Revista 2016 / Março

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O QUE A BAHIA TEM? POR QUE O ESTADO FORMA OS MAIORES BOXEADORES DO BRASIL

Março/2012 Edição 31 | Ano 3

TESTE EM DUAS RODAS

A REPÓRTER E CICLISTA RENATA FALZONI LEVA SUA BICICLETA ATÉ O RIO E MOSTRA COMO É CIRCULAR PELA CIDADE HOJE E COMO SERÁ EM 2016

EXCLUSIVO: O TÉCNICO DE VÔLEI

BEBETO DE FREITAS REVELA POR QUE A GERAÇÃO DE PRATA PERDEU A FINAL OLÍMPICA DE 1984, RECLAMA DO EGO DOS JOGADORES E ATACA DIRIGENTES

SAI, ZICA!

CUECAS ABENÇOADAS, CRUCIFIXOS REMENDADOS, IMAGENS DE SANTO EXPEDITO E UM DÓLAR ENCANTADO: O CRONISTA XICO SÁ INVESTIGA AS MANDINGAS DOS CAMPEÕES

www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ 7 8 9 8 2 6 4

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eXPedieNte EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO CARLOS ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO LUIZ FERNANDO SÁ EDITOR-EXECUTIVO AMAURI SEGALLA EDITOR EDSON FRANCO EDITOR DE ARTE PEDRO MATALLO EDITOR-EXECUTIVO DE FOTOGRAFIA CESAR ITIBERÊ EDITOR DE FOTOGRAFIA MAX GPINTO COLABORADORES

FOTOGRAFIA AGÊNCIA ISTOÉ APOIO ADMINISTRATIVO

Adalberto Leister Filho, Flávia Ribeiro, Flávio Costa, Katia Rubio, Leandro Mariano, Lucas Bessel, Otaviano Helene, Pedro Marcondes de Moura, Renata Falzoni, Rodrigo Cardoso, Rosenildo Gomes Ferreira, Tânia Galvani Furtado, Tom Cardoso, Xico Sá (texto); Caio Guatelli, Daniel Arantes, Daniel Martins, Daryan Dornelles, Jonne Roriz, Kelsen Fernandes, Toni Pires (fotos); Daniel Vincent (ilustração); FOTO DE CAPA: João Castellano (produzida em estúdio na cidade de Guadalajara, México) REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan

PROJETO GRÁFICO COPY-DESK E REVISÃO SERVIÇOS GRÁFICOS OPERAÇÕES

Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens) Giacomo Leone, Lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi GERENTE INDUSTRIAL: Fernando Rodrigues COORDENADOR GRÁFICO: Ivanete Gomes DIRETOR: Gregorio França GERENTE GERAL: Thomy Perroni ASSISTENTES: Luiz Massa, André Barbosa e Fábio Rodrigo OPERAÇÕES LAPA: Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte COORDENADOR: Jorge Burgati ANALISTA: Cleiton Gonçalves ASSISTENTE SÊNIOR: Thiago Macedo ASSISTENTES: Aline Lima e Bruna Pinheiro AUXILIAR: Caio Carvalho ATENDIMENTO AO LEITOR E VENDAS PELA INTERNET: DAYANE AGUIAR. LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO DE ASSINATURAS: COORDENADORA: VANESSA MIRA COORDENADORA-ASSISTENTE: REGINA MARIA ASSISTENTES: DENYS FERREIRA, KARINA PEREIRA E RICARDO SOUZA

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Santana CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (11) 3618.4566. DE 2ª A 6ª FEIRAS DAS 9H ÀS 20H30 OUTRAS CAPITAIS: 4002-7334 DEMAIS LOCALIDADES: 0800-7750098 MARKETING PUBLICIDADE

DIRETOR: Rui

Miguel GERENTES: Debora Huzian e Wanderley Klinger REDATOR: Marcelo Almeida DIRETOR DE ARTE: Eric Müller ASSISTENTE DE MARKETING: Marciana Martins e Thaisa Ribeiro DIRETOR NACIONAL: José Bello Souza Francisco DIRETOR DE PUBLICIDADE: Maurício Arbex SECRETÁRIA DA DIRETORIA DE PUBLICIDADE: Regina Oliveira GERENTES EXECUTIVOS: Eduardo

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6 MARÇO 2012 | ISTOÉ 2016

2016 é uma publicação trimestral da Três Editorial Ltda.. Redação e Administração: Rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CEP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da Redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no Rio de Janeiro: Av. Almirante Barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em Brasília: SCS, Quadra 2, Bloco D, Edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comercialização: Três Comércio de Publicações Ltda, Rua William Speers, 1212, São Paulo - SP. Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil: FC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP.


cartas

editorial

Um tigre contra os leões

Muito bacana a reportagem sobre nosso campeão da maratona, Marílson dos Santos. Adorei a foto dele com o tigre e fiquei mais impressionada ainda quando descobri que não se tratava de uma montagem. Parabéns pela criatividade e pela ousadia.

Daniela Marcondes São Paulo – SP

Doping

Que absurdo a 2016 dar espaço para um maluco como o britânico Andy Miah, que defende a liberação de doping no esporte. Se as substâncias ilícitas para o ganho de performance fossem liberadas, teríamos uma geração de atletas artificiais e com graves problemas de saúde. Esses esportistas seriam um péssimo exemplo para quem sonha em conquistar algo com suor e seriedade.

Arthur Ramires Coelho São Paulo – SP Como médico ligado ao esporte, fiquei satisfeito com a entrevista com Andy Miah, autor de um livro que tem gerado polêmica na comunidade científica. A discussão sobre formas aceitáveis de doping é atual e deve gerar ampla controvérsia no futuro. Esse é um tema que não poderia faltar a uma revista que enxerga todas as faces do esporte.

Rodolfo Crispin

Rio de Janeiro – RJ

Oficina de medalhas

É muito raro uma publicação com o nível de qualidade da 2016 abrir espaço para modalidades esportivas que não são badaladas. Por isso mesmo, fiquei muito feliz ao ler a reportagem sobre a força do judô brasileiro, que trouxe medalhas nas últimas sete Olimpíadas, conforme a revista destacou. Tenho certeza de que muitos pódios ainda virão por aí.

A 2016 AgorA é bimestrAl Se você gosta da 2016, eis aqui uma ótima notícia. Nascida em junho de 2010 como uma publicação trimestral, a revista vai se tornar, a partir de agora, bimestral. Com a proximidade dos Jogos de Londres e, depois, com o mundo do esporte voltado para o Rio, os temas olímpicos tendem a despertar o interesse de um número cada vez maior de leitores. A periodicidade reduzida é estimulante para toda a equipe da 2016. Como você deve ter observado nesses quase dois anos, nós procuramos, com obsessão, um olhar diferente em todas as nossas reportagens. Nossas fotos, nossos textos e o desenho de nossas páginas tentam fugir da monotonia predominante principalmente na imprensa esportiva. Quantas vezes alcançamos nossas mais ambiciosas intenções? Acertamos algumas jogadas e, sabemos também, erramos outras, mas jamais deixamos de lado o anseio de inovar. Agora, como uma publicação bimestral, esse desafio se renova – e estamos todos ansiosos para enfrentá-lo. Amauri Segalla, editor-executivo

Sérgio Emmanuel Carneiro Santos – SP

Abilio Diniz

Na admiração que já tinha pelo empresário Abilio Diniz só aumentou depois de ler a entrevista publicada pela 2016. Como ele, também sou um apaixonado por esporte e lamento profundamente o fato de o Brasilnão ter se tornado ainda um gigante olímpico. Por isso mesmo, o apoio privado de empresários como Abilio é fundamental para encurtar a distância que nos separa das potências esportivas.

Reginaldo Campello Soares Osasco – SP

conteúdo extra Assista ao making of da sessão de fotos com as atletas do nado sincrozinado, confira a galeria de fotos feitas para a reportagem sobre as ciclovias do Rio e acompanhe o vídeo do treinamento dos boxeadores que vão representar o Brasil nos Jogos de Londres. No site: www.istoe2016.com.br No iPad: baixe gratuitamente na App Store No Twitter: twitter.com/istoe2016 No Facebook: www.facebook.com/ISTOE2016 No Orkut: www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=13668154931775616977


Renata Falzoni

Pegou um diploma de arquitetura em 1977, guardou na estante e foi ser repórter fotográfica dos mais importantes jornais e revistas do Brasil, ISTOÉ incluída. Uma década mais tarde, com o surgimento do repórterabelha, pendurou uma câmera no ombro e partiu para investigar o mundo dos esportes de ação. Na tevê, atualmente ela apresenta o programa Aventuras, pela ESPN/Brasil. Renata ainda acha tempo para ser ativista pelo transporte em bicicletas. É fundadora do Night Biker's Club do Brasil. Motivo da sua visita ao Rio registrada nesta edição, as pedaladas são o principal traço de união entre ela e o fotógrafo...

...caio Guatelli

Em 20 de setembro de 1994, Renata foi cobrir a final do Campeonato Mundial de Mountain Bike, em Vail, no Colorado (EUA). Lá foi produzida esta foto, em que ambos aparecem momentos antes da grande largada. Com Renata, Caio aprendeu a pedalar e a cruzar montanhas em cima de uma bike. Pegou tanto gosto pela coisa que foi campeão paulista de subida em montanha e tem títulos em várias categorias de mountain bike. Também com passagem pelos principais órgãos de imprensa do País desde 1996, ele é autor de fotos antológicas, como aquela que registra o espanto de Diego Hypólito ao cair em uma final na Olimpíada de Pequim 2008.

Xico Sá

Nascido no Crato (CE), ele chegou a São Paulo depois de uma escala no Recife. Em todos esses cantos, colecionou histórias, aprimorou-se na arte de contá-las e, com dotes de cronista, passou a documentar, catalogar e satirizar os tipinhos que desfilam pela noite. Esse é o mote de livros assinados por ele, como Chabadabadá – as aventuras do macho perdido e da fêmea que se acha, Catecismo de devoções, intimidades e pornografias e Modas de macho e modinhas de fêmea. Escritor e jornalista, ele se desdobra para manter blogs e participações em programas de tevê como Saia justa e Cartão verde – abandonou este último após a morte do ex-jogador e cúmplice noturno Sócrates. Sua prosa fluida e bem-humorada aparece nesta edição em uma reportagem sobre mandingas no esporte.

Daniel MaRtinS

Nasceu e cresceu na Rocinha. E foi ali que Daniel ingressou nos workshops de expressão visual da ONG Olhares do Morro com 16 anos. Hoje com 25, já adquiriu grande experiência de fotografia social e para reportagens. Seu mais recente trabalho, a série Favela ninja – muay thai na Rocinha, foi capa em revistas francesas e será exibido numa exposição no Espaço Furnas Cultural, no Rio de Janeiro, em maio de 2012. Foi convocado pela 2016 por ser o homem perfeito para mostrar atletas que, como ele, foram ajudados por projetos sociais e hoje brilham em suas profissões.

colaBoRaDoReS

Daniel aRanteS

Há 20 anos, começou a lapidar o seu talento como fotógrafo em uma agência de publicidade. Conheceu todas as fases do processo de produção de imagens destinadas à propaganda. Foi lição para a vida toda. Como poucos profissionais no Brasil, Daniel sabe como controlar a luz no estúdio e dar vida a objetos inanimados. É exatamente isso que ele faz na nossa reportagem sobre mandingas. Mas esse não é seu único talento. Produziu capas e encartes para bandas como Inocentes e Cordel do Fogo Encantado, além de ter feito as fotos do livro Fernando de Noronha – ilhas afortunadas, que assina com a bióloga Angela Mizumoto.

Jonne RoRiz

Fotógrafo baiano, iniciou sua carreira em 1994, na sua terra natal. De lá, produziu imagens que circularam nos maiores jornais e revistas do País, e em algumas agências internacionais. Hoje contratado pelo jornal O Estado de S.Paulo, cobriu eventos como os terremotos no Haiti e no Chile, a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans e a chegada do papa Bento XVI ao Brasil. Além de fotojornalismo, Jonne é especialista em produzir imagens subaquáticas. A reportagem sobre o nado sincronizado desta edição não deixa a menor dúvida a esse respeito. Teve trabalhos publicados nos livros Sport in 21st century – seleção das melhores imagens esportivas do mundo, da agência Reuters – e O melhor do fotojornalismo brasileiro.


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ExpEdiEntE Editorial E cartas colaboradorEs cliquE olímpico

20 aquEcimEnto O corredor sul-africano Oscar Pistorius conta a sua receita para ser feliz e assustar a concorrência em Londres, apesar de não ter as duas pernas

70 santa causa O cronista Xico Sá investiga a mandinga no esporte, um mundo povoado de cuecas bentas, beijos em tatuagens e orações para Santo Expedito

28 raio x Quer saber como arremessar pesos, 78 aplicação Em ouro Por que martelos, dardos e discos mais longe? Um professor da USP usa a ciência para mostrar como

30 EntrEvista: bEbEto dE

FrEitas Com a experiência de quem foi atleta, técnico e presidente de clube, ele dispara sua metralhadora verbal para condenar a “ditadura assombrosa” no esporte brasileiro

36 o FiEl E a balança Geralmente o nadador mais cheinho entre os competidores nas provas de peito, o paulista Felipe França conta com sua disciplina e fé evangélica para se livrar de seis quilos, o maior obstáculo para que ele suba no pódio em Londres

os investimentos da iniciativa privada são o caminho mais curto para que o Brasil finalmente se torne uma potência olímpica

82 lEgítima dEFEsa Já classificados para a Olimpíada de Londres, os atiradores Ana Luiza Mello e Filipe Fuzaro lutam por medalhas e para acabar com a associação entre o esporte e a violência 86 a cruz do vasco Apesar de atravessar período turbulento, com os cofres vazios e investindo apenas na base de alguns esportes, o clube carioca sonha ter atletas nos Jogos de 2012 e 2016

44 Água acima Intercâmbio com treinadoras estrangeiras e melhora na infraestrutura do País são as armas para que o nado sincronizado brasileiro rivalize com as principais equipes do mundo

90 prEparE as malas Quer ver a Olimpíada de Londres in loco? Confira a nossa seleção de pacotes turísticos que se acomodam em vários tamanhos de bolso

52 transportE individual

de audiência do esporte, emissoras inundam as tevês aberta e paga com atrações para os interessados em chegar bem informados às competições olímpicas

A bike-repórter Renata Falzoni sai de casa em São Paulo de bicicleta, embarca o veículo no avião, passeia pelo Rio e constata: a cidade é maravilhosa para o ciclista e será melhor ainda em 2016

60 bErimboxE O que é que a Bahia

tem para formar tantos pugilistas? A capoeira ajuda a explicar parte do talento da nova geração de nocauteadores, mas a força ninguém sabe de onde vem

66 mudança dE classE ONGs e projetos sociais ajudam jovens atletas a se despedir da miséria e tomar gosto pelas conquistas esportivas Foto: Jonne Roriz

92 programão De olho no poder gerador

94 painEl Fabiana Murer e Maurren Maggi vão suar em maio, quando acontece o Brazilian Athletics Tour 2012 98 pÁgina dourada Com apenas

10% da visão, o arqueiro sul-coreano Im Dong-Hyun supera todos os demais humanos quando a meta é acertar um alvo a 70 m de distância com uma flecha


CliqueOlímpicO imAGENS SURpREENDENTES DO ESpORTE

PROVa de FOGO


Um corredor perseguido por uma legião de cavalos indomáveis. Esse foi o mote que inspirou os criadores do Tough Guy Challenge (O Desafio dos Caras Durões, em tradução livre), realizado todo último domingo de janeiro na Inglaterra. Em um percurso de 12,8 km, os corredores têm de enfrentar temperaturas baixíssimas, gelo, fogo e lama. Não basta boa forma física para vencer. A prova exige também controle mental. Os competidores são expostos a situações que eliminam aqueles que têm medo de altura, espaços apertados e água (um trecho da prova passa por um lago lamacento no interior de uma caverna), por exemplo. Criada em 1986, a prova tem fama de ser a “mais dura corrida do mundo”. Para dar uma ideia de como o título é merecido, os concorrentes deste ano carregaram uma cruz antes do início do evento, realizado na cidade de Telford.

Michael Regan/Getty Images


CliqueOlĂ­mpicO

Mesa seM Mesada


Tênis de mesa é esporte de burguês? Não em Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Criativa mas sem dinheiro, a garotada da comunidade aproveitou uma velha mesa de pingue-pongue e a customizou. Não tem rede? Sem problemas. Como o tampo é de compensado, bastou fazer um vinco em uma das lâminas de madeira para que a linha divisória da mesa fosse delimitada. Essa imagem faz parte do livro “Rio Olímpico em Fotos” (editora Publit), dos fotógrafos Daryan Dornelles, Andrea Marques e Edu Monteiro. Segundo eles, a obra foi composta como uma coletânea de imagens das modalidades que serão disputadas em 2016 e uma homenagem à beleza da Cidade Maravilhosa.

Foto: Fotonauta


Sem as duas pernas, o sul-africano Oscar Pistorius compete de igual para igual com atletas de elite que não têm deficiência física e deve ser uma das estrelas dos Jogos de Londres O tiro de partida é disparado. Enquanto a maioria dos atletas “voa” pelos primeiros metros da pista, Oscar Pistorius começa devagar. Parece que vai perder feio, mas bastam mais alguns segundos para o corredor sul-africano ganhar ritmo e, como um cavalo azarão, alcançar os outros competidores. Aos 26 anos, Pistorius não tem as duas pernas – amputadas logo abaixo dos joelhos quando ele ainda era um bebê por causa de uma má-formação óssea – e corre sobre próteses em forma de lâmina que lhe renderam o apelido de “Blade Runner.” E o mais incrível: compete em nível de igualdade com atletas de elite que não têm nenhuma deficiência física. Como isso é possível? Para alguns adversários, as próteses

fornecem algum tipo de vantagem. Foi o suficiente para que, em 2007, a Federação Internacional de Atletismo mudasse o regulamento das competições, acrescentando ao texto que era “proibido o uso de qualquer instrumento técnico que possua molas, rodas ou outro elemento que venha a conferir vantagens para atletas”. No fim do mesmo ano, Pistorius passou por testes em uma universidade da Alemanha para ver se, de fato, suas pernas biônicas traziam alguma vantagem sobre o tornozelo humano. A resposta foi sim. Banido de competições para atletas sem deficiências, Pistorius buscou outros cientistas – desta vez em Houston, nos Estados Unidos –, que apontaram falhas no primeiro estudo e concluíram


o oposto: as próteses não eram melhores do que uma perna de verdade. A discussão nos anos seguintes foi intensa, com pesquisadores se contradizendo e ofensas pessoais partindo de um lado para o outro. O veredicto, porém, estava dado. Pistorius voltou a competir entre atletas não deficientes e conseguiu uma medalha de prata no revezamento 4 x 400 m no Mundial de Daegu, no ano passado. Sua meta, agora, é correr tanto na Olimpíada quanto na Paraolimpíada de Londres e ser o primeiro homem a subir ao pódio nas duas competições. “Não sei o que é viver sem próteses”, disse Pistorius ao repórter Lucas Bessel. “Tenho uma vida incrível e nunca pensei em como ela seria de outro jeito.”

Em Londres, você vai competir na Olimpíada e na Paraolimpíada?

Seria ótimo poder competir na Olimpíada de Londres e essa certamente é uma meta importante. Também tenho grandes esperanças de medalhas para os Jogos Paraolímpicos e pretendo conseguir ao menos quatro ouros.

Você tem muitos apelidos, como “Blade Runner”, “Titã das Pistas” e “Sea Biscuit”. Fica incomodado com isso?

Sinceramente, não sou o maior fã dos meus apelidos. Não acho que eu seja nada disso do que me chamam. Por outro lado, até que gosto de “Titã das Pistas". No fim das contas, fico honrado de estar na posição em que me encontro. Trabalho muito e sou um competidor ferrenho.

FOTOS: SIMON BRUTY/ SPORTS ILLUSTRATED | DIVULGAÇÃO

Desde 2007, houve muita controvérsia sobre se próteses podem dar algum tipo de vantagem a atletas paraolímpicos. Você ficou chateado com a discussão? Já foi cientificamente estabelecido que elas não trazem nenhuma vantagem de desempenho sobre outros atletas. Além disso, eu sempre vou competir dentro das regras estabelecidas. Para mim, é importante competir em um ambiente equilibrado. Sei que ainda há algumas pessoas que querem ficar famosas ao desafiar a ciência, mas trabalhei com os melhores cientistas do mundo durante os testes. Os relatórios imprecisos que dizem o contrário não têm nenhuma relevância.

Como é sua relação com os atletas deficientes e não deficientes? Há alguma diferença?

Nenhuma. Não vejo meus competidores como sendo deficientes ou não deficientes. Vejo apenas como eu corro cada prova. Tenho competido contra atletas não deficientes desde 2007 e treinado com eles desde 2003. Então, não há realmente nenhum problema.

Você acha que a relutância da Federação Internacional em admitir atletas com próteses em competições para não deficientes pode ser resultado de preconceito?

Tenho uma ótima relação com a Federação. Não há nenhum problema desse tipo.

Você se considera uma celebridade?

É uma honra ser considerado assim. Me sinto lisonjeado e tenho grande admiração pela indústria que a fama envolve.

Essa fama trouxe alguma vantagem, como patrocinadores ou maiores salários?

Meu foco é o que faço na pista e eu trabalho muito duro para ser o melhor possível.

Há muita distância salarial entre atletas deficientes e não deficientes? Não comparo ganhos financeiros. Não olho para quanto os outros ganham.

Doping ainda é um assunto obscuro quando se trata de competições paraolímpicas. O uso de substâncias ilegais é maior ou menor entre atletas deficientes? Nunca vi nada e não acho que, nesse assunto, haja qualquer diferença entre atletas olímpicos ou paraolímpicos.

Você alguma vez pensou que sua vida seria melhor se você tivesse pernas?

Nunca conheci a vida sem as próteses e acho que, por isso, nunca enfrentei grandes desafios. Sempre me disseram que eu podia fazer qualquer coisa que eu quisesse. Tenho uma vida incrível e nunca pensei em como ela seria de outro jeito.


AQUECIMENTO

MARCAS REGISTRADAS Como funciona o patrocínio na Olimpíada e quais são as empresas que vão se associar aos Jogos de 2016

A quatro anos do início dos Jogos do Rio, o comitê organizador já bateu a meta inicial de arrecadar R$ 700 milhões em patrocínios. O mais recente parceiro do espetáculo olímpico no Brasil é a montadora japonesa Nissan, que espera usar o evento como plataforma para desenvolver seus ambiciosos planos de crescimento. A estrutura de patrocínios, porém, vai muito além do território nacional e compreende cifras bilionárias. Observe:

Patrocinadores nacionais Cada comitê organizador tem o direito de negociar patrocínios dentro do país-sede. No caso da Rio 2016, as cotas foram divididas em três grupos, que dão direito a diferentes níveis de exposição e associação de marca. Acompanhe quem são os parceiros até o momento: > 1 Patrocinadores oficiais Bradesco, Bradesco Seguros, Claro, Embratel e Nissan. Por negociarem primeiro, garantem maior tempo de exposição e têm o direito de associar suas marcas aos Jogos. > 2 Apoiadores Ernst & Young Terço. A empresa presta serviços de consultoria e assessoria ao Comitê Olímpico Brasileiro. > 3 Fornecedores Ainda em negociação. Podem ser apontados até dias antes do início dos Jogos.

QUANTO O COI ARRECADOU EM CADA CICLO DESDE O INÍCIO DO PROGRAMA, EM 1985

COMO O DINHEIRO DOS PATROCÍNIOS MUNDIAIS É REDISTRIBUÍDO

US$ 96 milhões 1985-1988 (Calgary/Seul)

Comitês Organizadores dos Jogos Olímpicos: 50%

US$ 172 milhões 1989-1992 (Albertville/Barcelona) US$ 279 milhões 1993-1996 (Lillehammer/Atlanta) US$ 579 milhões 1997-2000 (Nagano/Sydney)

Comitês Olímpicos Nacionais: 40% Comitê Olímpico Internacional: 10%

US$ 663 milhões 2001-2004 (Salt Lake City/Atenas) US$ 866 milhões 2005-2008 (Turim/Pequim) EM ANDAMENTO 2009-2012 (Vancouver/Londres)

Patrocinadores mundiais (TOP) A negociação é feita diretamente com o Comitê Olímpico Internacional (COI). As empresas fecham parcerias de quatro anos que incluem os Jogos de Verão e Inverno e os Jogos da Juventude. Além do aporte financeiro, fornecem produtos e serviços. > Quem são (ciclo 2009-2012) Coca-Cola, Acer, Atos Origin, Dow, GE, McDonald's, Omega, Panasonic, Procter & Gamble, Samsung e Visa. Destes, apenas a Acer ainda não renovou contrato para o ciclo olímpico que inclui a Rio 2016.

QUANTO CADA COMITÊ ORGANIZADOR DA OLIMPÍADA DE VERÃO ARRECADOU COM PATROCÍNIOS LOCAIS DESDE O INÍCIO DO PROGRAMA, EM 1996 US$ 426 milhões 1996 (Atlanta) – 111 parceiros US$ 492 milhões 2000 (Sydney) – 93 parceiros US$ 302 milhões 2004 (Atenas) – 38 parceiros US$ 1,2 bilhão 2008 (Pequim) – 51 parceiros EM ANDAMENTO 2012 (Londres)


aQuECiMEnto

O OUTRO MAPA DA OLIMPÍADA DE 2016 Antes dos Jogos do Rio, delegações internacionais poderão treinar em 172 instalações espalhadas por 73 cidades de 18 Estados

98 74 14 150 8

Instalações públicas (64 municipais, 19 estaduais e 15 federais) Instalações privadas

Instalações em obras

Instalações prontas

Maior CidadE São Paulo (SP) – A capital paulista, com 11 milhões de habitantes, abriga nada menos do que sete instalações consideradas aptas a receber atletas de modalidades como atletismo, natação e vôlei.

MEnor CidadE Itirapina (SP) – O pequeno município de 15 mil habitantes entrou no mapa olímpico graças ao seu luxuoso Broa Golf Resort, selecionado para ser uma das possíveis casas das delegações internacionais.

Instalações em fase de projeto

Muito a sEr FEito Brasil (Rio 2016) Área: 8,5 milhões de km² População: 195 milhões PIB: US$ 2,44 trilhões Instalações pré-Olimpíada: 172

Reino Unido (Londres 2012) Área: 245 mil km² População: 62 milhões PIB: US$ 2,43 trilhões Instalações pré-Olimpíada: 640


Aracaju: 1

Recife: 1

João Pessoa: 1

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0s 18 estados e as 73 cidades que podem receber delegações olímpicas

Goiânia: 5 Brasília: 5

Belém: 4 Cuiabá: 1

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Osório: 2 Porto Alegre: 2 Bento Gonçalves: 1 Canoas: 1 Caxias do Sul: 1 Santa Cruz do Sul: 1 Santa Maria: 1

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Florianópolis: 7 Balneário Camboriú: 4 Blumenau: 3 Palhoça: 1

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Curitiba: 5 São José dos Pinhais: 4 Londrina: 3 Toledo: 3 Cascavel: 1 Foz do Iguaçu: 1 Maringá: 1 Paranaguá: 1 Piraquara: 1

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Belo Horizonte: 3 Juiz de Fora: 2 Uberlândia: 2 Barbacena: 1 Governador Valadares: 1 Poços de Caldas: 1 São Sebastião do Paraíso: 1 Varginha: 1 Viçosa: 1

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Manaus: 1

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São Paulo: 7 Piracicaba: 6 São Bernardo do Campo: 6 Campinas: 4 Praia Grande: 3 Santos: 3 Itu: 2 Osasco: 2 Santo André: 2 São Carlos: 2 São José dos Campos: 2 Araçatuba: 1 Araraquara: 1 Itirapina: 1 Porto Feliz: 1 Rio Claro: 1 Suzano: 1 Taubaté: 1

Vitória: 6 Cariacica: 1 Serra: 1 Rio de Janeiro: 11 Volta Redonda: 6 Niterói: 4 Armação de Búzios: 2 Cabo Frio: 2 Angra dos Reis: 1 Duque de Caxias: 1 Macaé: 1 Mangaratiba: 1 Maricá: 1 Nova Iguaçu: 1 Resende: 1

E os Estádios da Copa?

sitE para Consultas

Dos 12 estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014, apenas três foram listados entre possíveis locais de treinamento para delegações em 2016: Castelão (Fortaleza), Arena Pantanal (Cuiabá) e Beira-Rio (Porto Alegre).

O Comitê Organizador da Rio2016 promete colocar no ar ainda neste ano um site para que confederações internacionais possam consultar os locais de treinamento e aclimatação disponíveis no Brasil. A organização também afirma que o número de instalações pode subir conforme mais cidades atendam às exigências do Comitê Olímpico Internacional.


aQuECiMEnto

SEREMOS MESMO UMA POTÊNCIA OLÍMPICA? Há tempos o Brasil persegue a condição de ser um gigante olímpico. Se no passado parecia impossível alcançar Estados Unidos e União Soviética, a quebra do bloco socialista poderia proporcionar a oportunidade para se chegar um pouco mais perto dos top ten. Mas não foi o que aconteceu. Embora a delegação brasileira tenha crescido nas últimas edições olímpicas, isso não representou uma subida no ranking qualitativo. Não é difícil encontrar as razões. Vamos começar pelas condições materiais para a prática esportiva. Não serei a primeira a escrever sobre a negligência com o esporte de formação. Não existe casa sem paredes, assim como não há esporte de rendimento sem uma boa base. A base é composta por crianças e jovens com repertório motor adquirido em aulas de educação física nas escolas – aquelas negligenciadas nos currículos escolares. Quantas unidades de ensino não possuem ao menos uma quadra para que as crianças possam ter a dimensão espacial de esportes coletivos? Quantas histórias ouço de professores de educação física que disputam o pátio das escolas com os professores de outras disciplinas... O Brasil precisa de um plano estratégico para a massificação do esporte, inclusive de modalidades pouco conhecidas e que não requerem muito espaço ou equipamentos sofisticados, como é o caso do tênis de mesa, do badminton e das lutas, para citar alguns exemplos. Nos últimos anos, houve um aumento da participação do Brasil no cenário esportivo mundial. Nunca se teve tantas oportunidades de intercâmbio. Basta ouvir a história de esportistas que competiram nas décadas de 1980 e 1990 para saber que participar de competições no Exterior era condição de poucos. Além disso, hoje as confederações têm acesso a equipamentos de ponta e a preços competitivos. Isso favorece, e muito, atletas de modalidades que não dependem apenas de seu corpo para chegar entre os primeiros. O interessante é que nunca se desejou tanto estar, finalmente, entre os primeiros. A questão é que, entre desejar e realizar, há um plano intermediário que consiste no desenvolvimento de toda uma estrutura esportiva. Enquanto o Brasil não alcançar o nível de profissionalismo em que os top ten já estão, o sonho de o País se tornar uma potência olímpica dificilmente será realizado. *Katia Rubio, 49 anos, é professora da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP), psicóloga do esporte e autora, entre outros livros, de Heróis olímpicos brasileiros (editora Zouk).

Por Katia Rubio

a rainHa do VarEJo aGora É olÍMpiCa

Presidente da rede Magazine Luiza e uma das empreendedoras mais bem-sucedidas do País, Luiza Helena Trajano passou a fazer parte, em fevereiro, do conselho diretor do Comitê Organizador da Rio 2016. Como uma das cinco vice-presidentes da entidade, Luiza será responsável pela autorização de despesas e pela contratação de prestadores de serviços.

EsportE dá saMBa Vão-se as fantasias e as passistas, fica o primeiro equipamento esportivo reformado para a Olimpíada de 2016. O Sambódromo do Rio de Janeiro, que vai abrigar as provas de tiro com arco – além da largada e da chegada da maratona –, passou por obras que consumiram um ano de trabalho e R$ 35 milhões. O investimento foi direcionado à construção de quatro novas arquibancadas, à adequação do local para acesso de deficientes físicos e à instalação de mais camarotes. O Sambódromo, projetado por Oscar Niemeyer, também ganhou sistema de sonorização nos dois lados da avenida e teve todos os setores repintados. De acordo com a Prefeitura do Rio, a entrega das instalações foi feita dentro do prazo estipulado no projeto da Olimpíada. Outros dois equipamentos olímpicos – mas não esportivos – já tinham sido inaugurados na cidade: o Parque dos Atletas e a Vila Verde.

FOTOS: RAFAEL HUPSEL, JOÃO CASTELLANO | SHUTTERSTOCK


RAIO X: tudo o que você precisa saber sobre ARREMESSOS

QUANTO MAIS LONGE, MELHOR Como a física ajuda atletas a arremessar dardos, martelos, pesos e discos o mais distante possível*

Mesmo sem saber uma fórmula sequer, a gente aprende as primeiras noções de física ainda na condição de bebês. Ao atirar a chupeta, a criança intui que, se a intenção for fazer o objeto voar mais longe, o melhor é atirá-lo em uma direção que forme um ângulo de aproximadamente 45o com a linha do chão. Com um ângulo menor, o voo do objeto será curto e logo ela se chocará contra o solo. Se for jogado muito para cima, vai demorar mais tempo para cair no chão, mas também não irá muito longe. Como o assunto aqui é esporte, vamos investigar como a física pode ajudar atletas a lançar coisas bem mais pesadas que chupetas.

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PESO Há dois estilos. Em ambos, o atleta inicia de costas para a direção do lançamento. No mais comum, o atleta faz meia-volta e lança o peso (uma bola de 7,26 kg para homens e 4 kg para mulheres). No outro, dá uma volta e meia antes do lançamento. O peso é impulsionado principalmente no arremesso final, quando atinge uma velocidade de cerca de 50 km/h. O ângulo ideal de lançamento é de 38o. A principal causa para o ângulo bem menor do que 45o é a maior facilidade que temos de fazer força em uma direção horizontal do que vertical.

*Texto produzido com informações e supervisão de Leandro Mariano (doutorando no Instituto de Física da USP) e Otaviano Helene, professor no Instituto de Física

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km/h

FOTOS: ADRIAN DENNIS / AFP | STU FORSTER / GETTY | SHUTTERSTOCK

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DARDO O atleta corre por cerca de 30 metros antes de arremessar o dardo, uma lança com cerca de 2,3 m de comprimento e 600 gramas para mulheres e cerca de 2,7 m e 800 gramas para homens. A velocidade final do dardo será uma composição da corrida com aquela fornecida pelo esforço no instante do lançamento. Nesse momento, vários músculos – do braço, do tronco e das pernas – são usados para aumentar a energia fornecida ao dardo, que é lançado com uma velocidade de aproximadamente 100 km/h e ângulos inferiores a 45o.

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MARTELO O atleta usa força e velocidade para rodar o martelo (com 7,26 kg para homens e 4 kg para mulheres) de três a quatro vezes em torno de seu corpo, na altura dos ombros. Depois, começa a girar seu corpo por até cinco vezes até que o martelo atinja a velocidade aproximada de 100 km /h e o lança a um ângulo de cerca de 40o. A energia cinética – trabalho para aumentar a velocidade de corpos e objetos – é comparável à de um velocista após alguns segundos do início da corrida.

DISCO O atleta inicia de costas para a direção do lançamento. Depois, dá uma volta e meia, segurando o disco (2 kg para homens e 1 kg para mulheres) com o braço bem estendido. No momento do arremesso, dá um empurrão final e lança o disco a uma velocidade em torno dos 100 km/h. O trabalho feito e transformado em energia cinética tem origem nas pernas dos atletas, durante o movimento de rotação, e nos músculos das pernas, do tronco e do braço, no instante do arremesso. Os lançamentos mais eficientes ocorrem a ângulos entre 30o e 40o.

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entrevista | bebeto de freitas

“ViV emos uma ditadura as sombrosa no esporte brasil eiro�


entrevista bebeto de freitas, TÉCNICO DE VÔLEI

por RODRIGO CARDOSO Fotos DARYAN DORNELLES

apertar entre os dedos as folhas de capim-limão, pegas por ele em um vaso logo à sua direita, não soava gratuito durante a conversa em que ficou latente como é estressante a vida de quem é contrário às oligarquias esportivas. Na medicina popular, essa planta é usada como calmante. Bebeto de Freitas, nascido Paulo Roberto de Freitas, no Rio de Janeiro, há 62 anos, estava inquieto por falar sobre os motivos que levaram a seleção de vôlei a perder a medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles em 1984 e criticar os dirigentes que há décadas comandam o esporte brasileiro. Como se verá a seguir – e a exemplo do que fez na carreira como atleta, técnico e até presidente de clube de futebol –, Bebeto não foge à luta. Ainda que, inconscientemente, precise manejar algumas folhas de capim-limão.

Em 1984, o sr. foi, aos 34 anos, o mais jovem treinador a ganhar uma medalha olímpica. Como foi conduzir aquele grupo?

Daquela geração de prata do vôlei, eu havia jogado com William, Amauri, Renan, Xandó, Montanaro, Bernard e Fernandão. E joguei contra o Bernardinho. A inexperiência de todos nós foi prejudicial. O que nos atrapalhou muito – na verdade, o que nos tirou a medalha de ouro – foi a falta de humildade. De uma hora para outra você se torna um ídolo nacional, símbolo sexual. Aqueles caras eram os Beatles, enfim. Mas a responsabilidade foi de todos. Da confederação, da comissão técnica e dos atletas.

Houve discussões motivadas por patrocínios?

A Rainha patrocinava aquela seleção e para todos os jogadores era repassado um valor. Ou seja, todos tinham que jogar com o tênis Rainha. Na Olimpíada de 1984, três atletas, William, Montanaro e Bernard, assinaram um contrato extra com a marca. Um dia, treinando no ginásio principal, eu percebi que o tênis escorregava naquele piso e o principal jogador que derrapava era o Bernard. Logo depois, eu disse ao Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, então presidente da Confederação Brasileira de vôlei) que precisávamos de outro tênis. O Nuzman tentou argumentar um pouco, mas acabou optando pela compra de uma leva de Mizuno. Aí, eu vi que se criou um problema, mas eu não sabia do acerto do William, do Montanaro e do Bernard com a Rainha.

Como descobriu?

No vestiário, ao fazer a preleção antes de um jogo, eu vi o Bernard com o tênis Rainha no pé e disse: "Bernard, com esse tênis você não vai jogar. Troca." Pouco tempo depois, ouvi o

William falando para o Bernard: "Eu te disse." Achei estranho. Mais tarde, dois jogadores me procuraram dizendo que não era justo três atletas da seleção terem contratos paralelos com a Rainha. Foi aí que fiquei sabendo.

Esse episódio foi um dos problemas que levaram aquela seleção a não triunfar?

Sem dúvida foi um dos. Houve uma situação que precedeu aquela e que é responsabilidade minha. Antes do episódio da Rainha, fui procurado por um representante da Puma que propôs que a gente jogasse com o tênis deles. Eu disse para os jogadores que havia sido procurado por uma empresa que oferecia "x" milhões. Isso deu um "clique" nos jogadores. Eles pensaram: "Pô, eu quero." você não pode ir para uma competição sem que todas essas questões profissionais estejam resolvidas.

Isso rachou o grupo?

Já havia, anteriormente, problemas de grupo. Havia dois jogadores que não se davam (a reportagem da 2016 apurou que eram William e Bernard). Não sei nem quando o desentendimento começou. Os dois juntos eram fantásticos, foram a coisa mais impressionante em termos de voleibol que eu vi na vida. Em quadra, um tinha confiança extrema no outro. Durante os quatro anos que estivemos juntos, eu os colocava no mesmo quarto. Gozado que tanto um quanto o outro dizia para os companheiros: "Nunca li tanto ou vi tanta televisão." é possível um grupo sobreviver assim. Antes da Olimpíada, havíamos jogado 14 partidas contra a seleção americana, na casa deles, e perdemos apenas duas. Esses dois jogadores não se boicotavam dentro de quadra, pelo contrário. Havia um racha no time, mas também colocar em cima de dois a responsabilidade é faltar com a verdade.


entrevista | bebeto de freitas

Portanto, a derrota na final dos Jogos de 1984 começou fora de quadra?

Ninguém tem como garantir isso. A equipe jogou mal aquela final. Tínhamos problemas físicos também. O Renan havia torcido o pé, o Badalhoca estava fora.

O sr. recebeu críticas do grupo por ser muito jovem no cargo?

Eu conhecia a maioria deles. A questão é que nunca havia se treinado tanto como aconteceu com aquela seleção. Passamos cinco meses juntos. Esse foi outro erro. Não há necessidade. Depois, existe o desgaste natural de qualquer relação. Como chefe, você precisa dizer não e isso torna uma relação desgastante. Por outro lado, eles estavam ganhando para aquilo. Aqueles caras mudaram o voleibol mundial do ponto de vista técnico e tático. Ataque de fundo pelo meio, passada de bloqueio, uma série de coisas. O primeiro atacante de fundo pelo meio que existiu foi o Renan.

O grupo se sentia inseguro pela sua inexperiência?

Fomos crescendo na marra. Se isso criava insegurança, não posso dizer. O que eu via era o desenvolvimento técnico. Até a década de 80, o vôlei do Brasil nunca tinha subido ao pódio e, depois, passou a subir sempre. Após aquela geração, não houve mais mudanças táticas relevantes dentro do voleibol mundial. Uma possível insegurança não se refletia dentro da quadra. A dificuldade é que eles foram cobaias em tudo. Acho que 70% do que fazíamos se resumia a treino físico e de bloqueio. Tecnicamente, o nosso voleibol sempre foi de nível bom. Mas a primeira questão foi transformar os jogadores em atletas, o que não éramos. Alguns chiavam, tinha gente que não gostava de ir para o chão, de bloquear, mas são coisas que você vai levando.

No seu retorno à seleção, às vésperas dos Jogos de 1988, o sr. não convocou o Bernard. Por quê?

William, Renan, Montanaro, Xandó, Amaury, Bernard, pelo que me lembro, estavam ausentes da seleção que vinha sendo comandada pelo Sohn (técnico coreano Young Wan Sohn). O Bernard sempre foi uma questão difícil. Depois que eu saí da seleção, assumiu o Brunoro. E havia uma relação muito difícil do Bernard com o Brunoro. Aí entrou o Sohn. Houve uma repercussão grande, porque de um momento para o outro jogaram um coreano, com estilos e pensamentos diferentes, no comando da seleção. Sei que alguns, principalmente o Bernard, começaram a idolatrá-lo para, justamente, defender o cara. Mas aí o Brasil começou a perder e me chamaram para retornar à seleção. Assumo a 35 dias do primeiro jogo da Olimpíada. Havia 18 jogadores na seleção. Eu não cortei ninguém, mas convoquei a turma de 84 que estava de fora. A primeira pessoa que convoquei foi o Bernardinho.

Por quê?

O Bernardinho sempre foi o meu capitão, um garoto fantástico em quadra. Mas eu disse a ele: ‘Quero você para ser meu assistente técnico.’ Ele se assustou porque esperava que eu o chamasse para jogar. Falei também que não iria chamar o irmão dele. O Bernard não estava em forma, eu não teria tempo de recuperá-lo e ele iria perturbar tanto... Um dia,o Bernardinho levou seu irmão a minha casa. E eu disse tudo ao Bernard. Ele ficou chateado, claro. Para a preparação para a Olimpíada, William, Renan, Montanaro, Xandó, Amaury e Carlão ficaram treinando no Rio, enquanto eu excursionava com o restante dos jogadores. Ficamos em quarto lugar em Seul. De qualquer forma, a importância desses jogadores ficou mais do que latente. Depois, briguei com a confederação por causa deles.

sobre a seleção que conquistou a prata nos jogos de los angeles: “o que nos atrapalhou muito – na verdade, o que nos tirou a medalha de ouro – foi a falta de humildade. de uma hora para outra você se torna um ídolo nacional, símbolo sexual” 32

Como foi?

Eu os chamei para a seleção, em 1989. Eles conversaram com a confederação para exigir participação no que entrava de patrocínio e outros assuntos sobre condições de trabalho. Houve um jogo contra a França, em Brasília, e em seguida iríamos para a Europa. Nesse dia, o Nuzman entrou no vestiário e disse que decidiria as coisas depois de a gente voltar da Europa. Eu falei para os jogadores ali no vestiário: "Isso não vai vir para vocês depois. Decidam agora." Eles resolveram ir para a Europa e na volta nada aconteceu. Quando estávamos treinando na Granja Comary, em Teresópolis, os jogadores largaram a seleção, porque o Nuzman não acertou com eles. Um por um entrou na sala para falar com o Nuzman e comigo. Acordamos para que eles saíssem sem criar desgaste para ambos os lados. Em seguida, fomos para o Campeonato Sul-Americano sem aqueles caras. Levei Tande,

março 2012 | istoé 2016 FOTO: ARQUIvO ISTOé


Giovani, Maurício, Janelson, Jorge Edson... vencemos o torneio em cima da Argentina, que havia ganho a medalha de bronze na Olimpíada de 1988 e estava invicta. Na entrevista coletiva, o Nuzman deu uma cacetada nos caras que haviam saído.

O que o Nuzman disse?

Falou: "O cemitério está cheio de insubstituíveis." Eu não sabia, mas tudo estava armado para eu dançar também. O Nuzman queria me tirar, mas não tinha coragem. Fui para a entrevista coletiva na sequência do Nuzman e falei: "é, realmente, esses garotos deixaram a seleção depois de levantar o voleibol do Brasil esse tempo todo. Saíram porque o presidente da confederação prometeu e não cumpriu." Em vez de elogiar a nova garotada, o Nuzman sentou o pau nos caras que não estavam lá.

Como a história terminou?

Eu tive uma reunião com o Nuzman no Rio e disse que aqueles caras não podiam ser tratados daquela maneira. Depois, fomos para a Liga Mundial, no Japão, em 1989. A garotada voltou a triunfar, desta vez com o bronze. Terminado o jogo, o Nuzman marcou uma reunião no vestiário. Ele começou dando bronca em todo mundo, querendo saber quem não gostava dele. Pedi a palavra e disse que não queria mais ser o técnico da seleção. Aí, fui para a sala de imprensa e falei que estava deixando a seleção.

Como o sr. e o Nuzman se conheceram?

éramos amigos de sair juntos. Jogamos no Botafogo, mas, antes, jogávamos no Posto 6, amigos de praia. O Nuzman parou de jogar em 1972 e eu disse a ele: "você precisa ser presidente da federação de vôlei do Rio." Fizemos campanha para ele, que ganhou a eleição pela diferença de um voto. Sabe quem foi o primeiro vice-presidente do Nuzman? Meu pai. Sabe quem foi diretor-financeiro da federação? Meu tio. De cara, o Nuzman deu uma organizada, uma mexida em tudo. Daí foi um passo para a confederação. Meu pai ficou como presidente da federação do Rio e meu tio acompanhou o Nuzman para sair como presidente da confederação, em 1974. Essa é minha história com o Nuzman.

Essa amizade perdurou até quando?

O que me fez ficar cada vez mais longe do Nuzman foi como o voleibol no Brasil era organizado. Não temos uma estrutura de esporte aqui. A seleção brasileira é o Real Madrid, com toda a estrutura, mas os outros clubes não são nem o Levante (time pequeno da Liga Espanhola). A dificuldade sempre foi manter os jogadores aqui. O campeonato brasileiro de voleibol, em um país territorialmente e com a população que tem o Brasil, precisa ter primeira, segunda, terceira divisões e durar oito, nove meses. Para isso a questão do calendário é decisiva. Mas os dirigentes aprenderam que o calendário dá poder. As competições se banalizaram. A Liga Mundial ocorre todo ano porque interessa financeiramente. Ela mata o calendário. Começa muito cedo, obrigando as ligas nacionais a terminar mais cedo. Todo ano tem essa competição no Japão, em novembro. Na Europa, os campeonatos começam no fim do ano, mas param para os atletas irem ao Japão e depois recomeçam. Aqui, só começa o campeonato depois do Japão. Quantos atletas chegam machucados para a Superliga ou se machucam por conta do calendário bagunçado?

O calendário é o vilão do esporte no Brasil e mesmo assim a seleção de vôlei não se cansa de vencer.

Desde os anos 80, o voleibol brasileiro é o primeiro do mundo em termos de eficiência de conquista de títulos em todas as categorias. Por outro lado, nós temos apenas 12 equipes no Brasil. A partir do momento que se entendeu que a televisão é importante para o esporte, veja quantos meses do calendário são dedicados para a seleção brasileira e quantos para os campeonatos. Temos uma Superliga que começa em dezembro e em abril já terminou. O resto do tempo é para a seleção. Agora, me diga, quantos atletas jogam em seleção? Quinze, 20? Esses não me preocupam. Mas e os que não chegam à seleção? O calendário é decisivo para o desenvolvimento do esporte. O perverso é ter a quantidade de garotos iniciando no Brasil afora e não dar a eles a oportunidade de jogar. Hoje, vivemos uma elitização do esporte. O garoto não se forma como atleta profissional, porque, se ele não é uma exceção ainda jovem, não tem oportunidade de seguir na carreira. Não existe democracia no esporte brasileiro. A única modalidade democrática no Brasil é o futebol. Nela, você não precisa ser jogador de seleção brasileira para viver do esporte.

É verdade que dirigentes cobravam uma espécie de pedágio dos jogadores de vôlei que queriam se transferir para jogar no Exterior?

Eu nunca presenciei isso com um atleta meu. Obviamente, eu tenho conhecimento disso, porque muitos falam. Isso pegou depois que eu fui para a Itália, em 1989, mais com a geração de Giovani, Maurício e Tande. Aconteceu tanto no masculino quanto no feminino. Isso era claro, não era escondido, não! O clube que preparava o jogador não ganhava nada e quem tomava conta do processo era a confederação. Havia um percentual que o jogador tinha de deixar na confederação para conseguir a transferência. Os jogadores nunca se manifestaram porque, no Brasil, quem contesta fica alijado. Só houve um que se levantou contra isso.

Quem?

O Badalhoca, mas a situação era um pouco diferente. Ele jogava na Itália, nos anos 80, e não queria retornar para o Brasil, mesmo sabendo que iria ganhar melhor aqui. Ele queria ficar lá pela qualidade de vida do país. Mas aí houve a pressão. Se ele não retornasse para o Brasil, não lhe dariam a carta (de transferência, que tem de ser renovada toda vez que o atleta é inscrito em um campeonato). O Badalhoca se posicionou contrário a isso, mas a turma do deixa disso o convenceu a vir para o Brasil. Não foi por dinheiro a discussão toda, mas por ele não ter a liberdade de escolha individual. O Badá é uma pessoa muito fora do comum. Hoje, mora em uma pousada em visconde de Mauá.

A sua carreira foi prejudicada por dirigentes?

Tive problemas sérios de emprego, sofri na mão de muita gente. Fui muito prejudicado na vida. Não foi à toa que passei 12 anos fora do Brasil. Fui ser técnico da seleção italiana porque fui jogado para escanteio no clube em que trabalhava no Brasil. Em 1996, havia uma dúvida de quem seria o novo técnico da seleção brasileira depois do Zé Roberto (José Roberto Guimarães). O Ary Graça, da confederação, me colocou numa lista de nomes, mas eu disse: "Deixa de hipocrisia porque todos sabem que eu não serei chamado." Eu era técnico da Olympikus e estava à frente do projeto esportivo da empresa. Aí, a Olympikus passou a patrocinar a seleção. Isso criou um problema. A CBv tinha um patrocinador, a Olympikus, que era dirigida por um


entrevista | bebeto de freitas treinador que criticava a confederação. A CBv, então, tentou me fritar o tempo todo. Saí e fui embora do Brasil. Cansa ficar defendendo as coisas e ser persona non grata sozinho. Treinei a seleção italiana e, ao terminar meu contrato, nunca mais voltei para o voleibol (retornaria em 2010 para treinar um time da Turquia). Eu não tinha mais vontade de trabalhar em um esporte com tantos problemas no Brasil.

Em qual sentido?

O sr. poderia detalhar melhor que tipos de problemas?

O sr. se arrepende de ter sido presidente do Botafogo?

Quando estava na Olympikus (entre 1996 e 1997), organizei um torneio em Campinas (SP), para o qual trouxe duas equipes italianas num quadrangular contra duas equipes brasileiras. Só que um cara de uma empresa que trabalhava para a CBv me disse: "São US$ 100 mil." Fiquei na minha e pedi que me mandasse um documento, um ofício, explicando por que eu teria de pagar isso, para eu explicar à Olympikus. Estou até hoje esperando esse documento. O torneio foi realizado normalmente, sem problemas. Aí começa a briga, que chega a um ponto tal que fica desagradável. Os caras querem passar por cima de você feito um trator.

Em algum momento de sua trajetória, o sr. foi conivente com esses problemas? Eu briguei sempre. Não fui conivente. Principalmente na defesa dos jogadores. Conivência zero! Pelo contrário, eu era a única voz dissonante. Apesar de ter brigado muito, pouca coisa mudou. A estrutura não mudou, a legislação é a mesma. vivemos uma ditadura assombrosa no esporte brasileiro.

Para ser presidente de uma Confederação Brasileira, em um país de 200 milhões de habitantes, são necessários apenas 15 votos. Não tem por que um dirigente se perpetuar no cargo por décadas. você precisa se reciclar. Esporte é uma coisa democrática. Como ser democrático passando 30 anos no poder?

Nem eu, nem seus torcedores e muito menos o clube. Eu tinha uma dívida com o Botafogo muito grande. O Botafogo sempre foi parte da minha família. Cheguei lá para jogar basquete com 12 anos. A primeira vez que eu entrei no Maracanã foi em 1957, era final entre Botafogo e Fluminense e meu tio (João Saldanha) era técnico do Botafogo. Eu não esqueço, também, porque eu estava com furúnculo e tive de levar uma almofada para sentar (risos). Tenho álbuns dos anos 80 e em algumas reportagens perguntavam o que eu gostaria de fazer no futuro. E eu dizia: ser presidente do Botafogo. Minha mãe não queria que eu me candidatasse a presidente. Ela dizia: "Não faça isso, seu tio João sofreu muito." Meu tio João saiu do Botafogo distribuindo chute em todo mundo. Tomei posse no dia 3 (de janeiro de 2003) e minha mãe morreu no dia 14.

Como se encontrava o clube quando o sr. assumiu a presidência?

O Botafogo não tinha campo para treinar, estádio para jogar. Conseguimos treinar para o Brasileiro porque o Zico emprestou seus campos na Barra da Tijuca. Caio Martins estava sem água e luz. Hidráulica, vestiário, tudo arrebentado, a piscina vazava, não havia dinheiro. Passei os três primeiros anos do mandato recebendo apenas 50% do dinheiro da cota de tevê, o que representava 98% das receitas do clube. No último ano antes de eu sair, já recebíamos 85%, que correspondiam a 64% das receitas. O clube não tinha alvará, não havia centro de treinamento. Havia 780 ações trabalhistas.

Como, então, o Botafogo conseguiu se tornar proprietário de um estádio, o Engenhão?

sobre carlos arthur nuzman, presidente do cob: “para ser presidente de uma confederação em um país de 200 milhões de habitantes, são necessários 15 votos. como ser democrático passando 30 anos no poder?”

Eu recebi um estádio em 2007 porque ganhei a licitação. O caderno de encargos era gigante. Só se entra em uma licitação pública se você estiver 100% em dia. Sabe por que os outros clubes não entraram na concorrência? Porque não podiam. O Botafogo criou uma empresa e por meio dela conseguimos o estádio. O melhor trabalho profissional que realizei foi no Botafogo. Eu fui eleito em uma terça-feira, em novembro de 2002. No sábado, o clube perdeu um jogo para o Guarani e foi rebaixado para a segunda divisão. Dez dias antes desse jogo, houve um debate na tevê com os três candidatos a presidente do clube. Perguntaram para cada um se virariam a mesa caso o Botafogo fosse rebaixado. Eu disse que, se fosse rebaixado no campo, teria de subir no campo. Os outros dois enrolaram. Aí, fez-se um estardalhaço depois. Muitos disseram que eu era o perfil de dirigente que o futebol precisava. Bom, fui eleito. Dois dias antes da minha primeira reunião no Clube dos 13, em janeiro, liga um grande cartola do futebol e me diz: "você vai ter uma surpresa." A surpresa foi que mudaram a regra de acesso à primeira divisão. Antes, subiam quatro times. No ano em que o Botafogo disputaria a segunda divisão, subiriam apenas dois. Aquele cartola havia me dito: "Nessa sua onda de ser esportista, você vai mofar na segunda divisão." Naquela segundona também estava o Palmeiras. Mas nós subimos. No ano seguinte, voltaram a subir quatro times. FOTOS: DOMINIC FAvRE/AFP | JONNE RORIZ/AGêNCIA ESTADO


O sr. foi acusado de não comprovar gastos de R$ 1,5 milhão em sua gestão.

Era só o que me faltava, depois de uma carreira vitoriosa no esporte, eu chegar ao Botafogo e me aproveitar dele. é inconcebível isso ter acontecido. Não usei o Botafogo para me beneficiar. Eu usei a minha carreira para ajudar o Botafogo. Todos sabem dentro do Botafogo que não houve sumiço de dinheiro.

O sr. é parecido com o seu tio João Saldanha em algum aspecto? Ele tinha fama de briguento.

Não. Lembro do tio João por conta da paixão. Meu tio nos anos 50 participou de revoluções comunistas, lutou dando tiro... Foi operado do apêndice na China. Na ditadura, em 1961, 1962, assuntos políticos eram discutidos na mesa de casa. Temos uma prima, que vivia na Argélia, que foi trocada por um embaixador sequestrado. Eu frequentava os países da Cortina de Ferro por causa do voleibol. E tendo um tio como um ídolo e com todas as coisas que ele aprontou por aí, para um moleque a coisa cresce.

O que o tio do sr. dizia sobre ter sido treinador da Seleção que estava se preparando para a Copa de 70 e sobre a demissão dele para a entrada de Zagallo?

Lembro dele contando pra gente que foi traído. Muitos debandaram do lado dele depois que chegou a informação de que ele não permaneceria no cargo. A Seleção, naquela época, não empolgava. O Havelange (João Havelange, então presidente da CBD, entidade máxima do futebol brasileiro) chamou o tio João para segurar as pontas, para acalmar os ânimos. Mas era um paradoxo o fato de meu tio, comunista declarado, que participou da primeira greve do ABC paulista, membro de guerrilha, ocupar aquele cargo.

Preocupa a terceira colocação do Brasil na Copa do Mundo, no ano passado, e o bate-boca, em um dos jogos, do Bernardinho com o líbero Serginho? A seleção brasileira é melhor do que as outras, mas vai perder às vezes. A Copa só valia para classificar à Olimpíada. A culpa do Bernardo, no episódio do Serginho, foi permitir que o microfone ficasse perto dele. Ele tem o direito de, antes de começar o jogo, determinar que os microfones não se aproximem dele. As pessoas têm de entender que o momento mais singular entre jogador e técnico é na hora da pressão. Não há como prevenir essas coisas.

A seleção do Bernardinho teve a imagem arranhada no Mundial de 2010 ao, para não dizer que entregou o jogo, não demonstrar vontade de vencer a Bulgária em uma das partidas. O sr. concorda com aquela atitude?

O Bernardinho fez o certo. Estive na Itália um ano antes do Mundial e especialistas em voleibol me diziam que o regulamento foi feito para favorecer a seleção italiana. Fizeram uma tramoia tamanha na tabela que todos sabiam que a Itália, no mínimo, ficaria com a quarta colocação. é que aqui no Brasil tem sempre o hipócrita de plantão. Ninguém fala que o segundo levantador da seleção, o Marlon, teve um problema de saúde seríssimo, tanto que ficou internado, e negaram ao Brasil o direito de substituí-lo. O Bruno estava gripado, com o tornozelo baleado, não estava bem antes do jogo da Bulgária. Então, para que sacrificá-lo em uma partida que não era decisiva, já que o próximo confronto era a semifinal?

sobre a decisão do técnico bernardinho, que escalou um time sem levantadores em uma partida contra a bulgária, em 2010: “se o bernardo não tomasse a decisão que tomou, ele não serviria para ser técnico da seleção. ele fez o certo”

O Bernardo poupou o jogador. Eu faria a mesma coisa. Ninguém jogou para perder ali. veja bem: você vai jogar uma partida de nível sem os dois levantadores, que fazem a função mais específica do voleibol, jogando com um oposto na posição? Era óbvio que a queda técnica e de motivação apareceriam.

Foi um jogo horroroso.

Foi, porque a Bulgária poupou seis titulares também. Eu escrevi um e-mail para o Bernardo no meio daquela confusão. Disse a ele: "Siga o seu caminho, a sua convicção, e proteja o seu time." Se o Bernardo não tomasse a decisão que tomou, ele não serviria para ser técnico da seleção. Ele fez o certo.

Se convidassem o sr. para ser técnico de vôlei no Brasil, aceitaria? Não sei.


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por Edson Franco Fotos Jo達o castEllano


d a b a l a n ç a Com fé em Deus, sem pensamentos impuros e muita DisCiplina, o naDaDor felipe frança luta Contra os quilos a mais, úniCos aDversários Capazes De tirar Dele um lugar no póDio em lonDres


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para quem preCisa Controlar impulsos, passar pela zona internacional de uma vila olímpica é um teste de disciplina. Nesse ponto de encontro de jornalistas e atletas, a tentação está por toda parte. De um lado, corpos definidos envoltos em roupas que deixam tudo em alto-relevo. De outro, quiosques de comida despejam no ar vapores cujos aromas abrem as comportas das glândulas salivares. Assim era a vila no Pan de Guadalajara, onde a reportagem da 2016 conversou com o nadador Felipe França, campeão mundial nos 50 metros peito e uma das maiores esperanças brasileiras de medalha em Londres. Evangélico dedicado, aparentemente passou pelo desfile de corpos perfeitos sem se alterar. Para ele, a grande prova ali era desviar o foco dos apelos calóricos exibidos nas vitrines das lojas de fast-food. Diante delas, seus olhos brilham com uma alegria quase infantil. E é justamente aí que reside o único obstáculo capaz de tirá-lo do pódio olímpico. Um dos quiosques da vila pertencia à Starbucks, rede americana que infla abdomens desde 1971. O semblante do nadador não deixa dúvida: ele deseja algo dali. Passeia seu olhar pelos muffins transbordando da forminha e pelas fatias de bolo com dois dedos de espessura. “Quer alguma coisa?”, pergunta o repórter. “Acho que não. Deixei

38 março 2012 | istoé 2016

a minha carteira no quarto”, responde o atleta, sem muita convicção. “Tudo bem, eu pago”, oferece o repórter. “Ah, então vou querer uma bebida. Dupla”, rende-se. Na época do Pan, França via o ponteiro da balança chegar perigosamente às cercanias do terceiro dígito. Seu 1,86 metro de altura comportava 98 quilos. Extremamente forte, sua silhueta lembrava mais a de um halterofilista que a de um nadador. Perfilado antes da largada de uma competição, destoava dos demais, mais esguios e longilíneos que ele. Mesmo assim, França ficou com o ouro nos 100 metros peito no México. Durante a infância, peso não era um problema na casa dos França. Franzino, mas já com uma estrutura óssea robusta, o futuro campeão não era muito fã de comida. Seu prato predileto era arroz, feijão, bife e salada. E tinha dias em que nem isso o apetecia. Como numa ocasião em que voltou da escola todo birrento. A mãe – que cozinha bem, segundo ele – colocou o prato na mesa. Para não ter de comer, Felipe despejou sem dó ketchup, mostarda e pimenta, até ter a certeza de que o repasto seria indigerível. Pensou estar livre do prato, mas, do alto da sua autoridade, dona Ana Cristina obrigou o menino a mergulhar naquele oceano avermelhado de condimentos. E ele comeu tudinho, mas vomitou e prometeu nunca mais fazer algo parecido.

Alguns alimentos Felipe não comia mesmo que sua mãe o ameaçasse com arma de fogo. “Não podia nem olhar para uma couve-flor”, lembra. Mas ele teve de deixar de ser mimado por volta dos 13 anos, quando seus pais foram morar em Curitiba e levaram os outros dois filhos com eles. Como Felipe já era um nadador de respeito em Suzano (município na região metropolitana de São Paulo) e decidiu continuar nadando pela cidade, passou a morar com a avó. “Daí, já viu, né? Comida de vó é aquela coisa, tudo prontinho...” Outrora cheio de nojinhos à mesa, sem a mãe por perto o futuro campeão passou a encarar tudo, de jiló a fígado. A única coisa que não come pura é rúcula. “Mas, na pizza, tudo bem.” Esse período com a avó foi responsável pelo despertar do prazer de comer no atleta. A coisa começou a desandar de verdade quando Felipe chegou aos 16 anos. Com o dinheiro que já ganhava com suas braçadas, passou a frequentar filiais do McDonald’s com uma assiduidade que o fazia chamar as atendentes pelo primeiro nome. Chegou aos 103 quilos. Hoje, o nadador trabalha com um número: 92. Com esse peso, ele afirma que dificilmente terá alguém acima de si no pódio em Londres. O grande mistério é chegar lá sem perder a força muscular explosiva, grande responsável por Felipe deixar gente mais leve pra


VIGOR a explosão muscular é a principal responsável para que, mesmo com alguns quilos a mais, Felipe supere seus adversários; o desafio agora é perder peso mantendo a força


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trás nas piscinas. Visualmente, o nadador está mais esguio do que no Pan de Guadalajara, mas ele e o técnico Arilson Soares não revelam o atual peso. Soares diz que não quer trabalhar progressivamente no que diz respeito a deixar seu pupilo mais leve. Sua estratégia foi começar o ano com um peso perto do ideal e mantê-lo até a Olimpíada. “Ele está no auge e, como está querendo emagrecer, será dele uma das seis medalhas que a natação brasileira deve trazer de Londres”, diz Fernando Scherer, o Xuxa, ex-nadador e atual comentarista. Felipe carimbou o seu passaporte para disputar os 100 metros peito na Olimpíada em julho de 2011, quando cravou 1min00s01, no Mundial de Xangai. “Chegando a 95 quilos, eu derrubo um segundo em cima desse tempo.” Se, além do ouro olímpico, o nadador quiser sonhar com o recorde mundial, terá de ir um pouco além. Hoje o detentor desse título é o australiano Brenton Rickard. No Mundial de Roma, em 2009, ele percorreu os 100 metros nado peito em 58s58. Na época do recorde, pesava os exatos 92 quilos sonhados por Felipe. A diferença é que o australiano é oito centímetros mais alto que o brasileiro. “Com esse peso, nem sei até onde eu posso chegar”, diz o brasileiro. “Imagina então quando Deus entrar em ação e colocar a mão sobre mim.” Ao falar sobre Ele, os olhos do nadador voltam a brilhar como se estivesse diante de uma vitrine de pão de queijo. Apesar de dizer que “Deus conhece a gente desde o ventre da mãe”, Felipe conta que não trouxe a religião desde o berço. Afirma ter aceitado Jesus no coração aos 14 anos, mas que, até os 21, considerava grande a distância que o separava de Deus. Hoje toda a família é evangélica. A prática começou a se intensificar de uns oito anos para cá. Os pais do nadador frequentam os templos da igreja Ágape, em Curitiba. Já Felipe escolheu a El Shaddai, em São Paulo. É graças à prática religiosa que o atleta atenua as solidões


das viagens, dos torneios e em sua casa. Ele mora sozinho em um apartamento na Vila Olímpia, bairro de classe média alta na zona sul de São Paulo. Suas horas vagas são tomadas por leituras da Bíblia e a audição de bandas dedicadas a usar pop, rock, MPB, axé e pagode para divulgar “a palavra. ” Suas preferidas são a banda Ministério Filhos da Honra e a Santa Geração, do pastor Antônio Cirilo. Tudo o que ouve nos cultos e nos CDs ou absorve nas leituras bíblicas vai parar na disciplina com que encara o esporte, na sua visão de mundo e – o que é mais detectável – no seu discurso. São ideias pouco comuns aos jovens que, como ele, têm 24 anos, mas não professam a mesma fé. “Falar palavrão é feio”, diz Felipe. “Uma pessoa fala assim na roda de amigos, mas vai a um restaurante chique com a família e não fala. Isso é uma falsidade. Deus quer transformar essa pessoa para que ela seja a mesma em qualquer lugar.” Felipe se baliza na visão de Deus para sugerir que baladas e micaretas deixem de existir. Ele diz que as pessoas que frequentam esses lugares não são necessariamente más, mas o Diabo é. E esses são locais e situações nas quais o tinhoso circularia e triunfaria. “Beijar na boca não é pecado, mas conduz ao pecado”, conclui. Felipe sonha em um dia encontrar a mulher de sua vida, mas não está empenhado em acelerar o destino. “Faz mais de dois anos e meio que eu não toco na mão de uma moça, que dirá chegar perto de beijar uma boca!” Sem pressa, ele diz que a escolhida está neste exato momento em algum lugar por aí. E não basta que ela seja bonita aos olhos do nadador. “Deus tem tudo escrito e sabe se determinada mulher será a melhor para mim”, afirma o nadador. “Ela terá de me fazer feliz todos os dias.” Algumas de suas convicções são carregadas de preconceito. Para Felipe, homossexualismo é uma prática abominável aos olhos de Deus. “Mas Ele ama aquela pessoa e a coloca em

FÉ e FORça Feliz entre seus "irmãos", Felipe participa de um culto da igreja evangélica el Shaddai (à esq.); acima, exibe um físico incomum para um campeão de natação

“Com 92 quilos, eu nem sei até onde posso Chegar. imagina quando deus entrar em ação e ColoCar a mão sobre mim”

41 março 2012 | istoé 2016


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nossas vidas para que a restauremos, para que promovamos uma transformação nela”, afirma. “Ser homossexual não é uma opção.” A compaixão e o perdão povoam o coração do nadador. Em especial, quando relacionados a seus irmãos de fé. Em janeiro de 2007, os líderes da igreja Renascer – o casal Sônia e Estevam Hernandes – tentaram entrar nos Estados Unidos com US$ 56.467 em dinheiro, parte dele escondido em uma cavidade aberta em uma Bíblia. Foram presos. Apesar de acreditar que existem pastores guiados pelo diabo, Felipe afirma que o casal é humano e foi conduzido à falha. “Não há erro que Jesus não perdoe”, afirma. Espero que tenham aprendido com essa situação. Que tenham dobrado os joelhos e pedido perdão.” Quem vê o menino comportado e religioso de hoje não imagina o quanto Felipe foi uma criança “arteira”. Nascido em Suzano, ele teve uma infância com a qual todo menino sonha. Subia em árvore, corria no alto de muros, brincava na rua, jogava futebol, fazia peraltices e, com o auxílio dos irmãos, Davi Júnior e Maísa, ajudava a embranquecer os cabelos dos pais, o contador Davi e a professora aposentada Ana Cristina. Apesar de tanta atividade, o jovem não teve culpa na única vez em que se machucou seriamente. Em um fim de semana, quando ele tinha 8 anos, a família inteira estava andando de bicicleta, em fila indiana, pelas ruas de Suzano. De repente, por pura inabilidade, uma aluna de autoescola arremessou um Fusca sobre a família. Acertou apenas Felipe, que fraturou o pé. Durante os dois anos seguintes, ele não conseguia alongar o órgão. Com fisioterapia e tratamento, resolveu o problema e evitou que o País perdesse tão cedo aquele que hoje é seu maior peitista.

Mesmo durante o período de recuperação, dava trabalho distribuir toda a energia gerada pelo futuro campeão, lição que sua mãe aprendeu quando ele tinha 3 anos de idade. Foi quando decidiu colocar o menino para aprender natação no clube da cidade. Os dois irmãos – um mais velho e a outra mais nova – também estavam matriculados, mas acabaram desistindo. Felipe pensou em sair também, apesar de os primeiros resultados positivos estarem aparecendo. “Eu ainda não tinha noção do que era tudo aquilo, do que era ser campeão com 7 anos de idade.” Para incentivá-lo, havia a carreira do tio Marcos Vinicius Vieira, que hoje vive no Japão. Nos anos 1980 – época em que Ricardo Prado reinava nas piscinas –, ele foi medalhista do Troféu Brasil nos 200 metros borboleta e nos 400 metros livre. “Mas ele não conseguiu dar o salto que estou dando agora”, diz Felipe. “Na época, a estrutura de Suzano era muito ruim e meu tio deixou de ir a Mundiais por não ter hotel ou comida.” Felipe aprendeu as lições do tio e deu seu salto bem cedo. Logo depois de se recuperar da fratura no pé, passou a colecionar medalhas em torneios estaduais e regionais. Aos 13 anos, faturou seu primeiro título nacional na categoria infantil 2. Isso mudou tudo na vida do rapaz que, até então, não se considerava especialmente talentoso. Passou a ter fé em si e a pegar gosto pelas competições, mas do jeito dele. Sempre considerou que os maiores adversários são seus próprios limites. Ser campeão brasileiro

colocou na cabeça do menino que seria possível disputar uma Olimpíada. Na mesma época, o técnico Edson Peixe – que até hoje ajuda a formar atletas em Suzano – descobriu que o nado de peito era a praia do atleta. O nadador dividia as atenções do técnico com um xará seu, Felipe Gusmão. “Ele era melhor que eu, mas fui baixando meu tempo”, diz o campeão mundial. “Um dia, eu venci. E aí, um abraço. Uma característica minha é que eu jamais perco para quem eu já deixei pra trás.” Com os pais morando em Curitiba e depois de ter passado pela casa da avó, Felipe acomodou-se no alojamento da equipe de natação da cidade. Eram 13 rapazes – o mais velho tinha 26 anos – dividindo a mesma casa. Uma bagunça, mas um estágio necessário para que o jovem nadador passasse a se virar sem a tutela de um parente mais velho. “Eu chorei algumas noites por estar longe da minha família.” Foram quatro anos em que ele aprendeu a fazer a própria comida, a cuidar de si e a deixar seu canto no alojamento minimamente habitável. A chance de mudar apareceu aos 18 anos. Felipe já conhecia o técnico Arilson Soares, que trabalha no Clube Pinheiros, em São Paulo. Mandou seu currículo, marcaram uma reunião e o clube ganhava um novo nadador. Estrela em Suzano, no Pinheiros ele era apenas o quinto melhor peitista. Tinha de ralar para se destacar. Começou sem ganhar nenhum centavo pelo seu esforço, mas, no final do primeiro ano, já recebia R$ 200 por mês. Valor que foi subindo à medida que ele conquistava pódios e eliminava parte dos 103 quilos com que chegou ao clube. Tudo com a ajuda de Deus, do técnico, dos médicos e dos fisioterapeutas que hoje tem à disposição e que podem deixá-lo com 92,5 quilos (os 500 gramas a mais são o peso da medalha em Londres).


Fel ipe Al ves FrA nçA dA silvA Nascimento 14 de maio de 1987, em suzano (sp) Peso 98 kg (tomara que, a esta altura, esteja com 6 kg a menos) altura 1,86 m Clube pinheiros especialidades 50 m e 100 m peito Livro bíblia Hobby cinema Filmes um sonho possível, a paixão de Cristo e space Jam Principais conquistas: ouros no pan de guadalajara-2011 (100 m peito e 4 x 100 m medley) e ouro no mundial de esportes aquáticos de Xangai-2011 Herói na água Cesar Cielo Herói no céu Deus Herói na Terra ainda não escolheu


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IMENSIDÃo aZUl aINDa HÁ UM loNGo CaMINHo para QUE o NaDo SINCroNIZaDo BraSIlEIro rIValIZE CoM aS prINCIpaIS EQUIpES Do MUNDo, MaS INtErCÂMBIo CoM trEINaDoraS EStraNGEIraS E MElHorIa Da INFraEStrUtUra No paÍS CoMEÇaM a traZEr rESUltaDoS por PEDRO MARCONDES DE MOURA fotos JONNE RORIZ


MErGUlHo JĂŠssica Noutel, lorena Molinos, pamela Nogueira e Giovana Stephan (da esq. para a dir.): diďŹ culdade para conciliar estudo, vida pessoal e treinamento


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Embaixo d´água, Elas parEcEm contrariar as lEis da física. Sem tocar no piso da piscina, equilibram-se umas sobre as outras para formar posições complexas da ginástica, desmanchando-as em seguida com acrobacias inspiradas nos saltos ornamentais. Depois, desaparecem num mergulho suave e, longe da vista do espectador, se preparam para realizar a nova coreografia. Na sequência, voltam à tona para exibir, precisamente no mesmo ritmo, movimentos de mãos e pernas construídos a partir de elementos da dança e embalados por uma trilha sonora que precisa cativar árbitros e espectadores. Ao cabo do tempo preestabelecido, as bailarinas aquáticas encerram a apresentação com um enorme sorriso – e sem uma falha sequer na maquiagem e nos cabelos milimetricamente presos em um coque digno de estrelas de cinema. Para desfrutar desses curtos momentos, as atletas da equipe brasileira de nado sincronizado enfrentam uma rotina bem menos glamourosa. Com idades entre 15 e 23 anos, elas tentam conciliar estudo, vida pessoal e uma carga horária semanal de 40 horas de treinamento. O dia a dia de Giovana Stephan, 21 anos, uma das atleta mais experientes do conjunto brasileiro de nado sincronizado, é o retrato dessas dificuldades. De segunda a quinta-feira, Giovana realiza um turno de cinco horas de treinamento no período da tarde. Às sextas-feiras e aos sábados, trabalho dobrado. Pelo menos cinco vezes por ano, ela deixa o País para ir a competições internacionais ou realizar intercâmbios. Ao mesmo tempo, defende o seu clube, o Flamengo, em torneios nacionais e se esforça para terminar a faculdade de economia na PUC-RJ. “A gente sabe que precisa abrir mão de muita coisa”, diz Giovana. “Faço nado sincronizado porque amo mesmo


o esporte”, completa a garota, que no ano passado trancou a matrícula na universidade para, assim como as outras colegas, dedicar-se em tempo integral ao treinos que antecederam a participação do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. O sacrifício surtiu efeito: tanto no conjunto quanto no dueto, as duas provas da modalidade que valem medalha olímpica, as brasileiras repetiram os bronzes obtidos no Rio de Janeiro, em 2007, e em Santo Domingo, em 2003. Da mesa de arbitragem na lateral da piscina, Kátia Regina Ponciano acompanha de uma posição privilegiada os rumos do nado sincronizado brasileiro. Com cada vez mais frequência, ouve comentários positivos de outros juízes da Federação Internacional de Natação (Fina) sobre a evolução das apresentações das compatriotas nas rotinas livre e obrigatória, que, somadas, geram o resultado das competições. Apesar de figurar na 12ª posição mundial nas provas do dueto e por equipe, disputada por oito atletas na piscina, as notas crescem anualmente. “Somos espelho para as nações latinas”, diz Kátia. “Com relação a outros continentes, ainda temos muito a aprender.” Segundo Kátia, a defasagem é reflexo da histórica falta de investimentos no esporte, trazido ao Brasil pela professora e nadadora olímpica Maria Lenk, na década de 40. Ao assumir a supervisão técnica do esporte em 1996, Sonia Hercowitz detectou um cenário devastador. O País tinha apenas quatro federações – duas delas praticamente paralisadas – e menos de 300 praticantes, distribuídos entre clubes cariocas e paulistas. Faltavam técnicos, já que, com exceção da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o nado sincronizado não fazia parte da grade do curso de educação física de nenhuma faculdade. “Colocamos como meta difundir o nado sincronizado no País”, afirma Sonia. “Só teremos qualidade se houver quantidade.” Para reverter o cenário, iniciou-se um processo de criação de federações. Hoje, elas totalizam 17. As competições nacionais passaram a contar com um nível B, uma espécie de segunda divisão, e a ocorrer em Estados

para o alto Maria Eduarda Werneck (à esq.) e Joseana Martins: meta da confederação é terminar os Jogos de 2016 entre os seis primeiros lugares

47 março 2012 | istoé 2016


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giovana stEphan A mineira Giovana Stephan, 21 anos, é uma das atletas mais experientes do conjunto sênior brasileiro, do qual faz parte desde 2005. Com uma combinação de força física e técnica apurada, conquistou medalhas em diversas competições individuais pelo mundo, como no Aberto da Alemanha disputado em janeiro. Em seu currículo, possui também dois bronzes em Jogos Pan-Americanos, obtidos em Guadalajara e no Rio de Janeiro.

maria Eduarda WErnEck Conhecida pela regularidade, Maria Eduarda Werneck, 20 anos, é sempre lembrada por treinadores e árbitros pela forma como se destaca nas apresentações do conjunto brasileiro. Além de ter impulsão acima da média, a nadadora do Flamengo faz dos movimentos de perna um espetáculo à parte.

pamEla noguEira Aos 23 anos, a carioca Pamela Nogueira ostenta o título de integrante mais velha do conjunto brasileiro. Atleta do Tijuca Tênis Clube, chegou à categoria adulta em 2006. No Pan de Guadalajara, repetiu o feito do Rio de Janeiro e conquistou sua segunda medalha de bronze na competição.


fora do Sudeste com o claro objetivo de motivar novos atletas. Houve também um investimento massivo na formação de treinadores, que agora podem cursar um nível básico em aulas virtuais no site da confederação para depois passarem por clínicas com especialistas. Não à toa, atualmente existem no País mais de mil praticantes da modalidade e na seleção já há representantes do Norte e Nordeste. Com as piscinas menos vazias, os dirigentes passaram a direcionar o foco para a melhora da performance em competições mundiais, visando à Olimpíada do Rio de Janeiro de 2016, quando o dueto e o conjunto nacional terão vaga garantida. Desde o ano passado, o País dispõe de um centro de treinamento de alto rendimento para a modalidade, o Parque Aquático Maria Lenk. Herança dos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, o local possui, além da piscina, uma moderna sala de musculação, espaço de descanso e refeitório para que o atual elenco da seleção, formado por 17 meninas (cinco delas alçadas da categoria de base), tenha as mesmas condições de treinamento das principais potências do esporte, como Rússia, China, Espanha, Canadá e Japão. No complexo Maria Lenk, além da treinadora Maura Xavier, as atletas contam com o acompanhamento de médicos, preparador físico, instrutor de saltos ornamentais, nutricionista e psicólogo.

JosEanE martins Ex-praticante de ginástica olímpica, a morena Joseane Martins ganhou reconhecimento internacional pelas suas acrobacias dentro d´água. Tornou-se um dos pontos fortes da equipe brasileira na conquista da medalha de bronze na última edição do Pan. Recentemente, resolveu dar uma guinada. Foi morar nos Estados Unidos para se dedicar a uma temporada de apresentações no parque temático SeaWorld.

Jéssica noutEl Caçula da equipe brasileira que foi medalha de bronze no Pan de Guadalajara, Jéssica Noutel, 18 anos, é tida como o maior talento da nova geração. A atleta do Flamengo chama a atenção pela força física e impulsão. Sua experiência internacional contrasta com a pouca idade. Foi finalista nos mundiais de juniores dos Estados Unidos, em 2010, e da Rússia, em 2008.

lorEna molinos Atleta de alta técnica, Lorena Molinos, do Flamengo, é uma das esperanças para o futuro do esporte no Brasil. Aos 21 anos, tem como marca ser extremamente detalhista nos movimentos desenvolvidos na piscina.


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para SaIr Da SoMBra as meninas da selecão brasileira no Complexo Maria lenk: elas contam com o apoio de médico, nutricionista e psicólogo

Outra preocupação constante para aprimorar o rendimento do nado sincronizado é ampliar o contato das atletas com nações melhores ranqueadas. Com esse propósito, foi criado o Brasil Open, prova disputada anualmente no Rio de Janeiro com a participação das principais seleções. A maior evolução, porém, é resultado da consultoria de técnicas estrangeiras. Considerada a melhor do mundo, a comandante da Rússia, Tatiana Pokrovskaia, se tornou figura presente no aprimoramento das brasileiras. Todos os anos, ela vem ao Brasil ou recebe as atletas, fazendo sensíveis mudanças nas coreografias. O intercâmbio é tão grande que, em fevereiro, Tatiana colocou o dueto verde e amarelo para treinar junto com suas pupilas. Outra lenda do nado, a canadense Leslie Sproule, recebe semanalmente um vídeo com a evolução dos treinamentos. Depois, analisa e sugere novos exercícios – que são imediatamente incorporados pelas nadadoras brasileiras. O investimento parece tardio para a Olimpíada deste ano em Londres. A própria técnica do conjunto brasileiro reconhece que dificilmente suas atletas estarão presentes na competição. “A gente tenta até o final, mas sabe que só vamos nos classificar se der zebra”, afirma Maura Xavier. Apenas oito equipes disputarão a prova, sendo que há somente três vagas para serem definidas no Pré-Olímpico, que ocorrerá em abril na capital inglesa. No dueto, em que ainda restam 19 vagas, Lara Teixeira e Nayara Figueira deverão assegurar a participação em sua segunda Olimpíada. Basta que repitam no torneio classificatório suas últimas exibições. Entre os dirigentes brasileiros, existe uma clara esperança de que elas superem a 12ª posição obtida pelas irmãs gêmeas Carolina e Isabela de Moraes nos Jogos de Sydney, em 2000, e de Atenas, em 2004. Apesar da evidente evolução, a modalidade padece de problemas comuns do esporte considerado amador. Sem patrocínios individuais, as competidoras recebem uma ajuda das agremiações que representam e uma bolsa governamental

Em 1996, o brasil contava apEnas com quatro fEdEraçõEs dE nado sincronizado. HojE, são 17. Embora ainda longE do idEal, o númEro dE praticantEs do EsportE já cHEga a mil no país

complementada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). O valor, guardado a sete chaves para não causar ciúme, não é suficiente para reter as atletas, que se aposentam no auge da forma para cuidar de suas vidas. Recentemente, Joseane Martins, principal acrobata da equipe, abandou a seleção para fazer exibições em um parque temático nos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, a integrante mais velha da equipe nacional, Pamela Nogueira, tem 23 anos. Na Espanha, potência da modalidade, a nadadora Gemma Mengual encerrou sua carreira competindo em alto nível até os 34 anos. Os dirigentes têm pressa em superar as barreiras. Para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, foi estabelecida uma meta ambiciosa: estrear no grupo das seis maiores forças do esporte. O caminho é longo, mas a largada já foi dada.

Styling: l. a. Braga Junior - Imagemakers agradecimentos; SeaSub, agua de Coco, adriana Degreas, tigresse, triton, Coca Cola


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O RiO dá pedal Nossa repórter sai de bicicleta de sua casa em são paulo, embarca o veículo No avião, pedala por dois dias Na capital carioca e coNclui: hoje, a cidade é maravilhosa para ciclistas, mas será aiNda melhor em 2016

Por Renata Falzoni Fotos Caio Guatelli Produção João GuilheRme laCeRda


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QuaNdo a 2016 me propÔs visitar as locaÇÕes da olimpíada de bicicleta, de cara topei e Quis ir além: “Não precisa mandar carro me pegar nem alugar uma bike lá. Saio de casa pedalando, embarco em Congonhas com a minha bicicleta, voo até o Santos Dumont e, em dois dias, com algumas caronas em trem, ônibus e metrô, visito tudo.” Feito o acordo, me preparei e, numa manhã de sábado, saí bem cedinho – na companhia do fotógrafo Caio Guatelli e do produtor João Guilherme Lacerda, ambos ciclistas – e cumpri os quatro quilômetros que separam o bairro do Itaim do aeroporto de Congonhas, passando pela movimentada avenida 23 de Maio. No aeroporto, em oito minutos a bicicleta aro 20 dobrável já estava embalada. Entrei no avião e

parti para a viagem que me daria uma certeza: o Rio é muito mais amigável para o ciclista que São Paulo. E será melhor ainda até 2016. Em território carioca, montamos nossas bicicletas no saguão do aeroporto e pedalamos direto até a cabeceira da pista, em direção à Escola Naval. Dali, fomos para o centro. Pelas ruas congestionadas da Cinelândia, passamos em frente ao Theatro Municipal, a Câmara, as ruínas dos prédios que desabaram em janeiro passado e fomos até os Arcos da Lapa. Depois, num pulinho chegamos ao Sambódromo, onde em 2016 vai rolar a largada e a chegada da maratona. Está prometida uma necessária revitalização do seu entorno, com adequação de calçadas e ciclovias. O foco deve ser a acessibilidade. Afinal, além da Olimpíada, a cidade vai abrigar a Paraolimpíada.

Mais adiante, encontramos as ciclovias da região do Maracanã, sede da abertura e do encerramento da Olim- píada. Parece que as pistas estão jogadas ao léu, mas não estão. Elas fazem parte do Plano Diretor Cicloviário que a cidade vem cumprindo há 15 anos. Segundo o subsecretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Altamirando Moraes, o Rio é a metrópole brasileira que proporcionalmente emite menos CO2. Por diversos motivos: não é um polo industrial, tem 4% de suas viagens feitas em bicicleta e sua população anda mais de transporte público do que individual. A cada ano, “apenas” 1,9 tonelada de carbono é lançada por habitante. São Paulo lança 6 e Washington, capital dos Estados Unidos, 19. “Em 2009, a cidade dispunha de 150 quilômetros de ciclovias”, diz José Lobo, diretor da


paRa peRcORReR Os 9 km que sepaRam O maRacanã dO engenhão, OptamOs pelO tRem. de lá até jacaRepaguá, Onde seRá O paRque OlímpicO, sãO 20 km, tRanspOstOs em uma hORa de ônibus pela linha amaRela

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março 2012 | istoé 2016


sustentabilidade

pelas paredes piscina abandonada vira pista para praticantes de freestyle no bairro do Flamengo, Ăşltima escala do nosso passeio de bicicleta pelas ruas do rio de Janeiro


Associação Transporte Ativo, entidade que integra o Grupo de Trabalho Municipal da Ciclovia do Rio. “Hoje está com 280 e pretende fechar 2012 com 300 quilômetros.” A distância entre o Maracanã e o estádio João Havelange, o Engenhão, é de nove quilômetros. O trem da Central do Brasil é a melhor forma de chegar lá. Nossas bicicletas dobradas não são problema. O drama é a catraca. Não há espaço para passar uma mala, que dirá uma bicicleta dobrada. Um cadeirante, nem pensar! Existe uma porta lateral, mas ela fica trancada e o fiscal, acredite, estava sem as chaves. Conclusão: passamos as bicicletas por debaixo da grade que fica para fora da mureta, em uma manobra arriscada. O trem foi rápido e levou 30 minutos entre o Maracanã e Engenho de Dentro, onde fica o João Havelange. Do Engenhão até o Parque Olímpico do Rio, na Lagoa de Jacarepaguá, são 20 quilômetros pela Linha Amarela. Desta vez, trocamos o trem pelo ônibus. Foram 20 minutos de espera, mais uma hora de viagem, com direito a cruzar a favela Cidade de Deus. Os motoristas cariocas demonstram mais paciência do que os paulistas para o embarque de bagagens volumosas. Saltamos no canteiro central da avenida Ayrton Senna, a uns 3 quilômetros do autódromo. Sob um calor fortíssimo, fizemos uma parada em uma loja de conveniência e estacionamos as bicicletas dentro dela, no conforto do ar-condicionado, sem enfrentar qualquer problema. O carioca não é “bikefóbico”. A luz do fim da tarde embelezou ainda mais a região do futuro Parque Olímpico e o Centro de Imprensa. Um cenário de


sustentabilidade

cinema cercado pelo Parque Nacional da Tijuca, a Lagoa de Jacarepaguá e o Morro da Boa Vista. As distâncias entre as locações do Parque Olímpico são perfeitas para bicicletas. Tudo plano, perto para ciclistas e longe para quem vai a pé. A solução ideal de deslocamento, que até hoje nunca vi em uma Olimpíada, são as bicicletas compartilhadas. Em Atenas 2004 e em Pequim 2008, teria sido muito inteligente, além dos ônibus oficiais que demoram muito a passar, o fornecimento de bicicletas aos jornalistas. Muitos irão preferir seus carros, pois seus equipamentos são pesados. No entanto, já existe uma galera que trabalha leve. A tecnologia faz com que peso não signifique necessariamente mais qualidade. Pela avenida Salvador Allende, pedalamos forte por 14 quilômetros, na direção sudoeste, até o Pontal. Ao longo do caminho, uma ciclovia perdida surgia, às vezes na calçada, às vezes no canteiro central. A última luz do dia foi no Pontal, fim da praia do Recreio. Do Pontal até Copacabana são 40 quilômetros. Fomos de ônibus, no interior do qual passamos duas horas. Poderíamos ter seguido pela ciclovia, onde hoje o único obstáculo é a subida do Joá entre a Barra e São Conrado. Para 2016, a promessa é que esses trechos estejam interligados.

No dia seguinte, nublado de garoa, saímos de Copacabana direto para a Lagoa Rodrigo de Freitas, tudo por ciclovias. Ao longo do caminho, vários pontos de bicicletas de aluguel. Atualmente são 60 na cidade. Cada um comporta dez bicicletas. Aos domingos, a demanda é maior que a oferta. Há filas de espera. “A prefeitura vai fazer uma licitação para mais 200 pontos, ao mesmo tempo em que vamos criando infraestrutura para que as pessoas se desloquem em segurança”, diz Altamiro Moraes. Já faz uns dez anos que os carros não circulam na rua mais próxima ao mar, aos domingos, desde o Leblon até o Flamengo. Vários desses pontos de bicicletas de aluguel estão localizados sobre vagas de carros. É o resgate do espaço público, antes reservado para o benefício de apenas alguns poucos cidadãos apenas. São oito quilômetros de ciclovia partilhada com pedestres ao redor da Lagoa, onde acontecerão as provas de remo e canoagem. Um píer temporário com capacidade para dez mil espectadores será construído, mas o legado é contestado: “O que foi feito para o Pan não durou e até hoje não temos nem uma raia sequer para treinar”, diz Alexandre Fernandes, técnico de remo.

Da Lagoa Rodrigo de Freitas, passando por Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo, Flamengo, vamos ao aeroporto Santos Dumont, tudo por ciclovia. São 16 quilômetros e o Rio já conta com essa estrutura desde 1996. O Forte de Copacabana sediará a maratona aquática e o triatlo. A corrida e o ciclismo serão na orla e os cinco mil espectadores sentarão de frente para o mar, em uma arquibancada provisória. Outra megaestrutura provisória será a do vôlei de praia, o Estádio de Copacabana, para 12 mil pessoas. Para finalizar nosso giro, uma passada pela Marina da Glória, local das provas de vela. Dali, redobramos nossas bicicletas, entramos no avião e passamos a contar os números de nossa pequena epopeia. Foram 858 quilômetros de avião, 50 de ônibus e 9 de trem. De bike, rodamos 60 quilômetros – de longe, os mais prazerosos da viagem.

58 março 2012 | istoé 2016


boxe

uma porrada de baianos


AposTA nascido em salvador, everton lopes é tricampeão brasileiro e campeão mundial da categoria meio-médio ligeiro. para o técnico, ele é medalha certa em londres

A gingA eles pegArAm dA cApoeirA e A forçA É Um misTÉrio QUe ningUÉm sABe eXplicAr. como A BAhiA, TerrA de popó, se TornoU A mAior formAdorA de BoXeAdores do BrAsil – e QUem são os novos lUTAdores BAiAnos QUe vão defender o pAÍs nos Jogos de londres

por tom cardoso fotos toni pires


boxe

“dei uma surra HisTÓriCa em um suJeiTo Que me mandaVa ir para a CoZinHa. Foi assim Que me Tornei boXeadora de Verdade” adriana

araÚJo,

FaVoriTa

ao

pÓdio

em

Londres


Toda criança baiana cresce luTando capoeira, cerTo? Nem tanto. A dança africana, amplamente disseminada em Salvador, vem perdendo espaço para um esporte que hoje, na contramão do que ocorre no restante do País, virou mania entre jovens da periferia da capital baiana: o boxe. O fenômeno ignora até mesmo a forte popularização do vale-tudo, modalidade de luta responsável pela decadência da nobre arte. Na Bahia, para cada lutador de MMA (artes marciais mistas) revelado, nasce um grande nome do boxe amador. Não por acaso, dos boxeadores brasileiros já classificados para a Olimpíada de Londres, em julho, dois têm boas possibilidades de subir ao pódio. Ambos são soteropolitanos: Everton Lopes (médioligeiro) e Robson Conceição (peso leve), considerados os maiores talentos do boxe amador brasileiro nos últimos tempos e com grandes chances de quebrar um incômodo tabu. O Brasil não ganha uma medalha no boxe desde 1968, quando o peso-mosca Servílio de Oliveira conquistou o bronze nos Jogos da Cidade do México – é a única medalha olímpica do boxe brasileiro, muito pouco para o país do campeão mundial Éder Jofre. Além de Lopes e Conceição, mais cinco baianos são favoritos em suas categorias por uma vaga em Londres: Robenilson de Jesus (peso-galo), Elber Passos (meiopesado), Paulo Carvalho (mosca-ligeiro), Adriana Araújo (peso leve) e Érica Matos (peso-mosca). Os marmanjos disputam o pré-olímpico de boxe no Rio, dos dias 11 a 20 de maio. Já Adriana e Érica vão ao mundial da China, também em maio, em busca da vaga olímpica. Como explicar a ascensão do boxe baiano? Basta uma volta pela periferia de Salvador para entender o fenômeno. Com o crescimento vertiginoso da classe

C na última década, especialmente no Nordeste, aumentou o número de academias instaladas em bairros suburbanos da capital baiana. Em paralelo ao crescimento econômico, a Bahia assistiu ao surgimento do último ídolo do boxe brasileiro: Acelino “Popó” Freitas, campeão mundial em duas categorias. Quando o MMA apareceu com força na Bahia e revelou nomes como os gêmeos Minotauro e Minotouro, o boxe, ao contrário do que se imaginava, se fortaleceu. Os dois lutadores aplicam jabs, diretos e cruzados com notável eficiência, a ponto de a técnica adquirida na nobre arte fazer toda a diferença quando a dupla sobe ao ringue. Entre as mais de 150 escolinhas de boxe espalhadas por Salvador, nenhuma conseguiu resultados tão expressivos quanto a Champions, localizada no bairro Cidade Nova, na periferia de Salvador. É ali que treinam Everton Lopes, Robson Conceição, Robenilson de Jesus, Adriana Araújo e outras estrelas do boxe amador baiano, além de centenas de crianças carentes da região. São todas crias do proprietário da Champions, o ex-boxeador Luiz Carlos Dórea, um baixinho fora de forma que virou treinador por força do acaso. Em 1986, aos 20 anos, havia acabado de conquistar um título internacional quando a morte de seu técnico o pegou de surpresa. Sem lugar para treinar, resolveu abrir, em 1988, uma academia na garagem de sua casa. “O boxe estava no auge, com Mike Tyson quebrando a cara de todo mundo, e quando percebi minha academia estava cheia de gente”, diz Dórea. O negócio começou a ficar sério quando Dórea treinou seu primeiro campeão: Luis Claudio Freitas, medalha de bronze (categoria mosca) nos Jogos Panamericanos de Havana, em 1991. Quem faria história, porém, seria o irmão mais novo de Luis Claudio, Acelino “Popó” Freitas. Dórea calcula que, em 22 anos, treinou cerca de sete mil crianças, boa parte delas vivendo abaixo da linha da pobreza – muitas envolvidas com crack e outras drogas. “O que me orgulha mesmo, mais do que treinar futuros campeões, é tirar crianças da marginalidade”, diz Dórea. O treinador aposta alto em alguns de seus

pupilos. É o caso de Everton Lopes, 23 anos, tricampeão brasileiro de boxe, medalha de prata no Pan-Americano do Rio, em 2007, bronze no Pan de Guadalajara, em 2011, e atual campeão mundial (o primeiro da história do boxe amador) da categoria meio-médio ligeiro (até 64 kg), ao bater, em outubro do ano passado, o ucraniano Denys Berinchyk, em Baku, no Azerbaijão. “O Everton vai ganhar uma medalha em Londres, não sei qual será, mas ele vai ganhar”, afirma Dórea. “Pode me cobrar depois.” Everton Lopes, que mora e treina em São Paulo, é mais prudente que seu treinador. “Vamos dar um passo de cada vez”, diz. “Ainda não caiu a ficha do título mundial. Quando eu era criança, sempre me imaginei como um campeão mundial, mas não era de boxe, não.” Lopes queria ser jogador de futebol. Habilidoso, chegou a passar em um teste no Vitória, um dos times mais populares da Bahia. Quando estava a um passo de se tornar profissional, sua mãe o convenceu a largar o futebol e se dedicar apenas ao boxe. Pura intuição de mãe. “O engraçado é que a minha mãe nunca teve coragem de assistir, pessoalmente, uma só luta minha”, diz Lopes. “Só pela televisão, e olhe lá. Ela fica muito nervosa.” Por coincidência, outro pupilo de Luiz Dórea também quase se tornou jogador do Vitória. Robenilson de Jesus, 24 anos, medalha de bronze (na categoria pesogalo) no Pan de Guadalajara, em 2011, chegou a ser aprovado na peneira como meia-direita do juvenil do rubro-negro baiano. “Eu tinha que viajar bastante e minha mãe também não deixou”, afirma Jesus. “Desanimei e passei a treinar boxe na Champions." O Vitória poderia abrir uma ação de perdas e danos contra Luiz Dórea. Além de Everton Lopes e Robenilson de Jesus, outra cria da Champions abandonou o time baiano para se dedicar apenas ao

63 março 2012 | istoé 2016


boxe

boxe. Adriana Araújo, 30 anos, pentacampeã pan-americana, um dos maiores talentos da história do boxe feminino amador, se viu obrigada a deixar os treinos no Vitória para estudar e trabalhar. Para descontar a raiva, acabou na academia de Dórea. Não adiantou muito. “No início, como era sparring (pugilista que ajuda no treinamento de outro boxeador) de um menino folgado, apanhei muito mais do que bati”, afirma Adriana. “E ainda tinha que aguentar o machismo do cara, que me mandava voltar para a cozinha.” O aprendizado foi duro, mas funcionou. “Ali comecei a virar boxeadora de verdade”, diz Adriana. “Treinei muito, até dar uma surra histórica no sujeito, na frente de todos os alunos. Ele nunca mais lutou boxe depois daquele dia.” Adriana é uma das favoritas ao pódio em Londres. Está no auge. Recentemente, conquistou a medalha de ouro na

categoria peso leve em um torneio no Cazaquistão, que contou com a presença de atletas de vários países. Adriana venceu a pugilista da casa por incontestáveis 12 a 0. A popularização das academias não é a única explicação para o impressionante número de boxeadores baianos de talento. Uma análise, digamos, mais antropológica vem de outra revelação do esporte, o também soteropolitano Robson Conceição, 23 anos, medalha de bronze no Pan de Guadalajara, na categoria leve. Conceição garantiu sua vaga em Londres ao bater o atual campeão mundial de boxe amador, Vasyl Lomachenko, em um combate histórico, decidido nos últimos segundos (20 a 19 para o brasileiro). Para ele, o segredo está na capoeira. “Você nunca reparou na nossa ginga, no nosso jogo de pernas?”, pergunta. “Só baiano sabe bailar assim.”


“ComeCei a Treinar boXe por aCaso. eu JoGaVa FuTeboL no ViTÓria, mas, Como TinHa Que ViaJar muiTo, minHa mÃe nÃo deiXou. o JeiTo Foi ser boXeador" robeniLson medaLHa

de de

bronZe

gingA os baianos Adriana Araújo (à esq.) e everton lopes: a capoeira melhorou o jogo de perna deles

Jesus no

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GuadaLaJara


responsabilidade social

v d street fighter graças a um projeto da ONg do ex-judoca flávio Canto, rafaela silva parou de brigar nas vielas de Cidade de Deus, aprendeu lições de disciplina e mudou sua vida

66 março 2012 | istoé 2016


virada de jogo Com ajuda de oNGs e projetos soCiais, joveNs

esperaNças do esporte brasileiro dizem adeus à miséria e Começam a peGar Gosto pelo pódio

por flávio costa Fotos daniel martins (agência olhares)

rafaela arrumava confusão nas vielas da cidade de deus, no Rio de Janeiro, mas agora derruba adversárias nos tatames. Até os 7 anos de idade, Marivana, por mais que tentasse, não conseguia andar. Hoje, é para-atleta com força para lançar discos e pesos a metros de distância. Kananda gostava de correr e pular na pista da escola em Ourinhos, interior paulista, e hoje usa sua velocidade para driblar adversárias e fazer pontos nas quadras de basquete. Com enredos diferentes, suas histórias têm três pontos de intersecção: elas são jovens, vieram de famílias pobres e deixaram para trás duríssimos obstáculos. Para seguir adiante, contaram com o apoio de organizações não governamentais e projetos sociais voltados ao esporte.

Criado pelo ex-judoca Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas 2004, o Instituto Reação tem 1,2 mil alunos em cinco centros na cidade do Rio de Janeiro. “A ideia é utilizar os valores do judô, inspirados no Bushido (código dos samurais), para formar cidadãos”, diz Canto. Aos 19 anos de idade, Rafaela Silva é um exemplo de como a filosofia pregada pelo ex-judoca pode funcionar. Por meio do judô, ela domou sua rebeldia e ganhou um sentido para sua vida. “Eu procurava briga na rua, não sabia o que era disciplina”, diz Rafaela, criada na Cidade de Deus, comunidade carioca estigmatizada pela violência e o tráfico de drogas. O pai da futura atleta procurou a associação de moradores da favela em busca de atividade para a filha. Foi apresentado


o

responsabilidade social

ao Instituto Reação. A menina entrou e aprendeu rápido. Aos 12 anos já era destaque nas categorias juvenis. Um ano depois, ela quebrou o braço esquerdo durante um treino. O fantasma do fracasso passou a assombrar. “O judô é um esporte de contato, então estamos sujeitas a muitas lesões”, diz. Com dedicação, Rafaela voltou aos treinamentos e passou a vencer as seletivas brasileiras e sul-americanas. Desde os 17 anos, é selecionada para defender o País. Foi campeã mundial júnior na Tailândia, vice-campeã mundial adulta em Paris e atualmente ocupa o quinto lugar no ranking da Federação Internacional de Judô. Entre patrocínios e apoios, arrecada R$ 7 mil por mês. Hoje com 19 anos, está classificada para a Olimpíada de Londres. Mesmo com a ajuda de ONGs, há potenciais atletas com obstáculos muito maiores para transpor. É o caso de Marivana Oliveira. Ela teve paralisia cerebral ao nascer, o que provocou uma deficiência motora que a obrigava a se locomover rastejando. Dinheiro sempre foi artigo escasso em sua casa. O pai havia abandonado a família – eles só se reencontraram em fevereiro deste ano – e ela foi criada pela mãe. Para andar, precisava fazer uma cirurgia, mas não tinha como pagar. A avó procurou alguns contatos que tinha na Prefeitura de Maceió e conseguiu uma vaga para Marivana na Santa Casa da capital alagoana. A cirurgia foi feita e, aos 7 anos, a futura atleta dava seus primeiros passos. O atletismo entrou na vida de Marivana meio por acaso, durante as sessões de fisioterapia. Por indicação médica, passou a fazer aulas de hidroginástica e de atletismo para fortalecer os músculos. Uma aptidão insuspeita surgiu: era ótima nas modalidades de arremeso de peso, lançamento de disco e de dardos. Começou a disputar competições regionais representando seu Estado e foi beneficiada pelo bolsa-atleta. Os resultados começaram a ganhar peso em 2009, quando a atleta já tinha 19 anos. Marivana ganhou três medalhas de ouro – no arremesso de peso e lançamentos de

disco e dardo – na Paraolimpíada Escolar. Dois anos depois, no México, a consagração: ouro no lançamento de disco e uma prata no arremesso de peso no Parapan de Guadalajara. Hoje, ela está bem perto de conseguir uma vaga paraolímpica na capital do Reino Unido. “Com mais investimentos no paradesporto, talentos como Marivana tendem a aparecer com maior frequência”, afirma Marcos Malafaia, criador do Instituto Superar, dedicado a fomentar o esporte paraolímpico. Hoje em dia, Marivana tem residência e transporte bancados pelo instituto, que ainda oferece uma bolsa de R$ 800. Aos 12 anos de idade, Kananda Ribeiro Benedicto corria e saltitava pela pista de terra de sua escola nas proximidades do Jardim Vila Verde, bairro de classe média baixa de Ourinhos, no interior de São Paulo, onde mora com a mãe, copeira da Santa Casa, e a irmã mais velha, balconista de farmácia. Hoje, passados três anos, ela não pensa em outra coisa que não seja o basquete. Do alto de seu 1,80 m de altura e 68 kg, ela chamou a atenção do projeto Gente Feliz, ligado à prefeitura da cidade. “Nossa finalidade principal não é encontrar talentos, mas os monitores sempre ficam atentos para o aparecimento de alguém acima da média, como é o caso de Kananda”, diz o secretário municipal de Esportes, Júlio Henrique Barbim. Depois do impulso dado em sua terra natal, a jogadora hoje é destaque das seleções brasileiras de base e a mais nova atleta da Liga Nacional de Basquete Feminino. No ano passado, ela foi campeã invicta do Campeonato Sul-Americano de Basquete Feminino Sub-15, no Equador, e a segunda cestinha da competição, com 105 pontos. “Eu me inspiro na Janete. Sei que ainda preciso melhorar muito, principalmente na parte tática, e me adaptar à velocidade do jogo profissional”, diz Kananda. Os clubes ainda são os maiores reveladores de talentos para o esporte nacional. Mas o exemplo dessas três meninas mostra que o esporte brasileiro ganha muito com o crescimento de gente formada pelo “Social Atlético Clube”.


pegaDa rafaela silva (acima) levou a rebeldia para o tatame; Marivana Oliveira (Ă dir.) trouxe duas medalhas de guadalajara

antes de completar 15 anos, kananda ribeiro trocou as brincadeiras no interior de sĂŁo paulo por um tĂ­tulo sulamericano de basquete


crendices

espíritoesportivo Por Xico Sá e AdAlberto leiSter Filho fotos dAniel ArAnteS

Na hora de competir, Nossos atletas olímpicos deixam de lado a ciêNcia dos treiNameNtos e mergulham No uNiverso da maNdiNga. e tome cueca da sorte, autopeNitêNcia, elefaNte de pelúcia, beijo Na tatuagem e, claro, preces para saNto expedito

Sem sorte, não se chupa nem um Chicabon.

Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha. É o que dizia, em tom de pregação religiosa, o cronista esportivo Nelson Rodrigues, um homem que acreditava mais nos poderes do Sobrenatural de Almeida, seu místico personagem, do que propriamente na técnica da sua modalidade preferida, o futebol. A mandinga esporte clube funciona. Ou pelo menos se tornou ritual obrigatório para nossos atletas de ponta, ou seja, para rapazes e moças que, teoricamente, menos carecem de superstições e pequenas crendices. Em alguns casos mais radicais, o feitiço beira a prática masoquista ou dos fanáticos penitentes. Claro que falamos do gesto famoso de Cesar Cielo. O cara se estapeia para “acordar” o corpo antes de competir. Se deu certo para o Cielo, daria também para a gurizada. Hoje a penitência do nadador é imitada em piscinas de competições em todo o País. Até mesmo por meninos que mal saíram das fraldas. Além do estapeamento, ele se benze e aponta para o céu. “Dou uma rezadinha. Minha família é católica, estudei em colégio salesiano e a questão de fé sempre foi importante”, diz o bicampeão mundial e campeão olímpico dos 50 m livre.



71 março 2012 | istoé 2016


crendices Cesar Cielo


rodrigo pessoa

leonardo de deus

robert sC heidt


crendices

fabiana beltrame

fernando portugal

hugo hoyama


Da mandinga e da oração, Cielo cai na raia da autoajuda. Tem como hábito pregar frases de estímulo pelas paredes da sua casa. “Como sou muito visual, vou colando pela casa bilhetinhos para me animar, ou os tempos que quero fazer”, relata. E assim tome bilhete, post-its, cartazes. Ao ponto de colar uma mensagem no teto do seu quarto com a seguinte provocação para chacoalhar toda a preguiça matinal do corpo: “Enquanto você está aqui, tem um maluco treinando!” A maluquice de Cielo é séria candidata a recordista na competição das mandingas. Há quem prefira a crendice fofa. Como a Angélica Kvieczynski da ginástica rítmica. A paranaense carrega sempre consigo um elefantinho de pelúcia. Haja fofura. Com ele, ela se retira, tal uma freira em isolado ritual de orações no convento. “Me isolo de todos. Não converso com ninguém. E faço o sinal da cruz antes de me apresentar”, conta a dona de quatro medalhas no Pan de Guadalajara (uma prata e três bronzes), além de seis ouros nos Jogos Sul-Americanos de Medellín-2010. O bicho de pelúcia não está sozinho nessa jornada mística. Conta com o auxílio luxuoso e católico das imagens de Santo Expedito, o das causas impossíveis, e de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, cujo nome já revela sua polivalência. Angélica tem uma explicação bem comum a todos os supersticiosos: “Sempre fiz isso. Me sinto mais segura. Se está dando certo, não tem por que mudar.” Com Ronald Julião não tem essa de fofura para triunfar no arremesso de disco e peso. O esquema é a força bruta e mandiga de macho. Com seu físico de segurança de casa noturna – 114 kg distribuídos em 1,94 m de altura –, o cara preza pela gritaria tribal e selvagem. “Grito: ‘Vamos!’, antes de fazer o lançamento. Tem que ser bem forte, para assustar os rivais”, diz o atleta, bronze no lançamento de disco no Pan de Guadalajara e na Universíade de Shenzhen (China), ambos em 2011. Outro ritual seguido é se emporcalhar ao máximo com o pó de carbonato de magnésio, usado para eliminar o suor e segurar melhor os materiais de prova. “Esfrego nas mãos e no disco. Bato inclusive pó no pescoço para me estimular mais. Comecei a me bater antes do Cielo. Posso até patentear isso”, brinca. Há quem acredite que um amuleto tenha um prazo de validade para multiplicar bons resultados. Chega uma hora que o objeto de adoração esgota sua capacidade. E o feitiço pode até virar contra o feiticeiro. Assim, o “dólar da sorte” de Rodrigo Pessoa, o cara do hipismo brasileiro, foi aposentado. A cédula foi um presente do amigo francês Pierre Durand e tinha uma longa história de bonança que começou ainda em 1968, quando o primeiro dono da nota, o atleta Bill Steinkraus, ganhou o ouro na prova individual de saltos nos Jogos do México. Vinte anos depois, o mesmo dólar ajudaria o próprio Durand, herdeiro da fortuna supersticiosa, a se sagrar campeão olímpico em Seul. Na Olimpíada de Atenas, em 2004, foi a vez de Pessoa se apegar ao “dólar da sorte”. Havia recebido o dinheiro do fran-

cês. Resultado: perdeu a final olímpica para Cian O’Connor. O amuleto teria perdido a força e se tornado maldito? Todos que sabiam da história chegaram a pensar nessa possibilidade. Qual o quê. Meses depois seria anunciado o doping do cavalo do irlandês, e o brasileiro, herdeiro do dólar, herdaria também o ouro. E aí chegava ao fim a saga da moeda americana, definitivamente aposentada. “Dois anos depois, eu e ele [Durand] decidimos doar ao Museu Olímpico [do COI],” conta. Com o seu estilo tipicamente alemão, Robert Scheidt deve rir das fantasias exageradas do seu proeiro na classe star, o todo-crente e brasileiríssimo, em matéria de superstições, Bruno Prada. O cara não passa debaixo de escadas, entra sempre no barco com o pé direito e tem uma cisma

v

o dólar da sorte de rodrigo pessoa pareCia ter perdido o enCanto. ele foi viCe numa final olímpiCa, mas o Cavalo do Campeão estava dopado, e o ouro fiCou Com o brasileiro de não deixar a porta do armário aberta. Nada mais brasileiro. Até no uso das roupas, Prada lembra um torcedor comum dos nossos times de futebol. O bicampeão mundial na classe star sempre usa a mesma camiseta que lhe proporcionou a vitória anterior. Assim ganhou a prata em Pequim e assim tentará o ouro olímpico inédito em Londres. Sim, Scheidt pode até rir do seu companheiro Prada, mas isso não significa que ele também não tenha suas mandingas. Praticante de um esporte que exige muita força física, ele tem um amuleto relacionado a uma modalidade essencialmente intelectual: carrega no barco uma pecinha de xadrez, encontrada pelo pai, Fritz Scheidt, em 1983, quando ambos caminhavam pela lagoa da Conceição, em Florianópolis. Fritz pegou o cavalinho e disse que ele daria sorte ao filho, hoje dono de dois ouros olímpicos e dez títulos mundiais. Outro objeto que o velejador sempre usa é uma correntinha com crucifixo. Durante a Olimpíada de Atlanta-1996, a corrente se rompeu entre as regatas. O técnico Claudio Biekarck teve que emendá-la com fio-dental para evitar que o azar chegasse perto do seu pupilo. O estratagema do treinador deu certo, e Scheidt conquistou o ouro olímpico na classe laser. Sim, é possível ser supersticioso ao melhor estilo alemão. Você pode achar também que um atleta de rúgbi, na delicadeza habitual dessa modalidade, não tem essa


crendices

frescura de rituais místicos ou do uso de amuletos. Não é bem assim que a banda toca. Fernando Portugal, capitão da seleção brasileira do esporte, que será olímpico a partir dos Jogos do Rio-2016, ajoelha e reza. Ele põe o joelho esquerdo no chão, antes de entrar em campo, e agradece à pessoa que o levou ao rúgbi, Leonardo Mizumoto, que morreu de leucemia, aos 25 anos, pouco depois de apresentar o jogo ao amigo. Outra mania sai do terreno sagrado e é quase um TOC (transtorno obsessivocompulsivo). “Não posso pisar em nenhuma linha do campo antes de começar o jogo. E só posso entrar em uma nova área com o pé direito. Para ninguém perceber, às vezes, até ando meio de lado”, ri de si mesmo. Fabiana Beltrame, atual campeã mundial de skiff simples peso leve, não pode entrar em uma competição sem antes ter dado algumas remadas na raia que será utilizada na prova. “Nem sei quando essa mania começou, mas ela serve para me dar mais segurança na hora de competir”, afirma a catarinense, que seguiu o ritual no Mundial de Bled, na Eslovênia, no ano passado. Nessa competição, ela se tornou a primeira brasileira campeã mundial de remo. Vice no Pan de Guadalajara no skiff simples (sem limite de peso), ela irá disputar sua terceira Olimpíada em Londres. Pela primeira vez, no skiff duplo peso leve, dividindo o barco com uma colega de seleção, já que a prova em que ganhou o Mundial não é olímpica. Nos relatos que coletamos, há também uma bonita e familiar história, quase uma fábula, de uma vovó japonesa e o seu netinho. Apesar de não entender patavina de japonês, Hugo Hoyama sempre carrega na mochila uma Bíblia no ideograma da terra de seus ancestrais. “Foi um presente da minha avó [Kanako Yoshimoto] quando eu tinha 15 anos. Sempre me ajuda.” Se o amuleto dá sorte? Bote sorte nisso. O neto de Kanako é dono de dez ouros em Jogos Pan-Americanos, o último deles, por equipes, conquistado em Guadalajara-2011. No Brasil, só perde para o nadador Thiago Pereira, que disputa bem mais provas e contabiliza 12 premiações douradas. Em Pans, aliás, o mesa-tenista tem outra superstição: recorre ao futebol e usa sempre uma cueca do Palmeiras, o time de coração. “Usei no Rio [em 2007] e em Guadalajara. Mas em cada Pan foi um modelo diferente”, diz, todo asseado. Principal judoca do país, Leandro Guilheiro entra na competição e já esfrega as solas dos pés de um lado para outro. Depois, alonga o tronco para trás, com os braços abertos. Começou a prática supersticiosa em 2010. Deu certo. Não tem como mudar. Nos últimos dois anos, foram duas medalhas em Mundiais, a prata em Tóquio-2010 e o bronze em Paris-2011, além do ouro no Pan de Guadalajara. O meio-médio viaja a Londres credenciado pela regularidade. Já subiu duas vezes ao pódio olímpico, com o bronze em Atenas-2004 e Pequim-2008.

Outra mania do judoca é bordar alguma palavra em japonês – diferente de Hoyama e do uso que faz da Bíblia da avó, Guilheiro usa as poucas palavras que conhece na língua da família – na sua faixa. As palavras variam entre as competições. Com o divino até no nome, o nadador Leonardo de Deus se apegou a coisas bem terrenas. E que nem sempre deram sorte. Pouco após triunfar nos 200 m borboleta no Pan de Guadalajara, o nadador foi punido por usar uma touca com o logo do patrocinador. “Não só a touca, mas meus óculos são um amuleto. Na hora de competir

v

apesar de não entender patavina de japonês, hugo hoyama sempre Carrega na moChila uma bíblia na língua de seus anCestrais

tem que estar tudo do jeitinho que gosto”, afirma o atleta, que usou a “touca da sorte” no Mundial de Xangai em julho de 2011, quando obteve o índice olímpico. O azar é que no evento do México era proibido usar imagem de patrocínio. “Na hora passou um filme de tudo o que eu tinha feito. Pensei ter jogado tudo fora por causa de uma superstição”, lembra ele, que recuperou a medalha, após protesto do Brasil. “O triste foi que nunca mais vi a touca.” Até o momento do fechamento desta edição, Deus ainda não havia adquirido outro hábito ou superstição. Fatalmente fará essa escolha em breve. Nada mais terreno e humano. Se os jogadores de futebol só mandam beijinhos e fazem românticos corações com as mãos, Marquinhos, atleta da seleção brasileira de basquete, homenageia os seus entes queridos antes de fazer os seus pontos. É o amor. A cada lance livre faz um mimo para a mulher e a filha. O ala conta que tinha uma média baixa de acertos da linha de tiro livre quando jogava na NBA, pelo New Orleans Hornets: apenas 55%. Foi quando um colega de time lhe deu a dica de fazer algum tipo de ritual para se acalmar antes de realizar o arremesso. “No começo, só beijava o punho esquerdo, onde está tatuado o nome da minha filha. A minha esposa ficou com ciúme e pediu que eu beijasse também o punho direito, que tem o nome dela”, lembra. A estratégia tem dado certo. No Campeonato Paulista, a média de acertos do jogador do Pinheiros beira os 90%. Na dúvida, nossos atletas olímpicos estão certíssimos. Afinal de contas, o ceticismo radical de evitar mandingas e pequenas crendices não seria também uma megassuperstição?

produção l. a. braga júnior - imagemakers • agradecimentos: reino dos orixás,livraria100% Cristão, Coleciona brinquedos augusta, amarante Comercial madeireira,minikimono e hime-ya Comercio de presentes.


ronald julião

angéliCa KvieCzynsK i


Negócios

Por que investimentos Privados – como os realizados Pelo banco bradesco, que injeta recursos nas confederações de basquete, judô, natação, remo, rúgbi e vela – são o caminho mais curto Para o brasil virar uma Potência olímPica por Rosenildo Gomes FeRReiRa ilustrações daniel Vincent


existem diversas formas de medir o retorno de investimentos feitos na área esPortiva. Os principais são a visibilidade da marca nos meios de comunicação e o número de medalhas obtidas em cada competição. Com base neste último critério, não seria exagero dizer que o Bradesco se tornou uma potência do esporte. Os atletas patrocinados pelo banco – parceiro das confederações de basquete, judô, natação, remo, rúgbi e vela – amealharam 52 medalhas, entre ouro, prata e bronze, no Pan-Americano de Guadalajara, realizado em 2011. “Se fossemos um país, estaríamos na oitava posição no quadro geral”, diz Jorge Nasser, diretor de marketing do Bradesco. Mais do que apenas números absolutos, a qualidade das conquistas também deve ser destacada. Basta dar uma olhada nos números da vela. Nos jogos de 2007, no Rio de Janeiro, os brasileiros subiram sete vezes ao pódio. No ano passado, também. A diferença foi o número de ouros: três no Rio e cinco na cidade


Negócios

A f or çA do pAtro cí ni o As medalhas obtidas pelo Brasil nos esportes patrocinados pelo Bradesco Pan de Guadalajara (México) – 2011

21 de ouro, 15 de prata e 16 de bronze

Pan do Rio – 2007

18 de ouro, 18 de prata e 18 de bronze

Pan de Santo Domingo (Rep. Dominicana) – 2003 12 de ouro, 12 de prata e 22 de bronze

Pan de Winnipeg (Canadá) – 1999

10 de ouro, 12 de prata e 16 de bronze

mexicana. Evolução semelhante foi alcançada pelo judô, dono de seis conquistas no México, duas a mais do que a marca de 2007. “É inegável que os recursos de patrocínio foram importantes, por permitir um planejamento de longo prazo”, diz Ricardo Baggio, superintendente da Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM). No caso da CBVM, a parceria é ainda mais emblemática. O Bradesco responde por metade da verba anual da confederação, cujo valor é mantido em segredo. Baggio diz que, hoje, os atletas ligados à entidade podem se dedicar exclusivamente ao esporte. Sem recursos suficientes, muitos acabam tendo que gastar energia para buscar patrocínios ou simplesmente manter uma atividade profissional paralela. Um exemplo das vantagens de parceria com o Bradesco foi a aquisição de 179 barcos e novos remos para a CBVM. Iniciativas como essa devem turbinar o desempenho brasileiro em Londres. “Já garantimos nossa 80 março 2012 | istoé 2016

se fosse um país, o bradesco teria terminado o pan de guadalajara em oitavo lugar no quadro de medalhas

presença em sete das dez modalidades em disputa”, afirma Baggio. “Como as seletivas ainda não acabaram, esperamos conseguir vaga para todas elas.” A atuação de grandes empresas privadas e estatais no esporte se intensificou nos últimos anos graças, em boa parte, à escolha do Rio como a sede dos Jogos de 2016. Afinal, todos querem desfrutar dos dividendos gerados pelo burburinho em torno da maior competição do mundo em número de atletas e países participantes. Nada mais natural. No entanto, no caso do Bradesco, pode-se dizer que a relação com o mundo esportivo faz parte do DNA do banco. Quem não se lembra do time masculino de vôlei Bradesco-Atlântica ou da equipe feminina de Osasco? Ou mesmo do time de basquete da Universidade Metodista de Piracicaba, de onde surgiram as campeãs Magic Paula e a Rainha Hortência? Apesar de não mais estampar seu logotipo no uniforme de um time profissional, o Bradesco continua nas quadras e nos


campos. Começou há 30 anos com o ADS Esportes. Apenas em sua base, a cidade de Osasco, situada na Grande São Paulo, são atendidos cerca de 500 atletas em várias modalidades e faixas etárias, dos quais 50 são profissionais. O projeto olímpico do Brasil começou em 2009 e deve durar, a princípio, até 2016. De acordo com Nasser, mais que medalhas ou participações de destaque em rankings, a intenção do banco é ajudar a construir um legado nas áreas de educação e esporte. Em todos os contratos com as confederações, os recursos têm como foco desde os atletas iniciantes até aqueles de alto rendimento. “Apesar de termos sido a primeira corporação a aderir ao projeto da Rio2016 nos setores de finanças e seguros, nosso objetivo vai muito além de uma simples ação de marketing”, afirma Nasser. Segundo o executivo, uma boa amostra disso é que o banco criou

uma equipe encarregada de fazer um acompanhamento das parcerias. “Não nos metemos na gestão, mas fazemos questão de monitorar o trabalho.” Para saber se os recursos estão influenciando positivamente na performance dos atletas das seis confederações patrocinadas, Nasser e sua equipe promovem reuniões periódicas de avaliação. Em termos estratégicos, o principal ganho do Bradesco é naquilo que os especialistas de marketing chamam de investimento em branding. Ou seja: aos olhos dos consumidores, a marca passa a ser associada às conquistas do esporte brasileiro. No front interno, é a chance de motivar ainda mais os funcionários. “Vontade de vencer e a importância do trabalho em equipe são atributos indispensáveis, por exemplo, nos times de rúgbi”, diz Nasser. “Esses são postulados muito importantes também para a cultura empresarial do Bradesco.”


novos talentos

os alVos do tiro

classificados Para rePresentar o brasil em londres, ana luiZa mello e filiPe fuZaro lutam Por medalHas e Para acabar com a associaÇÃo entre o esPorte e a Violência POR TÂNIA GALVANI FURTADO FOTOS KELSEN FERNANDES


preCoCe Incentivado pelo pai, Filipe Fuzaro deu seu primeiro disparo aos 5 anos e hoje acumula recordes

o tiro esPortiVo É daQueles pratos cheios para quem se alimenta de preconceito. Para alguns, trata-se de uma atividade banal, pois o que pode ser mais fácil do que puxar um gatilho? Para outros, os praticantes nem deveriam ser chamados de atletas porque os únicos músculos que movimentam são os do dedo indicador. Tanto uns quanto outros não têm noção de quanto o esporte exige de foco, precisão, autoconhecimento e concentração. Tem mais. Tranquilidade, controle das emoções, equilíbrio e até certa frieza são atributos dos campeões no esporte. E não dá para chegar lá sem um bom condicionamento físico. Ou seja, a carioca Ana Luiza Mello e o paulista Filipe Fuzaro – esperanças brasileiras de medalhas em Londres – são, sim, atletas. E dos bons. Recordistas brasileiros em suas categorias, eles colecionam conquistas mundo afora (leia os quadros). Mesmo com os títulos deles e de outros – a primeira medalha de ouro olímpica brasileira é do tiro, conquistada na Antuérpia em 1920 –, eles apontam como um dos grandes problemas do tiro nacional a necessidade de combater um estigma vinculado ao esporte. Armas de fogo costumam ser associadas à violência no ideário popular. A impressão equivocada se intensifica quanto mais desigual for a distribuição de renda. Nada mais injusto para um esporte que jamais registrou um só acidente nos campeonatos, torneios e qualificatórios em quase dois séculos de disputas. Isso graças à rigidez nas regras e à seriedade dos profissionais. Tudo é rigorosamente inspecionado. Qualquer erro ou infração pode implicar desde perda de pontos até o banimento. “Nunca é a arma que mata, e sim as intenções de quem a empunha e dispara”, resume Fuzaro. Um encontro com esses dois atletas ajuda a evaporar a aura de violência do tiro. A jovem dupla surpreende pela


novos talentos

plano de ataque Major do exército, ana luiza Mello está licenciada para treinar, competir e trazer uma medalha de londres

leveza e elegância no trato pessoal. São serenos, bem-humorados, solícitos e profissionais. Pacientes e disponíveis, revelam o oposto do estresse que se poderia supor em atletas de ponta. Outro ponto de intersecção na história dos dois atletas é ter como um dos programas prediletos ficar perto da família, sempre que a carreira esportiva permite. Com ideias parecidas a respeito do esporte, eles têm biografias bem diferentes. Menina acanhada e expressiva, Ana Luiza queria ser atriz de teatro e sempre amou livros, inseparáveis nas viagens até hoje. Já adulta, resolveu estudar ciências biológicas. Isso porque sonhava com a vida a bordo de um barco, embrenhada na natureza oceânica. O acaso colocou as Forças Armadas em seu caminho. Em 1995, prestou concurso, passou e se tornou professora de biologia no Colégio Militar. Hoje, é major do Exército licenciada temporariamente para se dedicar aos treinos. Resultados como o ouro no Pan de Guadalajara em 2011 e a vaga para a Olimpíada de Londres fizeram os militares abrir mão de uma professora em troca de uma medalhista. Foi na caserna que ela conheceu seu primeiro grande incentivador, Volney Filho, atirador, técnico e ex-marido. Ana Luiza começou a dar seus disparos em 1999, quando já tinha 26 anos de idade e quatro de Forças Armadas. Hoje, ela continua treinando em família, com seu namorado, José Carlos Iengo Batista. Com ele, além de índices, programação e esforços, reparte sua bebida e comida prediletas, caipirinha e risoto al funghi, respectivamente. Fuzaro começou bem cedo. Mais exatamente no berço. O tiro está no DNA da família. O avô Antônio Aparecido e o pai, Érico, sempre cuidaram de incentivar e lapidar os talentos do atleta, que, na infância, sonhava em ser piloto de jatos caça. Deu seu primeiro tiro com apenas 5 anos de idade. Depois, passou a acompanhar o pai em competições e se apaixonou de vez pelo esporte. Mas, sozinha, a paixão não garante vitórias. Para ele, o tiro é


F i lipe A ntôni o C A r neir o F uzAro

A n A lu izA F e rrã o Sou zA l im A V ie irA d e m e llo

CateGorIa: fossa olímPica dublê naSCIMento: 5/12/1982 CIdade natal: rio claro (sP) peSo: 77 kg altura: 1,77 m panS: 2 (rio de Janeiro e guadalaJara)

CateGorIa: Pistola de ar e Pistola 25 m naSCIMento: 26/12/1973 CIdade natal: rio de Janeiro (rJ) peSo: 56 kg altura: 1,71 m panS: 3 (santo domingo, rio de Janeiro e guadalaJara)

PrinciPais títulos: > Bicampeão brasileiro júnior (2000 e 2001) > tetracampeão brasileiro sênior (2004, 2005, 2006 e 2008) > Campeão sul-americano (2006 e 2010) > tricampeão continental (2006, 2007 e 2008) > pentacampeão brasileiro de fossa double (2009)

um esporte essencialmente mental, ainda que não se possa jamais descuidar da técnica e do preparo físico. Mas sem exageros. Fuzaro não dispensa a macarronada, nem a cerveja. Alegre e brincalhão, ele gosta de rir e de fazer rir, mesmo quando o assunto é sério. Nas horas livres, Fuzaro distribui alegria e esperança como voluntário do Grupo de Assistência à Criança com Câncer. Nas demais horas, passa o tempo amando a vida que leva por conta do tiro. O esporte permite que ele colecione amizades em todos os cantos do País. Por outro lado, deixa pouco tempo para ver os amigos da vizinhança. Fazer o quê?

PrinciPais títulos: > ouro no Campeonato Ibero-americano, em San Salvador (2010) > ouro no Campeonato das américas, no rio-2010, nas provas de pistola 25 m e pistola de ar > ouro no pan de Guadalajara (2011)

Ambos aproveitam o tempo que falta até a Olimpíada de Londres para participar de treinos e competições nacionais e internacionais. Em janeiro deste ano, Ana Luiza esteve na França para participar do Grand Prix de Tiro e passar um tempo treinando com atletas daquele país. Em fevereiro, Fuzaro participou da Copa Brasil e ficou a apenas três pontos do recorde brasileiro, que, detalhe, é dele. Depois de mais quatro meses de preparação, é hora de as nossas esperanças rumarem para Londres, onde vão enfrentar problemas logo na chegada. “Quando os competidores desembarcarem, as armas de fogo serão recolhidas

e transportadas até veículos do Locog (Comitê Organizador dos Jogos), onde elas permanecerão guardadas e subsequentemente transportadas para o Royal Artillery Barrack [local de competição]", diz documento da organização. Nesse caso, o problema não é preconceito contra os atiradores, mas receio de que terroristas se aproveitem desse pequeno arsenal para estragar a festa. produção l. a. Braga Júnior Imagemakers agradecimentos: parque da Independencia, Spazio Vintage e antiquário Brechó produção de figurino: KCase Gabriel Monteiro da Silva e Secrets de Famille

85 março 2012 | istoé 2016


clube

tempo ruim Com os cofres vazios e investindo apenas na base dos esportes olímpicos que conseguiu manter, o Vasco da Gama sonha ter atletas seus nas Olimpíadas de Londres e do Rio por Flávia RibeiRo fotos masao goto Filho

000 mês 2010 | istoé 2016


CRAQUE O menino Yuri é a estrela do Vasco e da seleção brasileira de futebol de sete, esporte paraolímpico com boa chance de conquistar medalhas em Londres

Na Olimpíada de SydNey, em 2000, dos 204 atletas brasileiros, 83 eram do Vasco da Gama – 19 deles trouxeram medalhas. Um ano antes, no Pan de Winnipeg, nada menos do que 126 atletas brasileiros eram formados ou treinados em São Januário. Doze anos depois, na Olimpíada de Londres, os dedos de uma mão serão mais do que suficientes para contabilizar todos os atletas cruzmaltinos. Os dias de fartura se foram. O Clube de Regatas Vasco da Gama começou como uma agremiação de remo em 1898 e incorporou o futebol apenas em 1916. Democrática, a crise atual pela qual o clube passa atinge todos os esportes, profissionais ou os considerados amadores. “Sempre tivemos uma baita representatividade nas Olimpíadas, mas essa aventura deixou um passivo que o Vasco ainda tem que administrar”, diz José Pinto Monteiro, vice-presidente de esportes olímpicos do clube. “No ano passado, recebemos R$ 4 milhões de um contrato de patrocínio e R$ 3 milhões foram imediatamente usados para saldar dívidas com atletas.” Enquanto espera esses rombos cicatrizarem, o Vasco aposta o pouco que tem na sua base, especialmente em um projeto de garimpagem de talentos. A ideia é espalhar núcleos do clube por todo o Rio de Janeiro e, assim, atrair atletas em potencial. O primeiro núcleo será inaugurado em março, em Jacarepaguá. Até o fim do ano, mais dez devem ser abertos em bairros como Santa Cruz e Barra da Tijuca e municípios como Maricá, Itaboraí, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Duque de Caxias, Magé, Campos e Porto Real. Agora reduzidos a oito, os esportes olímpicos estão concentrados nas categorias de base: vôlei feminino, basquete masculino, atletismo, natação, rúgbi e as três ginásticas (artística, rítmica e de trampolim). Além deles, o futebol americano, o futsal, o futebol society e o futebol de mesa mantêm seu espaço. Hoje, só futebol e remo têm equipes adultas. Por conta disso, Kyssia Cataldo, remadora de 28 anos, deve ser uma das raríssimas representantes do clube em Londres. Em fevereiro de 2011, nas seletivas, ela con-


clube

quistou a vaga brasileira no Pré-Olímpico da Argentina, que será realizado em março, e tem boas chances de garantir a ida a Londres. Além dela, outros atletas do clube só irão à Olimpíada caso o técnico Mano Menezes convoque jogadores cruzmaltinos para a seleção olímpica de futebol – os volantes Allan e Rômulo são os que têm mais chances. Em 2004 e 2008, Kyssia perdeu a vaga para Fabiana Beltrame. “Eu bebia muito, vivia em rave e sempre perdia na hora H”, diz Kyssia. “Há dois anos, resolvi dar uma virada. Passei a dormir cedo, parei de beber, me concentrei totalmente nos treinos e o resultado está aí.” Sua companheira de clube, Camila Carvalho, 30 anos, está em situação oposta. Presente nos Jogos de Atenas e de Pequim, perdeu a vaga para os Jogos de 2012 justamente para Fabiana, que migrou para o double skiff. A tristeza com a perda da vaga se une ao desânimo com o atraso no pagamento dos salários, problema que tem afetado todo o clube. Por isso mesmo, Camila busca alternativas. “Sou formada em ciências políticas e relações internacionais, estou procurando me colocar no mercado de trabalho”, diz a atleta. “Apesar disso, jamais vou deixar de remar pelo Vasco.” Os atrasos de salários levaram Fabiana Beltrame, atleta do Vasco por mais de dez anos, para o rival Flamengo no ano passado. O rubro-negro contratou também o nadador paraolímpico Caio Oliveira, 18 anos, que bateu dois recordes parapan-americanos em Guadalajara, em novembro. São dois exemplos das dificuldades pelas quais o clube passa. O Vasco tem milhões de torcedores, mas poucos sócios frequentam o clube, salvo em dia de jogo. Ainda assim, continua a atrair milhares de meninos e meninas para suas peneiras. No dia 9 de março, uma delas terá um significado especial: a de rúgbi. Cerca de 200 jovens serão avaliados por seis treinadores internacionais. O clube resolveu investir no esporte, pouquíssimo praticado no Brasil, porque o estádio de São Januário será sua sede na Olimpíada de 2016. Uma boa notícia para todas as outras modalidades, já que o clube está

EstRELA sOLitáRiA Caso os jogadores de futebol vascaínos não sejam convocados, a remadora Kyssia Cataldo pode ser a única representante do clube na Olimpíada de Londres

Os númerOs dO VascO • 52 mil sócios (menos da metade com as mensalidades em dia) • 581 atletas federados de futebol e futsval • 584 atletas federados em remo, vôlei feminino, basquete masculino, atletismo, natação, rúgbi e ginástica (artística, rítmica e de trampolim) • 640 alunos nas escolinhas de esportes de são Januário e da sede Náutica da Lagoa • 1 campo de futebol • 4 piscinas (uma delas olímpica e uma de saltos) • 2 ginásios poliesportivos • 3 quadras poliesportivas


sendo modernizado para fazer jus à responsabilidade olímpica. Se não dá para brilhar em 2012, alguns dos talentos que hoje frequentam o clube acreditam que estarão no ápice nos Jogos do Rio. Laís Vasques, 16 anos, acaba de ter sua primeira oportunidade na seleção brasileira juvenil de vôlei feminino. “Está acontecendo tudo muito rápido”, diz Laís. “Eu jogo desde os 9 anos, era do Tijuca Tênis Clube e aí vim para cá.” Sua companheira de equipe, a mineira Amanda Assunção, também de 16 anos, está na seleção carioca e sonha em ser convocada para a equipe brasileira. Tímida e tranquila, ela saiu de Barbacena (MG) em 2009 para jogar no Vasco. “Recebi um convite para atuar em uma universidade em Chicago, nos Estados Unidos, mas ainda estou muito nova para isso.” Para a preparação de seus atletas, o Vasco tem, além do ginásio principal, uma nova quadra poliesportiva que serve ao vôlei, basquete e vôlei sentado, uma das três modalidades paraolímpicas do clube. As outras são a natação e o futebol de sete – ambas com atletas nas categorias de base e adultas. Na Paraolimpíada de Londres, o Vasco tem fortes chances de ser representado. No futebol de sete, o craque Marcos Yuri Cabral da Costa já foi pré-convocado junto com seus companheiros de equipe Edílson da Silva Júnior, Rael de Medeiros Coelho e Jhonatan Néri Rodrigues. O futebol de sete é praticado por paralisados cerebrais e atletas das classes S5 (mais comprometida) a S8 (menos comprometida). Um time deve ter uma combinação de atletas dessas classes. Yuri é S8, com um pequeno comprometimento da perna direita e um maior no braço direito. “A deficiência nunca me atrapalhou”, diz o garoto de 18 anos. “O preconceito era mais meu do que dos outros. Desde que vim para o Vasco, conheci outros atletas, convivi mais com portadores de deficiência e fiquei mais tranquilo.”. A história desse atleta é um estímulo para que o clube encontre maneiras de mostrar que, independentemente do tamanho do obstáculo, sempre há uma saída.

DEsFiLE Recepção em são Januário para Getúlio Vargas em 1951. Maior estádio do País na época, abrigou vários comícios do presidente

a história dO clube • 1898 Um grupo de remadores funda o Clube de Regatas Vasco da Gama em homenagem ao navegador português que descobrira o caminho marítimo para as Índias 400 anos antes • 1905 A equipe de remo ganha seu primeiro título estadual • 1916 O futebol do clube estreia na terceira divisão carioca • 1923 O time conhecido como Camisas Negras conquista o Estadual da primeira divisão com negros e mulatos no elenco • 1925 O basquete vascaíno tem sua primeira conquista: o Torneio Início • 1927 É inaugurado em são Cristóvão, na zona norte do Rio, o Estádio de são Januário, o maior da América do sul até então • 1948 O time conhecido como Expresso da Vitória conquista o 1º Campeonato sul-Americano de Campeões, precursor da Copa Libertadores da América e primeiro título internacional brasileiro no futebol • 1996 O Estádio de são Januário é tombado por seu valor histórico, cultural, esportivo e social • 1998 No ano de seu centenário, o Vasco conquista sua primeira Libertadores da América e a área em torno de são Januário se torna um novo bairro, chamado Vasco da Gama • 2000 O Vasco cede 83 atletas para a Olimpíada de sydney • 2012 Endividado e com salários atrasados, o clube enfrenta até a ameaça de greve dos jogadores de futebol


performance

Para ir aos Jogos Ainda dá tempo de comprar pacotes e ingressos avulsos para a Olimpíada de 2012

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• Seis noites (25/7 a 2/8, 31/7 a 8/8 ou 6/8 a 14/8) • Cinco ingressos (modalidades e datas variam de acordo com a disponibilidade) • Passagem aérea de classe econômica (ida e volta, partindo de SP ou Rio) • Traslados (entre hotel e aeroporto) • Seguro-viagem e Kit Jogos Olímpicos

• Doze noites (25/7 a 8/8 ou 31/7 a 14/8) • Dez ingressos (modalidades e datas variam de acordo com a disponibilidade) • Passagem aérea de classe econômica (ida e volta, partindo de SP ou Rio) • Traslados (entre hotel e aeroporto) • Seguro-viagem e Kit Jogos Olímpicos

Preços por pessoa Hotel cinco-estrelas: R$ 24,1 mil (quarto duplo) ou R$ 36,4 mil (quarto simples) Hotel quatro-estrelas: R$ 23 mil (quarto duplo) ou R$ 31,6 mil (quarto simples) Hotel três-estrelas: R$ 18,9 mil (quarto duplo) ou R$ 22,6 mil (quarto simples) Hotel duas-estrelas: R$ 15,8 mil (quarto duplo) ou R$ 20,8 mil (quarto simples)

Preços por pessoa Hotel cinco-estrelas: R$ 43,1 mil (quarto duplo) ou R$ 55 mil (quarto simples) Hotel quatro-estrelas: R$ 39,1 mil (quarto duplo) ou R$ 49,2 mil (quarto simples) Hotel três-estrelas: R$ 33,1 mil (quarto duplo) ou R$ 38,1 mil (quarto simples) Hotel duas-estrelas: R$ 28,4 mil (quarto duplo) ou R$ 32,1 mil (quarto simples)

DiCA o brasil recebeu, em fevereiro, um lote de dez mil ingressos. Quanto antes você comprar,

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maior do que nunca. Por isso, é importante fazer reserva o quanto antes. atualmente, os valores das diárias vão de R$ 225 a R$ 2.000, em hotéis de três a cinco-estrelas. Como reservar: londontown.com – site que agrega sistemas de reserva de centenas de hotéis e hostels em londres.

91 março 2012 | istoé 2016


concentração

cultura e esporte juntos

...Para ver os Os programas especiais, os quadros e as atrações que tratam da Olimpíada de 2012

a c aminho d e Lo nd res • esPn BrasiL Datas e horários variam de acordo com o mês. Consulte a programação o programa especial dos canais eSPn tem como objetivo aquecer os fãs do esporte para os Jogos olímpicos de 2012. com reportagens gravadas tanto no brasil quanto na inglaterra, a produção destaca a preparação dos esportistas e da capital britânica, sempre fazendo contagem regressiva para a olimpíada. o quadro “chá das cinco”, uma das atrações do programa, traz personagens curiosos da cidade-sede.

nA inTeRneT os principais portais de internet vão fazer a cobertura dos Jogos olímpicos de londres. o R7.com, da Rede Record, transmitirá competições ao vivo e o Terra, que decolou na audiência durante o Pan-americano de guadalajara, promete repetir a dose neste ano com coberturas especiais e relatos minuto a minuto.

minuto o Lí mPico • record De segunda a sexta, às 20h30, e sábado, às 18h45, no Jornal da Record. exibido também nos intervalos da programação da Record news a atração diária da Record – detentora exclusiva dos direitos de transmissão da olimpíada de 2012 na tevê aberta – apresenta boletins sobre o maior evento esportivo do mundo e relembra momentos marcantes dos Jogos olímpicos. o programa traz curiosidades, recordes e conquistas e dá um panorama sobre os atletas brasileiros que estarão em londres para a disputa.


Jogos de Londres e s Por t e Fantás tico

B ra siL 2012

• record Sábados, às 10h a principal atração esportiva da Record traz reportagens especiais sobre os Jogos olímpicos. matérias com os atletas brasileiros que buscam uma vaga para londres e com os que já conquistaram o direito de disputar o maior evento esportivo do mundo são o foco do programa, apresentado por mylena ciribelli e cláudia Reis.

• sPortv, sPortv 2 e sPortv3 Datas e horários variam de acordo com o mês. Consulte a programação o programa é focado nas principais esperanças brasileiras de medalha para os Jogos de londres. algumas reportagens contam histórias de superação de atletas que possuem um currículo vencedor. com espaço para modalidades pouco conhecidas, busca dar um panorama da preparação olímpica para londres 2012.

r umo a Lo nd re s • sPortv, sPortv 2 e sPortv3 Datas e horários variam de acordo com o mês. Consulte a programação a atração dos canais do grupo globosat é baseada em reportagens especiais que mostram a preparação de londres e dos atletas para a olimpíada de 2012. entrevistas com ex-atletas consagrados, como nadia comaneci, e batepapos com esportistas brasileiros são os destaques do programa, que ainda aborda a questão da infraestrutura e da segurança nos Jogos olímpicos. Filmes raros e depoimentos de celebridades completam o pacote.

O HORÁRiO DAS PROvAS as disputas em londres começam cedo (8h) e vão até tarde, por volta da meia-noite. Durante o período dos Jogos, o brasil estará quatro horas atrás no relógio em relação à inglaterra. observe os horários (de brasília) de algumas finais. Atletismo • 5 de agosto 14h50 Final masculina dos 100 m rasos Atletismo • 4 de agosto 14h50 Final feminina dos 100 m rasos Futebol • 11 de agosto 11h Final masculina Ginástica artística • 2 de agosto 12h30 Final geral feminina Ginástica artística • 1o de agosto 12h30 Final geral masculina


> ATLETISMO

MARATONA DE COMPETIÇÕES

Fabiana Murer e Maurren Maggi são algumas das atrações do Brazilian Athletics Tour 2012, principal circuito de atletismoda América Latina, que acontece em maio. A campeã mundial do salto em altura participará das etapas do Rio e de São Paulo, enquanto a medalhista de ouro no salto em distância estará tam-bém em Belém. As competições se realizam nos dias 2 (Fortaleza), 6 (Belém), 13 (Uberlândia), 16 (São Paulo) e 20 (Rio de Janeiro)

Foto: Luis Acosta/AFP


>BADMINTON BRONZE INÉDITO

A seleção brasileira feminina garantiu uma inédita medalha de bronze na Uber Cup de Badminton, disputada em fevereiro, em Los Angeles. A equipe formada por Fabiana Silva, Lohaynny Vicente, Luana Vicente, Paula Beatriz Pereira e Yasmin Cury conseguiu o feito após vencer a seleção de Barbados por 5 a 0. Durante a competição, as meninas também derrotaram o time de Porto Rico (4 a 1) e perderam para o Canadá (5 a 0) e os Estados Unidos (5 a 0).

>BASQUETE

>ESGRIMA ACABOU A FOLGA

O mês de março marca o início das competições para a esgrima nacional. Depois de uma pausa de dois meses, os atletas voltam às atividades com o campeonato Pan-Americano cadete e juvenil, que vai até o dia 14, na Venezuela. Outro destaque internacional é o Campeonato Pan-Americano de Maiores, que será disputado entre os dias 15 e 20 de junho em Monterrey, no México. Os torneios servem de preparação para a Olimpíada de Londres, realizada entre julho e agosto.

SUCESSO NA EUROPA

>FUTEBOL

>BOXE OS NEGÓCIOS DE POPÓ

A seleção brasileira feminina de Futebol não terá descanso até a Olimpíada de Londres, que começa em julho. O time convocado pelo técnico Jorge Barcellos iniciou em janeiro uma rotina de preparação que inclui treinos e concentrações mensais na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). A equipe também tem quatro amistosos já programados, contra Japão e Estados Unidos, em março, e Portugal e França, em datas a serem definidas.

Parece que a crise financeira que afeta a Europa não impediu que um bom número de atletas brasileiras do basquete fosse buscar o sucesso no continente. Na temporada de 2012, nada menos do que quatro delas jogarão em equipes da Espanha e da Itália. O país ibérico virou casa de Érika de Souza (do Avenida), Damiris Dantas (Celta) e Franciele Nascimento (Hondarribia), enquanto Adriana Moisés brilha no italiano Parma. Além de atuar como deputado federal pelo Partido Republicano Brasileiro, o ex-campeão de boxe Acelino “Popó” Freitas investe na carreira de empresário. O pugilista acaba de abrir uma academia de lutas dentro do tradicional Minas Brasília Tênis Clube, na capital federal. O local oferecerá aulas de boxe, muay thai e MMA (artes marciais mistas).

>CANOAGEM

TALENTOS NA AMAZÔNIA

Personagem conhecido da canoagem brasileira, o professor Evaldo Malato, presidente da federação paranaense, embarcou para uma de suas missões mais difíceis. Em fevereiro, o atleta partiu para procurar novos talentos nas comunidades ribeirinhas de Villa Aguaytía, capital da província de Padre Abad, na Amazônia peruana. Malato, que há mais de três anos promove iniciativas parecidas no Pará e no Amazonas, diz que a geografia – com planícies e muitos rios – torna a região ideal para a prática do esporte.

>CICLISMO

OS CANDIDATOS A LONDRES

Para a vaga nos Jogos de Londres, a Confederação Brasileira de Ciclismo decidiu concentrar todos os esforços nos três atletas mais bem classificados no ranking da União Ciclística Internacional (UCI): Rubens Donizete Valeriano, Henrique Avancini e Edivando Souza Cruz. O calendário de competições vai até maio, com a Taça Brasil, no Rio de Janeiro. Caso o País consiga a vaga, disputará a Olimpíada o atleta que estiver mais bem colocado no ranking internacional.

MENINAS SUAM A CAMISA

>GINÁSTICA VAGA PERDIDA

Giovanna Venetiglio, da seleção de ginástica de trampolim, não se classificou para os Jogos Olímpicos de Londres durante o evento-teste disputado na capital britânica em janeiro. A brasileira, que disputava uma das últimas vagas que o País poderia conquistar, ficou em décimo terceiro lugar na classificação geral, com 94.705 pontos. Entre as mulheres, carimbaram passaporte Luba Golovina (Geórgia), Ana Rente (Portugal), Zita Frydrychova (República Tcheca), Galina Goncharenko (Rússia) e Andrea Lenders (Holanda).

>HALTEROFILISMO DISPUTA DE PESO

A principal competição para o levantamento de peso brasileiro até os Jogos Olímpicos de Londres é o Campeonato Panamericano, que acontece em Antigua, na Guatemala, entre os dias 11 e 19 de maio. Realizado paralelamente ao Campeonato Mundial Júnior, o torneio serve como qualificatório para a disputa da medalha de ouro na Inglaterra. Antes disso, os brasileiros disputam o torneio Manuel Suarez Memorial, em Matanzas, Cuba, no mês de março.

95 MARÇO 2012 | ISTOÉ 2016


PAINEL

Todos os esportes olímpicos

>LUTAS DESAFIO NO FRIO

>HANDEBOL AGORA OU NUNCA

Já estão definidos os adversários da seleção masculina de handebol no torneio classificatório para a Olimpíada de Londres. Os brasileiros vão enfrentar Macedônia, Hungria e a anfitriã Suécia entre 6 e 8 de abril. Por não ter conquistado o título PanAmericano, o Brasil precisa ficar entre os dois mais bem colocados do grupo. Para o técnico Javier Garcia Cuesta, os suecos, por jogarem em casa, serão os adversários mais difíceis.

A delegação brasileira de luta olímpica emendou o Campenato Pan-Americano da modalidade, disputado em Colorado Springs, nos Estados Unidos, com uma dura temporada de treinos que vai durar o mês de março inteiro. O objetivo é chegar com tudo ao Pré-Olímpico, que garante vaga em Londres 2012 para os dois primeiros colocados de cada categoria. Por enquanto, o maior desafio é lidar com o frio, já que a região está entre as mais geladas dos Estados Unidos.

>NADO SINCRONIZADO OLHO NO DOPING

A amazona paulista Luiza Tavares de Almeida garantiu participação do Brasil nas provas de adestramento em Londres. Ela assegurou a vaga ao superar uma atleta da República Dominicana durante torneio realizado, em fevereiro, em São Paulo. Aos 20 anos, Luiza vai disputar sua segunda Olimpíada. Em sua estreia, em Pequim 2008, se tornou, aos 16 anos, a mais jovem atleta do hipismo na história dos Jogos Olímpicos.

Com o objetivo de prevenir os atletas sobre as mudanças das regras antidoping do Comitê Olímpico Internacional, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos encaminhou uma espécie de cartilha a todas as integrantes do nado sincronizado. Além de explicar “de forma não exaustiva” quais são as substâncias proibidas, o documento deixa claros os procedimentos que serão adotados durante os Jogos de Londres. Os esportistas poderão, por exemplo, ser submetidos a testes “em qualquer hora e em qualquer local, sem aviso prévio”.

>HÓQUEI SOBRE GRAMA

>NATAÇÃO HORA DA VERDADE

>HIPISMO JOVEM RECORDISTA REPETE A DOSE

O QUE VALE É A EXPERIÊNCIA

A seleção brasileira feminina de hóquei sobre grama tem poucas esperanças de conquistar a vaga para os Jogos Olímpicos de Londres. Ainda assim, o time vai ao torneio qualificatório da Federação Internacional, que será disputado em abril, no Japão, pensando em ganhar experiência. Todas as adversárias das brasileiras estão mais bem colocadas no ranking mundial. A África do Sul, primeira pedreira, ocupa a 12ª colocação e é considerada a melhor seleção do torneio pré-olímpico.

Pode-se dizer que o ano de 2012 começou tarde para a natação brasileira. Afinal, a primeira competição oficial do calendário acontece apenas no dia 11 de março. Para compensar, logo de cara os atletas terão que enfrentar um compromisso que vale vaga em Londres 2012. O Campeonato Sul-Americano, que será disputado entre os dias 11 e 25 de março, em Belém, é a primeira oportunidade do ano para os atletas tentarem o índice olímpico. A segunda será em abril, durante o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Depois é só fazer as malas.

>JUDÔ GUILHEIRO NO TOPO

>PENTATLO MODERNO

>SALTOS ORNAMENTAIS

O Brasil teve uma ótima temporada em 2011 no Pentatlo Moderno Internacional. Em seu balanço de início de ano, a União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) cita o País como um dos dois únicos – junto com a Alemanha – que se manteve entre os dez primeiros lugares no ranking mundial feminino durante o ano passado. Os brasileiros devem o resultado às conquistas da pernambucana Yane Marques, sexta melhor atleta do mundo e top 3 no ranking da União.

A equipe brasileira de saltos ornamentais conquistou duas vagas para a Olimpíada de 2012 durante a Copa do Mundo da categoria, realizada em Londres, em fevereiro. Hugo Parisi terminou em 14º lugar nas eliminatórias, carimbando o passaporte olímpico junto a outros 17 semifinalistas. A outra posição foi garantida por Cesar Castro no trampolim de três metros, no segundo dia de disputas.

O Brasil tem mais um judoca no topo de ranking mundial. Depois de Mayra Aguiar, que assumiu a liderança do meio-pesado feminino com ouro no Grand Slam de Paris, no começo de fevereiro, o meio-médio Leandro Guilheiro chegou a número 1 do mundo, mesmo sem ter lutado qualquer competição em 2012. Guilheiro, que na última atualização da lista aparecia seis pontos atrás do sul-coreano campeão mundial Jae-Bum Kim, agora está 54 pontos à frente de seu principal rival: 1.390 a 1.346.

YANE ENTRE AS MELHORES

DUPLA CONQUISTA

Foto: Wilfredo Lee/AP


>TÊNIS DUAS FINAIS, DUAS DERROTAS

>POLO AQUÁTICO

ADVERSÁRIOS DEFINIDOS

Os times masculino e feminino do polo aquático brasileiro já sabem quem vão enfrentar no Torneio Pré-Olímpico que será disputado em abril, na cidade italiana de Trieste. Serão três vagas em jogos para cada gênero. Entre os dias 1o e 7, os homens enfrentarão Espanha, Canadá, Venezuela, Argentina e Turquia. As mulheres jogam mais tarde, entre os dias 17 e 25, contra Grécia, Canadá, Cazaquistão e Holanda. Os nomes que farão parte dos times olímpicos serão definidos após o Campeonato Sul-Americano, em março.

>REMO SHOW PARAOLÍMPICO

O remo paraolímpico brasileiro arrasou no Campeonato Mundial de Remo Indoor realizado em Boston, nos Estados Unidos, em fevereiro. Antony Deraldo Bomfim e Claudia Santos, ambos da categoria AS (braço e ombro), venceram suas provas e ainda se tornaram recordistas em suas categorias. Agora, os atletas focam na preparação para os Jogos Paraolímpicos de Londres.

>RÚGBI BRASIL PROCURA UM SÍMBOLO

No mundo todo, as seleções de rúgbi são tradicionalmente representadas por símbolos. Lobos, pumas, águias e rosas são apenas alguns dos apelidos dos times de diferentes países. O Brasil não quis ficar para trás nessa moda e decidiu lançar um concurso para escolher o seu próprio símbolo. Os três candidatos – arara, índio tupi e sucuri – têm tudo a ver com a agilidade, a garra e a força associadas a esse esporte. Quer participar? Acesse brasilrugby.com.br e vote.

>TAE KWON DO

VITÓRIAS NOS EUA

A equipe do Brasil terminou em terceiro lugar no U.S Open de tae kwon do, realizado em fevereiro em Las Vegas. A competição, considerada a principal neste início de preparação para Londres 2012, viu Henrique Moura (categoria até 74 kg) levar bronze no último dia. Márcio Wenceslau conquistou o primeiro lugar na categoria até 63 kg e seu irmão, Marcel Wenceslau, ficou em terceiro na mesma divisão. Além disso, Diogo Silva (até 68 kg) conquistou a prata e Talita Djalma (até 62 kg) foi medalha de bronze.

O início de ano do mineiro André Sá, candidato a representar o Brasil em Londres, pode ser considerado bom, mas nem tanto. Apesar de ter chegado a duas finais consecutivas nos torneios de duplas – o brasileiro joga ao lado do eslovaco Michal Mertinak –, Sá saiu derrotado em ambas as ocasiões. Em fevereiro, o time perdeu o Aberto do Brasil para Bruno Soares e Eric Butorac. Uma semana depois, a dupla caiu em Buenos Aires por duplo 6x4 diante de Fernando Verdasco e David Marrero.

>TÊNIS DE MESA

PARCERIA COM FRANCESES

São cada vez mais fortes os laços entre o tênis de mesa brasileiro e francês. O país europeu, além de servir de base de treinamento para nossos atletas, agora também é alvo de uma possível proposta de parceria, que pode ser sacramentada nas próximas semanas. O presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Azevedo, que visitou a França durante o Carnaval, não revelou detalhes, mas disse que “novidades” serão anunciadas em breve. O que se sabe é que o Brasil já se propôs a encontrar um local de treinamento para os atletas franceses no período de preparação para a Olimpíada de 2016.

>TIRO VIAGEM GARANTIDA

O calendário internacional dos atletas de tiro esportivo está mais do que movimentado em 2012. Além dos Jogos Olímpicos de Londres, que acontecem entre julho e agosto, a ocupada agenda inclui etapas da Copa do Mundo de Tiro em março (Estados Unidos), abril (Inglaterra), maio (Itália e Alemanha) e junho (Pequim). Todas essas competições são precedidas por seletivas nacionais, realizadas principalmente no Rio de Janeiro.

>TIRO COM ARCO

ATLETAS CAEM NO SAMBA

Totalmente reformado e com sua capacidade de espectadores aumentada, o Sambódromo do Rio de Janeiro vai servir de palco para as competições de tiro com arco na Olimpíada e na Paraolimpíada de 2016. Para festejar a entrega do local – primeira instalação esportiva 100% terminada –, os atletas brasileiros da modalidade se encontraram com sambistas dias antes do Carnaval e promoveram uma “inauguração” oficial com muita música. Para os Jogos, o local precisará apenas passar por adaptações básicas, como a instalação da estrutura de competições.

>TRIATLO MAIS FÔLEGO

Enquanto o calendário brasileiro de provas de triatlo não começa – a primeira competição acontece no dia 11 de março –, parte da seleção nacional se prepara para as competições internacionais no México, onde a altitude elevada ajuda a elevar a taxa de glóbulos vermelhos e, consequentemente, melhora a oxigenação corporal durante as competições.

>VELA MARES ESTRANGEIROS

Os velejadores brasileiros já classificados para a Olimpíada e os que ainda disputam uma vaga têm agenda cheia em 2012. No calendário estão competições em Hyères, na França, e Palma de Mallorca, na Espanha. O evento espanhol, marcado para o fim de março, definirá qual dupla da categoria 470 representará o País nos Jogos: Martine Grael/Isabel Swan ou Fernanda Oliveira/Ana Barbachan.

>VÔLEI NA GELADEIRA

Um dos maiores astros do vôlei brasileiro, o ponteiro Giba vai ficar longe dos treinos durante pelo menos dois meses. Sofrendo há várias semanas com uma fratura por estresse na tíbia esquerda, o atleta foi operado no meio de fevereiro para que tivesse tempo hábil de se recuperar para a Olimpíada de Londres. O osso da perna de Giba foi fixado com uma haste de titânio presa por parafusos. A previsão é que o jogador volte a treinar apenas em abril ou no começo de maio.

>VÔLEI DE PRAIA JOGO PARA NOBRES

O vôlei de praia foi uma das modalidades escolhidas pelo príncipe Harry para promover a Olimpíada de Londres no Brasil. Durante sua visita ao País, em março, o terceiro na linha sucessória britânica vai jogar uma partida amistosa, em local a ser definido.


PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história | por Edson Franco

Olho mágico Com apenas 10% da sua visão, o coreano Im Dong-Hyun é recordista mundial do tiro com arco e vai a Londres buscar a glória que falta CADA ARQUEIRO TEM 72 CHANCES para acertar um ponto amarelo a 70 metros de distância. O centro do alvo tem o tamanho aproximado de uma maçã, mas, do ponto de vista do competidor, está mais para uma ervilha. Apesar disso, o atual recordista mundial do tiro com arco consegue fazer 693 pontos num total de 720 possíveis. A façanha é ainda mais incrível quando se sabe que, além de puxados, os olhos desse arqueiro só conseguem captar e focar cerca de 10% da luz que recebe. E assim, na condição de legalmente cego, o sul-coreano Im Dong-Hyun é o maior atleta desse esporte. Importante reforçar: atleta, e não para-atleta. “Quando olho para o alvo, parece que várias cores estão se misturando na água. As linhas desaparecem, e tudo é meio embaçado”, disse ele ao jornal inglês “The Telegraph”, logo depois de ter batido o recorde mundial em outubro de 2011. Durante as competições, é comum que, após cada arremesso, ele se vire para companheiros de equipe e pergunte: “E aí, acertei?”. Se ele não consegue nem ter certeza sobre o destino da flecha, qual o segredo para um aproveitamento tão inalcançável? Não é o clássico caso de os demais sentidos se juntando para compensar as limitações de outro. Olfato, audição e paladar não têm nada a ver com isso. Só o tato entra na receita. Dong-Hyun aprendeu a “sentir” cada disparo com o corpo. Seus músculos e articulações são treinados para ter precisão cirúrgica na hora de se aprumar na linha de tiro, esticar o barbante do arco e soltar a flecha. É esporte, mas, no caso do coreano, vira quase balé. Qualquer mínima alteração em seu corpo pode colocar em risco esse equilíbrio. Ele costumava jogar futebol, mas a prática tonificava seus músculos, o que modificava o balanço perfeito da máquina de lançar flechas que é seu corpo. Até o uso de óculos com lentes corretivas pode pôr tudo a perder. Hoje com 25 anos, ele começou a praticar o esporte há uma década, seguindo a recomendação de um professor. Com dois anos de prática, já ajudou a equipe coreana a ganhar o ouro nos Jogos de Atenas 2004. Quatro anos depois, repetiu a façanha em Pequim. Apesar disso e do recorde mundial, ele ainda não conquistou aquela que considera a maior glória possível: o alto do pódio individual em uma Olimpíada. É com essa carência no currículo que ele vai para Londres neste ano. Que seus companheiros se preparem para dizer muitas vezes a frase: “Boa, Im, acertou de novo.” LACUNA Dong-Hyun venceu quase tudo, só falta o ouro olímpico individual

As proezas do arqueiro coreano OLIMPÍADAS Ouro em Atenas-2004 (equipes) Ouro em Pequim-2008 (equipes) MUNDIAIS Ouro em Ulsan-2009 (equipes) 2 ouros em Leipzig-2007 (equipes e individual) Ouro em Nova York-2003 (equipes) RECORDE MUNDIAL 693 pontos na prova de 72 flechas, estabelecido na competição London Archery Classic, em outubro de 2011 Foto: Jeff Gross/Getty


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