Revista 2016 / Março

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EXPEDIENTE EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO CACO ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO LUIZ FERNANDO SÁ DIRETOR DE REDAÇÃO AMAURI SEGALLA EDITOR LUCAS BESSEL EDITOR DE ARTE PEDRO MATALLO EDITOR-EXECUTIVO DE FOTOGRAFIA CESAR ITIBERÊ EDITOR DE FOTOGRAFIA JUCA RODRIGUES COLABORADORES

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TEXTO: BRUNA NARCIZO, DANIELLE SANCHES, DENIS MACIEL, JULIANNA GRANJEIA, MARCEL GUGONI, MARCO ZANNI, NATALIE GEDRA, RAPHAEL SIMÕES, RODRIGO CARDOSO, RODRIGO LIMA, SIMONE ALEIXO, TOM CARDOSO, VANESSA SULINA, VERA LYNN; FOTOS: CHRISTIAN GAUL, JONNE RORIZ, ROBERTO CASTRO, TONI PIRES; ILUSTRAÇÃO: DANIEL VINCENT, OLIVER QUINTO; PRODUÇÃO: CINTIA SANCHEZ; MAQUIAGEM: JULIANA FRAGA REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan

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6 MARÇO 2013 | ISTOÉ 2016


André não tem onde treinAr André é um moleque de 12 anos que tem um sonho: ser corredor de 100 metros rasos. Ele viu Usain Bolt nos Jogos de Londres e, desde então, encasquetou com a ideia. Esguio, André parece ter mesmo jeito para o esporte, mas isso não vem ao caso. O que interessa é que o garoto, morador de um bairro pobre de Cotia, na Grande São Paulo, logo vai descobrir que a chance de ser atleta é pequena. Quase nula. André não gosta de futebol. Só de correr. A mãe de André tem procurado um clube, uma associação, um projeto social, seja lá o que for, para o menino tentar realizar o seu sonho. Perto da casa de André não existe centro de treinamento de atletismo. A mãe de André é empregada doméstica. Não tem carro, tempo nem dinheiro. Simplesmente não dá para largar o serviço e levar o filho até São Paulo, onde há lugares para treinar. André talvez logo deixe de lado o desejo puro, nobre e infantil de ser igual a Bolt. O Brasil vai sediar uma Olimpíada e, mesmo assim, continua dando as costas para jovens como André. Quantos talentos o País não tem perdido simplesmente porque não oferece os meios para que sonhadores como ele cristalizem sua vocação? No esporte, e provavelmente em muitas outras áreas, o Brasil é o país do desperdício. Desperdício de sonhos, acima de tudo. André tem um primo que está preso por assalto à mão armada. Se o esporte tivesse batido à porta do tal primo, ele teria se tornado um criminoso? Impossível dizer com certeza, mas talvez não.

No Twitter: twitter.com/istoe2016 No Facebook: www.facebook.com/ISTOE2016

Em cidades como Salvador e Recife, projetos que liberam o acesso, para toda a comunidade, a quadras esportivas de escolas ajudaram a reduzir os índices de violência. Algo semelhante foi feito com sucesso em bairros da periferia de São Paulo. No Rio, que respira a atmosfera olímpica 24 horas por dia, algumas favelas passaram, de uns tempos para cá, a contar com cursos gratuitos de judô e ginástica – e o efeito prático disso foi a queda da criminalidade. Daí se conclui o seguinte: o esporte pode ajudar o Brasil a ser um país melhor. E levar moleques como André a encontrar um rumo para suas vidas. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br

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ChRiStiAn GAuL

Um dos fotógrafos mais conceituados do Brasil – já trabalhou com Rodrigo Santoro, Mariana Ximenes e Matheus Nachtergaele, entre outros –, Gaul tinha a missão de retratar o tenista Roger Federer para a capa da 2016. Foi proibido pelo agente do jogador. Mas isso não significou o fim de sua participação em nossas páginas. É ele quem assina o incrível ensaio dos atletas da luta olímpica, feito nas praias do Rio de Janeiro, a cidade dos Jogos de 2016.

DAniEL VinCEnt MARCEL GuGOni

nAtALiE GEDRA

Vencedora do troféu Revelação da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo de 2010, Natalie é dona de uma sólida carreira no jornalismo esportivo, apesar de ter apenas 27 anos. Com passagens pelo jornal "Lance!" e pelas rádios Globo e CBN, a hoje repórter da TV Bandeirantes conhece como poucos os bastidores do esporte. Para esta edição da 2016, foi responsável por contar a história dos médicos que cuidam de grandes atletas do País.

A versatilidade é a marca deste jornalista paulistano formado pela Faculdade Cásper Líbero. Marcel já colaborou com a "Folha de S.Paulo", o "Estado de S. Paulo" e o Portal R7 e passou pelas editorias de Cidades, Internacional, Esportes e Economia. É dono do blog Chega de Dívida, em que dá dicas de finanças pessoais. Nesta edição da 2016, escreveu sobre a represa Guarapiranga, lar dos principais velejadores de São Paulo e berço de alguns de nossos maiores campeões.

RODRiGO CARDOSO

Paulistano, Rodrigo Cardoso é jornalista formado pela Universidade São Judas Tadeu. Repórter da revista ISToÉ, passou ainda pelas redações de "Gente", "Veja" e "Marie Claire". Colabora com 2016 desde a sua primeira edição. Especialista em arrancar declarações venenosas de seus entrevistados, Rodrigo é o autor do perfil do nadador Bruno Fratus

COLABORADORES

Dar uma cara diferente a uma reportagem sobre profissionais da saúde é um desafio para qualquer revista, inclusive para a 2016. Por isso, quando nos perguntamos o que fazer para inovar na história sobre os médicos dos atletas, o nome Daniel Vincent foi a resposta. o ilustrador e designer gráfico, que tem formação em publicidade, usou curvas e cores para criar um cenário alternativo ao branco e prata dos consultórios. Assim, fugiu do óbvio, meta constante desse criador de espírito inquieto.

ROBERtO CAStRO

Castro é um dos fotógrafos mais requisitados do País. E não é por acaso. Esse profissional de Brasília transita pelos mais variados assuntos, de política a economia. A área de esportes também faz parte de seu cardápio profissional. São dele os registros precisos e sensíveis dos jovens que disputaram as olimpíadas Escolares em Cuiabá (MT), onde enfrentou sol e chuva para captar imagens únicas.

JOnnE RORiz

Esporte é a especialidade de Jonne Roriz, fotógrafo natural de Salvador, formado pelo International Center of Photography (ICP), de Nova York. A experiência em campeonatos mundiais de natação e olimpíadas fez dele o artista ideal para captar as imagens da reportagem sobre o nadador Bruno Fratus. Embaixo d’água, Roriz, que é editor de fotografia do grupo Estado, consegue fazer com que seus personagens atuem de maneira tão natural que, às vezes, é difícil de acreditar que não estejam respirando.


v SEçÕES 6 ExpEdiEntE 7 Editorial 10 ColaboradorEs

16

Clique OlímpiCO A ginasta mais velha do mundo e uma disputa da esgrima na Olimpíada que faturou o prêmio World Press Photo

20

AqueCimentO O craque do futsal Falcão reclama da ausência do esporte nos Jogos Olímpicos e dispara: “Parece que existe medo de que faça sucesso”

26

RAiO X A bicicleta mais rápida da Olimpíada é francesa, mas quebrou recordes nas mãos e nos pés dos britânicos. Saiba como ela é feita e por que virou objeto de polêmica

28

entRevistA: jAguAR Aos 80 anos, o cartunista e maior dos boêmios cariocas abandonou o álcool, mas manteve a língua afiada: “Vou fugir da Copa e da Olimpíada”

106 peRfORmAnCe

Gadgets para nadadores, corredores, ciclistas e praticantes de esportes radicais podem ser a diferença entre resultado pífio e desempenho de primeira

108 COnCentRAçãO

Sucesso, escândalo e drama: as histórias dos maiores nomes do esporte mundial se transformam em livros que atraem leitores de todas as gerações

110 pAinel

Medalhistas nos Jogos de Londres, os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão vão lutar no boxe profissional

114 páginA dOuRAdA

O saltador brasileiro Nelson Prudêncio, que morreu em novembro do ano passado, protagonizou a disputa mais espetacular da história olímpica

REPORTAGENS

34 O SuíçO dO bEm

84

indústRiA AqueCidA Com investimentos milionários e programas de profissionalização, o Sesi, entidade ligada à Fiesp, vira um dos grandes formadores de estrelas olímpicas do País

42 Em buScA dO TOPO

90

BRilhO pRópRiO Dona de títulos brasileiros e sulamericanos, Adriana Luz herdou da mãe o talento para corridas de fundo, mas precisa superar o medo da derrota para vencer em 2016

52 mAR de pAulistA

94

liçãO de CAsA Como as Olimpíadas Escolares se tornaram fonte geradora de talentos para o esporte brasileiro e as histórias dos jovens que saem da sala de aula para as pistas de atletismo

60 Os glAdiAdORes

100 O engenhãO viROu um miCO

Entrevistamos com exclusividade Roger Federer, o maior tenista de todos os tempos, e descobrimos por que, afinal, ele é um cara tão gente fina Bruno Fratus é o mais talentoso nadador da nova geração e não tem medo de falar: “Me tira do sério quando um brasileiro diz que é vencedor só por estar na Olimpíada” A represa Guarapiranga é o maior centro formador de velejadores olímpicos do Brasil, apesar das águas poluídas e dos problemas ambientais que afetam o manancial A luta olímpica vai distribuir 50 medalhas nos Jogos do Rio. Conheça a dura rotina dos gigantes brasileiros que não desistem do sonho do pódio

66 impACtO sOCiAl

Ex-atletas como Ana Moser e Raí comandam ONGs que transformam as vidas de milhares de brasileiros, mas sofrem com a burocracia e a indiferença de empresas

72 tOdO-pOdeROsA

Quem é Maria Silvia Bastos Marques, presidente da empresa que tem a difícil missão de fazer sair do papel as obras para a Olimpíada de 2016

78 Os dOutORes entRAm em CAmpO,

nA quAdRA... Quem são os principais médicos de esporte do Brasil, como eles trabalham e por que são fundamentais para a construção de carreiras vitoriosas

Estádio que vai abrigar as provas de atletismo em 2016 é de difícil acesso, fica em uma área degradada e tem problemas de estrutura. Agora, ainda precisa arrumar espaço para o rúgbi


CliqueOlímpicO imAGENS SURpREENDENTES DO ESpORTE

aRMaS BRaNCaS

O esporte é individual. O rosto é coberto. O esgrimista fica confortável com a solidão. Na pista, a única pessoa que o acompanha é aquela que quer derrotá-lo. Essa dramaticidade foi captada pelo fotógrafo russo Sergei Ilnitsky, da agência European Pressphoto, nas oitavas de final da esgrima (florete individual masculino), na Olimpíada de Londres-2012. O egípcio Alaaeldin Abouelkassem salta para atingir o alemão Peter Joppich, em uma disputa que significaria continuar no torneio ou abandoná-lo. A imagem, em preto e branco, valeu a Ilnitsky o segundo lugar na categoria Esportes (histórias) da edição de 2013 do prêmio World Press Photo, o mais importante da fotografia mundial. Abouelkassem, que venceu o duelo, avançou à final olímpica. Derrotado, ficou com a prata. Joppich, eliminado no individual, ajudou a Alemanha a conquistar o bronze na disputa do florete por equipes.


Foto: Sergei Ilnitsky


CliqueOlímpicO

Velha é a Vó


Em 1934, a bomba atômica, o transplante de órgãos e a guitarra elétrica ainda não existiam. Mas, nesse mesmo ano, a alemã Johanna Quaas já participava das primeiras competições de ginástica artística. Como faz até hoje. Reconhecida pelo "Guinness Book" como a ginasta mais velha em atividade no mundo, Johanna, 87 anos, foi atração de um programa de tevê que escolheu as personalidades mais importantes na Alemanha. Cheia de força nos braços e com pernas de fazer inveja a muita garota, a vovó mostrou equilíbrio nas barras paralelas e até ajudou o ator Wotan Wilke Möhring a se exibir no aparelho. Fenômeno nos ginásios, ela também atingiu notoriedade no YouTube (que não existia em 1934): os vídeos de Johanna já têm mais de dez milhões de visualizações.

Foto: Dominik Bindl/Getty


“So u fruStra do po r nà o Ver o futSal na o lim pÍa da” ELEITO TRÊS VEZES O MELHOR JOGADOR DE FUTSAL DO MUNDO PELA FIFA, ALESSANDRO ROSA VIEIRA, MAIS CONHECIDO COMO FALCÃO, ESTÁ LONGE DE UM SONHO: VER A MODALIDADE QUE O PROJETOU, E QUE ESTÁ ENTRE AS TRÊS MAIS PRATICADAS NO PAÍS, FAZER PARTE DO PROGRAMA OLÍMPICO. “EU ME SINTO FRUSTRADO PELA FALTA DE BRIGA PARA ISSO ACONTECER”, DIZ. “PARECE EXISTIR O MEDO DE QUE O FUTSAL FAÇA MAIS SUCESSO QUE OUTROS ESPORTES.” NA ENTREVISTA A SEGUIR, FALCÃO FALA TAMBÉM SOBRE O DESAFIO DE JOGAR COM PARALISIA FACIAL, DO DINHEIRO GANHO COM O ESPORTE E DA CHANCE DE ATUAR NO JAPÃO. AOS 35 ANOS E DEPOIS DE AJUDAR A SELEÇÃO A GANHAR O HEPTACAMPEONATO MUNDIAL, NÃO ESCAPA DO TEMA MAIS DIFÍCIL PARA UM ATLETA ESPETACULAR COMO ELE: A APOSENTADORIA. FALCÃO FALOU COM O REPÓRTER RAPHAEL SIMÕES


Partida da seleção brasileira contra a Espanha: "Ainda tenho esperança de ver o futsal nos Jogos do Rio"

O futsal é um dos esportes mais praticados no Brasil e, mesmo assim, não faz parte do programa olímpico para 2016. Você se sente frustrado por isso? Eu me sinto frustrado principalmente pela falta de briga para que isso aconteça. Dizem que só pode ter um esporte relacionado à Fifa e o futebol já está na Olimpíada. O problema é que a mesma lógica não vale para o vôlei e o vôlei de praia. Fico triste pela falta de interesse do Comitê Olímpico Brasileiro. Nossa força está provada. A liga brasileira de futsal tem mais de 20 equipes e no ano passado bateu recordes de audiência.

Você acha que o COB poderia ter se esforçado mais para tentar incluir o futsal em 2016? A gente não vê nenhum tipo de entrega para isso. O Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB) fala que não dá e pronto. Não tem por que não sermos olímpicos. O COB simplesmente diz: "A gente quer o futsal, então o COI (Comitê Olímpico Internacional) que resolva". Assim, simplesmente transferem o problema para outras pessoas. Os críticos dizem que o problema é que países como Inglaterra, França e Alemanha não praticam o futsal de maneira forte. E daí? O futsal é forte em várias partes do mundo. Tivemos uma final de campeonato mundial na Ásia com o ginásio completamente lotado.

Você ainda acredita na possibilidade de o futsal estar nos Jogos do Rio, em 2016? Ainda tenho a esperança de ver o futsal estar na Olimpíada do Rio. Pode fazer pelo menos

como um esporte de demonstração. Não há argumentos para que isso não aconteça. Não sei se existe um medo de o futsal fazer mais sucesso que outros esportes olímpicos. Penso muito nisso.

Você jogou o Mundial da Tailândia com uma contratura na panturrilha e, depois, teve a paralisia facial. Foi o maior desafio da sua carreira? Eu sempre me entreguei na carreira. Às vezes, joguei tomando injeção para conter a dor. Tenho 14 anos de seleção e foram anos muito intensos. Eu sei o tamanho da responsabilidade, então faço com amor mesmo. No caso da paralisia facial, me disseram para não jogar, principalmente para evitar uma lesão ainda pior. Quando o médico foi falar comigo sobre isso, eu disse que só ia ouvir o parecer dele depois da final do Mundial. A paralisia foi causada por estresse. Com a lesão na panturrilha, eu tive que ficar na cama, fazendo alimentação dentro do quarto, e via o pessoal ir treinar. Isso provocou um sentimento que nunca tive. Então, foi aquilo que causou a paralisia. Quando via oportunidade de jogar, esquecia a paralisia.

Quando você pretende se aposentar da seleção brasileira? A gente fala muitas coisas na emoção. Me privei de muita coisa na vida pela seleção brasileira. Isso tira o tempo de curtir filhos, a mulher, a família toda. No próximo campeonato mundial, daqui a quatro anos, eu vou ter 39 anos. Para mim, seria horrível ir para um Mundial e não ganhar. Então, tenho que sair

por cima. Escutar que sou o "Pelé do futsal" é um grande prêmio. É o reconhecimento de ser o maior artilheiro da seleção brasileira, uma marca que não tiram mais.

Você foi eleito três vezes o melhor do mundo na modalidade e passou por diversos clubes. Deu para se realizar financeiramente com o esporte? O meu caso é diferente porque sempre tive muitos patrocinadores individuais e excelentes contratos com marcas de material esportivo. Sempre fui muito valorizado pelos clubes. Vou parar de jogar com uma situação confortável.

Quando você deve se despedir das quadras? É difícil dar uma data exata para a minha aposentadoria das quadras. Quero sempre jogar em alto nível. Se perceber que estou caindo, vou parar. Vou jogar mais três ou quatro anos no máximo. Mas vamos deixar o ano a ano rolar. Tenho uma proposta de mudar em 2014 para o Japão. O cara que levou o Zico para lá quer fazer o mesmo comigo no futsal. A ideia é promover o futsal, fazê-lo explodir no Japão. Eu fiz um pedido de contrato para eles não aceitarem, mas parece que aceitaram. Até março, devem dar uma resposta oficial. A proposta financeira é muito boa, mas seria uma mudança drástica para meus filhos, que teriam 10 e 12 anos. Vou ter que avaliar bem. 21 MARÇO 2013 | ISTOÉ 2016

Fotos: Divulgação | Dorivan Marinho/Fotoarena


AQUECIMENTO

aS perdaS de piStoriuS

É pouco provável que o sul-africano Oscar Pistorius, maior atleta paraolímpico da história, seja capaz de recuperar o papel de inspirador de novas gerações. Acusado de assassinar a namorada, a modelo Reeva Steenkamp, Pistorius pode ser condenado à prisão perpétua. Apesar de ainda não ter sido julgado, os danos à carreira são irreversíveis. Com a prisão do “Blade Runner” – apelido que ganhou graças às próteses nas duas pernas –, os compromissos já agendados foram cancelados. Uma das aparições programadas era uma corrida de exibição ao lado do campeão paraolímpico brasileiro Alan Fonteles. Além disso, dois de seus principais patrocinadores, Nike e Oakley, já cancelaram os contratos. No ano passado, o para-atleta sul-africano falou com exclusividade à 2016 e demonstrou confiança em um futuro que, claramente, não existe mais: “Tenho uma vida incrível e nunca pensei em como ela seria de outro jeito.”

PA R A A M B I E N TA L I S TA S , C A M P O DE GOLFE DO RIO NÃO SERÁ VERDE O retorno do golfe aos Jogos Olímpicos depois de uma ausência de 112 anos tem provocado forte reação de ambientalistas cariocas. Não que eles reprovem as tacadas. O problema, dizem os ecologistas, é o local onde será construído o campo para as disputas de 2016: uma área considerada de preservação que faz parte da Reserva de Marapendi, na Barra da Tijuca. O argumento dessa turma é de que a biodiversidade da reserva será dizimada e que há um lugar pronto para receber o torneio, o Itanhangá Golf Club, também na zona oeste da cidade. Para o Comitê Organizador Rio-2016, porém, seria caro demais realizar adaptações no Itanhangá. O Rio estima gastar R$ 60 milhões na construção do novo campo de golfe.

aQui, Há VagaS Se alguém ainda duvida da capacidade de a Olimpíada ativar a economia, basta dar uma olhada no site www.rio2016.org. No endereço, constam mais de uma centena de ofertas de empregos abertas pela organização dos Jogos. São vagas para engenheiros, arquitetos, jornalistas, advogados e profissionais de variadas áreas. Os candidatos escolhidos vão trabalhar no próprio comitê Rio 2016. Até o meio do ano, mais de 200 novos postos deverão ser oferecidos. E isso a quatro anos da Olimpíada.


SaltoS em CopaCabana As provas de saltos ornamentais da Olimpíada de 2016, no Rio, não serão mais realizadas no Parque Aquático Maria Lenk, mas sim no Forte de Copacabana, ao lado da praia, na zona sul da cidade. A mudança foi feita a pedido da Federação Internacional de Natação (Fina), que argumentou precisar de uma piscina exclusiva para o polo aquático durante toda a Olimpíada. Por isso, os saltos tiveram que ir para outro lugar. O projeto agora é erguer uma estrutura temporária, para até cinco mil pessoas, na região do Forte. O custo da obra ainda não foi definido. Para os organizadores dos Jogos, a mudança também ajudará a promover a cidade internacionalmente, já que as provas passarão a ter como pano de fundo a belíssima praia de Copacabana.

a má Conduta auStraliana Cinco dos seis nadadores escalados pela Austrália para a prova do revezamento 4x100 m masculino em Londres -2012 confessaram o uso, dias antes da competição, de uma substância sedativa chamada Stilnox, proibida pelo Comitê Olímpico Australiano (AOC). A revelação, feita após semanas de especulação por parte da imprensa local, não chegou a pegar o público de surpresa, mas foi um balde de água fria no comitê olímpico local, que anunciou que os atletas poderão perder incentivos fiscais e ter de devolver premiações recebidas no ano passado. A droga, que não é considerada doping, é vetada pelos médicos por ter efeito semelhante ao da maconha e por causar alucinações quando misturada ao álcool. Eamon Sullivan (na foto, o primeiro da fila, se encaminhando para a entrevista reveladora), James Magnussen (o terceiro da fila), Matt Targett, Tommaso D'Orsogna e Cameron McEvoy disseram que experimentaram a substância durante uma festa em Manchester, na Inglaterra, onde o time se preparava. A confissão, no entanto, não parou por aí. Os esportistas também admitiram que “perturbaram mulheres” na vila olímpica com brincadeiras como bater nas portas durante a noite. Em nota, o grupo admitiu que a atitude foi “estúpida e imatura”. A Austrália ficou apenas no sétimo lugar no quadro de medalhas da natação na Olimpíada de 2012.

Fotos: Shutterstock | Getty Images

laboratório antidoping fiCa pronto em 2014 Está previsto para maio de 2014 o fim das reformas no Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que será responsável pelo controle antidoping dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. A primeira parte da obra, que inclui instalações hidráulicas e elétricas, melhoria de acessos e reforços estruturais, custará R$ 13 milhões. Já a compra de novos equipamentos, que será feita pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, ainda não teve orçamento definido. A ideia é que o novo Ladetec esteja operando a todo vapor na Copa do Mundo de 2014.


AQUECIMENTO RAIO X Tudo o que você precisa saber sobre A BICICLETA MAIS RÁPIDA DA OLIMPÍADA

NOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES, O TIME DE CICLISMO DE PISTA DA GRÃ-BRETANHA USOU AS BIKES DA MARCA FRANCESA MAVIC PARA GANHAR OITO MEDALHAS: SETE DE OURO E UMA DE PRATA

DE VOLTA AO LABORATÓRIO Os cientistas usaram a chamada dinâmica de fluidos computacional para medir como as mudanças na estrutura da bicicleta afetam os fluxos de ar ao seu redor. Chris Boardman, chefe de desenvolvimento da Grã-Bretanha, também chegou a passar oito horas por dia em testes em túneis de vento, algo inédito para a maioria das equipes de ciclistas.

FORMAS PERFEITAS O resultado é uma bicicleta projetada para voar na pista. O guidão, por exemplo, tem formato de asa para dar mais controle e minimizar o atrito com o ar. Com apenas 6,8 quilos, guidão, quadro, rodas e discos são feitos de fibra de carbono, material conhecido por sua resistência e leveza.

180 é o número de tiras de fibra de carbono que formam a estrutura oca que liga os pedais ao eixo principal da bicicleta britânica.


SONHO POSSÍVEL

Atendendo às regras da União Internacional de Ciclismo (UCI, em francês), todas as peças utilizadas nas bicicletas dos atletas podem ser compradas nos sites UK Sport (www.uksport.gov.uk) e British Cycling (www.britishcycling.org.uk)

63,162 KM/H foi a velocidade atingida pelos ciclistas da Grã-Bretanha durante o sprint em equipe. Isso é mais do que o limite permitido para carros em muitas vias importantes de São Paulo

VELOCIDADE MÁXIMA O atleta mais veloz da competição foi Jason Kenny. O inglês de 24 anos bateu o recorde mundial no sprint masculino, com 9 segundos e 713 milésimos nas semifinais. Kenny levou o ouro em cima do francês Grégory Baugé: o dono da prata percorreu os 200 metros da pista do velódromo em 10 segundos e 308 milésimos. O REI DAS BICICLETAS Kenny é apontado como sucessor do escocês Chris Hoy. Considerado herói nacional, sir Hoy é o atleta britânico com o maior número de medalhas de ouro – seis no total. Em Londres, ele participou de outro recorde olímpico: o de sprint por equipes, em que Hoy, Kenny e Philip Hindes conseguiram a marca de 42 segundos e 747 milésimos.

SIMPLICIDADE As bicicletas para competições de velocidade são simples: não possuem marchas, freios ou equipamentos de medição. Tudo para reduzir o peso.

Fotos: Odd Andersen/AFP | Michael Regan/Getty

POLÊMICA À FRENTE O time da Grã-Bretanha utilizou rodas Mavic padrão. Mas a velocidade foi tamanha que os franceses, rivais históricos, abriram a boca para reclamar – chegaram a dizer que havia algum dispositivo secreto que aumentava a velocidade dos competidores

R$ 50 MIL é o preço médio de uma bicicleta idêntica à utilizada pelo time britânico

AS RODAS DA DISCÓRDIA Na verdade, as suspeitas começaram porque, ao fim das provas no velódromo, os técnicos corriam para cobrir as rodas da equipe britânica, dando a entender que ali estava escondida a fonte de tanto sucesso. Diante do chororô francês, o chefe de desenvolvimento da GrãBretanha, Chris Boardman, declarou: “Elas são redondas"

APEGO AOS DETALHES Todas as peças foram fabricadas de acordo com as medidas de cada atleta, personalizando parâmetros como posição do guidão e altura do banco. Resultado: tudo o que eles precisavam fazer era sentar no equipamento e pedalar, sem nenhum ajuste prévio.


tênis

por que roger é um cara legal Em EntrEvista Exclusiva, rogEr FEdErEr, o maior tEnista dE todos os tEmpos, Fala dE ídolos, aposEntadoria, Fama, dinhEiro, doping E olimpíada no Brasil por lucas bessel

Foto: Rainer Hosch


boa gente: Currículo irretocável dentro e fora das quadras rendeu a Federer privilégios que fazem a inveja de muitos atletas. "não tenho obrigações em termos do que tenho que jogar ou não", diz o suíço


tênis

“Você é um bom jornalista?” Foi assim que Tony godsick, agente de roger Federer, me abordou na porta do camarim do tenista suíço no ginásio do Ibirapuera, em São paulo, em uma tarde de domingo. Não parecia um início dos mais promissores. ele, que já tinha proibido o fotógrafo da 2016 de fazer um retrato do atleta – não queria ver seu cliente suado e desgrenhado nas páginas de uma revista –, não me conhecia. e por que deveria? Federer é um dos caras mais bem sucedidos do esporte mundial, considerado por muitos o maior tenista de todos os tempos. entrevistas exclusivas com ele são cobiçadas como ouro e cuidadosamente encaixadas em uma agenda tão ou mais concorrida do que a de chefes de estado. mesmo assim, vesti a minha melhor cara de confiança e respondi em inglês: “Sou muito bom.” Foi o suficiente para Tony, o último obstáculo de uma série que incluiu uma intoxicação alimentar bem no dia da entrevista e seguranças que não concebiam a ideia de um jornalista sem

36 março 2013 | istoé 2016

credencial durante o evento promovido por um dos grandes patrocinadores de Federer. Honestamente, não dava a mínima para o tal evento, os patrocinadores ou os fãs que faziam filas do lado de fora do ginásio em busca de uma chance de ver o tenista. Tentava me concentrar nas perguntas que faria, nos dados que tinha pesquisado, e repetia mentalmente: “Não seja um idiota, lembre-se de ligar o gravador.” enquanto isso, Federer encerrava uma de suas clínicas de tênis na quadra azul montada dentro do Ibirapuera. Tirava fotos com crianças, assinava autógrafos, sorria, era paciente até com os malas que teimavam em lhe agarrar o braço e o seguiam do hotel para o ginásio e vice-versa. “Tem uma mulher aí que não deixou ele em paz desde que chegou ao Brasil”, confidenciou um dos guardacostas. o pai, robert Federer, um sujeito de cabelos brancos e bigode grisalho, observava a certa distância. quando o filho venceu o mar de gente e finalmente

entrou no camarim, ele foi atrás. aguardei do lado de fora, mas não por muito tempo. pouco depois das 14h30, o zombeteiro Tony me chamou: “Vamos lá?” No curto corredor até o camarim onde seria feita a entrevista, lembrei-me de uma questão crucial: como deveria chamar meu entrevistado? Senhor Federer? roger? Vossa alteza? o problema foi solucionado pelo próprio tenista: “olá, lucas, eu sou o roger”, disse-me, com um sorriso, assim que fui apresentado pelo agente. o atual número 2 no ranking da associação dos Tenistas profissionais (aTp) vestia a mesma roupa com que tinha ministrado a clínica poucos minutos antes: camiseta azul-clara, bermuda cinza-escuro, meias brancas e tênis combinando. Tudo com a marca de seu patrocinador. Faltava, na cabeça, a faixa que protege o rosto do suor. “Não está nada desgrenhado”, pensei, ainda lamentando a foto perdida. Na sala, que não deveria ter mais do que 25 metros quadrados, uma equipe de filmagem acompanhava tudo. “Você pro-


vavelmente vai aparecer no documentário dele”, avisou Tony. Federer se sentou em um sofá de couro branco de dois lugares. acomodei-me em um móvel idêntico, colocado na perpendicular. estava a um metro e meio de distância, mas não quis correr riscos: “posso colocar meu gravador aqui?”, perguntei, indicando o apoio de braço mais próximo dele. “claro, fique à vontade”, respondeu o suíço. Federer é um cara gente fina, um gentleman que fala fluentemente alemão, francês e inglês. casado desde 2009 com a também suíça mirka e pai de meninas gêmeas, myla rose e charlene riva, 3 anos, mostra adoração pela família, ainda que fique fora de casa durante até nove meses por ano. “Às vezes, eu gostaria de ser um jogador de futebol, que pode jogar na sua própria cidade e construir uma vida normal”, disse à 2016. estatisticamente, é o melhor tenista de todos os tempos. conquistou 17 títulos de grand Slams (os torneios mais importantes da aTp) e ficou por 302 semanas na ponta do ranking mundial, sendo 237 delas consecutivas, entre 2004 e 2008. o americano pete Sampras, outra lenda das quadras, já afirmou que Federer “é o maior”. para o suíço, poucos elogios têm mais valor do que esse, embora ele mesmo não se veja dessa maneira: “Não é justo me comparar a outro atleta ou a outro esporte”, diz. “São outros tempos.” quando perguntado quem ele considera o maior tenista que já enfrentou, Federer não mostra nenhuma hesitação: “pete Sampras”, responde, na lata. “quando ele estava no jogo dele, você não tinha como ganhar.” Sampras se aposentou das quadras em 2002, um ano antes de Federer conquistar seu primeiro grand Slam, em Wimbledon. aos 31 anos, este filho de suíço com sul-africana é consideravelmente mais velho que Novak Djokovic, rafael Nadal e andy murray, seus três maiores rivais nos torneios de grande expressão. Isso, no entanto, parece não preocupar o tenista: “eu não sou um dinossauro”, afirma, aos risos. Não que alguém estivesse pensando isso, mas o fato é

que, em um esporte que fica cada vez mais veloz, em que golpes potentes dão a tônica dos ralis, Federer é o sujeito que usa a cabeça. “Tento ser agressivo, mas também usar variações, jogar com complexidade”, afirma. “eu jogo mais como a velha guarda.” o jogo pode até ser parecido com o dos tenistas old school, mas as atitudes dentro e fora de quadra pouco lembram ícones polêmicos como o americano andre agassi – que admitiu o uso de drogas – ou o alemão Boris Becker, que protagonizou desentendimentos públicos com a noiva. “o

Nem tudo sempre foi perfeito na vida de Federer. “eu me lembro de ser jovem e frustrado, de jogar em quadras menos importantes, numa ventania danada, e de não conseguir acertar uma bola”, diz. “certamente houve momentos em que eu gostaria de estar em outro lugar, não jogando.” um desses episódios foi em 1994, quando Federer tinha 13 anos e tomou um sonoro 6 sets a 0 do brasileiro Tiago ruffoni em um torneio na Bélgica. Durante o evento de fim de ano em São paulo, o suíço lembrou dessa derrota e afirmou que ela o ajudou a melhorar

“Eu ansEio pEla aposEntadoria, sabia?”, diz, fazEndo quEstão dE EsclarEcEr quE não dEsEja pEndurar as raquEtEs imEdiatamEntE Federer é super-discreto, a gente mal o vê fora das quadras”, diz o tenista brasileiro Thomaz Bellucci, confirmando a fama de bom moço do suíço. o espectador mais desatento poderia pensar que o suíço é um “coxinha”, designação nova que substituiu o “careta” do passado. De fato, a polidez e a falta de atitudes arrebatadoras, somadas à tradicional vestimenta playboy do tênis, podem passar a impressão de que Federer é um típico riquinho. engano. Não há nenhum traço de arrogância na personalidade do atleta. “ele é atencioso 100% do tempo, um cara muito simples”, confirma Bellucci. o brasileiro, aliás, enfrentou e venceu Federer em um jogo de exibição no Ibirapuera durante o evento promovido pelo patrocinador do suíço. Foi a primeira vez que isso aconteceu e ele jura que não teve marmelada. “apesar de não contar pontos para o ranking, os dois jogadores querem ganhar e proporcionar um bom espetáculo para a torcida”, garante Bellucci.

seu backhand, o golpe executado no lado contrário ao da mão que segura a raquete. ruffoni não foi longe, enquanto Federer virou um dos melhores do mundo, fato que o credencia a falar sobre praticamente qualquer assunto, inclusive sobre olimpíada no Brasil. “as olimpíadas sempre são algo pesado”, alerta o suíço, que desde Sydney-2000 esteve em todos os Jogos e ganhou duas medalhas (ouro nas duplas em pequim-2008 e prata no individual em londres-2012). “a olimpíada pode ajudar muito uma cidade, mas também pode prejudicá-la por causa do que acontece depois que os Jogos terminam.” Federer diz que, além dos benefícios para o rio de Janeiro, os Jogos têm potencial para trazer à luz uma nova geração de esportistas: “a mensagem vai se espalhar”, diz. “a mensagem da felicidade, dos sonhos dos atletas que se tornam realidade, vai inspirar muitos jovens neste país a se tornarem os melhores nos seus esportes.”


tênis

quando se depara com uma pergunta mais complicada, Federer desvia os olhos do entrevistador, mira o teto e dá ume leve bufada, mas não se esquiva de responder. “eu anseio pela aposentadoria, sabia?”, diz, fazendo questão de esclarecer que não deseja pendurar as raquetes imediatamente. “quero ter mais tempo para minha fundação, fazê-la crescer, promover eventos de caridade, viajar para ver os projetos.” Durante todo o tempo da conversa – contado no relógio, com uma assessora alertando sobre os minutos restantes –, Federer usou palavras muito bem escolhidas, resultado de um treinamento de mídia impecável. o único momento em que pareceu se exaltar foi ao falar de doping no esporte. “Todo mundo deve sentir que a trapaça será punida, assim como a estupidez”, afirmou. parece incrível que alguém que passa por uma verdadeira maratona de eventos – só em São paulo, foram cinco dias consecutivos – ainda tenha cabeça e paciência para falar sobre qualquer assunto. mas aí eu me lembro que o suíço embolsou estimados r$ 20 milhões para participar dessa turnê sul-americana e pergunto o que ainda o motiva a pegar uma raquete. certamente não é o dinheiro ou o sucesso. ele tem ambos de sobra. “eu amo muito o que faço e, para mim, isso é motivação e inspiração suficientes”, diz. Findo o tempo para perguntas, o tenista assina um autógrafo (“minha irmã me mata se eu não pegar”, justifiquei) e me cumprimenta com firmeza. enquanto saio da sala, ouço um chamado: “Você não vai levar sua água?”, pergunta o tenista, estendendo a garrafinha plástica, intocada durante todo o bate-papo. claro, por que não? é um presente de Federer, afinal.

gentleman: Para Federer, a olimpíada no brasil será um marco. "os sonhos dos atletas vão inspirar muitos jovens", diz


“não me Vejo como o melhor de todos os temPos” roger Federer diz que é injusto compará-lo a qualquer outro jogador e aponta Pete sampras como o melhor tenista que já enfrentou

2016 Você é o mais velho entre jogadores como Djokovic, Nadal e Murray. Sente algum tipo de pressão por isso ou acha que a idade pode se tornar um peso em breve? roger Federer – eu não sou um dinossauro, mas sou um dos mais velhos, sim. a idade tem seus aspectos negativos e positivos. Às vezes, eu gostaria de ter 22 anos para poder aproveitar uma grande carreira à minha frente. ao mesmo tempo, estou feliz por ter 31 anos porque já tive uma grande história, e isso é algo que ninguém pode tirar de mim. Há muitas coisas boas acontecendo na minha vida agora. Posso jogar em uma turnê de exibição, posso escolher o que eu realmente quero fazer. não tenho obrigações em termos do que tenho que jogar ou não. Posso escolher, e isso me dá uma grande sensação de liberdade. nem sempre foi assim, então sinto que estou numa boa situação para ainda jogar tênis por muitos anos.

Você teve que mudar seu estilo de jogo por causa da idade? não especificamente por causa da idade. Às vezes, você muda porque sente dor e não tem o mesmo alcance. mas, no fim do dia, você tem um certo Dna no seu jogo. no meu caso, tento ser agressivo, usar variações, jogar com complexidade. automaticamente, jogo mais como a velha guarda. É uma coisa com a qual evoluí. e, ao longo do caminho, tento usar a experiência a meu favor, não deixar que ela seja um fardo.

Foto: luis Ramirez/StR

Porque, às vezes, quando você se torna realmente experiente, começa a jogar de forma muito conservadora. então é importante permanecer com o pensamento jovem, ir atrás e se arriscar, porque, no esporte, o risco geralmente compensa.

E o tênis tem se tornado cada vez mais físico e agressivo, não? acho que isso acontece porque a velocidade da quadra é praticamente a mesma ao longo do ano. Podemos jogar o mesmo estilo toda semana. estamos aperfeiçoando cada vez mais a base e os movimentos do jogo. talvez isso mude de novo nos próximos anos. talvez joguemos mais ofensivamente ou mais defensivamente. mas, por causa da força e dos efeitos que conseguimos aplicar na bola, vemos grandes ralis que demandam muita forma física.

Você é um pai e um marido que passa muito tempo longe de casa. Teme que isso possa ser ruim para suas filhas ou sua mulher? Claro que gostaria de estar mais em casa, não há dúvidas sobre isso. Às vezes, eu gostaria de ser um jogador de futebol, que pode jogar na sua própria cidade e construir uma vida normal. mas, ao mesmo tempo, adoro viajar. É uma das melhores coisas do meu trabalho, conseguir ver todas essas in-

críveis cidades e países e pessoas. Isso é algo que ganho de graça. e, quando eu finalmente me aposentar, ainda serei muito jovem. terei tempo para diminuir o ritmo, viver na Suíça, que é minha casa e meu lugar favorito. aí as coisas serão bem mais calmas.

Como você se imagina após a aposentadoria? eu anseio por isso também, sabia? não que eu queira que aconteça agora. mas quero ter mais tempo para minha fundação, fazê-la crescer, promover eventos de caridade, viajar para conhecer os projetos. Isso é algo que quero fazer no futuro porque, no momento, é difícil por causa de tudo que acontece na minha vida. além disso, quero continuar ligado ao tênis de alguma forma. tenho parceiros e patrocinadores que estão comigo há muito tempo e que, espero, continuarão comigo. Isso provavelmente vai me manter ocupado no futuro.

Andre Agassi disse que, às vezes, odiava jogar tênis e que perdia algumas partidas de propósito. Você já se sentiu assim? não. mas com certeza tive momentos em que não me senti ótimo. momentos em que gostaria de estar em outro lugar, não jogando. esses momentos aconteceram quando era muito jovem. Como adolescente, às vezes ficava frustrado e triste por não jogar tão bem e porque as coisas não estavam dando certo para mim. mas, desde que comecei a excursionar, passei a ter uma atitude muito boa. eu me diverti. então, para mim, tem sido uma boa jornada. nunca quis desistir de uma partida ou perder de propósito. Isso nunca aconteceu na minha vida e estou feliz que nunca tenha acontecido. os fãs pagam muito dinheiro para me ver jogar e, para mim, é normal dar 100% o tempo todo.

Muita gente o considera o melhor tenista de todos os tempos. É assim que você se vê? não, não é assim que eu me vejo. Há gerações diferentes de jogadores. não vamos nos esquecer de quem criou este grande jogo. Hoje, tudo é muito dependente da mídia, dos patrocinadores, dos torcedores. Virou algo muito global e mudou muito. e por que mudou? Porque as pessoas deram tudo ao tênis. e agora, é claro, nós estamos lucrando com este momento. É por isso que não é justo me comparar a outra pessoa ou a outro esporte. todos os atletas são muito diferentes. então, não, eu não me vejo como o melhor jogador de todos os tempos.


tênis

Quem você diria que é o melhor jogador que já enfrentou? Pete Sampras. Sempre o considerei um incrível campeão e um grande herói. e a coisa com Pete era que, quando ele estava no jogo dele, você não tinha como ganhar. Quando você joga com alguém que é assim tão forte e tão bom, é impressionante.

Hoje você tem sucesso, fama, dinheiro e respeito. Como mantém a motivação para jogar em alto nível? Isso não é realmente um problema. eu sei que conquistei muito, mais do que jamais imaginei. De certa forma, muitas coisas aconteceram muito cedo na minha carreira, como ganhar os quatro grand Slams. eu me lembro de ser jovem e frustrado, de jogar em quadras menos importantes, numa ventania danada, e não conseguir acertar uma bola. agora eu tenho a chance de jogar na quadra principal em todos os lugares, com grande apoio da torcida. eu amo muito o que faço e, para mim, isso é motivação e inspiração suficientes.

Para você, qual foi o significado da medalha de prata na Olimpíada de Londres? algo muito importante. Claro, eu adoraria ter ganhado a medalha de ouro no individual, mas também já tenho um ouro nas duplas (em Pequim-2008) e sou superorgulhoso disso. em londres, achei incrível porque foi nas quadras de Wimbledon, logo depois do torneio de Wimbledon, e a combinação pareceu fenomenal. Para mim, a vitória foi bater o [tenista argentino Juan martín] Del Potro nas semifinais. Joguei por quatro horas e meia, estive muito perto de perder e acabei ganhando. Para mim, aquela foi a vitória e a medalha para a Suíça. e, nas finais, infelizmente, o [britânico andy] murray jogou muito bem, e eu talvez estivesse mentalmente muito cansado. mas sem desculpas. eu continuo muito orgulhoso das duas medalhas que já trouxe para a Suíça.

Você consegue comparar o sentimento de ganhar uma medalha olímpica com o de vencer um Grand Slam? É muito diferente, sabe? a olimpíada é algo que acontece só a cada quatro anos, e a pressão é completamente diferente. Se você falha, como falhei em atenas-2004, sente que terá de esperar muito tempo para ter outra chance. mas ao menos nós conseguimos tirar a cabeça disso

logo graças a todos os outros torneios durante o ano. estou feliz com o crescimento do tênis na olimpíada. É bom ver que todos se importam e querem jogar. não é pelos pontos ou pelo dinheiro, e sim pelo orgulho.

Recentemente, o mundo do esporte ficou chocado com o caso de doping do ciclista americano Lance Armstrong. Você acha que algo parecido poderia ocorrer no tênis? Com esse tipo de coisa, é muito difícil saber. É claro que esperamos que não aconteça. espero que as medidas antidoping sejam duras o suficiente. eu gostaria de ver mais testes, mas sei que o orçamento nem sempre permite isso. É

maneiras. Claro que vocês também têm a Copa do mundo, que é algo bom e que vai servir como boa preparação para a olimpíada do Rio de Janeiro, que, tenho certeza, será incrível. Será fascinante ter uma olimpíada em um país tão apaixonado por esportes.

O que você diria para um jovem que gosta de tênis e que está empolgado com a Olimpíada e com tudo que irá acontecer no País nos próximos anos? acho que a mensagem vai se espalhar. a mensagem da felicidade, dos sonhos dos atletas que se tornam realidade, vai inspirar muitos jovens neste país a se tornarem os melhores nos seus

“nunca quis dEsistir dE uma partida ou pErdEr dE propósito. isso nunca acontEcEu na minha vida E Estou fEliz quE nunca tEnha acontEcido” muito difícil achar as pessoas onde quer que elas estejam no mundo. os agentes têm que viajar para achar os atletas. então você imagina, ter que fazer toda uma viagem para achar um único atleta. Isso custa muito dinheiro. É preciso achar a maneira certa de fazer. É muito importante manter o esporte limpo. Falo do meu esporte porque tênis é o que mais me importa, mas espero que seja assim em todos os esportes. eu sei que é totalmente possível jogar tênis sem doping porque fiz isso a minha vida toda. espero que o tênis permaneça limpo para sempre, mas nós temos que tomar as medidas apropriadas porque todo mundo deve sentir que a trapaça será punida, assim como a estupidez.

Que tipo de benefício a Olimpíada pode trazer para o Rio de Janeiro e o Brasil? a olimpíada sempre é algo pesado. ela pode ajudar muito uma cidade, mas também pode prejudicá-la por causa do que acontece depois que os Jogos terminam. o que é bom é que você constrói uma infraestrutura maior e melhor e, como mais pessoas vão ficar sabendo sobre a cidade, o turismo e o comércio em geral tendem a aumentar. tem muitos aspectos positivos, só é necessário fazer com que a vida depois da olimpíada também esteja assegurada de várias

esportes. além disso, vocês têm grande potencial, 200 milhões de habitantes, um enorme território e um ótimo clima para criar uma geração de bons atletas. Vocês têm uma grande oportunidade.

O que você acha do atual cenário do tênis no Brasil? acho que o tênis está passando por uma fase muito global neste momento. Há jogadores de países diferentes e menores, como Finlândia, Chipre, Sérvia, Suíça, luxemburgo, bélgica, Holanda. Isso contrasta com o cenário anterior, em que estados Unidos, austrália, Inglaterra, França, espanha ou Itália dominavam. os países menores estão conseguindo alcançar os maiores. todos estão um pouco desapontados com o fato de que seu país não tem mais jogadores. mas acho que o brasil está indo muito bem. Claro que é difícil esperar um novo guga logo de cara. Isso é irreal , você precisa esperar mais. acho que o [thomaz] bellucci é muito bom e muito respeitado. ele trabalha muito duro e está no top 30 ou top 40 [era 37o até o fechamento desta edição]. Isso significa que pode chegar a top 20 ou top 15. ele vai carregar o brasil por mais um tempo e dar a chance para que, talvez nos próximos cinco anos, o esporte cresça mais no País.


“F EDER ER É UM MO D E LO DE V I DA” , D IZ G UG A “o maior prazer de encontrar o Federer no Brasil foi admirar o entendimento que ele tem a respeito do papel que exerce sobre as pessoas”, disse gustavo Kuerten à 2016 em relação à visita do suíço ao país. “Ele é um cara que tem uma conduta e uma carreira irretocáveis e que se transforma em modelo de vida para crianças e adultos.” guga, que é fã declarado de Federer, considera que fez um dos melhores jogos de sua carreira na semifinal de roland garros, em 2004, quando derrotou o favoritíssimo suíço, já número 1 do mundo, por 3 sets a 0. “Ele estava consolidado como número 1 e eu sofria com bastante dificuldade no quadril”, lembra o brasileiro. “mesmo assim, consegui atingir uma performance incrível, joguei 130%, contando com a energia do público.”

Foto: Jacques Demarthon/aFP | Clive brunskill/getty

R o ge R F e De R e R P O R E L E ME S MO Um RIVal: RAFAEL NADAL Um atleta: MICHAEL JORDAN Um PaÍS: SUÍÇA Um lUgaR: MONTANHAS OU PRAIAS Um lIVRo: SOU MAIS DE JORNAIS E REVISTAS Uma banDa: OUÇO DE TUDO, MAS TIVE UMA FASE BEM METALLICA E AC/DC Um PRato: COSTUMAVA SER VEGETARIANO, MAS HOJE COMO DE TUDO, O QUE FACILITA NA HORA DE VIAJAR. COMIDA É UM DOS MEUS HOBBIES E GOSTO DE LEVAR MINHA MULHER PARA CONHECER PRATOS DIFERENTES, COMO OS DA CULINÁRIA TAILANDESA Um FIlme: "MISSÃO IMPOSSÍVEL" OU QUALQUER UM DO JAMES BOND


natação

MUDANçA: Fratus no fundo da piscina do Pinheiros, em São Paulo. O atleta vai treinar na Itália até julho, mas continuará vinculado ao clube em competições nacionais


/MeU eScrItórIO é NA rAIA bruno fratus, o mais talentoso nadador da nova geração brasileira, fala pela

primeira vez desde a olimpíada sobre os planos para chegar ao topo e os erros cometidos na preparação para os jogos de londres

por rodrigo cardoso fotos jonne roriz


natação

maurizio Fratus é um engenheiro mecânico de 55 anos. Pai de Bruno Fratus, o mais talentoso nadador Brasileiro da nova geração, ele exPlica a origem da sinceridade sem Freio do Filho. “temos o háBito de ser assim”, diz maurizio. “Quando me Perguntam algo, Falo Para a Pessoa se ela Quer Que eu seja educado ou sincero na resPosta.” Bruno, 23 anos, herdou esse traço familiar. até a olimpíada de londres, ele era o segundo homem mais veloz do mundo dentro das piscinas, mas perdeu a medalha de bronze da prova dos 50 metros livre, a mais rápida da natação, por meros 2 centésimos de segundo. com o revés, caiu para a quinta colocação no ranking mundial. chorou feito criança, esmurrou uma porta e se negou a dar entrevistas na capital inglesa. agora, depois de se mudar para a itália, onde ficará até julho para iniciar uma transformação radical na rotina de treinos, resolveu colocar para fora tudo o que sentiu – e falar, em primeira mão, sobre os erros que cometeu e os planos para chegar ao topo. “cheguei a um ponto da carreira em que não posso treinar com 60 atletas na piscina”, diz Bruno. “não posso treinar pensando em bater o recorde mundial e na raia do lado estar um moleque que tem a única ambição de ir para o campeonato brasileiro. Preciso treinar com o sujeito que quer bater o recorde mundial da minha prova. Preciso sair da zona de conforto, ou seja, treinar e competir em um ambiente hostil.” Não é preciso muito esforço para perceber que o nadador vem transformando a raiva e a frustração experimentadas nos Jogos de Londres em combustível. Atente para o que ele diz sobre a próxima edição olímpica, que acontecerá no Rio de Janeiro, em 2016. “Não vou ganhar uma medalha: eu vou ganhar a prova”, diz. A Itália é o começo desse percurso. Ele agora mora em Caserta, cidade de 85 mil habitantes situada no sul do país, próxima de Nápoles. Junto de mais sete velocistas, faz parte de um projeto comandado por Arilson Soares, que o treinou no Pinheiros, clube pelo qual o nadador ainda ficará vinculado e defenderá em competições nacionais. O projeto é semelhante ao desenvolvido por Cesar Cielo – dono de três medalhas olímpicas, inclusive um ouro em Pequim-2008 –, que trocou São Paulo por Auburn, nos Estados Unidos, mudança que se revelaria fundamental para o seu sucesso nas piscinas. Sobre o rival Cielo, Bruno exercita outra vez a franqueza. “Ele é uma referência, me inspira, mas não o idolatro”, diz. “Não dá para querer bater na frente de alguém e colocá-lo no pedestal. É a lei da física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.” Bruno é um carioca com sotaque paulista, mas que foi criado no Nordeste. Morou em Catu e Salvador (BA), Natal e Mossoró (RN) e Aracaju (SE), antes de desembarcar em São Paulo. Na infância, nunca passou mais de quatro anos em uma mesma cidade porque o pai, Maurizio, que trabalha no ramo petrolífero, vivia sendo realocado. “Minhas memórias mais vivas desse período são de nossa família encaixotando coisas”, diz o atleta, que cresceu se divertindo em praias e frequentando shopping centers de chinelo e bermuda. Bruno lembra que sempre foi péssimo em esportes que envolviam times ou bola. Praticou judô e caratê, mas se rendeu à natação por um motivo bem simples: “Eu conseguia nadar melhor do que aqueles que competiam comigo.” Aos 11 anos, tornou-se federado e passou a disputar competições. Desde então, o pai anota em uma planilha todos os tempos registrados pelo filho na piscina. A primeira marca dos 50 metros livre a constar no documento foi obtida no dia 10 de abril de 1999, quando Bruno tinha 12 anos. Naquela ocasião, em um campeonato disputado no Rio, o garoto completou a prova em 38s02 (uma enormidade perto de seu melhor tempo atual, 21s61), terminando a disputa em uma discreta sexta colocação. Nas horas de decepção, é o pai quem o socorre – como, aliás faz até hoje. “Meu pai é o meu herói”, diz Bruno, de olhos marejados. “Salvou a minha vida na Olimpíada de Londres, junto com a minha mãe e a minha irmã.” Maurizio, que esteve

44 março 2013 | istoé 2016

rAIvA: Perda da medalha de bronze em Londres deixou Fratus frustrado a ponto de fazê-lo esmurrar uma porta e se negar a dar entrevistas. "é bom que ele tenha essa raiva dentro dele", diz o pai


"Me tIrA DO SérIO qUANDO OUçO UM brASILeIrO DIzer que já é vencedor só de estar na olimpíada"


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na capital inglesa durante os Jogos, explica o que se passa na cabeça do filho: “Ele não engoliu a perda da medalha de bronze em Londres”, diz. “É bom que tenha essa raiva dentro dele, para transformá-la em algo positivo.” O primogênito do engenheiro mecânico Maurizio (que é pai também de Bianca, 18 anos) tem se desdobrado nos últimos meses. Para embarcar rumo à Itália, vendeu o carro, devolveu o apartamento que havia alugado e encaixotou as coisas novamente. Tudo isso menos de um mês depois de ficar noivo de Michele, uma nadadora gaúcha com quem namora desde junho do ano passado. Na Europa, a intenção é competir uma ou duas vezes por mês até o Mundial, em julho. E, mais importante, pensar cada vez menos na perda da medalha olímpica. O assunto não lhe sai da cabeça. “Lembro que, no jantar do dia em que perdi a medalha, eu comia cabisbaixo quando o chefe da delegação, o Ricardo de Moura, me disse que eu estava quieto demais e que o resultado tinha sido bom”, conta Bruno. “Aí, eu falei para ele me mandar embora para casa, porque eu não aguentava mais ficar ali.” Corre nas veias do nadador um tipo de inconformismo próprio de biografias vencedoras no esporte, algo que não se percebe em muitos atletas do País. “Me tira do sério quando ouço um brasileiro dizer: 'Já sou um vencedor só de estar na Olimpíada.’ Nããão! Você trabalhou a vida toda para chegar na praia e aí vai tirar o pé na hora de nadar? Tem que sair na mão com os caras, comer o fígado do adversário.” Foi essa gana que motivou Buga – como Bruno é chamado carinhosamente entre os familiares – a deixar a casa dos pais e se mudar para São Paulo, aos 17 anos, para treinar no Pinheiros. No clube, ganhou o apelido de lost, que em português quer dizer perdido. Segundo ele, antes de defender o Pinheiros, havia treinado em outros centros de natação onde a modalidade era praticada na raça, sem o auxílio da ciência ou de metodologias de trabalho. “Quando comecei no Pinheiros, eu caía na água e saía nadando na raça, nem escutava o que era para fazer”, conta. “Aí, o Albertinho (hoje, treinador de Cielo) gritava: 'Ô, seu perdido, o que você tá fazendo? Tá Louco?' De perdido, passei a ser chamado de lost.” Nessa época, Bruno recebia R$ 300 mensais do clube. Dois anos depois, já recebia dez vezes mais e conquistou a independência financeira, pagando as próprias contas e alugando apartamento. Até hoje, porém, Maurizio segue enviando dinheiro ao filho – como fazia cinco anos atrás –, mesmo sem ser necessário. Em Caserta, na Itália, o nadador não sabe se conseguirá ir à feira-livre, uma prática que ele cumpria com gosto em São Paulo toda terça-feira para comprar alimentos e ingredientes. A culinária é uma de suas atividades preferidas fora das piscinas. “Cozinhar me acalma”, diz Bruno. “O que você puser na mesa eu faço: arroz, feijão, massa, carnes, doce. Um dia desses, comprei fermento, farinha e fiz um bolo de laranja com canela e chamei a galera para comer.” No ambiente doméstico, Bruno tem mania de limpeza e gosta de organizar direitinho as suas coisas. Define-se como uma pessoa normal. “Pego fila em banco, tomo ônibus quando não tô com saco de encarar trânsito”, diz. “Sou diferente das outras pessoas porque nado mais rápido do que a maioria delas. Só. No restante, sou igual a você.” O que Bruno tem de diferente é a vontade de fazer história. “Eu tenho um sonho: ser relevante”, diz. “E não estou falando de fama ou dinheiro. Quero deixar um legado.” Medo de sonhar e falar ele não tem.

FôLegO: Fratus recebe ar de mergulhador na piscina do Pinheiros. Para se mudar para a Itália, ele vendeu o carro e devolveu o apartamento alugado


em asc e n são Em 2010, Bruno Fratus passou a integrar a seleção brasileira adulta de natação. Desde então, sua evolução tem sido constante · recordista brasileiro júnior dos 50 metros livre, ao registrar 22s24, em 2008 · 4º colocado nos 50 metros livre no pan-pacífico dos estados unidos, em 2010 · ouro no 4x100m medley nos jogos pan-americano de guadalajara, no méxico, em 2011 · ouro nos 100 metros livres no troféu maria lenk, em 2011 · prata nos 50 metros livre nos jogos pan-americanos de guadalajara, no méxico, em 2011 · finalista nos 50 metros livre no mundial da china, em 2011 · encerrou 2011 como segundo colocado no ranking mundial dos 50 metros livre. só perdeu para cesar cielo · 4º colocado nos 50 metros livre, na olimpíada de londres, em 2012


natação

“NA VIDA, É MAIS IMPORTANTE PERDER DO QUE GANHAR” Em entrevista à 2016, Fratus fala da obsessão por uma medalha, de adversários como Cesar Cielo e do aprendizado que a derrota nos Jogos de Londres propiciou

2016: você já reviu a final olímpica dos 50 metros livres, quando deixou de ganhar a medalha de bronze por dois centésimos de segundo? Bruno Fratus: Assisti uma vez porque fui obrigado em um programa de tevê. Mas não quero assistir. eu estava lá, sei o que aconteceu, saca? esse é meu lado cabeçudo: não quero e ponto! Segundos antes da largada daquela prova, a gente estava já inclinado no bloco quando uma alma sem luz grita na arquibancada: "vai, cieeeelo!". O juiz segurou a largada. Parado nessa posição, curvado, a coxa queima e prejudica a saída. bom, a minha saída nessa final foi três centésimos mais lenta em relação à da semifinal. Por quantos centésimos eu perdi a medalha? Dois centésimos, né? Faz a conta aí! Não digo isso como forma de arranjar uma desculpa, porque todos os nadadores reclamaram, até o cesar. Sabe o único que não reclamou? O francês (Florente Manaudou, que venceu a prova).

o cesar cielo é o seu maior rival? é um cara a ser batido porque está na minha frente, nada mais rápido do que eu. O cara é bom demais. vejo gente falando que ele piorou. Pô, o cara esteve em pódio olímpico duas vezes. Se eu tivesse ganhado essa medalha dele, teria chegado aqui montado em carro de bombeiro. O cesar tem pontos positivos demais: a forma como trabalha o psicológico, o tempo da prova, a técnica. Lógico, tem coisas de que discordo. A gente tem estilos de vida diferentes. Jeito de treinar, de ser fora da água.


49 março 2013 | istoé 2016


natação

LIçõeS: Ainda bebê, Fratus cai na água com a ajuda da mãe. Hoje, diz que aprendeu mais com derrotas do que com vitórias: "Ninguém se torna o melhor do mundo sem ter perdido muito"

onde seria possível vencer o cielo? Nos primeiros 15 metros. essa parte da prova é a minha maior dificuldade. ele, ao contrário, tem a saída e a aceleração inicial muito boas. Aí, ele vai caindo no final da prova e eu, crescendo. Se eu melhorar os 15 metros, for mais rápido no começo da prova, é um caminho. Hoje, minhas chances de superá-lo são maiores, não por demérito dele, mas por mérito meu. Sou um atleta e uma pessoa mais madura. Perdi dele muito mais do que ganhei. Mas não considero que ganhei dele ainda, porque nunca nadei mais rápido do que o tempo dele. Mais ou menos, estou a um braço de diferença do cielo em termos de tempo. bati na frente em algumas ocasiões que não eram tão relevantes. O dia que eu ganhar em final de Mundial ou Olimpíada, nadando mais rápido do que ele já nadou na vida, aí vou falar que já o venci. você treina de maneira diferente em relação aos adversários? treino todo dia, menos domingo. Ou melhor, domingo também, porque dormir e se alimentar bem fazem parte de treino. caio na água duas vezes por dia, em dez sessões por semana. Meu treino não passa de uma hora e meia. Pensa se faz sentido minha prova durar 20 segundos e eu treinar três horas por sessão!? então, tem treino que dura 20 minutos. Isso é algo interessante que pouca gente faz. tem cara que treina três horas por sessão. Isso não entra na minha cabeça, não faz sentido. A forma que acredito que é boa para atingir o resultado é fazer treinos específicos. Não tem porque eu dar tiro de 400 metros se a minha prova é a dos 50 metros.

você leva uma vida de sacrifícios? As pessoas dizem que fazem sacrifícios para treinar. Sacrifício é quando você faz algo de que não gosta. eu tenho muita facilidade de dormir cedo, seguir dieta, vir treinar e me dedicar no treino. quando você acha algo que gosta de fazer, não trabalha, mas, sim, é pago para exercer um hobby.

50 março 2013 | istoé 2016

usa artifícios para intimidar o oponente? Não vale a pena. ganha-se a prova dentro de você. e tentar me intimidar antes da prova também não funciona. Já tentaram me intimidar pra cacete! Os caras encaram, fazem barulho, aquela coisa do rugido. O gary Hall Jr. (ex-velocista americano dono de dez medalhas olímpicas) subia no bloco vestido de boxeador, tipo rock balboa. eu me bato (dá tapas no peito e nos braços antes da largada) porque me sinto bem, mas não para intimidar. tentar controlar a cabeça dos outros é gasto de energia desnecessário.

Qual o maior aprendizado que teve até hoje com a natação? A lição mais difícil que tive foi que, na vida, é mais importante perder do que ganhar. beeeeem mais importante. Ninguém se torna o melhor do mundo sem ter perdido muito. quando você ganha, não se preocupa. quando perde, vira um bicho pra melhorar. eu tô nessa agora. Não vejo a hora de começar a temporada. Ainda tô naquela fase pós-Olimpíada, em que dizem que é preciso descansar. eu não quero descansar. quero ganhar do mundo todo. Se eu tivesse ganhado medalha na Olimpíada, talvez estaria na praia agora, falando com você pelo telefone. Aprender a importância da derrota foi ótimo.

você ganha dinheiro com a natação? consegui comprar um carro. Não tenho imóvel, nada. eu junto dinheiro. é importante ter um lugar para cair morto, uma casa. quando chegar a hora, eu vou comprar uma, mas não agora. Não sou aquele cara que precisa vestir uma camisa de r$ 200, andar em carro de r$ 300 mil. Não preciso desse tipo de coisa. gosto de ostentar as pessoas que andam à minha volta. Fez mais amigos ou inimigos na natação? tenho vários colegas e uns quatro ou cinco amigos. Inimigos, não. Não vale a pena guardar rancor.

PrODUçãO execUtIvA: cINtIA SANcHez trAtAMeNtO De IMAgeNS: OtávIO ALMeIDA/eStúDIO LUzIA



sustentabilidade

Q u e m

p r e c i s a VENTOS DE VARIADAS INTENSIDADES E DIREÇÕES, GRANDE OFERTA DE CLUBES E TRADIÇÃO FAZEM DA REPRESA DE GUARAPIRANGA, EM SÃO PAULO, O MAIOR CENTRO FORMADOR DE VELEJADORES OLÍMPICOS DO BRASIL, APESAR DAS ÁGUAS POLUÍDAS E DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS QUE AFETAM O MANANCIAL POR MARCEL GUGONI FOTOS JOÃO CASTELLANO


d e

m a r ?

formadora dE campEÕEs regata de wndsurfe na guarapiranga: represa forjou alguns dos maiores nomes da história da vela brasileira


sustentabilidade


Estima-sE quE mais dE um milhão dE pEssoas vivam nos arrEdorEs da guarapiranga, númEro quE faz da rEprEsa a maior árEa dE ocupação irrEgular dE são paulo


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O sOl a pinO e O revirar da superfície da água, mOvida pelOs ventOs fOrtes, são o convite para que a represa de Guarapiranga, na zona sul da cidade de São Paulo, seja ocupada. Barcos com crianças aprendizes de velejadores, veleiros controlados por atletas profissionais, lanchas que passam a toda a velocidade, esquiadores, banhistas, todos dividem o mesmo espaço, especialmente nos dias de calor. Nas margens, na água e nas ruas que dão acesso ao manancial se vê lixo, muito lixo, vindo da ocupação irregular de seus arredores, da má educação dos frequentadores e do descaso do poder público. O cenário, apesar de certa atmosfera de degradação, tem um papel vital na história olímpica do Brasil. É na Guarapiranga que surgiram alguns dos maiores nomes do esporte brasileiro e foi a represa que ajudou a forjar muitas de nossas medalhas. Robert Scheidt (ouro em Atlanta-1996 e Atenas-2004, prata em Sidney-2000

56 março 2013 | istoé 2016

e Pequim-2008 e bronze em Londres-2012), Reinaldo Conrad (bronze no México-1968 e em Montreal-1976) e a dupla Alex Welter e Lars Björkström (ouro em Moscou-1980), para citar apenas alguns exemplos, deram as primeiras velejadas e se tornaram grandes campeões graças às lições trazidas pelas águas da represa. “Sem a Guarapiranga, a vela brasileira não seria o que é hoje”, diz Scheidt, que há 35 anos treina no local. O manancial da Guarapiranga, com uma superfície aquática de 26,6 quilômetros quadrados, é o mais importante da região metropolitana de São Paulo. De lá, sai a água que abastece as torneiras de quatro milhões de pessoas. Nessa mesma água, não é raro ver sofás, latões, plásticos e todo tipo de imundície boiando ao sabor dos ventos. Em seus 28 quilômetros de margem, há clubes náuticos, marinas de luxo e parques populares, que constituem a mais densa área de ocupação

irregular da capital paulista. Estima-se que mais de um milhão de pessoas vivam às margens da represa, o que representa quase que a totalidade da população de Montevidéu, a capital do Uruguai. Pior ainda: grande parte delas destina seus dejetos de forma irregular. “A represa é um manancial que não permite o lançamento de líquidos, dado o seu tipo de uso, que é o abastecimento público”, diz o engenheiro Nelson Menegon Júnior, gerente do setor de qualidade das águas e do solo da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). A poluição é mesmo o maior problema da Guarapiranga. “É uma pena ver que os loteamentos clandestinos acabem contaminando a água”, diz o gerente de investimentos Felipe Echenique, 40 anos, que veleja no local há 24 anos. “Em qualquer lugar do mundo, uma represa como essa teria um parque ao redor.” Mas, se as águas são sujas, por que muita gente adora


navegar ali? “A Guarapiranga tem um regime sensacional de ventos”, diz Marcos Dietrich, diretor do Yacht Club Santo Amaro, um dos mais tradicionais clubes de vela do Brasil. Segundo ele, os ventos variam de uma velocidade de 4 a 18 nós (algo como 7 km/h e 33 km/h), números ideais tanto para quem está começando quanto para os que encaram treinos avançados. “Além disso, há uma constância do vento principalmente na parte da tarde, o que faz da Guarapiranga o lugar ideal para a formação de um velejador”, afirma Dietrich. “A verdadeira vocação da Guarapiranga é o esporte”, diz Robert Scheidt. “A represa é um local abençoado, que garante aprimoramento técnico e ainda faz você se sentir fora da loucura de São Paulo.” O primeiro clube de vela que nasceu às margens da represa foi o britânico Sailing Club, em 1917. O Yacht Club Santo Amaro foi fundado em 1930 por um grupo de colonos alemães, que queriam concorrer com os ingleses nas competições realizadas na represa. Nas décadas 1940 e 1950, diversas outras agremiações náuticas fincaram suas âncoras em torno da Guarapiranga. Hoje, elas dividem espaço com escolas que apostam em novos esportes aquáticos. Uma delas é a Tempo Wind Clube. “Existe um preconceito de que a represa é suja e o ambiente é feio, mas essa visão é deturpada”, diz Ricardo Munhoz, dono da escola. Morador dos arredores da represa, Munhoz trocou, há quase 30 anos, a carreira de arquiteto para dar aulas de windsurfe. Hoje, não quer saber de outra vida. “Isso aqui é um paraíso.” A procura de interessados pelas aulas de vela sempre aumenta em anos de Olimpíada. Nesse período, as imagens vitoriosas dos velejadores brasileiros chamam a atenção principalmente de crianças e adolescentes. Numa cidade grande como São Paulo, com escassas opções de lazer ao ar livre, fazer um curso de vela traz as duas coisas juntas

– a esperança de se tornar um atleta de ponta e o prazer de desfrutar da natureza. “Temos 110 alunos, alguns de nível internacional de competição”, afirma Dietrich. As mensalidades do clube giram em torno de R$ 300 por pessoa, além dos R$ 4 mil necessários para a aquisição do título. Os velejadores Marcos Ferrari e Priscila Ralisch sonham em disputar os Jogos Olímpicos de 2016. A dupla compete com um barco de casco duplo (catamarã) e vela ampla, chamado

de água doce recebe principalmente moradores da periferia, que não têm muitas opções de lazer. Se não dá para dizer que a areia é como a do litoral – na Guarapiranga, o que predomina é um barro escuro – o resto do cenário é praticamente o mesmo de muitas praias do Brasil, com direito a churrasco, futebol, cerveja, sorvete, funk no último volume e, lamentavelmente, muito lixo no chão. Mesmo assim, a represa resiste e continua formando cada vez mais campeões.

“Sem a guarapiranga, a vela braSileira não Seria o que é hoje”, diz robert Scheidt, dono de cinco medalhaS olímpicaS, que aprendeu a velejar naS águaS da repreSa Hobbie Cat 16, mais veloz do que de outras categorias. A modalidade de casco duplo, tradicional nos Jogos PanAmericanos, deve se tornar olímpica justamente em 2016. Eles cresceram brincando nas águas da represa e até hoje moram por lá. “Aprendi a velejar na Guarapiranga com o meu pai”, diz Ferrari, de 47 anos. Priscila, de 28, conta que a vida na represa começou com seu bisavô. “A Guarapiranga faz parte da história da minha família.” Ferrari tem uma teoria para explicar a enorme quantidade de talentos saídos das águas da represa. “Como o relevo da região é muito montanhoso, o vento muda muito de direção e de velocidade”, diz. “Na Guarapiranga, um iniciante aprende rapidamente a ver a mudança do vento e a interpretar e intuir essas variações.” Nos fins de semana, os velejadores se acostumaram a dividir a represa com milhares de banhistas (em dias de sol forte, eles podem chegar a dez mil). A praia


sustentabilidade

churrascO, cerveja, futebOl, funk nO últimO vOlume, jOvens, velhOs, crianças E vElEjadorEs: Em dia dE sol quEntE, a rEprEsa rEcEbE até dEz mil visitantEs Em busca dE divErsão


A GUARAPIRANG A EM NÚMEROS 28 QUILÔMETROS dE margEm Em torno da rEprEsa 33 KM/H é a vElocidadE máXima do vEnto na rEprEsa 26,6 KM² é a árEa atual da supErfÍciE da água 13 METROS dE profundidadE máXima 4 MILHÕES dE pEssoas são atEndidas pElo abastEcimEnto dE água da guarapiranga 7 MUNICÍPIOS são atEndidos pEla rEprEsa: cotia, Embu, Embu-guaçu, itapEcErica da sErra, juquitiba, são lourEnço da sErra E são paulo

R$ 10 é o valor dE um passEio dE balsa pEla rEprEsa R$ 1,5 MIL é o valor da mEnsalidadE Em um clubE dE vEla da rEgião fontEs: instituto socioambiEntal (isa), cob, Ycsa,

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esporte em construção


É PRECISO SER FORTE Davi Albino e Antônio Henriques (na outra página) duelam em uma praia do Rio. Abaixo, Albino faz pose para a foto: eles sobrevivem com recursos do Bolsa Atleta

Não é fácil a vida dos atletas brasileiros da luta olímpica, esporte que vai distribuir mais de 50 medalhas Nos Jogos do rio. faltam recursos e a estrutura é precária. mesmo assim, esses gigaNtes Não desistem do soNho de subir ao pódio em 2016 por Bruna narcizo fotos christian gaul


esporte em construção


É impossível permanecer indiferente diante dos homens e mulheres que, vestidos apenas com roupas cavadas, justas e coloridas, se enfrentam sem trégua, como se fossem gladiadores. O objetivo é um só: em três rounds de dois minutos cada, imobilizar o oponente de costas para o chão. Tem gente que acha divertido. Há quem considere indecorosa a exibição dos corpos. Outros reclamam da falta de plasticidade dos golpes. Alguns adoram esse tipo de disputa. Seja o que for, a luta olímpica merece mais exposição, e por uma única razão: ela distribui 54 medalhas, das quais 18 são de ouro – é só um pouco menos do que as 23 que o Brasil ganhou em toda a história. O esporte, que é dividido em duas categorias (luta livre e greco-romana), tem recebido cada vez mais recursos oficiais, embora esteja ameaçado de ficar de fora da Olimpíada de 2020 (saiba mais na seção Painel). Em 2012, os R$ 3,6 milhões desembolsados pelo governo federal representaram mais do que o triplo do que foi investido em 2011. Ainda é muito pouco. “Ficamos com uma fatia muito pequena do bolo”, diz Roberto Leitão, superin-tendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA). Será um desafio imenso formar competidores em condições de ganhar medalha em 2016. O Brasil não tem tradição no esporte, que faz parte do programa olímpico desde a primeira edição dos Jogos da Era Moderna, em 1896. Os lutadores brasileiros estrearam em competições internacionais mais de 80 anos depois, em 1978, no Campeonato Mundial do México. De lá para cá, muita coisa aconteceu, mas a categoria só avançou um pouco com a criação da CBLA, em 2001. Hoje, a luta olímpica conta com 2,5 mil praticantes no Brasil, dos quais 600 são mulheres. Do total de

ELES SÃO POUCOS Antônio Henriques, Davi Albino e Diego Romaneli (da esq. para a dir.): o Brasil só tem 20 lutadores em condições de disputar competições internacionais


esporte em construção

2,5 MIL PESSOAS PRATICAM LUTA OLÍMPICA NO BRASIL E SÓ 600 SÃO MULHERES. COMO FALTA QUANTIDADE, O PAÍS NÃO CONSEGUE PRODUzIR QUALIDADE competidores, 60% estão no estilo livre e os 40% restantes, na modalidade greco-romana. Segundo o diretor da Confederação, o País está muito distante das potências do esporte, em especial Rússia, Japão e Irã, mas os atletas nacionais vêm, aos poucos, diminuindo a diferença técnica para os principais rivais. É dura a vida dos brasileiros que decidiram levar a luta olímpica a sério. “Não vivo do esporte”, diz Antônio Henriques, o Tonhão, um gigante de 2,10 metros de altura e 120 quilos, que faturou a medalha de prata no campeonato sul-americano disputado em Lima, no Peru, em novembro do ano passado. “Tenho que complementar a renda do Bolsa Atleta com aulas de spinning em uma academia de Curitiba.” Tonhão praticava judô e teve o primeiro contato com a modalidade em 1995, em Bastos, no interior de São Paulo. “No começo, não me interessei”, diz. Foi só depois do casamento e a consequente mudança para Curitiba, em 2006, que conheceu a luta olímpica. Como nesse esporte tamanho é documento, ele se deu bem, rapidamente se tornando o principal brasileiro de sua categoria. Em 2011, teve a maior decepção da carreira. Contundido, perdeu os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. “Fiquei chorando

64 MARÇO 2013 | ISTOÉ 2016

uma semana no colo da minha mãe”, diz o gigante, hoje com 35 anos. Tonhão guarda certa amargura da vida de atleta. Conta que seu casamento fracassou porque dedicou tempo demais para as arenas. “Saí de um relacionamento com uma mulher maravilhosa, que me deu uma filha linda, por estar mais preocupado em ser atleta do que em dar atenção para ela.” Por ser veterano, está preocupado com o futuro. “Vida de atleta é temporária”, afirma. “Estou estudando para prestar concurso para a Polícia Federal.” Tonhão é a maior estrela nacional do estilo greco-romano, modalidade em que só é permitido usar os braços e o tronco para atacar e imobilizar o adversário. No estilo livre, o uso das pernas é admitido. Golpes baixos, estrangulamentos, dedo no olho do adversário e puxões de cabelo são vetados nos dois casos. Atualmente, apenas 20 atletas brasileiros, entre eles Tonhão, são considerados de ponta e ganham em média R$ 8 mil por mês, valor que inclui o dinheiro do Bolsa Atleta, ajuda de custo de clubes e patrocínios eventuais. As histórias são as mesmas que se repetem em outros esportes País afora. Os atletas têm que abdicar da convivência com a família para morar em alojamentos muitas vezes precários e treinar em condições distantes das ideais.

É o caso de Davi Albino. Melhor brasileiro na categoria até 96 quilos, o lutador de 26 anos mora no alojamento da CBLA, no Rio. “Abri mão de viver com a minha família porque não tinha apoio financeiro em São Paulo”, diz. “Não me importo, porque meu grande sonho é a medalha olímpica.” O interesse do atleta no esporte veio de uma aflição da avó. Moradora do Capão Redondo, bairro de periferia na Zona Sul paulistana, ela queria que o neto ficasse fora de encrencas e o obrigava a ocupar as horas vagas com atividades físicas. “Eu fazia capoeira e judô e, no ano 2000, um professor viajou para os Estados Unidos e teve contato com a luta olímpica. A identificação foi imediata.” Hoje, David é pentacampeão brasileiro adulto e tricampeão sul-americano. O judô parece ser mesmo o esporte formador dos lutadores olímpicos brasileiros. Como Tonhão e Davi Albino, Diego Romanelli, campeão brasileiro na categoria até 60 quilos, começou a vida esportiva encaixando ippons. Por influência de um treinador, enveredou para a luta olímpica. Aos 21 anos, ele também mora no alojamento da CBLA, no Rio, mas não reclama das dificuldades, que incluem ficar longe da namorada, moradora de Itamonte, no interior de Minas Gerais. É mesmo uma batalha a vida dos lutadores olímpicos do Brasil.


ESCASSEz Campeão brasileiro na categoria até 60 quilos, Diego Romanelli mora em um alojamento da Confederação Brasileira de Lutas Associadas


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66 março 2013 | istoÊ 2016



Bola dentro, mas o jogo é sofrido ApesAr de levAr oportunidAdes e trAnsformAr A vidA de milhAres de brAsileiros, ongs criAdAs por ex-AtletAs AindA sofrem com o excesso dA burocrAciA e A indiferençA de muitAs empresAs pArA viAbilizAr projetos durAdouros por marco Zanni

ALEGRIA Ana Moser e crianças atendidas por seu instituto: além de núcleos fixos, ela promove caravanas esportivas por todo o País

Fotos: João Castellano/Ag. Istoé


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AnA Moser

InstItuto EsPoRtE E EduCAção orçamento anual: r$ 8 milhões estrutura: 25 núcleos para 8 mil alUnos

Uma das maiores jogadoras da história do vôlei brasileiro, Ana Moser continua falando com tanta firmeza como quando enfrentava as cubanas nos clássicos duelos dos anos 1990. Agora, 12 anos após deixar as quadras, sua ambição é certamente maior do que levar medalhas para casa. “Não quero nada menos que liderar a universalização do esporte educacional no Brasil”, diz. O que seria exatamente isso? Pela proposta do Instituto Esporte e Educação (IEE), ONG criada por ela e que atende oito mil alunos em 25 núcleos espalhados por 71 cidades do País, as crianças entram em contato com a educação física da maneira como ela deveria ser ensinada na escola. Em vez de um professor desinteressado que apenas fornece uma bola para que os estudantes se virem – como acontece na maiorias dos colégios brasileiros –, o instituto de Ana Moser tem educadores

especializados em diversas modalidades que acompanham de perto a evolução esportiva da garotada. “A ideia não é formar superatletas, mas ensinar aos alunos que o esporte é uma parte importante na formação das pessoas”, diz Ana. Entidades como o IEE só existem graças ao trabalho exemplar de alguns dos maiores nomes da história do esporte brasileiro, que deixaram a doce aposentadoria de lado para levar oportunidades a milhares de jovens do País. Com a meta de disseminar seu projeto e “incomodar o poder público”, nas palavras dela própria, há oito anos Ana Moser realiza uma espécie de caravana por vários municípios brasileiros. Nessas ocasiões, sua equipe monta um circo que, no lugar de malabaristas e palhaços, oferece a prática de diversas modalidades esportivas. Em média, essas visitas colocam três mil crianças em contato com a atividade físi-

"o PRobLEMA é quE As EMPREsAs AIndA InvEstEM PoR IsEnção FIsCAL e, coMo não teMos tAntA divulgAção, é uMA bAtAlhA conseguir dinheiro", diz AnA Moser


oRIGEM dos RECuRsos segundo Raí, a dificuldade é que a verba destinada pelas empresas a instituições sociais concorre com o dinheiro do marketing

rA í

GoL dE LEtRA orçamento anual: r$ 5 milhões estrutura: 2 núcleos para 1,3 mil alUnos

ca, além de transmitir a mensagem da importância do esporte para prefeitos e diretores de escolas. “É fazer política com o pé no barro”, diz a medalhista de bronze nos Jogos de Atenas-1996. Apesar da qualidade do projeto, não é simples obter recursos para mantê-lo. O Instituto Esporte e Educação tem orçamento anual de R$ 8 milhões. “O problema é que as empresas ainda investem por isenção fiscal e, como não temos tanta divulgação, é uma batalha conseguir dinheiro”, afirma a craque do vôlei. A educação esportiva tem um papel importante no desenvolvimento do País, mas é preciso lembrar também do impacto social gerado pelas ações das ONGs dos atletas. De um lado, edifícios de luxo, clube de golfe e um condomínio de mansões cercado por montanhas, no bairro de São Conrado. De outro, uma das maiores favelas do País, a Rocinha.

Fotos: João Castellano/Ag. Istoé | sergio Zacchi / valor

É bem na divisa de cenários cariocas tão distintos que existem dois tatames, com direito a arquibancada, e uma pequena academia. Nesse lugar, funciona um dos núcleos do Instituto Reação, ONG do ex-judoca Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas-2004, que hoje atende 1,2 mil alunos de uma das áreas mais pobres da cidade. “Ver a realidade de outros países me fez crescer indignado com as diferenças sociais do Rio de Janeiro”, diz Canto, que nasceu na Inglaterra, acompanhou o pai (um físico nuclear) em seus estudos na Califórnia e não parou de viajar desde os 19 anos, com a seleção brasileira. “No Rio não tem periferia. A gente nasce de cara para o morro, então não dá para fechar os olhos.” Canto teve a ideia de criar o Reação há 12 anos, quando foi eliminado nas seletivas para os Jogos de Sydney-2000. Desiludido com a vida de atleta

profissional, começou a dar aulas de judô em um projeto social na Rocinha. Identificou-se tanto com a atividade que resolveu fundar, com a ajuda de amigos, sua própria ONG. Hoje, ela está presente em diversas comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro (além da Rocinha, atua na Cidade de Deus e Tubiacanga, para citar alguns exemplos). O Reação oferece cursos de inglês e reforço escolar para crianças e jovens de 4 a 25 anos, mas o forte mesmo é o treinamento de judô. “Nos tornamos referência no Brasil”, diz Canto. “No ranking da federação carioca, nossos judocas ocupam o primeiro lugar, à frente de clubes como Flamengo e Vasco.” Se hoje os atletas do Reação são conhecidos – e temidos –, até pouco tempo atrás era diferente. “Quando nossos judocas iam para uma competição, os adversários falavam que os favelados tinham chegado.”


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PAulA

InstItuto PA ssE dE MÁGICA orçamento anUal: r$ 1,1 milhão estrUtUra: 7 núcleos para 780 alUnos

APEsAR dos dEsAFIos PARA obtER RECuRos, CRAquEs do EsPoRtE CoMo AnA MosER, RAÍ, PAuLA E FLÁvIo CAnto contAM coM A credibilidAde conQuistAdA nA cArreirA esPortivA PArA FAzer coM Que os ProJetos desenvolvidos Por suAs ongs seJAM beM-sucedidos De certa forma, a ONG ajudou Flávio Canto a se tornar um atleta mais equilibrado. Com o sucesso do projeto e em paz consigo mesmo, voltou a competir em alto nível, se classificou para os Jogos de Atenas-2004 e trouxe de lá uma medalha de bronze. O curioso é que Canto não foi o único atleta do Reação (claro, na condição de idealizador do projeto) a ir a uma Olimpíada. A carioca Rafaela Silva começou a treinar judô na unidade da Rocinha e, em 2011, se tornou vicecampeã mundial. Depois, conseguiu a vaga para os Jogos de Londres, mas foi eliminada nas oitavas de final. “No começo, eu era uma referência muito forte para os alunos”, diz Canto. “Como tive melhores condições de treinar e estudar, estava distante da realidade local. Aos poucos, construímos outros ídolos, como a própria Rafaela Silva.” É inegável que muito do sucesso dessas ONGs se deve à força da imagem de ídolos do esporte. Basta uma breve caminhada ao lado de Raí pela Fundação Gol de Letra para perceber isso. O camisa 10 da Seleção Brasileira que venceu a Copa de 1994 e foi campeão do mundo pelo São Paulo não consegue dar um passo sem que alguma criança peça um autógrafo. Raí não demorou para ganhar o carinho dos moradores da Vila Albertina, comunidade carente da zona norte de São Paulo. Chegou lá em 1998, quando encontrou um prédio com salas de aula e quadras esportivas tomado por

usuários de drogas. Pediu autorização do governo para comprá-lo, juntamente com o colega Leonardo, também campeão do mundo pelo São Paulo e hoje diretor do Paris Saint-Germain, da França. Em pouco tempo, os dois transformaram o lugar degradado num espaço de educação, esporte e cultura. Atualmente, 900 crianças e jovens saem da escola e passam mais quatro horas diárias recebendo reforço de leitura, aulas de arte, informática e educação física. Por que Raí decidiu criar uma ONG? “Na França, eu me espantei ao ver que a filha da minha empregada estudava na escola da minha filha e tinha o mesmo médico”, diz. “Pensei que poderia fazer algo para mudar a vida de alguns brasileiros.” No começo, Raí e Leonardo colocaram dinheiro do próprio bolso. Para o projeto se expandir, porém, era indispensável obter recursos de outras fontes. “Pedir dinheiro é desgastante e difícil, mas você não pode desistir.” Segundo Raí, o problema é que a verba destinada pelas empresas a instituições sociais concorre com o dinheiro do marketing – e são justamente essas áreas que sofrem cortes em momentos de crise. Para reforçar o caixa da ONG, ele vive promovendo jogos de futebol com a participação de outros jogadores, revertendo o dinheiro dos ingressos para os projetos sociais. Com orçamento anual de R$ 5 milhões, a Gol de Letra atende atualmente 1,3 mil alunos em dois núcle-

os (além de São Paulo, conta com uma unidade no Caju, no Rio de Janeiro). Por ora, novas unidades não estão previstas, principalmente em razão dos entraves burocráticos para a obtenção de recursos. Seis meses como secretária de Esporte de Alto Rendimento no governo federal serviram para mostrar a Magic Paula, campeã mundial de basquete com a seleção em 1994, como a burocracia trava os projetos de longo prazo no Brasil. Quando deixou o cargo, em 2003, reclamou que o dinheiro sempre ficava nas mãos de atletas e confederações de renome e também atacou o desperdício com passagens aéreas e hospedagem de autoridades durante competições. “Trabalhando na ONG, vi que a organização da sociedade é a forma mais eficiente de mudar a realidade.” Em 2004, fundou o Instituto Passe de Mágica, com o objetivo de oferecer a crianças de baixa renda familiar as mesmas oportunidades que ela teve. Nos últimos oito anos, nasceram sete núcleos nas cidades de Diadema, Piracicaba, São Bernardo e São Paulo que oferecem clínicas de basquete a 780 crianças e adolescentes. O objetivo da ONG, financiada principalmente por leis de incentivo, é educacional, mas 20 talentos esportivos já foram encaminhados para clubes. Se no passado recente Ana Moser, Flávio Canto, Raí e Paula deram alegria a milhões de torcedores, hoje eles fazem a diferença na vida de muitos brasileiros.


CESTA: Paula diz que o objetivo de sua ONG é educacional, mas 20 crianças com talento para o basquete já foram encaminhadas para clubes

F lávi o Canto

INSTITu TO REAçãO

OrçamentO anual: r$ 1,2 milhãO estrutura: 5 núcleOs para 1,2 mil alunOs

NOVA GERAçãO A ONG de Flávio Canto já revelou um atleta de ponta para o esporte brasileiro: a judoca Rafaela Silva, que disputou os Jogos Olímpicos de Londres

Fotos: João Castellano/Ag. Istoé


perfil

A p r ef eitA dA Ol imp íAdA

Fã de Nelson Rodrigues, pianista de formação clássica e jogadora de tênis de praia, a executiva Maria Silvia Bastos Marques preside a empresa que tem a dura missão de fazer sair do

papel as obras para o maior evento esportivo do planeta

por Simone Aleixo foto mASAo goto filho

Maria Silvia Bastos Marques recebeu a reportagem da 2016 no Palácio da Cidade, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, num apertado intervalo entre duas reuniões – uma delas com o prefeito Eduardo Paes. A agenda sempre cheia de compromissos é rotina na vida da presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM), órgão criado pela Prefeitura do Rio para coordenar a execução dos projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos de 2016. É um desafio árduo e intenso, não só pelo volume de trabalho, mas também pelo tamanho da responsabilidade. Se uma obra não sair, se o cronograma estourar, se um projeto for mal executado, a conta certamente será pesada. E quem vai pagá-la? Maria Silvia na certa estará na lista de devedores. Antes de a conversa para esta reportagem começar, a executiva parece aflita. “Detesto fotografar”, diz. “É a parte mais difícil de qualquer entrevista.” Durante a sessão de fotos, ela demonstra estar impaciente com o calor (que poderia “estragar a maquiagem e o cabelo”), mas logo o incômodo é vencido pelo lado mais evidente de sua personalidade: o profissionalismo. Maria Silvia atende com sorrisos aos pedidos do fotógrafo e desanda a falar sobre o desafio de preparar o Rio para receber a Olimpíada, a pouco mais de três anos e meio de distância. 72 março 2013 | istoé 2016


olho no futuro A executiva diz que o maior desafio de seu trabalho ĂŠ tornar o rio uma cidade melhor para se viver


perfil

A Empresa Olímpica conta atualmente com uma equipe de cerca de 70 pessoas que se dedicam exclusivamente aos grandes eventos que a cidade receberá, trabalhando para que todas as obras e ações sejam realizadas dentro do prazo. A prefeitura tem 80 projetos para implementar, entre instalações esportivas e construções ligadas à mobilidade urbana. Na lista das principais atribuições de Maria Silvia está o cumprimento dos requisitos definidos pelo Comitê Olímpico Internacional, a comunicação com as federações esportivas estrangeiras e a interface com as diversas secretarias municipais envolvidas com a Olimpíada. Na condição de presidente da EOM, Maria Silvia é subordinada apenas ao prefeito Eduardo Paes. Ela não cumpre horários. Trabalha o tempo que for necessário, no escritório, em reuniões externas, pelo iPad ou pelo celular. “Gosto de dar suporte a quem trabalha comigo, mas sou firme e sei cobrar”, diz a executiva. “Tem que ser assim, senão não funciona.” Por seu papel vital na organização dos Jogos, Paes passou a chamá-la de “prefeita olímpica”, um apelido que faz jus ao tamanho da encrenca que tem pela frente. O convite para assumir o posto de Autoridade Municipal Olímpica veio quase simultaneamente à sua saída da presidência da Icatu Seguros, em abril de 2011, cargo que Maria Silvia ocupou durante cinco anos. Ela conta que, de início, recusou o chamado de Eduardo Paes, mas logo reconsiderou. Apesar de nunca ter trabalhado no ramo esportivo,

a executiva achou que sua capacidade de articulação e a ampla rede de contatos poderiam ser úteis no novo desafio. “Primeiro eu não quis porque estava num momento difícil da minha vida”, diz. O momento a que se refere é a piora no estado de saúde de seu marido, o jornalista Rodolfo Fernandes, que morreu no dia 27 de agosto de 2011 em decorrência de uma doença neurodegenerativa. A executiva havia tomado posse como presidente da Empresa Olímpica Municipal no início daquele mesmo mês e precisou de muita força para seguir adiante. Como gestora, Maria Silvia tem uma extensa ficha de serviços prestados. No cargo de secretária da Fazenda na gestão de Cesar Maia, entre 1993 e 1996, conseguiu contornar uma situação dramática no caixa do Rio. No final de seu mandato, deixou um crédito de US$ 1 bilhão nos cofres do município. O feito, considerado inédito até então, deu projeção nacional à executiva, que ficou conhecida como “A Mulher de um Bilhão de Dólares.” Não foram poucos os apelidos que ganhou na carreira. Na condição de primeira e única representante do sexo feminino a ocupar a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de 1996 a 2002, foi chamada de “Dama de Aço”. Pelo seu desempenho à frente da CSN, chegou a ser incluída na lista das mulheres mais poderosas do mundo da revista americana “Fortune”. Antes disso, no governo Collor, participou da renegociação da dívida externa, como funcionária da Secretaria Especial de Política Econômica do Ministério da

Fazenda, além de ter sido diretora-financeira da Área Externa e de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Não à toa, Maria Silvia conquistou admiradores em diversas áreas. “Ela é uma pessoa que vê a vida como um desafio sempre prazeroso”, diz o diplomata Jorio Dauster, que, entre outras atividades, foi o tradutor para o português de duas das mais reverenciadas obras literárias do século XX (“Lolita”, de Vladimir Nabokov, e “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger). “Sua competência técnica só é superada por seu espírito de afirmação e entusiasmo.” Dauster conheceu Maria Silvia em 1990, quando montou a equipe para negociar a dívida externa brasileira. “Ela deu uma excelente contribuição e ajudou o País a sair da moratória”, afirma Dauster. “Nossa amizade se cristalizou nas tensas tratativas com os credores.” Humorista do grupo Casseta & Planeta, o também amigo Marcelo Madureira é só elogios.

foto: frederic Jean/Ag. Istoé


DIfErEntES Maria Silvia em londres, durante a olimpíada de 2012: "Comparar o projeto de londres com o do rio é um absurdo"

Mãe de gêMeos, MaRia silvia tRata os Filhos coMo pRioRidade. Não Fica uM aNo seM viajaR coM a FaMília e teNta chegaR cedo eM casa paRa veR televisão coM os adolesceNtes de 16 aNos

“Ela tem um lado doce que poucas pessoas conhecem”, diz Madureira. “É uma pessoa muito carinhosa, principalmente com os filhos, e ótima conselheira.” Para uma executiva de ponta como Maria Silvia, supõe-se que o trabalho seja tudo na vida, mas bastam alguns minutos de conversa para perceber que não é bem assim. Ela diz que tem tempo para curtir os filhos, fazer exercícios quase que diariamente, ir à praia, pegar um cinema, cuidar do visual, assistir a seriados e ler muito, um hábito que cultiva com afinco. A pele bronzeada e o amor com que fala da cidade não deixam dúvida: Maria Silvia é carioca de corpo e alma. Na certidão de nascimento, consta que nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, um município de 35 mil habitantes no noroeste do Estado. Filha de um médico e uma professora de piano, primogênita entre quatro irmãos, cresceu numa família de classe média com uma vida bastante diferente da que pode proporcionar hoje aos filhos gêmeos, que moram com ela em um apartamento de frente para a praia na avenida Vieira Souto, em Ipanema. Olavo e Catarina têm 16 anos, a mesma idade que Maria Silvia tinha quando deixou Bom Jesus para cursar administração pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio. Enquanto os filhos sempre estu-daram em colégios privados – atualmente cursam o ensino médio em uma tradicional escola católica –, a mãe deve boa parte de sua formação a instituições públicas de ensino. Boa aluna, sonhava em seguir carreira acadêmica, desejo que, de certa forma, foi saciado com o mestrado e o doutorado em economia.


perfil

Morar no Rio sempre foi uma prioridade. Para isso, estudava escondida e chegou a fazer curso por correspondência para passar no vestibular. “Sempre gostei muito da cidade”, afirma “Durante a infância, vim muito para cá e, desde cedo, decidi que não queria ficar no campo. Então tive que me empenhar.” Quando enfim se mudou para o Rio, acompanhada do irmão Ruy, dois anos mais novo, Maria Silvia foi aos poucos abandonando uma das grandes paixões, herdada da mãe: a música. Formada em piano clássico, ela estudou o instrumento dos 5 aos 18 anos, mas confessa que há muito tempo deixou de praticar com disciplina, embora ainda mantenha um meia-cauda em casa: “Alguma coisa tinha que sobrar.” A carreira de economista rapidamente deslanchou, mas Maria Silvia não deixou de lado a vida familiar. Teve os gêmeos aos 39 anos, fruto da união com o também economista Sergio Werlang. Detalhe: ela estava grávida de quatro meses quando foi chamada para comandar a Companhia Siderúrgica Nacional. Na época, tirou apenas um mês de licença-maternidade, mas assegura que nunca teve problemas em conciliar a vida privada com o trabalho. “Ou você consegue fazer as coisas de uma forma harmônica ou então não funciona”, diz. “Não dá para viver cheia de culpa. Aliás, nunca entendi culpa de quê. De estar trabalhando? Não faz sentido alguém se sentir culpada por isso. Acho que os filhos, pelo contrário, são orgulhosos de ter uma mãe que está produzindo.” Maria Silvia dá um exemplo de como eles são prioridade em sua vida: “Ja interrompi

reuniões com o prefeito para atender ligações dos meus filhos”. O convívio familiar é intenso. Os três jantam juntos praticamente todos os dias, comem fora uma vez por semana e viajam pelo menos uma vez por ano. Além disso, gostam de se reunir para ver seriados na tevê. Com Olavo, Maria Silvia acompanha “The Mentalist”, uma série policial. Com Catarina, vê o musical “Glee” e todos se juntam no sofá para assistir à comédia “Modern Family”. O tempo que sobra só para ela é ocupado pelas atividades físicas, na parte da manhã, e pela leitura, à noite. Duas vezes por semana Maria Silvia joga beach tennis (modalidade praticada com raquetes parecidas com as de tênis) na Praia de Ipanema, ocupação que reveza com aulas particulares de ioga. O restante da semana, alterna entre musculação – na sala de ginástica de seu próprio apartamento – e corridas na areia ou no calçadão. Antes de dormir, Maria Silvia lê. É apaixonada por biografias, mas ultimamente tem repassado Nelson Rodrigues. Nos últimos meses, leu “A Cabra Vadia”, “A Menina Sem Estrela” e “A Vida Como Ela É”, todos clássicos do dramaturgo. “Isso começou porque, no início do ano passado, li a biografia dele, “O Anjo Pornográfico”, que é maravilhoso, e resolvi comprar tudo de Nelson Rodrigues.” Em uma de suas recentes idas à livraria, abasteceu o estoque com “Barba Ensopada de Sangue”, de Daniel Galera, e uma nova biografia de “Catarina, A Grande”, escrita por Robert K. Massie. Com tantas atividades e a mente sempre em alerta para as preocupações do trabalho, o sono acaba prejudicado. “Nunca dormi bem”, diz. “Tenho muita

insônia e, por isso, deito sempre com um caderninho do lado, em que faço anotações a noite inteira.” De uns tempos para cá, as tais anotações só dizem respeito aos projetos ligados à Copa do Mundo e, principalmente, à Olimpíada no Rio. Ela não consegue parar de pensar em soluções para que tudo dê certo e se irrita quando dizem que o Brasil não vai conseguir realizar grandes eventos. “A gente gosta um pouco de superestimar a capacidade de outros lugares”, afirma. “Comparar o projeto do Rio com o de Londres é um absurdo, porque são coisas totalmente diferentes. Londres é uma cidade pronta, madura. Lá, o projeto olímpico foi muito mais de inspiração e, no máximo, de regeneração de uma área degradada da cidade.” No Rio, diz ela, será o oposto. “O nosso projeto abrange tudo. Estamos construindo infraestrutura. É muita coisa sendo feita ao mesmo tempo, tanto pelo setor público quanto pelo privado.” Vai dar certo? “Hoje não estamos com nenhum sinal vermelho.” A presidente da Empresa Olímpica Municipal acha que sua principal missão é tornar o Rio um lugar melhor para se viver. “O maior legado da Olimpíada será a transformação do Rio de Janeiro.” A obstinação de Maria Silvia e sua inegável capacidade de trabalho encantaram o prefeito Eduardo Paes. “A Maria Silvia representa perfeitamente esse novo momento do Rio”, diz Paes. “É um orgulho para a nossa gestão contar com uma profissional como ela.”

76 março 2013 | istoé 2016

fotos: Shutterstock | Divulgação


Mãos à obra

Os principais projetos coordenados pela empresa Olímpica municipal, presidida por maria Silvia

Po r t o Maravi lh a

Parqu e o líMPiCo

Porto olíMPiCo

O que é: consiste na reestruturação da região histórica do Rio de Janeiro e uma de suas principais portas de entrada. As obras abrangem uma área de cinco milhões de metros quadrados, incluindo os bairros da Saúde, de Gamboa, do Santo Cristo e parte do Caju, de São Cristóvão e do Centro

O que é: uma das principais instalações esportivas para 2016. durante o evento, o local receberá competições de 14 modalidades olímpicas e 9 paraolímpicas. Após os Jogos, 75% da área do Parque será reestruturada, atendendo à contínua expansão urbana da região da barra da tijuca

O que é: uma área de 145 mil metros quadrados dentro do Porto do Rio de Janeiro. no local serão construídos vilas para acomodações de turistas, hotéis e centro de convenções

ObRAS em andamento PReviSãO de COnCluSãO junho de 2016 inveStimentO eStimAdO r$ 7,7 bilhões

ObRAS em andamento PReviSãO de COnCluSãO janeiro de 2016 inveStimentO eStimAdO r$ 1,4 bilhão

ObRAS em andamento PReviSãO de COnCluSãO dezembro de 2015 inveStimentO eStimAdO r$ 570 milhões

Co nt r ol e d e en C hent es da P r aç a d a b a ndei r a

saMb ódroMo

Pa rqu e dos atletas

O que é: o local, que sofre de recorrentes problemas de inundação, será a principal ligação entre o estádio do maracanã, palco das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, o estádio Olímpico João Havelange e o Sambódromo

O que é: principal palco do Carnaval do Rio, o Sambódromo receberá as provas da maratona e tiro com arco. A reforma ampliou em 12,5 mil o total de lugares disponíveis para o público. Agora, o sambódromo acomoda 75 mil pessoas

O que é: inaugurado em 2011 com a volta do "Rock in Rio" à cidade, o espaço de 250 mil metros quadrados servirá, durante a Olimpíada, de área de lazer para os esportistas, com quadras esportivas, ciclovias, estações para ginástica e musculação, playgrounds, quiosques, banheiros e vestiários

ObRAS em andamento PReviSãO de COnCluSãO dezembro de 2013 inveStimentO eStimAdO r$ 163,6 milhões

ObRAS concluídas inveStimentO r$ 65 milhõeS

ObRAS concluídas inveStimentO r$ 40 milhões



medicina

Ney Pecegueiro: Formado pela Faculdade Souza Marques de Medicina, fez mestrado em ortopedia na UFRJ. Hoje, é chefe de ortopedia e traumatologia do Hospital Miguel Couto e médico do Hospital Universitário da UFRJ. Trabalha com duas equipes de vôlei: a Unilever (feminina) e a RJX (masculina), além de ser médico da seleção brasileira adulta masculina de vôlei.


*TRADUÇÃO: Eles consertam o que o esporte estraga. O título acima foi escrito de próprio punho, a pedido da 2016, pelo ortopedista Benjamim Olitallo

por Natalie Gedra ilustrações daNiel viNceNt

Quem são os principais médicos de esporte do Brasil, como eles traBalham e por Que são fundamentais para a construção de carreiras vitoriosas

SorriSoS, aplauSoS e SaltinhoS de comemoração. Aos 35 anos, Maurren Maggi atingia no Grande Prêmio São Paulo de atletismo de 2011 a segunda melhor marca do mundo no salto em distância, com um impressionante pulo de 6,89 metros. Eufórica e assediada por jornalistas, ela abandona os microfones que a cercam, caminha e, aos prantos, irrompe em um emocionante abraço. Não na filha ou no treinador. A presença que fez a campeã olímpica desabar foi a de seu médico. “Devo metade da minha carreira a ele, sem dúvida nenhuma”, diz a atleta. Ele é Moises Cohen, mestre e doutor em ortopedia e traumatologia pela Escola Paulista de Medicina. “Em vários momentos da minha vida, eu não teria saltado de novo se não fosse pelo doutor Moises”, afirma Maurren. “Se ele falar que eu tenho que tirar um dedo do pé para saltar mais, eu tiro.”

Foto: Masao Goto FIlho/Ag. ISTOÉ

A confiança é o alicerce de qualquer relação entre médico e paciente. No esporte, ela é levada às últimas consequências, considerando que a figura de jaleco branco pode salvar uma carreira ou anunciar o fim de tudo. “Em certos casos, alguns atletas ficam mais dependentes do médico do que o paciente comum, e surge a amizade”, diz Cohen. Maurren e o médico se conhecem desde 1996, quando ela ainda dava seus primeiros saltos no Centro Olímpico do Ibirapuera, em São Paulo, onde ele tem até hoje um projeto que dá assistência a atletas carentes. Foi Cohen o responsável por operar o joelho de Maurren em setembro de 2009, quando ela já tinha 33 anos. “A última coisa que a gente quer é a cirurgia, então eu sei que ele não me operaria se realmente não precisasse”, diz a esportista. Maurren afirma que Cohen é a única pessoa que ela autorizaria a operá-la. “Pena que ele não faz cirurgia plástica”, brinca.


medicina

Entrar na faca costuma mesmo ser motivo de relutância entre esportistas, especialmente os mais velhos. Rogério Ceni, goleiro e ídolo do São Paulo, tinha 36 anos quando realizou a primeira cirurgia, no tornozelo, em 2009. Três anos depois, ainda veio o procedimento cirúrgico no ombro. Tudo sempre comandado pelas mãos de René Abdalla. “Ao contrário do que dizem, o Rogério nunca teve medo de cirurgia”, diz o médico. Segundo Abdalla, uma vez que o atleta esteja convencido de que a operação é a única saída, ele trabalha como se fosse para chegar a um título mundial. “Se ele confia, vai até o fim com você, e é de uma dedicação impressionante”, afirma. Após as cirurgias, Rogério fazia fisioterapia em três períodos e comparecia ao Centro de Treinamentos do São Paulo de domingo a domingo. Chegou até a montar uma espécie de academia em casa para realizar os exercícios. Para Abdalla, o trabalho de recuperação é facilitado pelo fato de o goleiro do São Paulo conhecer muito bem o próprio corpo. “Uma vez, ele cismou que um parafuso do tornozelo estava incomodando e eu pensava que isso não era era possível”, diz o médico. O resultado foi que, com o parafuso removido, a dor sumiu. “Eu aprendi medicina esportiva com o Rogério”, afirma o médico, que também é professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina. “Ele é um gênio em sua área e seria impossível ensinar algo pra ele”, retruca Rogério, que valoriza, porém, a troca de conhecimento do período pós-operatório. Para o atleta do São Paulo, a constante conversa entre médico e paciente é vantajosa para ambos os lados da relação. “Isso desperta no paciente o interesse pela medicina, ao mesmo tempo que permite ao médico um retorno de informações que podem ajudar em outras cirurgias”, diz o goleiro.

Clientes ilustres como Rogério Ceni e o atacante Luís Fabiano tornaram o nome de Abdalla conhecido. É inevitável: em casos de maior repercussão, a fama dos pacientes acaba se estendendo ao profissional da saúde. “O fato de eu operar atletas de futebol tem uma penetração impressionante na população”, diz o médico. “O palmeirense da banca de jornal me adora e, no restaurante, o garçom até me trata melhor.” A exposição nem sempre é positiva. Moises Cohen, o médico de Maurren, reclama do caso em que um veículo de imprensa colocou palavras em sua boca sobre um atleta que ele nem sequer tinha tratado. “Uma vez que essa informação é publicada, seu nome como médico sai prejudicado.” A vida de celebridade – para o bem e para o mal – é relativamente nova. Menos de duas décadas atrás, o trabalho dos médicos esportivos era visto com receio até mesmo dentro dos clubes e confederações. Hoje, além de muito requisitados, eles encontraram um caminho profissional rentável: uma consulta para um doutor desse nível pode custar até R$ 700. “Quando eu trabalhei no São Paulo, o Telê Santana não aceitava que um atleta que corria em volta do gramado não estivesse apto a jogar”, diz Cohen. “Para ele, jogador que estava no campo já poderia ser escalado.” O avanço da medicina esportiva contribuiu para que esses profissionais recebessem um voto de confiança. “O atacante Grafite teve um

problema de instabilidade lateral no joelho direito e essa foi a lesão mais grave que eu operei no futebol”, diz Abdalla. Na época, em 2005, o problema pouco conhecido atraiu a atenção de outros médicos. “Havia 12 pessoas na sala de cirurgia, só observando”, afirma o médico. A evolução da medicina não impede que casos inusitados teimem em aparecer. Em junho de 2011, um ano antes da Olimpíada de Londres, a ponteira Natália, da seleção brasileira de vôlei, foi submetida a uma cirurgia para a retirada de um raro tumor na canela. Seis meses depois, o tumor benigno voltou e ela teve que operar novamente. “Apesar de não ser um caso comum, foi relativamente tranquilo tratá-lo e muito disso se deve à postura da própria Natália”, afirma o médico Ney Pecegueiro, que supervisionou todas as etapas da recuperação da atleta. Segundo ele, a postura positiva e cooperativa do esportista é essencial para um bom retorno. Natália, que diz sempre ter sido uma “pessoa muito calma”, revela que contou com a franqueza do médico: “O Ney não mentiu e eu quase não chorei”, diz. Para a jogadora de vôlei, as boas referências de outros atletas foram essenciais na decisão de operar. “Isso me ajudou a manter a calma durante todo o processo.” Seja pela atitude positiva, seja pelas técnicas da medicina, Natália conseguiu se recuperar a tempo de disputar os Jogos de Londres e ajudou a seleção feminina a conquistar o bicampeonato olímpico.

Fotos: Gabriel Chiarastelli


Há 11 anos, Pecegueiro trabalha também com a seleção masculina de vôlei e está mais do que habituado a lidar com a pressão de tratar grandes vencedores. “Os atletas, de fato, têm uma demanda muito maior”, afirma. “Eu tenho paciente que fica feliz por simplesmente conseguir voltar a andar.” Pecegueiro diz que um dos conselhos que dá aos médicos mais novos é que eles não podem virar fãs daqueles que tratam. “Você tem que saber o seu lugar dentro da equipe, porque muitas vezes terá de tomar decisões difíceis.” O médico Breno Schor, por exemplo, teve 15 minutos para decidir se a judoca Mayra Aguiar estaria apta para a disputa da medalha de bronze em Londres depois que sofreu uma lesão nos ligamentos do cotovelo esquerdo nas semifinais. “Eu disse: ‘Mayra, vai e acaba logo com essa luta’”, lembra Schor. Na última Olimpíada, ele também esteve ao lado dos tablados, como médico da Confederação Brasileira de Ginástica. Para ele, foi uma realização profissional e pessoal: Schor foi atleta da seleção brasileira de ginástica artística e, aos 22 anos, com uma grave lesão no ombro, viu-se obrigado a largar o esporte. “Nunca escondi de ninguém que eu tinha uma frustração por não ter ido a uma Olimpíada como atleta”, diz Schor. “A medicina me ajudou a realizar esse sonho.” O conhecimento de causa faz a diferença no trabalho com os atletas. “É muito difícil um médico saber o nome

AS LESÕES DE cA DA eSPorTe > Joelho: judô (ligamento cruzado anterior), vela, atletismo e basquete (tendinite), futebol (menisco e ligamento cruzado anterior), vôlei (tendinite e ligamento cruzado anterior) > ombro: judô (lesões no ligamento), vela e vôlei (tendinite), ginástica (tendinite e ligamentos) > cotovelo: judô (lesões no ligamento e luxações) > mãos: basquete e vôlei (luxações nos dedos) > coluna: ginástica e vela (lesões na lombar por estresse) > tornozelo: ginástica, vôlei, basquete e futebol (entorses), atletismo (ruptura do tendão de aquiles) > perna: atletismo (lesões musculares por sobrecarga e estiramentos)

BreNo Schor: Formado em medicina pela USP, é especialista em cirurgia de ombro e cotovelo. Fundou o Instituto Vita Care, que presta serviço a atletas de alta performance, e é médico da Confederação Brasileira de Judô e do Comitê Olímpico Brasileiro. Trabalhou com Sarah Meneses, Mayra Aguiar, Leandro Guilheiro, Tiago Camilo, Diego Hypólito, Danielle Hypólito, Daiane dos Santos e Laís Souza.


medicina

dos exercícios, entender do que eu estou falando”, afirma o bicampeão mundial no solo Diego Hypólito. “Por ele ter sido ginasta, e dos bons, isso facilita muito”, completa Diego, que contou com o acompanhamento de Schor nos últimos dois anos. Não é raro encontrar um médico que também se arrisque como atleta. Além do ginasta Schor, Pecegueiro foi jogador de vôlei dos 15 aos 26 anos e Abdalla não abre mão de uma corrida. Mas nem sempre as empreitadas esportivas dão certo. A paixão de Cohen é o futebol. Como tantos outros boleiros, ele não escapou de uma lesão no joelho. “Vi pelo exame que eu estava com uma lesão no menisco, mas fui enrolando”, lembra, aos risos. Uma manhã, Cohen operava um paciente e o joelho começou a doer. “No final do dia, disse ao meu assistente que estava indo me internar e que ele me operaria de noite”, conta. O jovem médico ficou emocionado. “Como paciente, também dei alegria.”

MoiSeS coheN: Formado em medicina pela PUC-SP, é mestre e doutor em ortopedia e traumatologia pela Escola Paulista de Medicina. Há 14 anos, fundou o Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte. Foi médico do São Paulo por 12 anos. Já passaram pelo seu consultório Raí, Rogério Ceni, Magic Paula, Rubens Barrichello, Lars Grael, Maurren Maggi, Jadel Gregório e, mais recentemente, os atletas de MMA Vitor Belfort, Junior Cigano, Minotauro e Minotouro.

Fotos: pedro Dias/ag. iStoÉ | Calebe Simões


reNé ABDAllA: Professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina e diretor do Instituto do Joelho do HCor. Especialista em joelho, hoje é médico-consultor do São Paulo. Nos últimos anos, tratou de jogadores como Rogério Ceni, Luís Fabiano, Careca, Zetti, Hernanes, Lucas Leiva, André Santos e Dagoberto. 83 março 2013 | istoé 2016


clubes

profissioNal: marco aurélio borges (acima) largou o emprego em ti e passou a se dedicar integralmente ao arremesso de disco paraolímpico graças ao sesi. gustavo guimarães (ao lado) dispõe da melhor estrutura para prática do polo aquático na américa latina


INDÚSTRIA D E

P O N T A

POR JULIANNA GRANJEIA FOTOS TONI PIRES

Com inVeStimentoS milionÁrioS e programaS De profiSSionaliZação De atletaS, o SeSi, Clube ligaDo À fieSp, Se torna um DoS granDeS formaDoreS De eStrelaS olímpiCaS Do braSil


clubes

Se foSSe um paíS, o clube Sesi-SP teria voltado da Olimpíada de Londres, em 2012, à frente do próprio Brasil no quadro de medalhas. Com quatro ouros (considerando o número de atletas que integravam a seleção de vôlei feminino) e três pratas (no vôlei masculino), a agremiação ocuparia a 20a posição geral, também à frente de delegações como Espanha e Quênia. Se você acha a comparação injusta, já que somamos medalhas de esportes coletivos, saiba que, com um ouro e uma prata, o clube ainda teria se dado melhor do que nações como Venezuela e Índia e empataria com a República Dominicana na 46ª colocação. O mais impressionante é que tudo isso foi obtido com apenas três anos de investimentos, tempo suficiente para que o Sesi emplacasse 17 atletas nos Jogos Olímpicos. Para 2016, o clube planeja saltos ainda maiores. “Queremos ajudar o Brasil a criar novos talentos no esporte”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que também dirige o Sesi, sigla para Serviço Social da Indústria. São 13 modalidades de alto rendimento espalhadas em 11 unidades no Estado de São Paulo: polo aquático, rúgbi, atletismo, atletismo paraolímpico, basquete, bocha paraolímpica, luta olímpica, judô, natação, maratona aquática, triatlo, vôlei paraolímpico e vôlei. De um total de 652 atletas contemplados pelo projeto, 85 já foram convocados para seleções brasileiras. Embora a face mais vitoriosa desse programa esteja nas seleções de vôlei – Murilo, Sidão, Serginho, Fabiana, Dani Lins, Tandara e Sassá estiveram em Londres –, o Sesi também emplacou outros dez atletas na delegação paraolímpica e espera, nos próximos meses, colher os primeiros frutos da safra de novos talentos. “São alunos que começaram o projeto aqui no Sesi e serão convocados para os times adultos”, diz Skaf. Um deles é Luís Felipe Ricci Maia, 17 anos, armador da 86 março 2013 | istoé 2016

equipe de basquete do Sesi, com base em Franca (interior de São Paulo), que já foi convocado pela seleção sub-17 e sub-18, categoria em que se tornou vice-campeão continental. No último ano do ensino médio, Maia treina todos os dias para alcançar sua meta: ser convocado para a Olimpíada do Rio. “Ainda está distante, tenho que passar por muita coisa, mas estou focado em 2016”, afirma o atleta. “Toda a estrutura aqui, da formação integral ao planejamento da carreira, está voltada para isso”, diz ele, que em 2011 recebeu o prêmio do Sesi de estímulo aos melhores atletas de cada unidade. Planejamento e assistência em todas as etapas do processo de formação são o segredo do Sesi para gerar atletas vitoriosos. “O Sesi é uma das poucas equipes do Brasil em que a gente treina dois períodos por dia”, diz Gustavo “Grummy” Guimarães, 18 anos, jogador da equipe de polo aquático do clube e integrante da seleção brasileira. “Além disso, oferece um trabalho de prevenção de lesões, estrutura com psicóloga e terapeuta.” Para se ter uma ideia da força do projeto olímpico do clube, Grummy deixou o Pinheiros – equipe que tem algumas das maiores estrelas dos esportes aquáticos do Brasil – para se juntar ao Sesi, em 2010. “O trabalho do clube também é muito importante para a seleção, porque é nele que o atleta se desenvolve tecnicamente”, afirma Grummy. O Sesi é a

única agremiação da América Latina a contar com uma piscina oficial de polo aquático. Também oferece salas de musculação exclusivas para os atletas do polo e do vôlei. Nos últimos três anos, o investimento em atletas chegou a R$ 25 milhões. Também foram gastos R$ 125 milhões em quadras, campos de futebol e piscinas e outros R$ 8 milhões com o PAF (Projeto Atletas do Futuro), que possui 51 mil alunos matriculados em 104 municípios em São Paulo. Aline da Silva Ferreira, 25 anos, é adepta de uma modalidade quase desconhecida no Brasil. Entre as premiações da atleta de luta olímpica do Sesi, com base em Osasco (SP), estão uma medalha de bronze no Campeonato Aberto Internacional Grand Prix e uma de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011.“Chega uma idade, com 17 ou 18 anos, em que você tem que escolher se vai trabalhar ou se dedicar ao esporte”, diz. “Eu tive sorte de sempre ter oportunidade e pude ser atleta.” Segundo Aline, a estrutura e o capital humano oferecidos pelo clube são essenciais para que os resultados venham: “No Sesi, meu técnico é de Cuba, que é um país com experiência em luta, e tenho salário”. Essa escolha entre trabalho formal e dedicação ao esporte é uma das mais cruéis em um país com poucas ou mal aproveitadas políticas públicas de incentivo. O Sesi,

Nos últimos três aNos, o iNvestimeNto do sesi em atletas chegou a r$ 25 milhões. também foram gastos r$ 125 milhões em quadras, campos de futebol e pisciNas e outros r$ 8 milhões com o Projeto AtletAs do Futuro, que contA com 51 mil Alunos


regata DomyoS (www.decathloN.com.br) • têNis olimpikuS (www.olimpikus.com.br)

capital humaNo o técnico de aline ferreira, atleta de luta olímpica, vem de cuba, um dos países com mais tradição nesse esporte. "eu tive sorte e oportunidade", diz a esportista, que recebe salário do sesi


clubes

mantido com contribuições mensais compulsórias das indústrias brasileiras, oferece a chance para que atletas possam se profissionalizar e viver do esporte. De maneira bastante incomum, o clube não faz distinção entre esportes olímpicos e paraolímpicos. Marco Aurélio Borges, 34 anos, mais conhecido como Marcão, é prova disso. Foi graças ao Sesi que ele deixou de ser profissional de tecnologia da informação (TI) para se tornar um dos cinco melhores do mundo no lançamento de disco paraolímpico. Marcão era motoboy e, em 1998, após sofrer um acidente, teve a perna direita amputada abaixo do joelho. Formou-se em ciências da computação e conheceu o esporte paraolímpico como a maioria dos atletas da categoria: na fisioterapia. Em 2005, participou do primeiro campeonato de atletismo e foi campeão brasileiro de lançamento de disco. Na época, Marcão trabalhava na área de TI do Sesi São Paulo e treinava à noite ou

nos fins de semana. Três anos depois, e já decidido a investir na carreira de atleta, foi convocado para a Paraolimpíada de Pequim e alcançou o nono lugar. Nessa época, o Sesi resolveu investir em esporte de alto rendimento e convidou Marcão para ser transferido da área de tecnologia para focar seus esforços no atletismo. “Sou atleta contratado e vivo exclusivamente disso”, diz. “O Sesi manteve meu salário de acordo com minha profissão, enquanto a maioria dos atletas profissionais vive do bolsa-atleta do governo federal, que pode variar de R$ 900 a R$ 3 mil.” Marcão é atleta com carteira assinada e usa uma prótese de última geração, que não era paga pelo SUS e foi custeada pelo Sesi. Treina cinco vezes por semana, de quatro a seis horas por dia, e, na Paraolimpíada de Londres, conseguiu a sexta colocação, a melhor de sua carreira. Especialista em medicina do esporte e do exercício pelo Hospital das Clínicas

da USP, Gustavo Magliocca vê com bons olhos essa forma de investir em esporte: “Projetos como esse do Sesi serão responsáveis por formar atletas melhores, com direcionamento para a inteligência esportiva”, diz. “É a hora de esses atletas que estão sendo formados aparecerem e de melhorarmos nosso desempenho na próxima Olimpíada.” Magliocca conhece bem esse tipo de iniciativa. Ele é integrante do PRO 16, projeto de excelência em natação idealizado pelo nadador Cesar Cielo em 2011 e que foi responsável por trazer Thiago Pereira de Los Angeles de volta ao Brasil. O caminho para a construção de uma nação olímpica é longo, depende de muitos fatores e vontades, mas, acima de tudo, precisa de investimentos bem direcionados no médio e longo prazo. O Sesi é uma das pontas desse processo, que mostrará sua real eficácia no Rio de Janeiro, em 2016.

o s Nú meros d o se s i > criação: 1946 > 17 atletaS em loNdres-2012, maiS Do que paíSeS como peru (16) / uganDa (16) / albânia (11) / filipinaS (11) / CoSta riCa (11) / líbano (10) / paraguai (8) > 7 meDalhaS ConquiStaDaS (quatro ouros e três pratas), o mesmo que méxiCo / geórgia e mais que ÁfriCa Do Sul (6) / noruega (6) / CroÁCia (6) / turquia (5) / Suíça (4) / argentina (4) > Nos últimos três aNos: r$ 25 milhõeS iNvestidos em atletas / r$ 125 milhõeS iNvestidos em iNfraestrutura (quadras, pisciNas e equipameNto)

> 13 moDaliDaDeS ateNdidas luta olímpiCa / triatlo / polo aquÁtiCo / natação / maratona aquÁtiCa / atletiSmo / Vôlei / baSquete / JuDô / rúgbi / boCha paraolímpiCa / Vôlei paraolímpiCo / atletiSmo paraolímpiCo > CentroS De treinamento em 11 CiDaDeS No estado de são paulo > 652 atletaS coNtemplados / 85 coNvocados para SeleçõeS braSileiraS > programa atletaS Do futuro: r$ 8 milhõeS inVeStiDoS / 51 mil alunoS matriCulaDoS / 104 CiDaDeS atenDiDaS > De onDe Vêm oS reCurSoS coNtribuições compulsórias de toda a iNdústria, equivaleNtes a 1,5% Da remuneração paga aoS empregaDoS


iNvestimeNto: com a profissionalização de atletas como marcão, aline e gustavo, o sesi planeja ser um grande formador de campeões para 2016

e l e d i sp utou se te olim PíAd A s o atleta de polo aquático do Sesi Gustavo “Grummy” Guimarães carrega no DNA a história olímpica. Seu avô João Gonçalves Filho foi a sete Olimpíadas (cinco como atleta e duas como técnico). Gonçalves disputou a natação em Helsinque-1952 e Melbourne-1956 e o polo aquático em Roma-1960 (junto com a natação), Tóquio-1964 e Cidade do México-1968. Em Barcelona-1992 e Atlanta-1996, ele mudou de área e passou a atuar como treinador do judô. Nesse esporte, orientou nomes de peso como Aurélio Miguel (ouro em 1988 e bronze em 1996), Leandro Guilheiro (bronze em 2004 e 2008), Tiago Camilo (prata em 2000 e bronze em 2008) e Rafael Silva (bronze em 2012). “Meu avô é motivo de orgulho e inspiração”, diz Grummy. Gonçalves morreu em 2010, aos 75 anos. leNda: João entre atletas do polo aquático em 1960

agradecimentos: Decathlon (decathlon.com.br) produção: Cintia Sanchez make: Juliana fraga


Novos taleNtos

Em busca da iluminação Dona De títulos brasileiros e sul-americanos, aDriana luz, 21 anos, herDou Da mãe o talento para as corriDas De longa Distância, mas ainDa precisa superar o meDo Da Derrota para brilhar em 2016


por Vanessa sulina fotos RODRiGO liMa/niTRO

confiança: "Eu me vejo como a melhor corredora do País", diz adriana luz

Um problema de saúde foi responsável por levar ao atletismo uma das maiores promessas brasileiras para a Olimpíada de 2016. Maranhense da pequena Curupuru, Adriana Luz passou a infância bebendo a água que jorrava do poço do quintal de casa. Segundo dona Tereza Luz, mãe da garota, o líquido, que jamais foi filtrado, continha “vermes” que fizeram com que a filha tivesse o que a cultura popular chama de “barriga inchada”. O tempo passava e a tal barriga não parava de crescer. A solução não veio de médicos ou vermífugos. “Minha mãe dizia que não queria filha gorda atrás dela e me botou pra correr”, diz a atleta de 21 anos, que tem no currículo o título brasileiro juvenil dos 5 mil e 10 mil metros. No início, eram corridas ao redor do quarteirão, sem nenhum tipo de meta ou ambição maior do que o aprimoramento estético. Nem Adriana nem dona Tereza imaginavam que, em menos de dez anos, a menina mirrada estaria disputando com a elite e dando canseira em atletas bem mais experientes. “Eu me vejo como a melhor corredora do País”, diz Adriana, hoje radicada em Belo Horizonte (MG). “Sem desmerecer ninguém, me considero uma grande profissional e, em 2016, quero estar na vila olímpica.” Embora os resultados recentes demonstrem o enorme potencial – em 2012, foi campeã sul-americana de meiamaratona e campeã brasileira sub-23 dos 5 mil e 10 mil metros –, ela ainda tem um caminho difícil para percorrer. No ano passado, não atingiu as metas estabelecidas por seu técnico. Também tem feito tempos melhores nos treinos do que nas corridas. O objetivo era cravar 16 minutos nos 5 mil metros e 33min40s nos 10 mil. Não conseguiu. Suas melhores marcas foram, respectivamente, 16min30s e 34min20s. Os índices olím-


Novos taleNtos

picos para participação nos Jogos de Londres demonstram o tamanho do desafio: 15min15s nos 5 mil metros e 31min45s nos 10 mil metros. A explicação para isso pode estar no início tardio. A maioria dos atletas de ponta do atletismo começa a criar rotinas de treinamento de alta performance aos 14 anos, enquanto Adriana iniciou apenas aos 17. Isso, no entanto, não desanima a esportista ou o técnico. “Um atleta leva, em média, oito anos para chegar ao seu rendimento máximo”, diz o treinador Heleno Fortes. “Não tem problema começar com 17 anos e chegar ao topo com 25, ou começar com 14 e chegar com 22.” O técnico é uma herança que Adriana recebeu da mãe. Dona Tereza era uma atleta que arrumava tempo, sabe-se lá como, entre o trabalho de faxineira e os treinamentos e corridas de longa distância. Quando conheceu Heleno Fortes no Maranhão, ele a convidou para tentar a sorte em Belo Horizonte. Foi com a cara e a coragem. Morou os primeiros oito meses na casa dele e, mais uma vez, precisou se virar. “Trabalhei até em escola de inglês como doméstica”, diz. “A Adriana ainda era criança e me ajudava. Teve Natal que passamos na casa dos outros fazendo faxina.” A penúria de Tereza durou até os 32 anos, quando conseguiu uma vaga na equipe do Cruzeiro, virou profissional e começou a pagar aluguel. Ela chegou a disputar provas nacionais de 5 mil e 10 mil metros e outras tradicionais corridas de fundo, como a Volta da Pampulha, em Belo Horizonte, e a Corrida de São Silvestre, em São Paulo, e conseguiu ficar entre as dez primeiras na prova mineira. Quando Adriana tomou gosto pelas corridas, por volta dos 12 anos, passou a se inscrever em provas escolares e amadoras. Voava baixo e ganhava tudo. “Eu corria provas locais”, afirma. “Era mais gordinha que as outras e,

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mesmo sem treinar todos os dias, ainda ganhava as corridas.” Oito anos depois, essa realidade quase inocente parece muito distante. Atualmente, ela enfrenta uma pesada rotina de 120 a 130 quilômetros corridos por semana. Treina na equipe mineira HF e recebeu, em 2012, auxílio do governo federal com o programa Bolsa-Atleta. Tem patrocínios da fornecedora de material esportivo Asics e do Sesi. Dos dois, recebe aproximadamente R$ 1 mil mensais, além de ajuda com despesas, como aluguel, inscrição para competições e viagens. Com esse investimento, Adriana diz que consegue correr sem ter que tirar dinheiro do bolso. Há um ano e meio, até saiu da casa da mãe para morar com uma amiga. Pelo sonho de participar dos Jogos de 2016, ela e o treinador passaram a focar nos 5 mil e 10 mil metros, modalidades que fazem parte do programa olímpico. E a pressão, que já é grande por causa das metas frustradas do ano passado, só tende a aumentar. “Tenho que ver onde estou errando”, diz a atleta. Um dos reflexos de ter começado tarde no alto nível é a dificuldade de Adriana em aceitar a derrota. Afinal, ela interrompeu de repente a fase amadora, em que subia ao lugar mais alto do pódio em todas as oportunidades, e teve que apren-

der a correr atrás de outras atletas. “Quando colocamos a Adriana no alto nível, ela sentiu um pouco”, confirma o técnico Fortes. De gordinha ajudante de faxina a atleta de alto rendimento, o passo foi longo – e rápido demais. Subitamente, vieram as viagens internacionais e a necessidade de ser independente, sem contar com a ajuda da mãe, sua heroína. “A cabecinha dela está baratinada”, resume dona Tereza. Por isso, o técnico decidiu procurar uma psicóloga para trabalhar a parte emocional da atleta. A aposta é que o nível esperado apareça com o sumiço dos medos. “Essa jovem precisa fazer um trabalho para agir menos emocionalmente e mais estrategicamente”, diz Suzy Fleury, psicóloga especialista em profissionais do esporte. Com esse novo acompanhamento motivacional, metas ainda mais ousadas do que as de 2012 foram traçadas. O objetivo são marcas inferiores a 16 minutos nos 5 mil e 33 minutos nos 10 mil. Para o superintendente da Confederação Brasileira de Atletismo, Martinho Nobre, Adriana tem plenas condições de chegar a 2016 com chances de disputar com a elite mundial. “Ela é nova, tem talento e potencial”, diz. “Disputará provas de alto nível contra africanas, mas acreditamos em bons resultados.” Para a jovem atleta, as medalhas seriam a realização de uma vida. “Imagina, em 2016, eu no estádio olímpico e todo mundo gritando meu nome?”, sonha. Diz isso para, em seguida, volta a correr.


P E R f il ADRI ANA LUZ nascimento: 9 de novembro de 1992 altura: 1,56 m peso: 42 kg comida preferida: macarrão ídolo: michael phelps sonho: ter Uma casa própria e estar nos Jogos do rio Dia inesquecível: “ainda não tive.” uma medalha olímpica significará: “simplesmente tUdo."

PR INcI PAI s REsultados /2012 > campeã sul-americana de meiamaratona (assunção, paraguai) > 1ª colocada na golden Four asics de belo horizonte (meia-maratona) > 2ª colocada na golden Four asics do rio de Janeiro (meia-maratona) > 1ª colocada na meia-maratona internacional de belo horizonte > campeã brasileira nos 5.000 m e 10.000 m, categoria sub-23 > Vice-campeã sul-americana nos 5.000 m e 10.000 m, categoria sub-23 /2011 > medalha de bronze no pan-americano Juvenil da Flórida de meia-maratona > bicampeã brasileira nos 5.000 m e 10. 000 m, categoria Juvenil (2010/2011)

hERança: o técnico heleno fortes foi treinador da mãe de adriana, dona tereza, responsável por colocar a menina para correr


EDUCAÇÃO

O atleta nasce na sala de aula



Olimpíadas EscOlarEs rOmpEm barrEiras sOciais E sE tOrnam uma fOntE gEradOra dE talEntOs para O EspOrtE brasilEirO por Danielle SancheS fotos roberto caStro

EsfOrÇO ana carolina silva, 15 anos, venceu a prova dos 800 metros: ela saiu de casa para se dedicar aos treinos, mas continua firme na escola


EDUCAÇÃO

A escolhA do Rio de JAneiRo como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 trouxe mais benefícios do que apenas a construção de equipamentos esportivos e os investimentos em mobilidade urbana. A decisão de trazer as competições acentuou também o interesse dos brasileiros por esportes. Para uma nação quase cega de amor pelo futebol, é como se surgisse um novo e inexplorado universo. Melhor ainda: o País não está prestando atenção apenas em atletas consagrados. Estamos, cada vez mais, de olho na formação de uma nova safra de talentos. Prova disso é a realização das Olimpíadas Escolares, evento que vem ganhando importância e que, guardados os limites nacionais, lembra as grandes disputas entre estudantes nos Estados Unidos. “O Brasil está começando a valorizar as competições de base”, afirma Edgar Hibner, diretor das Olimpíadas Escolares e gerente-geral de juventude e infraestrutura do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Hibner, porém, afirma que o objetivo principal do COB não é detectar promessas. “Queremos incentivar a prática de esporte como forma de transformação social. O fato de encontrarmos talentos é uma consequência”, diz.

96 março 2013 | istoé 2016

Com a chancela do COB, que é o organizador da competição, os jogos escolares brasileiros são realizados para duas faixas etárias. Na primeira, participam apenas alunos entre 12 e 14 anos em 13 modalidades: atletismo, badminton, basquete, ciclismo, futsal, ginástica rítmica, handebol, judô, natação, tênis de mesa, lutas, vôlei e xadrez. A segunda é destinada a alunos de 15 a 17 anos, com algumas diferenças: saem badminton e lutas, entram tae kwon do e vôlei de praia. As seletivas são realizadas em vários Estados durante o ano todo. Depois, os mais bem classificados nas provas regionais vão para a disputa nacional. Em novembro de 2012, a cidade de Cuiabá (MT) sediou a competição e recebeu 4.025 alunos para as provas decisivas. Em 2013, Natal (RN) receberá as finais de 12 a 14 anos, enquanto Belém (PA) será a sede da etapa derradeira para a garotada entre 15 e 17 anos. Detalhe importante: por se tratar de atletas estudantes, todo a agenda é feita a partir do calendário escolar. O efeito Rio-2016 é comprovado pela expansão do evento. Em 2011, foram 1.129 escolas participantes. Em 2012, o número subiu para 1.217. “Considerando que temos mais de 190 mil escolas no País, ainda há imensa margem para crescimento”, afirma Hibner. Por reunir escolas particulares e públicas, as disputas expõem a influência econômica na formação de talentos. Natação e judô, praticados em sua maioria em academias pagas, são quase inteiramente dominados por alunos de escolas privadas. Já atletismo e futsal apresentam, em sua maioria, atletas de escolas públicas. Como é tradição no esporte brasileiro, há muitas histórias de superação entre os participantes do torneio. Vencedor da prova dos 5 mil metros, Victor Vinícius Silva, 17 anos, deixou sua casa em Cuiabá para morar no alojamento do projeto Vivendo do Atletismo,

fundado e comandado pelo treinador Sivirino Souza dos Santos em Barra do Garças, a cinco horas de carro da capital mato-grossense. A mãe, faxineira, não tem tempo nem condições de ir visitar o filho. O pai, usuário de drogas, não vê o menino há anos. Sivirino lembra que, graças a esse cenário caótico na vida pessoal, o início do relacionamento revelou-se complexo. “Foi difícil para ele conseguir confiar em alguém novamente e acreditar no próprio potencial, no fato de que poderia ser campeão”, diz Sivirino. Introspectivo, de fala mansa e pouca conversa, Victor se mostrou surpreso com o resultado dos jogos escolares. “Não esperava ter chegado em primeiro lugar, mas sei que mereci, pois batalhei muito para isso.” É de Sivirino a responsabilidade de treinar também Ana Carolina de Campos Silva, 15 anos, medalha de ouro na prova dos 800 metros. Moradora da ala feminina do alojamento em Barra do Garças, ela igualmente veio de família humilde e foi descoberta ainda quando morava com os pais no município de Nossa Senhora do Livramento, a 40 minutos de carro de Cuiabá. A menina abriu mão do convívio com a família, com quem se encontra só no Natal, para treinar corridas de média distância. Diferentemente de Victor, a família de Ana Carolina se faz presente o tempo todo. “Minha mãe me visita pelo menos uma vez por mês e me liga todos os dias”, diz a menina, envergonhada em dar entrevista. É a figura materna que incentiva a estudante do segundo ano do ensino médio a nunca desistir. “Sei que minha mãe acredita que vou trazer uma medalha para o Brasil”, diz Ana. Por sua performance nas competições em Cuiabá, a atleta foi convidada pelo COB para participar do 6º Festival Olímpico da Juventude da Austrália, realizado em janeiro de 2013.


GaROta descalÇa se PRePaRa PaRa a laRGada de uMa PROVa dO atletIsMO. cOMPetIÇÃO eM cuIBÁ ReunIu MaIs de 4 MIl alunOs de 1,2 MIl escOlas BRasIleIRas


EDUCAÇÃO

At e n ç ão i nternA cio nAl competição no Brasil teve a participação de atletas estrangeiros considerado um dos cinco maiores eventos desse tipo no mundo, as Olimpíadas Escolares brasileiras receberam, com o apoio do COI, observadores internacionais de 14 países, entre eles Grã-Bretanha e Alemanha. Com oito atletas competindo como visitantes, os britânicos elogiaram a organização do torneio, mas sofreram com o calor de 37 graus em Cuiabá. Na Inglaterra, os mesmos jogos são financiados pela rede de supermercados Sainsbury's e acontecem em quatro níveis. Primeiro, os alunos são selecionados após treinarem normalmente nas escolas. Na segunda etapa, os melhores de cada colégio competem com rivais da mesma cidade. Os vencedores seguem para as disputas entre os condados e, depois, para as finais nacionais, realizadas no verão em forma de festival. “Assim como no Brasil, o evento todo é uma forma de mostrar as habilidades de nossos alunos e encontrar novos talentos”, diz Trudy Jane, representante da delegação britânica. A diferença, claro, fica por conta do investimento, feito de forma consistente e muito mais planejada na terra da rainha do que no país que irá receber a próxima Olimpíada.

Apesar da pouca idade, alguns jovens que participaram das Olimpíadas Escolares têm experiência internacional. Destaque na prova dos 100 metros feminino, Tamiris de Liz, 17 anos, foi reserva da equipe brasileira de atletismo nos Jogos de Londres-2012. Conhecida como “filha do vento”, a aluna do Colégio da Univille, em Santa Catarina, coleciona títulos juvenis e é sensação por onde passa. Fã do feijão com arroz da avó – que, acredita a garota, a ajudou a ser veloz –, começou a treinar em 2006, aos 11 anos. Na época, a mãe a levava de bicicleta para os treinos. “Ela não me deixava perder a hora nem mesmo em dia de chuva”, diz. Margit Weise, treinadora da atleta, lembra que ela foi descoberta correndo descalça em uma das eliminatórias municipais dos jogos escolares: “A Tamiris sempre foi muito rápida, tem um talento natural.” Orgulhosa, a treinadora aposta todas as fichas na pupila. “É uma grande responsabilidade treiná-la, pois sei que tenho em mãos uma joia rara.” Santa Catarina está se especializando em formar velocistas. É de lá também Jonatan Rodrigues, 17 anos, vencedor das provas de 100 e 200 metros. Como a maioria dos garotos brasileiros, ele sonhava em ser

jogador de futebol profissional. Agora, mudou o foco, embora ainda considere seu futuro incerto. “No Brasil é difícil viver de esporte, principalmente no atletismo, que tem pouca divulgação e quase nenhum incentivo.” A maioria dos competidores das Olimpíadas Escolares sonha com o momento mais importante da história do esporte brasileiro: os Jogos de 2016. “Quero estar lá e ganhar medalha”, diz o paranaense Alexsandro do Nascimento Melo, 17 anos, vencedor do salto triplo. Também de 17 anos, a carioca Jhenifer Christine Pinheiro Lino disputou o heptatlo e venceu uma das etapas da prova, os 800 metros rasos. Ela sabe que o Brasil tem pouca tradição no esporte, mas isso não a desanima. “Treino três horas por dia”, diz. “Quero ser campeã.” É com esse espírito vencedor que o Brasil começa a formar uma nova geração de talentos. E o caminho mais curto é a escola.


aleXsandRO dO nascIMentO, VencedOR da PROVa dO saltO tRIPlO (acIMa). aBaIXO, cenas das cOMPetIÇÕes. O sOnHO da MaIORIa dOs PaRtIcIPantes É dIsPutaR Os JOGOs OlÍMPIcOs dO RIO, eM 2016


infraestrutura

o a ã c nh n e e r g c en n e a a d Umama ch

e ad íad p ta lim fal aO m n O ar smO Ofre c um eti r s l r t a e Oa ue da rq ga r g r a da e i t r e e ab ad pOd vai e a r e d á qu a ain um ge, le n m e a , e a el ra Hav sO, fic s. agO O ã s icO O J O i l ac e étr i ádi l c t í e s f s úgb di a r Oe e m O d sd ble 6, é p r O i ga n t e 201 e a g ág u r a O s de a p aç O esp

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escolta: Policiais acompanham torcedores antes de um clåssico entre Fluminense e Flamengo. Ruas apertadas dificultam o acesso e criam situaçþes de risco

Foto: Bruno de lima


infraestrutura

O VÍDEO QUE O RIO DE JANEIRO montou para convencer os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) a escolher a cidade como sede dos Jogos de 2016 corre o risco de ficar desatualizado. Nele, o estádio João Havelange, o Engenhão, abrigaria apenas as competições de atletismo. Agora, no entanto, ele também pode herdar o rúgbi. O esporte não constava da apresentação da candidatura porque seu retorno aos Jogos, após 92 anos, ainda não tinha sido aprovado quando a Cidade Maravilhosa foi escolhida. Após a definição do Rio como sede olímpica, o Comitê Organizador correu para encontrar um local para sediar a modalidade e encontrou em São Januário a alternativa perfeita. Mas ela foi perfeita por apenas dois anos. O Vasco, dono do estádio, não entregou as garantias para a reforma, e o local foi descartado como sede olímpica, ocasionando um problema do tamanho dos brutamontes que disputarão o rúgbi sevens no Rio. A alternativa oficialmente estudada pela organização da Olimpíada é transferir o esporte para o Moça Bonita, do Bangu, ou para o Engenhão. Pelo menos duas interrogações pairam sobre a segunda possibilidade: o estádio João Havelange, arrendado pelo Botafogo, tem problemas estruturais e conceituais não resolvidos. Para piorar, o atletismo não gostou nada da ideia de ter de dividir a casa. O atletismo precisa de tempo para instalar todos os equipamentos de cronometragem, medição e transmissão e preparar a infraestrutura da competição. A possível ida do rúgbi praticamente inviabiliza essa preparação. A 2016 apurou que o Comitê Organizador propõe um espaço de apenas dois dias entre o fim das competições com a bola oval e o início das corridas e saltos. Para a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), simplesmente não dá. “É preocupante não podermos utilizar as instalações antes dos Jogos”, diz o presidente da entidade, Roberto Gesta de Melo. “Precisamos passar por uma série de testes e fazer um evento preliminar para que se configure toda a questão do equipamento eletrônico.” Para o dirigente, se o rúgbi for realizado no Engenhão, não haverá tempo para esses ajustes. Superintendente-técnico da confederação, Martinho Santos mostra preocupação ainda maior: “Eles realmente querem dar apenas dois dias entre o final do rúgbi e o começo do atletismo”, reclama. “Precisaríamos de três ou quatro dias para ter alguma tranquilidade”, diz. Nélio Moura, técnico que levou Maurren Maggi ao título olímpico do salto em distância em Pequim-2008, é um dos poucos no atletismo que não se incomodam com a possibilidade de os gigantes do rúgbi utilizarem o Engenhão durante a Olimpíada. “Eu nem sabia disso”, diz. “Pensando só no evento, não vejo grandes problemas, porque a gente não treina na pista de competição, com exceção de um único treino de reconhecimento, que seguramente haverá.” Os problemas do Engenhão não se resumem à questão do rúgbi. Quando foi construído, o projeto previa a revita-

102 MARÇO 2013 | ISTOÉ 2016


PaR a NÃo S AIR D O S TRI LH OS a supervia, cOncessiOnária que administra o sistema de trens do rio de Janeiro, promete aumentar de 690 para 871 o número de vagões em toda a malha até os Jogos Olímpicos, além de diminuir o intervalo entre as composições de dez para três minutos. Há também a promessa de ter 100% dos trens com ar-condicionado, equipamento que hoje está apenas em metade da frota. “estamos nos preparando para o aumento de fluxo e para colocar climatização em todos os trens”, diz paulo targa, diretor-comercial da supervia. “temos o compromisso de aplicar r$ 1,2 bilhão no sistema.” O executivo também afirma que a estação engenho de dentro será amplamente modernizada. a demora na saída dos trens do engenhão após os eventos, contudo, pode continuar. “é normal que haja uma espera para o trem encher e partir lotado, e só então vem o próximo na plataforma.”

Foto: ana carolina Fernandes/Folhapress

DeGRaDaÇÃo: Projeto de recuperação dos arredores do estádio João Havelange, feito para o Pan de 2007, não saiu do papel


infraestrutura

DIas De JoGos: movimentação ao redor do estádio (à esquerda) atrai ambulantes e trombadinhas. Instalações (acima, à direita), usadas para futebol e atletismo, poderão abrigar também o rúgbi

lização da área ao redor, a modernização e ampliação do sistema de trens que chegam ao bairro do Engenho de Dentro e o alargamento das vias próximas. Nada disso foi feito. Ir ao estádio e voltar dele continua a ser algo demorado, desconfortável e perigoso. É possível gastar mais tempo para entrar e sair, a pé, do que para assistir a uma partida de futebol. Com lotação máxima – o que se espera das competições de atletismo –, é um tormento chegar lá de carro. Há apenas um estacionamento e pode-se levar mais de uma hora para acessá-lo. O trem, administrado pela SuperVia, atende um número reduzido de cariocas devido à pequena malha. Na saída, é preciso esperar os vagões lotarem e isso causa mais demora no retorno. Dentro do estádio, os problemas relatados vão da falta de água nos banheiros até instalações elétricas inadequadas, que dão choques em jornalistas na tribuna de imprensa. Há projetos que devem amenizar esses problemas até 2016, mas o duvidoso legado do Pan-2007 traz mais desconfiança do que certezas. Consultado pela reportagem, o Comitê Organizador dos Jogos informou que não vai se pronunciar até que haja uma definição final para o rúgbi. O Botafogo, que administra o estádio, também não fala sobre o assunto.

Quem viu a promessa de revitalização dos arredores do estádio não sair do papel após os Jogos Pan-Americanos não esconde a preocupação com o local e o possível acúmulo de mais torcedores. Para Sidney Menezes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, o Engenhão é um ponto crítico da organização dos Jogos. “Se os governos não fizerem as intervenções necessárias ali, teremos um grande problema”, diz. “Há questões seriíssimas do ponto de vista viário e de infraestrutura urbana.” Para Menezes, uma das principais pedras no caminho é o que ele chama de gargalo viário. Tirar os estádios do centro e levar para regiões mais afastadas das cidades é uma tendência que foi aplicada a grandes arenas montadas no mundo nas últimas duas décadas. O Engenho de Dentro, porém, apesar de ser relativamente longe da área central do Rio, não é propriamente uma região desabitada. As vias no entorno do Engenhão são estreitas. Mesmo com desapropriações e alargamento das ruas Das Oficinas e José dos Reis, há dúvidas sobre quanto isso efetivamente vai ajudar no trânsito. A prefeitura ergueu o Viaduto da Abolição para facilitar a saída do estádio e a chegada à linha amarela. É um avanço tímido em relação ao tamanho do impasse, que envolve, além do pesado tráfego de carros e ônibus, o escoamento


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tumulto: torcedores se aglomeram para comprar ingressos, cena comum mesmo em jogos menos importantes

de uma multidão de 50 mil pessoas por evento. Os moradores do Engenho de Dentro, que esperavam uma revitalização total com a construção do estádio, também aguardam o cumprimento das promessas. “O projeto era muito bom, mas apenas o estádio em si foi insuficiente para garantir a renovação da área”, diz Menezes. Em 2005, o então prefeito César Maia sancionou uma lei que transformava a região do Engenhão em uma áreade especial interesse urbanístico. A ideia era renovar a vizinhança, essencialmente residencial, e possibilitar o crescimento de um centro comercial moderno, que atenderia os moradores e os torcedores. A falta de fomento deixou o projeto estagnado. Em dias de jogos, a degradada área ao redor vira terreno fértil para a ação de trombadinhas e ladrões de carros. Além disso, o próprio estádio, pelas dificuldades de acesso, não caiu no gosto dos cariocas. As arquibancadas estão frequentemente vazias, mesmo no Brasileirão. Até em jogos do Flamengo, clube de maior torcida do País, é difícil haver lotação. A possível inclusão do rúgbi aumenta os desafios do Engenhão e dos organizadores da Olimpíada. A esperança é de que o legado positivo, quase inexistente após os Jogos Pan-Americanos de 2007, ganhe mais uma chance de virar realidade.

Fotos: laura marques/ o Globo | marcos arcoverde/ae | Fábio mota/ae


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V i d a s e x p o s t a s trajEtórias brilhantEs, Escândalos E dramas: as histórias dE supEração E sucEsso dE alGuns dos maiorEs nomEs do EsportE mundial sE transformam Em livros quE atraEm lEitorEs dE todas as GEraçõEs por Danielle SancheS

QuAndo A ginAstA AMericAnA Gabrielle Douglas subiu ao pódio para receber sua medalha na Olímpiada de Londres, em 2012, os flashes dos fotógrafos trabalharam alucinadamente. A atleta, de apenas 16 anos e 1,50 m de altura, foi a primeira negra a vencer no individual geral, categoria que aponta a esportista mais completa da modalidade. Polêmica, a jovem, que disse ter sofrido racismo durante seus treinos preparatórios, revela detalhes do ingrato mundo da ginástica artística na biografia que escreveu com a ajuda da jornalista Michelle Burford. Como tantos livros de ídolos do esporte, “Grace, Gold and Glory: My Leap of Faith” (Zondervan, 224 páginas, inédito no Brasil) também mostra o árduo caminho de Gabrielle, que saiu de casa para treinar quando ainda era criança, aos 12 anos, até o tão almejado ouro olímpico. Assim como ela, outros atletas com narrativas igualmente atraentes aproveitaram o sucesso no esporte para apresentar ao mundo suas histórias de superação. Confira.

1 AgAssi – AutobiogrAfiA (Andre AgAssi – 2009) Editora Globo, 504 páGinas, r$ 48

2 trAnsforMAndo suor eM ouro (bernArdinho – 2006) sExtantE, 224 páGinas, r$ 20

3 Another WAy of Winning (guArdiolA – 2012) orion, 352 páGinas, Em inGlês, r$ 40

Considerada uma das mais honestas histórias do esporte, a polêmica biografia do tenista andre agassi deu o que falar com a confissão do jogador sobre o uso de metanfetamina, que atua como estimulante no organismo. pego no exame antidoping, agassi mentiu à associação de tenistas profissionais (atp) e disse que tudo não passou de um engano. Como se não bastasse, agassi afirma que fumava maconha e que perdia partidas de propósito. sobrou até para seu maior rival, pete sampras, a quem o tenista chama de “robótico”. o depoimento do jogador, dono de uma medalha de ouro nos Jogos de atlanta em 1996 e um dos poucos a ter conquistado os quatro títulos do Grand slam, ainda aborda o treinamento rigoroso que começou na infância, o relacionamento com a atriz Brooke shields (com quem ele foi casado) e a relação com atual esposa, a ex-tenista alemã steffi Graf.

Famoso por seus arroubos nas quadras de vôlei, Bernardo Rezende, o Bernardinho, conta como se transformou em um dos maiores técnicos que o Brasil já conheceu. obstinado, perfeccionista e extremamente motivado, ele começou sua carreira como jogador e chegou a ganhar uma medalha de prata na olimpíada de 1984. a grande virada veio quando ele se tornou treinador, mais especificamente da seleção masculina, transformando o time em um dos mais temidos nas quadras pelo mundo. Na obra escrita por ele mesmo – uma mistura de autobiografia e guia de administração –, Bernardinho conta como aprendeu a gerir pessoas e aplicar seus conhecimentos em outras áreas da vida, sempre reafirmando que seu principal trabalho é, na verdade, o de cuidar de talentos.

inédita no Brasil, a biografia de Josep “pep” Guardiola é resultado de um atento olhar do jornalista espanhol Guillem Balague, um dos principais comentaristas de futebol da europa. a história do ex-técnico e ex-jogador do Barcelona levou quatro anos para ser concluída e inclui entrevistas com o craque argentino Lionel Messi, o holandês Johan Cruyff e o treinador do Real Madrid, José Mourinho, entre outras personalidades do mundo da bola. Guardiola também conta os bastidores do Barça e ainda critica o marketing em torno do jogador brasileiro Neymar.


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4 solo: A MeMoir of hope (hope solo – 2012) harpEr, 304 páGinas, Em inGlês, r$ 32

5 A sAgA de uM cAMpeão (lArs grAel – 2002) Editora GEntE, 232 páGinas, r$ 40

6 A MArAtonA de uMA VidA (VAnderlei cordeiro de liMA – 2007) casa da palavra, 114 páGinas, r$ 20

Lançada logo após a olimpíada de Londres, a biografia da medalhista americana mostrou que, além de boa goleira, Hope solo é também uma excelente atacante – não poupou ninguém. Hope acusou o ex-técnico da seleção feminina de futebol dos estados Unidos, Greg Ryan, com quem tinha um relacionamento conturbado, de tê-la agredido em 2007. soltou os cachorros contra a campeã Brandi Chastain e seus comentários negativos durante a transmissão dos jogos pela espN. e ainda confessou que beijou uma garota francesa para conhecer o ponto de vista das colegas gays. a dose de drama fica por conta da infância difícil – Hope conviveu com o pai, que vivia entrando e saindo da prisão, e com a mãe, alcoólatra.

a autobiografia de Lars Grael começa com o marcante acidente de 1998, em Vitória (es), quando a lancha do empresário Carlos Guilherme de abreu e Lima se chocou contra seu veleiro e lhe tirou uma perna. os dolorosos e chocantes detalhes do acidente que mudou completamente a trajetória de sua brilhante carreira na vela são contados sem pudor e dão a dimensão exata da gravidade do fato, que quase custou a sua vida. Contando com o apoio de médicos e principalmente do irmão, o também medalhista torben, Lars narra de forma emocionante sua experiência de superação e relembra os fatos pitorescos da família schmidt Grael, que fez e ainda faz história no esporte brasileiro.

a história de Vanderlei Cordeiro de Lima, um dos maiores nomes do atletismo brasileiro, é apresentada aqui nas palavras da escritora Renata adrião d’angelo. a trajetória de dificuldades e superações tão conhecida do esporte no país é pano de fundo para o exemplo de dedicação do fundista, que foi medalha de bronze nos Jogos de atenas, em 2004, após a inconveniente intervenção do maluco irlandês Cornelius “Neil” Horan. Vanderlei liderava a prova e tinha o ouro nas mãos, mas foi atacado, empurrado e derrubado pelo ex-padre a seis quilômetros do fim da prova.



>ATLETISMO

aposta no Mundial

A temporada de 2013 será fundamental para as pretensões dos atletas brasileiros que decepcionaram nos Jogos de Londres. Maurren Maggi, que nem sequer se classificou para as finais do salto em distância, prova em que defendia o título olímpico, e Fabiana Murer, que desistiu do salto com vara ao alegar que o vento estava perigoso, apostam todas as fichas no Mundial de Moscou, em agosto. Novas decepções podem abre-viar as ambições olímpicas da dupla. Maurren terá 40 anos em 2016; e Fabiana, 35.

>BASQUETE

Mudança no noME E no forMato

>BOXE

irMãos falCão sE tornaM profissionais

Já era de se esperar. A Associação Internacional de Boxe Amador anunciou que os irmãos Falcão, medalhistas dos Jogos de Londres, vão atuar no boxe profissional em 2013. Isso, porém, não os impedirá de disputar os Jogos do Rio, em 2016. Esquiva, medalhista de prata entre os médios em Londres, e seu irmão Yamaguchi, bronze entre os meio-pesados, assinaram contrato para competir no boxe profissional da entidade, chamado de World Series Boxing (WSB).

O Mundial de Basquete da Espanha, em 2014, será o último com esse nome. A partir de 2017, a Federação Internacional de Basquete (Fiba) vai passar a chamar a competição de Copa do Mundo. Além da designação, muda também o formato, já que a competição vai ampliar o número de times dos atuais 24 para 32. Para garantir vaga, os países não vão mais disputar torneios continentais. Haverá eliminatórias regionais, com partidas de ida e volta. Até a data do torneio foi alterada: em vez de 2018, será disputado em 2019.


>BADMINTON

>FUTEBOL

>HIPISMO

O badminton brasileiro ganhou um novo polo de desenvolvimento no Estado da Paraíba. As instalações, que ficam no Instituto Dom Adauto, em João Pessoa, recebem até 80 crianças, com média de idade entre 10 e 14 anos. O objetivo, segundo a Federação de Badminton do Estado da Paraíba, é impulsionar a base para revelar novos atletas e despertar nos alunos o interesse pela prática esportiva. Ainda segundo os dirigentes, a escola obteve o melhor resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na Paraíba, o que demonstra a vocação para o esporte no local.

Não foi apenas a Seleção Brasileira que ganhou técnico novo. A chegada de Luiz Felipe Scolari foi seguida pela entrada de Márcio Oliveira no comando da seleção feminina. A primeira impressão deixada pelo treinador não poderia ter sido melhor: o time das mulheres conquistou o tricampeonato do Torneio Internacional Cidade de São Paulo, que também reuniu equipes como Dinamarca, México e Portugal. Agora, o desafio de Oliveira é promover a renovação do selecionado de olho na Olimpíada de 2016. No time, ninguém esconde que a medalha de ouro é o principal objetivo do novo ciclo.

Luiz Roberto Giugni foi reeleito presidente da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). Ele vai comandar a instituição de 2013 a 2016 e terá como principal objetivo formar uma nova geração de atletas para os Jogos Equestres Mundiais da Normandia (França) em 2014, os Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015, e sobretudo os Jogos Olímpicos do Rio em 2016. Desde 2009 à frente da entidade, Giugni trouxe a prata por equipes e o bronze no individual do Pan-Americano de Guadalajara, em 2011, e o oitavo lugar por equipes na Olimpíada de Londres, em 2012.

paraíba ganHa polo dE dEsEnvolviMEnto

novo CoMandantE para as MulHErEs

>CANOAGEM nova Casa

>GINÁSTICA

>CICLISMO

O primeiro e mais intenso treinamento dos atletas da ginástica artística masculina brasileira em 2013 foi acompanhado de perto pela seleção japonesa. A equipe nipônica, uma das mais fortes do mundo, esteve no Rio de Janeiro entre o fim de janeiro o início de fevereiro para um intercâmbio que marcou o início da preparação para os Jogos Olímpicos de 2016. Os trabalhos duraram nove dias e envolveram principalmente o aprimoramento de aspectos técnicos, ponto forte dos orientais. Entre os brasileiros, destaque para a participação de Sérgio Sasaki, eleito a promessa do esporte nacional para a próxima Olimpíada.

A seleção brasileira de canoagem de velocidade inaugurou o novo centro de treinamento da modalidade em São Paulo. Lá, o time espera conseguir fazer a preparação ideal para buscar medalhas no Rio em 2016. No local, os atletas da seleção vão ficar concentrados, com toda a estrutura para treinar, incluindo hospedagem e alimentação. Os 12 atletas que já começaram a trabalhar são Gilvan Ribeiro, Givago Ribeiro, João Carlos Rodrigues Júnior, Celso Dias Júnior, Michel de Carli, Erlon de Souza, Nivalter Santos, Ronilson Oliveira e Wladimir Moreno (categoria sênior), além de Caio Marte Souza, Vinícius Zabot dos Santos e Isaquias Queiroz (categoria júnior).

dEstaQuE intErnaCional

A equipe Dataro/Cascavel foi destaque do Brasil na última edição da Rutas de América, realizada em fevereiro, no Uruguai. Cristian Egídio foi o mais bem colocado, com dois segundos lugares. Na classificação geral, o melhor brasileiro foi Cleberson Weber, também da Dataro/Cascavel, que ficou com o nono lugar. O primeiro colocado foi o argentino Laureano Rosas, da equipe Fênix. Na classificação por equipes, o time do Paraná terminou na sétima posição entre os 21 participantes. A outra equipe brasileira na competição, Avaí/ Florianópolis, ficou com o 13º lugar.

>ESGRIMA

Mudança para 2016

As disputas de esgrima podem mudar de local na Olimpíada de 2016. A federação internacional da modalidade solicitou formalmente ao comitê organizador que passe as competições do Complexo de Deodoro para o Parque Olímpico em Jacarepaguá. Os dirigentes alegam que o local terá melhores condições de receber o esporte. Para que isso ocorra, no entanto, será necessário obter aprovações de outras federações, bem como remanejar horários de várias disputas já planejadas. A definição deve sair até o fim do ano.

troCa dE ExpEriÊnCias

>HALTEROFILISMO univErsidadE QuEr rECEbEr olíMpiCos

O centro de treinamento de levantamento de peso da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, quer receber delegações da modalidade durante os Jogos do Rio em 2016. Inaugurado há pouco mais de um ano, o espaço tem 8 plataformas de treinamento, 14 barras olímpicas, 2 bancos de supino, vestiários para até 20 pessoas, 2 quartos para até 12 pessoas cada um e salas de fisioterapia e massoterapia. Atualmente, cerca de 30 atletas treinam no local, dos quais 16 fazem parte do Programa Bolsa-Atleta do governo federal.

>HANDEBOL

a força do bolsa-atlEta

O handebol brasileiro, que conta com a melhor jogadora do mundo – a ponta Alexandra Nascimento, do Hypo Niederösterreich (Áustria) –, se saiu bem na lista de esportistas do Bolsa-Atleta 2013. O programa do governo federal selecionou 232 atletas de alto rendimento do handebol. A relação conta com veteranos e novatos. No total, 4.992 nomes de 55 esportes foram contemplados. Com oito anos de existência, o programa já distribuiu 18 mil bolsas e, nesta primeira lista de 2013, destinará R$ 72,2 milhões em benefícios.

prEsidEntE da ConfEdEração é rEElEito

>HÓQUEI SOBRE A GRAMA brasil é bronzE no sul-aMEriCano

A seleção brasileira de hóquei sobre a grama conquistou a medalha de bronze no Campeonato Sul-Americano, realizado em fevereiro, no Chile. Na última disputa, o time nacional derrotou o Peru por 4 a 1, com gols de Lucas Paixão (2), André Patrocínio e Stephane Smith. A medalha, inédita para o selecionado brasileiro, foi comemorada como um feito histórico por jogadores, comissão técnica e dirigentes. Na mesma competição, a equipe feminina do Brasil terminou em quarto lugar ao ser derrotada pelo Uruguai por 4 a 1. A Argentina foi a vencedora tanto no masculino quanto no feminino.

>JUDÔ

jovEns brilHaM na frança

A seleção sub-21 masculina de judô não decepcionou no torneio internacional de Epinay, na França, disputado em fevereiro. O time voltou para casa com 11 medalhas de 12 possíveis. Os atletas brasileiros estiveram nas finais das oito categorias de peso. Na divisão até 73 kg, a decisão foi verdeamarela. No total, o time conquistou quatro ouros, cinco pratas e dois bronzes. Após o campeonato, os jovens ainda passaram por uma intensa semana de treinamentos no Instituto do Judô em Paris.

>LUTAS fé EM 2020

A Confederação Brasileira de Lutas Associadas foi pega de surpresa pela informação de que o Comitê Olímpico Internacional (COI) estuda excluir a modalidade do programa dos Jogos de 2020. Ao mesmo tempo, a entidade afirmou não acreditar na exclusão por causa da força desse esporte em países como Estados Unidos, Rússia e Japão. A decisão de acabar ou não com uma modalidade na Olimpíada leva em conta, segundo o COI, critérios como popularidade, venda de ingressos e países participantes.


painel

Todos os esportes olímpicos

>NADO SINCRONIZADO

>REMO

>TÊNIS

Os cariocas tiveram a oportunidade de conferir as apresentações da seleção russa de nado sincronizado, tetracampeã olímpica e octocampeã mundial em fevereiro. O time, que utilizou as instalações do parque aquático do Fluminense, mostrou seis coreografias, intercaladas por duas apresentações brasileiras: uma da seleção sênior, que se prepara para o Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona em julho, e outra da seleção júnior, que vai ao SulAmericano da categoria, em março, no Chile. Os destaques da delegação russa foram Daria Korobova, Alexandra Patskevich, Anzhelika Timanina e Alla Shishkina, todas campeãs olímpicas em Londres-2012.

A Confederação Brasileira de Remo está de olho na renovação e busca novos atletas para a seleção brasileira que vai disputar os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Para encontrar talentos, colocou oito remoergômetros – máquinas que simulam os movimentos do remo – em um caminhão e levou o veículo a quatro comunidades pacificadas do Rio de Janeiro. A ideia é selecionar os melhores jovens e levá-los aos clubes que treinam na Lagoa Rodrigo de Freitas. O caminhão de Remo Indoor é um projeto piloto que pode atender de 400 a 500 crianças por mês e, por enquanto, só funciona no Rio.

O torneio Brasil Open, disputado em São Paulo, em fevereiro, foi bom para João Souza, o Feijão. O tenista paulista, que perdeu na segunda rodada para o espanhol Rafael Nadal, subiu sete posições no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), passando para o 133º lugar. Já Thomaz Bellucci, que começou o Brasil Open como 35º do mundo, foi eliminado na segunda rodada e agora é o 38º. Guilherme Clezar, que deu trabalho para Bellucci na primeira rodada, subiu 18 colocações e é o 216º na lista dos melhores do mundo.

Exibição russa no rio

>NATAÇÃO

intEnsivão para a ElitE

Os principais nadadores brasileiros estiveram na Clínica da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos em Brasília, em fevereiro, para um curso intensivo de conhecimentos teóricos e práticos que estarão no caminho de todos nos próximos quatro anos. O programa, primeira parte da preparação para 2016, reuniu 10 integrantes do Projeto Medalha, do governo federal, além dos donos dos 60 melhores índices técnicos e 20 atletas jovens que são promessas para a modalidade. Entre os palestrantes, Gustavo Borges e Cesar Cielo foram os destaques.

>PENTATLO MODERNO Mais EMoção no fiM

Três anos após incluir a prova de evento combinado – em que os atletas se revezam entre corrida e tiro – nas competições de pentatlo moderno, a entidade internacional que dirige a categoria anunciou mudanças nas regras. Agora, o pentatleta terá que dar quatro voltas de 800 metros e fazer quatro séries de cinco acertos no alvo, totalizando 3.200 metros e 20 acertos. Antes, era preciso completar três voltas de mil metros e 15 acertos. Tudo isso depois de nadar, jogar esgrima e cavalgar. A ideia é proporcionar ainda mais emoção para as competições. Em Londres 2012, a brasileira Yane Marques conquistou uma inédita medalha de bronze no esporte.

>POLO AQUÁTICO

prata E bronzE no Canadá

Já classificada para o Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona, a seleção brasileira feminina de polo aquático disputou a final do Pré-Mundial de Calgary, em fevereiro, com o anfitrião Canadá. Perdeu por 11 a 6. Já a equipe masculina, que não conquistou a vaga, disputou a medalha de bronze contra a Argentina e venceu por 10 a 6. Os goleiros brasileiros Manuela Canetti e Marcelinho Chagas foram os melhores da competição e receberam prêmios individuais.

siMuladorEs na favEla

>RÚGBI projEto soCial

Em fevereiro, cerca de 30 jovens do Projeto Criança Esperança, com idades entre 10 e 16 anos, se juntaram a outros 30 adolescentes integrantes do projeto “Rúgbi é nossa paixão”, no Morro do Cantagalo, no Rio, para conhecer mais sobre a modalidade que estará presente nos Jogos Olímpicos em 2016. A garotada assistiu a uma palestra sobre os valores do esporte e participou de uma atividade de Tag Rugby – rúgbi sem contato – para aprender como funciona o esporte. Toda a ação foi acompanhada por jogadores da seleção brasileira masculina.

>SALTOS ORNAMENTAIS téCniCo EstrangEiro sErá Contratado

O Brasil quer fazer bonito nos saltos ornamentais nos Jogos de 2016. Para isso, vai começar o planejamento, a busca por novos talentos e os treinamentos já neste ano. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) traçou um projeto olímpico que abrange diversas áreas. Será definida uma comissão técnica e uma seleção permanentes, um gestor especializado no esporte e, a maior novidade, um treinador estrangeiro deverá ser contratado. O nome, porém, ainda não foi definido.

>TAE KWON DO

a vEz dos jovEns

Após Natália Falavigna e Diogo Silva apresentarem o tae kwon do para os brasileiros, a seleção que vai disputar os Jogos do Rio, em 2016, começa a se renovar. A principal esperança de medalhas está nos golpes de Guilherme Dias, garoto de 20 anos de Taguatinga (DF), que já faturou o título de campeão panamericano em 2012. Detalhe: para virar titular da seleção brasileira, Dias precisou derrotar na semifinal do torneio Márcio Wenceslau, prata no Pan do Rio em 2007.

MoviMEntaçõEs no ranking

>TÊNIS DE MESA

HoyaMa taMbéM é téCniCo

Dono de dez medalhas em Jogos PanAmericanos e com participação em seis Jogos Olímpicos, o veterano Hugo Hoyama assumiu o desafio de treinar a seleção brasileira feminina de tênis de mesa. O atleta, que fez questão de salientar que ainda não vai abandonar as raquetes, tem como principal desafio do ano comandar as mulheres no campeonato mundial da categoria. Como jogador, ele deverá participar principalmente de competições nacionais, embora não descarte jogar um ou outro torneio fora do País. Hoyama deverá comandar o time feminino pelo menos até a Olimpíada de 2016, no Rio.

>TIRO CErtEiro aos 14 anos

Apesar de conquistar apenas a sexta colocação, o Piauí se destacou no último Campeonato Brasileiro de Tiro Esportivo. Isso porque apresentou ao mundo o garoto Dimas Júnior, de apenas 14 anos. O menino voltou do Rio de Janeiro com três medalhas — um ouro, uma prata e um bronze. O melhor resultado veio na carabina de ar. A proeza de Dimas ajudou o Piauí a fazer sua melhor campanha em um campeonato nacional, com 18 medalhas no total.

>TIRO COM ARCO

rEgras Mais siMplEs

A Federação Internacional anunciou novas regras para as competições olímpicas a partir de 2013. As principais mudanças são o fim dos pontos cumulativos, que eram aproveitados nas finais, e a classificação de dois atletas para a prova final, disputando as medalhas de ouro e prata. Até 2012, os pontos da fase de classificação eram levados para as eliminatórias. A intenção da entidade é facilitar o entendimento do placar para os espectadores e atrair novos torcedores para o esporte.


TREINADOR Veterano Hugo Hoyama vai comandar a seleção feminina de tênis de mesa

>TRIATLO

EntrE os grandEs

A seleção brasileira de triatlo está definida para 2013 e terá 20 atletas, entre esportistas da elite, sub-23 e júnior. A novidade da Confederação Brasileira de Triathlon foi a inclusão da jovem Luísa Duarte, 18 anos, na equipe feminina principal. Ela vai fazer companhia para as experientes Pamella Oliveira e Flávia Fernandes. Luísa mantém cerca de seis horas por dia de treinamentos e objetiva fazer bonito na natação, no ciclismo e na corrida, nos Jogos de 2016.

>VELA tEstE olíMpiCo

A Semana Brasileira de Vela 2013, que reuniu a elite da modalidade no Iate Clube do Rio de Janeiro, foi a primeira a ser disputada na raia olímpica pelas classes que estarão na Olimpíada de 2016: 49er, 49er FX, 470 (masculino e feminino), Finn, Laser, Laser Radial e RS:X (masculino e feminino). Na avaliação dos atletas, já acostumados ao local, a disputa olímpica tem tudo para se beneficiar do bom regime de ventos da área. Outro destaque da competição foi a presença dos melhores do mundo na classe RS:X, que aproveitaram para conhecer as instalações antes de partir para Búzios para a disputa do Campeonato Mundial, em março.

>VÔLEI brasil vai sEdiar Mundial sub-23

O Brasil vai receber a primeira edição do Campeonato Mundial Sub-23 de Vôlei Masculino, que será realizado entre os dias 2 e 11 de agosto de 2013. A cidade ainda não foi definida. O torneio terá 12 seleções, sendo uma vaga reservada para o país-sede, o primeiro colocado no ranking mundial adulto e outros dez países, que serão indicados pelas confederações continentais, com duas vagas por continente. As mulheres vão disputar a mesma competição no México, de 12 a 21 de julho.

>VÔLEI DE PRAIA

Maratona dE jogos

O calendário de 2013 do Circuito Mundial de Vôlei de Praia é o mais extenso da história e contemplará 20 torneios nos cinco continentes. O Brasil sediará o décimo Grand Slam (dos 11 programados), entre os dias 9 e 13 de outubro, em São Paulo. Já a primeira disputa terá início no dia 27 de março, em Corrientes, na Argentina. O Brasil é o país que têm mais conquistas, com 18 títulos em 21 temporadas no feminino e 15 triunfos nas 24 edições no masculino.

113 março 2013 | istoé 2016

Foto: Hector Vivas/LatinContent


PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história

recordista mundial

por 25 minutos

Nelson Prudencio NASCE

O brasileiro Nelson Prudêncio, que morreu em novembro do ano passado, protagonizou a disputa mais espetacular da história olímpica, a prova do salto triplo nos Jogos do México em 1968

NA CIDADE DE LINS, NO INTERIOR DE SÃO PAULO, NO DIA 4 DE ABRIL DE 1944. SUPERSTICIOSO, PASSA A VIDA ACREDITANDO QUE O NÚMERO 4 TRAZ SORTE. Na

Aos 18 anos,

DIVIDE O TEMPO ENTRE O TRABALHO COMO TORNEIRO MECÂNICO E O ATLETISMO. DISPUTA A PRIMEIRA COMPETIÇÃO NO SALTO TRIPLO E VENCE COM FACILIDADE. É APONTADO COMO SUCESSOR DE ADHEMAR FERREIRA DA SILVA, BICAMPEÃO OLÍMPICO DA PROVA

adolescencia,

CHAMA A ATENÇÃO PELA HABILIDADE COM A BOLA NOS PÉS. É CONVIDADO PARA TREINAR NO SÃO PAULO, MAS O PAI NÃO PERMITE QUE DEIXE O CURSO DE CONTABILIDADE PARA JOGAR FUTEBOL

Vai para a Olimpiada do Mexico, em 1968, COM A

META DE QUEBRAR O RECORDE BRASILEIRO DO SALTO TRIPLO, DE 16,56 METROS, EM PODER DE ADHEMAR EM SEU ÚLTIMO SALTO, PRUDÊNCIO

crava 17,27 metros, NOVO

RECORDE MUNDIAL. VINTE E CINCO MINUTOS DEPOIS, SANEYEV SALTA 17,29 METROS, QUEBRA O RECORDE E LEVA O OURO. PRUDÊNCIO FICA COM A PRATA E GENTILE, COM O BRONZE O RECORDE DURA MENOS DE MEIA HORA, MAS ENTRA PARA A HISTÓRIA. ATÉ HOJE, SÓ QUATRO BRASILEIROS QUEBRARAM MARCAS MUNDIAIS DO ATLETISMO: OS TRIPLISTAS

REALIZADA NO DIA 17 DE OUTUBRO DE 1968, A DISPUTA PELO OURO TEM

nove quebras do recorde mundial em apenas quatro horas – FEITO

JAMAIS REPETIDO. ALÉM DO BRASILEIRO, REVEZAM-SE NA LIDERANÇA O SOVIÉTICO VIKTOR SANEYEV E O ITALIANO GIUSEPPE GENTILE DEPOIS DE SE APOSENTAR DAS PISTAS DE ATLESTIMO, DEDICA-SE À CARREIRA ACADÊMICA. FOI PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, fez

mestrado na Universidade de Sao Paulo e doutorado NA UNIVERSIDADE

ESTADUAL DE CAMPINAS

Nelson Prudencio, Adhemar Ferreira da Silva e Joao do Pulo e o maratonista Ronaldo da Costa

PRUDÊNCIO GANHA TAMBÉM O BRONZE NA OLIMPÍADA DE MUNIQUE, EM 1972

Morre de cancer NO DIA 23 DE NOVEMBRO DE 2012, AOS 68 ANOS, DEIXANDO MULHER E DOIS FILHOS

Vera Lynn

Oliver Quinto

TEXTO

ARTE


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