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LITERATURA NEGRA E MARGINAL/PERIFÉRICA: IDEIAS E PROBLEMAS

uma fração de grupo social, ao menos para alguns coletivos de escritores negros, cuja proposta está inicialmente anunciada neste ponto da introdução de Reflexões:

[…] Quando o Quilombhoje foi criado, sua atuação não tinha sido delineada. A experiência com as discussões, Rodas de Poemas e outras atividades, a saída e entrada de pessoas, deu-nos uma perspectiva mais nítida. Resultado desse caminhar, este livro não se propõe a ser começo nem fim. É parte de uma luta que nos transcende, pois teve início muito antes e vai continuar depois de nós. Isso enquanto persistirem as pressões que fazem da nossa vida uma subvida. Portanto, não vamos escamotear a questão ideológica ligada à literatura nem tampouco reduzir esta àquela92

Passados dois anos, o texto apresentado por Cuti no seminário do CEAA, “Literatura negra brasileira: notas a respeito de condicionamentos”, é republicado sem alterações. Como já foi dito, é um trabalho que visa passar em revista autores modernistas (adeptos do negrismo) e autores negros contemporâneos ao modernismo para pensar o papel do negro em ambos os grupos. Escritores contemporâneos do autor do artigo, negros ou não, também são rapidamente analisados (Ferreira Gullar, Ruy Dias, Oswaldo de Camargo, Solano Trindade etc.).

Condicionamento, portanto, no sentido do artigo, deve ser compreendido como regulagem, controle, imposição. Sejam os impostos pela sociedade brasileira, sejam os autoimpostos pelo criador negro, com os quais este, se quiser ou puder, terá de lidar. De acordo com Cuti:

Blitz no sentimento negro é uma constante. Acusado de rancor, resta a alternativa de viver acuado em si mesmo, enquanto aprende as regras da vista grossa e do escamoteamento da expressão. Na pauta do permitido todos devem se esforçar para o sustento de todas as notas da hipocrisia nas relações raciais. […] Hoje há um dado considerável na transformação, a presença dos descendentes mais visíveis dos escravos. O texto escrito começa a trazer a marca de uma experiência de vida distinta do estabelecido. A emoção – inimiga dos pretensos intelectuais neutros – entra em campo, arrastando dores antigas e desatando silêncios enferrujados. É a poesia feita pelo negro brasileiro consciente93 .

Esse negro brasileiro consciente de que fala o autor é, como escritor, um ser em crescendo, cuja oscilação histórica é patente no percurso da literatura negra brasileira94. Ele se inicia com Cruz e Sousa e Lima Barreto, e como expressões atomizadas, culminando num projeto coletivo. Projeto esse que, como questão ideológica, parece estar bem resolvido; no âmbito do plano estético, entretanto, apresenta rusgas significativas. Assim, o debate se dá em torno da qualidade da produção literária negra, como apresenta rapidamente o autor:

Em 1978 surgiram os Cadernos Negros, primeira tentativa de agrupamento, de literatos e aspirantes, em torno de uma publicação coletiva, já em seu quinto número alternando poesia e prosa. Os nomes aumentam e a aproximação se efetua, e com ela, os debates.

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