Revista 2016 / Maio

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JACQUELINE SILVA, A REVOLUCIONÁRIA DO VÔLEI: "VOU PARA A OLIMPÍADA NEM QUE SEJA POR OUTRO PAÍS"

O FENÔMENO DAS CORRIDAS DE RUA A OBSESSÃO DE 700 MILHÕES DE PESSOAS PELO ESPORTE MAIS SIMPLES DO MUNDO

FERNANDO PORTUGAL, CAPITÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE RÚGBI

POR UM TRIZ COMO O CAMPEÃO MUNDIAL RICARDO WINICKI, O BIMBA, SALVOU O WINDSURFE DE SER EXCLUÍDO DOS JOGOS DE 2016 PATROCÍNIO A COPA DE 2014 VAI TIRAR DINHEIRO DOS ATLETAS OLÍMPICOS? FUTEBOL FEMININO POR QUE NINGUÉM DÁ BOLA PARA ELAS

A HORA DE SAIR DA LAMA A HEROICA BATALHA DO RÚGBI BRASILEIRO CONTRA O MAIOR INIMIGO DO ESPORTE: O ANONIMATO

MAIO 2013 Edição 25 | Ano 4

www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

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EXPEDIENTE EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO CACO ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO LUIZ FERNANDO SÁ DIRETOR DE REDAÇÃO AMAURI SEGALLA EDITOR LUCAS BESSEL EDITOR DE ARTE PEDRO MATALLO EDITOR-EXECUTIVO DE FOTOGRAFIA CESAR ITIBERÊ EDITOR DE FOTOGRAFIA JUCA RODRIGUES COLABORADORES

FOTOGRAFIA AGÊNCIA ISTOÉ APOIO ADMINISTRATIVO

TEXTO: DANIELLE SANCHES, DENIS MACIEL, FÁTIMA CARDEAL, FLÁVIA RIBEIRO, MARCEL GUGONI, MARIANA BASTOS, NATALIE GEDRA, PEDRO MARCONDES DE MOURA, RENATA VALÉRIO DE MESQUITA, RODRIGO CARDOSO, RODRIGO LARA, ROSANGELA PETTA, SERGIO QUINTANILHA, SIMONE ALEIXO, TOM CARDOSO, VERA LYNN FOTOS: CAIO GUATELLI, CHRISTIAN GAUL, DARYAN DORNELLES, EDUARDO ZAPPIA, ORESTES LOCATEL ILUSTRAÇÃO: DANIEL ROSINI, OLIVER QUINTO PRODUÇÃO: CINTIA SANCHEZ REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan

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4 MAIO 2013 | ISTOÉ 2016


Nós também precisamos evoluir Como era de esperar, a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 provocou uma avalanche de cobranças. Nossos atletas se matam de tanto treinar? Os gestores do esporte brasileiro trabalham com seriedade e dedicação? As empresas investem quanto deveriam? A obsessão pelo título no futebol e por medalhas no Rio é alimentada, em grande medida, por uma categoria que, com raras exceções, se considera acima do bem e do mal: os jornalistas. Nós sempre exigimos – com razão, diga-se – um desempenho melhor daqueles que têm o desafio de representar o País. Estamos cobertos de razão quando apontamos os erros das autoridades. Temos boas intenções quando instigamos as empresas a colocar mais dinheiro no esporte. É inegável que, graças à firme atuação da imprensa, os protagonistas do esporte nacional evoluíram nos últimos anos. Mas essa constatação não exclui uma verdade incontestável: nós, jornalistas, também precisamos melhorar. O esporte brasileiro tem produzido nos últimos anos algumas das figuras mais fascinantes da vida nacional. Isso está devidamente registrado nas páginas dos jornais, das revistas (incluindo a 2016) e nos programas de tevê? Onde estão os grandes perfis? O que aconteceu com as reportagens de fôlego? Por que pouca gente tenta fazer algo realmente diferente? Desconfio que parte dessa acomodação se deve ao futebol. O jornalismo boleiro está baseado na relação muitas vezes perniciosa entre atletas e a mídia. Outro dia ouvi um

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comentarista conhecido dizer que não tem interesse na vida extracampo dos jogadores. Isso é um absurdo sem tamanho. A vida fora do futebol, das quadras, dos tatames, das piscinas deve, sim, servir de matéria-prima para jornalistas inspirados. Os atletas não são só aquilo que se vê no campo esportivo. É impossível, vá lá, conhecer Neymar em toda a sua dimensão sem saber como ele se comporta no âmbito doméstico, sem descobrir suas predileções, sem observá-lo fora de um campo de futebol. Nesse aspecto, a 2016 tenta dar a sua contribuição. É certo que precisamos evoluir muito e que cometemos muitos erros nesses quase quatro anos da publicação. Mas também é certo que buscamos escapar do conformismo ao cobrir o mundo dos esportes. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br

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ROSAngELA PEttA

Jornalista com mestrado em artes cênicas, Rosangela Petta trabalhou para o "Jornal do Brasil", "O Estado de S. Paulo", "Revista Goodyear, TV Cultura e ISTOÉ, além de colaborar com dezenas de outros veículos. Desde 2002, é consultora em comunicação. Como dramaturga, escreveu para teatro, cinema e televisão. Há dois anos, dirige a Oficina de Escrita Criativa, um centro de cursos livres em São Paulo, voltado para a profissionalização de autores. Nesta edição da 2016, foi a responsável pelo divertido texto sobre o tatu-bola Fuleco, o mascote da Copa do Mundo de 2014.

RODRigO LARA

Rodrigo Lara é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo. Especializado em carros e fanático por corridas, já dirigiu modelos de todos os preços e tamanhos. Passou pelo portal UOL, pela Folha de S.Paulo e pelo site Carplace. Atualmente, divide seu interesse entre carros, esportes e música. Nesta edição da 2016, teve a missão de contar a história do autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que foi demolido para dar lugar ao Parque Olímpico.

MARiAnA BAStOS

Mariana Bastos cursou economia na Unicamp e jornalismo na USP. Apaixonou-se por esportes olímpicos aos 8 anos, quando assistiu, pela tevê, aos Jogos de Seul, em 1998.Teve a oportunidade de cobrir a Olimpíada da Juventude de Cingapura, em 2010, e a Olimpíada de Londres, em 2012. Há dez anos, trabalha com jornalismo esportivo. Já passou pelas redações de Lance, UOL e Folha de S.Paulo. Nesta edição da 2016, realizou a completíssima reportagem sobre os patrocínios esportivos no Brasil.

PEDRO MARCOnDES DE MOuRA

A cada edição da 2016, este repórter de política da ISTOÉ conhece um pouco mais do universo esportivo. Já se encantou com a plasticidade das atletas do nado sincronizado, divertiu-se com o maestro argentino da seleção masculina de basquete, Rubén Magnano, e elaborou um raio X preciso dos nossos competidores que foram aos Jogos de Londres. Para esta edição, escreveu sobre as ambições do rúgbi brasileiro, que, aliás, não são nada modestas.

COLABORADORES

JOãO CAStELLAnO

O responsável pelo espetacular ensaio que acompanha a reportagem sobre corridas de rua no Brasil sonhava ser goleiro desde os 3 anos de idade. Passou pelas peneiras de Palmeiras e Portuguesa, mas não foi aprovado. Inconsolável, foi para a Califórnia se encontrar com a irmã e o cunhado. Juntos, vieram de carro para o Brasil. Com tantas imagens feitas no caminho, nascia o amor de João pela fotografia. Passou um tempo vivendo de bicos como cuspidor de fogo em festas e malabarista de semáforo. Foi para Nova York e começou a fotografar casamentos. Acabou clicando a Fashion Week de lá e foi contratado pela Hugo Boss. Voltou novamente ao Brasil e, para a sorte da 2016, mantém sua lente em constante atividade.

CAiO guAtELLi

Caio Guatelli é um talentoso fotógrafo baseado em São Paulo que tem no esporte uma de suas paixões. Além de registrar muitos dos cliques mais impressionantes que já estamparam as páginas da 2016, ele próprio é exciclista, campeão paulista de subida de montanha em 1992. Caio trabalha com fotografia desde 1996 e foi ganhador dos prêmios Abril e Folha de Jornalismo, em 2005 e 2009. Na presente edição, fez um ensaio sensível – e ao mesmo tempo forte – com as jogadoras da seleção brasileira de futebol feminino em um campo de várzea da capital paulista.


4 EXPEDIENTE 5 EDITORIAL 8 COLABORADORES

SEÇÕES

14

CLIQUE OLÍMPICO A Maratona de Boston se transforma em uma corrida pela vida após os ataques terroristas de 15 de abril

20

AQUECIMENTO Álvaro de Miranda Neto, o Doda, medalhista de bronze no hipismo, fala sobre a disciplina rígida do esporte e admite: “Chorei muitas vezes nos treinos”

26

28

REPORTAGENS

32 CORPO A CORPO

84 A HORA DE VIRAR O JOGO

42 CONTRA A CORRENTE

90 MEMÓRIA A TODA VELOCIDADE

A batalha épica do rúgbi para ganhar adeptos no Brasil e formar seleções capazes de buscar medalhas no Rio de Janeiro Ricardo Winicki, o Bimba, ajudou a salvar o windsurfe da exclusão do programa olímpico. Agora, ele quer sua recompensa em ouro

RAIO X O aparato tecnológico que garante cronometragens precisas na prova mais rápida do atletismo: os 100 metros rasos

52 O ESPORTE MAIS POPULAR

ENTREVISTA: JACQUELINE SILVA A rebelde do vôlei fala sobre o boicote que sofreu no Brasil após protestar contra a falta de repasse do dinheiro de patrocínios às jogadoras e crava: “Vou para a Olimpíada nem que seja por outro país”

60 O DONO DA REDE

104 PERFORMANCE

Os aplicativos para smartphones e tablets que conectam atletas profissionais e amadores

106 CONCENTRAÇÃO

As homenagens que não deram certo: estátuas de atletas viram motivo de piada ao redor do mundo

108 PAINEL

A esgrimista Gabriela Cecchini, 15 anos, é a segunda brasileira na história a subir ao pódio em mundiais

114 PÁGINA DOURADA

Nascida na Berlim Oriental, Katarina Witt ganhou dois ouros olímpicos no auge da Guerra Fria e até hoje ninguém sabe se ela foi ou não informante da polícia secreta alemã

Por que as corridas de rua se tornaram um fenômeno global que seduz 700 milhões de pessoas Quem é Ary Graça, o brasileiro que fez o vôlei nacional chegar ao topo e, agora, é o dirigente número 1 do esporte no mundo

65 BOLA PARA FULECO

Como um simples tatu da Caatinga virou o mascote oficial da Copa do Mundo de 2014

70 LINHA DO TEMPO

A reinvenção dos equipamentos esportivos, que passaram de rudimentares peças de couro e madeira a objetos com tecnologia de ponta

76 ONDE ESTÁ O DINHEIRO

A disputa entre a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 pelas verbas de patrocínio

Atletas desempregadas, falta de recursos e clubes que não se sustentam: por que, no Brasil, ninguém dá bola para o futebol feminino Jacarepaguá, o circuito que deixou de existir para dar lugar ao Parque Olímpico, foi palco de disputas entre Senna e Piquet e marcou a era de ouro do automobilismo nacional

96 VIDA EM DUAS RODAS

Quem é André Gohr, o catarinense de 16 anos que abre mão de festas e namoradas para justificar o título de maior promessa do ciclismo nacional

100 BIG BROTHER CARIOCA

O Centro de Operações reúne em um único lugar tudo que a Prefeitura do Rio precisa para monitorar a cidade e agir em caso de emergências


CliqueOlímpicO imAGENS SURpREENDENTES DO ESpORTE

Em Boston, a corrida PELa Vida

Às 14h50 do dia 15 de abril de 2013, uma segunda-feira, feriado do Dia do Patriota nos Estados Unidos, a tradicional Maratona de Boston virou uma corrida pela vida. Nesse horário, duas explosões atingiram a linha de chegada da competição, no centro da cidade. Era o terror que voltava a atacar os Estados Unidos. A ação – os indícios levam a crer – foi planejada e executada por dois irmãos russos de raízes chechenas. As bombas caseiras, colocadas em mochilas comuns, não atingiram autoridades, personalidades ou atletas famosos. As vítimas – três mortos e 180 feridos – foram simples espectadores que assistiam a um dos eventos esportivos mais tradicionais do país. Policiais e voluntários, programados pelo constante sentimento de ameaça após o 11 de Setembro, salvaram centenas de pessoas, como o corredor que aparece caído nesta foto. Naquele instante, vitória era mais do que uma medalha no peito: era vida.


Foto: John Tlumacki/The Boston Globe/Getty


CliqueOlímpicO

Em LondrEs, a corrida da rEsistência


Trinta segundos de silêncio – dez para cada vida perdida em Boston –marcaram o início da Maratona de Londres, disputada seis dias após o atentado que chocou os Estados Unidos. Os 35 mil participantes da corrida britânica, exibindo fitas pretas em sinal de luto, ouviram pelos alto-falantes: “Juntamonos para recordar os nossos amigos e colegas para quem um dia de alegria se tornou um dia de tristeza.” Silêncio doído, de quem sabia que, diante do terror, qualquer um poderia ser vítima. Os mortos de Boston poderiam ser os mortos de Londres, Berlim, Nova York ou Madri. Os ataques à maratona poderiam acontecer no metrô, no ônibus, na Olimpíada ou no prédio de escritórios. Em memória das vítimas de Boston, Londres – ela própria machucada por ataques no passado – mostrou que não há homenagem maior do que a resistência e a continuidade. A prova, vencida pelo etíope Tsegaye Kebede e pela queniana Priscah Jeptoo, entrou para a história como aquela em que o mundo não se curvou ao terror.

Foto: Luke MacGregor/Reuters


AS EINOS”

“CHOREI MUITAS VEZES NOS TREINOS” Apesar de ser um dos atletas mais completos do País, dono de duas medalhas olímpicas (bronze em Atlanta-1996 e Sydney-2000), o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, é lembrado mais como o marido de Athina Onassis, única neta do magnata grego Aristóteles Onassis, do que como um esportista de alto nível. Mas isso não é justo. Doda, 40 anos, tem uma sólida carreira como cavaleiro e certamente chegará a 2016 como um dos brasileiros com mais chances de faturar a medalha de ouro. No depoimento a seguir, dado ao repórter Tom Cardoso, Doda conta um pouco da sua história. Com uma ressalva: ele só não quis falar de Athina.


Rio-2016 Os Jogos no Brasil serão um sucesso. Problemas, todo país tem, mas vamos superá-los com o engajamento do povo brasileiro. Quanto à minha participação, preciso, primeiro, merecer ser convocado. Tenho a meu favor a experiência. Participei de todas as Olimpíadas desde Atlanta-1996. Agora, estou investindo ainda mais em treinamento. Ganhar uma medalha no Rio é a minha principal meta.

Estrutura para treinos Monto, em média, sete cavalos por dia. Folgo apenas uma vez por semana. Sempre tive uma estrutura à altura de minhas reais necessidades e até superior ao nível em que me encontrava. Acho que isso explica muito de minha evolução no esporte. Iniciei minha carreira no hipismo aos 10 anos e, desde então, sempre contei com excelentes mestres, cavalos e equipamentos.

Disciplina

Um personagem muito importante na minha carreira é o coronel Renyldo Ferreira, um dos meus primeiros treinadores. Chorei muitas vezes por causa do nível de exigência de seus treinamentos. A importância dele está refletida em minhas atitudes de cavaleiro, do respeito ao cavalo à obstinação pela vitória. Ele era tão perfeccionista que se preocupava até com as caretas que eu fazia na hora de saltar. Chegou a grudar um pedaço de esparadrapo no obstáculo e disse que, na próxima careta, ia grudá-lo na minha boca. Ele me corrigiu para sempre.

Rodrigo Pessoa Ele é o melhor cavaleiro do mundo. Nelson Pessoa, seu pai, além de ser considerado o Pelé do hipismo, conseguiu passar para o filho todos os seus conhecimentos. Aprendi muito com eles.

Cobrança da família

Decepção nos Jogos de Pequim-2008

Quando conquistei a medalha de bronze em Atlanta, meu pai (o empresário Ricardo Miranda) me deu uma foto em que eu, com 10 anos, chorava com medo da aula de equitação. Nesse dia, ele ficou furioso. Depois de tirar a tal foto, disse que me devolveria o retrato quando eu ganhasse algo realmente importante. Desde então, venci centenas de concursos no Brasil e no Exterior, mas ele só me devolveu a foto quando conquistei a medalha de bronze em Atlanta.

Cheguei a Pequim como o melhor brasileiro no ranking mundial e me sentia numa forma incrível para disputar os Jogos. Infelizmente, minha égua (AD Picolien) teve de ser operada um dia antes da competição. Faz parte da vida de um cavaleiro. A Camila Benedicto competiu no meu lugar e terminou com o melhor resultado do Brasil. Mesmo sem competir, pedi aos dirigentes que me garantissem uma credencial de atleta. Eu queria estar por perto.

SALTO: Doda nos Jogos de Londres

Foto: Mike Hutchings/Reuters

Montar a cavalo Quando decidi praticar hipismo, meu pai perguntou o que eu gostaria de fazer, “andar a cavalo” ou “montar a cavalo”. Como eu não entendi a diferença, ele explicou: “Você vai saber andar a cavalo daqui a algumas semanas, mas montar a cavalo é outra coisa. Você jamais saberá tudo.” Nunca esqueci essas palavras.

Medalha riscada Nos Jogos de Atlanta, depois da conquista da medalha de bronze por equipe (formada por Doda, Rodrigo Pessoa, Luiz Felipe Azevedo e André Johannpeter), fomos dormir e deixamos as medalhas penduradas no armário que ficava em frente aos nossos beliches. Quando acordei, não vi as medalhas. Perguntei para o Rodrigo, que respondeu: “Fique tranquilo, coloquei todas elas no armário.” Eu reclamei, falando que aquilo era um absurdo, pois não dava mais pra saber qual era a medalha de cada um. E ele, na maior cara de pau, disse que tinha marcado a minha. É verdade. Para não misturar as medalhas, riscou justamente a minha.

Athina Onassis Horse Show Sempre tive o sonho de realizar no Brasil um concurso de nível internacional, igual ou melhor que qualquer outro. Levei anos catalogando experiências e informações sobre todos os concursos hípicos do mundo. Conversei com cavaleiros, torcedores, apoiadores, patrocinadores, profissionais, mídia, fornecedores, enfim, com todos os envolvidos em um evento desse nível. Esse esforço resultou no projeto do AOHS. Tenho que agradecer especialmente à Athina, que sempre me apoiou a ponto de emprestar seu nome de prestígio ao evento.

Casamento com Athina Onassis Não falo sobre minha vida pessoal.


A cAsA dos Jogos de 2020 Três cidades estão na briga para sediar a Olimpíada de 2020: Madri, Tóquio e Istambul. Observe os trunfos e os pontos fracos de cada uma das concorrentes Os Jogos do Rio de Janeiro ainda nem começaram, mas o Comitê Olímpico Internacional já tem os nomes das três candidatas qualificadas para disputar a Olimpíada de 2020. Madri, capital da Espanha, Tóquio, capital do Japão, e Istambul, maior cidade da Turquia, estão no páreo. Doha, capital do Qatar, e Baku, capital do Azerbaijão, ficaram de fora. O nome da escolhida para sediar a 32ª Olimpíada da era moderna será oficializado em 7 de setembro, na Argentina. A lista de concorrentes é a menor desde 1988, quan-

do somente duas cidades – Seul, na Coreia do Sul, e Nagoya, no Japão – brigaram pelo direito de realizar o evento. As escolhas do COI seguem um ritual de quase uma década de duração. Em 2012, as cidades aspirantes aos Jogos de 2020 entregaram um questionário de inscrição e um grupo de 12 especialistas avaliou uma série de quesitos. Notas de zero a dez foram dadas a tópicos como transportes, experiência da cidade na realização de eventos esportivos, meio ambiente, oferta de acomodações e, principalmente, legado

planejado para depois do evento. Istambul se inscreve desde 1992. Em 2000 e 2008, chegou a estar entre as finalistas (perdeu para Sydney e Pequim, respectivamente), mas nas outras ocasiões não passou da fase de qualificação. Tóquio já realizou uma Olimpíada (1964) e usa isso como um dos argumentos a seu favor. Madri apresenta sua terceira candidatura seguida e desta vez desponta como favorita. Confira os principais pontos positivos e negativos de cada uma das concorrentes à sede dos Jogos de 2020.


Manda beM · Terceira tentativa seguida de candidatura · Infraestrutura desenvolvida, com 22 dos 36 centros esportivos e de treinamento previstos já prontos e o menor valor de investimento necessário (US$ 2,4 bilhões até 2019) · Acomodações superam o requisito mínimo do COI (46 mil leitos a delegações) · Infraestrutura de transportes é altamente desenvolvida

Manda Mal · Crise econômica e alto endividamento do país deixam dúvidas sobre a capacidade de oferta de financiamentos das obras

Manda beM · Segunda tentativa seguida de candidatura · Amplo espaço para centro de imprensa e transmissão internacional · Tem quase o triplo das acomodações mínimas para atletas e delegações exigidas pelo COI · Telecomunicações consideradas de ponta por sua imensa capacidade de inovação · Segurança elevada e a maior rede de transportes sobre trilhos entre as concorrentes

Manda Mal · Energia e meio ambiente são pontos de atenção da capital japonesa após o terremoto de 2011, que afetou a usina nuclear de Fukushima

Manda beM · A população é a que mais apoia a cidade como sede dos Jogos de 2020: 87% querem a Olimpíada · A cidade criou um comitê especial para os Jogos e aprovou uma Lei Olímpica para facilitar projetos e investimentos

Manda Mal · Necessidade de melhorias para atingir padrões mínimos europeus de qualidade do ar e da água, de saneamento básico e de diminuição do TRânSITO · A Infraestrutura é o maior gargalo da capital turca, com poucas estradas, metrô e acomodações · A segurança também merece atenção

MadRI TÓQUIO ISTaMbUl

A s n otA s d o c o I pA r A c A d A c I d A d e Madri

Tóquio

Istambul

Concepção dos Jogos Olímpicos e locais de competição

8,5

8

7

Vila olímpica

8,5

8

7

Centro de imprensa

7,5

8,5

7

experiência esportiva

8

7,5

6,25

ambiente e meteorologia

8,25

6,75

6

acomodação

8,5

9,5

7

Transportes

8,5

8,5

6

Serviços médicos e antidopagem

8,5

8,5

7,5

Segurança

7,5

8

6,5

Telecomunicações

9

9

7

energia

8,5

6,5

7

aspectos legais e aduaneiros

8

8

8

apoio público e governamental

8

7,5

8,5

Manda bem

Financiamento e marketing

6,5

7,5

7

Empate

Nota média do COI

8,08

8,02

6,98

Manda mal

Foto: Shutterstock | Divulgação


AQUECIMENTO

ATENÇÃO, DIRIGENTES: UM JOVEM CAMPEÃO PRECISA DE AJUDA Poucos boxeadores brasileiros surgiram de forma tão avassaladora quanto o paulista David Lourenço. Campeão mundial juvenil no Azerbaijão e ouro na Olimpíada da Juventude de Cingapura, Lourenço parecia ser candidato, aos 18 anos, a nova estrela do esporte brasileiro. Depois dos títulos conquistados em 2010, porém, a coisa desandou. Preterido por Esquiva Falcão para disputar os Jogos de Londres, Lourenço desapareceu por alguns dias. Chateado, dirigiu sem rumo e chegou a

dormir dentro do próprio carro. De volta aos treinos e à seleção brasileira de boxe, irritou os técnicos com o número excessivo de faltas. Segundo relatos, seu desânimo era visível e um psicólogo diagnosticou o caso como depressão. A última da jovem promessa foi desistir da seleção. Lourenço diz que não sabe direito que caminho seguir. Talvez o boxe profissional. Talvez não. O que está claro é que o rapaz precisa de ajuda. E o País precisa de seu enorme talento para o boxe.

CIELO E FEDERICA PELLEGRINI, JUNTOS Cesar Cielo, o maior nadador da história do Brasil, e a italiana Federica Pellegrini, musa número 1 do esporte (sim, ela é uma grande campeã também), vão desfilar, a partir de agora, a mesma grife nas piscinas. No fim de abril, Cielo trocou a Arena, fornecedora de material esportivo que o acompanhava desde 2008, pela Jaked, que tem Federica como sua principal contratada. O novo contrato de Cielo vai até os Jogos do Rio, em 2016.


A RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO DO PARQUE OLÍMPICO DE LONDRES Menos de um ano depois dos Jogos de 2012, o parque olímpico de Londres está mudado. As instalações temporárias, como restaurantes (entre eles o maior McDonald’s do mundo), pavilhões e banheiros públicos, desapareceram. O campo de hóquei foi demolido e as arquibancadas do centro aquático tiveram sua capacidade reduzida de 17,5 mil para 2,5 mil espectadores. Tudo isso faz parte do projeto de

transformar o parque olímpico em um bairro residencial. O lugar está em obras e a prefeitura da cidade arranjou uma forma criativa de faturar com a mudança, orçada em US$ 1 bilhão. Quem quiser fazer um passeio de ônibus para conhecer o local desembolsa R$ 50. O valor inclui o ingresso para subir ao topo da torre panorâmica Orbit , escultura de aço que se tornou símbolo dos Jogos.

UFC VAI À LUTA a campanha dos atletas da luta olímpica para convencer o Comitê Olímpico Internacional a não retirar esse esporte do programa oficial dos Jogos depois de 2016 – um absurdo defendido pelo próprio COI – ganhou reforço de peso. Reconhecido como o responsável por transformar o Ultimate Fighting Championship em um evento planetário, o americano dana White será um dos líderes do recém-criado Comitê de Preservação da Luta Olímpica, que tem o desafio de convencer as autoridades a não votarem pela exclusão. White, também presidente do UFC, tem se encontrado com lutadores e pretende lançar um plano de ação, que inclui até a mudança de algumas regras, para tornar a luta olímpica atraente para o público e a mídia. Ele diz que sua nova bandeira tem a ver com gratidão. Diversos atletas ingressaram no UFC depois de passar pela luta olímpica. Entre eles, gente como Randy Couture, Dan Henderson, Matt Hughes e o polêmico Chael Sonnen. A decisão do COI sai em setembro.

Fotos: João Castellano/Ag. Istoé | Andrew Coie/AFP | Jed Jacobsohn/Corbis | Divulgação


aquecimento RAIO X Tudo o que você precisa saber sobre A CRONOMETRAGEM DOS 100 METROS RASOS

AcOmpAnhAR A evOluçãO dO seR humAnO diante de limites aparentemente insuperáveis é um dos fatores que tornam a olimpíada um evento tão espetacular. na maioria das disputas, apenas o olho nu é insuficiente para dar conta dessa tarefa. na prova dos 100 metros rasos, os recordes são quebrados por centésimos, às vezes milésimos de segundo. é aí que entra a tecnologia. na olimpíada de londres, em 2012, um novo sistema de aferição do tempo dos velocistas garantiu precisão jamais vista. descubra como ele funciona:

Largada queimada Sensores instalados na pista indicam se o atleta queimou a largada. Quando isso acontece, uma buzina dispara automaticamente e o velocista é desclassificado.

Largada O início da prova é marcado pelo estampido de tiro de festim disparado pelo juiz – uma tradição antiga mantida até hoje. Em 2012, a arma utilizada foi um modelo eletrônico integrado ao sistema de contagem de tempo. Assim que o tiro é disparado, o tempo passa a ser cronometrado. Para garantir que todos os atletas ouçam o som, ele é reproduzido por alto-falantes em vários pontos da pista.

26 maio 2013 | istoé 2016

Linha de chegada

Photofinish

Na linha de chegada, sensores criam um campo eletromagnético que serve como um marcador invisível. Assim que o atleta passa por ele, o campo detecta o movimento e repassa o estímulo para o cronômetro, que para imediatamente.

Utilizado desde 1932, o Photofinish fotografa a linha de chegada para, em caso de dúvida, apontar o vencedor. Em Londres-2012, o sistema consistia em duas câmeras, posicionadas em ângulos distintos, que captam incríveis duas mil imagens por segundo no final da prova. Com elas, é possível ver em intervalos de até 0,5 milésimo de segundo. É por isso que o nome do vencedor muitas vezes vem apenas após a análise das imagens da chegada.


marcas históricas

>9,58 segundos é o recorde mundial da prova, estabelecido em 2009 pelo jamaicano Usain Bolt, no Campeonato Mundial de Atletismo >9,63 segundos é o recorde olímpico, marcado também por Bolt, nos Jogos de Londres, em 2012 >1896 foi o ano em que a prova foi introduzida nos Jogos Olímpicos de Atenas, os primeiros da Era Moderna >12 segundos foi o tempo feito pelo americano Tom Burke na primeira prova dos 100 metros rasos >até 1948, o vencedor da prova era determinado por uma fita na linha de chegada

nas aLturas Além dos ventos a favor, altitudes elevadas influenciam na performance dos atletas. Com a baixa resistência do ar, fica mais fácil chegar à linha final. Embora não exista uma regra que desqualifique os tempos em condições assim, as marcas em grandes altitudes são sempre acompanhadas de um “A” no final. visão humana

feixe de Luz

Mesmo limitada, a visão humana ainda é uma arma efetiva durante a prova. Por isso, há quatro árbitros que controlam a disputa: o geral, o de partida, seu assistente e o juiz do Photofinish – fora os auxiliares e voluntários, que se esforçam para garantir que ninguém queime a saída ou invada alguma raia. Essa equipe também ajuda na cronometragem: cada atleta possui três pessoas avaliando seu tempo.

Outro mecanismo para definir a chegada são os lasers. Em Londres-2012, um laser foi projetado na linha de chegada para marcar o tempo de cada atleta ao cruzá-la. Esse dado é sincronizado com as câmeras digitais de alta velocidade e podem ajudar a definir o vencedor.

Fotos: Adam Pretty/Getty | Leon Neal/AFP

a força do vento Nem toda essa parafernália eletrônica anula a força da natureza. A velocidade do vento, por exemplo, pode reduzir drasticamente a performance do atleta – ou, ao contrário, dar uma incrível vantagem a ele. Hoje, a IAAF (International Association of Athletics Federations) determina que apenas registros com ventos de até 2 m/s a favor sejam aceitáveis para compor os recordes.


entrevista jacqueline silva


“ Vo u para a o l i mp íada m e s m o se t i Ve r q u e d e f e n de r o u t ro país” Não é exagero dizer que Jacqueline Louise Cruz Silva é uma revolucionária. Depois de participar de duas Olimpíadas (Moscou-1980 e Los Angeles-1984), ela protestou, sozinha, contra a falta de repasse do dinheiro de patrocínio às jogadoras. Para mostrar sua indignação, Jacqueline vestiu a camisa da seleção do avesso – e viu o mundo desabar sobre seus ombros. Cortada da equipe nacional e boicotada por clubes brasileiros, teve de se reinventar nos Estados Unidos. Lá, tornou-se a melhor jogadora de vôlei de praia do planeta e virou ídolo dos americanos. Por uma dessas ironias que só uma vida repleta de dramas pode proporcionar, foi convidada a retornar ao País que a desprezara. Defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e ganhou a medalha de ouro no vôlei de praia ao lado de Sandra Pires (elas foram as primeiras mulheres brasileiras a faturar um título olímpico). Aos 51 anos, Jackie, apelido que ganhou no Exterior, fala das brigas que comprou, dos erros que cometeu, das reviravoltas espetaculares em sua trajetória e explica por que pretende, de novo, participar de uma Olimpíada. Nem que seja para vestir as cores de outro país, como treinadora.

2016 – Por que você deixou, no início do ano, o comando das seleções brasileiras femininas sub-19 e sub-21 de vôlei de praia? Jacqueline – Fui pega de surpresa. Me chamaram para conversar e pediram que eu trabalhasse em tempo integral, de segunda a sábado, em Saquarema, no Rio de Janeiro, para onde eu ia apenas três dias por semana. O problema é que eu toco a minha escola de vôlei de praia e outros projetos.

Você concorda com uma seleção permanente em Saquarema? Um grupo de atletas vai para um centro de treinamento para ser treinado por um único treinador. Mais tarde, ele escolhe as melhores para representar o País no circuito mundial. Concordo que um centro de treinamento é mais equipado, mas esse tipo de atleta, o de praia, não cresceu lá. Pelo contrário: cresceu livre. Não sei se é a melhor coisa a ser feita.

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por RodRigo CaRdoso foto eduaRdo zappia


entrevista jacqueline silva

Por que não? A essência do vôlei de praia é a liberdade. O vôlei de praia sempre foi bancado pelos atletas, que compravam as passagens, reservavam o hotel, escolhiam seus treinadores, montavam o treino, cuidavam da preparação física. Foi assim que o Brasil conseguiu as suas medalhas, mas a confederação acha que precisa fazer uma mudança radical. A partir de agora, é a confederação quem comanda o espetáculo e não mais os atletas. Não sei se isso é bom.

Você tentou argumentar isso com a confederação? Tentei, mas percebi que estava perdendo o meu tempo. Já conheci radicalização semelhante (nos anos 80, ela protestou contra a falta de repasse da verba de patrocínio às jogadoras da seleção e foi cortada). Trinta anos depois, vou passar pela mesma história? Virei a página e sigo em frente.

Houve alguma manifestação das jogadoras sobre as mudanças? Os atletas daqui aceitaram.

E como você ficou nessa história? Eu queria muito estar envolvida com a Olimpíada, ainda mais no Brasil. Eu pedi para trabalhar. Pedi para o Ary (o brasileiro Ary Graça, atual presidente da Federação Internacional de Vôlei). Eu queria trabalhar com jogadores top de linha, mas apareceu a oportunidade de trabalhar com a base. Com o passar dos anos, percebi que a Olimpíada faz parte da minha vida e comecei a ver que a minha importância para o esporte é grande. Meu sonho é voltar à Olimpíada e ele não acabou. Qual é a sua ideia? A Olimpíada vai acontecer na cidade onde nasci, no meu país. Eu tenho história no vôlei, trabalhei durante muitos anos. Não posso ficar de fora. Estarei na Olimpíada mesmo que tenha que defender outro país.

Você era tida como uma jogadora rebelde por contestar o que considerava injusto. Quanto essa postura prejudicou a sua carreira? Eu não fui uma atleta exemplar. Não mesmo. Vivia no baixo Leblon, fazia teatro, andava com outras tribos, gente com mais opinião e não com pessoas do esporte. A minha praia era o posto 9. A minha época era diferente, não existia o profissionalismo de hoje. Agora, o jovem começa no esporte já calculando o carro que vai ter, o salário que vai ganhar. A gente não praticava vôlei pra isso, mas porque gostava muito. E não havia esse mundo de possibilidades. Eu e minhas amigas vivemos a fase de transição do amadorismo para o profissionalismo. Quando passei para o vôlei de praia, tive de encarar uma mudança de comportamento da água para o vinho. Foi ao conhecer o esporte nos Estados Unidos que entendi o que era ser atleta, o que era ser profissional, o que era ser educada. Eu havia começado muito jovem no esporte e houve uma época em que questionava algumas coisas. Olhando para trás, enxergo uma falta de habilidade da minha parte.

30 maio 2013 | istoé 2016

O seu calvário no vôlei de quadra foi há 30 anos, quando você vestiu a camisa da seleção do avesso para não mostrar o patrocinador. Arrepende-se dessa atitude de protesto contra a falta de repasse de dinheiro às atletas? Eu fui cortada da seleção. Hoje, dizem que a atitude foi legal, porque o vôlei mudou depois daquilo tudo. Mas e eu? Na época, fiquei doente, depressiva, sentida com todos os abusos, muito triste mesmo. Não foi uma vitória. Eu não levantei bandeira. Tenho horror a isso. Eu nunca fiz nada por ninguém. Não fui uma Joana D’Arc, não tive essa pretensão. Fiz tudo sempre sozinha porque achava aquilo errado. E nunca cobrei participação de ninguém ou insuflei as colegas. As primeiras a virarem as costas foram as jogadoras. Acha que alguém se juntou comigo? Ninguém.

Após esse episódio, você sofreu uma retaliação e foi praticamente afastada do vôlei no Brasil. Comenta-se que havia a orientação de dirigentes para que os clubes não a contratassem. Criou-se um ambiente muito ruim para mim. Foi essa situação que me obrigou a ir para os Estados Unidos. No Brasil, ninguém fazia oferta para mim. Nem por salário menor. Nada.

Você faria tudo de novo? Eu não faria tudo de novo, não. Olha o que aconteceu comigo: deu tudo errado. Eu saí derrotada da situação, fui cortada da seleção, fiquei sem poder trabalhar no Brasil.

Se não fosse por isso, talvez você não tivesse ido para os Estados Unidos, migrado para o vôlei de praia e ganhado o ouro olímpico. Será que precisaria passar por isso tudo? Você acha que histórias semelhantes às que passei não aparecem no meu caminho, hoje em dia? Aparecem. Mas hoje eu respiro muito. Um exemplo: fui campeã olímpica pelo Brasil, e, quando eu voltava para o meu País para disputar um campeonato, tinha de conviver com o fato de o masculino ganhar mais em premiação do que o feminino como um todo. A gente tinha acabado de ganhar medalha de ouro e o masculino não havia conquistado nada. Ficamos dois anos recebendo 20% a menos do que eles. Aí, nós, as meninas, nos reunimos e mudamos as coisas.

Qual é a importância dos Estados Unidos na sua trajetória como atleta? Eu tive a sorte e o talento para dar a volta por cima nos Estados Unidos. Lá, os meus anseios por mudanças continuavam, mas isso era visto como positivo e não como algo de alguém que quer arrumar encrenca. Eu já tinha uma trajetória na quadra, tinha participado de Olimpíada. Lá, me reconheciam porque eu tinha recebido o prêmio de melhor levantadora dos Jogos de Los Angeles, em 1984. Foi nesse ambiente que comecei a costurar a minha trajetória na praia.

Sem clube para jogar, como você fazia para se manter? Eu fiz um bazar. Vendi alguns objetos, rifei a minha Vespa. Dei a sorte de, nos Estados Unidos, conhecer o cara que me ensinou o vôlei de praia, o meu treinador Pat Zartman. Ele fez contato com uma americana que jogava na Itália. Então, durante dois anos eu joguei na Itália para ganhar dinheiro. E jogava, também, na Califórnia, onde o vôlei de praia ainda estava iniciando. Passei quatro meses na casa do Pat. Não pagava aluguel e ele me emprestava o carro.


Quais eram as suas expectativas nessa época? Eu estava lá para jogar, sem planos de disputar outra Olimpíada. Ganhava bem, US$ 50 mil por temporada. Tinha patrocínio, casa, carro. Lá, fui uma das fundadoras da associação de vôlei de praia. Eu saí do Brasil de saco cheio, não estava a fim de voltar pra cá para me relacionar. Mas o Pat, pensando na modalidade, achava um absurdo eu ficar fora da Olimpíada de 1996, a primeira que contaria com a participação de duplas femininas na praia. Ele me dizia que eu simbolizava o esporte. Eu não tinha essa amplitude, não pensava no próprio umbigo. Aí, topei voltar ao Brasil, mas tive que percorrer um longo caminho.

O que você fez? Cheguei ao Brasil de férias, procurando uma parceira para ganhar o ouro e não apenas para disputar a Olimpíada. Eu tinha de formar primeiro um time. Achei a Sandra, que ainda era verde para a coisa, e a levei para os Estados Unidos. A Sandra, então, teve que aprender a jogar lá, ter a mentalidade, a atitude, a postura que se via ali. No Brasil, ela não aprenderia nada disso. Nos Estados Unidos, eu era top do ranking. Com a Sandra, fui para a última colocação. Perdemos tudo, mas durante dois anos fomos nos preparando. Nesse meio-tempo, voltei ao Brasil e conversei com o Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, à época presidente da Confederação Brasileira de Vôlei), que já olhava para mim com outros olhos.

Por quê? A Confederação já vinha enxergando o futuro no vôlei de praia e eu era o nome mais forte nos Estados Unidos. Disse a ele que eu e a Sandra queríamos jogar pelo Brasil, mas gostaríamos de permanecer nos Estados Unidos. Ele negou. Deixou claro que, para eu disputar a Olimpíada pelo Brasil, deveria retornar ao País para treinar. Eu já tinha vivido uma situação dessa. Sabia que, se eu fosse contra, estaria fora. Eu não queria viver de novo tudo o que havia passado. Topei. Quando retornei, surgiu a história de que eu tinha ficado covarde, havia cedido. Mas eu não estava com estômago para isso e não queria ser revolucionária. Eu quero alcançar as coisas. O fato de eu articular não significa que virei para o lado negro da força. Se eu tenho boa índole, não estou do lado negro.

Por que a dupla se desfez logo depois do ouro olímpico? Eu achava que poderia ser campeã olímpica de novo. Eu tinha cabeça para isso. Fiquei muito chateada na época, não esperava que a Sandra quisesse se separar. Mas aconteceu. A Sandra é dez anos mais nova do que eu. Cada uma formou outra dupla, mas aí as nossas parceiras se machucaram e a gente retomou a parceria para jogar um campeonato juntas, em 1999. Ganhamos atropelando todo mundo. Tentei argumentar para irmos à Olimpíada de novo, mas não rolou.

Foi penoso se aposentar? Para mim, ser jogadora de vôlei era muito fácil. Era algo natural, dava sempre certo. Quando parei, precisei pensar na vida de outra forma. Fui para a terapia também por isso. Faço terapia há mais de dez anos. Me vi cheia de defeitos, com vários problemas. O que seria da minha vida dali em diante? Tive de me arrumar de novo, encarar uma transformação que, para os atletas, ocorre muito cedo. A gente não se aposenta aos 60, aos 70 anos. A gente para com 30, no auge da vitalidade.

"eu não fui uma atleta exemplar. ViVia no baixo leblon, fazia teatro, andaVa com outras tribos e não com pessoas do esporte. a minha praia era o posto 9" Além de participar da Olimpíada no Rio, há algum outro sonho a realizar? Quero dar continuidade ao trabalho de formação. Em dezembro, fui para Moçambique. Eles querem desenvolver o vôlei. Tive contato com o comitê olímpico e a embaixadora. Minha história é por aí, educar, formar por meio do esporte. É o que me faz feliz. Meu negócio é abrir estradas, como fiz nos Estados Unidos.

Você realiza um importante trabalho junto a atletas carentes. É o projeto atletas inteligentes, que ensina fundamentos de vôlei para jovens, no Rio de Janeiro. Tenho cerca de 30 alunos em uma escola que atende crianças da favela da Rocinha. Como onde eles estudam não tem espaço para fazer educação física, levo a garotada para a praia. Ganhei até um prêmio da Unesco, em 2009, por esse trabalho.

José Roberto Guimarães ou Bernardinho? Os dois são fantásticos. Agora, o Zé conseguiu um bom resultado com o feminino. E ali, meu amigo, é osso. Lidar com mulher não é fácil. Mulher é problemática, mulher chora, magoa fácil. O Bernardo também deu medalhas ao Brasil, mas o estilo dele tem mais a ver com o time masculino. Onde guarda a sua medalha de ouro? A medalha fica no armário de casa. Ela é linda. Muitas vezes, tenho inseguranças. Mas aí olho para a medalha de ouro e ela me mostra que tudo pode dar certo.


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/Prontos Pa r a a guerra

O rúgbi quer ser O segundO espOrte na preferência dOs brasileirOs,

atrás apenas dO futebOl. a façanha parece impOssível, mas Os resultadOs já cOmeçaram a aparecer Por Pedro Marcondes de Moura fotos christian gaul


LaMa Lucas Duque, conhecido como tanque (à esq.), um dos principais talentos da seleção brasileira, e Fernando Portugal, capitão do time: esforço para tirar o rúgbi do anonimato


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Neste esporte, firula Não tem vez. Fazer cera, menos ainda. Se o atleta não gosta de sujar o uniforme, está no lugar errado. Quase sempre ele termina a partida coberto de terra. Ou lama. Vaidoso? Nem pensar.

Topetes e penteados caprichados – alguém aí pensou em Neymar e Cristiano Ronaldo? – não sobrevivem ao apito inicial. Medo de contusão? Esqueça. Esses guerreiros oferecem o próprio corpo como bloqueio para evitar que os rivais avancem. Quando deixam os gramados só com hematomas, estão no lucro: passaram pelo jogo livres de lesões. Cara feia é com eles mesmos – faz parte do plano de intimidação do adversário. As descrições acima correspondem a uma pequena parte do jeito de ser do rúgbi, esporte fascinante por essas e outras razões. O rúgbi oferece uma variedade de estratégias que poucos esportes são capazes de proporcionar. Seu grau de competitivade é alto (há farta quantidade de bons times pelo mundo) e sua premissa básica está na alma de qualquer criança. Quem, na infância, não correu, a toda velocidade, e driblou, enganou e escapou de um amigo alucinado para acabar com a farra? No rúgbi, isso é levado ao extremo, com um bônus: o atleta foge dos outros carregando uma bola nas mãos. No Brasil, pouca gente conhece o esporte, que volta a uma Olimpíada, a do Rio, depois de ausência de quase um século (a última participação foi em 1924). A boa notícia é que o anonimato está sendo combatido como jamais foi. por mais de 120 países. Esses dados só “Pode anotar: até 2030, seremos ficam atrás do futebol. Para se ter uma o segundo esporte mais praticado no ideia, a Copa do Mundo de Rúgbi é o terBrasil”, diz o advogado Sami Arap, presidente da Confederação Brasileira de ceiro maior evento esportivo internacional, com audiência global de quatro bilhões Rugby (CBRu). O discurso, repetido por outros dirigentes da entidade, parece um de pessoas. Fica atrás apenas da Copa do daqueles devaneios típicos de cartolas. É Mundo da Fifa e dos Jogos Olímpicos. Em pasíses como África do Sul, Austrália e difícil imaginar crianças e adolescentes carregando bolas ovais com as assinaturas Nova Zelândia, os níveis de fanatismo dos torcedores equivalem à paixão, de seus ídolos ou marmanjos discutindigamos, que são-paulinos e corintianos do no trabalho se o time de coração foi possuem por seus times. prejudicado pela arbitragem. Exemplos Replicar essa cultura esportiva no do Exterior, porém, mostram que a meta tem potencial para ser alcançada. A InBrasil não será tarefa fácil, como sabem os ternational Rugby Board (IRB), entidade dirigentes da CBRu. Um estudo elaborado pela consultoria Deloitte apontou os máxima da modalidade, possui cinco 34 milhões de atletas filiados, distribuídos desafios que há pela frente. O rúgbi é um maio 2013 | istoé 2016


ilustre desconhecido para a maioria dos brasileiros, apesar de estar presente em 23 Estados do País. Seus dez mil atletas contam apenas com oito campos oficiais em todo o território nacional. A organização da maioria das federações e os cerca de 120 clubes existentes beiram o amadorismo. Tudo isso afeta diretamente o nível técnico das competições regionais, de baixíssima qualidade. No alto rendimento, é preciso dar um enorme salto técnico para alcançar as principais potências. Atletas, dirigentes e apoiadores sabem que dificilmente haverá um momento tão oportuno quanto o atual. Pelo fato de o Brasil ser o país-sede da Olimpíada, tanto a equipe masculina quanto a feminina estarão entre as 12 seleções participantes dos Jogos de 2016 (as partidas deverão ser realizadas, segundo fontes ouvidas pela 2016, no Complexo Esportivo Deodoro, na zona oeste carioca). No Rio, o rúgbi voltará a fazer parte do programa olímpico em sua versão menos conhecida. No mundo, o Rugby 15, em que equipes de 15 jogadores disputam partidas com dois tempos de 40 minutos, é a mais praticada. O formato escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) foi o Rugby Sevens. Nele, cada time entra nos gramados com sete jogadores e a partida se divide em dois tempos corridos de sete minutos. Somente a final dura dois tempos de dez minutos. Dinâmica, a versão com menos jogadores é mais eficaz para prender a atenção de um público pouco familiarizado com o esporte. A própria fundação da CBRu, em 2010, deve-se à inclusão do esporte no calendá-

rio olímpico. Antes, a administração era feita pela Associação Brasileira de Rugby, que acabou incorporada. Para treinar ou competir, os atletas da seleção tiravam dinheiro do bolso até para comprar uniformes. Foi justamente a penúria que fez com que os jogadores alterassem, quase sem querer, o panorama da modalidade. Após conquistarem a classificação para a primeira divisão do sul-americano de Rugby 15, em 2008, encerrando um jejum de mais de uma década de derrotas para o Paraguai, os atletas enviaram uma série de e-mails pedindo módicas contribuições de R$ 10 para a preparação da equipe. Um deles caiu na caixa de mensagens de Eduardo Mufarej, sócio de um fundo de investimento e jogador nos tempos de escola. Ao fazer um depósito de R$ 500 e receber inúmeros contatos de agradecimento, Mufarej percebeu que a “situação realmente estava feia”. Procurou outros ex-praticantes de peso, como Jean-Marc Etlin, vice-presidente executivo do Itaú BBA, e Werner Grau, sócio do escritório Pinheiro Neto e filho de um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, além do advogado Sami Arap. Foi o primeiro passo para a criação do Grupo de Apoio ao Rugby Brasileiro (Grab). Juntos, os empresários e executivos arrecadaram R$ 30 mil apenas em um jantar com amigos, em março de 2009, dinheiro que foi destinado para a preparação do time masculino. Mas as derrotas avassaladoras no sul-americano deixaram evidente um cenário ignorado em diversas outras entidades desportivas: o problema, na maioria das vezes, não se concentra na falta de verba, mas, sim,

na qualidade da gestão. Para que futuras contribuições se revertessem em resultados, eles apresentaram um planejamento ambicioso e assumiram o comando da entidade, fundada no começo de 2010. “O rúgbi brasileiro hibernou enquanto outras modalidades avançaram”, diz o presidente da confederação, Sami Arap. “A gestão tem de ser profissionalizada. Precisamos mapear onde estão os recursos e buscá-los para colocar em prática uma estratégia de desenvolvimento.” Entre 2011 e 2012, a CBRu duplicou suas receitas para R$ 6 milhões e aumentou em 25% as horas de transmissão dos eventos que promoveu. Isso em um ano marcado pela realização dos Jogos Olímpicos. As finais do Super 10 (campeonato nacional masculino da modalidade) obtiveram, em 2012, média de audiência superior à das transmissões da natação e do atletismo e próxima dos índices alcançados pela liga nacional de basquete. Os números comprovam o potencial do esporte no Brasil. Segundo pesquisa da consultoria Deloitte, o rúgbi aparece na opinião do público como a modalidade que mais vai crescer no País e a segunda que as pessoas têm maior curiosidade em conhecer. Profissionalizar a gestão foi outro passo importante da CBRu. Atualmente, a entidade segue um modelo que se assemelha a uma empresa listada na bolsa de valores. Além do presidente e do vice, há um conselho de administração com 11 integrantes. Cinco deles são independentes, como empresários de diversos ramos e a ex-jogadora Magic Paula. Outros cinco fazem parte de clubes


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ProFissionaLizar a gestão Foi outro Passo iMPortante Da cBru. a entiDaDe segue uM MoDeLo que se asseMeLha a uMa eMPresa ListaDa na BoLsa De vaLores. e federações. O último integrante é o próprio presidente do conselho, Eduardo Mufarej, sócio do fundo de investimento Tarpon. Nenhum deles poderá ser eleito para mais de dois mandatos nem terá direito a remuneração. Há também um conselho consultivo, igualmente sem salário, formado por membros influentes em diversas áreas que se reúnem com menos regularidade. Nele, cada um auxilia o esporte dentro de sua esfera de trabalho. Já a função de gerenciar o dia a dia da CBRu fica a cargo de profissionais pagos e recrutados no mercado. “Quando eu vou vender o rúgbi brasileiro, falo como se fosse o diretor de relações com investidores de uma empresa como a Vale”, compara Sami Arap, presidente da confederação. Pelo menos em um aspecto a estratégia deu resultado. Atualmente, o rúgbi brasileiro conta com 17 patrocinadores. Além de contribuir com 20% das receitas totais da CBRu, eles também auxiliam na infraestrutura. O centro de treinamento da modalidade, por exemplo, fica em uma área cedida pela incorporadora BR Properties em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Inaugurado em 2011, o centro era uma das metas da Confederação estabelecidas em um documento com mais de 100 páginas. Os objetivos não são nem um pouco modestos: conquistar uma medalha nos Jogos de 2016, chegar a um ouro olímpico até 2030 e se classificar para a Copa do Mundo de 15 em 2019. É com base nesses dados, atualizados constantemente, que a CBRu acredita que o rúgbi será

o segundo esporte mais difundido do País e chegará a 500 mil praticantes até 2030. No documento, observa-se como a Confederação analisa a experiência de outros esportes. “Quem, na década de 70, imaginava que o vôlei seria o que é hoje?”, pergunta Victor Andrade, responsável pela gestão de marketing da confederação. “A geração de prata de 1984 foi planejada com sete anos de antecedência” diz, referindo-se à primeira medalha olímpica do vôlei brasileiro. Para elevar o nível técnico do rúgbi nacional, a CBRu assinou um contrato até 2017 com a Federação de Rugby de Canterbury e a equipe dos Crusaders, da Nova Zelândia. A ideia é que eles tragam a metodologia de trabalho, referência no mundo, para os gramados brasileiros. Atualmente, além de técnicos que vêm ao Brasil esporadicamente para oferecer treinos específicos, dois profissionais da parceria residem no País. “Agora, a estrutura é profissional, só os jogadores continuam amadores”, diz Fernando Portugal, capitão da seleção brasileira. Aos 31 anos, o atleta do São José Rugby, time de São José dos Campos (SP), é um dos poucos no País que pode dizer que vive do esporte, mesmo que para isso tenha que atuar também fora dos gramados. Além de um patrocínio pessoal da Topper, trabalha como comentarista do canal Bandsports, possui uma coluna na rádio Bradesco Esportes FM, treina categorias de base e ainda desenvolve projetos de divulgação da modalidade em redes sociais. Com a experiência de ser um dos poucos que

jogaram profissionalmente no Exterior – na Itália, por duas temporadas –, Portugal considera que o rúgbi brasileiro deixou de ser “um hobby amador para ser um amador de luxo”. A diferença, segundo ele, é que antes os atletas tiravam dinheiro do próprio bolso. “Agora, temos uniforme, condições de treino e viagens custeadas para competições. Mas não recebemos ajuda financeira.” O sonho de viver do rúgbi começa a aparecer. Em março, a confederação montou uma seleção feminina permanente formada por 12 jogadoras. As remunerações chegam a R$ 2,5 mil por mês, mais a opção de moradia e o Bolsa Atleta pago pelo governo federal. O objetivo é que o número de contempladas chegue a 30. Na categoria sevens masculino, isso deve começar em junho, nas mesmas condições. “É importante reunir os atletas para manter um regime constante de treinamentos e acompanhar a evolução de cada um”, diz João Nogueira, superintendente técnico da confederação. Além do entrosamento, a nova rotina deve possibilitar que o Brasil avance em seus principais pontos fracos: preparação física e força. Para isso, está firmando acordos com universidades brasileiras na área de ciência aplicada ao esporte. A CBRu também planeja que os atletas tenham tempo para se aprimorar nos estudos. “Se a pessoa é formada em um determinado segmento, vamos ajudá-la a fazer, por exemplo, uma pós-gradução”, diz Nogueira. Um dos objetivos é que os atletas somem o conhecimento adquirido em campo com


"agOra a estrutura é prOfissiOnal. só Os jOgadOres COntinuam amadOres" – fernandO pOrtugal, CapitãO da seleçãO El Es q uErEm o o uro O planejamentO da COnfederaçãO Brasileira COlOCa O país nO degrau máximO dO pódiO OlímpiCO e COmO uma pOtênCia dO espOrte. COnfira algumas metas: > Conquistar uma medalha nos jogos Olímpicos de 2016 > Classificar para a Copa do mundo de 15 jogadores, na categoria masculino, até 2019 > Vencer o circuito mundial de rugby sevens até 2030 no masculino e no feminino > ser medalhista de ouro nos jogos Olímpicos de 2028 > ter 500 mil praticantes

Assistente de fotografia: Rodrigo Niemeyer Produção: Cintia Sanchez Beleza: Allan Victor


capa

o i mpossível es tá acon t ecend o ? coM Metas De ser o segunDo Maior esPorte Do País, rúgBi BrasiLeiro aPresenta Forte cresciMento > segundo pesquisa da consultoria Deloitte, é o esporte que mais vai crescer no País e o segundo que as pessoas têm maior interesse em conhecer > a final do super 10 (campeonato nacional masculino da modalidade) teve audiência média maior que as transmissões da natação e do atletismo e próxima à alcançada pela liga nacional de basquete > entre 2011 e 2012, as horas de transmissão de eventos da seleção brasileira ou de clubes nacionais de rúgbi cresceram 25%

o obtido em suas carreiras, para que, mais tarde, possam contribuir de algum modo com a gestão do esporte. Considerado um dos principais talentos do rúgbi brasileiro, Lucas Duque, conhecido como Tanque, acha que todas essas iniciativas só vão funcionar se vierem acompanhadas do aumento do número de campeonatos realizados no Brasil. No masculino, só existe apenas uma competição de alto nível na categoria 15 e outra na Sevens. Apesar dessa deficiência, o atleta de 29 anos do São José Rugby já nota o avanço da modalidade. “Estive em Natal recentemente e fiquei surpreso ao ver que o rúgbi está se espalhando em vários Estados”, destaca. Alvo de convites para jogar no Exterior, ele possui uma rotina atribulada. Cursa faculdade de medicina no Rio de Janeiro e, entre um intervalo e outro, consegue fazer os treinos físicos em uma academia perto de casa. Quando tem folga na faculdade, vai a São José dos Campos, a 300 quilômetros de distância do Rio, treinar com a equipe. Mesmo assim, destaca-se nas competições internacionais. No feminino, o 15 é praticamente inexistente, pelo baixo número de jogadoras. Há, atualmente, menos de 900 delas registradas no País. Para mudar esse cenário, a Confederação tenta atrair novas atletas para as competições de sevens. Em 2013, o circuito nacional ganhou mais uma etapa e uma nova equipe, formada com o apoio da Confederação. O número de torneios disputados pela seleção brasileira também cresceu: de quatro para seis. Em 2013, elas vão disputar as etapas do Sevens World Series, circuito mundial, e a Copa do Mundo da modalidade. Campeãs sul-americanas por nove vezes consecutivas, as garotas do rúgbi brasileiro têm um desafio diferente

do masculino. Enquanto para os homens basta ir à Argentina para enfrentar uma potência mundial do esporte, elas precisam de adversárias mais distantes para desafiar equipes com tradição. Precisam ir à Oceania, Europa ou América do Norte. Um dos destaques do País, Paula Ishibashi, do clube paulistano Spac, ressalta as melhorias. “Não é o ideal ainda, mas dá para ver a mudança”, diz a atleta de 28 anos. “De dois anos e meio para cá, passaram a investir muito no alto rendimento.” A jogadora conta que, até pouco tempo atrás, a seleção se reunia para treinar apenas uma semana antes de uma competição internacional. Agora, o time será permanente. Apesar do cenário de dificuldades, as garotas contabilizam um feito: hastearam a bandeira brasileira pela primeira vez em uma Copa do Mundo, em Dubai, em 2009. De malas prontas para São Paulo, onde integrará a seleção fixa feminina, a capitã Júlia Sardá, do clube catarinense Desterro, poderá, enfim, deixar a rotina de professora de educação física para se dedicar exclusivamente ao rúgbi. A atleta, de 30 anos, espera que a evolução continue também nas escolas, que ignoram a modalidade, e na ampliação do número de agremiações dispostas a oferecer a prática desse esporte. Para treinar no Desterro, sediado em Florianópolis, paga mensalidade do próprio bolso. Apesar de acumular títulos, o clube de Santa Catarina não possui sede própria e aluga campos de treino. “A gente até fica preocupada de ganhar um troféu, porque não tem onde guardar”, brinca. A julgar pela disposição de atletas como ela, o rúgbi brasileiro tem tudo para sair da lama.


BataLha Diรกria Lucas Duque, o tanque, concilia o curso de medicina no rio de Janeiro com os treinos no interior de sรฃo Paulo


windsurfE

O salvadOr da pรกtria


ricardO Winicki, O BimBa, entrOu em uma Batalha pessOal para manter O Windsurfe nOs JOgOs dO riO. agOra, quer O OurO cOmO recOmpensa

por denis maciel fotos frederic jean/ag. istoé

ATITUDE POSITIVA: Bimba na praia da Armação, em Búzios: se não fosse por ele, que peitou as autoridades, talvez o windsurfe ficasse fora do programa olímpico da Rio 2016


windsurfE

Poucos atletas brasileiros exPerimentaram um gosto tão amargo em uma olimPíada quanto ricardo Winicki santos, o bimba. Em Atenas-2004, ele chegou à última regata da classe Mistral (a prancha com vela, hoje substituída pela RS:X) na primeira colocação. Bastava uma vitória para garantir o ouro ou, mais simples ainda, chegar à frente dos três concorrentes que ameaçavam o título olímpico. Mas Bimba fez uma prova desastrosa. Pior: uma combinação improvável de resultados fez com que terminasse a competição sem medalha, em quarto lugar. Até hoje, a reviravolta em Atenas assombra esse velejador carioca de 33 anos. Ao mesmo tempo, serve de motivação para o que promete ser o momento mais importante da carreira de Bimba – os Jogos do Rio. “Não é fácil ser campeão olímpico, mas isso também não é impossível para mim”, afirma o velejador. “Estou definitivamente entre os dez melhores do mundo.” Quando diz isso, Bimba exagera na modéstia. Provavelmente, ele está entre os cinco, e não entre os dez melhores do mundo. Basta observar seus resultados recentes para colocá-lo na lista de favoritos ao ouro no Rio. Em março, ficou em quarto lugar no Mundial da classe RS:X, disputado praticamente no quintal de casa, em Búzios. O desempenho renovou suas esperanças de subir ao pódio em 2016 e espantou os críticos que duvidavam de sua capacidade de continuar velejando em alto nível. Bimba terá 36 anos em 2016. Portanto, não será mais um garoto. A classe RS:X exige muito dos competidores. Em uma Olimpíada, as provas se desenrolam durante sete dias e cada regata dura entre 35 e 40 minutos. Dependendo das condições do vento, o esforço físico é brutal. O atleta precisa ter força muscular, equilíbrio e resistência aeróbica. Bimba tem a vantagem de se manter em excelente forma e, no Rio, pode usar um componente adicional: a experiência. Ele carrega nos ombros o peso de ter representado o Brasil nas últimas quatro Olimpíadas. Além disso, já esteve no topo. Foi campeão mundial da classe RS:X em 2007 e prata outras duasvezes, em 2002 e 2005, quando a prancha à vela ainda se chamava Mistral. No windsurfe, ele também coleciona ouros nos Pans de 2003, 2007 e 2011.

44 maio 2013 | istoé 2016


"NãO É fÁCIL SER CAMPEãO OLÍMPICO, MAS ISSO TAMBÉM NÃO É IMPOSSÍVEL PARA MIM"


windsurfE

EM fAMÍLIA O velejador brinca com a filha, Nina, 4 anos. A garota é criada à beira da prancha e já demonstra gosto pelo mar

Bimba também deseja o ouro no Rio como recompensa por uma batalha pessoal. Ele foi um dos maiores responsáveis por garantir a sobrevivência do windsurfe na Olimpíada. Em 2012, para surpresa dos velejadores, a classe RS:X foi substituída no cronograma dos Jogos pelo kitesurfe. Por ser reconhecido como um dos principais nomes do windsurfe, o brasileiro foi convocado, em caráter de urgência, para ir a uma reunião da Federação Internacional de Vela (Isaf) na Irlanda. “Foi como se alguém me dissesse que a minha profissão não existe mais”, diz Bimba.“Trabalhava com isso havia 20 anos e, de repente, jogaram todo esse tempo na lata do lixo.” A exclusão da RS:X ocorreu no dia 5 de maio de 2012, quando a Isaf anunciou mudanças nas classes da vela para a Olimpíada do Rio. Depois de mais de um semestre de reorganização e preparativos políticos para a nova reunião da entidade, o windsurfe sofreu outra derrota em 9 de dezembro. No dia seguinte, um grupo articulado por Bimba conseguiu, heroicamente, convencer as autoridades a reverter a exclusão. A conquista, dizem os responsáveis pelo esporte, foi resultado de um esforço político e financeiro que serviu para unir os praticantes da RS:X em torno de um projeto para que a vaga não volte a ficar ameaçada. Competidor obstinado, Bimba treinou kitesurfe enquanto seu esporte preferido vivia em suspensão. Mesmo assim, nunca perdeu as esperanças de colocar o windsurfe de volta na Olimpíada. Pelo contrário: o ativismo em favor da prancha aumentou sua importância política dentro do cenário da vela mundial. “Houve um grande erro do wind, que não se programou para a primeira votação, e o kite chegou lá com faca nos dentes, com um grupo forte que fazia palestra e exibia vídeo”, diz. Segundo o velejador brasileiro, a Isaf queria incluir na Olimpíada um esporte mais radical, mas não levava em conta a importância e a história da RS:X. “O Mundial de windsurfe

juvenil tem 380 atletas, contra cinco no de kite”, diz Bimba. Apesar de gostar de kite, Bimba demonstra o que já ficou evidente no meio da vela: os dois esportes agora são rivais. E essa guerra fria vai ainda mais longe. As mudanças que a Isaf promoveu para os Jogos do Rio de Janeiro desagradaram a muitos. Para o Brasil, particularmente, a saída da classe Star, do multicampeão Robert Scheidt, foi um grande baque. Mesmo com o lobby de ser o país-sede, não teve jeito: Scheidt deverá voltar à Laser. No lugar do barco Star, entrou o catamarã Nacra 17, considerado uma embarcação menos técnica, porém mais atrativa aos olhos do público. As batalhas navais enfrentadas por Bimba parecem não combinar com seu jeito praieiro e sossegado. Casado há 13 anos com a também velejadora Paula Newlands, ele tem uma filha, Nina, 4 anos. A herdeira é criada à beira da prancha, frequenta o clube onde o pai treina e já demonstra gosto pelo mar. No ano passado, Bimba a colocou nas aulas de natação e a garota não demorou a começar a passear no wind, assim como ocorreu com o atleta, na infância, no Rio de Janeiro. “Eu sabia que ela teria que aprender a nadar o mais rápido possível”, diz. “Ela adora andar comigo na prancha e vive na água.” Bimba garante que o processo de aprendizado é seguro, desde que conduzido por alguém experiente. “Não é uma coisa simples de começar, mas foi assim comigo também”, afirma. “Meu pai me levava para velejar ainda bebê e nunca houve problema algum.” Foi graças a ele que Bimba ganhou seu apelido. André Winicki cantava para o filho uma canção de ninar que terminava com um certo “bim bim biriri bim bim”. Nos primeiros anos de vida, Bimba já era chamado de Bimbim. Ninguém sabe exatamente quando o apelido mudou para Bimba, mas era assim que, na escola, o velejador assinava as provas, para desgosto dos professores.


AS MEdA LhAS dE BIMB A campeonatos mundiais ouro Portugal 2007 - RS:X Prata Brasil 2005 - Mistral Prata Espanha 2002 - Mistral Jogos Pan-americanos ouro Guadalajara 2011 - RS:X ouro Rio de Janeiro 2007 - RS:X ouro Santo Domingo 2003 - Mistral Prata Winnipeg 1999 - Mistral


windsurfE

"QUANDO SOUBE QUE O WIND E S TAVA fO R A D A O L I M P Í A D A , fO I COMO SE dISSESSEM QUE TUdO QUE FIZ NA VIdA NÃO VALIA MAIS"

ILUMINADO Bimba terminou o campeonato mundial da classe RS:X, realizado em março, em quarto lugar. O resultado o credencia para uma medalha em 2016


49 maio 2013 | istoĂŠ 2016


windsurfE

A rotina de Bimba e da família é toda voltada para o clube onde fica o seu centro de treinamento, em Búzios. É possível encontrá-los por lá até aos sábados e domingos, embora esses dias sejam dedicados ao lazer. O trabalho árduo para valer se dá em dez turnos por semana, de segunda a sexta-feira. É nesses treinos que o campeão da prancha deposita seu orgulho e sua esperança. Bimba é o representante brasileiro da classe desde os Jogos de Sydney-2000 e até hoje não possui, no País, rivais no seu nível. Na verdade, os únicos que podem ameaçar sua posição hegemônica são as próprias revelações apoiadas por ele no litoral carioca. “Eu sou um dos poucos que fazem trabalho de base com vela olímpica”, afirma. “Os moleques são bons, treinam com os europeus que vêm aqui comigo, então já velejam muito bem e me ajudam.” Bimba sabe que, sem renovação, o destino do esporte no Brasil está ameaçado. Isso ao mesmo tempo o preocupa e o motiva. É por essa razão que ele quer fazer de 2016 um divisor de águas: ganhar a medalha e deixar prontos seus sucessores. Se depender da saudável impertinência de Albert Carvalho, uma das revelações apontadas por Bimba, a linhagem terá continuidade. “Ele consegue os equipamentos para eu treinar e ajuda muito, mas, quando chega na água, é cada um por si”, diz o jovem, que pretende disputar uma vaga com o mestre já nos Jogos do Rio. “O Bimba tem tudo para ir bem nessa Olimpíada, mas eu também tenho um sonho.” Um sonho patrocinado por um herói da vela brasileira.

hORIzONTE Ele quer fazer dos Jogos de 2016 um divisor de águas: ganhar uma medalha e deixar prontos seus sucessores



Ensaio

n a s c i d o s

p a r a

NeNhum outro esporte é tão popular, NeNhum outro traz taNtos beNefícios para o corpo – e para a alma

por Renata ValéRio de Mesquita fotos joão castellano

SEDE Corredor disputa prova no Rio de Janeiro: os músculos ardem e o cérebro implora pelo fim do sofrimento


c o r r e r


Em São Paulo: no Estado, já há quase uma corrida de rua por dia. Tem gente de todo tipo. Gordo e magro. Rico e pobre. Jovem e velho

correr dói. Nas longas distâncias, os músculos ardem, as costas pesam, os joelhos fraquejam, os ombros se curvam, os pés fritam, as unhas avisam que estão prestes a explodir e o corpo todo clama por liberdade. Para o iniciante, todas essas sensações costumam dar sinais de vida já nos primeiros passos – mal ele começa a correr, o cérebro implora pelo fim do sofrimento. Correr é uma luta insana entre o corpo e a mente. É preciso, portanto, muita força, tirada sabe-se lá de onde, para não largar tudo no meio do caminho. Se é tão difícil assim, se envolve tanta dor e angústia, por que misteriosa razão a corrida se tornou o esporte mais popular do planeta? Estima-se que 700 milhões de pessoas no mundo (mais do que Estados Unidos e Brasil juntos) corram por aí, de todos os extratos sociais, idades e tipos de corpos. Há ricos e pobres correndo. Gordos e magros. Jovens e velhos. Correr virou uma febre global, ao mesmo tempo contagiosa e inebriante. As pessoas correm por diversas razões. Para ter saúde, para perder peso, para liberar endorfina (aquele hormônio que tem efeito analgésico semelhante ao da morfina), para alcançar metas, para superá-las, por higiene mental. Seja o que for, é grande

54 maio 2013 | istoé 2016


a chance de a corrida ter fisgado o leitor destas páginas ou, pelo menos, um amigo, parente, colega de trabalho. O esporte não demanda mais do que shorts, camiseta e um par de tênis. Ou nem isso. Só depende do esforço e empenho de cada um. Apesar de individual, a corrida já se tornou coletiva, tamanha é a quantidade de entusiastas. “Saio para correr três ou quarto vezes por semana”, diz o ator Erom Cordeiro, 35 anos. “São algumas horas em que me desconecto de tudo e me conecto comigo mesmo.” Essa devoção quase mística, recompensada pelo sentimento de conexão entre corpo e mente, é comprovada por números. Em 2012, foram realizadas 311 corridas no Estado de São Paulo, quase uma por dia. O número representa o dobro do de uma década atrás. Em total de participantes – gente, portanto, que corre de verdade, pois se dispõe a disputar provas –, o salto foi igualmente impressionante, de 100 mil há dez anos para os atuais 533 mil. No Brasil, o fenômeno não se limita a São Paulo. Em 1994, a organizadora de corridas Corpore possuía apenas três mil atletas cadastrados. Hoje, são mais de 400 mil. Fundada em 1982 para criar eventos na área e apoiar os atletas de elite, que na época não no Rio DE JanEiRo: o fenômeno é nacional. Grandes empresas promovem as provas, que são cobiçadas por milhares de pessoas


Ensaio

a VEZ DElaS: as mulheres jรก sรฃo quase a metade dos corredores de rua


podiam receber patrocínio de empresas, é hoje o maior clube de corrida da América Latina. Do total de cadastrados, 58% são homens e 42%, mulheres, balança que tende a se igualar nos próximos anos. A maioria está em São Paulo, mas a Corpore já seduziu corredores em todos os Estados onde organiza provas – Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Charles Groisman, diretor de marca e conteúdo da Corpore, diz que a preocupação com qualidade de vida é um dos motivos desse crescimento. Segundo ele, a competição e a necessidade de vencer, tão características do esporte de alto rendimento, passam longe da imensa maioria dos corredores. “Hoje, mais gente está correndo, mas menos pessoas estão preocupadas com performance”, afirma. “É fácil perceber isso pela quantidade de participantes que levaram mais tempo para terminar uma prova. Os atletas de alto rendimento são minoria.” Outra coisa é certa: correr virou plataforma social de relacionamento. “Os grupos de corrida proliferaram nas últimas décadas”, diz Groisman. As turmas se reúnem para correr, mas também para trocar experiências. Para conquistar essa multidão de atletas amadores, surgem sempre novos conceitos. O apelo vai de grandes causas humanitárias (contra o câncer, contra a violência,

533 mil pessoas PaRTiCiPaRam DE

CoRRiDaS DE Rua no ESTaDo DE São Paulo Em 2012. o númERo REPRESEnTa um aumEnTo DE 15% SobRE o ToTal DE CoRREDoRES no ano anTERioR

311 provas foRam DiSPuTaDaS no ESTaDo

DE São Paulo Em 2012, um RECoRDE hiSTóRiCo. É o DobRo Do númERo DE PRoVaS REaliZaDaS há uma DÉCaDa

em prol da sustentabilidade ambiental) à pura diversão, como as corridas coloridas (com lançamento de pó de tinta durante o percurso para manchar as camisetas). “A moda das corridas de rua não é acaso”, diz José João da Silva, bicampeão da São Silvestre e fundador da JJS Eventos. “A corrida é a mãe de todos os esportes.” Também não é acaso que a palavra atleta, a mais genérica para designar quem pratica algum esporte, esteja diretamente ligada a atletismo. “Como corredor de pista, sempre usei a corrida de rua para medir minha performance”, afirma Zé João, como é conhecido. Ele foi um dos primeiros brasileiros que mostraram ser possível vencer corridas de fundo sem nenhum dinheiro no bolso. Entregador de pizza, ficou encantado pela São Silvestre quando a prova, literalmente, cruzou seu caminho, em 1973, impedindo que ele atravessasse a rua por onde os competidores passavam. Decidiu se dedicar a isso, suou a camisa e conseguiu uma vaga para treinar no Clube Pinheiros. Em 1980, ganhou a tradicional prova paulistana, quebrando um jejum de 34 anos sem brasileiros no topo. Zé João não perdeu o gosto pelo esporte. Aos 57 anos, corre 12 quilômetros por dia e participa de todas as provas que a sua empresa organiza em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, além de muitas outras organizadas pelos concorrentes.

Grande parte das corridas é bancada por empresas dos mais diferentes setores, sejam marcas de artigos esportivos, sejam bancos. Exemplo mais significativo é o que vem da rede de supermercados Pão de Açúcar. A partir dos anos 1990, a companhia, personificada pelo empresário Abilio Diniz, começou a transformar a corrida numa paixão nacional. No ano passado, a maratona Pão de Açúcar de revezamento comemorou duas décadas de existência, com 35 mil inscritos. Isso lhe garantiu o título de maior corrida de rua da América Latina e sexta maior do mundo. Há competições sob medida para todo tipo de atleta. Variam na proposta, na distância – dos 5 aos 100 quilômetros – e no tipo de percurso, em ambientes que vão do urbano ao rústico. Varia, também, o preço das inscrições. Em média, custam de R$ 40 a R$ 100, mas podem chegar aos R$ 400. Para não negar seu caráter popular, existem também algumas provas gratuitas, como os novos circuitos realizados pelo governo municipal, em 31 subprefeituras da periferia de São Paulo, e pelo governo estadual nas cidades do interior. Com a facilidade das inscrições pela internet, os entusiastas têm viajado cada vez mais dentro e fora do País para disputar as provas. “Em abril de 1998, corri a minha primeira maratona, em Paris, com uma inscrição feita pelos Correios dois meses antes do evento”, diz a maratonista Martha Maria Dallari. “Naquele ano, éramos menos de 18 mil participantes. Hoje, a maratona de Paris é disputada por mais de 35 mil pessoas e as inscrições precisam ser feitas quase um ano antes.” Com números impressionantes, é fácil imaginar que o mercado vai, sim, muito bem. Mas, se pudesse, Renato Elias reorganizaria o setor de corridas de rua no Brasil. Na opinião do ex-jogador de basquete, ex-diretor de eventos da Secretaria de Esportes da Cidade de São Paulo e sócio na JJS Eventos há mais de dez anos, tantas provas dispersam o interesse da mídia pelas corridas de rua (e é ela que chama os


Ensaio

Em al t a o quaDRo moSTRa a EVolução Do númERo DE aTlETaS quE ConCluíRam a maRaTona DE noVa YoRk, a maiS imPoRTanTE Do munDo, DESDE a PRimEiRa EDição

ano

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011*

atletas que terminaram a corrida 55 334 12.476 15.657 22.990 25.554 27.752 33.957 44.829 47.323

56 maio 2013 | istoé 2016

patrocinadores). “É disso que depende a realização das competições”, diz Elias. “Não tem milagre. Alguém tem que pagar a conta. Não são os participantes, com o valor das inscrições, que vão fazer isso.” Na opinião de Elias, o Brasil deveria ter um calendário mais rigoroso, que desse prioridade às provas tradicionais. “Elas trazem mais benefício para a cidade, atraem gente de fora, ativam a rede hoteleira e o comércio, mostram a cidade para outros Estados e países”, diz. “As inscrições da maratona de Nova York esgotam-se um ano antes porque a cidade toda para, não existe mais nada nas duas semanas que antecedem a prova.” Quando os atletas profissionais entram na disputa, os organizadores comemoram, pois a participação deles atrai as câmeras dos fotógrafos e da televisão. Anunciar uma disputa entre os brasileiros Marílson Gomes dos Santos, Frank Caldeira e alguns quenianos é garantia de mídia. Trata-se de um diferencial para o evento, porque os profissionais só participam quando existe premiação financeira em jogo. “São poucas as provas de rua no Brasil que oferecem boa premiação”, diz Elias. Por isso mesmo, não é fácil segurar os corredores brasileiros de alto rendimento em território nacional. No Exterior, eles recebem remuneração melhor. Os atletas que são aceitos no bloco de elite costumam receber passagem aérea, traslado do aeroporto, hospedagem VIP, alimentação e até um “bônus”. Este vem na forma de um incentivo em dinheiro para correr a prova, independentemente da colocação em que o atleta terminar a corrida. “Isso não acontece no mesmo nível aqui”, diz Cláudio Castilho, treinador de atletismo do Pinheiros e assessor esportivo de mais de 300 homens e mulheres, amadores ou não. “As provas brasileiras deviam aprender com as provas internacionais.” Na opinião do preparador, o Brasil já está bem servido de competições. “Usamos as provas de rua como metas intermediárias para os atletas de alto rendimento”, diz. “Para os amadores, não acredito que seja estímulo ter tantas competições.”

Além de estimular legiões de pessoas a praticar esporte, as corridas de rua têm potencial para formar futuros campeões. “Hoje não vemos a garotada correndo como devíamos ver”, afirma Carlos Gomes Ventura, treinador com passagem pelo Centro Olímpico de São Paulo e pelo São Paulo Futebol Clube e autor de três livros sobre corrida. Para ele, esse esporte deveria ser disciplina escolar. “Na meia maratona de Stramilano, na Itália, os adultos pagam, mas as crianças correm gratuitamente”, diz. “Aqui isso não existe. Pelo menos as provas e a filiação nas federações deveriam ser abertas para crianças e jovens.” Graças às corridas de rua, Carlão, como é conhecido, detectou talentos como Diamantino Silveira dos Santos e Angélica de Almeida, alguns dos melhores atletas brasileiros de corridas de longa distância. Angélica é um caso emblemático: ela saiu da Febem para a Olimpíada, mais exatamente a de Seul, em 1988. Começou a se destacar em campeonatos logo depois de deixar a antiga instituição para menores infratores, onde viveu durante um tempo por falta de condições da família para sustentá-la. Participar de corridas de rua foi a forma de Angélica perceber que tinha potencial – e um futuro pelo qual valia a pena lutar. As corridas salvaram a vida de Angélica. Precisa dizer mais?


CoRRER DESDE CEDo: para especialistas, as corridas de rua deveriam ajudar na descoberta de uma nova geração de campeões


PERFIL

todas as faces de ary

graça

por Simone Aleixo foto dAryAn dornelleS

CONQUISTAS Nos 15 anos em que Graça esteve à frente da Confederação, as seleções brasileiras de vôlei, de todas as categorias, subiram 742 vezes ao pódio


Ex-prEsidEntE da ConfEdEração BrasilEira dE VôlEi E atual númEro 1 da fEdEração intErnaCional, o adVogado CarioCa foi atlEta da sElEção, ExECutiVo dE BanCo E dono dE CorrEtora. agora, ElE quEr mudar as rEgras do EsportE para torná-lo ainda mais CompEtitiVo

Pergunte a qualquer esPecialista em esportes sobre o responsável pela transformação do vôlei brasileiro em potência mundial e ele apontará o nome de Carlos Arthur Nuzman. É inegável o papel de Nuzman, mas também é injusto não atribuir ao carioca Ary Graça, 69 anos, o mérito por essa ascensão. Basta dar uma espiada na coleção de títulos nacionais durante a gestão de Graça à frente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), entre 1997 e 2012, para dimensionar seus feitos. Nesses 15 anos, seleções brasileiras de vôlei, tanto de quadra quanto de praia, tanto da categoria adulta quanto de base, subiram ao pódio inacreditáveis 742 vezes, mais do que as de qualquer outro país. No mesmo período, os homens e as mulheres ganharam seis medalhas olímpicas, incluindo três ouros, enquanto a turma da praia embolsou outras nove medalhas (uma de ouro). Discreto, típico homem de bastidores, Graça evita jogar confete em si próprio: “O Nuzman começou o processo todo e eu dei continuidade.” Agora, seu desafio é maior: Graça assumiu, no fim do ano passado, a presidência da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), tornando-se o terceiro brasileiro

a comandar uma entidade esportiva mundial (os outros foram João Havelange, que chefiou a Fifa de 1974 a 1998, e Antônio dos Reis Carneiro, número 1 da Federação Internacional de Basquete de 1960 a 1968). Nascido e criado em Copacabana, Graça sempre foi um atleta de primeiro nível. Ao mesmo tempo que cursava direito na PUC-Rio, jogava vôlei a sério. De 1963 a 1968, defendeu a seleção brasileira, numa fase em que o País nem sonhava em figurar na lista das grandes potências globais. Encerrada a vida de esportista, dedicou-se ao mercado financeiro. A primeira experiência na área foi como diretor jurídico do Invest Group, em São Paulo, no final da década de 1960. Depois, passou pelo Banco Crefisul, pelo Finasa e pelo Banco Mercantil de São Paulo, sempre em cargos de diretoria. “Em banco, você nunca para de estudar”, diz o dirigente. “Fiz curso de gestão, marketing, finanças, contabilidade. Tudo isso me ajudou quando fui trabalhar na área esportiva como administrador.” A aptidão para o mundo dos negócios jamais o abandonou. Graça foi dono de uma corretora de valores, a Riskless, que chegou a ter mais de US$ 2 bilhões em carteira.


PERFIL

O vôlei nunca esteve distante de seu foco. Em 1982, assumiu a presidência da Supergasbrás e foi aí que a vocação para gestor esportivo aflorou. Mesmo diante das ressalvas de outros executivos da empresa, bancou a criação de um time feminino patrocinado por ela. Resultado: a Supergasbrás foi quatro vezes campeã brasileira e se tornou referência do vôlei no País. Daí para ingressar na confederação foi um passo automático. Ocupou vários cargos dentro da entidade até que, em 1996, foi designado como chefe da missão brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta. No ano seguinte, assumiu a presidência da CBV. Afinal, o que fez de diferente? “A gestão do Ary trouxe profissionalismo”, diz a líbero e campeã olímpica Fabi. Sob o comando de Graça, a CBV, de fato, passou a atuar como empresa. Sua primeira medida como presidente foi criar áreas de negócios independentes, o que é bastante comum no universo corporativo. O modelo, que pretende instalar na Federação Internacional, dividiu a Confederação Brasileira em seis grandes braços estratégicos: Seleções, Técnica Praia, Técnica Quadra, Operações, VivaVôlei e o Centro de Desenvolvimento de Volêi, o famoso centro de Saquarema, no Rio, que logo ganharia o apelido de “Aryzão”. Com as mudanças, a CBV foi a primeira entidade esportiva do mundo a receber o certificado

62 maio 2013 | istoé 2016

internacional ISO 9001:2000, conferido a entidades com excelência em seus métodos de gestão. Graça acha que esse foi seu maior mérito. “Como gestor do vôlei, não fiz nada diferente do que as grandes empresas fazem”, diz. “Dei tratamento de empresa à CBV.” No campo esportivo, o desafio de comandar a Confederação era imenso. Graça assumiu o cargo no lugar de Nuzman, que tinha um conhecido histórico de sucesso. O amigo Marcos Pina, ex-superintendente-geral da CBV, dimensiona o tamanho da encrenca. “Quando o Ary assumiu a CBV, tinha uma responsabilidade grande em suas costas, porque o vôlei estava crescendo no País e ele precisava manter aquilo”, diz Pina. “Ele soube pegar um bastão que já estava num certo patamar e colocá-lo ainda mais alto.” O multicampeão Bernardinho, técnico da seleção masculina, é outro que só faz elogios. “O Ary criou todas as oportunidades para realizarmos um trabalho de alto nível”, afirma. “Esse é o grande papel de um dirigente. Tem gente que julga pelo lado pessoal, pela simpatia. Para mim, o fundamental de um líder é que ele cumpra o que se propõe a fazer. E isso o Ary fez com maestria.” Por viver uma situação confortável à frente da CBV, com um invejável cartel de títulos, Graça revela que não pretendia se candidatar à presidência da FIVB. “Quando cogitaram o meu nome, eu recusei”, diz. “O vôlei no Brasil ia muito bem, sem contar a possibilidade de fazer parte de uma Olimpíada na minha cidade. Por que eu ia querer abrir mão de tudo isso?” Mas a pressão de dirigentes de outros países aumentou e ele acabou cedendo diante da perspectiva nada desprezível do re-

conhecimento internacional. Assim que tomou posse no cargo, em setembro do ano passado, Graça iniciou as mudanças inspiradas em seu trabalho na Confederação Brasileira. Além de projetar unidades de negócios parecidas com as da CBV, tomou uma medida radical: acabou com todas as salas particulares na federação. “Os diretores agora ficam juntos no mesmo lugar”, diz. “Antes, eles viviam em ilhas de conforto e as diferentes áreas da federação não se falavam.” Segundo o gestor brasileiro, isso era um problema, principalmente na área de finanças. “Nesse departamento, tudo era segredo e só uns poucos privilegiados sabiam o que estava acontecendo.” As mudanças não param por aí. Segundo Graça, sua experiência no vôlei de praia será usada como modelo. “Quando comecei na CBV, só 30 países participavam dos campeonatos”, diz. “Em 2010, criei a Continental Cup, que contou com 143 nações.” Ele também pretende ampliar o uso da tecnologia dentro da quadra. “Em Olimpíadas e campeonatos mundiais, muitas partidas foram decididas pelos árbitros, que erraram barbaramente”, afirma. “Por isso, usaremos mais sistemas tecnológicos capazes de enxergar aquilo que o olho humano não vê.” Ele também está de olho na violência dos saques, cada vez mais indefensáveis. Uma das ideias é rever a regra que permite ao jogador cair dentro da quadra quando saca. “Esses caras de hoje, com 2,10 metros de altura ou mais, dão um salto e já caem na metade da quadra. Na verdade, não estão sacando, estão cortando.” As areias também podem ver transformações, aproximando as regras da quadra e da praia. “No


"eSSeS CArAS de hOje, COm 2,10 meTrOS de AlTUrA OU mAIS, dãO Um SAlTO e já CAem NA meTAde dA QUAdrA. NA VerdAde, NãO eSTãO SACANdO. eSTãO COrTANdO. QUerO mUdAr ISSO"

Co le Ciona dor d e títu los AS medAlhAS OlímpICAS de Ary GrAçA à freNTe dA CONfederAçãO BrASIleIrA de VôleI, de 1997 A 2012 quadra masculino 2004 Ouro 2008 Prata 2012 Prata quadra feminino 2000 Bronze 2008 Ouro 2012 Ouro Praia masculino 2000 Prata 2004 Ouro 2008 Prata 2008 Bronze 2012 Prata Praia feminino 2000 Prata 2000 Bronze 2004 Prata 2012 Bronze

vôlei de praia, quando a bola bate no bloqueio, só valem mais dois toques, enquanto no indoor são três toques”, afirma.“Qual é a lógica disso? Na medida do possível, vamos igualar tudo.” Ary Graça leva uma vida atribulada. Atualmente, divide-se entre a casa no Leblon, o escritório da FIVB, na Barra da Tijuca, e a sede da federação internacional, em Lausanne, na Suíça. Ele diz que, desde os 18 anos, se acostumou a trabalhar 12 horas por dia. E a vida familiar? “Ela é minha prioridade total”, diz. Casado há 42 anos, tem três filhas e sete netos. A turma toda se reúne pelo menos uma vez por semana, nos tradicionais almoços de domingo. “Nossa família é exageradamente unida”, diz. “A gente se desloca em blocos.” Com a mulher, Marina, gosta de ver novela. Com as filhas, vai a peças de teatro e shows. Com os netos, adora praticar esporte. Qualquer um. “Sou um esportista nato”, diz o presidente da FIVB. Além do vôlei, que o levou à seleção, praticou atletismo e futebol. Atualmente, faz exercícios uma hora por dia, revezando bicicleta, corrida e musculação. Como para muitos cariocas, sua grande escola esportiva foi mesmo a praia. Ele só lamenta que, na infância e adolescência, as pessoas mal jogavam vôlei na areia. Graças a gestores como ele, esse esporte agora virou febre mundial.


mascote

A EPIFANIA DO TATU A HISTÓRIA DE UM MASCOTE QUE PASSOU DE MODESTO BICHO BRASILEIRO A ÍCONE DA ERA DIGITAL POR ROSANGELA PETTA

ÚNICO: o tatu-bola só existe no Brasil, no exclusivíssimo bioma da Caatinga nordestina


mascote

ApesAr dA ilusão de volume provocada pela arte final, pela tecnologia 3D e pelos recursos digitais de pós-produção, a verdade é que Fuleco nunca deixou de ter, essencialmente, duas dimensões. O que não significa que podemos defini-lo como “desenho”, simplesmente. Seria diminuí-lo e não reconhecer sua contribuição simbólica, cultural e mercadológica – não, isso não. O sujeito merece respeito. Sua ascensão foi extraordinária. No princípio, era pura abstração, apenas uma ideia encaminhada por uma ó-ene-gê ao Ministério do Esporte, inspirada em um animal que só existe no Brasil, no também exclusivíssimo bioma da Caatinga nordestina: o tatubola. Ideia aprovada e concorrência aberta entre 47 agências de publicidade, em 2010 Fuleco deu as caras e o focinho para assumir o posto de mascote da Copa do Mundo de 2014. Rapidamente ganhou popularidade, mídia, fãs. Virou marca registrada – ou trade mark, na linguagem dos players do Comitê Organizador Local – em camisetas, bonés, álbuns de figurinha, chaveiros, mochilas, cadernos, lápis, canetas, bandeirinhas, bonecos de pelúcia, adesivos, invólucros de iogurte, tatuagens de papel de chiclete, almofadas, guarda-chuvas, capinhas de celular, brincos, óculos de sol vendidos pelo camelô, sacolas retornáveis, toalhas de praia, sabonete infantil (com pH neutro), sandálias que não soltam as tiras e muitas outras coisas. Ganhou

66 maio 2013 | istoé 2016

um samba-exaltação, “Tatu Bom de Bola”, no embalo de Arlindo Cruz. Ganhou um blog também, e clipes no YouTube. Naturalmente, ganhou duas ou três versões em tamanho humano adulto, para acompanhar a vistoria das obras de reforma dos estádios Brasil adentro ou fazer presença vip em festas como o Balloon d’Or, em Paris, na qual deu autógrafos e abraçou o craque Ronaldo, de quem recebeu tapinhas na carapaça. “E vocês não sabem da maior”, disse o superintendente de licenciamento de marcas. “Fechamos contrato do Fuleco para camisas de vênus!” Vênus? Fuleco nunca ouvira falar naquele time. Mas, pelo tom da voz do superintendente, devia ser um ótimo negócio. Então, ficou ainda mais vaidoso. Claro que, às vezes, cansava manter o tempo todo os olhos arregalados e o sorrisinho sempre repuxado pro lado – mas, poxa, chamavam-no de “embaixador”! A certa altura, Fuleco não só havia esquecido completamente de sua prosaica origem bidimensional como acreditou estar muito próximo de pertencer a um plano divino. Afinal, desfrutava da onipresença via banda larga, multiplicava-se nas redes wi-fi e, ah!, como era gostoso sentir aqueles milhões de cliques da internet fazendo cócegas no rabo, na barriga... Não tinha dúvidas: chegara aonde nenhum outro mascote de Copa sonhou chegar. Fuleco conhecia muito bem essa turma, desde quando era apenas um esboço nos croquis da agência e podia

observar as pranchas de pesquisa iconográfica. Sem falsa modéstia, achou que os outros não chegavam às patas dele. Willie, por exemplo. Tudo bem, foi o pioneiro, Copa da Inglaterra em 1966 – mas que moral pode ter um mascote tratado por “leãozinho”, assim, no diminutivo? Houve uma vez outro leão, Goleo VI – metido a nobre esse aí, hein? Só não tinha personalidade: precisava de uma bola falante para andar pra lá e pra cá na Copa da Alemanha de 2006. Em 2010, na África do Sul, tiveram o desplante de pintar o leopardo Zakumi de verde e amarelo – ver-de-e-a-ma-re-lo, dá pra acreditar? As vuvuzelas chamaram mais a atenção, bem feito! “Somos todos meninos”, devaneava Fuleco, certa noite, enquanto flutuava entre o Instagram e o Facebook. Lembrou-se dos mascotes meninos: Tip Tap, os gêmeos da Alemanha em

Em paris, a vErsão humana do fulEco foi prEsEnça vip Em fEstas como o Balloon d'or, na qual dEu autÓGrafos E aBraçou o craquE ronaldo, dE quEm rEcEBEu tapinhas na carapaça


fulEco virou marca rEGistrada Em camisEtas, ÁlBuns dE fiGurinhas, Guarda-chuvas, invÓlucros dE ioGurtEs, toalhas dE praia, Óculos dE sol vEndidos pElo camElÔ, sandÁlias quE não soltam as tiras, saBonEtE infantil E até Em camisas dE vênus


1974; Gauchito, incapaz de esconder aquela manita de diozito, na Argentina em 1978; e Juanito, no inesquecível Mundial do México em 1970. Mas o que é que tinha a ver aquele outro “ito” da Copa da Espanha, em 1982, o Naranjito? Laranja, que a gente saiba, é coisa de holandês. Mais coerente foi o Pique, uma pimenta com bigode e sombrero na Copa do México em 1986 – mucho loco! Agora, Fuleco tinha que ser honesto: o cachorro Striker, da Copa de 1994 nos Estados Unidos, e o galo Footix, da França, em 1998, até que eram simpáticos. Em compensação, o que dizer daquele Ciao que a Itália inventou em 1990? Parecia um Lego mal montado, vai entender... E aquele trio de Japão e Coreia, gente? Ato, Kaz e Nik: três balas de goma derretidas, hahaha! Bom mesmo era ser Fuleco. – You wait and see... Como é que é? Quem disse isso? – Fuleco quase se embolou de susto. – Manita de diozito es el carajo! – E esse aí falava portunhol! Fuleco tremia. Acionou o aplicativo de tradução, clicou na aba imagens, fez pesquisa no Google. E lá estavam os velhos mascotes, meio desbotados, em baixa resolução, num site de história da Copa do Mundo. Olhavam para ele com a mal disfarçada superioridade dos experientes. – E aí, Toly? – Meu nome é Fuleco! Os mascotes olharam uns para os outros e caíram na gargalhada. Nome mais fuleiro... – Opa, olha a democracia, pessoal! Lembrem-se de que esse nome foi escolhido com mais de 800 mil votos – latiu Striker, provocando uma pausa na algazarra. – Embora seja bem fuleiro mesmo. E aí vieram mais gargalhadas. Footix soltou penas, Naranjito rolava de

68 maio 2013 | istoé 2016

tanto rir. Fuleco teve que se esforçar para não se enrolar todo com o constrangimento; nunca gostou do nome. Quando os mascotes se acalmaram, sentaram-se em roda e puseram-se a conversar sobre os bons tempos dos mundiais de futebol. Um tempo tão bom que passa depressa demais. Contaram a Fuleco que o público é volúvel, sempre quer mais novidade. Que Fuleco se preparasse: mal termina a final do campeonato e o mascote volta a ser uma ideia bidimensional, uma estampa na camiseta suja, num chaveiro que vai direto pro fundo da gaveta, no papel pisado na saída do estádio. Sua fama tinha data de validade: quando fecharem os portões do Maracanã. Fuleco enfiou o rabinho entre as patas. Solidários, os mascotes se aproximaram, puseram os braços em torno da couraça dele, tentaram animá-lo. Afinal de contas, não sabia mais quem era? Tolypeutes tricinctus, lembra? O menor de todos os tatus, o único que vira bola para se proteger, com um bando de amigos humanos que continuarão, Copa após Copa, lutando para salvá-lo da extinção. – Você não é só mascote, cara. Você traz uma mensagem. Grande Toly. Fuleco levantou o focinho, fechou os olhos, e foi como se ele pudesse ver as lembranças. O tempo da Caatinga verde

e o tempo da Caatinga seca. As noites frescas em que saía da toca para comer umas folhas, umas cascas. Com alguma sorte, até uns cupins. Viu os açudes brilhando. Os outros tantos bichos que existem ali, inclusive os parentes, o tatupeba, o tatu-canastra, o tatu-peludo, o tatu-galinha... Quando acabar esse forfait todo, vai ser bom rolar até eles, num campinho de terra com tufos de mato, e brincar sob o luar do sertão. Patrocínio:

o cachorro striKEr, da copa dE 1994, nos Eua, E o Galo footiX, da frança Em 1998, até quE Eram simpÁticos. Em compEnsação, o quE diZEr daquElE ciao quE a itÁlia invEntou Em 1990? parEcia um lEGo mal montado. E aquElE trio dE Japão E corEia? ato, KaZ E niK Eram três Balas dE Goma dErrEtidas


tecnologia

seleção natural c0m a mesma garra com que atletas enfrentam adversários, os designers de material esportivo se superam na arte de desenvolver equipamentos que ajudem os competidores a, cada vez mais, deixar recordes e limites para trás Por fátima cardeal ilustrações daniel rosini

70 maio 2013 | istoé 2016


1867

As regras de Queensberry, em Londres, exigiam o uso de luvas para amadores e estipulavam rounds de três minutos, o que acabou sendo adotado só em 1872. Até então, elas eram usadas na Inglaterra, mas só para treinamento, como medida de proteção. Nos combates para valer, o público via o acessório como exibicionismo, falta de coragem e de macheza. Se o jogador se esquivava, era visto como efeminado. Apostava-se em quem seria o primeiro a san-grar e no número de rounds (cerca de 25). A luta só acabava por nocaute, desistência ou se a polícia interrompia

1889 1896 1904 1984 2000 foto: Bob thomas/getty

Última disputa de título mundial sem luvas: John Sullivan vence Jake Kilrain. A partir daí, todo mundo – amador ou profissional – passa a usar os artigos feitos de couro e crina, com abertura nas pontas dos dedos. A polícia prendia quem era flagrado lutando sem o equipamento Na primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas, o boxe ficou de fora por ser considerado violento e incompatível com o espírito de confraternização dos Jogos É incluído na terceira Olimpíada, em St. Louis, e se torna conhecido em todo o mundo. Daí para a frente, ganha fama mundial – só ficou fora das competições em 1912, em Estocolmo, pois era proibido na Suécia O protetor de cabeça é introduzido nos Jogos de Los Angeles As luvas são definidas segundo a categoria de peso. São feitas com encaixe anatômico para proteger o lutador de golpes e impactos e preservar os ossinhos e músculos da mão

pioneiro: o americano jack johnson, primeiro campeão mundial dos pesos-pesados


tecnologia

1100 1300 1874 1976 1908 1980 2000

primeiro saque: o inglês reggie doherty, campeão de Wimbledon de 1897 a 1900

Nos mosteiros franceses, monges começam a jogar o que viria a ser o tênis. As bolas eram de pele de animal e não havia raquetes. Eles usavam as próprias mãos. Logo, passaram a protegê-las com luvas feitas do mesmo material das bolinhas e, depois, a usar um taco achatado de madeira, chamado pallas Os italianos passam a entrelaçar tripas de animais em armações de madeira. O cabo é muito comprido e o aro, pequeno e em forma de pera O cabo encurta e a cabeça aumenta. O par de raquetes agora cabe dentro de uma caixa de madeira. Ideia do major da Armada britânica Walter Clopton Wingfield, que, ao formalizar as regras do tênis, aproveitou para faturar com a venda dos equipamentos, tornando-os portáteis Sai a armação de madeira e entra a de metal. A superfície do aro aumenta em 50%. Mais leves e com mais potência, elas são sucesso só entre os jogadores intermediários. Os profissionais acham que elas oferecem menos controle e precisão

Para agradar aos profissionais, surge a raquete de grafite. Além de melhorar o controle, a precisão e o desempenho no jogo, é resistente e durável

São feitas com a tecnologia Youtek, combinação que inclui os chamados materiais inteligentes. O d3o, posicionado na moldura, faz com que a raquete se molde aos diferentes tipos de golpe. Nos rápidos, as moléculas se juntam em nanossegundos e aumentam a rigidez, fortalecendo a moldura e proporcionando o máximo de potência. Nos lentos, suavizam o toque


1896 1904 1942 1957 1996 2000

Os saltadores da primeira Olimpíada usaram um equipamento feito de madeira ash, a mesma dos corpos de algumas guitarras. É dura, pesada e inflexível. Naquele ano, o recorde, de 3,2 m, fica com William Hoyt Mais flexível e leve, a vara de bambu é usada pela primeira vez, nos EUA Entram as de alumínio e as de aço, com muito mais flexibilidade, o que dão mais impulso e altura aos saltadores Varas de fibra de vidro e os colchões de aterrissagem – no lugar dos tanques de areia – são as novidades A peça é feita com uma mistura de fibra de carbono e vidro. Um pesquisador da Universidade de Cambridge descobre que a energia do atleta se concentra no meio da vara e, portanto, suas pontas podem ser mais finas. Com isso, elas ficam mais leves e as marcas sobem para além dos 6 metros de altura O equipamento é o mesmo, mas o esporte passa a ter atletas diferentes na Olimpíada de Sydney: as mulheres

fotos: popperfoto/getty | ralph crane | shutterstock

para cima: o saltador americano Bob gutowski, recordista mundial entre 1957 e 1960


tecnologia

1996 2000 1908 1948 1972 1992

Do tipo macacão, cobrem do pé aos ombros. Feitos de algodão, depois de molhados chegam a pesar cinco quilos Wally Ris e Alan Ford, primeiro e segundo colocados nos 100 m livre na Olimpíada de Londres, nadam de sunga, um traje revolucionário A sunga de lycra chega pesando apenas 18 gramas. Com ela, Mark Spitz ganha sete medalhas de ouro em Munique Em Barcelona, volta a ser inteiriço. De microfibra e elastano, é 15% mais deslizante. Começa a era dos supermaiôs

2008

Com aplicações de resina, o novo modelo apresenta 8% menos atrito com a água. Foi considerado o maior responsável por 77% das medalhas de ouro em Atlanta Modelo com tecido inspirado na pele do tubarão leva o crédito de contribuir na obtenção de 13 dos 15 recordes mundiais, em Sydney. As costuras, com 20 vezes mais linha, imitam tendões humanos para não interferir na vibração dos músculos A impressionante marca de 108 quebras de recorde em Pequim é atribuída ao traje produzido com a ajuda da Nasa. Sem costuras, fechado com solda ultrassônica, painéis de teflon e atrito com a água 6% menor do que o antecessor, ele leva a Federação Internacional de Natação a limitar o uso dos supermaiôs

evoluÇÃo acima, os maiôs do fim do século; no centro, mark spitz por volta de 1973; à esquerda, desenho de michael phelps com a roupa que hoje é proibida em competições oficiais

fotos: terry o'neill/getty | upi/dpa/corbis


1526 1891 1949 1954

1970 1998 2000 torcida fundador da adidas, adolf dassler fixa travas em chuteira nos anos 1950

Para que o rei inglês Henrique VIII pudesse dar seus pontapés numa espécie de protofutebol, foram criadas as primeiras, parecidas com botas ortopédicas, pesadas, muito duras e com pregos na sola Cinco anos antes da primeira Olimpíada, surgem modelos com travas de couro no solado, com até meia polegada e reforço na altura do dedão

As chuteiras ganham travas de borracha, sua primeira grande evolução tecnológica

Surgem o couro sintético e os modelos com travas parafusadas. Foi com eles que a Alemanha entrou na final da Copa do Mundo na Suíça e derrotou a Hungria por 3 a 2, em episódio que ficou conhecido como o “Milagre de Berna”

O alumínio passa a compor as travas. Começa a era de contratos de exclusividade com jogadores O peso cai de meio quilo para 200 gramas, e o calçado ganha cores. As travas mais modernas (longitudinais) melhoram a aderência Design e modelos personalizados, cada vez mais coloridos e assinados por estrelas do futebol. Da linha usada na costura ao jeito de amarrar o cadarço, tudo é inteligência avançada a serviço do desempenho


NEGÓCIOS


Medalhas nos Jogos de londres e resultados histĂłricos nĂŁo foraM suficientes para atrair patrocinadores privados, que focaM investiMentos na copa do Mundo de futebol e deixaM os outros esportes cada vez Mais dependentes de recursos pĂşblicos por Mariana Bastos

Foto: Anne Pastoor/Getty


NEGÓCIOS

NiNguém pode dizer que a medalha de broNze do judoca Rafael Silva nos Jogos de Londres, em 2012, não foi suada. Antes de subir ao pódio olímpico, o gigante, apelidado carinhosamente de Baby, foi ao golden score (espécie de prorrogação no judô) em quatro de suas cinco lutas. Dez meses se passaram desde o maior momento de glória de Rafael, mas o feito de ter sido o primeiro medalhista brasileiro da categoria dos pesados ainda não rendeu frutos em termos financeiros. “Ganhei muita visibilidade depois da medalha, mas isso não se refletiu em patrocínio individual”, diz o atleta, que pelo menos não pode se queixar de falta de estrutura para treino ou escassez de verbas para disputar competições. O judoca recebe suporte do Clube Pinheiros, de São Paulo, da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e do Exército, ao qual se vinculou para disputar os Jogos Mundiais Militares, em 2011. Diante desse cenário, pode haver quem pergunte o motivo da reclamação. “O patrocínio é muito necessário, porque o atleta tem um tempo de competitividade bastante curto”, diz. “Com 35 anos, provavelmente vou ter que me aposentar, e o dinheiro do patrocínio individual poderia me dar essa tranquilidade para quando eu parar de lutar”, afirma o medalhista olímpico, atualmente com 25 anos. Baby não é o único medalhista de Londres que sofre para convencer uma empresa a apoiá-lo. Seu companheiro de esporte Felipe Kitadai

(bronze na categoria até 60 kg) foi o primeiro atleta a subir ao pódio na capital do Reino Unido. Até agora, porém, não obteve patrocínio individual. A pentatleta Yane Marques, que bravamente levou o bronze em um esporte sem tradição no Brasil, é outra esportista que não despertou interesse do setor privado. Ainda há aqueles que até contam com apoiadores, mas cujos grandes triunfos na última Olimpíada não diversificaram as marcas estampadas em seus uniformes. Sarah Menezes, primeira mulher do País a ganhar um ouro no judô, e Arthur Zanetti, primeiro ginasta a subir ao topo do pódio, não atraíram novos investidores. A judoca piauiense, aliás, teve contratos encerrados com dois de seus apoiadores de Londres. A realidade desses atletas contrasta com o cenário que era esperado para o ciclo que antecede os Jogos do Rio. Dirigentes esportivos, empresários, membros do Ministério do Esporte e atletas consultados pela 2016 concordam que o “boom” de investimento privado esperado após a capital fluminense ter conquistado o direito de sediar a Olimpíada não ocorreu conforme a expectativa inicial. “Infelizmente, o Brasil ainda não tem toda essa cultura de patrocínio privado”, diz Ricardo Leyser, secretário nacional de alto rendimento do Ministério do Esporte. “Existem algumas empresas que mantêm essa bandeira, mas isso ainda não está 100% consolidado.” É fato que o esporte olímpico passou a receber muito mais aporte desde o final de 2009, quando o Rio foi esco-

lhido para sediar a Olimpíada, mas o combustível que alimenta a meta para o Brasil se tornar top 10 em 2016 ainda é a verba de origem governamental e o patrocínio de estatais. Para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), é utopia imaginar o desenvolvimento esportivo do País sem o dinheiro público. “Entre as potências olímpicas, os Estados Unidos são o único país do mundo que consegue sustentar seu esporte exclusivamente com verba privada”, diz Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do COB. “No Brasil, há um modelo misto baseado em verba pública e privada, o mesmo que prevalece na Austrália, na Grã-Bretanha e na Alemanha.” Para alguns dirigentes e atletas, a Copa do Mundo do Brasil, em 2014 – portanto, no meio do ciclo olímpico dos Jogos do Rio, em 2016 –, é uma das causas para o setor privado não promover uma corrida por investimentos em modalidades olímpicas. “Com a Copa, é evidente que o patrocínio acaba sendo direcionado para o futebol, enquanto as outras modalidades ficam pedindo pelo amor de Deus por um apoio privado”, diz Mauro Silva, presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). “Se você tentar abrir as portas para novos patrocínios, não vai ser atendido. A coisa é pior do que se pensa.” Para o dirigente, o privilégio ao futebol é injusto, já que o País possui dez títulos mundiais no pugilismo amador, enquanto a paixão nacional trouxe para casa cinco Copas do Mundo. “Quem faz isso é a mídia, que vive do futebol e deixa a desejar na cobertura de outros esportes”, afirma.

78 maio 2013 | istoé 2016 Foto: Getty Images



NEGÓCIOS

“Eu também gosto de futebol, mas isso não significa que a gente tem de deixar de lado as outras modalidades.” O esporte que Silva comanda foi responsável por dar três medalhas ao Brasil na Olimpíada de Londres: uma de prata, com Esquiva Falcão, e duas de bronze, com Adriana Araújo e Yamaguchi Falcão. Um feito histórico, já que a última medalha que o boxe tinha rendido ao Brasil ocorrera 44 anos antes, com Servílio de Oliveira, nos Jogos da Cidade do México. O incrível salto de desempenho não serviu para o boxe amealhar mais patrocínios. A modalidade atualmente se sustenta com recursos da Lei Agnelo Piva (R$ 2,6 milhões) e com o patrocínio de uma estatal, a Petrobras (R$ 4,5 milhões). João Tomasini Schwertner, que comanda a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), segue a mesma linha de raciocínio. “Até 2014, o mercado vai estar focado no futebol”, afirma. “Já ouvi comentários de gente que foi atrás de patrocínio de empresa e ouviu que não haveria negociação porque estavam focados na Copa.” Segundo Schwertner, a tendência é que, depois da competição mundial de futebol, o patrocínio privado flua mais livremente. O dirigente alerta, no entanto, que isso não vai se refletir em medalhas. “Não adianta chegar com um caminhão de dinheiro às vésperas da Olimpíada e esperar por resultado”, diz. “A formação de um atleta depende de um investimento muito maior do que só dois anos.” Na canoagem, a receita de arrecadação do esporte olímpico se

80 maio 2013 | istoé 2016

repete: investimento do governo e de estatais. A CBCa conta com recursos da Lei Agnelo Piva (R$ 2,6 milhões), da Itaipu Binacional e, desde 2011, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O COB discorda da visão de que a Copa do Mundo concentra os patrocínios do esporte. Para Marcus Vinícius Freire, os Jogos do Rio vão encerrar mais de uma década esportiva no Brasil (Pan de 2007, Jogos Mundiais Militares de 2011, Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016), o que só contribuiu para aquecer o mercado de patrocínio. “Não acredito que a Copa do Mundo atrapalhe a Olimpíada”, diz. “O mercado publicitário brasileiro tem maturidade e é grande o suficiente para atender os dois eventos.” A Lei de Incentivo ao Esporte foi lançada em 2007 com a promessa de que serviria de trampolim para o aumento da captação de patrocínios. De acordo com a legislação, a empresa que investir na área esportiva tem o direito de abater até 1% de seu imposto de renda. Em 2012, o montante de recursos aplicados por meio dessa lei chegou a R$ 210 milhões, valor ainda tímido se comparado ao investimento direto que governo e estatais pretendem fazer neste ciclo olímpico no esporte de alto rendimento – cerca de R$ 2,5 bilhões ou R$ 625 milhões por ano. Os projetos relacionados ao futebol respondem, sozinhos, por 13% do valor captado em 2011, de R$ 219 milhões.

O mecanismo lançado pelo Ministério do Esporte ainda não é amplamente utilizado por confederações e atletas de alto rendimento. “A Lei de Incentivo abre uma porta importante na questão do patrocínio privado, mas nós não temos projeto”, diz Schwertner, da CBCa. “Não sei se isso é uma falha nossa.” Para os esportistas, há dois fatores que desestimulam a procurar ajuda financeira a partir dessa lei: não há a possibilidade de montar um projeto sem o suporte de uma instituição (como uma confederação ou instituto) e o atleta não pode extrair o seu salário dos recursos aplicados. Muitos se perdem também na burocracia do processo. O triatleta Juraci Moreira é um dos raros que conseguiram levar adiante seu projeto de patrocínio sem se deixar abater pelas dificuldades do processo. Por meio do Instituto Gustavo Borges, desde 2010 Juraci consegue aprovar projetos de patrocínio todos os anos. Graças à Lei de Incentivo, ele capta R$ 120 mil anuais, que o ajudam a manter uma equipe multidisciplinar de oito profissionais que o assistem e a fazer viagens para disputar provas do circuito internacional de triatlo. “Tem muito atleta que acha que patrocínio vai cair do céu, mas a Lei de Incentivo está aí para ser usada”, diz Moreira. “Se você não vai atrás de nenhuma empresa, a chance é zero. Eu já devo ter mandado meu projeto para mais de cem empresas, e agora tenho parceiros de longa data”, completa o triatleta, que frequentemente é usado


te m o u nã o tem pa trocÍnIo?

o q ue dI ze m A lGu nS P RotAG o nI S tAS d o eSP oR te b RASIleIRo S ob Re o d I nheIRo P ublIcI táRIo d e S t I n Ad o PA RA A FoRmAç ão e d eS envolv Imento d oS AtletAS

“Ganhei muita visibilidade depois da medalha, mas isso não se refletiu em patrocínio individual” RA FAel S I lvA, j u d o cA, b R o nz e em lo nd R e S

“com a copa, é evidente que o patrocínio acaba sendo direcionado para o futebol, enquanto as outras modalidades ficam pedindo pelo amor de deus por um apoio privado”

“já ouvi comentários de Gente que foi atrás de patrocínio de empresa e ouviu que não haveria neGociação porque estavam focados na copa”

“diante da falta de investimento do setor privado, resolvemos, com patrocínio de empresas públicas, completar essa lacuna na formação de atletas”

“existe uma escassez de bons projetos para serem apresentados aos empresários”

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“tem muito atleta que acha que patrocínio vai cair do céu, mas a lei de incentivo está aí para ser usada” j u R Ac I m o R eI RA , t RI At l e tA

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NEGÓCIOS

onde está o dinheiro Valores de patrocíNio Via lei de iNceNtiVo (em 2011)

r$ 219 milhões 13% excluSIvAmente PARA o Futebol

Valores aplicados em alto reNdimeNto por empresas estatais (por aNo)

r$ 625 milhões

13 3

é o Número de patrociNadores de Neymar

é o Número de patrociNadores de arthur zaNetti (ouro em loNdres)


como exemplo bem-sucedido de como usufruir da Lei de Incentivo. Seu perfil nem de longe é o que mais atrai o interesse das empresas. Moreira vai fazer 34 anos e não conseguiu disputar a última Olimpíada. Seu esporte raramente produz grandes resultados para o País e ele não está entre as apostas de medalha para 2016. Mesmo assim, o esportista consegue se beneficiar do patrocínio privado. Qual é o milagre operado por ele? “Tem uma preguiça em relação à burocracia do processo”, afirma. “Mais de dez atletas chegaram a me pedir ajuda para montar um projeto, mas não levaram à frente. Reclamam que têm que prestar contas e perder muito tempo nessa burocracia. Eu adoraria me focar só em treinos, mas tenho que dedicar pelo menos uma hora por dia em frente ao meu computador.” Para Juraci, a única maneira de captar e reter patrocínios é mantendo parceiros, mídia e Ministério do Esporte informados sobre o próprio desenvolvimento. O sucesso é tanto que o triatleta até cogita virar consultor na área após se aposentar para ensinar seus pares a montar projetos. A falha não parte só de atletas e confederações. Muitas empresas ainda resistem à Lei de Incentivo. Para tentar estimular o empresariado a utilizar os benefícios da legislação e, assim, promover o aumento do aporte privado, foi criado em 2010 o Movimento LiveWright, uma instituição sem fins lucrativos que reúne um grande pool de empresas cujo objetivo é fazer investimentos de longo prazo na formação de atletas – mas não só para 2016, como para depois dos Jogos do Rio. Seu foco são os esportes que mais distribuem medalhas. Atualmente, o LiveWright tem dois projetos aprovados, um voltado para a ginástica artística e outro para o ciclismo. No projeto da ginástica, a instituição ajudou a trazer de volta para o Brasil o técnico ucraniano Oleg Ostapenko,

Foto: Getty Images

o judô, que já conta com apoio da infraero, deve receber investimentos da petrobras. o handebol é visado por correios e banco do brasil, enquanto o hipismo terá suporte do bndes. a caixa patrocina atletismo, Ginástica e lutas. aGora, está de olho no bmx e no tiro

que se notabilizou por elevar o padrão da modalidade no País. “O que a gente tem visto nesses primeiros anos é, sim, uma vontade crescente por parte das empresas de patrocinar o esporte, seja por meio da Lei de Incentivo, seja por verba direta do marketing”, afirma Mauro Bergstein, presidente do conselho do LiveWright. “Mas há uma falta de conhecimento de como isso pode ser explorado e existe também uma escassez de bons projetos para serem apresentados aos empresários.” Enquanto a iniciativa privada não dá conta de financiar totalmente o esporte brasileiro, o governo se mexe para poder cumprir a meta de colocar o Brasil entre os dez melhores países no quadro de medalhas de 2016, o que representaria um salto de 12 posições em relação aos Jogos de Londres. “Diante da falta de investimento do setor privado, resolvemos, com patrocínio de empresas públicas, preencher essa lacuna na formação de atletas”, diz Ricardo Leyser, do Ministério do Esporte. No fim do ano passado, o Ministério se reuniu com as estatais para estimulá-las a aumentar o

aporte no esporte olímpico. Na série de reuniões, estipulou-se que o Plano Brasil Medalhas colocaria investimento adicional de R$ 1 bilhão durante o atual ciclo olímpico, sendo que caberiam às estatais 30% desse valor. Como resultado, mais modalidades devem ser beneficiadas. O pentatlo moderno negocia com o Banco do Brasil. O judô, que já conta com apoio da Infraero, deve também receber investimentos da Petrobras. O handebol é visado por Correios e Banco do Brasil. O hipismo deve ter suporte do BNDES. Já a Caixa, que já patrocina atletismo, ginástica artística e lutas, deve incluir em sua conta o BMX e o tiro esportivo. “Com a ajuda das estatais, nosso foco é 2016, mas a expectativa é que esse modelo seja seguido por entidades privadas depois dos Jogos”, afirma Leyser.


futebol

Por que ninguém dá bola Para elas? Depois Do fiasco Da seleção feminina na olimpíaDa, o que era ruim ficou pior: jogaDoras sem ter onDe jogar, campeãs com DificulDaDes financeiras e inDiferença Dos Dirigentes. até quanDo isso vai Durar? por Natalie Gedra fotos caio Guatelli


PÉ NA LAMA Érika, Luana, Aline e Andressa (da esq. para a dir.) em um campo de terra em São Paulo: falta dinheiro até para colocar crédito no celular


futebol

BOLA PARA A FRENTE A Confederação Brasileira de Futebol lançou um projeto de renovação do time para os Jogos de 2016


O futebOl femininO nO brasil tem faces tragicômicas. Ao ser procurada pela reportagem da 2016, a lateral-esquerda Andressa Alves da Silva, 20 anos, não atendia às várias e insistentes ligações. Não por má vontade. “Quem é?”, perguntou, por mensagem de texto. “Não posso atender o telefone. Meu chip não é daqui e não quero gastar com chamada de longa distância”, explicou Andressinha, como é conhecida na seleção brasileira. A situação remete a outra, relatada pela meia Érika Cristiano dos Santos, 25 anos. Em um torneio de base na Tailândia, o time nacional nem sequer contava com uma cozinheira. “Eu mesma fui para a cozinha”, conta a volante, com um sorriso no rosto. “A gente brigava para ver quem ia fazer o feijão.” São relatos que não deveriam condizer com a realidade de um país que, nesse esporte, é um gerador inesgotável de talentos, não fosse por um detalhe: no Brasil, futebol é coisa de homem. Apesar da tradição e do respeito mundo afora, a seleção feminina nunca

conquistou uma medalha de ouro olímpica ou um título de Copa do Mundo. Na verdade, em Londres-2012, o time obteve seu pior resultado em Olimpíadas, uma eliminação nas quartas de final após derrota por 2 a 0 para o Japão. A equipe voltou desmotivada e sem apoio. O que já era ruim ficou pior. A situação parece perdida? Para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), não. A entidade vê uma saída e encabeça um projeto de renovação com o objetivo de chegar a 2016 – ano da Olimpíada em casa, em que é proibido fazer feio – com um time em condições de ganhar o ouro. A mudança começou como tantas outras nesse esporte: com a troca do treinador. Campeão da Copa Libertadores da América de Futebol Feminino em 2011 com o São José, time da cidade de São José dos Campos (SP), Márcio de Oliveira assumiu o cargo, mas com um diferencial: também exercerá a função de coordenador técnico. Na prática, comandará a integração entre as categorias de base e o time profissional.

Inclusive, já nomeou seu auxiliar, Adilson Santos, o novo técnico da seleção sub-20. “Não estou vendo as meninas da base chegarem à equipe de cima, elas simplesmente desaparecem”, diz o treinador. “O sub-15, o sub-17 e o sub-20 precisam alimentar a seleção principal.” Na última Olimpíada, o despreparo da equipe do então treinador Jorge Barcellos era sentido pelas próprias jogadoras. “Nas convocações, o sentimento do grupo inteiro era de que a gente não estava pronta para estar ali em Londres”, diz Érika, na seleção desde 2004. “A bola vai punir um trabalho que não for bem-feito, porque não existe resultado remendado”, diz a zagueira Aline Pellegrino, 30 anos. O grito por renovação também vem das poucas jogadoras que conseguiram, de fato, chegar ao sucesso. “Todo mundo espera que o Brasil volte a jogar aquele futebol que nos levou a duas finais olímpicas e a uma final de Mundial”, diz a experiente atacante Marta, 27 anos. “Todos se perguntam o que falta


futebol

ériKa MEIA

aline

ZAguEIRA

luana

MEIA

andressa

LATERAL-ESquERdA

INCERTEZA "Todo começo de ano é uma agonia. A gente não sabe se vai conseguir um clube para jogar", diz Luana

os P r i nci Pai s co mPro mi s sos da seleç ã o feminina d EZEM B R O dE 2 0 1 3 : tOr n e i O in te r n aci Onal c idad e d e sãO PaulO 2 013: d O is am is tO s O s n O s e s ta dO s u n i d O s c Ontra se le ç õ e s ainda nãO d e finidas 2 014: camP e On atO s u l- a m e r i ca n O JuN / J u L 2015: c O Pa dO m u n dO de f u te b O l fe m ininO JuL h O dE 2016: J O g O s O lí m P i cOs dO r i O

88 maio 2013 | istoé 2016


para o Brasil ganhar”, afirma a atleta, que já atuou nos Estados Unidos e hoje defende o Tyersö, da Suécia. Eleita cinco vezes a melhor do mundo, Marta ainda é o principal ícone do futebol feminino brasileiro. Para que surjam novas jogadoras como ela, o projeto da comissão técnica pretende garimpar talentos pelo País. “Precisamos que os campeonatos estaduais se organizem mais”, afirma o técnico Márcio. “O Roberto vai pedir às federações que enviem seus calendários locais para que possamos ir até lá observar essas jogadoras.” O Roberto a quem o treinador se refere foi citado por todos os entrevistados desta reportagem. Roberto Valdemar, ou “Betão”, assumiu o cargo de supervisor da seleção feminina pouco antes dos Jogos de Londres. Na descrição de seu trabalho, bem que poderia constar a função “faz tudo”. É ele o responsável pelo contato entre o time e a presidência da CBF. Também é ele quem providencia coisas prosaicas, mas até agora inexistentes para a seleção feminina, como conexão gratuita de internet nos hotéis, suplementação alimentar, material esportivo e exames de saúde. “Para nós, é o paraíso”, diz a zagueira Aline. “Mas é o que sempre aconteceu desde a base masculina.” A próxima competição internacional, o Campeonato Sul-Americano, acontece somente em 2014. Já 2015 é o ano da Copa do Mundo de futebol feminino, e 2016, o da Olimpíada. “As seleções sub-17, sub-20 e principal terão em média uma convocação por mês, com cerca de duas semanas de treinamento”, garante Betão. “Também haverá jogos internacionais nas fases de preparação.” O simples fato de as meninas conseguirem se encontrar será um grande avanço, já que o futebol feminino de clubes no País – e em toda a América do Sul – é incipiente. O calendário brasileiro conta atualmente, além dos campeonatos

estaduais, com a Copa do Brasil e a Copa Libertadores, insuficientes para preencher o ano de muitas equipes. O número de times participantes também é bem menor do que nas versões masculinas dos mesmos torneios, o que encurta a duração das competições. A Libertadores feminina de 2012, por exemplo, durou dez dias e contou com apenas 12 clubes. As incertezas da modalidade afligem as mais novas. Luana Bertolucci Paixão tem apenas 20 anos. No fim de 2012, estreou na seleção principal com a conquista do Torneio Cidade de São Paulo, destacando-se, na partida final contra a Dinamarca, pela notável habilidade. Meio-campista, com voz fina de menina, começou no futebol como tantas outras garotas: no time dos meninos. Filha de mãe que trabalha como segurança e pai aposentado, hoje consegue ajudar nas despesas da família, mas classificou como “distante” a intenção de comprar uma casa. “Isso preocupa, porque a gente nunca tem segurança em nada”, diz. “Todo começo de ano é uma agonia, não sabe se vai dar certo, não consegue se programar, não consegue nada.” O mais assustador é pensar que Luana é uma das privilegiadas. Ao lado de Érika e Andressinha, ela tem um clube onde treinar – a Associação Desportiva Centro Olímpico, em São Paulo. Mas times de futebol feminino vêm e vão. Os contratos das jogadoras costumam durar apenas um ano, já que é difícil saber

se as equipes existirão por mais tempo. A verdade é que nem o tempo ou a afirmação no meio futebolístico ajudam a diminuir as dificuldades. Aline, a experiente capitã da seleção no último Mundial, começou 2013 sem clube para jogar. “Você quer virar o ano empregada, comprar algo em seis vezes e ter a certeza de que poderá pagar”, diz. “Cansa, claro que cansa.” Tanto cansa que Aline deve ser uma das atletas a abrir espaço para a chegada de jogadoras mais novas à seleção. “As pessoas não conseguem desapegar, vi muita gente ter uma dificuldade enorme”, afirma. “Não posso passar por isso.” A chegada de garotas ao time é o indício mais óbvio da renovação anunciada pela CBF. Na primeira convocação do técnico Márcio de Oliveira, em novembro de 2012, nove de 23 meninas eram estreantes na equipe principal. Isso não quer dizer que as “velhinhas” serão totalmente esquecidas. “A renovação deve ser gradual”, diz o treinador. “A meiocampo Formiga tem 34 anos, é dona da melhor avaliação física e tem muita qualidade técnica”, afirma. Coincidentemente, a seleção masculina também passa por um período de renovação e, assim como a feminina, anunciou novo treinador no fim de 2012. As circunstâncias são parecidas, mas as semelhanças param por aí. Seleções tão próximas e, ao mesmo tempo, tão distantes.

FALTAM CAMPEONATOS DE FUTEBOL FEMININO NO BRASIL. ATÉ PARA A LIBERTADORES, TORNEIO MAIS NOBRE DA AMÉRICA DO SUL, FOI UM SUFOCO REUNIR 12 TIMES


memória

ÉPOCA DE OURO DKW lidera a Taça Santos Dumont, disputada em Jacarepaguá, em 1968: apesar da história memorável, o autódromo vai mesmo desaparecer


Adeus, JAcArepAguá DemoliDo para Dar lugar ao parque olímpico, o autóDromo jamais será esqueciDo: foi ali que gênios como fittipalDi, piquet e senna escreveram alguns Dos capítulos mais marcantes Da história Do automobilismo brasileiro por RodRigo LaRa

Assim que o Rio de JAneiRo foi escolhido para promover os Jogos Olímpicos de 2016, os cariocas apaixonados por automobilismo sentiram algo muito próximo de desespero. Não que fossem contrários ao projeto carioca de sediar o evento esportivo mais importante do planeta. O que os assustava era o fim do Autódromo Internacional Nelson Piquet, conhecido popularmente como Jacarepaguá. Desde outubro de 2009, quando o Rio teve seu nome anunciado como sede olímpica, os entusiastas das corridas de velocidade lutavam para que Jacarepaguá sobrevivesse. Depois de muitos debates, sugestões e apelos, tudo ficou como antes: o autódromo vai, sim, desaparecer para dar lugar ao Parque Olímpico, palco das disputas de 15 modalidades em 2016, entre elas basquete, judô, handebol, tênis, ciclismo, natação e ginástica artística. A favor de Jacarepaguá, argumentava-se que ele era o único lugar disponível no Rio para a prática do automobilismo. Havia também uma importante questão histórica: apenas a pista carioca e o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, já haviam sediado corridas de Fórmula 1 no Brasil. Nada disso, porém, sensibilizou os organizadores dos Jogos do Rio.

Foto: Arquivo O Globo


memória

TRIO DE CAMPEÕES José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi e Bird Clemente (da esq. para a dir.) no pódio, depois de disputarem uma corrida de turismo

Jacarepaguá foi inaugurado em 1964 e até 1978 sediava provas locais de automobilismo. Nos primeiros anos, nomes como Normam Casari, José Carlos Pace, Wilsinho Fittipaldi e Bird Clemente dividiam curvas e rasgavam duas retas, durante aquela que é considerada a época de ouro do automobilismo nacional. Quem também correu na pista carioca nos primórdios de sua existência foi Emerson Fittipaldi, primeiro brasileiro campeão da Fórmula 1 e dono de dois títulos da categoria. “Jacarepaguá tinha um traçado bastante técnico”, lembra o piloto. “Ao contrário de Interlagos, lá era plano, porém com muitas curvas rápidas. Lembro muito bem quando corri ali na década de 1960 com um DKW Malzoni.” Na década seguinte, a pista passou por uma reforma para se adequar aos padrões de segurança da FIA (Fédération Internationale de l'Automobile). Em 1977, ela foi reinaugurada com um traçado de pouco mais de cinco quilômetros de extensão. O templo carioca da velocidade era considerado, então, um autódromo-modelo para o País, moderno até se comparado a pistas estrangeiras. Em 1978, Jacarepaguá recebeu sua primeira corrida de Fórmula 1. O GP Brasil, até então disputado em Interlagos, foi transferido para o Rio. Nessa primeira etapa, o público pôde ver um show de Emerson, que pilotava pela equipe Coopersucar, o primeiro e único time nacional na categoria. “Essa corrida foi especial”, diz o bicampeão mundial de Fórmula 1. “Estava em uma equipe brasileira, correndo no Brasil. Foi emocionante conseguir chegar em segundo.” Nos dois anos seguintes, o GP Brasil voltou para Interlagos, embora a pista paulistana fosse considerada, na época, extensa e perigosa demais para as corridas de

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F-1. Foi a deixa para que Jacarepaguá voltasse a sediar a prova entre 1981 e 1989 e visse momentos memoráveis. Em 1986, Nelson Piquet venceu um duelo espetacular com Ayrton Senna, que cruzou a linha de chegada em segundo. Mas em 1990 a Fórmula 1 voltou para a recém-reformada pista de Interlagos e Jacarepaguá viveu tempos de abandono. A pista parou, inclusive, de sediar provas de categorias nacionais. A situação só mudou após mais uma reconstrução, que teve como resultado imediato a vinda do Campeonato Mundial de

Motovelocidade. A categoria correu no autódromo de 1995 até 2004. Caso similar foi o da Fórmula Indy. A prova do automobilismo americano estreou na pista carioca em 1996 e, logo de cara, deu sorte aos brasileiros: André Ribeiro, que não constava em nenhuma lista de favoritos, foi o vencedor. Quem também tem fortes lembranças do autódromo é Cesar Roberto de Oliveira Monteiro, o Fitti. Hoje com 62 anos, esse inspetor de qualidade em uma empresa de produtos automotivos era frequentador assíduo do espaço.

maio 2013 | istoé 2016 Foto: Arquivo O Globo | Marco Antonio Rezende/Folhapress | Arquivo Estadão


PARA TODOS OS PILOTOS Abaixo, GP de Motovelocidade, em 2003. No centro, Piquet exausto no pódio após uma corrida de Fórmula 1, em 1982. No pé da página, prova disputada por fuscas na década de 60: Jacarepaguá sempre rivalizou em importância com Interlagos

O apelido vem de uma camiseta pintada à mão pela irmã, que ele usava em homenagem ao Fitti-Porsche, carro criado por Emerson Fittipaldi para a disputa de provas de longa duração no País. “Comecei a frequentar o autódromo no final dos anos 1960 e pude acompanhar vários monstros do automobilismo”, diz. “Eu moro na Ilha do Governador e, mesmo ficando a cerca de 50 km de Jacarepaguá, ia sempre para lá.” Fitti chegou a tentar a sorte como piloto. “Isso foi na década de 1980, mas a parte financeira cortou meu sonho”, lembra. “Então comecei a atuar como chefe de equipe de vários pilotos que disputavam campeonatos regionais.” Para Fitti, a descaracterização de Jacarepaguá tem na Olimpíada apenas uma justificativa superficial. “Após os Jogos Pan-Americanos de 2007, a área ficou cada vez mais abandonada e teve o fim que todos conhecemos”, diz. “Não sou contra a Olimpíada, mas acabar com a prática de um esporte que empregava cinco mil pessoas em detrimento de outro é absurdo.” Após a demolição de Jacarepaguá ser definida, acordos foram firmados entre a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) e a Prefeitura do Rio para que o circuito continuasse em operação até que um novo palco para as disputas fosse concluído. Todas as propostas, porém, não foram adiante. “A CBA adotou vários procedimentos jurídicos, como medidas cautelares e mandados de segurança, para evitar que Jacarepaguá fosse fechado antes que houvesse uma opção para a prática do automobilismo na cidade”, diz Felippe Zeraik, diretor jurídico da confederação. As tentativas foram infrutíferas. “O que houve foi que o terreno em Deodoro já foi cedido ao Ministério do Esporte e o projeto do circuito deve ser apresentado em breve”, afirma. Como parte do acordo para a demolição de Jacarepaguá, está prevista a construção de um circuito em Deodoro, na zona oeste carioca. O novo local, por vezes tratado como lenda pelos fãs do esporte a motor, deve começar a ser erguido na segunda metade de 2013.


memória

“Além do autódromo, o projeto prevê a construção de um kartódromo e um parque ambiental”, diz Zeraik. Um entrave é o fato de a área, utilizada como paiol pelo Exército brasileiro, ainda esconder explosivos. “Foram encontrados artefatos militares, mas as informações que tenho do Exército indicam que eles não possuem detonadores e só explodem se forem aquecidos”, diz Djalma Faria Neves, presidente da Federação Carioca de Automobilismo. O Parque Olímpico que está sendo erguido sobre os restos de Jacarepaguá custará R$ 1,3 bilhão. Depois dos Jogos, o objetivo é deixar como legado o Centro Olímpico de Treinamento, voltado a atletas de alto rendimento. O projeto prevê também a formação de um bairro residencial até 2030. De acordo com a Empresa Olímpica, a ideia é transformar a região em exemplo de sustentabilidade. É justamente esse novo bairro que recebeu mais críticas dos defensores do antigo autódromo. “O Parque Olímpico poderia ser construído em vários outros locais, só que a região do autódromo é supervalorizada”, diz Fitti. “Ter um condomínio lá depois da Olimpíada explica muita coisa.” O professor Jason Castro, dono de um blog que reúne documentos e reportagens sobre a polêmica de Jacarepaguá, também critica o futuro uso do local. “É um absurdo construir condomínios em uma área que era preservada justamente pela presença do autódromo”, afirma. “Lá não há coleta de esgoto e a canalização do Arroio Pavuna, uma promessa da época do Pan, nem sequer foi concluída.” Discussões à parte, uma coisa é certa: para os fãs do automobilismo, Jacarepaguá jamais será esquecido.

POPULAR Campeonato Brasileiro de Fórmula "V", na década de 70: o público acompanhava as corridas de perto


jacarepaguá vai Desaparecer para Dar lugar ao parque olímpico, onDe serão realizaDas as Disputas De 15 moDaliDaDes em 2016. entre elas,basquete, juDô, tênis e ginástica artística PASSADO E FUTURO No alto, campeonato brasileiro de turismo, em 1978. No centro, Ayrton Senna e Nelson Piquet duelam no GP Brasil de 1988. Abaixo, ilustração do Parque Olímpico que será construído no lugar de Jacarepaguá. A ideia agora é fazer um novo autódromo em Deodoro

Foto: Arquivo O Globo | Manoel Soares | Divulgação


Novos taleNtos

ElE s贸 quEr sabEr


FOCO: André na garagem de casa, em Brusque: "Não vou a festas porque tenho que acordar cedo no dia seguinte. Eu escolho a bicicleta"

São SeiS e meia da manhã na pequena e bela Brusque, cidade de forte tradição alemã em Santa Catarina, a 100 quilômetros de Florianópolis. O sol mal surgiu por entre as árvores e André Gohr, 16 anos, já está acordado. Depois de um café da manhã reforçado, ele pega a bicicleta e ruma para as perigosas rodovias que cortam a região. Durante toda a manhã, André pedala até o corpo ficar dolorido, sempre acompanhado por outros cinco ou seis atletas. A rotina é a mesma de segunda a sábado, debaixo de chuva ou de tempo bom. O esforço é recompensado por resultados. Não há pessoa ligada ao ciclismo brasileiro que não aponte o garoto como a principal promessa desse esporte para 2016. Mesmo sendo apenas um adolescente, ele ostenta o título de bicampeão brasileiro contra o relógio, prova em que o espor-

da

tista deve percorrer um determinado percurso no menor tempo possível. O jovem ainda venceu, em fevereiro, a quinta etapa da Volta da Juventude no Uruguai, também na competição cronometrada. “O André já é um dos ciclistas mais completos do Brasil”, diz Emerson Silva, técnico da seleção brasileira. “Somos sempre cautelosos com atletas dessa idade, pois é uma fase turbulenta da vida”, diz Silva. “Mas a disciplina e a dedicação dele são indicativos do que pode alcançar.” Depois de encerrar a dura jornada de treinos, André almoça e segue para a escola. Na volta, já de noite, ele revê as matérias do dia e ainda encontra tempo para mexer na bicicleta. Três vezes por semana, frequenta uma academia para fortalecer a musculatura tão exigida pelas pedaladas. Caseiro e introspecti-

magrEla

Nem baladas, Nem garotas, Nem vestibular. aos 16 aNos, o catariNeNse aNdré gohr, maior revelação do ciclismo NacioNal, só peNsa em uma coisa: defeNder o brasil Nos Jogos de 2016

por Danielle SancheS fotos freDeric jean/ag. iStoé


Novos taleNtos

vo, faz o tipo reservado. Viaja quando pode até o sítio do avô paterno no bairro Lageado, município de Guabiruba, a 15 quilômetros de sua casa. Nada de namoradas. Vida social, só com amigos próximos. “Dá trabalho conciliar tudo, mas é preciso ter foco e objetivo”, diz ele, com surpreendente seriedade para a pouca idade. “Não vou a festas porque tenho que acordar cedo no dia seguinte. Eu escolho a bicicleta”, diz, sem pestanejar. Pai e treinador, Eduardo Gohr – ele próprio ex-ciclista, engajado no fomento do esporte entre os jovens em Santa Catarina – confirma a dedicação do filho. “ O André é responsável e muito organizado”, afirma. “Por isso, é um rapaz muito fácil de treinar.” André é fã de esportes desde pequeno, quando acompanhava o pai em corridas, jogos de futebol e campeonatos de bike. “Aos 8 anos, ele vivia mexendo na minha bicicleta e dizia que ia ser ciclista”, lembra Eduardo. Cada vez mais interessado no ciclismo, aos 10 anos André ganhou do pai uma bicicleta profissional. Ficou fascinado e, partir desse dia, decidiu que seria um atleta de verdade. O investimento deu certo: dois anos depois, o jovem já fazia parte da escolinha de treinamento oficial da equipe Brucicle, dirigida até hoje por Eduardo. Ex-companheiro de equipe de Márcio May, que representou o Brasil em três Olimpíadas, o hoje técnico diz que sempre deixou o caminho livre para que o filho escolhesse sua verdadeira paixão. “Nunca quis forçar a barra para ele ser ciclista e seguir o meu caminho”, diz. “O André sempre pedalou porque tem amor pelo esporte e quer ser bem-sucedido nesse caminho.” Uma vez na pista, o perfil sereno de André muda completamente. “Na competição, ele é o cabeça, comanda o time e tem uma visão de prova muito completa”, diz o companheiro de equipe Áquila Roux, 17 anos, outra promessa

98 maio 2013 | istoé 2016

nacional. “Ele tem um perfil agressivo. Assim que percebe algum destaque entre os concorrentes, começa a trabalhar para não deixar a coisa crescer”, diz. Após dois anos de treinamento conjunto, Áquila se tornou amigo da família Gohr. Frequenta a casa do colega e, quando a intensa rotina permite, sai para se divertir com André. Outro integrante da equipe, Jean Carlos Baron, 17 anos, conhece um lado mais leve do jovem atleta. “Nós temos nossos momentos de brincadeira e descontração nos treinos”, diz. “Quando é para falar sério, não tem jeito. O André é muito focado e isso é um grande diferencial na carreira dele.” O técnico Eduardo mantém uma relação próxima com os pupilos, mas precisa se policiar em relação ao próprio filho – principalmente para evitar boatos maldosos. “Sou treinador da equipe inteira e, por isso, preciso manter o pai de fora”, diz. Para não misturar os papéis, ele tem o apoio da mulher, Vania, que acaba atuando como conselheira e confidente de André. Engajada no esporte, a família Gohr ainda tem mais uma integrante, Amanda, 15 anos, que joga vôlei e pretende seguir carreira profissional. Na vida pessoal, André enfrenta os desafios típicos da idade. Às voltas com o fantasma do vestibular, o jovem atleta é categórico: só tem olhos para a magrela. “Quero fazer faculdade, acho necessário e importante, mas não estou pensando nisso agora”, diz. O grande projeto para o futuro é seguir os passos de seu ídolo, o conterrâneo Murilo Fischer, que hoje vive e compete na Europa, onde conquistou diversos títulos. “O Brasil tem pouca tradição no ciclismo e sei que lá fora posso me destacar mais”, afirma André. Por ora, porém, ele continua treinando em Brusque. Mas não por muito tempo.

FUTURO: treino em uma rodovia nos arredores de Brusque. Sua meta é competir na Europa


PRECOCE: com o pai e treinador, Eduardo gohr. Primeira bicicleta profissional aos 10 anos

se em casa aNdré é um garoto sereNo, Nas competições se torNa outra pessoa. agressivo, Não é do tipo que se acostuma com derrota qu Em é a nd ré g o h r IdAdE: 16 anoS AlTURA: 1,87 m PESO: 66 kg PRINCIPAIS TíTUlOS: bicampeão braSileiro contra o relógio ONdE gOSTARIA dE mORAR: na europa lEITURA dE CABECEIRA: reviStaS Sobre cicliSmo ídOlOS: márcio may, murilo FiScher (cicliStaS braSileiroS) e Fabian cancellara (cicliSta Suíço)


infraestrutura OLHO DA RUA À direita,monitores que transmitem imagens, em tempo real, do Rio de Janeiro

Primeira Promessa Para os Jogos olímPicos a entrar em funcionamento, o centro de oPerações rio reúne, em um mesmo lugar, 30 órgãos por Flávia RibeiRo fotos eduaRdo zappia

Públicos que monitoram acidentes de trânsito, riscos de deslizamento e áreas suJeitas a inundações



infraestrutura

Quando a chuva castiga a cidade, o Centro de Operações Rio (COR) fervilha. Cerca de 50 funcionários de órgãos municipais, estaduais e de concessionárias de serviços públicos trabalham para minimizar o impacto do mau tempo na vida dos moradores. Primeiro equipamento prometido para os Jogos de 2016 a ficar pronto, o COR funciona a pleno vapor na Cidade Nova. Dividem o mesmo espaço representantes de mais de 20 órgãos públicos (entre eles, Guarda Municipal, Defesa Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, apenas para citar alguns exemplos), além de concessionárias de luz, transporte e controle de tráfego. Em nenhum outro lugar do mundo tantas instituições trabalham integradas na mesma central. “Como esses órgãos estão no mesmo local, ganhamos agilidade para resolver os problemas da cidade”, diz Pedro Junqueira, chefeexecutivo do Centro de Operações. “Está vendo ali? A perspectiva é de melhora do tempo”, afirma, referindo-se aos mapas que trazem informações meteorológicas do município. A ideia ganhou impulso depois do temporal que desabou sobre o Rio em abril de 2010 e que provocou a morte de 48 pessoas só na capital – no Estado, foram mais de 200. A partir desse episódio, o prefeito Eduardo Paes acelerou a criação do COR, que se tornou realidade graças a uma tecnologia desenvolvida pela IBM. “O objetivo é minimizar o transtorno na cidade e salvar vidas”, diz Junqueira, que assumiu o cargo em fevereiro passado. Já no mês seguinte, ele passou por uma verdadeira prova de fogo. Ou, como gosta de dizer, de água. Na noite do dia 5 de março, uma forte chuva fez com que o município do Rio entrasse em estado de alerta. A partir das 20h15, foram acionadas, de forma preventiva, as sirenes do sistema de alerta da prefeitura. Elas soaram em 24 comunidades, como Borel, Formiga, Andaraí, Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. O túnel Rebouças e os acessos à Praça da 102 maio 2013 | istoé 2016

Bandeira foram fechados em torno das 20h30. A CET-Rio mobilizou 350 agentes de tráfego durante a operação. Já a Guarda Municipal mandou 497 operadores para as ruas. Todo esse aparato foi colocado em campo graças ao COR. “A máquina foi com tudo, mas era preciso”, afirma Junqueira, sempre de olho nos 80 monitores que formam um supertelão e exibem, entre outras informações, o trânsito na cidade e os mapas com as condições meteorológicas. O telão é abastecido por imagens captadas por 670 câmeras da Prefeitura e 250 da Polícia Militar – eram apenas 92 quando o centro foi inaugurado, há dois anos. Ambulâncias, veículos de bombeiros, carros da Guarda Municipal e caminhões de lixo, dotados de GPS, aparecem nos mapas do COR e podem ser deslocados com mais agilidade. O monitoramento também inclui morros cariocas onde há risco de deslizamento de terra, como o dos Macacos, Borel e Formiga, todos na zona norte. Sempre que o índice pluviométrico atinge determinado nível, é emitido um alerta e toca-se uma sirene para que os moradores saiam das casas e se dirijam a pontos de apoio previamente combinados. Do Centro de Operações, é possível visualizar os pontos com residências de portadores de deficiência física, que precisam de ajuda para uma remoção mais rápida. “Há mais de 90 camadas de informação”, explica o chefe de tecnologia do COR, Alexandre Cardeman. Quem controla e abastece o sistema que monitora desabamentos é o Geo-Rio (Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro) . Os painéis sobre trânsito ficam sob responsabilidade da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). “Se acontece um incêndio, podemos indicar o caminho mais rápido para os bombeiros”, diz Cardeman. “Controlamos os sinais de trânsito para que estejam sempre abertos quando os carros de emergência passarem.” Quando os Jogos Olímpicos do Rio começarem, em 2016, essa estrutura já terá seis anos de uso no dia a dia da cidade. Terá sido testada em pelo menos oito grandes eventos, fora Carnaval e Ré-

veillon: Jogos Mundiais Militares (2011), três edições do Rock in Rio (2011/13/15), Rio+20 (2012), Jornada Mundial da Juventude (2013), Copa das Confederações (2013) e Copa do Mundo (2014). “Nós nos preparamos evento a evento”, diz Cardeman. “O grande barato é a maturidade que a gente vai ter.” Ele, que esteve na Olimpíada de Londres como observador convidado, diz que a capital britânica não realizou um trabalho tão eficiente. “Lá, o Centro de Operação é só da polícia, não existe esse conceito de integração”, afirma. “Só durante os Jogos eles trabalharam com outros órgãos, mas não é uma prática.” Para 2016, o objetivo é minimizar os problemas, que ainda são muitos. Recentemente, um acidente em que um caminhão atropelou e matou um ciclista na Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca

AgiLiDADe: Pedro Junqueira, chefe do Centro de Operações, e a sala de monitoramento: "O objetivo é salvar vidas"

– bairro que receberá os Jogos –, causou um engarrafamento de horas em toda a região. Tudo porque a perícia demorou para chegar, numa demonstração de que há a necessidade de interação maior entre os órgãos de trânsito e a Polícia Civil. Após esse acidente, foi criado um novo protocolo: agora, a retirada de veículos em caso de


_________________ O que é o Centro de Operações Rio _________________

670 250 80

câmeras próprias

câmeras da Polícia Militar

telões de 46 polegadas em alta definição

35.550 30 100

seguidores no Twitter

órgãos que atuam de forma integrada, entre secretarias municipais, estaduais e concessionárias

Mais de

medidores de chuva (pluviômetros) espalhados pela cidade

acidentes sem vítima é imediata, sem necessidade de se esperar a perícia. Durante a Rio+20, a Polícia Civil colocou uma equipe da perícia disponível exclusivamente para a conferência, o que deve se repetir nos próximos grandes eventos que a cidade sediará, culminando nos Jogos Olímpicos. “A cidade não pode parar, tem que continuar rodando simultaneamente com os Jogos”, afirma Pedro Junqueira. Apesar dos esforços, os engarrafamentos continuam a incomodar os cariocas, com ou sem chuva. Espera-se que, após as obras do metrô e a finalização dos três corredores para ônibus expressos (BRTs), previstos para entrar em operação antes de 2016, a situação melhore. Até lá, o site e o Twitter do Centro de Operações são cada vez mais acessados pelos moradores da cidade, em busca de informações sobre trânsito e chuva. Há, inclusive, um sistema inédito de previsão de meteorologia que antecipa a chegada de chuvas fortes, com o auxílio de um radar meteorológico instalado do Morro do Sumaré, na zona norte da cidade. Antes dos Jogos Olímpicos, será inaugurado o Centro de Operações da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, a cerca de 500 metros do COR. Em breve, haverá uma mesa de simulações no centro, em que os operadores terão de treinar soluções rápidas para diversas circunstâncias de crise, como inundações ou grandes acidentes de trânsito. Além disso, o Centro de Operações está mapeando a cidade, marcando áreas onde há mais colisões de carros e motos, enguiços de veículos e alagamentos. Já se sabe, por exemplo, que a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, a Linha Vermelha na altura do Aeroporto Tom Jobim e o Túnel Rebouças são os pontos com mais acidentes na cidade. Os órgãos responsáveis podem, então, mobilizar mais carros e agentes nas proximidades. “Você dá inteligência à cidade”, diz Caderman. E isso é fundamental para o sucesso de qualquer edição olímpica: uma cidade-sede que seja, de fato, inteligente.


performance 1 Wind Vane

Para quem: velejadores. O que faz: informa com exatidão a direção e a velocidade dos ventos. Possui um algoritmo que usa a localização (por meio de GPS) para fornecer as informações. Mas fique atento: para ter esses benefícios, é preciso baixar a versão “world wide” e ter bússola no celular. Quanto custa: US$ 5 para iPhone (modelos 3GS e acima), iPod Touch e iPad.

2 Oakley RePORt

Para quem: surfistas. O que faz: fornece tábua das marés, altura das ondas, direção e força dos ventos e até a previsão do tempo pelo período de uma semana. E melhor: tem menu em português. Quanto custa: de graça para iPhone, iPod Touch e iPad.

3 diVe lOg

Para quem: mergulhadores avançados. O que faz: cruza dados com o Google Maps, funcionando como um livro de registro (logbook) dos mergulhos. Também armazena estatísticas de cada descida. Quanto custa: US$ 11,99 para iPhone, iPod Touch e iPad.

A t l e t A d i g i t A l AplicAtivos pArA smArtphones e tAblets AjudAm ciclistAs, corredores e outros esportistAs A AlcAnçAr o melhor desempenho

4 tRailhead

Para quem: praticantes de trekking. O que faz: identifica a localização da pessoa para encontrar os caminhos mais próximos a rotas de bike, caminhadas e trilhas. Também localiza percursos feitos por outros usuários (são mais de 300 mil pelo mundo) e permite compartilhar, no site everytrail.com, fotos e informações pessoais. Quanto custa: de graça para iPhone e Android.

5 Best knOts

Para quem: praticantes de montanhismo. O que faz: perfeito para todos os níveis, o aplicativo explica em detalhes como fazer os mais variados nós. Na página inicial, é possível encontrar uma rápida ideia sobre cada tipo. Ao clicar em um dos 18 modelos, o app mostra um passo a passo animado. Quanto custa: US$ 0,99, só para Android.

6 stRaVa CyCling

104 maio 2013 | istoé 2016

Para quem: ciclistas. O que faz: mostra altitude, velocidade e as calorias gastas durante o percurso. Também é ótimo para medir distâncias, já que conta com sistema de mapas e perfis de elevação. É possível ranquear seu tempo e compará-lo com o de outras pessoas que realizaram o mesmo percurso. Quanto custa: US$ 5,99 na App Store. Gratuito para Android.


9 imaP my Ride

7 ZOmBies, Run!

Para quem: corredores. O que faz: traz o conceito dos games de ação para a prática de esporte. O app conta uma história para o corredor, que se torna um personagem perseguido por zumbis e precisa buscar itens como remédios e baterias para sobreviver. Quando o corredor diminui a velocidade, os zumbis se aproximam – e aí ele precisa acelerar para se proteger. Quanto custa: US$ 3,99 (iPhone), R$ 7,87 (Android) e R$ 3,99 (Windows Phone).

8 Running Playlist

Para quem: corredores. O que faz: sugere uma lista de músicas de acordo com o tempo ou o ritmo de corrida. É possível escolher músicas que sigam o seu bpm (batidas por minuto), sincronizando a frequência cardíaca com as batidas musicais. Quanto custa: US$ 2,99 para iPhone e iPod Touch.

Para quem: praticantes de caminhada, corrida e pedalada. O que faz: fabricado pelo Google Maps, o app fornece mapa do percurso, distância percorrida e velocidade média e consegue estimar o ritmo ideal para quem faz exercícios com a bike ou a pé. Quanto custa: gratuito para Android e iPhone.

10 sPORtRaCkeR

Para quem: praticantes de corrida, pedalada, trekking e patinação. O que faz: ideal para quem gosta de compartilhar fotos e vídeos em redes sociais, usa GPS para traçar o percurso. Também permite gravar imagens em movimento e tirar fotografias pelo caminho. Quanto custa: gratuito para Android e iPhone.

11 siX PaCk aPP

Para quem: malhadores. O que faz: ensina a posição correta de exercícios – em aparelhos de academia ou não – com fotos detalhadas. O programa também mostra os erros mais comuns na hora de fazer os movimentos e sugere como evitá-los. Quanto custa: US$ 0,99 para iPhone e iPod Touch.

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Fotos: Divulgação

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concentração

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HomenAgeAdos. ou não. estátuAs de esportistAs virAm motivo de piAdA e constrAngem AtletAs do mundo inteiro “eu PRefiRO Que me PeRguntem POR Que nãO tenhO uma estátua do que por que tenho uma.” A frase é de Marcus Porcius Cato, político da Roma Antiga conhecido por sua oposição ao imperador Júlio César. Séculos depois, a citação parece debochar de algumas estátuas de ídolos do esporte que, na contramão da homenagem que deveriam prestar, criam enorme constrangimento. Confira esses estranhos tributos a grandes atletas mundo afora.

Fotos: Kenzo Tribouillard/AFP | Xinhua/Ren Long | Bildagentur RM | Timothy Hiatt/Getty | Ronald Martinez/Getty


1 Zidane e a “Ode À deRROta” Decisão da Copa do Mundo de 2006. Itália e França faziam um jogo tenso quando, aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação, Zinedine Zidane acerta uma cabeçada no peito do italiano Marco Materazzi. Expulso, o capitão deu adeus ao futebol ainda no vestiário e viu sua seleção ficar com o vice-campeonato nos pênaltis. O momento nada glorioso foi escolhido para ser imortalizado pelo artista argelino Adel Abdessemed na entrada do Museu de Arte Moderna do Centre Pompidou, em Paris. Com cinco metros, a estátua de bronze foi chamada por Alain Michaud, um dos organizadores do museu, de “uma ode à derrota”. 2 PaReCe um hOBBit, mas É maRadOna Diego Maradona tem uma estátua construída em sua honra na cidade de Nápoles, na Itália. Jogador do Napoli no final da década de 1980, Maradona foi homenageado com essa escultura feita por um artista local. Parecida com um hobbit – o mítico personagem baixinho de John Ronald Reuel Tolkien –, a estátua faz jus ao tamanho real do ex-jogador: Dieguito tem 1,65 m de altura. 3 muRRay sOBRe sua estátua:

“Oh, meu deus!”

Essa é a única frase possível para descrever o olhar de descrença de Andy Murray ao ver sua estátua como um guerreiro chinês de terracota durante o torneio Masters 1000, em Xangai, em 2011. O campeão olímpico precisou de muito jogo de cintura para disfarçar a impressão deixada pelo resultado final. Político, o escocês agradeceu pelo presente, que foi exposto ao lado de outras peças feitas para os jogadores do campeonato. 4 QuandO a fÍsiCa nãO

enCOntRa a aRte

A ideia parecia boa. Só isso. Para relembrar os momentos de ouro do beisebol americano, a Comissão para Artes e Humanidades de Washington D.C. pediu que o escultor Omri Amrany esculpisse peças dos melhores momentos de jogadores como Walter Johnson, Josh Gibson e Frank Howard. Expostas em 2010, na casa do time Washington Nationals, as estátuas causaram estranheza pelo fato de mostrarem uma espécie de câmara lenta dos movimentos das jogadas.

6 CRistianO ROnaldO,

O ZumBi dO futuRO

Um dos jogadores mais caros e celebrados do mundo, Cristiano Ronaldo não escapou ileso das homenagens. Desta vez, a mandante da obra foi a Nike, uma de suas patrocinadoras. Erguida em Madri, a estátua do jogador do Real tem 10 metros de altura e é “colorida” em prata. O golpe de marketing, porém, não saiu como o esperado: a peça foi mais comentada por seu estilo “zumbi-futurista” – reparem nos olhos quase robóticos – do que propriamente pela beleza. 7 O desPudOR de PaaVO nuRmi Paavo Nurmi é considerado o maior corredor de todos os tempos. Com nove medalhas de ouro, ele cravou nada menos que 22 recordes olímpicos e ficou conhecido como “o finlandês voador” na década de 1920. Nada mais justo, portanto, do que ter sua imagem eternizada em bronze. O resultado foi essa obra despudorada exposta ao lado do Estádio Olímpico de Helsinque. Mais inacreditável ainda é saber que existem quatro peças como essa espalhadas pela Finlândia. 8 O esPÍRitO de JORdan RessuRge Inaugurada em 1994, a estátua de Michael Jordan no United Center, sede do Chigaco Bulls, ficou conhecida como “The Spirit” (O Espírito). Estrela do time na década de 1990, Jordan foi representado em 3,7 metros de bronze, enquanto concluía um de seus incríveis saltos rumo à cesta. O problema é a misteriosa figura disforme que tenta impedir seu caminho. Qualquer semelhança com algum dos monstros marinhos da série de filmes “Piratas do Caribe” é mera coincidência. 9 magiC JOhnsOn sem a mágiCa Um dos jogadores mais queridos dos Estados Unidos, o armador Earvin “Magic” Johnson também sofreu com os equívocos das estátuas. Em 2004, ele inaugurou no Staples Center, em Los Angeles, uma peça que o mostrava em pleno drible com a mão direita enquanto direcionava a jogada com a esquerda – um movimento que marcou sua carreira. O problema é que, para leigos, ele mais parece um aprendiz de Super-Homem vestido em um uniforme dos Lakers. Nada honroso.

5 BeCkham de tÚniCa PReta O ex-goleiro alemão Oliver Kahn nunca foi símbolo de beleza. Bem diferente do inglês David Beckham, para muitos o criador do conceito de “jogador superstar”. Aos olhos do Irã, no entanto, os dois podem ter muito em comum. Essas estátuas, desde 2011 expostas por algum motivo no Centro Cultural Niavaran, em Teerã, parecem ter saído diretamente de um cenário de "Star Wars" e mostram Kahn com seu costumeiro semblante fechado e Beckham de cabelos longos e com uma túnica preta.

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>ESGRIMA

CONquISTA HISTÓRICA

A esgrimista Gabriela Cecchini conquistou um feito histórico. Com apenas 15 anos, a atleta é a segunda brasileira a subir no pódio em Mundiais, ao ganhar o bronze no florete feminino individual. A competição aconteceu em abril, em Porec, na Croácia. Antes de Gabriela, apenas Élora Ugo Pattaro havia conseguido a façanha, no sabre feminino, no Mundial de 2003. Gabriela Cecchini é a atual campeã Pan-Americana Cadete de 2013. A esgrimista treina no Grêmio Náutico União de Porto Alegre, onde iniciou no florete aos 8 anos de idade.

Foto: André Antunes/ Divulgação


>ATLETISMO

BICAMPEÃO DA MARCHA ATLÉTICA

O brasiliense Caio Bonfim venceu a prova dos 20 km da Copa Brasil/Caixa de Marcha 2013, disputada na cidade de Barueri, na Grande São Paulo, em abril. O atleta, bicampeão da distância, completou o percurso em 1h25min42s e garantiu vaga na Copa PanAmericana na Cidade da Guatemala. Para vencer a etapa, Bonfim precisou superar um problema muscular que o acompanhou desde o km 12 da prova. A medalha de prata ficou com Mário José dos Santos Júnior e o terceiro lugar foi para Daniel Alexandre Voigt.

>BADMINTON

NOVO TÉCNICO NA EQUIPE

A Confederação Brasileira de Badminton apresentou Marco Vasconcellos, ex-atleta de Portugal, como técnico da seleção nacional. Vasconcellos terá o desafio de preparar uma equipe competitiva para os Jogos Olímpicos de 2016. O novo chefe pretende montar dois times: um permanente, formado por adultos, e um de base,com atletas mais jovens. O primeiro objetivo é fazer o time brasileiro de badminton participar de, no mínimo, 15 competições internacionais.

>BASQUETE

HORTÊNCIA DEIXA A CBB

A ex-jogadora Hortência deixou a Confederação Brasileira de Basquete. A cestinha, que atuava como diretora de seleções femininas desde 2009, não aceitou a proposta da entidade para trocar de função. Hortência foi convidada para gerir as relações institucionais da confederação depois que o ex-jogador Vanderlei Mazzuchini, responsável pelas seleções masculinas, passou a ser diretor técnico, cuidando também da equipe feminina. Hortência disse que continuará atuando na área esportiva, mas descartou virar treinadora.

>BOXE

CRISE FEMININA

O clima não é nada amigável entre alguns dos principais nomes do boxe olímpico brasileiro. Adriana Araújo (bronze em Londres-2012), Roseli Feitosa (campeã mundial em 2010) e Érika Mattos, que também esteve na capital britânica no ano passado, foram cortadas da seleção às vésperas do início dos treinos para a disputa no Rio. As atletas dizem se tratar de uma retaliação do presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Mauro Silva, pelas críticas feitas após os Jogos de 2012. Já a confederação alega que os cortes ocorreram por causa de problemas disciplinares e técnicos. Uma coisa é certa: nessa luta, quem perde é o Brasil.

>CANOAGEM

>HALTEROFILISMO

O Comitê Olímpico Brasileiro contratou um dos mais vitoriosos treinadores de canoagem do mundo para reforçar a modalidade no Brasil. Com cinco medalhas olímpicas e dez mundiais no currículo, o espanhol Jesús Morlán é o mais novo comandante da seleção brasileira de canoa e canoagem de velocidade. O espanhol ficará à frente da preparação da equipe nacional para os Jogos do Rio. A contratação de Morlán faz parte do planejamento do COB em busca de uma medalha olímpica inédita, daqui a três anos.

O centro de treinamento de Viçosa, em Minas Gerais, recebeu um upgrade. O local, que pertence à Universidade Federal de Viçosa, investiu em novos equipamentos. Os itens são de primeira linha e idênticos aos utilizados na Olimpíada de Londres, em 2012: barras, anilhas, barras infantis, plataformas e cavaletes que possuem, na sua maioria, garantia vitalícia e vão ajudar a aumentar a capacidade de atendimento do centro, que é referência no País. Cerca de 50 atletas vão desfrutar da nova estrutura.

ESPANHOL NO COMANDO

>CICLISMO

SUCESSO NO PAN DE MOUNTAIN BIKE

A seleção brasileira de mountain bike encerrou sua participação no Campeonato Pan-Americano da categoria, disputado em Tucumán, na Argentina, com excelentes resultados. Entre os destaques da competição esteve a atleta Raiza Goulão, da sub-23, que conquistou o bicampeonato pan-americano de XCO. O Brasil também trouxe uma medalha de bronze de Henrique Avancini na disputadíssima prova da elite masculina. O atleta chegou a liderar a competição durante vários momentos, mas, após a quinta e penúltima volta, o colombiano Fabio Castañeda abriu vantagem e conquistou o ouro. A prata ficou com o argentino Raphael Gagne.

>FUTEBOL

FOCO NA OLIMPÍADA

O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, surpreendeu ao convocar jogadores mais jovens para o amistoso contra a Bolívia, em abril. Entre os nomes estavam Dória (Botafogo), Leandro (Palmeiras) e Matheus Vidotto (quarto goleiro do Corinthians). Passado o jogo, vencido pelo Brasil por 4 a 0, Felipão esclareceu as convocações. O técnico da seleção explicou que levou os garotos para a seleção principal como forma de preparação. Segundo Felipão, a Olimpíada de 2016 é uma das preocupações da Confederação Brasileira de Futebol.

MAIS PESO PARA VIÇOSA

>HANDEBOL

NOVAS APOSTAS

A seleção feminina de handebol iniciou recentemente um treinamento especial com 20 atletas que atuam em clubes brasileiros. Desse grupo, apenas cinco já jogaram pela seleção adulta. O trabalho faz parte do planejamento do ciclo olímpico, que inclui a observação de jovens jogadoras para os próximos anos. As convocadas dessa nova geração que já tiveram a oportunidade de vestir a camisa da seleção são Deborah Nunes, Franciele Rocha, Nadyne Keller, Tamires de Araújo e Jéssica Quintino. As quatro primeiras atuaram pela seleção durante o Sul-Americano em março, na Argentina,enquanto Jéssica esteve nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012.

>HIPISMO

TESTE NO CENTRO DE DEODORO

O Centro Nacional de Hipismo, no Rio de Janeiro, se prepara para um importante teste para a Olimpíada de 2016, em outubro. O local, que fica no Complexo Esportivo de Deodoro, será palco do Athina Onassis Horse Show (AOHS), um dos mais importantes eventos hípicos do País e um dos poucos que atraem atletas estrangeiros. Em visita às instalações do centro, Doda Miranda, o cavaleiro dono de duas medalhas olímpicas e marido da bilionária Athina Onassis, disse que a competição servirá como “teste de fogo” para a estrutura do local.

>GINÁSTICA

PATROCÍNIO ESTATAL

Os atletas olímpicos da ginástica que foram demitidos do Flamengo no primeiro trimestre de 2013 terão patrocínio da empresa estatal de energia Eletrobrás-Furnas. O apoio publicitário prevê o direito de uso da imagem, durante dez meses, do técnico Renato Araújo e dos atletas Danielle Hypólito, Petrix Barbosa, Sérgio Sasaki, Jade Barbosa e Caio Campos. O valor varia entre R$ 70.000 e R$ 80.000 por mês. 109 MAIO 2013 | ISTOÉ 2016


painel

Todos os esportes olímpicos

>HÓQUEI SOBRE A GRAMA PROVAS NO BRASIL E NO EXTERIOR

Depois de seu início ser adiado pela necessidade de manutenção do campo de hóquei do Complexo Esportivo de Deodoro, no Rio de Janeiro, o Campeonato Brasileiro de Hóquei sobre a Grama 2013 teve, enfim, a tabela divulgada. A competição, que começou com clássico carioca já na primeira rodada, no dia 27 de abril, terá jogos até 20 de outubro. Entre as competições no Exterior, destaque para a terceira rodada do Campeonato Mundial masculino, na Alemanha, em junho, e para a Copa do Mundo Júnior, em novembro, na Índia.

>JUDÔ

INOVAÇÃO NA BAHIA

A cidade de Lauro de Freitas, na Bahia, vai ganhar o maior e mais moderno centro de treinamento de judô da América Latina. O Centro Pan-Americano de Judô será um complexo com área construída de mais de oito mil metros quadrados, cedida pela prefeitura da cidade. O local, que já teve o edital de licitação para a construção lançado, terá ainda um ginásio com capacidade para duas mil pessoas e um centro de preparação para atletas com piscina, pista sintética de corrida e quadra poliesportiva. O CPJ também poderá receber competições.

>LUTAS

MEDALHAS NO PAN SÊNIOR

Duas medalhas de prata e três de bronze. Esse foi o saldo da participação da equipe brasileira no Campeonato Pan-Americano Sênior de Luta Olímpica, realizado no Panamá. O desempenho positivo veio em uma das edições mais fortes do campeonato e superou a marca de 2012, quando o Brasil voltou para casa com três bronzes. As primeiras medalhas – uma de bronze e uma de prata – vieram logo no primeiro dia de competição, com Antonio Henriques (120 kg) e Diego Romanelli (60 kg). As outras três conquistas vieram do time feminino: prata para Joice Silva (59 kg) e bronzes para Laís Nunes (63 kg) e Gilda Oliveira (67 kg).

>REMO

SuCESSO BRASILEIRO NO CHILE

>NADO SINCRONIZADO

LIÇõES DO CIRquE Du SOLEIL

Técnicos e atletas da seleção brasileira de nado sincronizado participaram de uma clínica internacional com o francês Stephan Miermont, coreógrafo do Cirque du Soleil e de seleções de nado sincronizado. O evento faz parte da preparação das atletas para as próximas competições. Miermont foi técnico da equipe principal dos Estados Unidos em 2008. Nos últimos Jogos Olímpicos, em Londres, ele montou o programa de nove das 12 seleções finalistas, entre as quais a vice-campeã China. As outras equipes que tiveram sua contribuição foram Itália, Grã-Bretanha, EUA, Grécia, Coreia do Sul, República Tcheca, Japão e França.

>NATAÇÃO

A fORÇA DA NOVA gERAÇÃO

A equipe da natação brasileira comemorou bons resultados na Liga Europeia de Natação que ocorreu em Poznan, na Polônia,e em Kiev, na Ucrânia. Representado por uma nova geração de talentos, o Brasil conquistou um total de 36 medalhas (19 na Polônia e 17 na Ucrânia), além do título geral em Poznan. Entre os destaques da equipe brasileira está Brandon Almeida, que teve o melhor índice técnico na prova dos 400 m livre.

>POLO AQUÁTICO

OuRO fEMININO E MASCuLINO

As equipes masculina e feminina de polo aquático do Brasil conquistaram medalhas de ouro no campeonato Sul-Americano Juvenil do Chile. Os títulos de ambas as equipes vieram em cima das seleções da Venezuela e marcam a boa fase dos jovens atletas nacionais. Além do ouro, o Brasil ficou com os prêmios de melhores esportistas da competição. Gustavo “Grummy” Guimarães e Izabella Chiappini foram eleitos os destaques do Sul-Americano e faturaram o prêmio “Señores de Sipan”.

O GPA, Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre, ganhou o heptacampeonato máster de remo em Concepción, no Chile, em março. A competição, que teve como pista central de provas a Laguna Chica Llacolén, reuniu um total de 56 equipes de Brasil, Argentina, Peru, Uruguai, Paraguai e Chile. Das 67 séries disputadas por 45 atletas, o GPA conquistou 21 vitórias. Ao somar 17 triunfos,o Corinthians ficou com o segundo lugar, cinco a mais que o terceiro colocado, o Grêmio Náutico União.

>RÚGBI

CASA CHEIA

Mais de cinco mil pessoas foram ao estádio Martins Pereira, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, assistir à seleção masculina de rúgbi derrotar o México por 50 a 14, em abril. O amistoso foi o primeiro do Desafio Heineken, série de partidas preparatórias para o Campeonato SulAmericano da primeira divisão, o chamado Consur A. O torneio, considerado o mais importante da modalidade no continente, será disputado em maio nas cidades de Temuco (Chile) e Montevidéu (Uruguai). A disputa também servirá como eliminatória sul-americana para a Copa do Mundo de Rúgbi de 2015, na Inglaterra.

>SALTOS ORNAMENTAIS ÍNDICES INTERNACIONAIS

O Troféu Brasil de Saltos Ornamentais, realizado em abril, terminou com o título da Associação Peneira Olímpica (Apoe/RJ) e com cinco atletas com índice para os Grand Prixs internacionais. A Apoe totalizou 208 pontos, bem à frente do segundo colocado, o Pinheiros, de São Paulo, com 167. Além de Hugo Parisi na plataforma, César Castro no trampolim de três metros e das gêmeas Natali e Nicoli Cruz na plataforma sincronizada, o último dia do campeonato marcou a entrada do experiente Cassius Duran no grupo de classificados, com o título na plataforma individual. Foto: divulgação


>PENTATLO MODERNO AJUDA DA CIêNCIA

O Comitê Olímpico Brasileiro realizou uma avaliação cinemática dos movimentos de três atletas brasileiras de pentatlo moderno feminino, entre elas a medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, Yane Marques. Além de Yane, Larissa Lellys e Priscila de Oliveira foram analisadas pelo departamento de ciências do esporte do COB na piscina da Escola Naval, no Rio de Janeiro. O objetivo da avaliação, que contou ainda com exames bioquímicos, foi identificar características pessoais e elaborar um plano de treinamento específico para cada atleta.


painel

Todos os esportes olímpicos

>TRIATLO

>TêNIS DE MESA

Com uma etapa disputada, a Copa Brasil de Triatlon Sprint tem a Bahia na liderança do quadro de medalhas, com seis de ouro, nove de prata e nove de bronze. São Paulo, com cinco ouros, e Santa Catarina, com quatro, vêm a seguir. Dezesseis Estados ganharam medalhas na primeira etapa, disputada em abril na praia de Atalaia, em Aracaju (SE). A próxima etapa da Copa Brasil será no dia 16 de junho, em Belém (PA). A competição terá um total de seis etapas e passará ainda por Cuiabá (MT), Vila Velha (ES), Manaus (AM) e Brotas (SP).

A mesa-tenista brasileira Caroline Kumahara, de apenas 17 anos, conseguiu uma marca inédita ao avançar 24 posições no ranking mundial e se tornar a número 152 do esporte. Sim, está distante do topo, mas essa classificação nunca tinha sido conquistada por nenhuma atleta da América Latina. Caroline deu o salto no ranking ao conquistar o título latino-americano em El Salvador e derrotar, na Copa do Mundo por equipes, a número 9 do ranking. Entre os homens, Cazuo Matsumoto também avançou e está atualmente na 45ª posição.

BAHIA LIDERA O RANKINg

MARCA HISTÓRICA

>TIRO COM ARCO

>TêNIS

A Confederação Brasileira de Tiro com Arco está satisfeita com a escolha da cidade de Maricá (RJ) para ser a base do treinamento com vistas aos Jogos Olímpicos de 2016. A entidade tem, desde 2009, um convênio com a prefeitura local para a formação de novos atletas. Já há o que comemorar. A arqueira Ane Marcele Gomes dos Santos – uma das estrelas da modalidade – tem no currículo cinco medalhas de ouro para o Brasil em competições internacionais.

O Projeto Olímpico Rio Tênis 2016, que previa investimento para a formação de novos esportistas da modalidade, foi descontinuado pelo Ministério do Esporte depois de apenas um ano. O motivo é o de sempre: supostas irregularidades na prestação de contas. A iniciativa, feita em conjunto entre o ministério e a Confederação Brasileira de Tênis, previa a utilização da academia do treinador Larri Passos, em Santa Catarina, como centro de treinamento e excelência. O tenista Gustavo Kuerten, um dos idealizadores do projeto, disse estar decepcionado com o cancelamento e lamentou a inexistência de alternativas para a formação de novos tenistas.

OS RESuLTADOS DE MARICÁ

>TIRO

SÃO PAuLO LIDERA COM fOLgA

Um total de 112 atletas participou da terceira etapa do Campeonato Brasileiro de Tiro Olímpico, nas categorias Fossa Olímpica, Fossa Double e Skeet. São Paulo ganhou a disputa com folga, somando 20 pontos, contra 12 do Ceará, o segundo colocado. A Federação Paulista foi vencedora em seis categorias, mas atletas do Rio Grande do Sul, Paraná, de Santa Catarina, Minas Gerais e do Ceará também brilharam. A competição nacional termina somente no dia 6 de outubro, em Americana (SP), com a realização da 9ª etapa.

>TAE KWON DO AgENDA CHEIA

O mês de junho será repleto de atividades para o tae kwon do. A confederação brasileira realiza, no Rio, o principal exame de faixa de 2013. O objetivo é confirmar a promoção de novos faixas-pretas no esporte e acelerar o processo de desenvolvimento de atletas para os Jogos do Rio. Também em junho, entre os dias 1º e 4, acontece no Rio o curso de formação de mestres e instrutores.

fIM DE PROJETO DECEPCIONA gugA

>VÔLEI

AO LADO DA TORCIDA

A seleção brasileira masculina realizará em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro três das cinco etapas da Liga Mundial 2013. Cada etapa terá dois jogos: 28 e 29 de junho contra a França (Ibirapuera), 5 e 6 de julho contra a Bulgária (Nilson Nelson) e 13 e 14 de julho contra os Estados Unidos (Maracanãzinho). O Brasil também jogará duas etapas fora de casa: dias 7 e 9 de junho contra a Polônia (Varsóvia) e dias 14 e 16 de junho contra a Argentina (Mar del Plata). Ainda não foi definido o local da fase final, marcada para 16 e 21 de julho.

Foto: Vladimir Pesnya/RIA


>VÔLEI DE PRAIA

APOIO CHINÊS A montadora chinesa de automóveis JAC Motors, que está construindo uma fábrica na Bahia, é a nova patrocinadora do vôlei de praia brasileiro. A fabricante se aliou ao Banco do Brasil e vai dar carros às duplas vencedoras do Circuito Nacional de Vôlei de Praia, além de fornecer material promocional às arenas onde serão disputados os jogos. Presidida no Brasil por Sergio Habib, responsável por trazer a marca francesa Citroën ao País na década de 1990, a JAC também patrocina o rúgbi nacional.

>VELA

VITÓRIA COM NOVAS REGRAS As brasileiras Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan foram campeãs da etapa da Espanha da Copa do Mundo de Vela, na classe 470, em abril. O evento, que demonstrou a força das meninas na preparação para a Olimpíada, também serviu como teste para as novas regras do esporte. No novo formato, a competição é dividida em três fases. A primeira terá seis regatas e a segunda, apenas cinco. Já a terceira e última contará com os dez times mais bem colocados que vão disputar duas regatas. Ainda não está certo se essas mudanças serão aplicadas nos próximos Jogos Olímpicos.

EM CASA A seleção masculina de vôlei vai disputar jogos da Liga em São Paulo, Brasília e no Rio

113 MAIO 2013 | ISTOÉ 2016 Foto: Hector Vivas/Getty


PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história

VERA LYNN TEXTO

OLIVER QUINTO

KATARINA WITT NASCE EM BERLIM ORIENTAL EM 3 DE DEZEMBRO DE 1965. AOS 5 ANOS, GANHA DOS SEUS PAIS SEU PRIMEIRO PAR DE PATINS E, AOS 11, COMEÇA A PARTICIPAR DE COMPETIÇÕES INTERNACIONAIS.

ARTE

Nascida na Berlim Oriental, Katarina Witt ganhou dois ouros olímpicos no auge da Guerra Fria e até hoje ninguém sabe se ela foi ou não informante da polícia secreta alemã

EM 1980, NO AUGE DA GUERRA FRIA, VENCE UMA PROVA NOS ESTADOS UNIDOS AO FAZER UMA APRESENTAÇÃO COM MÚSICAS DE MICHAEL JACKSON AO FUNDO. É CRITICADA PELOS DOIS LADOS: OS ALEMÃES ORIENTAIS DIZEM QUE DANÇAR AO SOM DE UM ÍDOLO POP É TRAIÇÃO. PARA OS AMERICANOS, TRATASE DE PROVOCAÇÃO.

ELA RECUSA A OFERTA – E GANHA O OURO EM SARAJEVO.

ELEITA UMA DAS DEZ MAIORES ATLETAS DE TODOS OS TEMPOS, PARTICIPA, EM 1989, DO FILME SOBRE PATINAÇÃO “CARMEN ON ICE”E CONQUISTA O EMMY DE MELHOR ATRIZ.

ANTES DE DISPUTAR OS JOGOS OLÍMPICOS DE INVERNO DE SARAJEVO, EM 1984, RECEBE UMA PROPOSTA INDECOROSA: OS DIRIGENTES DA STASI* OFERECEM 3 MILHÕES DE DÓLARES PARA KATARINA TRABALHAR COMO ESPIÃ EM SUAS VIAGENS INTERNACIONAIS.

EM 1988, REPETE O FEITO E SE TORNA BICAMPEÃ OLÍMPICA DE INVERNO NOS JOGOS DE CALGARY. GANHA DA IMPRENSA INTERNACIONAL O APELIDO DE MUSA SOCIALISTA.

JÁ APOSENTADA DOS RINGUES DE PATINAÇÃO, POSA NUA PARA A PLAYBOY AMERICANA, EM 1988. A REVISTA TIME A CHAMA DE A MAIS BELA FACE DA HISTÓRIA DO SOCIALISMO.

EM 2005, DOCUMENTOS DA STASI DIVULGADOS PELA PRIMEIRA VEZ INSINUAM QUE KATARINA TRABALHOU, SIM, COMO ESPIÃ. ELA NEGA:

JAMAIS FUI INFORMANTE DA POLÍCIA!

*Polícia secreta alemã



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