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LITERATURA NEGRA E MARGINAL/PERIFÉRICA: IDEIAS E PROBLEMAS

definição de sua própria identidade, para que exista um discurso ficcional do negro é preciso que o negro defina a imagem que possui de si mesmo e que consolide o processo já iniciado de construção de uma consciência de ser negro na América”. Cf. Bernd, 1988, op. cit., p. 76 (grifos meus).

58 “As quatro leis fundamentais que sustentam a poesia negra possuem um mesmo conector: o princípio da resistência à assimilação, o qual organizará uma produção poética que proverá grupos negros dos fatores necessários ao seu tão buscado processo de singularização, fornecendo-lhes mitos, símbolos e valores, em suma, os elementos todos que irão viabilizar a total possessão de si próprios.” Ibid., p. 93.

59 Ferrara, 1986, op. cit.

60 Quilombhoje, Reflexões sobre a literatura afro-brasileira, São Paulo: Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985; e I Encontro de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros (org.), Criação crioula, nu elefante branco, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1987.

61 Paulo Colina (org.), Axé: antologia contemporânea de poesia negra brasileira, São Paulo: Global, 1982; Oswaldo de Camargo (org.), A razão da chama: antologia de poetas negros brasileiros, São Paulo: GRD, 1986; Id., O negro escrito: apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1987.

62 Quilombhoje, 1983 apud Bernd, 1987, op. cit., p. 82.

63 Camargo, 1986, op. cit., p. 107.

64 O Cecan foi criado em 1978, no bairro do Bixiga, em São Paulo. Membros do centro foram responsáveis pela criação dos Cadernos Negros e do grupo Quilombhoje, além do jornal Jornegro. Sobre ele, cf. Joana M. F. da Silva, Centro de Cultura e Arte Negra: trajetória e consciência étnica, Dissertação (mestrado em Ciências Sociais) – PUC-SP, São Paulo, 1994.

65 Leite e Cuti, 1992, op. cit.

66 Moura, 1986, op. cit., p. 20.

67 Ferrara propõe três períodos para a imprensa negra paulista, que podem ser resumidos assim: 1) 1915-1923: tentativa de integração do negro na sociedade e formação de consciência; 2) 1924-1933: fundação do jornal Clarim da Alvorada (1924); ápice, em 1931, com a criação da Frente Negra Brasileira; e, em 1933, com a criação de A Voz da Raça – o período se encerra com o Estado Novo; 3) 1945-1963: reivindicações políticas, com membros do grupo negro em partidos políticos de época ou se candidatando a cargos eletivos. Ana Flávia Magalhães Pinto publicou um livro que sofistica essa cronologia: Imprensa negra no Brasil do século XIX, São Paulo: Selo Negro, 2010.

68 Ferrara, 1986, op. cit., p. 33.

69 Camargo, 1987, op. cit., p. 74.

70 Não se trata de tarefa desprezível, tampouco banal, quando se leva em conta que o uso da palavra escrita é um símbolo dominante da classe dominante do momento, e o grupo negro organizado paulista é um punhado diminuto de pessoas em meio a uma massa de analfabetos e subempregados. Para se ter uma ideia da urgência dessa proto-organização, José Correia Leite, no depoimento que concedeu ao escritor Cuti, afirma a certa altura que: “[…] Tanto que a Santa Casa era de ‘Misericórdia’. Era tudo por meio de favor. Eu achava isso injusto, com relação a nós negros. Pois as colônias estrangeiras resolviam isso formando associações beneficentes e de mútuo socorro. Os italianos tinham essas associações. Quando eu estava numa roda de negros, eu procurava discutir isso: ‘Mas por que nós também não podemos ter uma associação assim? Formavam-se sociedades beneficentes, mas logo se tornavam sociedades de baile e já ia tudo por água abaixo’”. Cf. Leite e Cuti, 1992, op. cit., p. 55.

71 Para ficar apenas em alguns mais relevantes: Lino Guedes, Abdias do Nascimento, Solano Trindade, Oswaldo de Camargo, Cuti etc. Ver o quadro demonstrativo no capítulo seguinte, p. 93-8. Todos eles estiveram ligados a veículos informativos da imprensa negra, no Rio de Janeiro ou em São Paulo.

72 “Estes jornais possuem uma característica comum, publicam versos, notas de aniversário, casamentos, falecimentos, quermesses, festas religiosas etc…, e principalmente mexericos, através dos quais é exercido o controle sobre o grupo. As matérias de conteúdo reivindicatório são em número reduzido; contudo, neste período começa a formação de uma consciência de grupo que mais tarde irá ganhar força. […] De modo geral, os jornais eram mantidos com os escassos recursos do grupo negro. Os anunciantes eram poucos e os jornais eram vendidos nos bailes. Mas como relata [José] Correia Leite, ‘ninguém comprava e nós dávamos os jornais gratuitamente. Pagávamos o papel com nosso dinheiro e sempre tínhamos prejuízo’.” Cf. Ferrara, 1986, op. cit., p. 51-2.

73 “Com o jornal […] fundado por José Correia Leite e Jayme de Aguiar a 6 de janeiro de 1924, as reivindicações ganham força e expressão. Foi um dos jornais que mais se destacaram em São Paulo, marcando a história da imprensa negra. Fundado para ser um jornal literário, tornou-se arma de luta contra a situação do negro na sociedade brasileira. Este teve duas fases: de 1924 a 1927 e de 1928 a 1932. No primeiro momento guardou o caráter literário, porém com aspectos combativos; no segundo, assume o papel reivindicatório e de cunho político. O subtítulo do jornal indica a tendência do mesmo; assim, O Clarim da Alvorada é fundado como ‘órgão literário, noticioso e humorístico’ e permanece, com algumas variações (‘órgão literário, noticioso e científico’, ‘órgão literário, noticioso e político’), até 1928. Neste ano, o registro do subtítulo do jornal é outro: O Clarim da Alvorada – Pelo interesse dos homens pretos. NOTICIOSO, LITERÁRIO E DE COMBATE”. Ibid., p. 55-6. 74 “A 16 de setembro de 1931 foi fundada a Frente Negra Brasileira por Arlindo Veiga dos Santos, Isaltino Veiga dos Santos, Alfredo Eugênio da Silva, Pires de Araújo e Roque Antônio dos Santos.

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