a si mesma, a arte do oprimido revela nesse caso o que realmente é: inteiramente nova. Lino Guedes não inventa essa arte, nem os seus antecessores” (p. 51).

104 Barbosa, 1985, op. cit., p. 51 (grifos meus).

105 Ibid., p. 54 (grifos meus).

106 Miriam Alves, Axé Ogum, em: Quilombhoje (org.), 1985, op. cit.

107 Oubi Inaê Kibuko, 1955-1978: 23 anos de Inconsciência, em: Quilombhoje (org.), 1985, op. cit.

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