Revista Shalom Maná - Edição 209

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Ano 24 • nº 209 | Dezembro • 2010 • R$ 8,90

Tu és sacerdote para sempre!

Quatro irmãos da Comunidade Shalom são ordenados sacerdotes


E D I T O R I A L

Deus inclina-se!

Q

uerido(a) leitor(a), Na noite do dia 15 de outubro último, a Comunidade Católica Shalom e toda a Igreja católica, viveram um momento de imensa alegria e júbilo. Os diáconos Aristóteles Alencar, Rômulo dos Anjos, Karlian Vale e Silvio Scopel, todos membros da Comunidade de Vida Shalom, após cerca de oito anos de preparação, foram ordenados sacerdotes pela imposição das mãos e da oração consecratória de Dom José Antonio, arcebispo de Fortaleza/CE. Mais de cinquenta seminaristas e inúmeros sacerdotes compareceram à missa de ordenação presbiteral. Moysés Azevedo, fundador e moderador geral da Comunidade Católica Shalom, no comentário inicial, convidou os presentes a se alegrarem por estarem na Catedral, Igreja mãe de Fortaleza, celebrando um momento como aquele, especial para a Igreja e para a Comunidade. A revista Shalom Maná não poderia deixar de estar presente em um momento singular como este. Trazemos como Assunto do Mês a cobertura desse evento tais como imagens que falam mais do que as palavras. Como estamos no mês de dezembro, mês no qual celebramos o nascimento de Jesus, trazemos matérias que nos ajudarão a vivenciar melhor esse tempo tão rico e tão especial para a Igreja: o Natal. “Deus inclina-se. Esta é uma palavra profética; e, na noite de Belém, adquiriu um significado completamente novo. O inclinarse de Deus assumiu um realismo inaudito, antes inimaginável. Ele inclina-se: desce, Ele mesmo, como criança na miséria do estábulo, símbolo de toda a necessidade e estado de abandono dos homens. Deus desce realmente. Torna-se criança, colocando-se na condição de dependência total, própria de um ser humano recém-nascido. O Criador que tudo sustenta nas suas mãos, de quem todos nós dependemos, faz-se pequeno e necessitado do amor humano. Deus está no estábulo” (Bento XVI). Desejamos a você, querido(a) leitor(a), um Natal repleto das bênçãos do Alto. A você que caminhou conosco durante todo esse ano de 2010, que foi atingido pelas palavras da Shalom Maná, que esperou ansioso, todos os meses, a chegada de cada edição, a você o nosso muito obrigado. Dirigimos a você e a sua família as nossas orações e súplicas. Reiteramos o nosso desejo e a nossa missão de evangelizar e de fazer crescer na graça e no conhecimento de Deus cada filho da Igreja. Existimos para você! Esperemos continuar entrando na sua casa no ano de 2011. Desejamos continuar colaborando para que a Boa-nova atinja de forma cada vez mais profunda a sua vida e a dos seus queridos. A você um Ano Novo cheio de paz, esperança e parresia. Até janeiro! Até 2011! Shalom!

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Jornalista Responsável Egídio Serpa

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SUMÁRIO Palavra do Papa 04 A“Para que todos sejam um só”

18 Espiritualidade “Um Menino nasceu para nós” do Mês 24 Assunto Tu és sacerdote para sempre! e Razão 34 Fé Creio na Igreja UNA

A unicidade da Igreja

09 Entrevista Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo “Um só coração e uma só alma”

Humana 12 Formação O dom de ser filho Jovem 14 Papo O corpo, muito

mais que uma ''casa''

com a Palavra 16 Orando E o Verbo se fez carne!

21 Especial A Visita

Um Conto de Natal

Família 30 Só Como família,

a caminho de Belém!

34 Atualidade

Fé na Política

40 Divirta-se 43

Acontece no Mundo O arcebispo Dom Josef Clemens em visita ao Brasil Brasil ganha beata: Bárbara Maix “É necessário que Deus volte a ressoar alegremente sob o céu da Europa”

45 Entrelinhas Um Menino

nos foi dado

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A Palavra do Papa

“Para que A Assembleia sinodal que hoje se encerra teve sempre presente o ícone da primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos: “A multidão daqueles que se haviam tornado fiéis tinha um só coração e uma só alma” (At 4,32). Trata-se de uma realidade experimentada nos dias passados, em que compartilhamos as alegrias e as dores, as preocupações e as esperanças dos cristãos do Oriente Médio. Homilia de Bento XVI na Conclusão da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos – 24/10/10

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todos sejam um só” R eunimo-nos novamente necessitados de salvação e de misericórdia; no dia do Senhor, ao redor reconheçamos que tudo provém dele e que do Altar da Confissão da só com a sua Graça se realizará aquilo que Basílica de São Pedro, para o Espírito Santo nos disse. Só assim poconcluir a Assembleia Es- deremos “voltar para casa” verdadeiramente pecial para o Oriente Médio do Sínodo enriquecidos, mais justos e mais capazes de dos Bispos. Nos nossos corações, há uma trilhar os caminhos do Senhor. profunda ação de graças a Deus, que nos A primeira Leitura e o Salmo responconcedeu esta experiência verdadeiramente sorial insistem sobre o tema da oração, extraordinária, não só para nós, mas para ressaltando que ela é tanto mais poderosa o bem da Igreja, do Povo no Coração de Deus, de Deus que vive nas terquanto mais aquele que ras entre o Mediterrâneo reza estiver em condiComo nos recordou e a Mesopotâmia. Como ções de necessidade e a hodierna página do Bispo de Roma, desejo Evangelho (cf. Lc 18,9- de angústia. “A oração comunicar este reconhedo humilde penetra as 14), temos necessidade nuvens”, afirma o livro cimento a vós, venerados de humildade para Padres sinodais. de Ben Sirac (35,21); e o Hoje de manhã, deisalmista acrescenta: “O reconhecer os nossos xamos a Sala do Sínodo Senhor está perto dos limites, os nossos e viemos “ao templo para contritos de coração / e erros e omissões, rezar”; por isso, refere-se salva aqueles que estão para podermos formar diretamente a nós a parácom o espírito abatido” bola do fariseu e do pu- verdadeiramente “um só (34,19). Dirijo o penblicano, narrada por Jesus coração e uma só alma”. samento a numerosos e citada pelo Evangelista irmãos e irmãs que vivem São Lucas (cf. 18,9-14). na região do Oriente Também nós poderíamos ser tentados, Médio e que se encontram em situações como o fariseu, a recordar a Deus os nossos difíceis, às vezes muito pesadas, quer pelas méritos, talvez pensando no compromisso dificuldades materiais, quer pelo desânimo, destes dias. Mas, para subir ao Céu, a ora- pelo estado de tensão e às vezes de medo. ção deve partir de um coração humilde, Hoje, a Palavra de Deus oferece-nos pobre. E, portanto, também nós, no final também uma luz de esperança consoladora, deste acontecimento eclesial, queremos quando a oração personalizada que “não deantes de tudo dar graças a Deus, não pelos siste enquanto o Altíssimo não tiver julgado nossos méritos, mas pelo dom que Ele nos os justos e restabelecido a equidade” (cf. concedeu. Reconheçamo-nos pequenos e Eclo 35,21-22). Também esse vínculo entre

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Não se preocupem

Aos cristãos no Oriente Médio podem aplicar-se estas palavras do Senhor Jesus: “Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai conceder-vos o Reino” (Lc 12,32). Com efeito, embora sejam pouco numerosos, eles são portadores da Boa-nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa na Pessoa de Jesus Cristo.

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a oração e a justiça nos faz pensar em muitas situações no mundo, em particular no Oriente Médio. O grito do pobre e do oprimido encontra um eco imediato em Deus, que deseja intervir para encontrar uma saída, para restituir um futuro de liberdade e um horizonte de esperança. Essa confiança no Deus próximo, que liberta os seus amigos, é testemunhada pelo Apóstolo Paulo na epístola hodierna, tirada da segunda Carta a Timóteo. Vendo já próximo o fim da vida terrena, Paulo traça um balanço: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, conservei a fé” (2Tm 4,7). Amados irmãos no Episcopado, para cada um de nós este constitui um modelo que devemos imitar: que a Bondade divina nos conceda fazer uma semelhante síntese! “O Senhor – continua São Paulo – assistiu-me e deu-me forças para que, através de mim, a mensagem do Evangelho fosse plenamente anunciada e chegasse aos ouvidos de todos os pagãos” (2Tm 4,17). Trata-se de uma palavra que ressoa com força especial neste domingo em que celebramos o Dia Missionário Mundial! Comunhão com Jesus crucificado e ressuscitado, testemunho do seu amor. A experiência do Apóstolo é paradigmática para cada cristão, especialmente para nós, Pastores. Compartilhamos um momento forte de comunhão eclesial. Agora, despedimo-nos e cada um voltará para a sua própria missão, mas sabemos que estamos unidos, que permanecemos no seu amor. A Assembleia sinodal que hoje se encerra, teve sempre presente o ícone da primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos: “A multidão daqueles que se haviam tornado fiéis tinha

um só coração e uma só alma” (At 4,32). Trata-se de uma realidade experimentada nos dias passados, em que compartilhamos as alegrias e as dores, as preocupações e as esperanças dos cristãos do Oriente Médio. Vivemos a unidade da Igreja na variedade das Igrejas presentes naquela Região. Orientados pelo Espírito Santo, tornamo-nos “um só coração e uma só alma” na esperança e na caridade, sobretudo durante as Celebrações eucarísticas, fonte e ápice da Comunhão eclesial, assim como na Liturgia das Horas, celebrada todas as manhãs num dos sete Ritos católicos do Oriente Médio. Assim, valorizamos a riqueza litúrgica, espiritual e teológica das Igrejas Orientais católicas, mas também a da Igreja latina. Tratou-se de um intercâmbio de dons preciosos, do qual beneficiaram todos os Padres sinodais. É desejável que essa experiência positiva se repita também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos outros Ritos católicos e, por conseguinte, a abrir-se às dimensões da Igreja universal. A oração comum ajudou-nos também a enfrentar os desafios da Igreja católica no Oriente Médio. Um deles é a comunhão no interior de cada Igreja sui iuris, assim como as relações entre as várias Igrejas católicas de diversas tradições. Como nos recordou a hodierna página do Evangelho (cf. Lc 18,9-14), temos necessidade de humildade para reconhecer os nossos limites, os nossos erros e omissões, para podermos formar verdadeiramente “um só coração e uma só alma”. Uma comunhão mais plena no interior da Igreja católica favorece também o diálogo ecumênico com as demais Igrejas


e Comunidades eclesiais. A Igreja católica reiterou também nessa Assembleia sinodal a sua profunda convicção de dar continuidade a esse diálogo, a fim de que se realize completamente a oração do Senhor Jesus, “para que todos sejam um só” ( Jo 17,21). Aos cristãos no Oriente Médio, podem aplicar-se estas palavras do Senhor Jesus: “Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai conceder-vos o Reino” (Lc 12,32). Com efeito, embora sejam pouco numerosos, eles são portadores da Boa-nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa na Pessoa de Jesus Cristo. Essa Palavra de salvação, revigorada com a graça dos Sacramentos, ressoa com eficácia particular nos lugares onde foi escrita pela Providência divina, e é a única

Há bastante tempo, no Oriente Médio, perduram os conflitos, as guerras, a violência e o terrorismo. A paz, que é dom de Deus, constitui também o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, das instituições nacionais e internacionais, de modo particular dos Estados mais empenhados na busca da solução dos conflitos.

Palavra capaz de interromper o círculo vicioso da vingança, do ódio e da violência. De um coração purificado, em paz com Deus e com o próximo, podem nascer propósitos e iniciativas de paz nos planos local, nacional e internacional. Nesta obra, para cuja realização é chamada toda a comunidade internacional, os cristãos, cidadãos a pleno título, podem e devem oferecer a sua contribuição, com o espírito das bem-aventuranças, tornando-se construtores de paz e apóstolos de reconciliação em benefício a toda sociedade. Há bastante tempo, no Oriente Médio, perduram os conflitos, as guerras, a violência e o terrorismo. A paz, que é dom de Deus, constitui também o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, das instituições nacionais e internacionais, de modo particular www.edicoesshalom.com.br

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dos Estados mais empenhados na busca da solução dos conflitos. Nunca podemos resignar-nos à falta da paz. A paz é possível. A paz é urgente. A paz é a condição indispensável para uma vida digna da pessoa humana e da sociedade. A paz é também o melhor remédio para evitar a emigração do Oriente Médio. “Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém” – diz-nos o Salmo (122 [121],6). Oremos pela paz na Terra Santa. Rezemos pela paz no Oriente Médio, comprometendonos a fim de que tal dádiva de Deus, oferecida aos homens de boa vontade, difunda-se no mundo inteiro. Outra contribuição que os cristãos podem oferecer à sociedade é a promoção de uma autêntica liberdade de religião e de consciência, um dos direitos fundamentais da pessoa humana que cada Estado deveria respeitar sempre. Em numerosos países do Oriente Médio, existe a liberdade de culto, enquanto o espaço da liberdade religiosa é, não poucas vezes, bastante limitado. Ampliar esse espaço de liberdade torna-se uma exigência para garantir a todos os fiéis pertencentes às várias Comunidades religiosas a verdadeira liberdade de viver e professar a própria fé. Esse tema poderia tornar-se objeto de diálogo entre os cristãos e os muçulmanos, diálogo cuja urgência e utilidade foram reiteradas pelos Padres sinodais. Durante os trabalhos da Assembleia, foi muitas vezes ressaltada a necessidade de repropor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco, ou que até se afastaram da Igreja. Evocou-se frequentemente a urgente necessidade de uma nova evangelização, inclusive para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito difundido, sobre-

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liberdade religiosa

Outra contribuição que os cristãos podem oferecer à sociedade é a promoção de uma autêntica liberdade de religião e de consciência, um dos direitos fundamentais da pessoa humana que cada Estado deveria respeitar sempre. tudo nos países de antiga cristianização. Também a recente criação do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização corresponde a essa profunda exigência. Por isso, depois de ter consultado o Episcopado do mundo inteiro e após ter ouvido o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, decidi dedicar a próxima Assembleia Geral Ordinária, em 2012, ao seguinte tema: “Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam – A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Estimados irmãos e irmãs do Oriente Médio! A experiência desses dias vos assegura que nunca estais sozinhos, que vos acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja que, tendo nascido em Jerusalém, difundiu-se no Oriente Médio e, em seguida, pelo mundo inteiro. Confiamos a aplicação dos resultados da Assembleia Especial para o Oriente Médio assim como a preparação da Geral Ordinária à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha da Paz. Amém! 


Entrevista

“Um só coração e uma só alma” Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo

Vigário do Patriarcado Latino para Israel, Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo fala da experiência de unidade e comunhão sinodal. Por Gabriela Maria Mihlig

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urante o Sínodo para o Oriente Médio, os padres sinodais não só realizaram um grande trabalho, mas também conseguiram criar entre eles um bom espírito de comunhão e unidade. Essa é a reflexão de Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo, bispo auxiliar de Jerusalém, que é também vigário do Patriarcado Latino para Israel e que esteve presente nas sessões da recente Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio. Nesta entrevista, Dom Marcuzzo reflete sobre as conquistas do sínodo, especialmente sobre a experiência de unidade e de comunhão dos bispos reunidos em Roma, e como isso pode ter efeito na região.

Considerando a situação no Oriente Médio e na Terra Santa e vendo as proposições finais, o senhor poderia nos explicar quais são os principais temas de interesse em geral e para o senhor, como bispo? Dom Marcuzzo – No sínodo, preparamos várias propostas que foram apresentadas, junto com alguns outros documentos, como

Mensagem ao Povo de Deus, ao Santo Padre. Estas propostas são muito amplas e recolhem todos os nossos principais problemas no Oriente Médio, especialmente na Terra Santa. Esse “pacote sagrado” de ideias tem um nome muito significativo e solene: “Propostas da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos sobre o tema da Igreja Católica

no Oriente Médio: comunhão e testemunho. A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma (Atos 4,32)”. Falando em geral, são 44 propostas que apresentam assuntos diferentes, por exemplo: a Palavra de Deus, um programa de pastoral bíblica, a identidade das igrejas orientais católicas, a participação na Cruz, o incentivo para fazer peregrinações, as questões sobre justiça e paz em todos os países, o diálogo inter-religioso, a jurisdição dos patriarcas etc. Certamente, incluímos nessas proposições também temas sobre o testemunho cristão nos países do Oriente Médio, passando por assuntos da vida religiosa, renovação litúrgica, escolas e direitos humanos e o cuidado especial pelos jovens. www.edicoesshalom.com.br

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Que contribuições, em particular, foram dadas pelos bispos da Terra Santa? De maneira especial para a Terra Santa, nós, bispos da assembleia, contribuímos muito com nossas intervenções não só sobre a unicidade da Igreja Mãe de Jerusalém, sobre os lugares santos e as peregrinações, sobre a especificidade, o serviço e a complementaridade da presença latina – a novidade da presença de uma “comunidade cristã palestina em Israel” autóctone e uma “Kehilá (comunidade) católica de expressão hebraica” – como também sobre o problema da emigração, o diálogo inter-religioso, o fenômeno das seitas etc. O senhor poderia nos contar sobre seu papel na preparação das proposições? Nós, os bispos, e outros membros da Terra Santa no sínodo, trabalhamos duramente e demos um firme apoio à redação e à complementação de algumas propostas concretas sobre a nossa situação, como as peregrinações, a boa inculturação das novas comunidades ou movimento na Igreja local, o trabalho pela justiça, pela paz e pela reconciliação, o ensino e a difusão da literatura cristã árabe. Em outras palavras, podemos dizer que comunicamos a rica experiência do nosso “sínodo pastoral diocesano para a Terra Santa” dos últimos anos no sínodo dos bispos do Oriente Médio. Há algum aspecto especial na mensagem e nas propostas que tenha chamado mais sua atenção? O que interessa é o fato de que todas essas propostas que foram mencionadas aqui são muito ricas em seu conteúdo. Isso significa que esse documento inclui todas as experiências históricas e maravilhosas

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dos bispos de todos os países do Oriente Médio. Essa documentação é realmente de uma preciosidade e uma riqueza incomparáveis para a Igreja, especialmente para nossas atividades no futuro. Em segundo lugar, existe um espírito do sínodo, não só documentos. E esse espírito era de plena comunhão e, se me permitem, de uma democracia plena. Apesar de termos sido tão diferentes e completamente livres em nossas manifestações, fomos e somos profundamente “um só coração e uma só alma” ao redor do nosso Senhor Jesus Cristo e seu Vigário na terra,

Apesar de termos sido tão diferentes e completamente livres em nossas manifestações, fomos e somos profundamente “um só coração e uma só alma” ao redor do nosso Senhor Jesus Cristo e seu Vigário na terra, o Papa. o Papa. Vivenciamos um catolicismo e um universalismo sinceros e alegre. Esse espírito nos encheu de entusiasmo e nos proporcionou força para um começo novo e fresco, sobretudo no testemunho cristão do amor, da paz e da unidade. Qual foi o papel e a presença do Papa no sínodo? Bento XVI participou de muitas das nossas sessões gerais. Esse é um belo sinal de respeito pela venerável história das igrejas no Oriente Médio e de consideração por sua atualidade. Sua estimada participação foi uma presença de amor fraterno,

de escuta atenta e de incentivo para todos. De fato, lembraremos especialmente das três reflexões que ele partilhou conosco durante o sínodo: a homilia da Missa inaugural, a primeira meditação na segunda-feira, 11 de outubro, e a homilia de conclusão do sínodo. São três obras-primas de reflexão maravilhosa, profunda e sobrenatural sobre nossas raízes e nossa presença na situação especial do Oriente Médio. O Papa já recebeu as propostas dos padres sinodais. Com a ajuda dos sete escolhidos e de três membros designados pelo conselho sinodal, Sua Santidade está refletindo sobre elas e considerando a melhor oportunidade para o uso final e oficial das proposições. Como nos demais sínodos, é provável que ele nos escreva um documento chamado “exortações”, uma espécie de guia pastoral e prática relacionada com os pontos essenciais das propostas. Somos gratos ao Papa pelo que ele já fez às igrejas do Oriente Médio, e ansiosos por receber esse documento sinodal pontifício. Será, no futuro, uma espécie de guia para a nossa vida diária, nas decisões e atitudes que as igrejas do Oriente Médio adotarão nos diversos campos. O futuro da nossa Igreja depende do sínodo e desse documento sinodal pontifício. Existe algum assunto especial que afete o Patriarcado de Jerusalém em particular? O Sínodo não fala de nenhuma igreja do Oriente em particular, mas de todas as igrejas do Oriente Médio. O Patriarcado Latino é uma delas. Como se sabe, há 7 tradições cristãs no Oriente Médio, e a tradição latina é uma delas. Foi uma espécie de descoberta ver que existe no Oriente Médio


uma Igreja latina bem adaptada e arraigada. O sínodo é de caráter pastoral e compartilhamos quase os mesmos problemas, com algumas diferenças, entre os cristãos que moram no Iraque, no Líbano, no Egito, na Terra Santa ou na região do Golfo etc. Basicamente, temos os mesmos problemas. Agora temos de procurar ter a mesma experiência para aplicar juntos essas propostas e viver o mesmo espírito de “comunhão e testemunho” em nossas situações reais locais. O sínodo não terá um resultado imediato. É preciso certo tempo para dar frutos visíveis, ainda que esperemos já ver um novo espírito. A adaptação e aplicação das nossas propostas ou declarações de intenção exigem paciência e tempo, mas o mais importante é caminhar já na direção adequada, juntos, com um novo espírito. Voltando à Terra Santa, o senhor falará a todos os párocos do Patriarcado Latino para transmitir-lhes a informação necessária obtida no sínodo, para que possam implementar os novos temas em sua vida diária, nas paróquias e comunidades? Os sacerdotes, consagrados e leigos já estavam envolvidos na preparação do sínodo e no acompanhamento, pelo menos espiritualmente, da sua realização. Agora, partindo do nosso próprio sínodo pastoral, pouco a pouco, na Terra Santa, nós nos dirigiremos a todos os sacerdotes, a todas as pessoas consagradas, a todos os monges, monjas e religiosos, a todos os leigos e a todos os jovens. Cada vez mais estamos trabalhando juntos, temos uma pastoral mais comum, por exemplo, para os jovens, para a vida religiosa, para as vocações.

Cada vez mais, em todos os âmbitos, vamos nos encontrando e decidindo juntos sobre os principais problemas dos fiéis em sua vida religiosa e cotidiana: por exemplo, os problemas sobre o matrimônio, da justiça e da paz na Terra Santa. Isso é urgentemente necessário, não só com o fim de evitar mais conflitos, mas para dar um exemplo de vida de comunhão e de testemunho cristão. Assim, na Terra Santa – graças a Deus –, já praticamos muitas coisas juntos e temos de fortalecer e aprofundar cada vez mais nesse trabalho em comum. E agora que o sínodo terminou, o senhor poderia fazer algumas reflexões finais?

Agradecemos com alegria a Deus por ter-nos dado luz e força para esse acontecimento eclesial histórico. Agradecemos ao Santo Padre, Bento XVI, por ter confirmado nossa fé e nossos esforços para sermos “um só coração e uma só alma”; agradecemos a todas as pessoas que trabalharam duramente pelo bom resultado dessa grande iniciativa, incluindo os jornalistas e todas as pessoas, especialmente as contemplativas, que rezaram continuamente por essa santa intenção. E agora, com a intercessão e o exemplo de Maria de Nazaré, continuemos servindo a Deus e aos nossos amados fiéis cristãos no Oriente Médio, na Terra Santa, na Santa Igreja Mãe de Jerusalém!  www.edicoesshalom.com.br

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Formação Humana

O dom de ser filho Se os pais evangelizam seus filhos, cercando-os de uma ambiente pautado pelos valores evangélicos, filhos também evangelizam os pais na simplicidade do dia a dia, na firmeza de sua opção por Deus e nas ofertas de uma juventude doada pelo anúncio do Ressuscitado, vivendo a missionariedade onde estiver. Emily G. de Araújo Jornalista e Missionária da Comunidade Católica Shalom em Natal/RN

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embro-me que desde pequena sempre ouvi as pessoas de mais idade chamando a atenção dos mais novos sobre o valor dos pais na vida dos filhos. Via de regra, somos ensinados a olhar para eles com grande respeito e reverência, tomando-os como um forte referencial para as escolhas que a vida invariavelmente nos apresentará. De fato, os pais são mesmo aquela coluna firme na qual a gente sabe que pode agarrarse nos momentos de desespero. Bem ou mal, geralmente são a primeira alternativa que vem

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à nossa mente nas horas difíceis, seja você criança, jovem ou até mesmo adulto. Aposto com você: atire a primeira pedra o “trintão” ou “quarentão” que nunca se pegou pensando em como “papai” ou “mamãe” resolveria esta ou aquela situação, seja no trabalho, com a esposa ou com o marido e

com os filhos. E não há nada de errado nisso! Observar e “imitar” aqueles que nos criaram, parece ser uma tendência impressa no mais profundo instinto da maioria dos seres vivos.


No entanto, pensando mais com meus botões sobre a vida em família, percebi que pouco se fala sobre o outro lado da moeda: o papel do filho na vida dos pais. Vamos lá; deixe-me virar a mesa da responsabilidade para você e perguntar-lhe: alguém já lhe disse qual é o seu valor na vida de seus pais? O seu papel para com eles? Soa estranho, não é? Pois não é. E vou explicar-lhe o porquê. Estamos tão acostumados a conceber o modelo da relação entre pais e filhos de uma forma unilateral, que esquecemos da comunhão que ela pressupõe, que é verdadeiramente seu fundamento, conforme nos mostra o modelo da Santíssima Trindade. Você e eu já sabemos que, nela, Pai e Filho se doam continuamente e inteiramente, no encontro de onde provém a explosão de amor do Espírito. A comunhão aqui é perfeita, porque a unidade é perfeita: não há barreiras para que um adentre no outro completamente; não existem espaços que um não possa ocupar no outro. E aqui lanço mais uma pergunta: podemos dizer que tal abertura e liberdade encontram eco nos nossos relacionamentos familiares? A começar por nós, como filhos? Mas a riqueza que o Pai e o Filho nos revelam não para por aí. Assim como o Filho, que ama o Pai, se reconhece necessitado dele e se volta para acolhê-lo, o Pai, que ama o Filho, também se reconhece necessitado do Filho e faz o mesmo movimento. Trata-se de um amor tão enraizado na essência de cada um, que o movimento em direção ao outro não se mostra somente como vontade, mas como necessidade. É claro que a Teologia, a rigor, trata do que acabamos de falar com outros termos e com sentidos mais complexos do que o que tomamos

neste artigo. Contudo, nosso entendimento é válido para resgatarmos a dimensão da troca na convivência familiar, da reciprocidade do amor e da evangelização. Se os pais evangelizam seus filhos, cercando-os de uma ambiente pautado pelos valores evangélicos, filhos também evangelizam os pais na simplicidade do dia a dia, na firmeza de sua opção por Deus e nas ofertas de uma juventude doada pelo anúncio do Ressuscitado, vivendo a missionariedade onde estiver. De minha parte, posso lhe dizer o seguinte: quando entendi que, por amor, meus pais necessitam de mim, comecei a questionar minha

Os filhos serão os pais de outros filhos e esses filhos serão pais de tantos outros... Os papéis podem mudar com o passar dos anos, mas o referencial de amor permanece. conduta. Comecei a avaliar qual o tipo de “marca” eu estava deixando no coração e na história deles. Da mesma forma como meus pais certamente se perguntavam, resolvi então me perguntar: o que eu, como filha, estava dando aos meus pais? E me empenhei em dar essa resposta com a minha vida, desde os idos de 2004, há algum tempinho... Nesse processo, percebi que assim como eles estavam aprendendo a “ser pais” comigo, eu também estava – e ainda estou – aprendendo a ser filha com eles. No automatismo da vida cotidiana, quantas vezes esquecemos que eles também são de carne e osso e podem cometer

erros. Não são super-heróis; de vez em quando, gritam silenciosamente por ajuda... E, talvez, Deus tenha escolhido você como filho (a) para ser essa ajuda, esse socorro. Às vezes isso vai demandar atitudes; outras vezes, silêncio; noutras, somente a oração e a fé... Para cada família, um plano de Deus, um caminho de salvação particular. No meu caso, durante esse tempo de bastante aprendizado na vida familiar, vivi a experiência da partida de minha mãe para a eternidade, mais precisamente em 2007. Aquele momento me fez consolidar, com mais clareza ainda, esse entendimento acerca da responsabilidade que tinha como filha em zelar pelos desígnios de Deus para minha família, principalmente em relação aos meus pais. Muito aliviou meu coração a certeza de saber que eu tinha amado até o fim; tinha expresso esse amor de todas as formas que eu podia e sabia fazê-lo. E a saudade residia precisamente em todo amor que eu ainda tinha para compartilhar com ela, e que a partir de então, concretizaria por uma outra via, a Eucarística. Na dança contínua da vida, tudo se renova. Os filhos serão os pais de outros filhos e esses filhos serão pais de tantos outros... Os papéis podem mudar com o passar dos anos, mas o referencial de amor permanece. Espero que aprendamos a ser pai e a ser filho, inspirando-nos no modelo da Trindade, na qual ambos vivem profundamente sua identidade e se plenificam à medida que se dão um ao outro. Espero que aprendamos a nos reconhecer sempre aprendizes no desempenho desses papéis, em uma bela “Obra-nova” que só terminará no céu. Por hoje, eu posso dizer: Senhor, obrigada pelo dom de ser família; obrigada pelo dom de ser filha!  www.edicoesshalom.com.br

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osso cor po, desde que nascemos, tem um papel importantíssimo. É por ele e nele que nos comunicamos. Isso se percebe claramente quando nos recordamos de nossa infância ou observamos alguma criança. Ela é, indubitavelmente, aquilo que seu corpo manda: chora se sente fome ou algum desconforto; pula se está alegre; grita se s tem vontade etc. – os psicanalista 1 diriam que a criança é puro Id . De poi s, qua ndo cre sce mo s, buscamos racionalizar nossas ações e tentamos esconder o que o nosso corpo quer falar, mas, muitas vezes, ele continua falando à nossa revelia. Por exemplo, às vezes estamos

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Maria Auristela B. Alves

cansados, então nossos amigos nos perguntam: “O que houve com você?” E nós dizemos que não há nada errado. Mas eles logo – porque nos amam e se preocupam conosco – replicam: “Pois parece que algo não está bem, você parece cansada”. Não queremos admitir, mas nosso corpo nos “entrega”. Torna-se, então, muito importante que cada um de nós se autoconheça para conseguir decifrar a linguagem do próprio corpo e a dos outros, para cuidar melhor de si e dos outros, e, sobretudo, para não tratar o próprio corpo de maneira equivocada e inadequada, baseada nos enganos propagados pelo mundo.

nós se autoconheça, de um da ca e qu e nt É muito importa o. guagem do próprio corp lin a r ra cif de r ui eg ns co para

e de do

ação So bret ud o na ad ol es cê nc ia – te – de tudo e de todo quando são produz s, e para isso idas importantes ba naliza-se o própri mudanças corporai o corpo. Mas s, o que requer não podemos esqu uma reelaboração ecer que nosso do esquema corco rpo é templo do E poral por parte do spírito Santo, adolescente – po rtanto é divino, o pe rc eb em os um sagrado tem co rp o ch ei o de morada nele; por po te nc ia lid ad es , isso mesmo não m as se m mui ta deve ser profanad maturidade para disc o, utilizado para ernir o uso delas. fins medíocres qu Muitas vezes, deix e desrespeitam a amos-nos levar si e/ou aos outros. pela mentalidade do mundo, que diz que aquilo que se vi É importante dizer ve no corpo não que o homem – obra-prima de D afeta o psicológico eus – é o único ser ou o espiritual. capaz de dar sentid Entretanto, como o aos seus atos. vimos no ensinaIs so quer dizer que mento da Igreja, som pode elevar às os um conjunto: alturas suas atitude as experiências espi s, por meio das rituais são vividas escolhas que faz, no corpo, na matéria ou deixá-las no , e a matéria leva campo mais rastei o que vive para o ca ro, quando opta mpo subjetivo. pelos prazeres imed Disso fica claro o iatos e ilícitos. uso que devemos fazer do no O desafio de faze r bom uso do sso corpo. Ele nosso corpo e do é possibilidade de corpo dos outros doação, não de é uma realidade co vulgarização. O m ncreta; mas viver undo hedonista2 de maneira ordena em que vivemos no da traz paz e fes ensina a tirar licidade. Porque, ce prazer – muitas veze rtamente, Deus s egoísticamenaposta em nós!

Possibilidad

' ' a s a c ' ' a m u e u q

Papo Jovem


o estruturas da Person 1. A Psicanálise define com exerce o papel te; o Ego – porção que mais instintiva e inconscien Superego; e o do e Id do s çõe s e requisi de juiz entre as informaçõe sociais. ras reg e s ada pelas leis, norma Superego – porção form individual e zer pra o que ra side trina que con a moral. 2. O hedonismo é a dou vid da fim possível, princípio e imediato é o único bem

cas Notas bibliográfi alidade o Id – porção

isa 990). Isso afi se pensou e falou rma que a divisão en acerca do corpo. tre físico e espiritual é Ele foi cultuado m um problema. uitas vezes – lembra quando estuda O Catecismo da Ig mos a história da reja Católica ensina que “a pess Grécia, que em Esp oa arta se praticava humana, criada à imagem de D esportes e muita gi eus, é um ser ao nástica a fim de mesmo tempo corp preparar os homen oral e espiritual s para a guerra? (...) Portanto, o ho Ao ponto de um mem em sua toportador de netalidade é querido cessidades especiai por Deus” (362). s, como um cego Ou seja, não é poss ou um paraplégic ível separar a alma o, não ter direito do corpo, cuidando a sobreviver – e de um e descuioutras tantas foi dando do outro; m desprezado, interp as retado como uma , porque ambos são igualmente qu “vestimenta abjeta eridos por Deus, da alma”. é preciso serem igua Mas o corpo é tã lmente queridos o importante po r nós. É preciso – quanto a alma, se como se cuida não fosse assim, da alma rezando, não haveria ressurre pa rt icipando dos ição da carne, fisacramentos, tendo caríamos na vida et relacionamentos erna apenas como saudáveis, lendo bo espírito – “A ressu ns livros, ouvindo rreição da carne músicas agradáveis, significa que após a apreciando obras morte não haverá de arte... – cuidar do somente a vida da al corpo, alimenma imortal, mas tando-se bem, faze que mesmo os noss ndo exercícios, os corpos mortais vestindo-se adequa (Rm 8,11) readqu damente e tendo irirão vida” (Cat, uma concepção crist ã acerca dele.

Corpo e alm a, realidade una No curso da histór ia, muita co os A sociedade em que vivem e des– comercial, consumista como cartável – mostra o corpo rio de uma espécie de reservató isfeisat desejos que devem ser ntaliza tos. Essa cultura instrume uantos Q o corpo e o idolatra. s pela de nós fomos sufocado re ce r “n ec es sid ad e” de em ag pa ra ou de “c ria r m ús cu lo s” E isso ser aceitos como belos? s, mas não apenas pelos outro ue nos por nós mesmos; porq meios disseram – sobretudo os ra ser de comunicação – que pa

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pe sso a co ns id er ad a bo ni ta a rpinho deve ser magra, ter um co “sarado” e bronzeado. máMas o corpo não é uma .É air quina para seduzir e atr sobre o um instrumento de ação possimundo e, sobretudo, um nculos bilitador da criação de “ví tros” ou de comunhão com os estreita (Cat, 2332). Existe uma amor e interdependência entre o de são o corpo. Afeto e generosida que se comunicados pelas mãos entos abrem para doar; são sentim es. que se concretizam nas açõ

or, Expressão de am de gratuidade...

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Orando com a Palavra

E o Verbo se fez carne! O começo do Evangelho de São João é de uma das passagens mais profundas de toda a Bíblia. Jose Ricardo F. Bezerra Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

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H

oje vamos fazer a Lectio com um trecho do Evangelho segundo São João. Leia-o três vezes os versículos indicados Jo 1,1-5 e de 9-14. Releiao mais uma vez silenciosamente, deixando que as palavras penetrem em seu coração. Esse começo do Evangelho de São João é de uma das passagens mais profundas de toda a Bíblia. É claro que o nosso objetivo aqui não é fazer um estudo teológico ou exegético de cada palavra. Queremos fazer algumas breves considerações e levá-lo, você mesmo(a) a orar com ela e pedir que o Espírito Santo o(a) conduza. Note os meus grifos nos versículos de 1 a 3 que dizem: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele, nada foi feito.” Agora compare com as primeiras palavras da Bíblia, no livro do Gênesis, que dizem: “No princípio Deus criou o céu e a terra.” E ainda tomando o último livro da Bíblia, o livro do Apocalipse de São João, confira os versículos de Ap 3,14: “Assim fala o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus.” E Ap 21,6: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim;” e por último Ap 22,13: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” Então, você notou quem é o Princípio? É Jesus! É o que também nos diz o apóstolo Paulo no belíssimo hino proclamado na Carta aos Colossenses: “Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados e Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é

antes de tudo, e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dos mortos, (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo seu sangue da sua cruz.” (Cl 1,15-20). Que beleza sabermos que Jesus é o Princípio de tudo... Não dá vontade de louvar e bendizer a Deus por nos ter dado Jesus? Então faça... Vejamos o versículo 14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.” Este é

O Verbo eterno, a Palavra que é o próprio Deus, veio até nós, se encarnando, fazendo-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado... um dos mais belos testemunhos do apóstolo amado sobre a encarnação do Filho de Deus, de Jesus que se fez homem. Tome outro belíssimo hino de São Paulo, na sua Carta aos Filipenses, Fl 2,6-11: “Ele tinha a condição divina... ...Jesus é o Senhor.” O Verbo eterno, a Palavra que é o próprio Deus, veio até nós, encarnando-se, fazendo-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado... Oração Você pode iniciar sua oração assim: “Senhor Jesus, Princípio de tudo, Deus eterno, desde sempre e para sempre... Verbo de Deus que vos encarnastes tomando a nossa

natureza humana... Obrigado, Senhor, pela vossa vinda, obrigado Senhor pela vossa humildade... Obrigado por me ensinardes a respeitar a vida de cada ser humano, vendo nele um filho nosso...” Continue conforme o Senhor inspirar... Contemplar esse grande mistério da encarnação é deixar-se conduzir pelo Espírito Santo para entender, não por raciocínios ou conclusões lógicas, mas aceitar, com toda a alegria, exultar de coração, porque o Senhor da vida veio verdadeiramente a nós. E isso não só há dois mil anos, mas continua vindo e nascendo nos dias de hoje, em cada coração sedento ou pequenino. E mais ainda, Ele virá outra vez. Devemos ansiar, desejar, suplicar a sua vinda: Vem, Senhor Jesus! Marana tha! Você viu como de apenas alguns versículos foi possível fazer uma Lectio? Não tive a pretensão de esgotar e muito menos subestimar o que o próprio Deus lhe revelou. É claro que foi um exemplo. Deus sempre surpreende, pois conhece cada um de nós muito mais do que nós mesmos. Assim, também a oração deve sempre ser uma resposta em um diálogo amoroso: Deus fala, você responde; Ele ama, você transborda; Ele revela, você se converte... Um último lembrete: anote no seu caderno as graças ou rhemas, direcionamentos de Deus para sua vida. Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém! Shalom!  www.edicoesshalom.com.br

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Espiritualidade

“Um Menino nasceu para nós” Maria, eleita e cheia de graça, e José, eleito e justo, viveram preciosos momentos que precederam o nascimento de Jesus. Maria Emmir Oquendo Nogueira Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

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m Belém, a surpresa. A cidade fervilha de gente, gente da estirpe de Davi, vinda de todas as regiões de Israel para o recenseamento. Como bons judeus, José, Maria e os outros membros de sua pequena caravana haviam estado confiantes de que encontrariam alojamento com a parentela, em Belém. Afinal, para o povo judeu, a hospedagem é questão de honra. Para os hóspedes, cheguem eles de dia ou de noite, deve-se sempre ter reservada a melhor provisão, os melhores alimentos, os melhores aposentos. No entanto, os dois e seu grupo só encontram onde ficar em uma superlotada sala de hóspedes, onde há vários outros viajantes, todos vindos para o recenseamento. Ao lado da sala, uma estrebaria, onde poderiam abrigar o fiel e exausto burrinho. Certamente teriam podido alojar-se na sala, com os outros,

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pois não ficariam por muito tempo, não fossem os primeiros avisos do parto iminente. O Menino nasceria ali, em Belém, provavelmente ainda naquela noite. José aflige-se: não haveria lugar para o Menino nascer naquela sala superlotada. Procura o dono da casa e explica-lhe a situação, pedindo-lhe que não diga nada a ninguém, pois ele e Maria estavam decididos a não desalojar os hóspedes. Muito assustado e constrangido, o anfitrião oferece a José a estrebaria contígua à sala de hóspedes. Tendo José aceito, o próprio anfitrião e sua esposa, correm a ajudar, tentando fazer o local o mais digno e limpo possível. Não é tarefa fácil. As estrebarias são lugares sujos e escuros, em geral – como, de resto, uma parte das próprias casas – construídas aproveitando as paredes das grutas, o que as fazia, além de sujas e escuras, úmidas, insalubres e malcheirosas. No entanto, fez-se

o que se pode. Tirou-se o esterco que foi possível tirar, improvisouse um catre, acenderam-se tochas, providenciou-se água limpa, e até pão e algumas tâmaras: “tudo que era possível arranjar de melhor para os hóspedes”, repetia, zeloso e aflito, Moshe, primo de Iosseph e dono da casa. José ajuda, grave e silencioso, agradecido por tanto trabalho e colaboração. Maria ora, muito serena. Aquele alvoroço parece-lhe muito, muito distante. Todo o seu ser, toda a sua atenção, todos os seus pensamentos e sentimentos estão inteiramente voltados para a presença misteriosa e imensa que a ilumina e, mesmo em meio aos incômodos, inunda-a de alegria. Terminada a limpeza, José, aliviado, fecha a porta rústica da estrebaria e sai para a sala com o anfitrião que, sem parar de falar, insiste ainda uma vez se não querem que chamem uma parteira e põe-se à disposição para o que precisarem. Docemente, ternamente, como quem abraça um tesouro do mais puro e tênue cristal, Iosseph conduz Miryam da sala até o interior da estrebaria. Meio sem graça, mostra à sua Miryam de Deus o lugar que improvisara para colocarem o Menino: havia forrado com palhas novas a manjedoura dos animais. Por cima da palha, seu próprio manto, dobrado várias vezes para proporcionar calor à criança. Por um instante, lembra-se do pequeno estrado de madeira que havia feito para Jesus em Nazaré. Com que carinho o fizera! Quantas e quantas vezes havia lixado a madeira para que ficasse macia, lisinha. No entanto, nada lamenta. Confia muito na Providência para ocupar-se com


Silêncio

Dentro da gruta, Maria mergulha no mesmo silêncio profundo da Anunciação, o silêncio sagrado de Deus que se faz homem. Como na Encarnação, Gabriel, sempre presente, mergulha com ela neste familiar silêncio fecundo. Miríades de anjos descem à estrebaria em silêncio reverente. Adoram o Pai que faz nascer o Filho, pelo poder do Espírito Santo, que cobre Sua Esposa com Sua sombra.

lamentações. Todo ele é atenção à sua esposa e ao Menino que está para nascer. Maria sorri e acaricia o “bercinho”, pensando, grata a Deus: “Meu bom José, providente José, José que pensa em tudo”. Havia trazido na parca bagagem uma pequena manta que ela mesma tecera em Nazaré. No entanto, prefere deixar sobre a palha o manto do pai da terra. Dando tudo o que tinha para abrigar-se, ele dava a si mesmo. Assim, acolheria o Filho das mãos do Pai do Céu. José, cheio do Espírito, sabe o desejo de Maria, mesmo em meio às dores, sempre recolhida, sempre orante: “Queres orar sozinha?” Ao olhar de “sim” de Maria, ele sai, contrito. Contrito e reverente, silencia e sai o humilde José, aquele

que confia mais em Deus do que em si mesmo, aquele que teme a Deus e o ama acima de todas as coisas. No silêncio da noite, José, sob a luz das estrelas, mergulha no silêncio de Deus. Dentro da gruta, Maria mergulha no mesmo silêncio profundo da Anunciação, o silêncio sagrado de Deus que se faz homem. Como na Encarnação, Gabriel, sempre presente, mergulha com ela neste familiar silêncio fecundo. Miríades de anjos descem à estrebaria em silêncio reverente. Adoram o Pai que faz nascer o Filho, pelo poder do Espírito Santo, que cobre sua Esposa com sua sombra. Adoram o Espírito que preparou o tempo favorável. Adoram o Filho por quem e para quem foram feitas todas as coisas. Contemplam, exwww.edicoesshalom.com.br

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tasiados, a fidelidade de Iahweh ao voto de Miryam: a estrela que se posta sobre a gruta e, sem romper a pedra, fá-la mais clara que a luz de mil sóis. Veneram a pequena Imma, a jovem, a imaculada Mãe, intacta em sua alma e em seu corpo que segura em seus braços, silente, todo o ser inteiramente unida a Deus, o seu Menino! Silenciosos cânticos de júbilo e adoração unem-se a José em sua prece. Sem que ele perceba, ora junto com os anjos. Um clarão, vindo do céu, abre os seus olhos. “Gabriel???” Junto com a luz, o choro do Menino ressoa no silêncio da noite. O homem justo ajoelha-se, prostra-se e, feliz como nunca, chora um longo e rasgado pranto de felicidade e paz. Maria, o Sonho de Deus, agora também chora, abraça e beija repetidamente o seu Sonho, o Sonho de gerações, o fruto, o amor de suas entranhas. Como os pais, o Pequeno também chora. Berra com toda força, como todo recém-nascido: de frio, de dor nos pulmões desacostumados ao ar. Esvaziado de seu privilégio divino, empobrece-se também de todo privilégio humano. Berra a plenos pulmões, no estábulo úmido, indigno de qualquer homem nascer. Solícita, a Mãe enrola o menino no manto de José e apressa-se em chamá-lo. Conhece-o bem e sabe que, em sua humildade e respeito pelo mistério, jamais entraria sem ser chamado. José, ainda chorando prostrado, levanta-se, como que tonto, fora de si, e entra na estrebaria. Logo vê, nos braços de Miryam, o Menino celeste, envolto em seu manto tão humano, tão comum e tão áspero. Os dois, chorando, rindo e rezando em silêncio de adoração

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e amor, lavam e enfaixam cuidadosamente o Menino. José e Maria evitam tocar-se, em obediência à Lei. As mãos rudes de José, acostumadas ao esforço do serrote e à violência do martelo, tornam-se suaves de amor, de gratidão, de espanto. Segura, mãos firmes e coração trêmulo, o pequeno, frágil Mistério, o Esperado de gerações, o Filho de Deus, o seu pequeno, amado Menino. “Iosseph, segura agora os bracinhos”, diz Miryam, treinada pelo serviço a Elisabete, tentando orientar o atarantado esposo.

O louvor e gratidão já há muito não cabem mais em nenhuma palavra. O céu todo se curva sobre os três, silencioso e reverente. O tempo para. No céu do estábulo, nada mais existe, só o Menino, só o Menino.

O homem justo abre em cruz os bracinhos do menino para que a mãe envolva o pequeno tronco. Depois, os fecha com extrema delicadeza para que Maria passe a faixa por cima. Cuidados que um outro José e esta mesma Maria repetiriam, às pressas e entrecortados por um outro pranto, mais de trinta anos depois. José nada pergunta. O respeito e veneração nem sequer permitem que ele sinta a mínima curiosidade de saber como se deu o nascimento, como ela pode estar de pé, tão descansada, tão bem, porque não há sangue. José havia aprendido quem

é Deus e quem é ele. Aprendera a respeitar e aceitar tranquilamente o Mistério. Quanto a este, sempre o ultrapassaria. A ele, bastava-lhe crer sem nenhuma prova, confiar sem nenhuma sombra. Era servo, humilde servo, este José. Maria toma o Menino e o põe para mamar pela primeira vez. Percebe que José, emocionado e respeitoso, procura o que fazer, de costas para os dois. Como ela havia esperado aquele momento! Como havia pedido a Iahweh para ter leite, muito leite. Alguns poucos minutos e, cansado, o Menino dorme. Maria o acomoda em seus braços, apoiando no ventre os pezinhos firmados pela faixa. Assim pode contemplá-lo melhor. Os antebraços da Imma são do exato tamanho do corpinho de Ieshuah, cuja cabeça ela sustenta com as mãos. À luz trêmula da lâmpada de óleo, ela adora o seu menino. Como toda mãe, havia-o examinado cuidadosamente ao enfaixá-lo. Cada dedinho, cada dobrinha, a pele, o pescoço, tudo. Agora toma tempo para olhar o seu rosto esperado, amado, adorado, o rosto de Deus. Assustada, chama José: “José, traz a lâmpada mais perto, por favor...” À luz mais próxima, tranquiliza-se. O traço fundo que lhe parecera ver era nada mais que uma sombra da luz no rostinho de Ieshuah, ainda inchado. José também olha, silencioso, adorando o seu Deus. O louvor e gratidão já há muito não cabem mais em nenhuma palavra. José cala, cheio de louvor. O céu todo se curva sobre os três, silencioso e reverente. O tempo para. No céu do estábulo, nada mais existe, só o Menino, só o Menino.  Extraído de: Nogueira, Emmir. Filho de Deus, Menino Meu. Fortaleza: Shalom, 2000.


Especial

A Visita Um Conto de Natal O Natal é uma época do ano em que as pessoas ficam mais cheias de vida, amor, alegria, criando um clima festivo, de paz e fraternidade. Para que essa festa fique ainda mais bonita e alegre, compartilhe com sua família e amigos essa estória simples, mas comovente. Autor desconhecido Adaptação de Janua Pinheiro e ilustração de Nerton Braga Missionários da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE

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E

m uma cidadezinha cujo nome não conhecemos, vivia um sapateiro bastante idoso chamado Estanislau. Era pobre e vivia num quartinho de porão. Tinha uma única janela pequena, na altura da calçada. Assim Estanislau, enquanto trabalhava, podia ver somente os sapatos das pessoas que passavam diante de sua porta. Tinha-se habituado a esta vista e o barulho dos passos tornou-se familiar, tanto que sabia reconhecer através dos tipos de sapatos a personalidade de cada um. Estanislau era um homem bom e se satisfazia com pouco. O seu alimento consistia sempre em um pedaço de pão com um pouco de leite, enquanto que o seu tempo era ocupado pelo trabalho. Batia daqui, continuava de lá, olhava fora,... às vezes suspirava,...quem sabe, talvez desejasse não estar tão sozinho. Um dia, alguém acolheu aquele suspiro. Era inverno, véspera do Natal, Estanislau acordou aquela manhã mais cedo do que de costume, pois tinha ouvido uma voz no fundo do coração que lhe dizia: “Hoje irei visitá-lo”... “Oh! Jesus vem me visitar! Então, o que devo fazer? O que devo dar-lhe de presente neste Natal?” pensou ele, passando o olhar ao seu redor. Não tinha nada, nada para embelezar o seu quarto, nem mesmo para presentear-lhe. Depois de ter procurado aqui e ali, decidiu que a melhor coisa era continuar a trabalhar como sempre. Enquanto trabalhava, ia conversando consigo mesmo: “Quando Jesus chegar, talvez poderei dar-lhe um par de sapatos... mas... são velhos! Ou um pedaço de pão? Mas está duro! Ou leite? Mas está frio!...”

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Um leve bater de porta o fez levantar-se. “Jesus! Ele chegou! Sim é Ele! Exclamou, dirigindo-se a porta. Na soleira, uma senhora, com uma criança entre os braços permanecia muda, os olhos implorantes, endurecida pelo frio, sem forças. Estanislau afastou-se para deixá-la entrar, ofereceu-lhe a cadeira e disse: “Boa senhora, diga-me, tem necessidade de alguma coisa? Sou pobre, não tenho nada, mas este pedaço de pão duro é tudo que tenho; a criança pode tomar este leite. Não se preocupe com outra coisa, repouse em paz. Esta é a sua casa, mesmo se miserável”. A mulher sorriu tristemente. Via-se que tinha caminhado muito, mas os seus olhos exprimiam toda a gratidão por Estanislau. Quando a criança terminou de tomar o leite, ela se levantou para ir embora e disse: “Obrigada, você hoje deu muito a mim e ao meu filho. Obrigada, não somente pelo pão e pelo leite. Sinto-me revigorada e tenho forças para continuar. Que Deus o abençoe!” Estanislau acompanhou-a até a porta. Tinha muita alegria no coração. Assim que a senhora partiu, os seus pensamentos voltaram-se para Jesus, que ainda não tinha vindo. “Talvez mais tarde” – pensava ele – “e será muito bom com Jesus... conversaremos, eu estarei com Ele, e Ele comigo...” Voltou a trabalhar. De vez enquanto, olhava para fora da janela e exclamava: “Quem sabe que sapatos terá Jesus? Aqueles?... Não... Aqueles outros? Acho que não!” Procurava adivinhar, mas nenhum ia bem para Jesus. Em um certo momento, com um grande empurrão, a porta se abriu e um menino rolou adentro. “O que lhe aconteceu, menino? Machucou-se? Deixe-me ver! Venha, sente-se aqui, não tenha medo.” O menino chorava sentado no chão. Enquanto jogava com o único brinquedo que tinha, uma carroça batera nele e ele caiu quebrando o brinquedo.


“Não se preocupe, vejamos o que podemos fazer para consertá-lo. Olhe, com um prego, depois uma corda escondida... Hum!... Assim... Veja!... É muito simples. Você está contente agora? Qual é o seu nome? Você nem me disse!”. A criança respondeu: “Eu me chamo Rui”. Continuou ele: “Eu me chamo Estanislau. Adeus, Rui. Se você passar outra vez por aqui, venha visitar-me.” E diante da porta, suspirou, seguindo com os olhos o menino que saltava feliz. Novamente esquecido do que havia acontecido, sentou-se pensativo. Jesus ainda não tinha vindo e começava a escurecer. Que ele tivesse se enganado. Talvez tivesse entendido mal. Entretanto não, era Ele, tinha certeza. E com convicção exclamava: “Esperarei, oh sim, eu espero Jesus, devo contar-lhe muitas coisas, ou melhor, não tenho nada para dizer-lhe, mas Ele, ao invés... terá muitas coisas para me dizer. Talvez alguém tivesse batido na porta, porque parecia-lhe ter ouvido alguma coisa. Continuou a trabalhar, mas atento ao barulho. Mas não,... um rumor sutil vinha da porta. “Desta vez é Jesus.” Exclamou ele. “Oh, fez-se esperar, mas finalmente, que alegria, você chegou! Não sabe o quanto esperei por você, Jesus!” Foi abrir. Um velhinho curvado e cansado, o rosto enrugado, endurecido pelo frio, pedia para entrar. Estanislau, ajudando-o acompanhou-o para sentar-se. Estava tão cansado que não conseguia levantar a cabeça e falar. Os seus olhos estavam tristes e quase apagados. Estanislau o entendeu e disse: “Sim, fiquemos juntos. Você está sozinho e não tem ninguém, também eu estou só. Não tenho mais nada para dar-lhe, somente esta cadeira, este colchão e o teto. Oh... mas você não tem sapatos? Olhe, posso dar-lhe este par. Não são bonitos, mas, com eles, não sofrerá mais o frio e os pés estarão reparados da friagem. Fique com eles. Estou feliz por ter alguma coisa para dar-lhe”.

Com um sorriso trêmulo, o velho agradeceu Estanislau. O seu rosto iluminou-se e estendendo uma mão para ele, disse-lhe: “Esta noite, você esquentou o meu coração que, havia muito tempo, estava gelado e havia se tornado frio pela vida. Deus o recompensará.” Ainda uma vez, Estanislau permaneceu sozinho. Começava a preocupar-se e a provar uma sutil desilusão. Quando Jesus virá? A noite já tinha caído. Ninguém passava mais pela rua. O silêncio tinha envolvido tudo na escuridão. Ele tinha mesmo se enganado, Jesus não viria mais. E ele que tinha esperado tanto, e tinha vivido em função de Jesus, todo o dia. Teria que ficar só, sempre só. Enquanto esses pensamentos o atormentavam, eis que... sim... a Voz! Aquela ouvida pela manhã! “Estanislau!! Hoje eu vim até você. Vim naquela mãe e você me amou, oferecendo-me aquilo que tinha. Vim naquela criança, e você deixou o seu trabalho para consolar-me e me quis bem. Vim naquele velho, e você ofereceu o coração, entendeu o sofrimento profundo de sua vida já no fim. Era eu. Você me reconheceu agora? Estanislau, você me reconhece? Esse foi o melhor presente que me pôde oferecer neste Natal. Estanislau não tinha palavras, uma imensa alegria dilatava-lhe a alma, invadindo-a. E seus lábios balbuciavam: “Sim, Jesus! Agora sei que você virá sempre me encontrar. Materialmente, não terei nada para oferecer-lhe, somente o meu amor, o meu coração.” E desse Natal em diante, Estanislau passou a ver no rosto de cada pessoa o Rosto de Jesus Cristo, que o fazia experimentar cada vez mais a paz e alegria em seu coração. 

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Assunto do Mês

Tu és sacerdote

No dia 15 de outubro último, na Catedral Metropolitana de Fortaleza, quatro irmãos da Comunidade Shalom foram ordenados sacerdotes pela imposição das mãos e da oração consecratória do arcebispo Dom José Antonio. 24

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Fotos: Fernando Maia

e para sempre!

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O

s diáconos Aristóteles Alencar, Rômulo dos Anjos, Karlian Vale e Silvio Scopel, todos membros da Comunidade de Vida Shalom, prepararam-se por mais de oito anos para, no dia quinze de outubro último, serem ordenados sacerdotes pela imposição das mãos e da oração consecratória de Dom José Antonio, arcebispo de Fortaleza/CE. Cerca de cinquenta seminaristas e inúmeros sacerdotes compareceram à missa de ordenação presbiteral.

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A Solenidade iniciou-se pontualmente às 19:00h. Moysés Azevedo, fundador e moderador da Comunidade Católica Shalom, no comentário inicial, convidou os presentes a se alegrarem por estarem na Catedral, Igreja mãe de Fortaleza, celebrando um momento como aquele, especial para a Igreja e para a Comunidade. Um prelúdio, constando de música e dança em alusão ao amor esponsal que existe entre Cristo e a Igreja, preparou os presentes para a solene liturgia. Logo em seguida, a Marcha da Igreja, executada somente em ocasiões especiais, acompanhou a entrada

“A Igreja designa e sustenta os sacerdotes eleitos”, “o sacerdote é retirado do meio do povo”, e “a escolha divina precede à humana”. da procissão litúrgica, composta por seminaristas, sacerdotes, os quatro diáconos, o senhor arcebispo de Fortaleza, Dom José Antonio, e Dom Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte/CE. A Liturgia da Palavra constou de textos dos Atos dos Apóstolos, da Carta aos Hebreus e do Evangelho de São João. Moysés Azevedo comentou, como mensagem central da tríade de leituras, que “a Igreja designa e sustenta os sacerdotes eleitos”, “o sacerdote é retirado do meio do povo”, e “a escolha divina precede à humana”. A primeira parte do Rito de Ordenação é composta pela chamada nominal dos eleitos, pelo inquérito do bispo ordenante ao Vigário geral sobre a dignidade

Gratidão e Compromisso Palavras de agradecimento proferidas pelo Pe. Aristóteles Alencar em nome dos novos padres. “Hoje, dá-se o início de um novo tempo em nossas vidas. Hoje a nossa existência substancialmente foi transformada para sempre, para a eternidade, sendo selada a nossa alma com o selo do Espírito de santidade, o Espírito da Verdade enviado pelo Pai. Hoje, já incorporados no Corpo de Cristo pelo Batismo, fomos configurados ao Cristo Sumo e Eterno Sacerdote para participarmos da sua missão de anunciar e consumar em todo o mundo a obra da salvação. A gratidão é sinal e presença do Amor. Mostrar muita gratidão é próprio de quem foi muito amado e muito perdoado (Lc 7). Sendo assim, queremos mostrar a nossa gratidão, para além das palavras singelas a seguir, pois não nos seria possível e, diria, nem mesmo permitido, expressar todo amor e gratidão somente por meio das palavras, pois as palavras passam, e onde terminam as palavras, começam os atos que expressam o amor, a gratidão. Que seja então a nossa vida a mostrar, expressar nossa gratidão, o nosso amor. Somos eternos devedores da misericórdia de Deus, que, atraído pela nossa indigência, saiu ao nosso encontro como o Bom Pastor em busca da ovelha perdida. Revelou-nos a face amorosa do Pai, curou as nossas feridas, alimentou-nos com o seu corpo e sangue e a sua Palavra de vida eterna, e fez-nos assim voltar à nossa Casa, a Igreja, onde queremos permanecer para sempre. E, como se não bastasse tudo isso, chamou as ovelhas e constituiu pastores do seu rebanho. Como depois de tudo não trazermos um coração cheio de

gratidão a esse altar onde se atualizou o sacrifício da nossa redenção e consumou-se o sacrifício de cada um de nós, neossacerdotes da Igreja de cristo? Para tudo isso, o Senhor fez valer-se de instrumentos que aprendemos a amar e por quem queremos elevar a nossa eterna gratidão e o nosso louvor ao Senhor. Começamos por nossa família de sangue, a árvore escolhida pela providência divina para nascermos, crescermos e ter formada a nossa identidade mais elementar. Onde fomos educados na fé, e, em primeiro lugar, onde aprendemos a amar a Deus e aos homens. Por isso, a nossa gratidão aos nossos pais e irmãos, pela insubstituível e indispensável vida em família que nos ensinou os valores cristãos, a solidariedade, o perdão, a verdade, a bondade, a justiça... Vida em família que nos revela o Amor da Trindade, alimentando em nós o desejo de plenitude no Amor, na felicidade. Aqui, incluímos também os nossos parentes, presentes e ausentes, muitos dos quais sonharam conosco esse momento e, por vários motivos, não puderam fazer-se presentes, mas mesmo assim, os sentimos no coração e na oração. De forma especial, aqueles cuja vida terrena não alcançou esse dia de festa para nós e para eles, mas de modo misterioso, pela comunhão dos santos, participam da nossa alegria, e com eles nos alegramos. Assim como os parentes, ainda somos gratos pelos amigos, pelos irmãos de caminhada, presentes e ausentes. Pelos que vieram de longe, enfrentando muitas dificuldades para estar aqui e unir-se em comunhão conosco. E por aqueles, mesmo ausentes, www.edicoesshalom.com.br

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que se unem a nós por meio da oração. Mas todos, de um modo ou de outro, são presença cativa na nossa história da Salvação, por nos terem sido apoio em horas difíceis, sobretudo nas provações que enfrentamos ao longo do caminho. Aqui, podemos incluir também aqueles que, pelo seu exemplo, ensinamento e conselho, foram como mestres de vida em Cristo, ajudando-nos a melhor conhecê-lo e amá-lo. São esses: professores, formadores, sacerdotes... que, com a sua Luz, iluminaram a nossa estrada. “Como é bom e agradável encontrar-se entre irmãos” (Sl 133). Somos especialmente gratos à Comunidade. A quem nos dirigimos na pessoa do nosso fundador, Moysés, e da nossa cofundadora, Emmir. Por meio da Comunidade, vimos todos os dias o cumprimento do Evangelho quando diz: “E todo aquele que houver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu Nome, receberá muito mais e, em herança, a vida eterna” (Mt 19,29). Aqui encontramos os vossos altares, Senhor, e somos felizes por habitar em vossa casa (cf. Sl 83). Queremos agradecer, de forma especial, por cada casa comunitária pela qual passamos e as que agora moramos, por cada irmão com quem partilhamos a nossa vida, ou que conosco partilhou a sua. Sem vocês, a nossa oferta seria incompleta. Vocês lhe deram sabor e sentido nos momentos em que mais nos custou oferecer o “SIM” de cada dia. “Morro filha da Igreja”, disse à hora de sua morte santa Teresa D’Ávila, nossa baluarte, em cuja festa quis a divina providência que hoje celebrássemos a nossa ordenação sacerdotal, para que estejamos sob o seu patrocínio e assim aprendamos, a cada dia, que “Só Deus basta!”. Viver e morrer filhos da Igreja, Mãe e Mestra, que

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nos alimenta de Cristo, ensine-nos a viver o dom de ser filhos de Deus e nos guie na estrada da vontade de Deus, é o que ansiamos. Queremos, assim, ser sacerdotes pela Igreja e para a Igreja, com gratidão e reconhecimento pelo dom recebido de suas mãos. Mãos como as suas, D. José, mãos que acolhem e mãos que dão. Acolhem Cristo em cada irmão e dão Cristo aos irmãos, mãos sacerdotais como as dos demais sacerdotes aqui presentes, entre as quais agora encontramse também as nossas. Mãos que colocamos a serviço dessa Igreja particular e da Igreja no mundo inteiro, até que Cristo seja tudo em todos. Ao senhor, D. José, a nossa gratidão pelo seu exemplo de Pastor, segundo o coração de Deus, e de autêntico filho da Igreja. Não poderíamos finalizar sem dedicar um especial agradecimento e reconhecimento a Deus por Maria. Nossa vida não pode ser imaginada sem Maria; nossa fé não pode ser imaginada sem ela; e nem mesmo a nossa vocação. Com a humilde serva do Senhor, aprendemos que a vida só vale a pena ser vivida se for para engrandecer a Deus; que poder servi-lo é já a recompensa pelo serviço, e que tudo recebemos da misericórdia daquele que é poderoso e cujo Nome é Santo. A Ele dedicamos toda a nossa vida e gratidão: ao nosso Pai de Amor e de Bondade, a quem ofertamos toda a nossa existência sacerdotal, para o maior louvor e honra de sua glória, comprometendo-nos com o anúncio do Ressuscitado que passou pela Cruz e que comunica a sua Paz, disponibilizando tudo o que somos e temos no serviço à sua Igreja, à Comunidade e a toda a humanidade. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Shalom!

dos candidatos e pelo testemunho positivo do mesmo Vigário acerca da conduta dos neossacerdotes. A cerimônia prossegue com a homilia na qual o senhor arcebispo Dom José destacou a presciência de Deus na escolha dos seus e o amor que confirma o chamado e se torna a medida da resposta ao apelo divino de segui-lo como discípulo. Em seguida, enquanto a assembleia ajoelha-se, os quatro diáconos se prostram e o ministério de música entoa, em tom solene, a ladainha de todos os santos, invocando a proteção dos bem-aventurados aos novos padres. Ao se levantarem, primeiro o bispo reza a oração consecratória e impõe as mãos para, em seguida, os demais sacerdotes imporem as mãos sobre os eleitos, conferindo-lhes o grau da Ordem presbiteral. Os neossacerdotes recebem, então, de suas mães, a casula e a estola sacerdotal para serem impostas por padres escolhidos. Depois, as mãos dos eleitos são ungidas e envoltas por panos alvos que são desenrolados pelos pais. Todos os padres presentes aproximam-se dos neossacerdotes e beijam-lhes, com reverência, as mãos. A Celebração Eucarística prossegue como de costume e os novos sacerdotes se unem aos demais em torno do altar, ao lado do senhor arcebispo, o presidente da Celebração. Após a comunhão, a oração de ação de graças foi feita pela cofundadora da Comunidade, Maria Emmir Nogueira. Nos agradecimentos finais, o Pe. Aristóteles Alencar falou em nome dos novos padres. Em sua fala emocionada, o tema principal foi a gratidão. Agradeceu a Deus, aos familiares, aos parentes, aos amigos e à Comunidade. “Que seja nossa vida a demonstrar nossa gratidão”, disse. 


Pe. Karlian Vale Nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, em 21 de maio de 1979. Ingressou na Comunidade de Vida em 1998, passando pela missão de Salvador e sendo da equipe de formação do Discipulado de Pacajus/CE. Iniciou seus estudos preparatórios logo após suas primeiras promessas, no ano de 2001, tendo cursado a Filosofia em Fortaleza e a Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Retornou ao Brasil após a conclusão dos estudos, indo morar na Diaconia Geral, onde é Membro do Conselho Geral da Comunidade e também Assistente Missionário – responsável pelo acompanhamento e apoio às missões e aos missionários – e Formador Comunitário da casa da Comunidade de Vida da Diaconia.

Pe. Aristóteles Alencar Natural de Salvador, na Bahia, nasceu em 6 de junho de 1975. Ingressou na Comunidade em 1998, vindo para a missão de Fortaleza, onde iniciou, após suas primeiras promessas, os estudos no Seminário. Durante esse tempo de estudos, morou, por períodos, em Fortaleza e Quixadá, no Ceará, e em Lugano, na Suíça, onde concluiu os estudos. Mora hoje na Diaconia Shalom, no Aquiraz, e é o responsável pela Assessoria Amigos do Shalom, que trabalha com pessoas e grupos de oração em cidades onde a Comunidade Shalom ainda não tem missão.

Pe. Silvio Scopel

Pe. Rômulo dos Anjos Nasceu em Serrinha, na Bahia, em 16 de julho de 1980. Ingressou na Comunidade em 1999, vindo para a missão de Fortaleza. Entrou no Seminário logo após suas primeiras promessas. Fez seus estudos em Lugano, na Suíça, onde se formou. Em seguida, retornou ao Brasil e é hoje Responsável pelo Discipulado da Comunidade Shalom em Pacajus/CE.

Natural de Aracruz, no Espírito Santo, nasceu em 10 de agosto de 1975. Ingressou na Comunidade através da missão de Eunápolis/BA em 1997, passando pelas missões de Aracaju/SE e Palmas/TO. Ingressou no Seminário logo após suas primeiras promessas. Em setembro de 2002, foi transferido para Lugano, na Suíça, onde residiu até agosto de 2007. Neste período, cursou as faculdades de Filosofia e Teologia na Faculdade de Teologia de Lugano (FTL), também, paralelo aos estudos, coordenou um grupo de estudo bíblico e serviu na Assistência Internacional da Comunidade. Retornou a Fortaleza em agosto de 2007, quando assumiu o setor da Formação Acadêmica da Assistência de Formação, o Instituto Parresia, sendo desde então seu diretor. O Instituto Parresia promove cursos aprofundados de fé e moral, em períodos semanais e de finais de semana. Atualmente, está na fase conclusiva da pós-graduação em Logoteoria, iniciada em março de 2009, na Faculdade Católica Rainha do Sertão. www.edicoesshalom.com.br

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Só Família

Como família, a caminho de Belém!

Advento e Natal. Tempo em que a Igreja se prepara para viver profundamente o mistério da encarnação e do nascimento do Senhor! A família, como Igreja doméstica, é motivada a mergulhar nesse mistério de amor e vivenciar profundamente suas graças! Laura Martins Missionária da Comunidade Católica Shalom em Quixadá/CE

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E

stamos vivenciando um tempo forte de graças na vida litúrgica da Igreja: Advento e Natal. Tempo em que a Igreja se prepara para viver profundamente o mistério da encarnação e do nascimento do Senhor! Deus que, por amor, se torna um de nós! Assumindo nossa carne, eleva-nos à dignidade tão alta: somos filhos de Deus! Jesus, o Unigênito do Pai, é o Primogênito de uma multidão de irmãos! Deus se faz pequenino e se coloca em nossos braços, pobre e abandonado... O Divino Pastor, que se torna ovelha, para oferecerse por nós ao Pai! Misteriosa e grande alegria nos invade neste tempo! O Amor nos atrai a si, e gera em nós desejo de fraternidade, de reconciliação e de doação de si. A família, como Igreja doméstica, é motivada a mergulhar nesse mistério de amor e vivenciar profundamente suas graças! Como família, vivemos momentos especiais de festas em nosso meio: aniversários, batizados, formaturas etc. E, quanto maior a festa, mais tempo e energias são exigidos de nós, a fim de preparála dignamente. Assim também acontece liturgicamente com a grande festa do Natal. A Igreja nos convida a prepará-la com amor, dedicação e beleza. Advento – Tempo de preparação O Advento é tempo de espera, de expectativa alegre e amorosa diante da vinda do Salvador. O profeta João Batista anunciou a sua vinda e convocou o povo a preparar “o caminho do Senhor, tornar retas as suas veredas... todo vale será aterrado... e os caminhos acidentados serão nivelados... Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e

quem tiver o que comer faça o mesmo” (Lc 3,4-5). Quando estamos à espera de alguém especial, limpamos e decoramos a casa, programamos o cardápio, preparamos nosso coração para acolher bem a pessoa especial que vai chegar. Assim também deve ser o tempo de preparação para o Natal. Preparação que começa no interior de nossos corações, até que transborde fortemente nas ações exteriores que refletirão a alegria e o amor que dedicamos ao Divino Hóspede, que está chegando.

Nesses momentos familiares de preparação para o Natal, devemos também refletir, com os filhos, sobre o consumismo que distorceu o verdadeiro sentido do Natal, combatendo o “ter”, e enfatizando a importância do “ser” e do amar. Durante o Advento, devemos motivar nossa família a viver essa preparação para o Natal do Senhor. Se houver uma boa preparação, colheremos mais fortemente as alegrias e as graças que nos trará o Menino Deus, especialmente o fortalecimento dos laços familiares no amor autêntico. Sugestões para a vivência do advento em família Preparar um momento de encontro familiar semanal, que pode iniciar, ao redor do presépio vazio (sem o Menino Deus), com

uma oração, um canto litúrgico de advento, uma leitura breve da liturgia diária e um diálogo simples sobre ela. É preciso lembrar-se de adaptar esse momento de acordo à faixa etária dos filhos.Também podemos motivar as crianças e adolescentes a prepararem presentes a serem dados ao Menino Deus: vivência de alguma virtude durante aquela semana, gestos de serviço ao outro, gestos de partilha em casa, pequenos despojamentos de roupas, brinquedos etc. em favor dos pobres, oferta do dízimo da própria mesada, exercício do perdão, entre outros gestos de amor. Também estimular a oração pessoal das crianças na simplicidade que lhe é característica significa ajudá-las a cultivar a amizade com Jesus, e a aprender a interiorização necessária a uma vida rica de significados! Para motivar melhor esse tempo de preparação, é importante decorar a casa com símbolos litúrgicos que favoreçam a interiorização (coroa do advento, presépio, vela, a cor roxa que simboliza o espírito de penitência, vegetação seca, frases sugestivas para esse tempo etc.). Também se pode decorar uma caixa, na qual serão colocados os “presentes” que serão dados ao Menino Deus. Uma atitude que também pode favorecer muito a interiorização das crianças e adolescentes é uma pequena redução no tempo investido na televisão e internet, substituindo por uma leitura construtiva, uma brincadeira mais interativa em família, visitas (a uma família pobre, a crianças em orfanatos, ao asilo de idosos), entre outras alternativas que edifiquem a todos. Muitos pais enfrentam dificuldades em acalmar os filhos para vivenciarem um momento de www.edicoesshalom.com.br

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oração em família. A música suave, em volume baixo, e um breve relaxamento podem favorecer a quietude das crianças, preparandoas melhor para esse momento de espiritualidade. No contexto pós-moderno de tanta agitação, no qual todos correm perseguindo tantas coisas, existem alguns que pensam ser difícil ou quase impossível aquietar as crianças, concentrá-las e fazê-las interiorizar-se. Maria Montessori nos dá algumas pistas interessantes que podem ajudar nesse processo de interiorização. Vejamos a seguir: • Silenciando o corpo O ideal do homem consciente é fazer do seu corpo e pensamento instrumentos dóceis do seu “eu” espiritual. Esse ideal é difícil de ser atingido: exige treinamento, pois a imobilidade física torna-se mais difícil que o controle dos movimentos – a isto se chama, nas classes montessorianas, a Lição do silêncio. A lição do silêncio tem uma importância capital, uma vez que o progresso da criança se mede pelo progresso do silêncio. Enquanto forem indisciplinadas, agitadas, dissipadas, não poderão assimilar grande coisa. Desde que se estabeleça a calma interior pelo esforço da vontade, tudo se

ordena como os cristais em um líquido saturado. É interessante perceber e questionar como crianças e adolescentes conseguem permanecer, por horas, tão quietos e concentrados na telinha do computador... Porém, as informações superficiais e rápidas coletadas por eles na internet não favorecem a reflexão consciente e a memorização adequada. • Exercícios do silêncio Na penumbra, com as mãos desimpedidas, fecha os olhos ou coloca a cabeça entre as mãos, as pernas bem ancoradas e o corpo favorecendo a respiração, sentados no chão. A proximidade do solo ajuda a relaxar o corpo e a mente. A lição do silêncio não deve ser confundida com a sonolência. Ao contrário, exige uma verdadeira tensão da vontade, que se vê obrigada a vigiar os pés, as mãos, o pescoço, os olhos, e até a respiração, para não mexer sequer um cabelo. Impossível se pensar em outra coisa que não seja a obrigação de “se ter em mãos”, e assim, alcançar a liberdade do domínio de si. A liberdade essencial, indispensável ao homem, segundo Montessori, é a de se mover, agir e pensar segundo o próprio ritmo in-

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dividual. A disciplina não é oposta à liberdade, mas solidária a ela. O homem só é livre na medida em que é disciplinado: Considerai o dançarino, como ele salta no espaço; o pianista, como seus dedos voam sobre o teclado; o nadador, como ele desaf ia as profundezas do mar. Para se tornar livre, o homem deve disciplinar-se: Minha alma está sempre em minhas mãos, dizia o salmista. Em linguagem pedagógica, traduzimos: minha atividade está sempre dirigida por minha vontade consciente. Respeitar a liberdade da criança é ajudála a disciplinar-se; é fazer-se aliado de sua energia centrípeta (capacidade de concentrar-se) contra suas energias centrífugas (capacidade de dispersar-se); é guiá-la para o cumprimento do seu destino de homem consciente e responsável. A lição do silêncio não é um jogo, é um exercício sério e muito importante que favorecerá a verdadeira liberdade. É importante motivá-lo adequadamente para vivenciar essa experiência. Tendo alcançado melhor nível de recolhimento, torna-se mais fácil e prazeroso o encontro com Deus, que anseia por se “entreter” conosco e amar-nos.

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Para o amor

Outro aspecto de suma importância nesses encontros familiares é favorecer o perdão mútuo e o amor entre todos, em clima de abertura e acolhimento ao outro. Preservar a liberdade e motivar a criatividade no caminho até Belém É importante que se preserve também a criatividade dos filhos que podem sugerir o que querem preparar como presente para o Menino Deus em seu Natal. Tudo deve ocorrer num clima de motivação e liberdade para que se alcance o objetivo maior: unir-se a Deus e aos irmãos, na alegria de seu amor! Nesses momentos familiares de preparação para o Natal, devemos também refletir, com os filhos, sobre o consumismo que distorceu o verdadeiro sentido do Natal, combatendo o “ter”, e en-

fatizando a importância do “ser” e do amar. Além da Palavra de Deus, existem parábolas e outras estórias que ilustram essa realidade e que podem ser exploradas de forma lúdica nos momentos de encontro familiar. Sugestões de passagens bíblicas para os encontros familiares: • Maria que vai ajudar Isabel - Lc 1,39-45.56 • Visita dos Pastores – Lc 2,1-20 • Visita dos Magos – Mt 2,1-12 • Sobre João Batista – Lc 3,1-14

Outro aspecto de suma importância nesses encontros familiares é favorecer o perdão mútuo e a amorização entre todos, em clima de abertura e acolhimento ao outro. Que Nossa Senhora e São José nos guiem, como família, no caminho até a gruta de Belém, sem os excessos mundanos que pesam e prejudicam essa experiência profunda da visita de Deus em nós!  Bibliografia LENVAL, H. Lubienska de. A Educação do homem consciente. São Paulo: Flamboyant.

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Fé e Razão

Creio na Igreja UNA A unicidade da Igreja Você já ouviu falar, pelo menos na oração do Credo, que a Igreja é UNA: “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica...” Mas afinal, o que significa isso? Qual o conteúdo doutrinal dessa afirmação? Andréia Gripp Missionário da Comunidade Católica Shalom no Rio de Janeiro/RJ

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Igreja de Cristo

Ensina a Constituição Conciliar Lumem Gentium, ao falar sobre a Igreja de Cristo, que “esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele, embora, fora da sua comunidade, encontrem-se muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica” (nº 8).

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ocê já ouviu falar, pelo menos na oração do Credo, que a Igreja é UNA: “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica...” Mas afinal, o que significa isso? Qual o conteúdo doutrinal dessa afirmação? Em primeiro lugar, é preciso saber o que se entende por UNO. Segundo o dicionário Aurélio, “uno” quer dizer único, singular, que não tem partes. “Diz-se de ser no qual se podem distinguir partes que, não obstante, se organizam em uma totalidade orgânica e não se podem separar sem que o ser mesmo se destrua”. Essa definição responde a pergunta: “Com as divisões, a Igreja perdeu sua unicidade?” Muitos postulam que sim, mas se compreendemos a profundidade do sentido da palavra “uno”, verificaremos que essa afirmação é desproporcional. Poderia a Igreja deixar de ser una sem se destruir? Seria possível a obra dos homens romper um desígnio divino? Encontramos explicação sobre a questão nos Documentos Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, e Dominus Iesus, publicado em 6 de agosto de 2000, pela Congregação para a Doutrina da Fé. Mandato missionário A Igreja nasce em Pentecostes, porém, Jesus já manifesta o desejo de sua existência antes mesmo de subir ao Céu, quando dá aos seus apóstolos o mandato missionário de anunciar o Evangelho a todo o mundo e de batizar todas as nações. Disse-lhes: “Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas. Quem acreditar e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado” (Mc 16,15-16).

Afirma o Documento Dominus Iesus que “a missão universal da Igreja nasce do mandato de Jesus Cristo e realiza-se, através dos séculos, com a proclamação do mistério de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, e do mistério da encarnação do Filho, como acontecimento de salvação para toda a humanidade” (nº 1). Portanto, a unicidade da Igreja provém do seu fundador: do Cristo, “Filho de Deus, Senhor e único salvador, que, no seu evento de encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem n’Ele a sua plenitude e o seu centro” (Dominus Iesus, n° 13). Dizer que a Igreja Católica é “una” é declarar que ela é uma realidade divina, que tem seu princípio de unidade no Deus que é uno e trino, por isso, nela, estão contidos todos os meios necessários à salvação; que ela é a Ecclesiae entregue por Cristo a Pedro e a seus sucessores, sobre a qual “não prevalecerão as portas do inferno” (Mt 16,18); que nela o Espírito Santo habita e realiza a comunhão dos fiéis a Cristo, congregados no amor de Deus, e que por isso firmam-se numa só esperança de alcançar a vida eterna. Nesse sentido, a doutrina católica afirma que a unidade, a unicidade, da qual a Igreja foi dotada por vontade divina, tem subsistido e subsistirá para sempre. Mesmo as divisões ocorridas ao longo da história do Cristianismo não a destruíram e jamais poderão fazê-lo. A verdadeira Igreja de Cristo Ensina a Constituição Conciliar Lumem Gentium, ao falar sobre a Igreja de Cristo, que “esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja www.edicoesshalom.com.br

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Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele, embora, fora da sua comunidade, encontrem-se muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica” (nº 8). Segundo o dicionário Aurélio, “subsiste” deriva do verbo subsistir que quer dizer: “Ser, existir; existir na sua substância; conservar a sua força ou ação”. Portanto, ao utilizar esse verbo, o texto do documento afirma, e reafirma, uma verdade de fé: que a Igreja de Cristo, provida de todos os elementos necessários à salvação, é na verdade a Igreja Católica. Mas por que, então, o documento utiliza a expressão subsistit in (subsiste em) em vez do verbo est (é)? Porque os bispos conciliares reconhecem que fora dos quadros visíveis da mesma Igreja católica há verdadeiros elementos eclesiais, embora não em sua plenitude. Tentando explicar: Há uma única Igreja de Cristo e ela subsiste na Igreja Católica. Há, portanto, uma única subsistência da verdadeira Igreja de Cristo. A unicidade da Igreja exige isso, pois, conforme já vimos, algo que se reconhece “uno” não “se pode separar sem que o ser mesmo se destrua”. Mas o conceito de “uno” admite uma distinção de partes “que, não obstante, organizam-se numa totalidade orgânica”. É nesse contexto, então, que se pode entender porque o Magisté-

rio da Igreja afirma que em outras Igrejas cristãs, existentes fora dessa única subsistência visível, podem existir elementos da verdadeira Igreja, em maior ou menor número. Elementos esses que, por pertencerem à verdadeira Igreja de Cristo subsistente na Igreja Católica, impelem à unidade católica (cf. LG 8). Em resumo: esses elementos podem estar contidos em outras igrejas cristãs, ser identificados

A Igreja de Cristo é “una”. Ela não está por aí, dividida em inúmeros pedaços, como um espelho quebrado, do qual a Igreja Católica é apenas um deles. Não! A Igreja de Cristo está toda contida na Igreja Católica. nelas, mas pertencem ao tesouro da verdadeira Igreja de Cristo e, por isso, estimulam a unidade. Dessa forma, pode-se afirmar que a Igreja de Cristo é “una”. Ela não está por aí, dividida em inúmeros pedaços, como um espelho quebrado, do qual a Igreja Católica é apenas um deles. Não! A Igreja de Cristo está toda contida na Igreja Católica. Ou seja, perdura integralmente, em sua unidade e unicidade,

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na Igreja Católica governada pelo sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa. “Um só rebanho, um só pastor” Afirma a Lumen Gentium, 15: “A Igreja vê-se ainda unida, por muitos títulos, com os batizados que têm o nome de cristãos, embora não professem integralmente a fé ou não guardem a unidade de comunhão com o sucessor de Pedro.” O documento apresenta alguns elementos necessários à essas igrejas para que a unidade aconteça: o Batismo, o respeito à Sagrada Escritura como norma de fé e de vida, o sincero zelo religioso, a profissão de fé na Trindade, em Deus Pai onipotente e em Cristo, Filho de Deus Salvador. “Muitos dentre eles têm mesmo um episcopado, celebram a sagrada Eucaristia e cultivam a devoção para com a Virgem Mãe de Deus. Acrescenta-se a isto a comunhão de orações e outros bens espirituais; mais ainda, existe uma certa união verdadeira no Espírito Santo, o qual neles atua com os dons e graças do Seu poder santificador, chegando a fortalecer alguns deles até ao martírio”, continua o documento conciliar. E é justamente o Espírito Santo que, segundo o documento, “suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a prática efetiva em vista de que todos, segundo o modo estabelecido por Cristo, se unam pacificamente num só rebanho sob um só pastor”. 

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Atualidade

Fé na Política A questão do impacto da fé na política é um tema a que Bento XVI se refere sempre. O Papa afirmou que é necessário que a política e a sociedade se guiem pela consideração do bem comum.

Pe. John Flynn, L.C.

N

o contexto das eleições nor te-americanas, voltou a ter força o debate sobre as relações Igreja-Estado e as crenças religiosas dos candidatos. Os especialistas especularam sobre o modo como a afiliação religiosa afetaria as eleições, especialmente diante de assuntos tão controversos como a reforma da saúde e as mudanças nas leis de imigração.

No início de outubro, os sete bispos católicos do Estado de Nova York publicaram uma declaração para ajudar as pessoas a avaliarem em que candidatos votar. Os católicos – afirmavam – devem julgar os temas políticos através da lente da fé e não se guiar apenas pelo próprio interesse ou lealdade a um partido. Os bispos mencionavam alguns temas, como os relacionados à vida, à guerra, à educação. É raro – admitiam – encontrar um candidato que esteja de acordo com a Igreja www.edicoesshalom.com.br

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em todas as matérias, mas nem todas têm o mesmo peso. Após recomendar o documento de 2008 intitulado “Formar as Consciências dos Cidadãos Crentes”, publicado pelos bispos dos EUA, os prelados de Nova York indicavam: “O direito inalienável a viver de toda pessoa humana inocente pesa mais que outras preocupações em que os católicos possam usar seu juízo prudente, tais como enfrentar melhor as necessidades dos pobres ou aumentar o acesso à saúde para todos”. Animavam os católicos a tomarem tempo para estudar as posições dos candidatos e concluíam com uma lista de perguntas que as pessoas deveriam se fazer antes de decidir em quem votar. A questão do impacto da fé na política é um tema a que Bento XVI se refere sempre. Em uma mensagem de 12 de outubro ao cardeal Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, o Papa afirmou que é necessário que a política e a sociedade se guiem pela consideração do bem comum. Os valores cristãos não só são úteis para determinar aquilo que abrange esse bem comum, como também trazem uma contribuição indispensável, acrescentou. Nova geração de políticos Na mensagem enviada por motivo da Semana Católica Social Italiana, Bento XVI pedia uma nova geração de católicos que se apresentasse e se mostrasse na política. Essa participação deveria se basear em uma sólida formação intelectual e moral, que permitisse a formação de princípios éticos baseados em verdades fundamentais, de modo que as decisões não se baseassem no egoísmo, na avareza ou na ambição pessoal.

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Em um momento em que os políticos costumam cair no desprezo ou no ridículo, o pontífice indica que “o comportamento sócio-político, com os recursos e atitudes espirituais que exige, continua sendo uma alta vocação, à qual a Igreja convida a responder com humildade e determinação”. Quanto ao papel da Igreja, o Papa afirma que ela “tem um legado de valores que não são coisas do passado, mas constituem uma realidade muito viva e atual, capaz de oferecer uma pauta criativa para o futuro de uma nação”. Esta mensagem foi escrita pelo Papa após seu importante discurso

O Papa assinala que a Igreja não pode dar sua aprovação a iniciativas legislativas que aprovem modelos alternativos à vida matrimonial e familiar. sobre as relações Igreja-Estado durante sua recente visita à Inglaterra. Dirigindo-se aos políticos e líderes no Westminster Hall, em Londres, Bento XVI afirmou que a religião não é um problema a ser resolvido pelos legisladores, mas que ela tem uma contribuição vital a dar à política. O Santo Padre assinalou que era inadequado basear o futuro de uma nação na consideração de curto prazo de mera natureza política e animou seus ouvintes a considerar a importância da dimensão ética na política. Essa dimensão não tem de depender de uma fé particular,

mas pode se basear na formulação da razão dos princípios morais objetivos. Não é que religião imponha suas crenças. Ela ajuda a guiar a razão para a descoberta dos princípios éticos. Portanto, a religião precisa da assistência da razão para se proteger de formas distorcidas como o sectarismo e o fundamentalismo. A religião tem um papel legítimo na vida pública, indicou Bento XVI, e não deveria ser marginalizada. Apenas alguns dias depois, Bento XVI expressou pontos de vista similares ao novo embaixador alemão. Em seu discurso de 13 de setembro, o Papa afirma que se se abandona a fé em um Deus pessoal, a diferença entre o bem e o mal se obscurece. Isso conduz as ações a dirigirem-se por considerações de interesse pessoal e poder político. Fundamentos da relação fé cristã e política Os cristãos convictos dão testemunho à sociedade de que é legítima uma ordem de valores. Nesse sentido, o cristianismo tem um papel fundamental, “ao colocar os fundamentos e formar as estruturas de nossa cultura”, explica o Papa. Ele lamenta a crescente tendência a eliminar os conceitos cristãos de casamento e família da consciência da sociedade. O Papa assinala que a Igreja não pode dar sua aprovação a iniciativas legislativas que aprovem modelos alternativos à vida matrimonial e familiar. Fazendo referência ao campo da biotecnologia e da medicina, o Papa afirma que o que se necessita é uma cultura da pessoa fundada na lei natural que proteja e defenda contra as violações da dignidade humana. Esse sólido fundamento proporciona uma defesa contra a


Protagonista

A religião tem um papel legítimo na vida pública, e não deveria ser marginalizada. Quanto ao papel da Igreja, o Papa afirma que ela “tem um legado de valores que não são coisas do passado, mas constituem uma realidade muito viva e atual, capaz de oferecer uma pauta criativa para o futuro de uma nação”. tendência ao relativismo, um perigo contra o qual o Papa advertiu em numerosas ocasiões. Ele volta a falar sobre isso no discurso de 8 de setembro aos membros da Mesa da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. É imprescindível – declarou – defender a validade universal do direito à liberdade religiosa. Se os valores, direitos e deveres não têm um fundamento objetivo racional, não podem oferecer um guia para as instituições internacionais. A fé cristã é uma força positiva na busca de uma fundamentação para esses direitos na dignidade natural da pessoa, ajudando a razão a buscar uma base para essa dignidade, afirmou o Papa. Contribuição da religião Nessas últimas declarações sobre o papel da religião na política, o

Papa fez referência a sua encíclica de 2009, Caritas in veritate. Neste documento, ele rechaça a afirmação de que a Igreja interfere na política: “tem uma missão a serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação” (n. 9). Referindo-se ao desenvolvimento das nações, Bento XVI adverte quanto à promoção da indiferença religiosa ou do ateísmo, algo que cria obstáculos para o nosso verdadeiro desenvolvimento, porque torna impossível que os países se beneficiem de vitais recursos espirituais e humanos. Os países desenvolvidos economicamente exportam, em ocasiões, sua visão redutiva da pessoa humana para os países pobres. Se a sociedade prescinde da contribuição da religião, pode

cair no erro de prestar demasiada atenção às perguntas sobre “como”, e não o suficiente para as muitas questões do “porquê” de estarem na base da atividade humana, afirma o Papa. “Quando prevalece a absolutização da técnica, verifica-se uma confusão entre fins e meios: como único critério de ação, o empresário considerará o máximo lucro da produção; o político, a consolidação do poder; o cientista, o resultado das suas descobertas (n. 71). Para evitar isso, é necessário que o cristianismo tenha um lugar na vida pública e que se unam razão e fé, purificando-se uma à outra, diz o Papa no número 56 da encíclica. Se não há esse diálogo, a humanidade paga um enorme preço. Algo digno de recordar da próxima vez que alguém disser que a religião deve ficar fora da política.  www.edicoesshalom.com.br

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DIVIRTA-SE Temas usados por São João em sua 1ª carta por José Ricardo Ferreira Bezerra

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Transformação

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m homem acompanhado de um amigo durante um passeio, pararam em uma banca de jornal. O homem cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o homem sorriu atenciosamente e desejou ao jornaleiro um bom final de semana. Quando desciam pela rua o amigo perguntou: – Ele sempre te trata com tanta grosseria? – Sim, infelizmente é sempre assim, disse o homem. – E você é sempre tão atencioso e amável com ele? – Sim, sou. – Por que você é tão educado, já que ele é tão rude com você? – Porque não quero que ele decida como eu devo agir. Nós somos nossos “próprios donos”. Não devemos nos curvar diante de qualquer vento que sopra, nem estar à mercê do mau humor, da mesquinharia, da impaciência e da raiva dos outros. Não são os ambientes que nos transformam… somos nós que transformamos os ambientes… Autora Desconhecido

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Filme:

Maria Goretti

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onta a emocionante história de Maria Goretti e de Alexandre Serenelli. Dois jovens que vivem uma intensa amizade que poder ia ter-se trans formado numa história de amor. Alexandre, no entanto, num ímpeto de violenta paixão, a transforma numa tragédia. O filme sobre a vida dessa jovem terna e simples, quer mostrar que é possível conser var os valores cr istãos, mesmo à custa do sacrifício da própria vida, testemunhando no perdão, a força do amor sem medida.

Verticais 1. Concupiscências / 2. Testemunho / 3. Amor / 4. Mandamentos / 5. Alegria / 6. Trevas / 7. Vida Eterna / 8. Filhos de Deus / 9. Anticristo / 10. Justiça / 11. Nossa Fé

VERTICAIS 1 – Tudo que há no mundo e não vem do Pai (2,16) 2 – O apóstolo o ouviu, viu, contemplou, apalpou e deu o seu (1,1-2) 3 – A maior revelação do NT do que Deus é (4,16) 4 – Sabemos que conhecemos a Jesus se os guardamos (2,3) 5 – Ele nos escreve para que ela seja completa (1,4) 6 – Quem odeia seu irmão está e caminha nelas (2,11) 7 – Os que creem no nome do Filho de Deus saberão que a tem (5,13) 8 – Desde já o somos, mas o que seremos ainda não se manifestou (3,2) 9 – Reconhecemos que é chegada a última hora pela sua chegada (2,18) 10 – Todo o que a pratica nasceu de Deus (2,29) 11 – A vitória que venceu o mundo (5,4)

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Horizontais 1. Filhinhos / 2. Luz / 3. O Espírito, a Água e o Sangue / 4. Pecados / 5. Mentiroso / 6. Temor / 7. Comunhão / 8. Maligno / 9. Permanece / 10. Verdade / 11. Mundo

HORIZONTAIS 1 – Modo carinhoso com que se dirige aos leitores (2,12) 2 – O que Deus é, por não ter treva alguma (1,5) 3 – Os três que dão testemunho que Jesus é o Filho de Deus (5,8) 4 – Se dissermos que não os temos, enganamos a nós mesmos (1,8) 5 – O que é aquele que diz que ama a Deus, mas odeia seu irmão (4,20) 6 – No amor não há, pois o perfeito amor o lança fora (4,18) 7 – Quem está na luz está nela 8 – O mundo inteiro está sob o seu poder (5,19) 9 – O que Deus faz em nós se amarmos uns aos outros (4,12) 10 – Nós a conhecemos e toda mentira não procede dela (2,21) 11– Não devemos amá-lo nem o que está nele, pois não está nele o amor do Pai (2,15)


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Acontece no Mundo

O arcebispo Dom Josef Clemens em visita ao Brasil D

e passagem pelo Brasil, o senhor arcebispo Dom Josef Clemens, secretário do Pontifício Conselho para os Leigos, que auxilia o Papa Bento XVI em questões relacionadas aos fiéis leigos em todo o mundo e que reside em Roma, veio a Fortaleza para visitar a Comunidade Católica Shalom. Foi o Pontifício Conselho para os Leigos que aprovou em 2007 o Estatuto da Comunidade Shalom, tornando-a Associação Internacional de Fiéis por um período “ad experimentum” de cinco anos. O eclesiástico declarou que os trabalhos desenvolvidos por comunidades leigas como o Shalom possuem um denominador comum. Para ele, “são sinais do Espírito Santo que vive na Igreja Católica”. Nesse sentido, o religioso destacou a presença dos jovens, especialmente nas instituições brasileiras. Conhecedor de várias realidades ao redor do mundo, Dom Clemens afirmou

que o Brasil encontra-se na linha de frente ao desenvolver um dos trabalhos mais representativos que já presenciou. “O país é muito ativo nessa questão, atua com bastante esmero, especialmente os jovens”, ressaltou. Foi com os jovens que Dom Clemens teve um encontro, em Fortaleza. Na ocasião, ele ouviu dezenas de membros da Obra Shalom, que deram os seus testemunhos sobre a importância da vivência

proposta pela Comunidade Shalom em suas vidas. Após o encontro, no Centro de Evangelização do Shalom da Paz, na Aldeota, Dom Josef Clemens assistiu a uma apresentação do show “Risposta” – “Resposta”, que conta a história do Shalom desde a sua fundação, como uma lanchonete que atraía jovens para a evangelização, até os dias atuais. A programação seguiu com uma Celebração Eucarística presidida pelo arcebispo visitante. Dom Josef Clemens é amigo do santo padre o papa Bento XVI e foi, por 20 anos, seu secretário particular, enquanto o atual sumo pontífice era o presidente da Congregação para Doutrina da Fé. Hoje atua como Secretário do Pontifício Conselho para os Leigos no acompanhamento das Novas Comunidades e Movimentos Eclesiais, expressões que mudaram a face da Igreja no período pós-conciliar, trazendolhe novo vigor na evangelização dos povos.

Brasil ganha beata: Bárbara Maix A

fundadora da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, a Irmã Bárbara Maix, foi beatificada no dia 6 de novembro, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A cerimônia foi presidida pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Dom Ângelo Amato. “Bárbara Maix viveu as Virtudes Teologais e Cardinais de forma heroica, evangélica, no mais alto grau, sendo apresentada como modelo de vida e virtudes da fé cristã para os tempos atuais”, destacaram as religiosas de sua congregação. Em março, o santo padre o papa Bento XVI autorizara a publicação do Decreto do milagre atribuído à intercessão da fundadora. Trata-se da cura prodigiosa de um menino, Onorino Ecker, que em julho de 1944, ficou completamente curado após sofrer queimaduras de terceiro grau quando lhe sobreveio uma panela de água fervente que estava em uma fogueira. O garoto brincava quando o acidente aconteceu.

Bárbara Maix nasceu em Viena (Áustria) no dia 27 de junho de 1818 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de março de 1873. A perseguição às Ordens Religiosas movida pela revolução de 1848, que tinha como base a Revolução Francesa, fez com que Bárbara Maix e outras 21 companheiras fossem expulsas do país. As jovens pretendiam se estabelecer na América do Norte, porém, enquanto aguardavam no Porto de Hamburgo um navio que as transportasse para esse país, aportou um barco com destino ao Brasil, no que Bárbara compreendeu ser “a vontade de Deus”. Segundo a Irmã Marlise Handges, atual diretora geral da Congregação, a beatificação é oportunidade da mais ampla divulgação do legado deixado pela fundadora. “Será um revigoramento para toda a Congregação, levando-nos a buscar na fonte original a força dinamizadora para darmos continuidade a essa obra que, conforme Bárbara afirmou, é de Deus.”

“Era preciso que o seu exemplo fosse divulgado para que outras pessoas pudessem se inspirar e perceber que a doação da vida, apesar dos sofrimentos, vale a pena e que leva à verdadeira realização”, afirmou. A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria está presente no Brasil e em mais oito países: Argentina, Estados Unidos, Paraguai, Venezuela, Moçambique, Bolívia, Itália e Haiti. www.edicoesshalom.com.br

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“É necessário que Deus volte a ressoar alegremente sob o céu da Europa”

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Europa deve abrir-se a Deus, ir ao seu encontro sem medo”: esta é a grande mensagem lançada pelo Papa Bento XVI na viagem a Santiago de Compostela, na Espanha, no início de novembro, evocando novamente o “Europa, seja você mesma”, do saudoso papa João Paulo II, neste mesmo lugar, há 18 anos. Diante das 7 mil pessoas que puderam estar na Plaza del Obradoiro e das milhares que puderam acompanhar a celebração por meio dos telões espalhados em vários pontos da cidade, o Papa quis recordar que Deus “não é o inimigo do homem”. “É uma tragédia que, na Europa, sobretudo no século XIX, se afirmasse e divulgasse a convicção de que Deus é o antagonista do homem e o inimigo da sua liberdade.” “Deus é a origem do nosso ser, alicerce e cume da nossa liberdade, não seu oponente – sublinhou o Papa. Como é possível que se tenha feito silêncio público sobre a realidade primeira e essencial da vida humana?” Frente a um paganismo, que propugna uma visão de um Deus invejoso e contrário ao homem, afirmou, “é necessário que Deus volte a ressoar alegremente sob o céu da Europa”. É necessário também que o nome de Deus, “essa palavra santa, não seja jamais pronunciada em vão; que não se perverta, fazendo-a servir a fins que lhe são impróprios”. “É preciso que seja proferida santamente. É necessário que a percebamos assim na vida de cada dia, no silêncio do trabalho, no amor fraterno e nas dificuldades que os anos trazem consigo.”

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Nova evangelização Por isso, o Papa sublinhou que “a contribuição específica e fundamental da Igreja para essa Europa, que percorreu no último meio século um caminho rumo a novas configurações e projetos”, é “que Deus existe e que é Ele quem nos deu a vida”. “Somente Ele é absoluto, amor fiel e indeclinável, meta infinita que se transluz detrás de todos os bens, verdades e belezas admiráveis deste mundo; admiráveis, mas insuficientes para o coração do homem.” A cruz dos caminhos de Santiago, afirmou, “supremo sinal do amor levado até o extremo, e por isso dom e perdão ao mesmo tempo, deve ser nossa estrela orientadora na noite do tempo”. “Ó cruz bendita, brilhai sempre nas terras da Europa!”, exclamou o papa Bento XVI. A seguir, o Santo Padre quis advertir a Europa sobre o perigo de viver de costas para Deus. “Permiti que eu proclame daqui a glória do homem; que advirta sobre as ameaças à sua dignidade pela espoliação dos seus valores e riquezas originais, pela marginalização ou a morte infligidas aos mais fracos e pobres – afirmou. Não se pode dar culto a Deus sem velar pelo homem, seu filho, e não se serve o homem sem perguntar-se quem é seu Pai e responder à pergunta por ele.” “A Europa da ciência e das tecnologias, a Europa da civilização e da cultura, tem que ser, ao mesmo tempo, a Europa aberta à transcendência e à fraternidade com outros conti-

nentes, ao Deus vivo e verdadeiro, a partir do homem vivo e verdadeiro.” Espírito de serviço Para os discípulos que querem seguir e imitar Cristo, afirmou, “servir os irmãos já não é uma mera opção, mas parte essencial do seu ser”. O Pontífice se dirigiu especialmente aos jovens, convidando-os a seguir aquele caminho, “para que, renunciando a um modo de pensar egoísta, de curto alcance, como tantas vezes vos propõem, e assumindo o de Jesus, possais realizar-vos plenamente e ser semente de esperança”. Também se dirigiu aos “chefes dos povos”, recordando que, “onde não há entrega aos demais, surgem formas de prepotência e exploração que não dão espaço para uma autêntica promoção humana integral”.


Entrelinhas

Um Menino

nos foi dado

Este mistério da Encarnação do Verbo de Deus, do Filho de Deus, tem consequências concretas no modo como vemos e vivemos a vida.

Elena Arreguy Sala Missionária da Comunidade Católica Shalom em Haifa/Israel

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hegamos a mais um Natal. Como relato histórico, ele será sempre o mesmo, a comemoração do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Belém, na Palestina, mas, como realidade espiritual, na qual somos introduzidos pelo Espírito Santo, ano após ano, será sempre novo. Como não ficar encantado com o mistério do amor de Deus que desce à pequenez humana, em linguagem humana, com sinais humanos, fazendo-se humano, um menino, o Menino

Jesus? Quem será como Deus para manifestar-se assim? É interessantíssimo, mas nenhuma religião na história de todas as religiões e culturas da humanidade, fora o cristianismo, pensou no humanamente impensável e inconcebível que foi Deus se encarnar no seio de uma Virgem e ser ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do Homem! Nesse mistério tão simples e tão absoluto, da descida de Deus até nós, encontra-se o fundamento espiritual e religioso do valor absoluto da vida humana desde a sua concepção. E esse mistério da Encarnação do Verbo de Deus, do Filho de Deus, tem consequências concretas no modo como vemos e vivemos a vida. Este ano, por conta das eleições, tivemos no Brasil um levante importantíssimo da Igreja Católica com o aval lúcido, sábio e seguro, e porque não dizer providencial, do santo padre Bento XVI, em defesa da vida e da cultura da vida, contra o aborto, a eutanásia e todas as ações que ferem à dignidade humana. A questão do aborto é crucial, como também a luta contra a fome e a pobreza que leva milhões de brasileiros e seres humanos a viver indignamente, mas há uma hierarquia de valor que precisa ser respeitada na avaliação dos problemas. O que fazer? As escolhas e decisões são deveras angustiantes. Ninguém em sã conciência é a favor do aborto ou a favor da injustiça social, principalmente contra as crianças. Mas muitos fizeram a opção de cuidar das crianças que já nasceram esquecendo-se das que ainda estão por nascer e não nascerão porque serão abortadas... Qual é a diferença entre um bebê de três meses e um de treze? Somente os meses que os www.edicoesshalom.com.br

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amadurecem, o primeiro dentro do ventre, o segundo fora, mas ambos, pessoas humanas. Conversando com um filósofo católico, recebi dele um argumento bastante lúcido e catequético que partilho, e que poderá iluminar a nossa inteligência para entendermos onde está a hierarquia sobre a qual falei acima, e que nos ajudará a defender a vida nestes anos que se seguem da nova presidente da República. Cito trecho de nossa conversa, mais ainda neste tempo de Natal tão propício ao amor a Deus, à vida, e às crianças: “Enquanto as questões prudenciais admitem soluções diferentes – por exemplo, o combate à fome pode ser abordado de maneiras diferentes, não havendo uma única solução para o equacionamento – os males intrínsecos, como o aborto, a eutanásia, o ‘casamento’ homossexual, permanecem sempre imorais, não havendo circunstância que os dirima dos seus malefícios intrínsecos. Uma vez entendida a distinção, o católico não pode votar ou concordar com qualquer partido ou pessoa que promova os males intrínsecos...”. Esta postura ilumina o entendimento e aponta para a virtude da verdadeira prudência, enquanto faculdade de tomar a decisão correta, segundo os critérios de Deus que iluminam a razão. Creio que neste Natal, por sermos apresentados novamente ao Menino Jesus, que é Deus, em quem habita toda a vida humana, deveríamos pedir a Ele que nos dê a graça da prudência, tão eloquentemente presente na vida de Nossa Senhora e de São José. Essa graça não é sinônimo de cautela, o que seria um olhar meramente humano, mas é a capacidade de escolher o Bem e vivê-lo bem, mesmo que isso implique em sacrifício. São Tomás de Aquino vai ensinar que a virtude da prudência é

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a “mãe e guia” (genitrix et auriga) das virtudes. Pela prudência, não se vive no impulso dos afetos e das emoções e se tem a memória, a inteligência, a docilidade, o raciocínio, a vontade iluminadas... A prudência é essencial para vivermos como cristãos verdadeiramente alicerçados no Bem, na Verdade, na Palavra, no que a Igreja ensina em termos de Moral e de Doutrina Social, para nos livrarmos dos perversos tentáculos do relativismo moral, social, doutrinário. Pela prudência, defenderemos as crianças nos ven-

Que o Menino Jesus, pela intercessão da Virgem Santíssima, imprima em nós esta fé e docilidade maduras, esta radicalidade evangélica libertadora que serve a Deus e aos homens e não serve às concupiscências e à cultura da morte.

tres de suas mães e todas as crianças que sofrem injustiça... Nossa Senhora, depois de Jesus, é o mais perfeito ícone e modelo de prudência e de docilidade, e é fácil olhar para a sua conversa com o Arcanjo Gabriel e perceber nela essa postura. Só é dócil quem é capaz de ouvir e dialogar, como fez a Virgem de Nazaré, surpreendida com a visita do enviado de Deus. E só obedece e dá um sim livre, confiante, cheio de fé a Deus quem, com prudência, escuta, pondera, apoia-se em Deus e em suas promessas no decorrer da História e

segue em frente, obedecendo. Por isso um Menino nos foi dado. A atitude interior e exterior de Maria é o oposto do que vemos em Eva. “O sim de Maria, sua decisão prudente, não é feita em base a um salto cego, mas em base à experiência da ação de Deus na História que cumpre todas as promessas que faz. Há aqui uma perfeita comunhão entre fé e razão, de modo que, no arquétipo da prudência, uma simplesmente não pode existir sem a outra. Foi isso que deu segurança a Maria para tomar sua decisão. Não é uma fé ingênua em uma palavra moralmente avalizada por Deus. Deus comprovou sua palavra cumprindo suas promessas ao longo de toda a História. Por isso, não temos o que temer. Ele que sempre foi fiel cumprirá o que promete agora. Estamos diante de uma fé segura e prudente. Deus não exige da humanidade uma fé temerária e infantil. Quer uma fé provada no crivo do diálogo e do discernimento. Somente neste crivo da prudência é possível realmente ter fé” (Pe. Joãozinho, scj). Que o Menino Jesus, pela intercessão da Virgem Santíssima, imprima em nós essa fé e docilidade maduras, essa radicalidade evangélica libertadora que serve a Deus e aos homens e não serve às concupiscências e à cultura da morte. Que neste novo tempo político que vivemos, sejamos santos, sejamos coerentes, prudentes, obedientes e livres para viver o que Deus quer. Amando o Menino e, por causa dele, amando todos os meninos e meninas, jovens e adultos que o Senhor nos confiar! Somos nós a geração que apresenta o Menino ao mundo! 

Acesse o blog da autora ou mande um e-mail www.elenarreguy.blogspot.com elenarreguy@gmail.com


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