menos “verdade” e mais imaginação, menos ideias e mais jogo. A lei, nas suas aulas, é que a brincadeira e a imaginação têm de dar as mãos e andar juntas. E, assim, sua escola, com pessoas de nacionalidades e culturas distintas, vai construindo uma língua ímpar, apoiada em pilares próprios e muitas vezes inusitados. Pular corda, jogar pingue-pongue, cantar músicas ridículas de mãos aprender a estar em cena. E dançar… dançar sempre. É uma feliz escolha das Edições Sesc publicar o livro de um mestre como Philippe Gaulier, que possui tantos artistas brasileiros como ex-alunos e como admiradores que compartilham da sua maneira de pensar o teatro, a cena e o ator. Os que querem conhecer e entender o pensamento desse homem e artista divertido, sensível, e muitas vezes imprevisível, serão recompensados com
cionale de Théâtre Jacques Lecoq até a criação de sua própria escola, nos anos 1980. Desde então, contribui com a formação de atores de renome internacional, ensinando o seu método de forma vivencial. No presente livro, o autor inventa um entrevistador – o “atormentador” e, por meio dele, tece divagações e diálogos inusitados que compõem boa parte da publicação. Nessas conversas, os leitores podem apreender o significado do método Gaulier na intimidade de suas provocações e na sutileza de seu humor. Explorando as interfaces entre a palhaçaria e o teatro, essa obra ultrapassa limi-
provocações únicas. Este livro é um convite a adentrar o univer-
tes do politicamente correto e de convenções
so particular de um homem que tem dedicado sua vida a olhar
artísticas que empobrecem a criação estética e
sua beleza apareça. Nada que nos ensinem numa escola de teatro
o dinamismo do pensamento.
pode ser mais precioso que isso. Com essa liberdade podemos alçar qualquer voo. Soledad Yunge Diretora de teatro formada pela ECA/USP, cursou a École Philippe Gaulier em Londres, entre 1994 e 1995. De volta ao Brasil, organizou e produziu a primeira vinda do autor a São Paulo e Rio de Janeiro.
ISBN 978-85-69298-65-6
Essa poderia ser a pergunta formulada pelo personagem “entrevistador/atormentador” especialmente para a edição brasileira. A resposta de Gaulier, depois de olhar profundamente nos olhos do interrogador através de seus óculos engraçados e de mover os lábios num sutil e quase inaudível resmungo – Bon… hum… bah –, seria uma explosão de energia em forma de piada, jogo de
minhas ideias sobre teatro
o outro com um plano: o de encontrar seu espírito livre para que
Por que as pessoas deveriam ler seu livro no Brasil, senhor Gaulier?
palavras ou uma história um pouco estranha para instigar a ima-
o atormentador
dadas, em roda, e não poder rir, são aquecimentos e momentos de
Philippe Gaulier foi professor na École Interna-
Philippe Gaulier
Aprendemos que, para estar em cena e ser amado, é preciso
ginação do interlocutor. O próprio formato de O atormentador, uma enorme entrevista fictícia, estabelece um jogo com os leitores. Por intermédio dessa brincadeira, Gaulier introduz seus pensamentos e princípios sobre o teatro e revela alguns dos exercícios que, ao longo dos 35 anos da sua escola, têm formado gerações de artistas no mundo inteiro. Alguns alunos célebres incluem Simon McBurney, do Théâtre de Complicite, Emma Thompson, Sacha Baron Cohen, Roberto Benigni, entre outros. Philippe Gaulier é considerado um dos grandes mestres do teatro contemporâneo, mais conhecido pelo trabalho com as lin-
er i l u a G pe
Philip
o atormentador minhas ideias sobre teatro
guagens do clown e do bufão. Todavia, quem conhece a sua escola e foi exposto ao seu olhar sabe que suas ideias extrapolam o trabalho com uma linguagem ou gênero em particular. Shakespeare, Tchekhov, as tragédias gregas, o melodrama, entre outros, são o “objeto” e pretexto do jogo. Ele busca, nos alunos dispostos a se arriscar, o resgate do prazer do jogo e da cumplicidade com seus pares, tal como vivenciados na infância. Para Gaulier, esse estado de jogo, o prazer de estar em cena e a cumplicidade com colegas e público são o combustível para trabalhar qualquer gênero teatral. Na verdade, são os requisitos básicos para estar em cena, e, em suas aulas, oferecer menos que isso é ter de sair do palco, sentar para assistir os colegas e aguardar a próxima oportunidade de tentar outra vez. Ter muitas ideias, pensar demais ou ser um acadêmico é um “pé no saco”, segundo o autor. Como ele mesmo diz: “As ideias matam a beleza e a imaginação”.