Revista 2016 / Setembro

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ESPECIAL PAN: OS DUELOS, AS ESTRELAS E AS FORÇAS BRASILEIRAS NOS JOGOS DE GUADALAJARA

NO TOPO DO MUNDO

Fabiana conquistou o primeiro ouro do Brasil na história dos Mundiais de atletismo

O MELHOR TÉCNICO DO PLANETA, UM NOVO JEITO DE SALTAR E AJUDA PSICOLÓGICA: A RECEITA QUE FEZ DE FABIANA MURER CAMPEÃ MUNDIAL DE SALTO COM VARA – E O QUE OUTROS ATLETAS PODEM APRENDER COM ELA

VAI ENCARAR?

ÚNICO ESPORTE A LEVAR O PAÍS AO PÓDIO EM TODAS AS ÚLTIMAS SETE OLIMPÍADAS, O JUDÔ BATE RECORDE DE MEDALHAS NO MUNDIAL DE PARIS. DESCUBRA POR QUE OS RIVAIS TEMEM ESSA NOVA GERAÇÃO

BOLA PRA FRENTE

Setembro/2011 Edição 33 | Ano 2

SALTO ALTO

CONHEÇA XINDOCTRO, O MAIOR, MAIS PESADO E MAIS VELOZ ATLETA BRASILEIRO

www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

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O AUTOR DE KÁTIA FLÁVIA REVELA O RIO DAS CASAS DE SUINGUE E DAS BOATES DE STRIP-TEASE. SERÁ QUE A OLIMPÍADA PÕE TUDO ISSO EM RISCO?

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FAUSTO FAWCETT

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MURILO E JAQUELINE, O CASAL MAIS VITORIOSO DO VÔLEI NACIONAL, SUPERAM A PERDA DO BEBÊ E VOLTAM A SONHAR COM 2012


EXPEDIENTE EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE EXECUTIVO CARLOS ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO LUIZ FERNANDO SÁ EDITOR-EXECUTIVO AMAURI SEGALLA EDITOR EDSON FRANCO EDITOR DE ARTE PEDRO MATALLO EDITOR-EXECUTIVO DE FOTOGRAFIA CESAR ITIBERÊ EDITOR DE FOTOGRAFIA MAX GPINTO COLABORADORES

FOTOGRAFIA AGÊNCIA ISTOÉ APOIO ADMINISTRATIVO

Adalberto Leister Filho, Fausto Fawcett, Flávia Ribeiro, George Hamilton, Guilherme Costa, Hugo Cilo, Juliana Cariello, Luiza Villaméa, Lucas Bessel, Murilo Borges, Rodrigo Novaes, Sérgio Quintanilha, Solange Azevedo e Tom Cardoso, (texto); Paulo Mancini (foto de capa); Christian Gaul, Daryan Dornelles, Felipe Varanda, Jair Lanes, Pisco del Gaiso, Rogério Albuquerque e Toni Pires (fotos); Daniel Vicent (ilustração); Cris Lopez/ Abá, Juliana Borba/Abá, L. Braga Jr. e Sayuri Odo (produção) REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan

PROJETO GRÁFICO COPY-DESK E REVISÃO SERVIÇOS GRÁFICOS OPERAÇÕES VENDA AVULSA

Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens) Giacomo Leone, Lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi GERENTE INDUSTRIAL: Fernando Rodrigues COORDENADOR GRÁFICO: Ivanete Gomes GERENTE: Thomy Perroni ASSISTENTES: André Barbosa, Fábio Rodrigo e Luiz Massa OPERAÇÕES LAPA: Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte. COORDENADOR: Jorge Burgati ANALISTA: Cleiton Gonçalves ASSISTENTE SÊNIOR: Thiago Macedo ASSISTENTES: Aline Lima e Bruna Pinheiro AUXILIAR: Caio Carvalho ATENDIMENTO AO LEITOR E VENDAS PELA INTERNET: Dayane Aguiar

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06 SETEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016

MARKETING PUBLICITÁRIO: DIRETORA: Isabel Povineli GERENTE: Maria Bernadete Machado COORDENADORA: Simone F. Gadini ASSISTENTES: Ariadne Pereira, Laliane Barreto e Marília Trindade 3PRO: DIRETOR DE ARTE: Victor S. Forjaz REDATORA: Marianne Bechara PUBLICIDADE ONLINE: GERENTE: Michele Gonzaga 2016 é uma publicação trimestral da Três Editorial Ltda.. Redação e Administração: Rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CEP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da Redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no Rio de Janeiro: Av. Almirante Barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em Brasília: SCS, Quadra 2, Bloco D, Edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comercialização: Três Comércio de Publicações Ltda. Rua William Speers, 1.212, São Paulo/SP Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil: FC Comercial e Distribuidora S.A. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-1623 Impressão: Editora Três Ltda. Rodovia Anhanguera, km 32,5/CEP 07750-000 – Cajamar/SP e Prol Editora Gráfica Ltda. Av. Luigi Papaiz, nº 581/CEP 09931-610, Diadema/SP


EDITORIAL

ESPORTE DÁ AUDIÊNCIA E GERA LUCROS

Nas últimas semanas, o esporte brasileiro ocupou espaços nobres em jornais, revistas, sites noticiosos e na tevê. Nenhum atleta – nem mesmo do futebol – apareceu com tanto destaque quanto Fabiana Murer, campeã mundial de salto com vara. As conquistas do judô, que em agosto quebrou o recorde de medalhas do Brasil em competições intercontinentais, foram fartamente exploradas pela mídia, e até uma campeã do remo, a catarinense Fabiana Beltrame, dona do primeiro ouro do País em mundiais da modalidade, mereceu generosa exposição. O que isso significa? Em primeiro lugar, trata-se de uma resposta imediata à melhoria da performance dos atletas nacionais. Antes rara, a presença de brasileiros em finais de competições de primeira linha atrai naturalmente a atenção da imprensa. Será apenas isso? Não seria correto supor que o próprio público está aprendendo a apreciar esportes além do futebol? Alguns sinais são claros. As emissoras por assinatura mais assistidas não são as que exibem documentários, shows musicais ou filmes. São as que mostram esportes 24 horas por dia. No primeiro semestre de 2011, o crescimento de audiência dessas emissoras superou a marca dos dois dígitos e, graças a esse desempenho, um novo canal será lançado até o fim do ano. E não para exibir futebol, mas preferencialmente modalidades olímpicas. Isso explica por que as verbas publicitárias destinadas ao esporte dobraram nos últimos cinco anos e justifica o aumento do interesse de empresas privadas de bancar a formação de atletas. Afinal, quem não quer associar seu nome a campeões? A presente edição da 2016 traz uma reportagem reveladora sobre patrocínios esportivos e comprova que as corporações passaram a tratar a questão como prioridade. Esta é também uma edição histórica: nossa personagem de capa é Fabiana Murer, que faturou o primeiro ouro do Brasil em Mundiais de Atletismo. No dia em que Fabiana ganhou o título, já tínhamos uma capa pronta com a nova geração do judô brasileiro. Mas o compromisso jornalístico venceu as limitações de tempo e conseguimos produzir um material exclusivo sobre a campeã – e sem jamais perder de vista a exuberância visual que é marca registrada da revista. Isso se deve ao incansável editor de fotografia Max GPinto, que conseguiu as melhores imagens da saltadora. Artista plástico de talento raro, Max é motivo de orgulho para toda a equipe da 2016. Assim que terminamos a publicação, ele partiu para Berlim, na Alemanha, onde vai expor algumas de suas telas em um evento internacional de artes. Sua mente criativa pode ser observada na reportagem “Dia a dia no COB”, brilhantemente ilustrada por ele. Boa leitura. AMAURI SEGALLA EDITOR-EXECUTIVO asegalla@istoe.com.br


Pisco DeL Gaiso

Desde 1989, ele vem disparando seus cliques por aí. Nos anos 90, lançou o jornal Hardcore, especializado em surfe, e fotografou para a revista Trip. Contratado pela Folha de S.Paulo, estreitou seus laços com o mundo esportivo e cobriu a Olimpíada de Barcelona 92 e a Copa dos EUA 94. Fotografou também a Copa seguinte, aquela do Zidane e da crise do Fenômeno. Recebeu o prêmio internacional de fotografia King of Spain, pelo trabalho sobre os índios awa-guajá no Maranhão. É um dos 12 fotógrafos convidados para o livro Inspiração, que foi lançado em janeiro de 2004 durante as comemorações do aniversário de São Paulo. Iniciou em agosto de 2010 a produção do livro Cuniã, o Lago da Menina, sobre um dos mais importantes mosaicos de biodiversidade do Brasil. É com essa experiência e um olhar fascinado pelo ser humano que Pisco captura as imagens de João do Pulinho nesta edição da 2016.

L. a. BraGa Jr.

Se você se deparar com o sujeito acima olhando de maneira muito profunda para a sua casa, a sua roupa ou o seu carro, fique tranquilo. Com certeza, em vez de querer se apoderar de algo que não lhe pertence, o Braga vai estar com a cabeça a milhão imaginando maneiras de usar aquela casa, aquela roupa ou aquele carro em seu próximo trabalho. “Produzo o que for impossível”, assim ele resume a sua arte, que pode ser conferida nesta edição na reportagem sobre judô e na seção Performance. Formado em publicidade e criação no Mackenzie, ele usa a sua experiência visual para montar cenários, climas e devaneios. Antes de mergulhar no mercado editorial, foi supervisor de imagem e merchandising da grife italiana Benetton até o final dos anos 1990. Entrou na década seguinte fotografando para grandes revistas. Como não encontrava quem o fizesse, cuidava da produção das próprias imagens. Acabou pegando gosto pela coisa.

toni Pires

Ele tem 46 anos e passou metade deles imerso no ofício de congelar imagens. Já rodou boa parte do mundo clicando de Copa do Mundo a geleiras no Continente Antártico. Com especial talento para contar histórias por meio da fotografia, já ganhou um Prêmio Esso. Nos últimos anos, apaixonouse pela produção de imagens com o iPhone e resolveu se especializar no assunto. Suas fotos capturadas com o aparelho já rodam o mundo e vieram parar na 2016. Foi com o seu celular que Toni acompanhou o roteiro e o olhar impertinente de Fausto Fawcett pelo lado mais sedutor, ousado e descolado da noite do Rio de Janeiro.

Fausto Fawcett

“Se a Bahia deu régua e compasso a Gilberto Gil, costumo dizer que Copacabana me forneceu a papelaria toda.” É assim que o jornalista, escritor, roteirista e figura emblemática de uma fase da música brasileira Fausto Fawcett define o bairro que virou seu habitat natural. Foi ali que, a bordo de uma calcinha Exocet, Kátia Flávia, a “Godiva do Irajá”, se perdeu. Quase 24 anos depois desse episódio, Fausto volta a guiar gente pelos meandros de uma noite que une lascívia, desejo, cultura B e comida de boteco. Ele, que é coautor do megahit Rio 40 Graus, mostra nesta 2016 que os termômetros da cidade continuam elevados mesmo depois de o sol se pôr. Entrega um roteiro que, por ele não beber mais álcool, passou um tempão sem frequentar, mas tudo ainda está lá, firme e forte. Sinal de vitalidade das casas de suingue, dos clubes de strip, dos botecos sujinhos... Indício de que a Olimpíada passa, e o Rio de Fausto Fawcett fica.

coLaBoraDores

aDaLBerto Leister FiLho

“Para 97% de seus colegas de profissão, ele é simplesmente o Adalba. Apesar de aparentemente jovem (idade não revelada), é veterano de Olimpíada. Como repórter, já cobriu duas: Atenas 2004 e Pequim 2008. Começou a trabalhar com esporte em 1997, no jornal Lance!. A ideia era ficar na área por apenas dois anos, mas em 2000 ele já estava na Folha de S.Paulo. Nove anos depois, foi contratado pela Rede Record para ser editor do núcleo olímpico. O mundo acadêmico também já descobriu o talento olímpico do Adalba. Desde este ano, é professor de jornalismo esportivo na Faap. No pouco tempo que sobra, ele gosta de participar de corridas de rua (já disputou 65). Por seis vezes tentou a sorte na São Silvestre: “Mas nunca cheguei nem perto dos quenianos”. Por falar em estrangeiros, nesta edição Adalba conta as histórias dos gringos que defendem nossas cores.

Jair Lanes

Ele já recebeu uma menção honrosa no Concurso Kodak em Paris e um prêmio no paulistano Festival do Minuto. Expôs na França e em várias cidades pelo Brasil inteiro. O que o trabalho desse fotógrafo tem que agrada a olhares dos dois lados do Atlântico? Com base no ensaio do cavalo Xindoctro, que ele produziu para esta edição da 2016, a resposta está na atenção com que esse capixaba nascido em 1967 se dedica a investigar detalhes e extrair ângulos inusitados deles. Com a mesma dedicação com que escaneou o corpo do animal com as suas lentes, ele já registrou os homens do sertão, a população do Rajasthan (Índia), o metrô parisiense e as pessoas centenárias que vivem em São Paulo. Seu talento faz com que suas obras transitem sem problemas por revistas, anúncios publicitários e galerias. “O que faz o meu trabalho se transformar em arte é o olhar dos outros”, resume com humildade.



índice

seções 24 Aquecimento

ExpEdiEntE

6

Editorial

7

ColaboradorEs

8

Cartas

18

CliquE olímpiCo

20

Projeto escolhido para o parque olímpico dos Jogos do Rio deixará um legado econômico e social para a cidade

32 RAio X

Parece apenas três pulinhos, mas o salto triplo esconde vários segredos

34 entRevistA: séRgio cAbRAl

O escritor e biógrafo de personalidades da vida carioca diz que o Rio é melhor hoje que no passado

40 Duros na queDa

Judô bate recorde de medalhas no Mundial de Paris e consagra uma nova geração de lutadores

48 CaDa vez Mais alto

a incrível reviravolta na carreira e a receita do sucesso de Fabiana Murer, campeã mundial do salto com vara

54 viDa que segue

Depois de superar a perda do bebê, as estrelas do vôlei Murilo e Jaqueline focam os Jogos de londres em 2012

62 medAlhA ceRtA?

Até as rivais consideram Juliana e Larissa imbatíveis para a conquista do ouro no vôlei de praia do Pan


68 heRdeiRo de João do Pulo

Filho do ex-recordista mundial do salto triplo, Emmanuel de Oliveira começa a pular longe e surpreende os treinadores

74 legião estRAngeiRA

Vindos de vários cantos do mundo, atletas defendem as nossas cores e cantam o hino melhor do que muita gente nascida aqui

80 salto alto

quem é Xindoctro, o maior, mais pesado e mais veloz atleta brasileiro

86 o Rio de FAusto FAwcett

Preocupado com os efeitos olímpicos na noite carioca, o compositor de Kátia Flávia nos conduz em um giro noturno por boates, clubes de suingue, casas de shows e botecos

92 esPorte De alto renDiMento os Jogos do rio fazem crescer o número de empresas dispostas a investir na formação de atletas, montagem de equipes e organização de competições

98 A veRdAdeiRA FAXinA

Será que em cinco anos a cidade terá feito o necessário para dar um destino sustentável ao seu lixo?

107 ARtigo: geoRge hAmilton

Executivo da Dow Química, parceira oficial dos Jogos, diz que investimento no esporte rende muito mais que dinheiro

108 PoR dentRo do cob

Nossa repórter visitou departamentos, conheceu funcionários, conversou com celebridades esportivas e conta como são 24 horas no órgão

114 concentRAção

Videogames antecipam as emoções dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012

118 PeRFoRmAnce

Televisor 3D, home theater de última geração, tablet, frigobar e até uniforme para cachorro compõem a sala ideal para acompanhar esportes

120 esPeCial Pan

Confira os principais duelos, as estrelas brasileiras e as provas que garantem vaga para os Jogos de londres em 2012

130 PáginA douRAdA

Enquanto Hitler se preocupava com o americano Jesse Owens, o time de hóquei da Índia destruía a Alemanha


CARTAS

Maratona aquática

Hilário o texto do casseta Hélio de La Peña sobre Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha, nossas campeãs da maratona aquática. Reportagens sobre esportes são quase sempre sérias (no mau sentido, é claro) demais. Parabéns para a 2016, que faz a diferença.

Regiane Belli São Paulo – SP Já competi com Poliana Okimoto e sei da força que ela tem na água. Pode escrever: a Poliana vai trazer medalha em 2012.

Natália Ribeiro Lima Rio de Janeiro – RJ

Ciência do esporte

O texto da 2016 sobre os fatores que levam os negros a correr mais e os brancos a obter melhores resultados nas piscinas é uma verdadeira aula de ciência. Quanta informação concentrada em um único texto! Leitura obrigatória para os amantes do esporte.

Cássio Edinger Americana – SP

Jogos Militares

A vitória brasileira no quadro geral de medalhas dos Jogos Militares não retrata a realidade do esporte no País. Não acho justo um atleta que não veste farda ser inscrito às pressas no Exército apenas para disputar uma competição. Continuamos ainda muito distantes de nosso ideal olímpico.

Acompanhe a 2016

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Rodrigo Cavalcanti Baía Juiz de Fora – Minas Gerais

Onde estão as obras olímpicas?

Tenho lido na imprensa uma justa cobrança a respeito dos prazos para a construção dos estádios que vão sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014. Não vejo a mesma preocupação em relação à Olimpíada de 2016. Será que não é hora de ficarmos mais atentos a isso?

Conteúdo extra

Arnaldo Mendonça Ribeiro Rio de Janeiro – RJ

O sonho de Maguila

Que é isso, Maguila? De campeão de boxe para dono de ONG que treina bailarinas? Brincadeiras à parte, acho admirável ex-atletas terem a preocupação de formar novos talentos e tirar crianças da pobreza. Que a ONG de Maguila forme campeões no boxe, no atletismo e – por que não? – no balé.

André Zanoni Falcone São Paulo – SP

18 SETEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016

Assista ao making of da sessão de fotos para o ensaio com os atletas do judô, confira a galeria de fotos feitas para a reportagem sobre o cavalo Xindoctro e acompanhe o vídeo feito com o compositor Fausto Fawcett sobre a noite carioca



CliqueOlĂ­mpicO imagens surpreendentes dO espOrte

Levantou poeira


Apesar do esforço e da aterrissagem espalhafatosa, Ineta Radevica chegou a apenas 6,76 metros no salto em distância do Campeonato Mundial de Atletismo de Daegu, Coreia do Sul, em agosto. Levou o bronze, mas ficou longe de sua melhor marca, 6,92 metros, atingida em Barcelona, no Campeonato Europeu de 2010. Nascida na Letônia e aperfeiçoada na americana Universidade de Nebrasca, inicialmente Ineta alcançou a fama por conta de seus talentos fora das pistas. Em setembro de 2004 chegou às bancas dos Estados Unidos a edição de uma revista masculina dedicada a atletas. Ineta estava lá, nua e aparentemente à vontade. E, pelo menos naquela revista, não teve competidora à altura. Era a mais linda e bem delineada. Chamou a atenção e recebeu o assédio de muita gente, mas acabou escolhendo o jogador de hóquei no gelo Petr Schastlivy, com quem é casada até hoje

Pawel Kopczynski/REUTERS


CliqueOlĂ­mpicO

atLeta de fibra


A sombra da foto é do corredor sul-africano Oscar Pistorious, momentos antes de ele tentar fazer história e se tornar o primeiro atleta paraolímpico a chegar a uma final do Campeonato Mundial de Atletismo. Os quatro ouros que já conquistou em Jogos Paraolímpicos (três delas em Pequim 2008) nunca foram suficientes para saciar a sede de vitórias. Com próteses feitas de fibra de carbono entre o joelho e o solo, Pistorious conseguiu um posto na semifinal dos 400 m rasos no Mundial de Daegu, Coreia do Sul, em agosto. Toda a torcida coreana gritava seu nome no começo da prova. Como sempre, sua arrancada deixou a desejar, mas, como nunca, a retomada ficou aquém do esperado. Marcou apenas 46s19, mais de um segundo além de sua melhor marca, 45s07. Ficou fora da final, mas isso não diminuiu em Pistorious a esperança de brilhar em Londres, em 2012

Dylan Martinez /REUTERS


AQUECIMENTO

Cássio Vasconcellos • Divulgação COB

ESPORTE A TODA VELOCIDADE

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10 3 11 2

9 1

4

como será o Parque olímpico em 2016 1 Arenas do Centro Olímpico de Treinamento 2 Arena multiuso 3 Arena de esportes aquáticos 4 Campos de aquecimento 5 Quadras de tênis 6 Área com telão 7 Velódromo 8 Hóquei na grama 9 Natação 10 Instalações de mídia 11 Estacionamento

8

5 7

como será em 2030 1 Centro comercial 2 Condomínio residencial 3 Parque 4 Residências 5 Clube de iatismo 6 Hotel 7 Centro de lazer

6

como será em 2018

4 Floresta tropical 5 Parque infantil 6 Escritórios 7 Estufa 8 Cinema 9 Pista de kart 10 Quadras

1 Escola, mercado e residências 2 Viveiro de árvores 3 Pistas de bicicleta

7 1

4

6 3

5

9 10

6 1

2

8 7 2 3 5 4

25 SETEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


AQUECIMENTO

“nÃo aGuentei a PreSSÃo” Poucas vezes foi tão fácil definir o auge da carreira de um atleta quanto no caso de Ronaldo da Costa. O dia 20 de setembro de 1998 marcou o ápice que ele jamais atingiria novamente. Em Berlim, com o tempo de 2h06m05s, esse mineiro de Descoberto pulverizou em 45 segundos o recorde mundial da maratona, que já durava mais de dez anos. assolado por problemas pessoais e lesões, Ronaldo sumiu dos holofotes nos anos seguintes até abandonar de vez as corridas em 2006. Em entrevista ao repórter Lucas Sanchez, ele admite que não soube lidar com a pressão de ser uma celebridade do esporte.

O que aconteceu depois de 1998? A verdade é que eu não aguentei a pressão. As coisas nunca mais se encaixaram. Depois de bater o recorde da maratona, eu saí no Jornal Nacional, todo mundo me conhecia e a cobrança começou a ser muito grande. Eu não estava preparado para isso. A culpa foi só minha. Essa pressão afetou sua vida pessoal? Sim. Nos anos seguintes, fiquei muito abalado com a separação da minha primeira mulher. Também teve o caso da minha carteira de habilitação falsa [Ronaldo foi processado por utilizar uma carteira de motorista falsificada, em um caso que ganhou repercussão nacional. Segundo o ex-atleta, o documento frio foi resultado de uma “confusão”]. Você parou de correr profissionalmente em 2006. Sente falta? Muita. Para falar a verdade, voltei a trotar por aí faz dois meses. Por enquanto, não é nada sério. Só para poder sentir de novo essa sensação boa de correr. Quem sabe, no futuro, possa disputar algo de novo. Não uma maratona, mas talvez outras corridas.

26 SETEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016

Mike Hewitt/Allsport

Como se mantém financeiramente depois de abandonar as pistas? Essa parte é difícil. Ganhei um bom dinheiro com a corrida. Mas, em 1998, eu era um cara de 28 anos e acabei gastando muito. Não com drogas ou prostitutas, como muito jogador de futebol, mas com coisas como casa e carros. Nem todos os meus investimentos deram certo. Hoje eu sobrevivo basicamente do dinheiro que ganho com algumas palestras. Paciência, a gente vive com o que tem. Quais os seus planos para o futuro? Quero trabalhar com crianças da minha região, em São João Nepomuceno, Rochedo de Minas e Rio Novo. Ainda está difícil conseguir apoio para esses projetos. Se eu fosse para Belo Horizonte, com certeza seria mais fácil. Meu sonho é montar uma estrutura para incentivar o esporte e tirar a molecada da rua.


Anthony Charlton/LOCOG/Getty

EfiCiênCia Estádio Olímpico de Londres: pronto com um ano de antecedência

Pontualidade britânica

Um ano antes da Olimpíada, as grandes obras para Londres 2012 já estão prontas (será que o Rio seguirá o exemplo?). Confira quais são as principais arenas e construções olímpicas britânicas e quando elas foram concluídas.

estádio olímpico Esportes: atletismo (olímpico e paraolímpico) Capacidade: 80 mil pessoas (25 mil lugares permanentes e 55 mil temporários) Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: julho de 2011

centro aquático Esportes: salto, natação, nado sincronizado e pentatlo moderno Capacidade: 17,5 mil pessoas (2,5 mil permanentes e 15 mil temporários) Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: julho de 2011

arena de basquete Esportes: basquete, basquete em cadeira de rodas, rúgbi em cadeira de rodas e handebol (finais) Capacidade: 12 mil pessoas Tipo de estrutura: nova/temporária Quando foi entregue: junho de 2011

lee Valley White Water centre Esporte: canoagem slalom Capacidade: 12 mil pessoas (temporários) Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: dezembro 2010

arena de handebol Esportes: handebol, goalball e pentatlo moderno (esgrima) Capacidade: 6,5 mil pessoas Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: julho de 2011 Velódromo Esporte: ciclismo Capacidade: seis mil pessoas Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: fevereiro de 2011

centro internacional de transmissão (ibc) Principal instalação do Centro de Imprensa Capacidade: 20 mil profissionais Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: julho de 2011 Vila dos atletas Acomodações, restaurantes e lojas Capacidade: 17 mil pessoas Tipo de estrutura: nova/permanente Quando foi entregue: dois terços em julho de 2011

north Greenwich arena (02 arena) Esportes: ginástica artística, basquete (finais) e basquete paraolímpico Capacidade: 20 mil pessoas (basquete) e 16,5 mil (ginástica) Tipo de estrutura: existente/adaptada Quando foi entregue: junho de 2007 (reformada) Wimbledon Esportes: tênis Capacidade: 30 mil pessoas Tipo de estrutura: existente Quando foi entregue: 2009 (reforma com teto retrátil)


AQUECIMENTO

ESTRANHOS (E ÀS VEZES BELOS) MASCOTES OLÍMPICOS

animais, humanos e seres fantásticos já desempenharam o papel de embaixadores dos Jogos

Ser indefinido

Animais

Schuss O que é: um ser irreconhecível montado sobre esquis Quando: Olimpíada de Inverno de 1968 – Grenoble, França

Waldi O que é: um cachorro Daschund de pelo longo Quando: Olimpíada de Verão de 1972 – Munique, Alemanha

Forma humana Athena e Phevos O que é: crianças com nomes de deuses Quando: Olimpíada de Verão de 2004 – Atenas, Grécia

Seres animados ou mitológicos Fuwas O que é: representa crianças, animais e a chama olímpica Quando: Olimpíada de Verão de 2008 – Pequim, China

Amik O que é: um castor, na língua nativa Alqonquin Quando: Olimpíada de Verão de 1976 – Montreal, Canadá Misha O que é: o urso que chorou na cerimônia de abertura Quando: Olimpíada de Verão de 1980 – Moscou, Rússia Sam O que é: a águia careca com chapéu do Tio Sam Quando: Olimpíada de Verão de 1984 – Los Angeles, Estados Unidos Hodory O que é: um tigre das lendas coreanas Quando: Olimpíada de Verão de 1988 – Seul, Coreia do Sul Cobi O que é: o cachorro em estilo cubista Quando: Olimpíada de Verão de 1992 – Barcelona, Espanha

Wenlock e Mandeville O que é: gotas do aço usado na construção de estádios Quando: Olimpíada de Verão de 2012 – Londres, Reino Unido

Olly, Syd e Millie O que é: ornitorrincos e porco-espinho Quando: Olimpíada de verão de 2000 – Sydney, Austrália


O LIMITE DO LIMITE

Até que ponto recordes podem ser batidos? Um especialista americano garante ter a resposta

Pela lógica, detonar recordes é algo que se torna mais difícil com o passar dos anos – afinal, o limite físico fica cada vez mais próximo. Mesmo assim, marcas continuam sendo quebradas. Para o americano John Brenkus, autor do livro The Perfection Point, o desempenho dos atletas ainda pode ser melhorado, mas só até certo ponto. Descubra como ele chegou a essa conclusão 100 metros rasos Recorde atual: 9,58s • Limite teórico: 8,99s Para derrubar a marca dos 9 segundos, um atleta terá que arrancar 100 milissegundos após o tiro de partida, acelerar até cerca de 47 km/h e manter esse ritmo até o fim. Não é fácil, mas possível, segundo Brenkus. Em 2009, o jamaicano Usain Bolt manteve um ritmo quase constante de 43,2 km/h, fixando a marca de 9,58 segundos. Com 3,7% de melhoria fisiológica e um ambiente adequado, o atleta poderia chegar ao limite teórico. Tacada mais longa de golfe Recorde atual: 382,22 m • Limite teórico: 496,52 m De acordo com Brenkus, o atual recordista, Jamie Sadlowski, teve pequenas falhas técnicas em sua tacada. Corrigi-las adicionaria 15,54 metros à marca. Um jogador um pouco mais alto também conseguiria mandar a bola 30,17 metros mais longe. Com 14% mais força muscular, um atleta adicionaria outros 68,57 metros ao atual recorde. a enterrada mais alta Recorde atual: 3,65 m • Limite teórico: 4,38 m A melhor maneira de bater a atual marca é sendo mais alto que os recordistas Dwight Howard, do Orland Magic, e Michal Wilson, um ex-Harlem Globetrotter. Para Brenkus, uma pessoa pode medir até 2,18 metros sem prejudicar seus saltos. Com braços longos e um pulo de 1,29 metro, a enterrada chegaria ao seu limite


Objetivo e regras

História

• O objetivo do atleta do salto triplo é atingir a maior distância após a realização de três saltos sucessivos, que terminam em uma caixa de areia.

É quase impossível determinar a origem exata do salto triplo como modalidade esportiva, embora registros de Olimpíadas da Grécia Antiga mostrem atletas atingindo distâncias de mais de 15 metros.

• A sequência consiste em corrida – geralmente de 15 a 20 passos –, impulsão, passada e salto. • A perna utilizada para a impulsão (primeiro pulo) deve ser a mesma perna da passada (segundo pulo). Já o salto (terceiro pulo) deve ser feito com a outra perna. • A medição da distância é feita a partir do ponto de queda mais próximo à tábua de impulsão, que fica a 13 metros de distância da caixa de areia. • Em competições oficiais, cada atleta tem direito a três tentativas nas classificatórias e três nas finais. Apenas o melhor resultado é creditado.

32 setembRO 2011 | istoé 2016

A mitologia irlandesa também tem histórias de competições de salto triplo disputadas quase 2.000 anos antes de Cristo. A modalidade é parte do cronograma olímpico desde os primeiros jogos da Era Moderna, em 1896, na Grécia. O salto triplo feminino passou a fazer parte da Olimpíada em 1996, em Atlanta.

Henrik Sorensen/Imagebank • Folhapress

RAIO X: Tudo o que você precisa saber sobre salto triplo


v

Feras brasileiras Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001) O primeiro bicampeão olímpico do Brasil conquistou medalhas de ouro no salto triplo na Olimpíada de Helsinque, em 1952, e de Melbourne, em 1956. Atleta do São Paulo, foi homenageado com duas estrelas douradas sobre o escudo do clube, referência aos recordes mundiais quebrados em 1952 e 1955. Em seu quadro de glórias, estão também os três ouros conquistados em Pan-Americanos consecutivos: 1951 (Buenos Aires), 1955 (Cidade do México) e 1959 (Chicago).

João do Pulo (1954-1999) João do Pulo foi recordista mundial do salto triplo em 1973 e 1975, ano em que atingiu a incrível marca de 17,89 metros, superando em quase meio metro o recorde anterior. Ganhou dois bronzes olímpicos, em 1976 (Montreal) e 1980 (Moscou). Nos jogos da Rússia, teve nove de seus 11 saltos anulados, fato que gera controvérsia até hoje. Em 1981, sofreu um acidente de carro que resultou na amputação de sua perna direita. Morreu em 1999 – de cirrose hepática –, solitário e com problemas financeiros.

Nelson Prudêncio (1944) Mesmo sem uma medalha de ouro, Nelson Prudêncio, hoje com 67 anos, deixou seu nome marcado na história do atletismo. Foi detentor, por alguns minutos, do recorde mundial no salto triplo, quebrado nove vezes em apenas quatro horas durante a Olimpíada do México, em 1968. Contra o soviético Viktor Saneyev e o italiano Giuseppe Gentile, Prudêncio levou a disputa ao nível máximo, terminando com a prata e a marca de 17,27 metros. Na Olimpíada seguinte, o atleta subiria de novo ao pódio, com o bronze.

recordes mundiais Masculino: Jonathan Edward (Reino Unido – 18,29 metros – 7 de agosto de 1995) Feminino: Inessa Kravets (Ucrânia – 15,50 metros – 10 de agosto de 1995)

recordes brasileiros Masculino: Jadel Gregório (17,90 metros – 20 de maio de 2007) Feminino: Keila Costa (14,57 metros – 9 de junho de 2007)

técnica e concentração O salto triplo é uma modalidade que exige a combinação de técnica e concentração, aplicadas em todas as etapas. Observe: • Corrida: ao mesmo tempo em que deve adquirir velocidade, o atleta precisa coordenar os passos para atingir precisamente a tábua de impulsão, sem ultrapassá-la. • Impulsão: é o salto determinante para a “qualidade” de todos os movimentos seguintes. Com a perna mais forte, o esportista deve chegar à relação ideal entre velocidade horizontal (para a frente) e velocidade vertical (para cima).

• Passada: é o momento em que a perna de impulsão sofre o maior impacto, que pode chegar a seis vezes o peso do atleta. Ao empurrar com força para trás, tenta-se reduzir a perda de velocidade horizontal. Durante o voo, o esportista busca reequilibrar o centro de gravidade. • Salto: com a perna mais fraca e a planta do pé, o atleta dá o pulo final para atingir a caixa de areia. É a fase que se assemelha ao salto em distância, com a diferença de que a velocidade horizontal é significativamente menor. Por meio da rotação dos braços no ar, o atleta corrige o equilíbrio para cair sentado, com o peito e as mãos para a frente.


entRevista | séRgiO cabRal

“O RiO é melhOR hOje que nO passadO”


assim como noel Rosa era identificado pelo

queixo afundado e o nariz aquilino, sérgio cabral sempre foi reconhecido por suas indefectíveis e enormes olheiras. pois é, elas não estão mais lá. Sumiram da face do jornalista, escritor e biógrafo de algumas das maiores personalidades da história da música brasileira. Ele credita o fenômeno a dois acontecimentos recentes: “Tô dormindo mais e bebendo menos.” Está explicado. De origem pobre, Cabral, 74 anos, atravessou cinco décadas trabalhando duro e bebendo muito – como a maioria dos grandes jornalistas de sua geração. Diminuiu o ritmo e hoje, entre a produção de uma e outra biografia, acompanha o crescimento das olheiras do filho, atual governador do Rio que levou a Olimpíada de 2016 para o seu Estado. Símbolo vivo da cidade, Cabral pai foi a primeira pessoa a falar com o presidente Lula por telefone, minutos depois de o Rio vencer a disputa. O escritor recebeu a reportagem da 2016 em seu apartamento em Copacabana, em uma rua tranquila, longe da agitação do bairro. Eterno apaixonado pela vida carioca, não admite que falem mal da cidade e tem horror a qualquer tipo de manifestação saudosista. “O Rio é melhor hoje que no passado.” A seguir, ele explica por que pensa dessa maneira. O sr. fez parte de um Rio de Janeiro que não existe mais. É possível, com a Olimpíada, a Copa do Mundo e as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), fazer do Rio uma cidade aprazível?

Olha, é bom que se diga: não sou saudosista. Está um pouco na moda cultuar o passado. Veja o novo filme do Woody Allen (Meia-noite em Paris, que narra a história de um homem que sonha em viver na Paris dos anos 20). Fica todo mundo suspirando por uma época que não existe mais. Não é a minha. E sabe de uma coisa? Tenho sérias

entRevista séRgiO cabRal,

JORNALISTA CARIOCA, ESCRITOR E BIÓGRAFO DE PERSONALIDADES DA MÚSICA BRASILEIRA por TOM CARDOSO foto DARYAN DORNELLES

dúvidas se o Rio era melhor no passado. Não acho, não.

Mas e a violência...

Sim, aumentou. Mas o Rio não é só da bandidagem. Eu estava dando uma entrevista ao vivo para a TV Cultura, em São Paulo, quando fui interrompido pelo plantão de jornalismo que precisava noticiar um grande arrastão na zona sul do Rio. Quando a minha entrevista voltou ao ar, o repórter, horrorizado, comentou comigo: "Cabral, o que está acontecendo com o Rio de Janeiro?" Eu disse a ele que naquele exato momento acontecia algo incrível, o lançamento do disco do Guinga e do Aldir Blanc. O que quero dizer é que, apesar de todos os problemas, a gente continua produzindo coisas maravilhosas.

Mas o sr. mora em Copacabana. Não bate uma saudade quando lembra da Copacabana dos anos 50 e 60? Pois é, Copacabana era cheia de boates importantes. Era possível caminhar meia quadra e assistir a um show do Nat King Cole ou da Edith Piaf. A década de 50 foi o esplendor do bairro. Mas continuo adorando Copacabana.


entRevista | séRgiO cabRal

O sr. anda com seguranças?

Sim, ando. Mas eles são discretos. Ficam me vigiando a distância. Não tenho minha privacidade atingida.

É duro ser pai do Sérgio Cabral Filho, governador do Rio de Janeiro?

É ótimo ser pai do Serginho, independentemente do cargo que ele ocupa. Às vezes, preciso me cercar de certos cuidados. Quando houve o episódio da invasão ao morro do Complexo do Alemão (em novembro de 2010), fiquei um bom tempo sem sair de casa, com medo. Mas já passou.

Chegou a ser ameaçado?

Pessoalmente, não. Mas um coronel do Bope ouviu algumas gravações e ligou aqui em casa. Disse que a bandidagem tinha planos de pegar "o pai do governador". Fiquei quieto, no meu canto. Mas agora já voltei à rotina.

Como o sr. recebeu a notícia de que o Rio de Janeiro seria a sede da Olimpíada de 2016?

Fiquei emocionado. Passei a chorar sem parar. O Serginho sabia da minha torcida, da minha vontade imensa de ver o Rio sediando uma Olimpíada. O Lula me ligou e a gente comemorou junto. Aliás, eu e o ex-presidente ficamos muito amigos. Somos dois homens do povo, de origem humilde. A gente conversa muito sobre samba e futebol.

O sr., aliás, foi um bom jogador de futebol. Dizem que nenhum crítico de música brasileira jogou mais bola. É verdade?

A situAção nos morros melhorou tAnto que Até os jornAlistAs pAssArAm A AchAr que As fAvelAs virArAm um pArAíso. elas nãO sãO mais dOminadas pelO tRáficO

Jogava de lateral ou de ponta-direita. Mais de lateral. Era um bom jogador e posso dizer, com o maior orgulho, que nunca errei um pênalti na vida. O máximo que cheguei perto de errar foi durante uma partida de jornalistas da revista Realidade. Eu bati mal o pênalti e o goleiro chegou a raspar a mão na bola. Eu batia tão bem pênalti que o Gérson, o "Canhotinha-de-Ouro", sabendo da minha fama, tirava sarro dos jogadores profissionais quando eles erravam: "Benfeito, você não ficou observando o Sérgio Cabral bater."

O sr., ao contrário de seu filho, não teve uma experiência muito longa com a política. Exerceu alguns mandatos como vereador, mas depois voltou para casa para escrever seus livros. É preciso ter estômago para ser político?

Quais?

36 setembro 2011 | istoé 2016

Uma vez entrei no Antonio's (mitológico bar da zona sul carioca, frequentado por artistas e intelectuais). Estava me preparando para sentar na mesa com o Tom Jobim quando ouvi um sujeito gritar do fundo do bar: "E aí, Cabral, tem muito ladrão lá na Assembleia do Rio?" Eu ia deixar passar, mas resolvi ir até a mesa do sujeito, que estava cheia de gente. Cheguei lá e disse: "Lá tem tanto ladrão quanto aqui na sua mesa." O cara ficou sem resposta. Mas é isso mesmo. A política representa a sociedade. Tem de tudo: de gente honesta a picaretas.

Felipe Dana/AP • Vanderlei Almeida/AFP

Sim. Eu me enchi daquilo. Convivia com pessoas que não tinham nenhuma afinidade comigo. E era obrigado a aguentar algumas aporrinhações.


Qual será a sua próxima biografia?

Já comecei a escrever o livro sobre a vida do (diretor de cinema) Carlos Manga. O próximo será sobre a (cantora) Aracy de Almeida. Sou um privilegiado. Costumo me vangloriar de ter conhecido pessoalmente todos os grandes nomes da música popular sobre os quais eu escrevi. De Pixinguinha a Tom Jobim. De Elizeth Cardoso a Nara Leão. De alguns, tive a sorte de ser íntimo, de frequentar casa e tudo. Só o Noel Rosa cometeu a grosseria de morrer 27 dias antes do meu nascimento.

O sr. sempre circulou muito à vontade pelos morros cariocas. Imagino quanto ficou distante dos amigos depois do crescimento do tráfico de drogas. É, isso começou nos anos 80. Todo mundo diz que foi na gestão do (Leonel) Brizola que o crime se organizou no Rio. Não foi nada disso. Foi a política social imposta pela ditadura militar que arrasou com a cidade.

O sr. voltou a frequentar algum morro depois das UPPs?

Não, mas pretendo ir. Quero visitar o Alemão. A situação nos morros melhorou tanto que até os jornalistas passaram a achar que as favelas viraram um paraíso. Elas continuam tendo os mesmos problemas estruturais de bairros mais humildes, com a diferença de que não são mais dominadas pelo tráfico.

COMEMORAçãO: Festa após anúncio da escolha do Rio para sediar

Em relação à malandragem, é impossível não ser saudosista. a Olimpíada de 2016: "Passei a chorar sem parar", diz o escritor Não existe hoje um malandro com o charme do Madame Satã (transformista que virou lenda na Lapa e tema de filme dirigido por Karim Aïnoz). O senhor o redescobriu na célebre entrevista do jornal O Pasquim. Quando o Rio começou a ser dominado pelo tráfico, o sr. Sim, eu, Jaguar, Tarso de Castro, Millôr, Ziraldo, o entrevistachegou a ter dificuldades para subir o morro?

mos para o O Pasquim. Eu tinha 12 anos quando ouvi falar pela primeira vez de Madame Satã. Tinha decidido pegar um bonde sozinho até a Lapa. Alguém me alertou: "Lá na Lapa toma cuidado com um travesti chamado Madame Satã. Ele é um veado que pega menino como você e obriga a comer. Se não comer, ele enche de porrada."

E o sr., imagino, tomou cuidado...

Sim, claro. Eu era esperto. Muitos anos depois eu levei o Satã para a redação do Pasquim e fizemos aquela histórica entrevista. Fiquei amigo dele. Não tanto quanto o Jaguar, que ia comer o feijão do Madame todo dia. O feijão, viu.

O sr. é de origem humilde. Estudou em escola pública e teve de começar a trabalhar muito cedo, como eletricista. Isso o ajudou no contato com os sambistas do morro?

Sim, não tenha dúvida. Eu vivi em Cavalcante (bairro do subúrbio do Rio) dos 5 aos 24 anos de idade. Muitos amigos entraram para a bandidagem. Uma vez quase fui assaltado por um amigo de infância. Eu estudava à noite. Passava sempre por uma rua mal-iluminada. Um dia, o Saruê, esse amigo que tinha entrado para a bandidagem, me chamou de canto e disse: "Pô, Sérgio, outro dia quase te assaltei por engano. Vou dar uma dica importante: anda sempre no meio da rua, evite andar pela calçada."

Sim, visitar os amigos sambistas passou a ser um programa arriscado. Visitar o Cartola na Mangueira não tinha muito problema, já que a casa dele ficava quase no asfalto. Mas quando a visita era para o Carlos Cachaça sempre acontecia alguma coisa. No caminho eu era parado por uns caras com metralhadora. Encostavam o cano no meu peito e perguntavam: "Aonde você vai?" E eu respondia: "Na casa do seu Carlos." Eles ficavam me encarando, mas no final acabavam me deixando passar.

Mas as visitas ficaram cada vez mais raras, certo?

É, teve um dia que fui convidado para ir até o Morro da Providência. Eu seria homenageado pela comunidade. Quando me preparava para subir o morro, uns caras me cercaram. Começaram a pegar meu relógio, minha carteira, tudo. E fizeram ameaças. Fui salvo porque uma integrante da associação de moradores me viu ali e gritou: "Ele é o Sérgio Cabral, o nosso homenageado!" Os sujeitos me devolveram tudo e disseram: "Vai lá, doutor, pode subir." Quando cheguei na roda de samba, aquela festa toda, só parei de tremer depois que virei uma cerveja inteira no gargalo.

O sr. continua bebendo?

Sim, sempre. Tenho pavor, pânico do dia em que terei de ouvir do meu médico que não posso mais beber. Espero já não estar mais por aqui quando ele me der essa notícia trágica.


judô

ROTINA DE VITÓRIAS Leandro Guilheiro treina quatro horas diariamente, metade do que no passado, mas de maneira mais intensa e eficaz. Nas últimas 15 competições das quais participou, só não subiu ao pódio uma vez


por solange azevedo fotos pedro dias

único esporte brasileiro a conquistar medalhas em todas as últimas sete olimpíadas, o judô bate recorde de pódios no mundial de paris e consolida uma nova geração de talentos que certamente (acredite, isso não é exagero) trará mais vitórias do pan de guadalajara e dos jogos de londres em 2012


judô

paulista Leandro Guilheiro, 28 anos, venceu tantas lutas que parou de contar quantas vezes já subiu ao pódio. As últimas medalhas que colocou no peito em 2011 – duas de ouro nos Jogos Mundiais Militares, uma de ouro no Grand Slam do Rio de Janeiro, uma de prata por equipes e uma de bronze individual no Mundial de Paris – ainda repousam sobre um móvel do quarto. Nem sequer foram penduradas em um enorme quadro fixado na parede. “Depois de ganhar uma competição, em geral descanso um ou dois dias e começo a pensar no futuro”, diz o atleta. “O meu foco não é o passado. Só daqui a alguns anos vou perceber o real valor das minhas conquistas.” Considerado o melhor judoca brasileiro da atualidade, Guilheiro é o único da modalidade a trazer duas medalhas olímpicas consecutivas. Foi bronze em Atenas (2004) e Pequim (2008). É o vice-líder no ranking da Federação Internacional de Judô (FIJ) na categoria até 81 kg. Perde apenas para o coreano Jae-Bum Kim. Com uma regularidade de dar inveja a muitos atletas, só o imponderável será capaz de tirá-lo dos Jogos Olímpicos de Londres. “Falta menos de um ano e eu me sinto bem preparado, melhor do que quando tinha 20 anos”, garante Guilheiro. “Em 2016, também estarei pronto para lutar aqui no Brasil.” O desempenho do atleta confirma o bom momento do País nos tatames. O judô foi o único esporte brasileiro a subir ao pódio em todas

as últimas sete Olimpíadas. Com 15 medalhas no currículo, só não conquistou mais pódios que o iatismo. Além disso, no ranking da FIJ, o Brasil é o terceiro do mundo em número de atletas na zona de classificação para Londres. Segue atrás do Japão, berço do esporte, e da França. “Em Londres, será a primeira vez que competiremos nas 14 categorias”, afirma Ney Wilson Silva, coordenador técnico internacional da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). “É um ciclo virtuoso. Resultados positivos nos dão mais visibilidade, atraem patrocinadores de peso e, com isso, a equipe continua crescendo e conseguindo cada vez mais espaço.” Uma porção de ações da CBJ, combinada à competência dos judocas, vem alavancando o esporte na última década. Apenas o Brasil, por exemplo, sedia duas competições que somam pontos na lista da FIJ – o Grand Slam do Rio de Janeiro e a Copa do Mundo de São Paulo. “O Grand Slam só é disputado em quatro cidades: Rio, Paris, Moscou e Tóquio”, conta Paulo Wanderley Teixeira, presidente da CBJ. “Quando sediamos esses eventos, podemos dobrar a quantidade de atletas competindo e isso nos traz certa vantagem.” Outro benefício de abrigar campeonatos dessa magnitude é que, além de o fator torcida influenciar positivamente os resultados, mais judocas brasileiros têm a oportunidade de adquirir experiência internacional. Em junho, atletas das categorias de base foram convocados para treinar com os da seleção principal no

Grand Slam do Rio. Foi mais uma tentativa de lhes conferir prestígio e de repetir a estratégia usada na Olimpíada de Pequim, em 2008, quando a equipe Sub-20 foi levada à China para dar suporte aos mais experientes. “Estamos fora dos centros mundiais de judô e é muito oneroso levar um grande número de atletas ao Exterior”, relata o coordenador técnico Silva. “Quanto mais pudermos realizar esses eventos aqui, melhor.” Silva afirma que os 22 judocas que estão na zona de classificação para a próxima Olimpíada recebem uma ajuda de custo que varia de R$ 3 mil a R$ 8 mil mensais – o que representa um investimento direto de R$ 1 milhão por ano nos atletas. Sem contar os R$ 3,5 milhões gastos para manter a infraestrutura da seleção, em despesas com transporte, hospedagem e remuneração da equipe técnica. Até os Jogos de Pequim, as vagas olímpicas pertenciam aos países e cada comissão técnica definia quais atletas participariam das competições. Agora, não. As vagas são dos próprios judocas. Eles vão somando pontos ao longo de diversos campeonatos e fazem uma verdadeira matemática para conquistar posições no ranking da FIJ. “Atualmente, só participo das competições mais importantes”, diz Guilheiro. “Posso me dar ao luxo de pensar mais na qualidade do treino do que na quantidade de competições. Tenho tempo de, entre uma luta e outra, descansar o corpo e me recuperar. Parar, refletir e


cARREIRA Rafael Silva vem sendo apontado por especialistas como atleta revelação. como iniciou tarde no esporte, ele diz que tem dificuldades em alguns fundamentos e que, por isso, deve treinar mais do que os outros judocas

“SOu umA pESSOA TRANquILA E A AGRESSIVIDADE DO mmA mE fAz ENTRAR NO cLImA DA cOmpETIçãO”


judô

mAYRA AGuIAR (À ESq.) E SARAH mENEzES GANHARAm BRONzE E AJuDARAm O BRASIL A BATER REcORDE DE mEDALHAS NO muNDIAL DE pARIS

NOVA GERAçÃO Promessas brasileiras para a Olimpíada de 2012, as atletas fazem parte de uma safra de judocas que se profissionalizaram quando a equipe feminina começou a ser reformulada


corrigir o que for necessário.” No circuito mundial de 2009, logo depois da mudança nos critérios de classificação da FIJ, Guilheiro não apresentou um bom desempenho. Vinha de uma série de lesões e estava com dificuldade de se manter com 73 quilos – distribuídos em 1,76 metro de altura. Com o apoio da equipe técnica e do Esporte Clube Pinheiros, onde treina, decidiu subir para a categoria até 81 quilos. “Foi isso que me ajudou a manter essa regularidade de resultados”, diz o judoca, que nas últimas 15 competições só não esteve no pódio uma vez. “Entendemos como o circuito mundial funciona e passamos a fazer projeções para cada temporada. Hoje treino quatro horas diariamente, metade do que cheguei a treinar no passado, mas de maneira mais intensa e eficaz.” Colega de clube de Guilheiro, o paranaense Rafael Silva, 24 anos, fechou o circuito europeu, no início de 2011, com as melhores marcas da seleção brasileira. Ele tem sido apontado por críticos do esporte como “atleta revelação”. “Meus resultados vêm desde o ano passado”, relata Silva. “Ao contrário de outros judocas

de ponta, que começam a lutar com 7 ou 8 anos de idade, eu iniciei aos 15. Por isso, ainda tenho dificuldades em alguns fundamentos. Quem pratica o esporte há mais tempo os executa de maneira natural. Eu, não. Tenho de treinar muito.” Ele conta que assiste a vídeos de MMA (o antigo vale-tudo) na concentração, como uma forma de preparação para os embates. “Sou uma pessoa tranquila e a agressividade do MMA me faz entrar no clima da competição”, afirma. Silva mede 2,03 metros e pesa 145 quilos. Como no Brasil não há muitos judocas na categoria para atletas com mais de 100 quilos, ele costuma treinar com lutadores mais leves. As feições juvenis num corpo avantajado renderam ao rapaz um apelido inusitado: Baby. O tranquilo Baby, porém, se transforma ao pisar nos tatames. Parte para cima. Nos últimos Jogos Mundiais Militares, venceu o argelino Mohamed Taib por ippon. Levou bronze. Na Copa do Mundo de São Paulo, em junho, ganhou medalha de ouro. No Mundial de Paris, no final de agosto, levou a luta com o pentacampeão Teddy Riner, na disputa por equipes, para a prorrogação. Um dos maiores judocas da França, Riner só ganhou

de Silva no Golden Score. Os franceses ficaram com o ouro por equipes e os brasileiros, com a prata. Baby acredita que o sucesso da arte marcial no País é resultado da combinação entre a técnica desenvolvida pelos japoneses e a raça dos brasileiros. O princípio do judô é o uso da técnica, dos músculos e da velocidade de raciocínio para dominar o oponente. Ele surgiu no Brasil por volta de 1922, quando Eisei Maeda, conhecido como Conde Koma, se apresentou pela primeira vez em Porto Alegre e fez uma série de demonstrações em Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Pará. Um dos fatores decisivos para a escalada do esporte foi a chegada de um grupo de nipônicos. O ano era 1938. Esses japoneses, liderados pelo professor Riuzo Ogawa, fundaram a Academia Ogawa. A partir daí, a modalidade se popularizou e passou a ser ensinada também em escolas e clubes. Tanto que, desde a Olimpíada de 1984, em Los Angeles, o judô brasileiro não deixou de subir ao pódio. O primeiro ouro olímpico, conquistado por Aurélio Miguel quatro anos depois, em Seul, funcionou como


judô

um incentivo para que cada vez mais adeptos da luta buscassem a profissionalização. “Costumo dizer que não existe presente nem futuro sem o passado”, afirma Miguel. “As condições atuais não são as ideais porque sempre tem o que melhorar. Mas eu gostaria muito que na minha época a estrutura e a administração do judô brasileiro, hoje consideradas referências, fossem como agora.” “Chegar ao topo não é tão difícil quanto conseguir se manter entre os melhores”, diz a piauiense Sarah Menezes, 21 anos. Ela iniciou o Mundial de Paris como a quarta colocada no ranking da FIJ, na categoria até 48 kg, e levou a medalha de bronze. É a única integrante da seleção brasileira que treina no Nordeste, na Academia Expedito Falcão. “Pelos resultados que a judoca vem alcançando, é provável que também traga medalhas do Pan-Americano de Guadalajara, em outubro, e da Olimpíada de Londres”, afirma Ney Wilson Silva, coordenador técnico internacional da CBJ. Sarah foi escolhida a melhor atleta do País em 2009, entre todas as modalidades esportivas, numa eleição popular promovida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Naquele ano, pela segunda vez consecutiva, a judoca havia conquistado medalha de ouro no Campeonato Mundial Sub-20. E não parou por aí. Entre suas vitórias recentes estão uma medalha de prata no Grand Slam do Rio de Janeiro e, nos Jogos Mundiais Militares, uma de prata e outra de ouro. “Eu me considero um exemplo, principalmente para as crianças”, diz a atleta. “Acompanhando a minha trajetória, quem

46 setembro 2011 | istoé 2016

vive fora dos grandes centros pode passar a acreditar mais na própria capacidade e sentir mais confiança e motivação para treinar.” Sarah foi admitida na seleção em 2005, quando tinha apenas 15 anos. Lutava desde os 9. Ela faz parte de uma nova safra de atletas que se profissionalizaram quando a equipe feminina vivia um período de reformulação. Até 2007, as judocas brasileiras eram tratadas como as primas pobres do esporte. Ficavam sob o guarda-chuva da equipe masculina. Não havia um programa específico de treinamento nem competições direcionadas para elas. Se a seleção masculina partia para determinado campeonato, lá também estavam as moças, independentemente do benefício que aquilo pudesse lhes trazer. Quando a CBJ, durante a preparação para o Pan-Americano de 2007, mandou o grupo feminino treinar em Cuba e o masculino seguiu rumo à Europa, muitas atletas acharam que estavam perdendo prestígio. Mas se enganaram. Os resultados da separação logo começaram a aparecer. A seleção feminina alcançou a sua melhor marca em Pan-Americanos: sete pódios. No ano seguinte, Ketleyn Quadros trouxe a primeira medalha olímpica do judô feminino para o Brasil. Em Pequim, ganhou bronze na categoria até 57 quilos. Das cinco medalhas individuais que o judô trouxe do Mundial de Paris, três foram conquistadas por integrantes da ala feminina – o que ajudou o Brasil a bater o recorde de vitórias em mundiais.

A gaúcha Mayra Aguiar, 20 anos, despontou justamente nessa fase de transição. Ela também levou bronze na capital francesa. Começou o campeonato como a quinta colocada do ranking mundial entre as meio-pesados (até 78 quilos). Essa categoria chama a atenção porque Mayra é a única brasileira a aparecer na lista da FIJ. Nas demais, o País tem ao menos duas ou três representantes. Mas há uma explicação. “Ninguém conseguia bater a Edinanci Silva, que estava na seleção havia muito tempo”, diz Mayra. “As meninas baixavam ou subiam de peso e ela acabava ficando sozinha na categoria. Quando Edinanci parou de lutar, eu a substitui.” Por causa da falta de mulheres meio-pesados, a atleta treina principalmente com rapazes do Clube Sogipa, em Porto Alegre. Tem dado certo. Mayra vem colecionando uma porção de medalhas – entre elas, ouro no último Grand Slam do Rio e no Campeonato Mundial Sub-20 de 2010. “O dia a dia tem me trazido mais tranquilidade”, diz a judoca. “No nível em que estou, os aspectos físico e técnico são muito parelhos durante as competições. A maior dificuldade é a parte psicológica.” Mayra é uma das grandes promessas do judô. No ano passado, fez história ao se tornar a primeira brasileira finalista do Campeonato Mundial. Acabou ficando com a medalha de prata. As quatro atletas que estão à frente dela no ranking da FIJ já sentiram seus golpes. Uma a uma, em competições mundo afora, elas sucumbiram ao enfrentar a força de Mayra.


“DEpOIS DE GANHAR umA cOmpETIçãO, Em GERAL DEScANSO um Ou DOIS DIAS E cOmEçO A pENSAR NO fuTuRO. O mEu fOcO NãO é O pASSADO”, DIz LEANDRO GuILHEIRO Styling: L. A. Braga Júnior • make: Sayuri Odo • Agradecimentos: Bya Barros, centauro, Oficina Armênia Restauradora de carros clássicos, Netshoes, francischinelli Truckcenter e OEfA Equipe pirotécnica


judô

paulista Leandro Guilheiro, 28 anos, venceu tantas lutas que parou de contar quantas vezes já subiu ao pódio. As últimas medalhas que colocou no peito em 2011 – duas de ouro nos Jogos Mundiais Militares, uma de ouro no Grand Slam do Rio de Janeiro, uma de prata por equipes e uma de bronze individual no Mundial de Paris – ainda repousam sobre um móvel do quarto. Nem sequer foram penduradas em um enorme quadro fixado na parede. “Depois de ganhar uma competição, em geral descanso um ou dois dias e começo a pensar no futuro”, diz o atleta. “O meu foco não é o passado. Só daqui a alguns anos vou perceber o real valor das minhas conquistas.” Considerado o melhor judoca brasileiro da atualidade, Guilheiro é o único da modalidade a trazer duas medalhas olímpicas consecutivas. Foi bronze em Atenas (2004) e Pequim (2008). É o vice-líder no ranking da Federação Internacional de Judô (FIJ) na categoria até 81 kg. Perde apenas para o coreano Jae-Bum Kim. Com uma regularidade de dar inveja a muitos atletas, só o imponderável será capaz de tirá-lo dos Jogos Olímpicos de Londres. “Falta menos de um ano e eu me sinto bem preparado, melhor do que quando tinha 20 anos”, garante Guilheiro. “Em 2016, também estarei pronto para lutar aqui no Brasil.” O desempenho do atleta confirma o bom momento do País nos tatames. O judô foi o único esporte brasileiro a subir ao pódio em todas

as últimas sete Olimpíadas. Com 15 medalhas no currículo, só não conquistou mais pódios que o iatismo. Além disso, no ranking da FIJ, o Brasil é o terceiro do mundo em número de atletas na zona de classificação para Londres. Segue atrás do Japão, berço do esporte, e da França. “Em Londres, será a primeira vez que competiremos nas 14 categorias”, afirma Ney Wilson Silva, coordenador técnico internacional da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). “É um ciclo virtuoso. Resultados positivos nos dão mais visibilidade, atraem patrocinadores de peso e, com isso, a equipe continua crescendo e conseguindo cada vez mais espaço.” Uma porção de ações da CBJ, combinada à competência dos judocas, vem alavancando o esporte na última década. Apenas o Brasil, por exemplo, sedia duas competições que somam pontos na lista da FIJ – o Grand Slam do Rio de Janeiro e a Copa do Mundo de São Paulo. “O Grand Slam só é disputado em quatro cidades: Rio, Paris, Moscou e Tóquio”, conta Paulo Wanderley Teixeira, presidente da CBJ. “Quando sediamos esses eventos, podemos dobrar a quantidade de atletas competindo e isso nos traz certa vantagem.” Outro benefício de abrigar campeonatos dessa magnitude é que, além de o fator torcida influenciar positivamente os resultados, mais judocas brasileiros têm a oportunidade de adquirir experiência internacional. Em junho, atletas das categorias de base foram convocados para treinar com os da seleção principal no

Grand Slam do Rio. Foi mais uma tentativa de lhes conferir prestígio e de repetir a estratégia usada na Olimpíada de Pequim, em 2008, quando a equipe Sub-20 foi levada à China para dar suporte aos mais experientes. “Estamos fora dos centros mundiais de judô e é muito oneroso levar um grande número de atletas ao Exterior”, relata o coordenador técnico Silva. “Quanto mais pudermos realizar esses eventos aqui, melhor.” Silva afirma que os 22 judocas que estão na zona de classificação para a próxima Olimpíada recebem uma ajuda de custo que varia de R$ 3 mil a R$ 8 mil mensais – o que representa um investimento direto de R$ 1 milhão por ano nos atletas. Sem contar os R$ 3,5 milhões gastos para manter a infraestrutura da seleção, em despesas com transporte, hospedagem e remuneração da equipe técnica. Até os Jogos de Pequim, as vagas olímpicas pertenciam aos países e cada comissão técnica definia quais atletas participariam das competições. Agora, não. As vagas são dos próprios judocas. Eles vão somando pontos ao longo de diversos campeonatos e fazem uma verdadeira matemática para conquistar posições no ranking da FIJ. “Atualmente, só participo das competições mais importantes”, diz Guilheiro. “Posso me dar ao luxo de pensar mais na qualidade do treino do que na quantidade de competições. Tenho tempo de, entre uma luta e outra, descansar o corpo e me recuperar. Parar, refletir e


carreira rafael Silva vem sendo apontado por especialistas como atleta revelação. como iniciou tarde no esporte, ele diz que tem dificuldades em alguns fundamentos e que, por isso, deve treinar mais do que os outros judocas

“Sou uma peSSoa tranquila e a agreSSividade do mma me faz entrar no clima da competição”


vôlei

Paixão viagens para lugares distantes, concentrações, compromissos com os clubes e com a seleção não atrapalharam o relacionamento. Pelo contrário: juntos, eles se tornaram grandes campeões do esporte


Amor A toDA ProVA Como o romaNCE ENtrE mUrilo E jaQUEliNE SoBrEViVEU a adVErSidadES dENtro E fora daS QUadraS E oS PlaNoS do CaSal maiS VitorioSo da hiStÓria do VÔlEi BraSilEiro Para oS jogoS dE loNdrES, Em 2012, E do rio, Em 2016

POR SERGIO QUINTANILHA FOTOS CHRISTIAN GAUL


vôlei

ElE foi ElEito o mElhor jogador de vôlei do mundo e nesta temporada se tornou campeão brasileiro pelo Sesi. Ela faturou a medalha de ouro nos Jogos de Pequim e na disputa do título da Superliga ficou com o vice-campeonato pelo Osasco. Murilo Endres, 30 anos, e Jaqueline de Carvalho Endres, 27, acumularam nos últimos anos um rol impressionante de façanhas no esporte – e pareciam mesmo protagonizar um mundo de sonhos. Casados desde 2009, apaixonados há uma década, eles descobriram em maio que Jaqueline estava grávida. Como na vida de qualquer casal, os laços de amor foram reforçados. Os planos, refeitos. “O bebê é a maior conquista de nossa vida”, disse Jaqueline, que pediu dispensa da seleção brasileira até o nascimento da criança. Murilo estava eufórico. “Ser pai é uma emoção que nenhuma medalha foi capaz de me proporcionar.” O encantamento durou duas semanas. Em um exame de ultrassonografia, a terrível notícia: Jaqueline tinha perdido o bebê. Ela sentiu o coração despedaçado. Ele caiu no choro. Quatro meses depois, a dor ficou para trás. “Foi mais uma barreira em nossa vida”, diz Jaqueline. “O segredo é não se deixar abater e continuar lutando.” O futuro? “Ter filhos é um sonho nosso”, diz Murilo. Por ora, porém, o vôlei volta a ser prioridade. Quem vê Murilo desferindo possantes cortadas não imagina que aquele homem de 1,92 m e 94 kg titubeou ao partir para o ataque sobre a dócil Jaqueline, então com apenas 14 anos, quando a viu pela primeira vez em um ginásio de Osasco, na Grande São Paulo, em 1999. Naquela época, Murilo era só um gaúcho tímido. Tinha apenas 17 anos e acabara de chegar a São Paulo, vindo da pacata Passo Fundo (RS) no vácuo do irmão Gustavo, também atleta da seleção. Murilo atuava na base do Banespa e vivia numa república perto da estátua do Borba Gato, no bairro de Santo Amaro, na capital paulista.

Jaqueline tinha acabado de trocar o aprazível Recife pela grande metrópole e dividia a república do time de base do BCN/Osasco com outras três meninas. Por sorte, entre eles havia dois jovens jogadores de vôlei cujos nomes nunca esqueceram: Ricardo e Flávia. Foi de Ricardo a ideia de levar os colegas para assistir a um jogo das meninas do BCN/ Osasco. Durante a partida, enquanto os garotos discutiam qual das meninas era a mais bonita, Murilo sentenciou: “É a Jaqueline, disparado. Eu quero o telefone dela.” Conseguir o telefone da moça nem foi tão difícil, mas o que viria depois, sim. – Jaque, tem um menino do time do Banespa que ficou interessado em você e pediu seu telefone. Posso dar? – perguntou Flávia, levando o recado de Murilo para a amiga. – Quem é? – É o Murilo, amigo do Ricardo. – Ah, pode. Flávia deu o número da república. Naquele início de carreira, os jovens Murilo e Jaqueline não tinham dinheiro para comprar celular. Ele ganhava R$ 400 por mês. Ela, R$ 300. Era muito pouco: um Startac da Motorola, aparelho da moda, custava R$ 1 mil. De posse do telefone da futura mulher, Murilo se sentiu travado. “Eu não sabia o que dizer a ela”, lembra. E assim três meses se passaram. Mais uma vez colaborando para que o romance vingasse, Ricardo resolveu agir. Telefonou ele mesmo para Jaqueline e passou o aparelho ligado para Murilo. – Toma o telefone aí, é a Jaque. – Quem? – A Jaqueline, do BCN! Murilo não lembra exatamente o que falou, mas criou coragem e balbuciou algumas palavras sobre o jogo de três meses atrás. Reclamou que não tinha sido possível conversar após a partida. Combinaram então de se encontrar. Foi paixão à primeira vista – mútua, o que é

melhor. “A gente demorou ainda para começar a namorar”, afirma Murilo, no que é cortado pela mulher: “Ele não sabia que me namorava, mas eu já namorava ele, sim”, diz a atleta. “Duas semanas depois, falei para minha mãe que ele seria o homem da minha vida.” Dona Joseane Pereira da Costa era casada com Walter José de Carvalho e já tinha uma filha, Juliana, quando engravidou de Jaqueline. Ela nasceu num dia de festa, 31 de dezembro de 1983, só que perdeu o privilégio de comemorar o aniversário, pois todos sempre festejam o Ano-Novo. Três anos antes e a 3.571 quilômetros dali, em Passo Fundo, dona Jane Vieira Endres deu à luz o terceiro filho homem que teve com Arnildo Endres. Na casa dos Endres, Murilo não teve muita dificuldade para decidir o que queria da vida. Desejava ser igual ao irmão, Gustavo, que brilhava no vôlei e também chegaria à seleção. Jaqueline, porém, precisou levar uma bronca de dona Joseane para se decidir pelo vôlei. Moleca, aos 12 anos ela só queria ficar na quadra – treinava basquete três dias por semana e vôlei mais três dias. Assim como o futuro marido, ela também seguia os passos da irmã mais velha, Juliana. Era demais para dona Joseane, que chamou as duas para uma conversa: “Vocês querem jogar vôlei ou basquete?”, perguntou a mãe. “Não dá para jogar os dois. Está atrapalhando os estudos.” As duas irmãs optaram pelo vôlei. “Eu era fã da Ana Moser e me inspirei nela”, afirma Jaqueline. Para sua sorte, Juliana jogava muito bem e logo conseguiu uma bolsa de estudo para continuar praticando vôlei. Um dia, indicou Jaqueline para um teste. Por ironia, Juliana seria cortada do time e Jaqueline, não. A mesma Juliana que abriu as portas para a irmã quase destruiu – sem querer, diga-se – sua carreira. O episódio fortaleceu o relacionamento entre Murilo e


Perder o bebĂŞ foi mais uma barreira em minha vida. o segredo ĂŠ nĂŁo se deixar abater e continuar lutando


vôlei

Jaqueline, que descobriram que sempre poderiam contar um com o outro. Ao contrário de Murilo, que só teve uma artroscopia no joelho para atrapalhar a carreira, a trajetória de Jaqueline foi mais sofrida, marcada por algumas contusões sérias e, principalmente, uma acusação de doping. No final de 2004, Murilo, de comum acordo com a noiva Jaqueline, decidiu jogar na Itália, repetindo o que fez o irmão mais velho (o do meio, Eduardo, resolveu ajudar o pai nos negócios). Enquanto Murilo se mudou para Vibo Valentia, no sul da Itália, para defender o time local, Jaqueline foi jogar com o técnico Bernardinho no Rexona/ Ades. “Tomamos essa decisão juntos, para crescermos profissionalmente”, afirma Murilo. “Como o campeonato italiano dura de novembro a maio, teríamos os meses de junho a outubro para ficarmos juntos.” Um ano depois, Jaqueline foi convidada para jogar no time do Jesi, cidade que ficava a duas horas e meia de carro de Vibo Valentia. A experiência deixou lembranças amargas. Em 2007, enquanto se preparava para disputar o Pan do Rio com a seleção, Jaqueline foi comunicada que tinha sido pega num exame antidoping na Itália. O mundo desabara sob seus pés. Jaqueline entrou numa crise depressiva profunda e chorou dias seguidos. Sem o apoio de Murilo, ela acha que não teria conseguido superar o trauma. A tormenta foi resultado de um presente dado pela irmã, Juliana: o suplemento alimentar CLA, que continha subtramina, uma substância proibida para os atletas. Na luta para provar sua inocência,

Jaqueline conseguiu reduzir a pena de seis para três meses. Mas continuava chorando, pois achava que ficaria marcada para sempre como uma “jogadora dopada”. Curada pelo tempo, hoje ela faz uma reflexão e até consegue ver um lado positivo no episódio. “Usei esse afastamento para pensar na vida e para me aproximar ainda mais do Murilo.” Eles não esquecem do dia em que a punição foi oficialmente encerrada. Estavam na casa de Murilo, em Modena, na Itália, quando o telefone de Jaqueline (desta vez um caro iPhone) tocou. Era o técnico da seleção feminina, José Roberto Guimarães. “Jaque, pega sua mala e vem embora treinar”, disse o treinador. “Você está há muito tempo parada. Te espero aqui.” O recado foi claro: o pesadelo tinha acabado. Jaqueline desligou o telefone, deu um abraço no noivo e deixou as lágrimas escorrerem. Murilo, que estava com o Mercedes Classe S do presidente do clube na garagem (“nem lembro por que ele me emprestou o carro”), pegou Jaqueline pelo braço, jogou as malas no bagageiro e partiu em alto estilo rumo a Pesaro, onde a seleção treinava. Depois de aprimorarem os fundamentos, melhorarem a visão tática e ganharem fama na Itália, Murilo e Jaqueline acharam que era hora de ficar mais tempo juntos e decidiram voltar para o Brasil. Compraram um apartamento a meio caminho de Osasco e do Sesi, para onde vão trabalhar de carro – ele, num Hyundai i30, ela, num Hyundai Santa Fé . Eles se casaram sem festa no dia 23 de outubro de 2009, em um cartório do Brooklin, em São Paulo,

e comemoraram sozinhos, comendo pão com queijo. As medalhas são tantas que estão espalhadas pelo apartamento de São Paulo, na casa de dona Joseana, no Recife, e na residência de dona Jane, em Passo Fundo. Eles adoram tomar café da manhã e almoçar juntos. Cristiane, a cozinheira do casal, é nordestina “e faz as comidas da minha terra”, segundo diz Jaqueline. Ela também cozinha, mas só quando sobra tempo e quando Murilo não inventa de chamar os amigos para um churrasco, que ele mesmo prepara, como bom gaúcho. Ambos desejam defender a seleção na Olimpíada de Londres-2012, mas, para 2016, a história é diferente. Murilo quer continuar exibindo seu talento com a camisa da seleção. Jaqueline, não. “Eu gostaria muito de disputar minha última Olimpíada no Rio”, afirma o atleta. “Estarei com 36 anos e, pelo que vejo do meu irmão, é possível chegar lá com essa idade.” As metas de Jaqueline são outras. “Não quero ir até 2016”, diz ela. “Pretendo viver um pouco fora do vôlei.” Por enquanto, só o espevitado Kyo, um yorkshire de 3 anos comprado na Espanha, divide a casa com os dois. O apartamento tem 11 bolas decorativas de vidro na sala e somente uma de vôlei – mesmo assim, uma simples miniatura. Apesar de serem ídolos, não se trata de um casal vaidoso. Na sala, somente meia dúzia de pequenas fotos, acomodadas em porta-retratos sobre a estante, denuncia que são atletas. Talvez porque ambos saibam que o vôlei os uniu, mas a felicidade vai muito além dos bloqueios, levantadas, saques e cortadas de um jogo.

Tratamento de imagens: Flatten Image Styling: Juliana Borba/Abá MGT • Make: Cris Lopez Agradecimentos: Armani Exchange e Colcci

58 setembro 2011 | istoé 2016


“eu gostaria muito de disPutar a minha última olimPíada no rio. terei 36 anos, mas acho que é Possível"


vôlei

ColeCionadores de troféus Murilo e Jaqueline estão entre os jogadores mais premiados da história do vôlei brasileiro

Títulos de Murilo endres • Campeão da Superliga de vôlei 2010/2011 • Campeão Torneio Hubert Jerzeg Wagner 2010 • Campeão da Copa São Paulo 2010 - 2009 • Bicampeão Mundial 2010 - 2006 • Hexacampeão da Liga Mundial 2010 – 2009 – 2007 – 2006 -2005 - 2004 • Tricampeão Paulista 2009 – 2001 - 2000 • Bicampeão da Copa dos Campeões 2009 - 2005 • Tricampeão Sul-Americano 2009 – 2007 - 2005 • Vice-campeão da Olimpíada de Pequim 2008 • Campeão da Copa do Mundo de Vôlei 2007 • Campeão dos Jogos Pan-Americanos 2007 • Campeão Mundial Juvenil 2001 • Vice-campeão Mundial Juvenil 2000 Prêmios individuais: • Melhor Jogador Sul-Americano 2009 • Melhor Jogador da Liga Mundial 2010 – Argentina • Melhor Jogador do Campeonato Mundial 2010 – Itália • Eleito Atleta do Ano pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) 2010 • Prêmio Brasil Olímpico COB 2010


Títulos de Jaqueline Carvalho • Tetracampeã da Superliga de Vôlei: 2009/2010 - 2005/2006 - 2003/2004 - 2002/2003 • Campeã Sul-Americana 2009 • Campeã Italiana de Vôlei 2008/2009 • Campeã da Copa Itália 2009 • Campeã da Supercopa Italiana 2008 • Campeã do Campeonato Espanhol 2008 • Campeã da Copa de La Reina 2008 • Campeã dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 • Campeã do Torneio de Voleibol Final Four Fortaleza 2008 • Tricampeã do Grand Prix de Vôlei 2008 – 2006 - 2005 • Bicampeã do Torneio Courmayeur 2006 - 2005 • Bicampeã do Montreux Volley Masters 2006 - 2005 • Campeã da Copa dos Campeões de Vôlei 2005 • Campeã do Campeonato Carioca 2004/2005 • Campeã do Campeonato Mundial Juvenil 2001 • Campeã do Campeonato Mundial Infanto-Juvenil 1999 Prêmios individuais: • Melhor Jogadora do Campeonato Mundial Juvenil 2001 • Melhor Jogadora do Torneio Classificatório para o Mundial de 2006 • Melhor Recepção no Mundial de Vôlei 2006 • MVP Campeonato Italiano 2008/2009 • MVP do Sul-Americano de Clubes 2009 • Melhor Jogadora da Superliga 2009/2010 • Melhor Ataque no Grand Prix 2010


vôlei de praia

mangue beach Forjadas nas areias de Fortaleza, no ceará, juliana e larissa dominam o vôlei de praia

no mundo e se tornam a maior esperança de medalhas de ouro para o Brasil nos jogos pan-americanos de guadalajara e na olimpíada de londres por lucas sanches fotos joão castellano


se Juliana (à esq.) encara do mangue d de s em fort

“Pontos fracos? Que Pontos fracos?” Assim respondeu a americana Misty May-Treanor, uma das maiores atletas da história do vôlei de praia, ao ser questionada sobre eventuais falhas no jogo da dupla brasileira Juliana e Larissa, que atualmente ocupa o topo do ranking mundial da Federação Internacional de Vôlei. A reação, ao mesmo tempo indignada e respeitosa, mostra quão longe esse time de duas meninas chegou. No esporte, como na guerra, o maior reconhecimento possível vem dos adversários. Mesmo atletas do porte de May – que faz dupla com outra estrela da categoria, a também americana Kerri Walsh – não hesitam em admitir que Juliana Felisberta Silva, 28 anos, e


vôlei de praia

Mulheres de areia Os principais títulos da dupla

complementares em quadra, larissa (à esq.) é a concentraçã e Juliana, a vibração

64 setembro 2011 | IstOé 2016

roni rekomaa/aFp

• Campeonato Mundial 2011 (Roma) • Circuito Mundial 2010 • Circuito Brasileiro 2010 • Eleita a melhor dupla pela FIVB em 2010 • Eleita a melhor dupla pela FIVB em 2009 • Destaque de 2010 do vôlei de praia e premiada pelo COB • Circuito Mundial 2009 • Circuito Brasileiro 2007 • Eleita a melhor dupla pela FIVB em 2007 • Circuito Mundial 2007 • Medalha de Ouro nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, em 2007 • Circuito Mundial 2006 • Eleita a melhor dupla pela FIVB em 2006 • Circuito Banco do Brasil 2006 • Circuito Mundial 2005 • Circuito Banco do Brasil 2005 • Eleita a melhor dupla pela FIVB em 2005 • Vice-campeã do Circuito Mundial 2004 • Vice-campeã do Circuito Banco do Brasil 2004


vvvvwvv

vvvvwvv Larissa França, 29 anos, são, no contexto atual, a melhor dupla de vôlei de praia no mundo. O nível de excelência, adquirido graças a um intenso trabalho conjunto ao longo dos últimos sete anos, será mais do que nunca posto à prova em 2011 e 2012, respectivamente nos Jogos Pan-americanos de Guadalajara (México) e na Olimpíada de Londres (Inglaterra). A dupla que hoje funciona em sintonia perfeita tinha tudo para não dar certo. “Meu primeiro contato com a Larissa foi de certa aversão”, diz Juliana, cuja personalidade expansiva, comunicativa e relaxada encontrou uma antagonista no jeitão focado e concentrado da atual companheira, que desde 2006 não perde uma única eleição de melhor levantadora do mundo. O ano era 2001 e as duas meninas, ainda adolescentes, haviam chegado praticamente juntas a Fortaleza, no Ceará, para participar de um projeto de formação de atletas de vôlei de praia promovido pela Federação Brasileira de Voleibol. Larissa tinha deixado a família em Paragominas, interior do Pará, enquanto Juliana abandonara a casa em Natal, no Rio Grande do Norte. “No começo, a relação era difícil, superficial”, admite Larissa, um ano mais velha do que a amiga. “Eu sou mais razão, e a Juliana é mais emoção. Mas nós duas temos uma coisa muito forte em comum, que é uma vontade absurda de vencer.” Quem se surpreende com a boa convivência pode encontrar uma explicação nos primeiros meses de voleibol, quando elas tiveram que dividir um quartinho montado na garagem de uma pensão na capital cearense. O aluguel era bancado pelo primeiro técnico e pela segunda mãe, a doméstica Ana Lira, que praticamente adotou as jovens atletas e, ainda hoje, cuida delas como se fossem suas próprias filhas. “Na época, era só uma cama e um caixote que servia de guarda-roupa”, recorda Ana. “A Juliana dormia na cama, porque tinha muita alergia, enquanto a Larissa ficava em um

colchão fino, e eu deitava em cima de uns cobertores.” Apesar das personalidades conflitantes, o convívio forçado era a alternativa que restava a duas adolescentes sem dinheiro e sem família em uma cidade estranha. “Elas foram morar juntas porque só tinha aquele quarto, era o que o técnico podia pagar”, lembra Ana, que, hoje, aos 46 anos, vive no apartamento de Juliana e visita Larissa todas as semanas. O período de vacas magras foi, na opinião do irmão mais velho de Juliana, Jonas, o mais difícil já enfrentado por ela. “Logo no início, foi uma barra muito pesada”, diz ele. “Para uma adolescente que sai de casa aos 17 anos, cair no mundo assim não é simples.” E o que Juliana fazia quando a frustração ou a saudade

de 2002 –, a dupla viu que não pode mais ficar separada. Com o apoio de patrocinador, Juliana e Larissa traça ram planos para dominar o cenário nacional e mundial do vôlei de praia O trabalho, sempre orientado pelo a técnico Reis Castro, deu resultado a em 2004, quando elas foram vicecampeãs brasileiras e vice-campeãs do Circuito Mundial de Vôlei de Pra Em 2005, encerraram o domínio de oito anos das veteranas Adriana Beh e Shelda e, nos anos seguintes, sagra -se pentacampeãs mundiais e tetrac peãs do Circuito Brasileiro, além de levado o ouro no último Campeona Mundial. O currículo impressionan advém de uma irretocável disciplina

a dupla que hoje funciona em sintonia perfeita tinha tudo para não dar certo. "no começo, a relação era difícil, superficial", diz larissa, a mais velha eram grandes demais? “Ela conversava com a bicicleta dela”, recorda a segunda mãe, Ana. “Quando eu não estava em casa, Juliana batia o maior papo com a bicicleta, mas também brigava com ela.” Foi na base do aprendizado e do apoio mútuo que a convivência entre a dupla melhorou, cresceu e ganhou a grande dose de respeito que transparece quando uma fala da outra. “A Juliana me ensinou a ser campeã”, diz Larissa. “E eu tenho orgulho de dizer que também a ensinei a ser vencedora.” Para dona Maria de Jesus, mãe de Juliana, a relação madura – tanto pessoal quanto profissional – é uma das marcas da dupla. “Em quadra, quando a Larissa grita, a minha filha baixa a cabeça, mas não é por medo, é por respeito.” Em 2004 – após uma primeira tentativa de união frustrada pela hérnia de disco que tirou Larissa do Mundial Sub-21

de dois treinos diários, que conferira à dupla brasileira as armas para com sar a baixa estatura. Com 1,77 m e 1 m respectivamente, Juliana e Larissa menores do que quase todas as atlet que ocupam as dez primeiras posiçõ do ranking mundial. “Elas jogam com dois homens”, compara o técnico Rei Castro. “Ambas têm muita força e mu velocidade e isso de certa forma com a menor estatura.” Para a americana Juliana e Larissa são exemplos de atle que souberam explorar com perfeiçã pontos fortes. “Eu uso a Juliana e a La como referência quando estou treina meninas mais jovens”, afirma May. Campeã olímpica ao lado de Kerr Walsh nos Jogos de Pequim (China) em 2008, May sabe que sua medalha de ouro teria sido muito mais difícil as representantes brasileiras não enfrentassem um drama. Poucas sema


vôlei de praia nunca desistem Viradas espetaculares são uma das marcas do jogo de Juliana (à dir.) e larissa, que têm seu próprio centro de treinamento em Fortaleza

66 setembro 2011 | IstOé 2016


antes da Olimpíada, Juliana foi cortada em razão de uma lesão no joelho. “Aquele foi o momento mais difícil da minha carreira”, afirma a atleta. “Depois daquilo, eu aprendi a não criar expectativas muito distantes, mas a planejar semana a semana, mês a mês.” A volta por cima não demorou a acontecer, e Juliana foi eleita a melhor jogadora do mundo em 2009 e 2010. Hoje, o gosto amargo de não ter podido disputar uma medalha olímpica é uma das coisas que motiva a dupla e dá esperanças a dona Maria de Fátima, mãe de Larissa: “Como elas não têm um título olímpico ainda, queremos muito que em 2012 as meninas tragam uma medalha”. No fim de julho de 2011, quem assistiu à espetacular virada de Juliana e Larissa na final da etapa de Stare Jablonki, na Polônia, pelo Grand Slam de Vôlei de Praia, viu que competição é algo que as duas carregam no sangue. Contra as americanas Kessy e Ross, a dupla brasileira começou perdendo por 21 a 14, em um set marcado por erros que deram grande vantagem às adversárias a partir do décimo ponto. No segundo set, novamente Juliana e Larissa entraram desconcentradas e logo cederam vantagem de dois pontos, mas conseguiram acertar saque e bloqueio e, vibrando muito em quadra, fecharam em 21 a 19. O equilíbrio seria ainda maior no set final, com a dupla nacional conquistando a vitória por apertadíssimos 18 a 16. A busca incessante pela superação, se-

gundo a própria Larissa, cob alto. “Não existe campeão le boa”, afirma ela. “O campeã ramba e abdica de muita coi a esportista, que passou a úl mais ao lado da companheir do que de sua própria famíli Namorar é difícil por cau constantes viagens. O conta os parentes acontece apenas intervalos entre competiçõe comemorações com os amig coisa do passado. “É cansati está cada semana em um pa explica Bruna, irmã de Laris da família que mora em For acompanha mais de perto a da atleta. “A Larissa vai do h arena e da arena para o aviã intervalo para nada.” Os des não fizeram com que tivesse dimentos em relação à vida “Eu nasci na praia”, diz Julia “Só poderia ter ido parar ne que me deu a chance de ser eu mais queria: uma megave Para Larissa, as diferenças d quadra fazem da dupla o tim mente imbatível de hoje – po que deve durar uns bons an provável que eu termine min ao lado da Juliana”, diz a lev que afirma ter capacidade p pelo menos até os 36 anos. T do que suficiente para busca em Londres e, quem sabe, n de Janeiro, em 2016.


novos talentos

em n o m e

68 setembro 2011 | istoĂŠ 2016

do

p a i


Filho de João do Pulo, ex-recordista mundial do salto triPlo que teve uma vida tão esPetacular quanto trágica, o adolescente emmanuel de oliveira, o Pulinho, Prometeu Para si mesmo honrar o legado Familiar – e os Primeiros resultados nas Pistas Provam que sua herança é realmente valiosa por Tom Cardoso fotos pisCo del gaiso

futuro promissor um técnico chegou a dizer que pulinho não levava jeito para o atletismo. suas marcas mostraram o contrário

centro esPortivo João do Pindamonhangaba, interior de São Um menino de pernas longas, cabe black power e pulseira com as core da Jamaica corre em direção à barr salto. O passo é desajeitado – os bra finos, não acompanham o movime do corpo, e os pés, enormes, afund pista de areia. A estreia do garoto p gargalhadas nos jovens atletas e a r dos treinadores locais. Ninguém ac o desafio de treinar Emmanuel de O que chegou a ser aconselhado a nun pisar em uma pista de atletismo. “M você não leva jeito, vai fazer outra c chegou a dizer um dos técnicos. Um depois, o mesmo garoto já era um d taques nas provas de salto em altur conseguido superar, em algumas se a barreira do 1,70 metro – marca q atletas da sua idade costumam atin só em três meses de treinamento. Pudera. Emmanuel é filho de Jo Carlos de Oliveira, o João do Pulo ( 1999), lenda do atletismo brasileiro dos maiores nomes da história do s triplo. Seu recorde mundial, estabe em 1975, demorou uma década par batido, enquanto a marca brasileira seria superada em 2007, vinte e doi depois, por Jadel Gregório. Emman que por razões óbvias recebeu o ap de “Pulinho”, assistiu pela televisã eza de Jadel. Tinha 12 anos. Não g do que viu e prometeu a si mesmo partir dali começaria a treinar para ver o recorde à família Oliveira. A p providência foi mudar de cidade. E mãe, Maria Aparecida Carrupt, viv em Queluz, também no interior pa e partiram para a Pindamonhanga cidade natal de João do Pulo. Se ha uma estátua em homenagem ao m atleta da história da cidade e um gi com o seu nome, o município acolh com carinho o único filho homem do Pulo, decidido a seguir os passo pai. Ledo engano. “A gente bateu ca tempo todo”, diz Maria Aparecida. guém nos ajudou e só conseguimo o aluguel depois que eu lutei para in o Emmanuel no Programa Jovens T


novos talentos

HErDEiro pulinho começou praticando salto em altura. segundo o atual técnico, ele é "talentoso e indolente" como João do pulo (abaixo, com algumas de suas medalhas). Acima, o garoto em sua simples residência em pindamonhangaba, no interior de são paulo

tos, patrocinado pela Caixa Econômica Federal.” Atualmente, o garoto recebe um salário mínimo do Governo para treinar todos os dias, das 17 às 19 horas. Sentado na arquibancada da pista de atletismo do Centro Esportivo que leva o nome de seu pai, Pulinho, um jovem tímido de sorrisos largos, quase não conversa. É a mãe, hiperativa, que fala por ele, controla todos os seus passos e briga pelos direitos do filho. “Quero ver se hoje eles não vão ascender a luz”, diz. Há meses, ela briga com a direção do Centro Esportivo para que os refletores sejam acesos depois das 18 horas. Isso só costuma acontecer, segundo ela, na noite em que alunos de uma escolinha particular de futebol chegam para treinar. “No Brasil é assim: todos os refletores para o futebol e para os esportes amadores, nada”, diz Maria Aparecida. Depois de ser rejeitado por treinadores da cidade, Pulinho foi adotado, por insistência da mãe, por Jânio Rodrigues, ex-atleta e ex-amigo de João do Pulo. Rodrigues enxerga semelhanças

entre pai e filho, físicas e comportamentais. “Os dois têm o biótipo muito parecido e são um pouco indolentes nos treinos”, diz Rodrigues, que assistiu pela tevê João do Pulo conquistar a medalha de ouro nos Jogos Panamericanos da Cidade do México, em 1975, com a espetacular marca de 17,89 metros, superando em 45 cm o recorde mundial que pertencia ao soviético Viktor Saneyev. “Mas o importante é ter talento e algo me diz que o moleque herdou também isso do pai.” Pulinho está sendo preparado para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Vai seguir os passos do pai para tentar chegar lá. “Pouca gente sabe, mas o João começou no atletismo praticando salto em altura”, afirma Rodrigues. Segundo o treinador, o garoto precisa antes fortalecer a musculatura e ganhar experiência para só depois partir para as provas de salto em distância e, enfim, para o salto triplo. No meio do caminho, diz Rodrigues, terá de superar o descaso do poder público, o desinteresse das empresas


iNspirAÇÃo Com a mãe maria Aparecida, maior incentivadora da carreira do garoto. segundo ela, a secretaria de esportes de são paulo se recusou a dar uma sapatilha para o garoto. À direita, pulinho joga videogame durante o intervalo de um treino

privadas, a falta de equipamento e a precariedade das pistas. “O problema nem é falta de dinheiro”, afirma o técnico. “Não adianta o Comitê Olímpico Brasileiro despejar um caminhão de grana para as confederações se esse dinheiro não chega onde é preciso.” Quando seu pai morreu, em 1999, vítima de cirrose (João do Pulo nunca conseguiu se recuperar emocionalmente de um acidente automobilístico sofrido em 1981, que o obrigou a amputar parte da perna direita), Pulinho tinha apenas quatro anos. Sua mãe conhecera João durante uma visita do atleta a Pindamonhangaba. Namoraram e Maria Aparecida engravidou. O adolescente não se lembra das poucas vezes que falou com o pai, por telefone. Só passou a se interessar por atletismo após uma passagem frustrante pelo basquete. Ao chegar em Pindamonhangaba, em busca de oportunidades para treinar, Pulinho, na época beirando o 1,80 metro de altura (hoje está com 1,89), acabou convidado para ingressar no time

de basquete Abdala Sports, fundado por Abdala Salomão Neto, ex-jogador do Monte Líbano e hoje vereador em Pindamonhangaba. Franzino, marcado por atletas mais fortes, não conseguiu pegar na bola. Nem um encontro com Leandrinho, um dos destaques da NBA, organizado por uma emissora de televisão, foi capaz de fazê-lo se encantar pelo esporte. “Perdi o meu tempo jogando basquete”, diz o garoto. “Agora, nada vai me fazer desistir do atletismo.” Motivos não faltaram para que Pulinho também se frustrasse com o atletismo. Como a verba repassada pela Confederação é usada quase que exclusivamente para a família pagar o aluguel e sobreviver em Pindamonhangaba, ele sofreu nas primeiras competições. Quando seu filho recebeu o convite para participar de uma prova de jovens atletas, em São Paulo, Maria Aparecida pediu ao secretário de Esportes da cidade para que comprasse uma sapatilha para o atleta, item básico para provas de salto em altura. “Sabe o que o secretário

me disse?”, pergunta M “Para o meu filho usa que a secretaria não ti comprar uma sapatilh Pulinho chegou de tên sua primeira prova em a disputa, Maria Apar coincidência, ao lado d treinadores do atletism Nélio Moura, técnico medalha de ouro de s nas Olimpíadas de P em 2008. Nélio, sem garoto era filho, fico com o biótipo do jov seu potencial. Tamb razão pela qual ele u sapatilhas. Maria Ap sem saber quem era comentou com o tre para conseguir um b para o filho. Uma se Pulinho recebeu, pe presente que jamais uma sapatilha nova,


novos talentos

"PerDI mUIto temPo teNtANDo ser JoGADor De bAsQUete. AGorA NADA VAI me FAZer DesIstIr Do AtLetIsmo", DIZ o GAroto

A FoRÇA Do DNA

o EsPoRtE BRAsiLEiRo EstÁ REPLEto DE EXEMPLos DE AtLEtAs QUE sEGUiRAM os PAssos Dos PAis Bruno • Bernardinho Bruno Mossa de rezende (Bruninho), levantador da seleção brasileira de vôlei, é filho do ex-jogador e atual técnico Bernardinho e da ex-jogadora Vera Mossa Rodrigo Pessoa • Nelson Pessoa o campeão olímpico rodrigo pessoa, mais premiado cavaleiro brasileiro, inspirou-se no pai Nelson pessoa, que conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata em pan-Americanos Djalminha • Djalma Dias Astro do supertime do palmeiras na década de 90, o craque Djalminha é herdeiro do zagueiro Djalma Dias, uma lenda do futebol brasileiro Thiago Alcântara e Rafael Alcântara • Mazinho Apesar de também terem cidadania brasileira, thiago e rafael Alcântara, filhos do tetracampeão de futebol Mazinho, defendem as cores da Espanha Marco Grael e Marine Grael • Torben Grael filhos de torben Grael, os jovens Marco e Marine Grael já mostram talento 72 na vela. Ele foi campeão brasileiro de 49er, enquanto ela conquistou o ouro nos Jogos Militares de 2011 setembro 2011 | istoé 2016



naturalizadOs

O Brasil é O que impOrta vindos de outras partes do mundo, atletas conquistam a cidadania brasileira, ajudam a trazer medalhas e até cantam nosso hino melhor que muita gente nascida aqui por AdAlberto leister Filho fotos pedro diAs

identidade a velejadora Patrícia Freitas (na foto, enrolada em uma vela de competição) nasceu nos estados Unidos, mas diz que não carrega nenhum traço cultural de seu país de origem: "tudo o que vivi, aprendi e sou é fruto da minha vivência no Brasil"


rodrigo lembra com saudade dos parques floridos da infância nos arredores de Paris. Flávio rememora a primeira vez que viu o mar, na Inglaterra. Rosângela e Patrícia não se recordam muito de seu primeiro ano de vida, em Washington. Os irmãos Patrick e Yuri adoravam pedalar pelas ruas de Apeldoorn, na Holanda. Sumaia, por sua vez, descobriria a bicicleta muito tempo após deixar a turbulenta Bagdá. Karina tem lembranças esparsas da infância na Bielorrússia. Destaques nas modalidades em que atuam, esses atletas nasceram longe e poderiam defender outras cores. Mas optaram pelo verde e amarelo. “Nunca tive dúvida de que queria competir pelo Brasil”, afirma Rodrigo Pessoa, principal cavaleiro do hipismo brasileiro, que em 38 anos de vida jamais morou na terra do samba. “Cada um tem o seu jeito de ser”, diz o campeão olímpico em Atenas 2004. “Mas não tenho nada de francês. Acho que minha maior característica brasileira é ser uma pessoa fácil de conviver, sempre de bom humor.” O mesmo dilema pode ser enfrentado por suas filhas, nascidas na Bélgica, caso sigam a vocação do pai, da mãe – a amazona americana Keri Potter – e do avô, o ex-cavaleiro Nelson Pessoa, o Neco. O judoca Flávio Canto veio à luz em Oxford, Inglaterra, onde seu pai concluía doutorado em física nuclear. Quem vê o típico surfista carioca tirando onda nas folgas dos rigorosos treinos de judô jamais o imaginaria lutando por outro país. “Meu maior defeito é justamente a falta de pontualidade”, diz o pouco britânico judoca. Ele lembra, no entanto, com saudade de um costume típico de seu país de origem. “Sempre que eu e meu irmão saíamos da escola, íamos, com minha mãe, direto a uma casa de chá”, recorda-se do hábito praticado às 17 horas pelos bretões. A maior recordação do pouco tempo que Canto viveu na Inglaterra remete ao país de coração. “Fui à praia pela primeira vez em uma viagem na infância”, conta. “Meus pais dizem que, quando


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me soltaram na areia, fui correndo para o mar. Até hoje é o lugar onde me sinto melhor”, comenta o judoca, que poderá visitar a terra natal caso se classifique para os Jogos de Londres 2012. Ficaria feliz, mas não deixa dúvida sobre sua predileção: “Meu amor pelo Brasil não deixa muito espaço para outras paixões.” Dos Estados Unidos, o Brasil garimpou talentos para a terra e o mar. Naturais de Washington, Rosângela Santos, do atletismo, e Patrícia Freitas, da vela, dizem não ter muito a ver com o país de nascimento. “Gosto de música americana”, diz Rosângela, 20 anos, vice-campeã mundial de menores nos 100 metros em 2007. “Meus pais ainda estão lá.” Com 1 ano de vida, a futura velocista pegou pneumonia e veio se tratar no Brasil. Acabou na casa de uma tia e não voltou mais. Com 8 anos fez teste para atletismo e começou a treinar na Vila Olímpica de Padre Miguel, no Rio. Aos 10, uma frustração foi decisiva para que seguisse o rumo das pistas. “Perdi o Estadual e prometi a mim que iria treinar até ganhar de todo mundo.” Promessa cumprida, ela integrou o revezamento 4 x 100 m do Brasil no Mundial de Atletismo da Coreia do Sul, em agosto. Patrícia Freitas, 21 anos, lembra pouco da infância na terra do Tio Sam, quando seu pai trabalhava por lá. “Não carrego nenhum traço da cultura americana”, diz. “Nasci lá, mas morei toda a minha vida no Brasil. Tudo o que vivi, aprendi e até mesmo o que sou é fruto da minha vivência no Brasil”, afirma a representante do País na classe RS:X nos Jogos de Pequim 2008. Titular do Brasil, em outubro ela tentará o ouro no Pan de Guadalajara. História mais curiosa nas águas espanholas teve Ricardo Perrone, o Kiko, 34 anos. Destaque da seleção brasileira de polo aquático nos anos 90, tornou-se profissional na Espanha em 2001. Dois anos depois, foi convidado a integrar a seleção local, uma das potências mundiais. “Diante das perspectivas do Brasil, onde o esporte ainda precisa se estruturar, aceitei o desafio.”

Na Espanha, Kiko conviveu com o ídolo Manuel Estiarte, o “Pelé do polo aquático.” Também levou o irmão mais novo, Felipe, 25 anos, considerado o craque da família. Há dois anos, ambos estavam na piscina do Parque Aquático Yingdong, em Pequim, realizando o sonho de todo atleta: disputar uma Olimpíada. Kiko não lamenta o quinto lugar após a Espanha cair diante da Sérvia nas quartas-de-final. “Pelo Brasil, jamais teria chegado tão longe.” De volta ao País para jogar no Fluminense, trará essa experiência à seleção.

Nascido No cazaquistão, o lutador Marat Garipov virou Gary MaracaNã e soNha defeNder o brasil eM 2016 As regras da Fina (Federação Internacional de Natação) não impedem a nova mudança de país. “Nosso foco é o Pan, que vale vaga olímpica”, diz Kiko, que engrossa o orçamento familiar trabalhando no mercado financeiro, já que a situação da modalidade pouco mudou desde que ele deixou o País. Felipe ainda atua pela Espanha. Seria compreensível se outra dupla de irmãos optasse pelo lugar de origem. Patrick e Yuri Van der Heijden escolheram um típico esporte holandês para praticar, o hóquei sobre a grama. A Holanda é uma das grandes forças da modalidade – foi semifinalista nas últimas seis Olimpíadas. No Brasil, o esporte não existia até 2007, quando foi montada uma seleção para disputar o Pan do Rio. Mesmo assim, os Van der Heijden decidiram jogar pelo Brasil, terra da mãe, Mariza, e não pela Holanda, do pai, Michiel, um entusiasta da escolha dos filhos.

Em 2006, de férias no Rio, jogaram um torneio no clube Germânia. Dois anos depois, Yuri, 20 anos, foi convidado a participar de um treino da seleção. Aprovado, disputou o Sul-Americano de Montevidéu e integra o time desde então. Patrick, 18 anos, entrou no grupo pouco depois, no Pan Sub-21 de Trinidad & Tobago. Foram os destaques da equipe: marcaram quatro dos cinco gols do País. “O hóquei no Brasil está em desenvolvimento”, diz Yuri. “Espero que, com os preparos para a Olimpíada, ganhe campos adequados.” Em busca de melhores condições está Sumaia Ali Ribeiro, 29 anos. Nascida em Bagdá, a ciclista pouco se lembra do turbulento Iraque da infância, naquela época em guerra com o Irã. “Meu pai foi lá trabalhar para a Mendes Júnior”, conta. “Nasci no Iraque, mas voltei ao Brasil com dois anos.” O passaporte iraquiano já prejudicou seu desenvolvimento como atleta. Quando ainda atuava em quadra, tentou bolsa para jogar por uma universidade dos Estados Unidos. Mas aí caíram as Torres Gêmeas. Junto, o sonho do intercâmbio. “É difícil convencer as pessoas de que não tenho origem árabe”, lamenta a moça, cujo nome foi uma homenagem a uma funcionária da embaixada brasileira em Bagdá. O Ali, que não é sobrenome de família, foi ideia do pai, ardoroso fã de um americano, o pugilista Muhammad Ali. Infância problemática também teve Karina Lakerbai, 22 anos. A hoje esgrimista nasceu três anos após o acidente na usina nuclear de Chernobyl, distante 294 km de Mogilev, na Belarus, sua cidade natal. A então bebê sofria com imunidade baixa no sangue e osteocondroma – tumor ósseo benigno. “Ela se manifesta como um ossinho a mais”, diz Karina. “Normalmente é genético, mas não tenho nenhum parente próximo com esse problema. Pode ser uma mutação genética por causa de Chernobyl.” Pelo sim, pelo não, a família decidiu migrar para o Brasil. A falência do bloco comunista e a falta de perspectivas na Belarus no início dos anos 90 convenceram os Lakerbai de que era hora de arriscar. Primeiro veio a mãe, Valéria, trabalhar como técnica de ginástica.


Seis meses depois, o resto da família. O pai, Alkhas, hoje é o treinador da filha e da seleção brasileira, além de ser dono da Academia Paulista de Esgrima, primeira no País. Além da Belarus de Karina Lakerbai, outro país nascido do esfacelamento da União Soviética exportou talento esportivo para o Brasil. Marat Garipov, 26 anos, do Cazaquistão, chegou ao País badalado pela medalha de bronze na luta greco-romana, categoria até 55 kg, no Campeonato Asiático de 2010. Em outubro, durante o Mundial de Moscou, ele pediu aos cartolas brasileiros uma chance para treinar por aqui. Encantou-se pela nova pátria e abrasileirou seu nome para Gary Maracanã. Os colegas de treino contam uma série de anedotas sobre suas aventuras no Brasil. Dizem que quase se afogou ao conhecer o mar. Quando foi visitar o Cristo Redentor, decidiu ir a pé até o topo. Quase desmaiou de cansaço. “Ele está servindo para melhorarmos o nível dos nossos treinos”, festeja Roberto Leitão, superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas. O agora Maracanã renovou o visto de estudante e conta com o apoio da confederação para obter cidadania plena. Sonha em atuar pelo Brasil no Rio 2016. Questões legais o tiraram de Londres 2012. A naturalização parece mais perto para Gui Lin, 17 anos. A chinesa chegou ao Brasil há cinco anos, fala um português fluente e, diferentemente de boa parte dos jogadores da seleção de futebol, já aprendeu até a cantar o Hino nacional. Sua expectativa é se conseguirá jogar no Pan de Guadalajara. “Faço 18 anos no dia 1o de outubro”, diz a mesa-tenista. “Só aí poderei entrar com os papéis de naturalização. E o Pan começa dia 15.” Se o mais provável é Gui Lin defender o lado brasileiro da mesa apenas nos Jogos de Londres 2012, em quadra outros esportistas veem ainda mais distante o sonho de servir à pátria adotiva. Os americanos Larry Taylor e Shammel Stallworth, ambos com 30 anos, aponta-

de cor e salteado com 17 anos de idade e cinco de Brasil, a mesatenista Gui lin sonha defender o País no Pan. se subir ao pódio, cantar o Hino nacional não será problema para a atleta, que nasceu na china

77 seteMbro 2011 | istoé 2016


naturalizadOs

agradecimentos: Velamar náutica, Brasspress, dombra sails, centauro, netshoes, adidas by stella Mccartney, Mynd sportwear, adidas clima cool running (Patrícia Freitas) / lacoste, centauro e netshoes (Gui lin) e Harley davidson, centauro, Maria Jovem, netshoes, adidas e nike (larry taylor)

dos como solução para posições em que o basquete brasileiro anda carente, ficam aflitos ao contar o avanço da idade e a morosidade da burocracia para obter nova cidadania. Entre os dois, Larry é quem mais se destacou. Há três anos no Brasil, foi a principal surpresa na convocação do técnico argentino Rubén Magnano, que dirige a seleção. Mas acabou cortado, pois seu processo não seria finalizado a tempo de disputar o Pré-Olímpico. “A notícia me abalou, mas continuarei com o grupo até quando o Rubén me quiser”, afirmou o jogador do Bauru. Destaque do Pinheiros, Shammel nem sequer foi lembrado. Mas permanece com a intenção de se naturalizar para defender a pátria que adotou, após se casar com uma brasileira e ter dois filhos no País: Shammel Jr. e Jordan, esse em homenagem ao maior jogador de basquete da história. “Comecei com o processo em 2005, mas não é fácil”, lamenta. É mais um que, quando obtiver a cidadania, vai cantar o hino melhor que muita gente que nasceu aqui.

styling: l. a. Braga Jr. • Beauty: sayuri odo e adílson Vidal (Gui lin) • assistente de produção: Marcela Moura e lucas Braga (Gui lin)

BUrocracia a morosidade do sistema de naturalização impediu o ainda americano larry taylor de defender o Brasil durante o Pré-olímpico


////////////////////////////////////////// PassaPorte Para o Pódio as conquistas brasileiras que contaram com a ajuda de (ex-) gringos

////////////////////////////////////// a ala alada a brasileira que mal fala português e bate lateral dando cambalhota

alexa reyes/aFP • Folhapress

a bola sai na esquerda do campo de ataque da seleção feminina de futebol. a lateral leah corre para a cobrança, dá uma cambalhota com a bola nas mãos e ganha um impulso extra. a pelota passeia p elo ar e vai cair dentro da área adversária. a técnica inusitada nasceu nos estados unidos e sua divulgadora quase acabou jogando pela seleção americana. paulistana, leah lynn Gabriela fortune, 20 anos, viveu apenas um ano no brasil, mas optou por defender o país do qual mal sabia falar a língua. “Não foi uma decisão difícil, pois fui convidada a formar uma equipe com as melhores do mundo”, diz a lateral, que só foi aprender português com as colegas de seleção. a história dos fortune é curiosa. os avós paternos da jogadora, Gretchen e davi, eram missionários na amazônia em 1958. “Meus pais catalogaram o alfabeto karajá”, diz hudson fortune, pai de leah. desde então, foi possível documentar as histórias, as músicas e os hábitos que enriquecem a tribo. sem esse trabalho, ela estava destinada à extinção.” amante do futebol-arte, foi hudson quem desenvolveu a técnica incomum para a cobrança de lateral. “Já havia visto isso nos estados unidos e resolvi ensinar a leah a fazer o mesmo”, diz. “felizmente, foi ela quem acabou divulgando o lateral-cambalhota para o mundo.” a filha foi aluna aplicada desde o início. “Meu pai me ensinou o lateralcambalhota quanto tinha apenas nove anos.”

1960 o argentino sucar integra a seleção de basquete, bronze nos Jogos de roma 1963 o brasil é bicampeão mundial de basquete. do grupo faziam parte um polonês, Victor Mirshauswka, além de sucar 1964 com sucar e Mirshauswka de novo, o basquete ganha o bronze em tóquio 1967 brasil é bronze no Mundial de basquete, ainda com sucar no time 1968 o alemão burkhard Cordes ganha o bronze na classe flying dutchman nos Jogos do México, velejando com reinaldo conrad. É o primeiro pódio brasileiro na vela 1972 o japonês Chiaki ishii ganha a primeira medalha olímpica do judô brasileiro, nos Jogos de Munique 1980 o sueco lars sigurd björkström conquista o ouro olímpico na classe tornado, velejando com alex Welter 1983 thomas hintnaus leva o bronze no salto com vara no pan de caracas. ele competia pelos eua até viver a frustração de vencer as seletivas americanas, mas seu país boicotar a olimpíada de Moscou 1980 1996 o argentino Fernando Melligeni atinge as semifinais dos Jogos de atlanta 96. acaba em quarto, no melhor desempenho do brasil no tênis olímpico. parisiense, rodrigo pessoa integra a equipe brasileira de hipismo, bronze na prova de saltos 1998/1999/ 2000 rodrigo pessoa é tricampeão da copa do Mundo de hipismo. É o primeiro cavaleiro a atingir esse feito em anos seguidos. em 1998, o ginete também conquista o ouro nos Jogos equestres Mundiais, em roma 1999 Natural de rosário (argentina), sebastian Cuattrin conquista as primeiras medalhas do país no pan de Winnipeg, no canadá 2000 rodrigo pessoa faz parte da equipe brasileira de hipismo que ganha novo bronze olímpico 2003 em final emocionante, Melligeni derrota Marcelo ríos, ex-número 1 do mundo, conquista o ouro no pan de santo domingo e encerra a carreira. No judô, o inglês flávio canto ganha outro ouro “estrangeiro” para o brasil. Na canoagem, o brasil é prata no K41000 m com dois estrangeiros no barco: o argentino sebastian Cuattrin e o polonês sebastian szubski. Já no polo aquático, a seleção feminina leva o bronze com a goleira francesa tess oliveira no elenco 2004 rodrigo pessoa ganha o título que lhe faltava, o ouro olímpico na prova individual de saltos, nos Jogos de atenas. Já flávio canto fica com o bronze na categoria até 81 kg do judô 2007 Cuattrin integra o K4-1000 m do brasil, medalha de ouro na canoagem. No polo aquático, a seleção feminina perde para cuba e termina fora do pódio, em quarto lugar. o time contava com as gêmeas francesas tess e Amanda oliveira


retranca hipismo

XINDOCTRO, U M AU T Ê N T I C O AT L E TA BRASILEIRO Com 574 quilos, 1,71 metro de altura e prestes a Completar dez anos, o mais bem-suCedido Cavalo da raça brasileiro de Hipismo é forte, determinado e enCanta pela doCilidade. de olHo na olimpíada de 2016, XindoCtro tem rotina e tratamento dignos de esportista de primeira linHa

por Luiza ViLLaméa fotos jair Lanes


afinidade total Xindoctro com o seu dono, o cavaleiro francisco musa, com quem forma um conjunto primoroso. as refeições do cavalo são enriquecidas com aminoácidos, creatina e vitaminas. “ele ainda é novo”, diz musa. “em 2016 estará em plena forma”


hipismo

raízes fruto de inseminação artificial e posterior transferência de embrião, Xindoctro nasceu na cidade paulista de boituva, tem ascendência conceituada no mundo do hipismo, e acaba de usar pela primeira vez seu passaporte internacional

82 SETEMBRO 2011 | istoé 2016


Xindoctro Método é uM atleta forte, corajoso e cheio de energia. Ao mesmo tempo, é extremamente dócil e disciplinado. Jamais reclama da rotina intensa de treinamento que, no decorrer de todo o dia, alterna períodos de exercícios com intervalos de descanso. Por mais puxado que seja o treino, nunca é visto deitado. Não baixa a guarda nem durante o sono, pois dorme de pé, na maioria das vezes em pelo. Apenas nas noites muito frias, ele se permite cobrir com uma capa acolchoada azul petróleo, com detalhes em vinho. Pela manhã, faça frio ou calor, assim que acorda, após a refeição enriquecida com aminoácidos, creatina e vitaminas A, B e E, Xindoctro trata de manter a forma. Trota ou galopa, intercalando treinos em pista de areia e de grama. Depois do almoço, costuma pegar mais leve. Caminha a uma velocidade de 4,5 quilômetros por hora em uma máquina andadora circular, com 18 metros de diâmetro. O piso é de terra, mas, graças a um umidificador de ação intermitente, nenhuma poeira o incomoda. Uma vez por semana, para variar, Xindoctro troca o andador por uma esteira Trotter 3700, na qual mantém o ritmo de passo. Durante todo o “serviço”, como costuma definir um de seus tratadores, José Reginaldo de Abreu, Xindoctro tem as canelas envolvidas por ligas para proteger os tendões. A proteção é fundamental, principalmente no dia da semana que, em vez de galopar, Xindoctro treina saltos. Não que ele seja estabanado ou dado a movimentos bruscos. Refugar, aliás, não é com ele. Quando se aproxima da barreira, basta o cavaleiro pedir que Xindoctro espera a hora certa para saltar. E, depois de ultrapassar barreiras e mais barreiras, ele recebe tratamento especial: massagens nas canelas e bolsa de gelo por 20 minutos. No mais, os cuidados de sempre: cada vez que volta para a cocheira, o casco é escovado, para garantir que nenhum graveto ou pedrinha venha a atrapalhar o merecido repouso do atleta. Por uma questão estética, o casco também é

engraxado. Uma vez por mês, Xindoctro recebe novas ferraduras. Com 574 quilos e 1,71 metro de altura, Xindoctro é hoje o mais bem-sucedido brasileiro de hipismo (BH), a raça de cavalos atletas que começou a ser criada no Brasil nos anos 1970, a partir de linhagens europeias. Nascido em 20 de outubro de 2001 no Haras Método, em Boituva, no interior paulista, ele tem ascendência nobre de ambos os lados. Seu pai é o garanhão holandês Indoctro, que fez história montado pelo cavaleiro alemão Ulrich Kirchhoff (medalha de ouro da Olimpíada de Atlanta em 1996), antes de se tornar um dos mais cobiçados reprodutores da

“ELE é TIpO gENTE BOA”, dIz O vETERINáRIO EdSON gARCIA SOBRE O CARáTER dO CAvALO ATLETA Europa. Comprado a peso de ouro, o sêmen de Indoctro foi inseminado em Gitane du Reverdy, uma égua sela francesa que contabilizou um dos maiores índices de transferência genética de seu país de origem. Da inseminação, abençoada por uma ovulação dupla de Gitane, foram gerados dois embriões, posteriormente transferidos para barrigas de aluguel, como são chamadas as éguas criadas soltas no pasto com a missão de dar continuidade à gestação de potenciais campeões. A irmã gêmea de Xindoctro, Xitania Método, vive em Londrina (PR) e tem tudo para despontar como uma grande matriz brasileira. Ele, no entanto, já começou a marcar época. Não por acaso, é o primeiro – e único – atleta patrocinado pela Associação Brasileira do Cavalo de Hipismo. Com pelagem castanha e

pelos brancos disseminados pela testa, dando a impressão de uma mancha, vem fazendo bonito em provas nacionais. O chip de identificação que tem implantado no corpo acaba de passar pela primeira leitura internacional. É que, no domingo 21 de agosto, Xindoctro estreou seu passaporte, ao embarcar para Ligny, na Bélgica, onde participa das seletivas para os Jogos Pan-Americanos deste ano. Perto de completar dez anos, Xindoctro tem muito tempo para deslanchar na carreira. “Ele ainda é novo”, diz seu dono, o cavaleiro Francisco Musa. “Em 2016 estará em plena forma”, completa Musa, referindo-se ao ano da Olimpíada no Brasil. Enquanto 2016 não chega, Xindoctro participa dos mais conceituados torneios nacionais. Em 2011, entre outras façanhas, conquistou junto com seu cavaleiro o Big Tour do GP Oi Serra & Mar, o principal circuito hípico do País. Como acontece depois de cada viagem, de volta à casa, no interior paulista, ganhou dois dias de folga. Solto no piquete, o amplo espaço onde pode brincar à vontade, deixou na poeira o estresse da viagem para, em seguida, reassumir a rotina de atleta. Embora seja supersaudável – até hoje sofreu apenas uma lesão no pé esquerdo traseiro –, submete-se a check-up completo todos os meses. Com glóbulos vermelhos para dar e vender, ele termina recebendo apenas cuidados preventivos, como suplementos alimentares e, duas vezes por ano, uma injeção para continuar com as articulações em ordem. “Nunca precisei pedir radiografia ou ultrassom”, conta o veterinário Edson Garcia, especializado em cavalos atletas, que cuida de Xindoctro há mais de três anos. Além do check-up mensal, Garcia examina o atleta imediatamente depois de cada prova, fazendo testes como o de “flexão forçada”, durante o qual pressiona as articulações, com o objetivo de detectar possíveis lesões. O especialista afirma que, durante esses testes, Xindoctro jamais demonstrou nenhum sinal de agressividade. “Ele é tipo gente boa”, compara Garcia. “Passa confiança na gente.”


hipismo

Árvore genealÓgiCa Xindoctro método é filho do garanhão holandês indoctro, da raça alemã holsteiner, e de Gitane du reverdy, da raça sela francesa. De ambos os lados, tem ascendentes conceituados no mundo do hipismo. O pai se tornou um dos mais bem-sucedidos reprodutores de cavalo atleta da Holanda após ganhar fama na arena de salto. a mãe é filha de campeões franceses. Fruto de inseminação artificial e transferência de embrião em um haras de Boituva (sP), Xindoctro é o maior destaque entre os brasileiros de hipismo, a raça de cavalos atletas formada no Brasil a partir de linhagens europeias

Capitano

Caletto ii

JalisCo b

elf iii

folia

orgesCH

verboise

gerbe d’or

Capitol

vanessa vii

papillon rouge

osyris gitane du reverdy

indoCtro

XindoCtro


Como os dentes dos cavalos têm crescimento contínuo, Xindoctro também recebe a cada seis meses a visita de um dentista. Nessas ocasiões, tem os dentes lixados, para não ficar com nenhuma ponta incômoda. Além disso, ganha cuidados similares aos de atletas do gênero. Afora a tosa convencional, uma vez por mês, tosquia as orelhas e faz a barba, com o mesmo tipo de lâmina usada pelos homens que o rodeiam. O corpo modelado pela musculatura rija é escovado todos os dias, assim como a crina e o rabo. Uma vez por semana, ele toma banho com um xampu biodegradável, o Citronel, que tem a vantagem adicional de afastar os insetos. O excesso de água na pelagem é retirado com um rodinho. Colocado para secar no palanque, como é chamado o esteio de madeira no qual é amarrado, Xindoctro ainda é tratado com outro produto biodegradável, o Abrilhantador, que garante aos pelos “maciez, brilho e efeito desembaraçador”. Durante o tempo em que fica no palanque, Xindoctro tem a boca protegida por uma espécie de focinheira, pois ele simplesmente adora morder a madeira. “A ideia é não deixar isso virar um vício”, comenta Musa, acariciando o pescoço do companheiro de provas. Com o olhar fixo em Musa, Xindoctro parece prestar atenção às palavras do cavaleiro e sacode a cabeça devagar. “Ele entende tudo o que a gente fala”, garante o tratador Robson Silva Teixeira. “Até vira a cabeça para escutar a conversa.” É difícil comprovar a afirmação, mas não há dúvida de que a sintonia entre Xindoctro e Musa é total. Com isso, ambos saem em vantagem nas disputas. Afinal, o hipismo é a única modalidade olímpica na qual homem e animal formam um só conjunto. O carinho dedicado ao cavalo atleta não parece ser uma exclusividade de seu cavaleiro. “Ele é uma celebridade”, diz, orgulhoso, o tratador José Reginaldo, que também é cavaleiro, o único autorizado a montar Xindoctro na ausência de Musa. “É muita responsabilidade, mas o Xindoctro é fácil de trabalhar.” Além do caráter dócil, Xindoctro chama a atenção

pela trajetória singular que trilhou antes de chegar a Musa. Ele integrava o plantel de 100 cavalos que o empresário do setor naútico Gilberto Botelho de Almeida Ramalho criou depois que sua filha caçula, Roberta, começou a praticar hipismo. Em 2009, com a morte do empresário em um acidente de helicóptero, a maior parte do plantel começou a ser vendida. O cavaleiro interessado em comprar Xindoctro, que ainda não era uma “celebridade”, fez uma série de testes no cavalo atleta e chegou a levá-lo por uns dias para seu haras. Como não conseguiu regatear o preço ao ponto que desejava, devolveu-o. Chateada, a viúva Marisa comentou com a filha e com Musa, então cavaleiro do haras da família, que a partir daquele episódio torceria ainda mais para que Xindoctro tivesse uma carreira de sucesso. – Dona Marisa, eu adoro o cavalo. Se pudesse, ficava com ele – disse Musa. – Ele é seu. Como você pode me pagar? – perguntou Marisa Botelho. Musa quitou o equivalente a US$ 60 mil em prestações, que variaram de valor de acordo com as suas possibilidades. Em 2001, já recusou três ofertas de 300 mil euros por Xindoctro. Ao relatar as propostas, ele se recorda de quando o cavalo atleta chegou ao haras de Botelho: “Ele era magrelo, potrão.” Depois de ser comprado pelo empresário em um leilão do Haras Método, em 2005, Xindoctro passou um período sendo domado por outro profissional, antes de desembarcar em Itupeva. “Ele era garanhão, corcoveava, pulava, derrubava o cavaleiro”, lembra Roberta Botelho, hoje com 18 anos, ao falar sobre o período no qual se decidiu pela castração de Xindoctro. Embora não o tenham mais Xindoctro no haras da família, Roberta e sua mãe continuam acompanhando de perto a carreira do atleta: “É como se ele fizesse parte da família. Vamos torcer sempre pelo Xindoctro.”

UMA vEz pOR MÊS, XINdOCTRO fAz A BARBA E TOSqUIA AS ORELhAS. O BANhO é SEMANAL, COM dIREITO A XAMpU BIOdEgRAdávEL E pROdUTO pARA gARANTIR MACIEz AOS pELOS. TOdOS OS dIAS, SEU CORpO MUSCULOSO é ESCOvAdO, ASSIM COMO A CRINA E O RABO. CAdA vEz qUE TREINA SALTOS, fAz BOLSA dE gELO pOR 20 MINUTOS E TEM AS CANELAS MASSAgEAdAS

85 SETEMBRO 2011 | istoé 2016


vida carioca

ConheCedor do lado mais 40 graus da noite CarioCa, o Cantor e Compositor Fausto FawCett nos leva a um tour que passa por bailes sob viadutos, Clubes de strip-tease, Casas de suingue, redutos de artistas underground e loCais para tomar uma ao lado da elite inteleCtualmente desColada da Cidade. será que a olimpíada põe em risCo tudo isso? o Compositor de Kátia Flávia responde por fausto fawcett fotos toni pires (com iphone)

86 setembro 2011 | istoé 2016


perdição: boate Cicciolina, pouso do guerreiro que quiser amanhecer em Copacabana


vida carioca

A SOMBRA da Olimpíada e da Copa do Mundo paira sobre o Rio de Janeiro, fazendo com que duas ondas emocionais tomem de assalto os corações cariocas. A primeira diz respeito a um certo lazarismo político entranhado nos habitantes: recuperar o prestígio de principal entrada do País, polo do turismo mais festivo, sensual e divertido, centro de irradiação de comportamentos e estilos. A segunda diz respeito às reformas urbanas decorrentes disso tudo, sacudindo a paisagem da cidade, mexendo com as referências das construções, das esquinas, com o espaço vital da população. É como se Pereira Passos (prefeito do Rio entre 1902 e 1906) retornasse para fazer outra reforma como aquela do início do século passado. A euforia de perspectivas está aí. E, no centro desse magnetismo e magnitude, como ficará a noite do Rio? Pois é, as reformas que serão feitas com o objetivo de melhorar a tal funcionalidade urbana juntamente com investimentos no mercado do entretenimento noturno da cidade vão revigorar o tesão da noite carioca? Olimpíada nos levando para um Olimpo de efeitos colaterais benéficos para a Cidade Maravilhosa? Deixando de lado toda essa necessária introdução, o que me importa são dois quesitos essenciais: como será a décadence avec élégance, ou seja, o casamento dos decadentismos com os fumês e linhas arrojadas das novas construções? Como será o choque ou a convivência nervosa de entranhas de boates, lojinhas e clubes ocultos em becos com as luzes esfuziantes das megacasas noturnas ou espaços de eventos blockbusters? Overmundos e submundos? Que novos submundos surgirão? E os submundos oficiais? Como será o choque, a mistura dos Baixos – como são chamadas as concentrações etílicas e paquerantes da assim denominada juventude – com os novos núcleos de atração gringa? Euforia de perspectivas. Choques que geram beleza. Negócios misturados. Arquiteturas superpostas.

A curiosidade dos turistas pelo subúrbio será explorada pelo turismo olímpico? Fico pensando se também não haverá uma retomada nessa direção da cidade que já foi sinônimo de elegância e ocupação industrial. As unidades de polícia pacificadora vão chegar até a zona oeste e fechar a tampa da ocupação territorial do que antes era dominado pelo tráfico e inaugurar uma nova era de relacionamento da cidade com essas paragens antes proibidonas? Turismo acontecendo ali? Será que, a exemplo do Pan de 2007, não vai acontecer nenhuma continuidade na melhora dos serviços, na manutenção das instalações? O ideal seria uma cidade unificada em termos de diversão e oferta de serviços, de entretenimento sem vácuos, sem pontos mortos entre os bairros.

banos, territórios zona sul e territórios de passagem e convergência. Numa sexta-feira, com a chegada do crepúsculo, uma sugestão é pegar um táxi, seguir a linha do trem até Madureira e dar um passeio pelo Mercadão. Tomar uma cerveja ou uma cachacinha, passando em revista as lojas de material espírita, umbandista e candombleiro, preparando a sua alma e a da sua namorada, ficante, esposa ou cúmplice de fé sexual e amorosa para o que pintar de diversão na noite. Sexta é fluxo de gente querendo surpresa na vida. Sentir alguma intensidade no que chamam de alma. Saindo dos fundos do Mercadão, o negócio é dar uma espiada na estátua de São Jorge no Império Serrano. Conferir as opções de baile funk (obrigatórios

em mADUreIrA, o proGrAmA É VIsItAr o mercADÃo, tomAr cerVeJA e/oU cAchAÇA e pAssAr em reVIstA As LoJAs De mAterIAL espÍrItA, UmBAnDIstA e cAnDomBLeIro Gigantescos quarteirões engatados oferecendo todo tipo de entretenimento. Fico pensando no meu trio geográfico preferido para odisseias noturnas ou happy hours arrepiantes. Copacabana, centro e Madureira. Agora que meu ímpeto boêmio foi amainado pelo coração cronicamente adoentado, agora que o fundo de garantia por tempo de serviço alcoólico no reino da bagaceira já foi depositado num canto do meu cérebro, vou dando com todo prazer o mapa daquela que volta e meia era a minha dinâmica de diversão jogado na tarde-noite à procura ou na companhia de miss goodbar, dissolvendo o ego na matéria humana da namorada em movimento, deixando o espírito desencapado para aventura de ficar dois uísques acima da humanidade rotineira, vagando por territórios subur-

para quem quiser saber de um gigantesco ritual dançante, debochado macumbão eletrônico) da equipe Furacão 2.000 na tevê à tarde. Ainda em Madureira, procure rodas de samba, bailes funk ou simplesmente beber no Mercadão, dar uma geral pelo Baixo, ver se tem alguma festa "charm" debaixo do viaduto Negrão de Lima, reduto de todos os eventos organizados por rapaziadas variadas. Do Engenhão, do estádio João Havelange, do Engenho de Dentro para a diversão suburbana. Quando Paul McCartney ali esteve saciando os beatlemaníacos nostálgicos e os neófitos, linhas de ônibus extras foram disponibilizadas para facilitar a vida do público, mas, durante jogos de futebol, não rola nada em termos de facilidade de transporte. Nesse aspecto, nada de bom ficou do Pan.


Dando um corte abrupto, visualizo a lagoa Rodrigo Freitas e principalmente o bairro da Glória, logradouros que estão sendo rebatizados por obras certeiras efetuadas por Eike Batista. Corte de volta. Tomando um táxi às sete e meia, pensando em possibilidades ricaças. Inquietações que me animam e atormentam. Inquietações noturnas. Madureira, centro, Copacabana. Sexta. Happy hour. A sombra da Olimpíada, da Copa do Mundo, dos Brics, dos megaeventos paira sobre a cidade purgatório da beleza e do caos e eu deixo para trás Madureira e também as elucubrações acerca de melhorias, pois a mordacidade sarcástica do meu senso crítico, do meu humor bem negro puxa o tapete dos pensamentos benevolentes e esperançosos e me joga numa gargalhada de Coringa desconfiando de tudo. Sigo na direção do centro da cidade, visando a Lapa e a praça Mauá. Rua, bares ao léu, boates e hoteizinhos ao gosto da cúmplice. Essa não é uma dica de points, sejam eles de underground submundo estiloso decadente cult ou superfrequentada boate-clube mauricinho-patricinha fechada para pobres remediados da classe média. Não é uma dica de lugar certeiro e sim de lugares pontuais em meio à azáfama, a confusão das ruas. Essa é uma dica para qualquer megalópole, principalmente as do antigo Terceiro Mundo, purgatórios brega runner do sublime e do grotesco, cujas ofertas de diversão são envolvidas por ambientes 1,99, ambientes ponta de estoque. Ambientes de zona franca. Andando em certas regiões de cidades megalópoles emergentes, tem-se a impressão de que não foi um Big Bang, mas um bugigang bang que deu origem a tudo, com pedaços de bazares, vendinhas, caixas de som nas ruas, dentro de portamalas abertos, pedaços de feira formando galáxias de camelódromos. Marrocos ou fronteira mexicana? Centro de São Paulo 25 de Março ou ruela de Hong Kong?

tudo, menos o Óbvio: bandas alternativas, performances surreais, máquinas esdrúxulas e instrumentos musicais bizarros são algumas das atrações do plano b

Chegando ao centro da cidade tipo oito e meia de uma sexta, atravessando o Saara, região de comércio popular já fechado, mas com vários bares e tendinhas com caixas de som na rua. Antes de fazer o caminho inverso e subir para os subúrbios, as pessoas resolvem dar aquela relaxada do peso da semana, mas o que importa para mim é dar uma passada na Lapa, mais precisamente subir a Gomes Freire, que, cruzando a Riachuelo, vira Francisco Muratori . Logo depois da esquina lá está ele, o Plano B, um simpático antro de encontro da turma mais vanguardente (vanguarda com bebida) e alternativa. Uma loja de vinis comandada pelo Fernando dá guarida a deliciosas e divertidas experimentações musicais e

performáticas. Da Banda Chelpa Ferro aos papas internacionais da pesquisa musical “noise”, passando por criadores de máquinas esdrúxulas, instrumentos bizarros e semiandroides. As noites de sexta no Plano B animam com provocações plásticas e musicalidades para nossas mentes esquentadas pelo subúrbio cheio de entidades samba-funk, cheias de paisagens inóspitas, de linhas de trem... Se quiser, depois do Plano B pode vagar pela Lapa, apinhada de jovens circulando nas ruas, no Circo Voador, nas redondezas dos bares e casas cheias de shows de samba-lounge. Se não quiser, pode pegar o metrô ou outro táxi e curtir um lugar fora dos três bairros sugeridos. Dar uma passada ali em Botafogo no estú-


vida carioca

dio Hanoi, do baixista Arnaldo Brandão, canção francesa. Coreógrafos absorverão bem) o primeiro monumento das interna rua Paulo Barreto, 16, um casarão com essas dançarinas à deriva fazendo delas venções na paisagem da cidade. estúdios no primeiro andar e, no segundo, funcionárias bem pagas das boates que No lugar da antiga megaboate Help, três ambientes que foram transformados serão instaladas nas redondezas? de saudosa memória boêmia, outro ponem palco e estúdios de edição e trabalho Quando considero terminada a to de encontro do que eu chamo virtual. Nesse casarão/estúdio (acoplado a noite no Kabaré, me mando para Copa, de geral noturna, povo noturno. Sempre uma oficina de carros), Arnaldo, a mulher, onde não tem erro: quiosque na Pedra achei que Copa com sua densidade Kika Seixas, e o poeta Tavinho Paes volta do Leme, para amanhecer depois de fazer comercial, seus labirintos imobiliários, e meia promovem encontros de escritores, o circuito que começa no 2 a 2, clube sua população, seu cosmopolitismo, músicos, artistas de todos os naipes, além de suingue na Figueiredo Magalhães, na deveria receber centros de tecnologia de uma garotada empenhada em realizar sequência uma olhada na danceteria Fos- que ficassem embutidos, camuflados por peripécias cinematográfi no You Tube.e ArQUItetUrA fobox, na Siqueira Campos, e um passeio essas mesmas densidades. Aqui não tem ÁreAs Como cas DIreIto O nome do projeto é Cinemix. Usam o pela praça do Lido, cercada por art déco reforma, o que precisa é de instalações sÃo As QUe oFereCem mAIs oPÇÕes paredão de um edifício ao lado como e eletrificadas paqueras e acertos de de firmas de pesquisa científica e tecnolóDe PArA ProFIssIoNAIs telão, esPeCIALIZAÇÃo onde são projetados shows , filmes, encontros da turma que fica no Balcone gica nas suas galerias, nos fundos de cacolagens audiovisuais... Há leitura de mabar e restaurante, de frente para a avenida sas de massagem, nas clínicas, depósitos, INteressADos em trAbALHAr nuais técnicos com intromissões de guiAtlântica, ponto de encontro geral. lojinhas, enfim instalações científicas Com esPorte tarras e batidas programadas sublinhando Entrar na boate Cicciolina ou na nos porões, nas sobrelojas dos mais gravações de discursos evangélicos. Extra- Barbarella para conferir as novas safras variados estabelecimentos. vagâncias desse tipo e até shows normais de meninas lindas. Depois escolher CerInstitutos científicos, antros de compõem o menu das apresentações. vantes ou El Cid pra comer alguma coimatemática avançada (a exemplo De Botafogo, uma viagem de táxi leva ao Kabaré Kalessa, na praça Mauá. É um intrigante mafuá na rua Sacadura Cabral, Ao som DA cAnÇÃo frAncesA ALIne, soBe perto dos armazéns, perto do edifício de onde a Rádio Nacional dominou o Brasil e Ao pALco Do KALessA A GArotA com trAÇos de frente para um prédio da Polícia FedeorIentAIs De ÍnDIA AmAZÔnIcA. eLA entrA ral. Enquanto o Kabaré Kalessa não abre para os seus primeiros shows de strip-tease, com roUpA De BoXeADor e LUVAs rAsGADAs, lembro que já me apresentei ali. É talvez a QUe DeIXAm nUs os seUs DeDos única boate do Rio nos últimos 30 anos que juntou zona sul, centro e zona norte. Reúne stripers e DJs antenados, stripers antenadas e apaixonados em geral pela aura de decasa e matar a fome. O primeiro na Barata do que existe no Jardim Botânico), dentismo do território. Ribeiro, outro na Viveiros de Castro, equipes geradoras de patentes. No palco do Kalessa, uma da manhã, ao lado da Cicciolina. Amanhecer na Especulações ambiciosas dignas de a garota com traços orientais de índia orla. Copacabana não precisa de granum superbairro. Mas primeiro dar um desviada dos interiores amazônicos des eventos porque ela é o grande evento pulo na casa de suingue 2 a 2 e ver o começa o seu espetáculo. De que tribo da cidade, no que diz respeito à grande espetáculo do jogo amoroso a 4 oficialiteria sido abduzida? “Linda garota”, minha concentração de tudo. Inclusive da vanzado. Troca de casais encarada como cúmplice diz como se fosse um balão de guarda neoidosa. Maior Réveillon do um esporte. Sexo submetido à cumhistória em quadrinhos pairando exterior País, Rolling Stones em frente ao Copaplicidade maior do grande amor que ao meu crânio no lusco-fusco da espaçosa cabana Palace, todo tipo de manifestapassa literalmente por cima de qualquer boate da praça Mauá. Ela entra com roupa ções populares. Copacabana aguenta ciúme (pelo menos para a maioria dos de boxeador, luvas rasgadas, deixando apa- o tranco do que precisa ser gritado nas frequentadores dessa casa) Quanta terrecer os dedos, faz seu espetáculo de strip ruas saído do coração da multidão atra- nura nas taras que unem mais ainda um em pole ao som de uma música francesa vessada por dores, alegrias e preocupacasal. Também tem shows e festas no luantiga, Aline, cantada por Christophe. Vai ções. Avenida Atlântica. Copa não tem gar. Sair da 2 a 2 e ver um pouco do que tirando a roupa de maneira bem elegante e point porque já é um megapoint. se apresenta em termos de discotecagem sedutora. Boa dançarina. Gostosa, é óbvio. O Museu da Imagem e do Som com seu na Fosfobox. Noturna geral de CopaAcende um minifogo de artifício nos seios visual de arquitetura desconcertante cabana. Se resolver começar por Copaenquanto desempenha no pole ao som da será a partir de 2012 (ou 13, não sei cabana a odisseia, é fundamental dar


CirCuito: em sentido horário a partir do alto à esquerda, o bar Cervantes, para abastecer o estômago antes de encarar a madrugada em Copacabana; pit stop nas ruas da lapa, com vista para seus arcos; o dia amanhece nos caminhos que levam a Copacabana; movimento no mercadão de madureira; guitarrista anima a noite no plano b

uma caminhada no segundo andar do edifício shopping de Copacabana, onde se localiza a Fosfobox. Shopping muito conhecido pela sua concentração de antiquários. Antiguidades concentradas. Barroco insidioso no bairro. Neodiosos. Andar pela Atlântica e apreciar na noite a mais bela praia urbana do mundo.Um travesti aqui, uma programete de calçada ali. Casais namorando, gente nos edifícios observando a movimentação dos seres da noite, na noite. Euforia de perspectivas. Mas o dia a dia do mundo cão, dos perigos, da precariedade estará sempre à espreita. Mandatória uma entrada nas boates Cicciolina e Barbarella, ambientes clichê de strip. Será que, a exemplo dos atletas, as dançarinas stripers também terão seus corpos incrementados com geneticismos,

próteses, aplicativos e cibernagens para renderem mais? Serão robocopizadas para dar conta de suas novas obrigações num mundo de intensa demanda por felicidade a qualquer custo? No Rio, a sombra da Olimpíada paira sobre tudo, e sua paisagem será turbinada assim como suas noites e os habitantes dessas noites. Dançarinas usando que espécie de implante? Copacabana será um bairro-camuflagem, pode crer. Já é assim, mas ganhará contornos surpreendentes. Chegada ao quiosque do Leme tipo cinco da manhã. Olhando o bairro e sentindo a tal da sombra olímpica pairando sobre a cidade. Estragar a megalópole ela não vai. Muito pelo contrário. A cidade já está cascuda, madura, já sabe absorver. Como aconteceu em São Paulo, e noutras cidades pelo mundo, podem

surgir núcleos de ligação internacional a partir de quarteirões-condomínios de empresas e residências. Que submundos surgirão daí? O prefeito Pereira Passos parece boiar tranquilo nas águas do Leme, enquanto os primeiros raios de sol vão iluminando o horizonte de Copacabana. O dia vai chegando, e o que interessa é que daqui até a Olimpíada todos esses pontos da cidade que eu roteirizei serão mexidos. Rio, a Cidade Maravilha mutante, tem no centro dela as atenções voltadas para as suas noites turbinadas, noites olímpicas. bastidor: Confira em nosso site (www.istoe2016.com.br/) o "makin of" desta reportagem. assim como as fotos, as filmagens foram produzidas com um iphone


NEGÓCIOS

INVESTIMENTO POR ESPORTE POR QUe emPResAs COmO BRAdesCO, PÃO de AÇÚCAR, medleY, iCAtU e Unimed BAnCAm eQUiPes, APOstAm nA FORmAÇÃO de AtletAs e enXeRGAm nA OlimPÍAdA de 2016 UmA JAnelA de OPORtUnidAdes FOTOS ANDREAS HEINIGER


Rogério albuquerque

bola da vez "Quando decidimos patrocinar o rúgbi, muitos disseram que tínhamos batido a cabeça", diz Jorge Nasser, diretor de marketing do bradesco


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O mesmO estádiO Onde O Rei Pelé levou milhares de torcedores ao delírio, onde Mané Garrincha, o bailarino das pernas tortas, desfilava dribles desconcertantes, onde Zico se impunha como um dos maiores ídolos de todos os tempos do Flamengo e da Seleção Brasileira, esse mesmo estádio pode dar um tempo para a bola redonda e abrir espaço para uma oval, de costura aparente e quase nunca lançada com os pés. O local em questão é, claro, o Maracanã, e o esporte, o rúgbi, que, ausente do universo olímpico desde 1928, em Amsterdã, na Holanda, volta nos Jogos do Rio. Mais do que uma conquista da modalidade, a primeira transmissão da volta do rúgbi olímpico pelas televisões de todo o planeta representará uma vitória individual do Bradesco. Isso porque no ano passado o banco se propôs a ser o principal resgatador dessa modalidade no País. Com esse aval, o esporte ganha um inegável impulso nos gramados brasileiros. “Quem está acostumado a ver grandes patrocínios apenas em esportes tradicionais, como futebol, pode se preparar para ver nos próximos anos uma grande mudança de paradigmas”, diz Duda Magalhães, diretor-geral da Dream Factory Sports, uma consultoria de marketing esportivo. “Entramos na era da efetiva participação das empresas na rotina esportiva.” Essa nova era já se apresenta em cifras. A Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) espera arrecadar em 2011 cerca de R$ 3,5 milhões, mais do que o triplo dos R$ 990 mil de 2010. “Quando decidimos apoiar o rúgbi, muitos pensaram que tínhamos batido a cabeça”, diz o diretor de marketing do Bradesco, Jorge Nasser. Os números, no entanto, mostram que a decisão está longe de ser insanidade. Hoje, o rúgbi é o esporte número 1 em países como Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e algumas nações do Leste Europeu. Aqui, nada menos do que 30 mil adeptos o praticam frequentemente, distribuídos por 230 clubes em 22 Estados. A tendência é que, até 2016, na reestreia olímpica, a multidão de praticantes supere 100 mil se-

elite o Pão de açúcar mantém 23 atletas de ponta, entre eles campeões como vanderlei Cordeiro de lima (foto), Marílson Gomes dos Santos e Fabiana Murer


ayrton vignola/Folhapress • divulgação

guidores. “É uma disputa que une força física, concentração mental e determinação, atributos incorporados ao DNA da família Bradesco”, destaca Nasser, que não revela o valor investido nem que o time de rúgbi se atire sobre ele. Além da inédita iniciativa, o banco tem mantido programas de formação de meninas atletas em vôlei e basquete. Por meio da Fundação Bradesco, cerca de 100 mil adolescentes são treinadas anualmente em Osasco, no Centro de Desenvolvimento Esportivo, uma autêntica fábrica de potenciais talentos olímpicos. E as ações vão ainda mais além. A fundação oferece uma indispensável retaguarda para jovens no judô, remo e na natação. O exemplo do Bradesco, embora seja emblemático no mundo do esporte, não é uma exceção. Um seleto grupo de empresas brasileiras passou a olhar mais atentamente para o esporte após a escolha do Brasil para sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada no Rio de Janeiro, dois anos depois. Entre elas está a Unimed Seguros. A companhia adotou o tênis como alvo principal e lançou um grande programa destinado aos novatos das quadras. Após uma seleção de atletas com potencial olímpico, a empresa oferece treinamento fora do Brasil, assistência médica e acompanhamento nutricional. “O incentivo ao esporte entrou, definitivamente, em nossos planos corporativos”, afirma o presidente Mauri Raphaelli. “Estamos atacando em todas as frentes. O seguro-saúde de toda a delegação do Santos Futebol Clube é Unimed. Organizamos corridas de rua para garimpar atletas e mantemos um programa de formação de jovens em tênis, além de patrocinar a camisa do Palmeiras”, destaca. A ofensiva esportiva da Unimed já rendeu à marca, segundo o executivo, um retorno de imagem 12 vezes superior ao investimento. “O Brasil ainda é carente em investimentos esportivos, mas cresce a passos largos. Hoje, para cada R$ 1 investido no esporte, há um retorno de R$ 5 a R$ 6 para a empresa”, estima Luiz Fernando Ferreira, sócio-diretor da ESM, empresa de marketing esportivo.

aPoSta além de patrocinar um time profissional de vôlei em Campinas, o laboratório Medley criou um programa de peneira de talentos em escolas públicas da cidade

O riO deve receber cincO vezes mais recursOs privadOs dO que a cidade de barcelOna, sede dOs jOgOs de 1992 A constatação de que o esporte é um bom lustrador de imagem e um consistente gerador de lucros para as empresas já foi comprovada em pesquisas. Embora não exista um número fechado sobre quanto esse mercado movimenta no País, um estudo da Associação Brasileira de Marketing Direto (Abemd) revela que, das 150 maiores empresas do País, 46,67% pretendem aumentar seus investimentos em futebol. Isso se deve à mudança de espírito que Copa e Olimpíada provocarão nos consumidores brasileiros. Na carona, os gastos sobem 20% no vôlei, 13,33% no automobilismo e 6,67% no atletismo, percentual similar ao de golfe e triatlo. Todo esse investimento não se limita à divulgação de marcas nos uniformes dos atletas. A parte mais, digamos, nobre vai para a preparação de jovens, um atalho para, quem sabe, transformar o Brasil em uma potência olímpica.

Novidade no País a tendência já foi assimilada há algum tempo pelas empresas estrangeiras, que planejam investimentos nos grandes eventos esportivos programados para o País. Uma estimativa da PricewaterhouseCoopers (PwC) aponta que US$ 53,2 bilhões de companhias internacionais serão despejados na Copa do Mundo e nos Jogos do Rio. Segundo a pesquisa, os maiores beneficiados com verbas e geração de empregos serão as áreas de infraestrutura e turismo. Fatias generosas desse bolo entrarão no País para bancar a formação de atletas, patrocinar atletas e clubes e alimentar a disputa entre as próprias empresas para ver quem vincula sua marca a atletas vitoriosos. Para comparar, Barcelona-1992 recebeu cerca de US$ 8 bilhões, enquanto Sydney atraiu US$ 9,7 bilhões em 2000. “Será maior do que em outras cidades porque os Jogos no Rio também serão os maiores de todos os tempos”, anima-se Hazem Galal, líder global para cidades e governos locais da PwC. Entre as empresas que apostam todas as fichas no sucesso de iniciativas desse tipo está o Pão de Açúcar do triatleta Abilio Diniz. A maior rede varejista do Brasil incorporou o apoio ao esporte à própria essência da companhia. Mantém 23 corredores de elite do atletismo brasileiro, entre eles Vanderlei Cordeiro de Lima, Marilson Gomes dos Santos e Fabiana Murer. “Temos um projeto


NEGÓCIOS

3,5 MILHÕES DE REAIS, O TRIPLO DO ANO PASSADO, É quanTO a cOnFederaÇÃO de rÚgbi vai arrecadar em 2011 graÇas aO invesTimenTO de empresas cOmO O bradescO

20% DAS 150 MAIORES EMPRESAS BRASILEIRAS preTendem aumenTar seus invesTimenTOs em paTrOcÍniOs espOrTivOs

53,2 BILHÕES DE DÓLARES É quanTO COMPANHIAS ESTRANGEIRAS devem invesTir nO brasil para a cOpa de 2014 e a OlimpÍada de 2016

12 VEZES SUPERIOR aO valOr invesTidO É O RETORNO DE IMAGEM QUE A UNIMED TEVE aO apOsTar nO espOrTe naciOnal

olímpico, não apenas uma estratégia publicitária”, diz a diretora de marketing do grupo, Renata Gomide. “A formação de atletas é, há 20 anos, um atributo ligado à nossa marca. Além de garantir o sucesso das estrelas brasileiras, queremos recrutar gente nova e formar campeões.” Para atingir essas metas, o Pão de Açúcar lançou no início do ano um núcleo de alto rendimento e um megacentro de treinamento em São Paulo, com equipamentos de primeiro mundo e onde os atletas são preparados para alcançar seus melhores rendimentos. “Trata-se de uma grande estrutura, única no País. Temos condições de, em meia hora, fazer um diagnóstico completo de 35 atletas”, destaca Renata. É nesse local, administrado pelo guru do treinamento esportivo Irineu Loturco Filho, que os corredores de elite da equipe Pão de Açúcar têm sido preparados como superatletas. “Estamos empolgados com o legado que esse centro de treinamento, que está aberto a todos os esportistas do País, deixará ao Brasil em medalhas olímpicas”, disse a diretora do Pão de Açúcar. Com empolgação semelhante está o laboratório Medley. A empresa elegeu dois esportes para concentrar seus investimentos nos próximos anos – e vincular seu nome a grandes conquistas. O primeiro começou em 1996, com a StockCar, mas foi em 2010 que a aposta esportiva da Medley ganhou projeção no cenário esportivo. No ano passado, surgiu a decisão de resgatar das cinzas a equipe de vôlei de Campinas – que passou a se chamar Medley Campinas. O investimento, segundo a empresa, vai muito além de estampar o logotipo da marca na camisa dos jogadores. Hoje, o laboratório sustenta um programa de peneiras em escolas públicas da cidade em busca de jovens talentos. Todos os selecionados são incentivados a buscar seus recordes com todo o treinamento custeado pela empresa da área de medicamentos. A iniciativa deu retorno imediato. Logo no primeiro ano de existência, o time conquistou o título dos Jogos Abertos do Interior e, em um grupo sem estrelas renomadas, ficou em 8º na Superli-

ga, um feito raro para uma iniciante. O que isso tem a ver com os negócios da Medley? “Identificamos que nosso time, que leva o nome da nossa empresa, é o mais comentado nas redes sociais, e a marca está associada a uma imagem positiva”, diz José Ricardo Gravallos, diretor de novos negócios da Medley. Associar a imagem a um ideal. Esse também é o argumento que a Icatu Seguros usa para justificar o patrocínio da dupla de velejadores Marcos Grael e André Otto Fonseca. Durante a assinatura do apoio, em agosto passado, a empresa declarou que a vela foi o esporte escolhido por ter “características que se identificam com o negócio da Icatu, como a superação de risco, parceria, planejamento e estratégia”. Segundo o plano original, a empresa vai bancar os atletas pelos próximos cinco anos. Aquilo que Gravallos constatou, o Bradesco apostou, a Unimed investiu, o Pão de Açúcar incorporou e a Icatu vislumbrou é um novo consenso. Assim como na Olimpíada, o investimento planejado no esporte pode render ouro.



sustentabilidade

VIK MUNIZ • Atlas (Carlão) • Pictures of Garbage, 2008 Courtesia da Galeria Fortes Vilaça

TRANSFORMAÇÃO Foto do artista plástico Vik Muniz feita para o documentário Lixo extraordinário, que retrata catadores de material reciclável do Aterro do Jardim Gramacho, no Rio. Cenas como essa podem ficar no passado


LUXO SIM, LIXO NÃO NOVOS ATERROS, CENTROS DE TRIAGEM E SISTEMAS DE RECICLAGEM COMPÕEM A ESTRATÉGIA DA PREFEITURA E DO GOVERNO DO ESTADO PARA QUE O RIO ABRIGUE UMA OLIMPÍADA LIMPA E SUSTENTÁVEL. SERÁ O SUFICIENTE?

POR JULIANA CARIELLO

O CAMINHÃO DE LIXO CHEGA AO JARDIM GRAMACHO, município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro. A carga é um aglomerado de restos de alimentos, garrafas pet, papel, plástico, eletrodomésticos, tudo junto. Não é o primeiro nem o último naquele dia nublado. Um após o outro se sucede, aumentando em oito mil toneladas diárias uma montanha que funciona como isca irresistível para roedores, urubus e catadores. Munidos com sacolas, estes últimos vasculham a pilha para dar vida nova ao que a maioria considera apenas resto. Entre esses garimpeiros do lixo há uma senhora idosa, negra, pobre. Ela diz se sentir bem ali e revela que prepara vários pratos com as sobras de comida que encontra em Gramacho. Cenas como essa, que faz parte do documentário Lixo extraordinário – registro do trabalho do artista plástico Vik Muniz que concorreu ao Oscar deste ano

–, podem ficar no passado. E a Olimpíada do Rio é um incentivo decisivo para que isso aconteça. Mas até lá há um longo, caro e sinuoso caminho a ser percorrido. Hoje, cada habitante da capital produz, em média, 1,39 kg de lixo por dia. Isso equivale a um total de 9.495 toneladas diárias, assim divididas: 55% de materiais orgânicos, 40% de recicláveis e 5% de outros elementos. Dos 40% que podem ser reciclados, só 1% é tratado atualmente. A meta para 2012 é fazer esse percentual chegar a, pouco animadores, 5%. A de 2016 ainda não foi estipulada pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), mas a empresa tem planos para dar destino mais digno e seguro ao lixo da cidade. Precisa correr, pois calcula-se que no ano da Olimpíada 10.280 toneladas de dejetos serão geradas diariamente. Pior, nessa conta não entram os resíduos sólidos produzidos pelos Jogos, que devem acrescentar mais 27 toneladas a cada 24 horas, de acordo com estimativa da Fundação Getulio Vargas (FGV).


sustentabilidade

1,39 Kg

é a quantidade Média de lixo produzida por habitante a cada dia

27.000 Kg

será a quantidade a mais gerada por dia durante os Jogos de 2016

toneladas de Materiais recicláveis foraM recolhidas durante os Jogos Militares trabalhadores atuaraM na liMpeza dos Jogos Militares

70%

dos resíduos sólidos do pan de 2007 terMinaraM eM Gramacho – na época, era uM depósito de lixo a céu aberto. hoJe, é uM aterro controlado

30%

dos resíduos do pan foraM reciclados

Shutterstock

473,5 104,5 1.317

toneladas de resíduos foraM reMovidas das instalações onde aconteceu a 5a edição dos Jogos Mundiais Militares


A ampliação da coleta seletiva para todos os 160 bairros da capital e a construção de seis centrais de triagem de resíduos na cidade são duas das estratégias imaginadas por Comlurb, prefeitura e governo do Estado. Uma ideia depende da outra para funcionar e, mais que isso, compor um sistema literalmente orgânico de tratamento de lixo. Nas centrais de triagem é que o lixo reciclável é separado. Algumas delas terão ainda usinas de compostagem, o que é duplamente bom para o ambiente. Primeiro porque reaproveita o lixo e segundo pelo fato de gerar adubo orgânico. Outra estratégia imaginada em nome da natureza é a construção de sete estações de transferência. Nelas, os pequenos caminhões compactadores têm sua carga repassada para carretas maiores, que percorrem a distância até o destino final do lixo. E aí a conta é simples: menos caminhões circulando resultam numa quantidade menor de CO2 aquecendo o nosso planeta. Aprovada em agosto do ano passado, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) recomenda a extinção de lixões. Para atingir a meta, há projetos para a implantação de aterros sanitários e controlados na cidade. Nos primeiros, o solo é impermeabilizado para proteger a si próprio e a água que corre sob ele. Os dejetos são compactados, e camadas deles são alternadas com outras de terra. Os aterros controlados são quase iguais aos sanitários. O que muda é a falta de impermeabilização, e isso coloca em risco de contaminação o solo e o lençol freático. Por fim, entre as medidas para o Rio chegar limpo a 2016 há um projeto que mostra ser até possível recuperar parte dos custos de coleta e tratamento. Para tanto, a ideia é produzir energia a partir do lixo do aterro controlado de Gramacho, da usina de reciclagem e compostagem do Caju e da central de tratamento de resíduos de Seropédica. Somadas, essas iniciativas são suficientes? Segundo especialistas, faltam informações para respostas com um mínimo de certeza. “Para fazer previsões sobre a necessidade de investir na abertura e

na ampliação de estações de tratamento, centrais de triagem, usinas de reciclagem e aterros, é preciso um olhar sobre toda a cadeia produtiva do lixo”, diz Susana Feichas, mestre em ciência ambiental e coordenadora do MBA em gestão do ambiente e sustentabilidade na FGV. “Devido à escassez de dados, é difícil fazer uma avaliação precisa.” Mas há o que fazer enquanto esses números não são apurados. Para Cléber Soares da Silva, engenheiro químico e pesquisador do Programa de Engenharia Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com dez anos de experiência em meio ambiente e gestão de resíduos sólidos, o Rio tem de buscar alternativas tecnológicas para que somente os materiais que não apresentam possibilidade alguma de reinserção na cadeia pro-

reaproveitam o ferro, das metalúrgicas que reciclam o alumínio, das empresas de telefonia que dão nova vida a baterias e das construtoras que usam entulho para compor o concreto. Marcos Cohen, coordenador da área de sustentabilidade do Núcleo de Estudos em Organizações e Sustentabilidade (Neos) do IAG, escola de negócios da PUC-Rio, vai além. Ele acredita que as empresas precisam incorporar os riscos ambientais do seu ramo de atividade na estratégia de negócios, o que evita multas e manchas na reputação. “Olimpíada é um ganho para esse movimento pró-sustentabilidade, pois aumenta a visibilidade da cidade do Rio de Janeiro”, diz Cohen. “As empresas vão querer aproveitar a oportunidade para passar uma boa imagem, mostrar que fazem gestão

para 2016, a ideia é produzir energia a partir do lixo dos aterros e das usinas de reciclageM. resta saber se essas iniciativas serão suficientes dutiva sejam, de fato, encaminhados aos aterros. Não é isso que acontece hoje. Muito lixo passível de ser reciclado, reaproveitado ou transformado em energia ou adubo vai para esses locais. A consequência? A capacidade desses espaços se esgota precocemente e, por isso, novos têm de ser criados. “Uma ideia é usar a tecnologia ‘waste to energy’, ou seja, a queima dos resíduos não recicláveis para transformá-los em energia, com o uso de filtros específicos para evitar a emissão de gases poluentes na atmosfera durante este processo”, diz o engenheiro. “Isso é muito usado na Europa e nos Estados Unidos, mas não no Brasil.” Outra maneira de atenuar o envio de lixo para os aterros é fazer constar, nos editais para a licitação das obras olímpicas, a obrigatoriedade de as empresas vencedoras usarem um percentual relevante de materiais reutilizáveis e recicláveis. Exemplos vêm das siderúrgicas que

adequada do lixo e economizam água e energia, entre outras medidas.” Mesmo que todas as ideias – do poder público e dos especialistas – saiam do papel no prazo, o Rio de Janeiro ainda deve ficar atrás de sua antecessora nos Jogos, Londres, no quesito sustentabilidade. Durante a construção do parque olímpico londrino, 90% do material fruto de demolições é enviado para reúso ou reciclagem. Fora isso, o Comitê Britânico assumiu a responsabilidade de promover a primeira Olimpíada sustentável de fato. A de Sydney, conhecida como Jogos Verdes, adotou várias medidas ambientalmente corretas, mas em uma escala pequena. As metas da capital inglesa, nesse sentido, são ousadas. Londres espera levar 0% de lixo aos aterros durante a competição, ou seja, reciclar, reutilizar ou transformar todos os resíduos sólidos


sustentabilidade

em adubo ou energia. No Rio, no Pan de 2007, 70% foi para o aterro controlado de Gramacho, lixão na época. Os 30% restantes foram reaproveitados graças a medidas como a adubação de jardins e parques públicos com fertilizantes feitos a partir da transformação do esterco das instalações de hipismo, a produção de detergente com óleo de cozinha usado e a confecção de uniformes para trabalhadores e voluntários com 50% de plástico reciclável. Todos os envolvidos na preparação para que o Rio tenha Jogos limpos e verdes falam de um parceiro indispensável para que as metas sejam atingidas: o morador da cidade ou o visitante durante a Olimpíada. “Temos de reciclar mais, com certeza, mas isso não depende só da gente”, diz Angela Fonti, presidente da Comlurb. "A população precisa, por exemplo, separar o lixo orgânico do inorgânico." Ou seja, antes de reclamar, o negócio é perguntar para si mesmo: “Eu estou fazendo a minha parte?”

coMo era, coMo é, coMo será

Compare a produção e a reciclagem de resíduos sólidos na cidade do Rio de Janeiro

Toneladas de lixo recolhidas por dia Toneladas diárias recolhidas pela coleta seletiva

Locais que recebem lixo na cidade

2007

2011

2016

8.779

9.495

10.280

18

24

110

2007

2011

5

6

2016 15

(2 lixões, 2 usinas de reciclagem e 1 área de triagem)

(2 lixões, 1 central de tratamento de resíduos, 2 usinas de reciclagem e 1 área de triagem)

(1 central de tratamento de resíduos, 7 estações de transferência de resíduos, 1 usina de reciclagem e 6 centrais de triagem)

42 bairros parcialmente

42 bairros

Todos os 160

100 mil

129 mil

149 mil

12,4 mil

14,5 mil

sem previsão

Patrocínio:

Latas de lixo

FIM DO CAMINHO Aterro do Jardim Gramacho, o maior lixão do mundo: projeto do governo prevê a extinção de locais como este nos próximos anos

Garis

bairros da cidade

Antônio Scorza/AFP

Bairros onde há coleta seletiva


artigo | GeorGe Hamilton*

Faturar não é tudo

Em julho passado, nossa empresa se tornou parceira global oficial dos Jogos Olímpicos. Desde então, muitas pessoas me perguntam por que uma indústria química está patrocinando a Olimpíada. Acham que nosso diamante – o losango que dá forma à logomarca da Dow – não combina com os anéis olímpicos. Vou explicar como a realidade mostra justamente o contrário. Nosso portfólio de produtos tem um longo histórico – desde 1980 – de parceria na infraestrutura e no apoio aos atletas olímpicos. Foi ainda na Olimpíada em Lake Placid em 1932, nos EUA, que a Dow forneceu, pela primeira vez para a infraestrutura dos Jogos, tecnologias para a construção de prédios e soluções para tratamento de água. Essa parceria com a Olimpíada é natural, uma vez que produzimos insumos para diversos materiais, desenvolvidos para apoiar o sucesso das competições. A química está em todos os lugares, em tudo o que podemos ver e sentir todos os dias. Também está presente nos esportes, contribuindo para uma boa performance dos atletas. Os produtos e as soluções criados por meio da química encontram vários usos e aplicações durante as Olimpíadas, incluindo – mas não limitado a – revestimentos de pisos e grama artificial para campos de futebol ou simplesmente um envelopamento de tecido plástico sustentável para cercar o Estádio Olímpico, como estamos fazendo em Londres.

Essa não é a única razão pela qual nossa empresa decidiu patrocinar os Jogos. Os Anéis Olímpicos são a marca mais reconhecida do mundo. Os valores e as prioridades que fazem parte da visão olímpica inspiram o mundo corporativo. Os Jogos estão focados na paz, no progresso, na sustentabilidade e na união de todo o planeta para celebrar a nossa humanidade. Também estão focados no respeito às diferentes culturas, conhecimentos e capacidades diversificadas. Estar aliado a uma marca com esses valores positivos contribui imensamente para a reputação empresarial. Além disso, há o caráter global dos Jogos Olímpicos. Em 2008, segundo o Instituto Nielsen, cerca de 4,7 bilhões de pessoas assistiram aos 17 dias de competições em Pequim. Acrescenta-se o fato de os próximos Jogos serem realizados em economias emergentes. Sem dúvida um atrativo a mais para as empresas que pretendem contribuir para o desenvolvimento desses países. Outro posicionamento do Comitê Olímpico Internacional (COI) diz respeito aos valores de longo prazo e ao compromisso com um legado sustentável. Há sempre uma questão em aberto: o que ficará após os Jogos? A ciência, particularmente a química, pretende contribuir também nesse sentido, pois visa a um futuro melhor, antecipando as consequências de longo prazo das decisões que estão sendo tomadas hoje.

Daniel Vincent

Parceiro oficial dos Jogos, executivo diz que associar a imagem de uma empresa às prioridades e aos ideais olímpicos rende tanto quanto os negócios

os anéis olímpiCos são a marCa mais reConHeCida no mundo. estar assoCiado a ela Contribui imensamente para a reputação empresarial Antes, durante e após os Jogos, são várias as opções para o empresariado se posicionar positivamente e contribuir para que a Olimpíada Rio 2016 cumpra os cinco pilares a que se propôs: excelência técnica, celebração memorável, apoio à imagem do Brasil no Exterior, transformação da comunidade pelo esporte e crescimento dos movimentos Olímpico e Paraolímpico. Para os Jogos Rio 2016, a Dow espera ser um parceiro-chave de toda a cadeia de suprimentos, a fim de proporcionar soluções mais sustentáveis e deixar um legado que beneficie toda a comunidade carioca. Essa será uma vitória para todos!

*George Hamilton é vice-presidente mundial de operações olímpicas da dow Chemical 107 setembro 2011 | istoé 2016


bastidorEs

o dia a dia do CoB NOSSA REPÓRTER VISITA O CENTRO NERVOSO DA ORGANIZAÇÃO DA OLIMPÍADA NO RIO E ACOMPANHA O CHORO DE UMA ATLETA NA COREIA, O NASCIMENTO DO BEBÊ DE UMA GERENTE E A ENCOMENDA DE UM PISO PARA QUE DIEGO HYPÓLITO POSSA TREINAR

POR FLÁVIA RIBEIRO ILUSTRAÇÕES MAX G PINTO FOTOS FELIPE VARANDA

ÀS 3 HORAS DO DIA 5 DE AGOSTO, o superintendente-executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinícius Freire, foi acordado por um telefonema vindo do outro lado do mundo. O técnico chinês da atleta de arco e flecha Brunna Araújo, 17 anos, avisava que a menina havia lesionado as costas durante um treino na Coreia do Sul e estava chorando, querendo ir para casa. Isso aconteceu a dez dias do início dos Jogos da Juventude, em Cingapura, no ano passado. “A partir daí, tive que entrar em contato com a Confederação Brasileira de Tiro com Arco, ligar para os pais da Brunna, ficar em contato com ela e o treinador, e com a delegação brasileira que estava treinando em Dubai”, afirma Marcus Vinícius, que, antes de ser dirigente, fez parte da geração que conquistou a medalha de prata para o vôlei do Brasil na Olimpíada de Los Angeles 1984. “A rotina, num lugar como o COB, é não ter rotina.” Enquanto conta essa história, seu celular toca ininterruptamente. Até que, ao ver que o número de uma das chamadas é da jovem arqueira, interrompe a conversa. Sai da sala por uns minutos

108 setemBro 2011 | istoÉ 2016

e volta dizendo que foi decidido que Brunna iria ainda naquele dia para Dubai. Era meio-dia. Até o fim da tarde, aquela resolução mudaria: a menina voltou para o Brasil e ficou fora dos Jogos. A entrevista ainda seria interrompida outras vezes, primeiro para uma rápida reunião com João Havelange, depois para a apresentação do Conselho de Esportes Rio 2016, formado por treinadores, atletas e ex-atletas que auxiliarão em questões técnicas. O COB e o Comitê Rio 2016 por enquanto dividem um prédio de quatro andares na avenida das Américas, na Barra da Tijuca. O por enquanto fica por conta da futura mudança do comitê para um prédio só seu, erguido em módulos provisórios num terreno alugado de dez mil metros quadrados da Previ-Rio, na Cidade Nova, perto da prefeitura. Lá também ficarão a Autoridade Pública Olímpica (APO) e a Empresa Olímpica Municipal. Mas isso só deve acontecer em meados do ano que vem. Pelos próximos meses, o COB permanece nos dois primeiros andares – na verdade, no primeiro e num mezanino –, lidando com os atletas e suas competições. O comitê fica no terceiro andar. E o escritório

de Carlos Arthur Nuzman, que preside as duas entidades, ocupa o quarto andar. Tudo ali gira em torno do projeto olímpico. Quem olha de fora vê um monte de gente à frente de computadores ou ao telefone. Nada muito atlético ou aparentemente agitado. Mas cada um está em constante comunicação com federações, confederações, treinadores e atletas, no COB, e com políticos, advogados, engenheiros, arquitetos e, novamente, federações e confederações no comitê, onde o trabalho de planejamento dos Jogos já ganhou muita intensidade. Numa competição como a Olimpíada, o COB precisa saber o que atletas de cada modalidade podem ou não comer, qual é o tamanho da calça, blusa, do casaco, maiô, tênis e chinelo de cada um, de que tipo de material eles precisam para os treinos, checar vistos e passaportes, ter total controle sobre as medicações, alergias e idiossincrasias de todos. “Você já fez uma viagem longa com seus dois filhos?”, pergunta Marcus Vinícius. “Pois é, imagina arrumar as malas de 300.” E não estamos falando só de gente. No Pan de Guadalajara, em outubro, por exemplo, o COB vai levar 17 cavalos e



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para isso terá que tomar conta de vacinas, passaporte dos animais, transporte, autorização para a entrada deles no México e alojamento, entre outros detalhes. Entre os 160 funcionários do COB, 19 são ex-atletas, alguns deles olímpicos, como Marcus Vinícius. No Comitê Rio 2016, outros tantos ocupam cargos-chave. Entre eles Agberto Guimarães, finalista dos 800 metros na Olimpíada de Moscou, em 1980, e medalha de ouro nos 800 e nos 1.500 metros no Pan de Caracas, na Venezuela, em 1983. Diretor de esportes do comitê, Agberto conta que sua percepção do esporte mudou depois de ter começado a trabalhar como dirigente. “Hoje eu sei quantas pessoas estão envolvidas para que eu possa correr um minuto numa Olimpíada”, afirma. O monumental trabalho de organizar uma Olimpíada, hoje feito por menos de 100 pessoas, está na fase de planejamento. Depois dos Jogos de Londres, em 2012, o comitê vai passar de forma mais efetiva para a ação. “No projeto que apresentamos ao Comitê Olímpico Internacional, não havia a linha 4 de metrô, entre a zona sul e a Barra da Tijuca, mas agora tem”, conta Leonardo Gryner, diretor-geral da entidade. O sistema de ônibus em faixas exclusivas vai até o aeroporto, o que tem impacto não só no planejamento do transporte urbano, mas também no do próprio aeroporto.” Em 2016, a organização contará com quatro mil pessoas, fora 30 mil terceirizados e 60 mil voluntários. Até lá, a relação da entidade é com cada federação internacional ou nacional, com o COI, os governos federal, estadual e municipal e as empresas parceiras. Além dos atletas e treinadores, claro. Mais especificamente, aqueles que fazem parte do conselho formado em agosto: o técnico de futebol Carlos Alberto Parreira, a treinadora de judô Rosicléia Campos, o técnico de vôlei Bernardinho e os atletas – na maioria, ex-atletas – olímpicos Agberto Guimarães, Joaquim Cruz e Maurren Maggi, do atletismo; Ricardo Prado, da natação; Gustavo Kuerten, do tênis; Bernard e Adriana Samuel, do vôlei; Marcelo Vido,

do basquete; Álvaro Afonso de Miranda Neto, o Doda, do hipismo; Marcelo Ferreira, da vela; e Daniel Dias, representante dos atletas paraolímpicos. “Ninguém melhor do que o atleta para dar opinião sobre a arquitetura do esporte”, diz Ricardo Prado, medalha de prata nos 400 m medley em Los An-

para o pan de Guadalajara, o CoB vai Cuidar da viaGem de 17 Cavalos. terá que tomar Conta de vaCinas, passaporte dos BiChos, transporte e até autorização para a entrada deles no méxiCo geles 1984 e que trabalhou no COB por quatro anos. Hoje treinador da equipe paraolímpica de atletismo americana, Joaquim Cruz, medalha de ouro nos 800 metros, também em Los Angeles, lembra que até o tamanho das camas dos atletas passará pela vistoria do conselho. “Eles estão cada vez maiores, não cabem em qualquer cama”, diz. O conselho terá reuniões periódicas com membros do comitê. No COB, as conversas com atletas são diárias. Os 12 que fazem parte do Time Rio, grupo que treina na cidade e recebe investimento de R$ 12 milhões da prefeitura, visando à conquista de medalhas já em 2012, em Londres, estão sempre no prédio. Natália Falavigna, lutadora de tae kwon do, aparece quase diariamente por lá. Os que não estão também ficam em permanente comunicação, assim como cada confederação. O ex-jogador de basquete Paulinho Villas-Boas, por exemplo, é um

funcionário do COB, mas trabalha dentro da confederação da modalidade. Um dos oito gerentes técnicos do COB, Jorge Bichara conta que, naquele mesmo 5 de agosto em que o conselho que colabora com o comitê foi apresentado, o COB estava escolhendo um treinador chinês para o nadador Kaio Márcio, que havia sido mandado para o México. Em outra ponta estava negociando com a Gymnova, empresa francesa que produz os pisos que serão usados na ginástica artística em Londres, para trazer esse mesmo material para Diego Hypólito treinar. O gerente de alto rendimento da entidade, José Roberto Perillier, o Peri, explica o funcionamento. “Temos o Time Brasil e, dentro dele, o Time Rio”, diz. “Cuidamos de tudo: técnico, infraestrutura, material, treinos fora, damos ajuda de custo.” Presidente tanto do COB quanto do comitê para 2016, Carlos Arthur Nuzman afirma que essas iniciativas fazem parte de um projeto de metas a cumprir. Sobre 2012, não entra em detalhes, mas para 2016 é bem mais objetivo: “Queremos ficar entre os dez primeiros em número de medalhas”, avisa, lembrando que em Pequim o décimo teve 27 medalhas. A importância dada à preparação dos atletas aparece em uma iniciativa inédita para o País: o COB vai montar uma sede em Londres, no Complexo Esportivo de Crystal Lake, onde os atletas vão se preparar para os Jogos de 2012. Nuzman confirma que o funcionamento do COB no prédio carioca, dependendo da época do ano e da proximidade de competições internacionais, pode ser ininterrupto, dentro do horário comercial ou fora dele. Num dia normal, como 6 de outubro passado, o trabalho para ele começou às 8 horas, num café da manhã com jornalistas. Em seguida, teve uma reunião com Leonardo Gryner. Depois de alguns telefonemas, foi a vez da reunião semanal com os diretores do comitê. Almoçou com Marcus Vinicius Freire para tratar de questões do COB, reuniu-se com advogados, deu uma entrevista à 2016, encontrou-se com o


DIA DE ROTINA: Acima, o presidente do COB e do Comitê para 2016, Carlos Arthur Nuzman, faz palestra para o Conselho de Esportes da entidade, formado por gente como Gustavo Kuerten (tênis), Rosicléia Campos (judô), Carlos Alberto Parreira (futebol), Joaquim Cruz (atletismo) e Janeth Arcain (basquete), todos na primeira fila da foto abaixo à esquerda. À direita, entre uma encrenca e outra, o superintendente-executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, sorri. Nas imagens inferiores, o local onde está sendo planejada a Olimpíada do Rio


bastidorEs

secretário-geral do Comitê Olímpico, tratou de questões relativas a transporte, informou-se sobre a cirurgia de Diego Hypólito e ainda tinha uma fila de gente querendo alguns minutos com ele. O prédio do COB não vai comportar o crescimento do comitê nos próximos anos. “Na época do Pan do Rio, os dois andares de subsolo, que normalmente são garagem, ficaram lotados de computadores e de gente”, diz Nuzman. “Só ali cabia. Na Olimpíada, nem ali. Por isso precisamos nos mudar no ano que vem.” Para ele, a frustração pela perda da candidatura em outras ocasiões virou o combustível para a vitória. “Tínhamos que fazer o Pan antes. Sem essa experiência, não estaríamos preparados”, acredita ele, que estava quase certo da vitória do Rio para 2016 um mês antes do anúncio: “O relatório da comissão julgadora e as conversas de bastidores já apontavam para nós. Aconteceu. Por isso, nos próximos anos o Rio de Janeiro deve virar um imenso canteiro de obras, ganhando como legados uma transformação em sua malha viária e um centro olímpico de treinamento.” Falou, arrumou a gravata e partiu para os compromissos da noite.

tubos de ensaio sim, papo de nerd combina com esporte. julio noronha, luis viveiros e maurício rodrigues estão aí para provar. os três são responsáveis pela área de ciência do esporte do CoB e seus assuntos passeiam por bioquímica, genética e computação científica, entre outros temas do gênero. por mais cibernético que pareça, esse é um movimento que segue uma tendência mundial. “no Brasil, a ciência do esporte ainda é uma novidade, mas no mundo todo está em crescimento", diz júlio. "nossa área se estruturou em 2006 e hoje já atendemos cerca de 50% das modalidades esportivas." Os três dividem uma baia, localizada entre as mesas dos gerentes de esporte de alto rendimento, com quem trocam figurinhas incessantemente, e as da área da entidade voltada para a juventude. mas não trabalham sozinhos. estão sempre em contato com quase 40 doutores de

áreas como fisiologia, nutrição e psicologia, vinculados a sete universidades federais. é, sem dúvida, um trabalho complexo. Coletam o suor dos atletas antes e depois de uma competição, para ver que sais minerais eles perdem. Fazem exames de sangue com parâmetros próprios para esportistas de alto rendimento, diferentes dos usados em pessoas comuns nos laboratórios em geral. Filmam provas e, com uma ferramenta técnica do computador, analisam desde a posição do pé de um saltador à amplitude da braçada de um nadador, oferecendo a seus técnicos dados que não são vistos a olho nu. esportes como judô, vela, boxe, basquete, handebol e atletismo têm uma parceria constante com essa área. já o vôlei conta com estrutura própria para isso. “Com o pessoal desse esporte, a gente troca informações no detalhe do detalhe”, diz júlio.



concentração

cultura e esporte juntos

os joGos e os Games Esportistas de poltrona que adoram competições olímpicas têm quatro razões para exercitar dedos, visão e nervos

paRa peRdeR o contRoLe Os amantes do lendário console Atari têm um espaço considerável na memória para o game Decathlon, um dos mais bem-sucedidos da plataforma. E também um dos maiores detonadores de joystick da história dos games. Para que os atletas ganhassem impulsão, velocidade ou força, o jogador devia mover a alavanca para os lados o mais rápido possível. E muita gente perdia o controle. São dez provas: 100 metros rasos, salto em distância, arremesso de peso, 110 metros com barreiras, lançamento de disco, lançamento de dardos, 400 metros rasos, salto com vara, salto em altura e 1.500 metros rasos. Atualmente, pode ser jogado online em sites de emulação como o iplay.com.br. Game: Decathlon Plataforma: Atari 2600 e PC Lançamento: 1983 Preço: não está mais à venda (pode ser jogado online) http://migre.me/5xOQO

114 seteMBro 2011 | ISTOÉ 2016

“Wii aRe the champions” O encanador ítalo-americano e o porco-espinho mais famoso do mundo estão se preparando para tentar medalhas nos Jogos Olímpicos. Mario e Sonic vão marcar presença em Londres 2012 em um jogo para Nintendo Wii e Nintendo 3DS. O game, que pretende explorar ao máximo a interatividade proporcionada por esses consoles, terá os dois personagens disputando modalidades que vão do futebol ao hipismo, passando por tênis de mesa, natação e atletismo.


Lojinha de 2,99

Esqui cross-country, esqui estilo livre, snowboard, biatlo e patinação de velocidade: todos esses esportes gelados podem ser disputados na tela do Apple iPhone, o smartphone mais popular do mundo. O game oficial dos Jogos de Inverno de Vancouver 2010, no Canadá, permite jogar sozinho ou contra os amigos, utilizando os recursos da tela sensível ao toque e do acelerômetro embutido no aparelho, para tornar tudo ainda mais divertido. O melhor é que, para quem já tem um iPhone, a brincadeira custa bem baratinho: US$ 2,99.

Game: Jogos de Inverno de Vancouver 2010 Plataforma: Apple iPhone Lançamento: 2010 Preço: US$ 2,99 (itunes.com - é preciso ter conta na app store americana) http://migre.me/5xOMT

30 modaLidades na sua tv A Olimpíada de Pequim 2008 entrou para a história como a mais grandiosa e cara de todos os tempos. Mas, para a felicidade de quem se liga mais nos desafios do que em gráficos elaborados, boa parte dessa opulência ficou de fora da cabeça dos designers que transformaram os Jogos em game. Esqueça aqui as complexidades geralmente oferecidas para o Microsoft Xbox 360 e o Sony Playstation 3. Com o visual amigável, o game oficial da Olimpíada chinesa traz mais de 30 modalidades em que o jogador só tem de se

preocupar em ser o mais rápido possível no apertar e girar de botões. A coisa pode até não parecer muito empolgante, mas espere até você reunir a família e botar o espírito competitivo no comando. Game: Pequim 2008 – o videogame oficial dos Jogos Olímpicos Plataformas: Microsoft Xbox 360 e Sony Playstation 3 Lançamento: 2008 Preço: US$ 24,99 (amazon.com) http://migre.me/5xOKv


concentração

cultura e esporte juntos

Robô baLboa

Filme com astro de Wolverine mostra um tempo em que boxe vira coisa de supermáquinas lutadoras

Em um futuro distante, o boxe deixará de ser uma fina arte dominada por poucos seres humanos para se tornar um negócio em que os astros são robôs de alta tecnologia e muita resistência. Esse é o pano de fundo da trama de “Gigantes de Aço”, que tem estreia prevista para 21 de outubro no Brasil. O filme, estrelado por Hugh Jackman (Wolverine) e dirigido por Shawn Levy (Uma noite no museu), conta a história de Charlie Kenton (Hugh Jackman), um lutador fracassado que abandona a profissão e começa a viver da venda de restos de robôs para o ferro-velho. A trama esquenta quando o protagonista descobre que tem um

tRiLha paRa o sucesso Site oferece músicas para qualquer tipo de esporte em todas as situações Pense em um jogo de futebol dramático, na prorrogação, valendo título de Copa do Mundo. Agora, imagine qual trilha sonora seria perfeita para essa situação. Pois já existe um site que poupa você desse trabalho todo. O musicforsport.co.uk tem um acervo de milhares de composições para download, perfeitas para qualquer esporte em qualquer situação. De valsas tranquilas para patinação no gelo a heavy metal acelarado para corridas de automóveis, essa página da web tem tudo. É possível procurar por tipo de esporte, gênero de música, ritmo, batidas por minuto e muito mais. Genial.

filho de 11 anos, com quem se reúne para construir e treinar uma nova geração de supermáquinas lutadoras. Se isso não for suficiente para estimular você a ir ao cinema, talvez a participação da belíssima Evangeline Lilly (da série de tevê “Lost”) ajude um pouco. Detalhe: o filme teve consultoria do mito do boxe Sugar Ray Leonard (no alto, com Jackman). Título: Gigantes de Aço (Real Steel) Direção: Shawn Levy Gênero: Ficção científica Estreia: 21 de outubro de 2011

aLmanaque de LondRes 2012 paRa cRianças

Guia infantil ajuda a treinar o inglês por meio de informações sobre a Olimpíada Não é fácil ficar por dentro de todos os preparativos para a Olimpíada de Londres 2012. No que diz respeito às crianças, isso é ainda mais difícil. Há ao menos uma publicação que pode ajudar nessa tarefa. “The 2012 London Olympics” é um guia em inglês que traz curiosidades sobre as instalações olímpicas, os esportes que serão disputados e a lista de atletas que têm potencial para brilhar nos jogos. Em linguagem simples, o almanaque também contempla uma linha do tempo de fatos importantes sobre as Olimpíadas. US$ 7,99 amazon.com



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Os númeROs e As medAlhAs nãO mentem: nenhum pAís ignORA O pAn e A mAiORiA mAndA O que tem de melhOR pARA disputAR A “OlimpíAdA dAs AméRicAs”

A MISSÃo Depois das quatro medalhas no Rio-2007 e outras quatro em Pequim-2008, a ginasta americana Shawn Johnson é uma das estrelas que os Estados Unidos vão enviar para trazer medalhas do México

Ronald Martinez/Getty

por Murilo Borges e guilherMe Costa


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se Os estAdOs unidOs mAndAssem O “dReAm teAm” do basquete, provavelmente seria um massacre. Caso o corredor jamaicano Usain Bolt desse o ar da graça, dificilmente encontraria adversários que não enfrentassem uma dieta à base de poeira nos 100 metros rasos. Fora esses exemplos extremos, sim, os países do continente levam a sério – e muito – os Jogos Pan-Americanos, cuja próxima edição começa no dia 14 de outubro, em Guadalajara, no México. Assim, o amante de esporte tem boas razões para acompanhar as competições. O evento receberá campeões olímpicos, os melhores atletas atuais em diversas modalidades, confrontos vistos apenas em finais de mundiais, muitos jovens promissores e ainda há a disputa de vagas em alguns esportes para a Olimpíada de Londres-2012. Todos os países, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá, levam sua equipe principal para o Pan em quase todas as modalidades. A história comprova, mesmo essas exceções americanas jamais enviam uma esquadra sem chance de medalha para a competição. Muito pelo contrário. Para se ter uma ideia, o corredor Carl Lewis, o jogador de basquete Michael Jordan e o nadador Mark Spitz já participaram da “Olimpíada das Américas”. “Ah, mas isso acontecia só no passado. Hoje é diferente”, alguém pode comentar. A realidade mostra que o raciocínio é equivocado.

As estRelAs inteRnAciOnAis

Maria Calle Medalhista olímpica em 2004, a colombiana é a principal ciclista de uma equipe que vem para ganhar todos os ouros na bicicleta -------Mijain lopez Peso-pesado da luta greco-romana, o cubano é o atual campeão olímpico e tetracampeão mundial

Os dez cOnFROntOs impeRdíVeis nO méxicO

Denisse astrid Van lamoen Chilena campeã mundial de tiro com arco -------Mariana Pajón Ciclista colombiana campeã mundial de BMX

Yargelis savigne Tricampeã mundial do salto triplo, a cubana tenta a terceira medalha em Pans na carreira -------Joshua richmond Com a mira em mais um ouro, o atirador americano é o atual campeão mundial da fossa dublê do tiro esportivo

1º Brasil x argentina (handebol Masculino) O Brasil é o atual bicampeão dos Jogos Pan-Americanos. Em 2003, venceu na prorrogação a final contra a Argentina. No Rio, em 2007, venceu de novo os hermanos, numa partida que terminou em pancadaria. Para Guadalajara, os argentinos são favoritos, mas a possibilidade do tri estimula os brasileiros

2º Mayra aguiar x Kayla harrison (judô até 78 kg) A brasileira e a americana fizeram a final do mundial de 2010, com Kayla ficando com o ouro. No Grand Slam do Rio, em 2011, foi a vez de Mayra vencê-la. No mundial de Paris, encerrado em agosto, elas não se enfrentaram. No confronto geral, três vitórias para cada lado

Fotos (em sentido horário): divulgação • Nicolas Asfouri/AFP • Karim Jaafar/AFP • Andreas Solaro/AFP • Harry How/Getty •

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Chris Brown O panamenho ganhou dois ouros no último Pan e tenta repetir a dose em Guadalajara. foi prata na Olimpíada do revezamento 4 x 400 m -------Wilfredo leon Jogador de vôlei cubano, de apenas 17 anos, foi o destaque do time no vice-mundial do ano passado

tony azevedo Nascido no Rio de Janeiro, mudou-se ainda criança para os Estados unidos. Principal jogador da seleção americana de polo aquático, foi prata em Pequim -------eric lamaze Cavaleiro canadense campeão olímpico em Pequim-2008

3º Canadá x estados unidos (polo aquático feminino) As duas seleções fizeram a final do Campeonato Mundial de 2009. A campeã fica com a vaga na Olimpíada de londres

4º Brasil x estados unidos X Cuba (volei masculino) O Brasil é o atual campeão mundial e os Estados unidos são os campeões olímpicos. E não será surpresa se os jovens cubanos levarem o Pan 5º Brasileiras X Cecilia Biagioli (maratona aquática) Poliana Okimoto e Ana Marcela venceram os dois últimos Circuitos Mundiais da modalidade. Mas no Pan não terão vida fácil. A argentina Cecilia já se classificou para londres e ficou em quinto no último Mundial

Paola soares Campeã mundial da plataforma nos saltos ornamentais em 2009 e medalhista olímpica em Pequim 2008, a mexicana tentará repetir, em casa, os três ouros conquistados no Pan do Rio -------irving salandino Campeão olímpico do salto em distância, tenta o bicampeonato no Pan. O panamenho, que treinou no Brasil até 2010, está nos Estados unidos em busca de seguir na elite mundial

3º Keston Bledman X Daniel Bailey (atletismo) quem será o homem mais rápido do Pan? A tradição das ilhas caribenhas na prova colocará um atleta de Trinidad Tobago (Badley) e outro de Antígua & Barbuda frente a frente. Os dois já correram abaixo dos 10s em 2011. -------7º Diego hypolito X thomas gonzales (solo e salto) O brasileiro diego é o atual campeão do Pan nas duas provas, mas o chileno vem forte. finalista no último mundial, venceu as duas modalidades do Sul-Americano, disputado em agosto

Dayron robles Campeão olímpico e recordista mundial dos 110 m com barreiras por Cuba -------oscar Braisson O gigante cubano tenta o bicampeonato dos Jogos Pan-Ameri-canos na categoria pesado do judô. Em Pequim, foi prata

8º hugo hoyama X liu song (tênis de mesa) O chinês naturalizado argentino liu Song eliminou hugo hoyama da disputa individual no Pan de 99 e 2007. Em 2011, hugo quer fechar sua participação em Jogos Pan-Americanos, a sétima e última, com o ouro individual, que seria seu 10º na história do evento

leonel suárez O atleta mais completo do Pan. favorito ao ouro no decatlo, que envolve dez provas do atletismo, é medalhista olímpico e vicecampeão mundial -------gabriel Mercedes No Pan do Rio, o dominicano foi ouro na categoria 58 kg do tae kwon do. No ano seguinte, conquistou a prata em Pequim. Neste ano, foi vice no Pré-Olímpico e já está em londres

10º Marcel sturmer x Daniel arriola (patinação artística) O brasileiro Marcel é o atual bicampeão do Pan. Nos Jogos Sul-Americanos de Medellín, os dois bateram boca e o título ficou com o argentino Arriola

9º Myke Carvalho x Carlos Banteur (boxe, peso meiomédio, 69 kg) O cubano Benteux, prata na Olimpíada de Pequim, está com o brasileiro engasgado. No Pan da modalidade, no ano passado, Myke o venceu. Guadalajara é a chance da revanche

123 SETEMBRO 2011 | ISTOÉ 2016


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atletismo O atleta pode marcar, no Pan, o índice estipulado para participar da Olimpíada Badminton A competição vale pontos para o ranking de classificação olímpica Natação O atleta pode marcar, no Pan, o índice estipulado para participar da Olimpíada

Harry How/Getty

VOO CUBANO Vice-campeão mundial no decatlo, Leonel Suarez é uma das maiores apostas de medalha para Cuba, que sempre manda os seus melhores atletas para disputar o Pan

Canoagem velocidade Os campeões em seis provas individuais e em uma prova disputada por duplas handebol Campeão hóquei na grama Campeão hipismo adestramento dois primeiros hipismo CCe dois primeiros hipismo saltos Três primeiros Nado sincronizado Campeã por equipes Maratona aquática Maratona Aquática Pentatlo moderno Campeões e vices masculino e feminino Polo aquático Campeão saltos ornamentais Campeão do trampolim individual (masculino e feminino) e da plataforma individual (masculino e feminino) tênis de mesa Campeão individual tiro esportivo Campeões (masculino e feminino) em cinco categorias triatlo Campeões (masculino e feminino)


Uma das principais estrelas do Pan do Rio de Janeiro em 2007, a ginasta americana Shawn Johnson ganhou quatro ouros por aqui e, no ano seguinte, na Olimpíada de Pequim, conquistou mais quatro medalhas, sendo uma de ouro e três de prata. Ela estará no Pan. Em julho de 2011, uma dobradinha americana na prova dos 400 m medley masculino do Mundial de Esportes Aquáticos em Xangai (China): Ryan Lochte ficou com o ouro (disputou o Pan de Santo Domingo, República Dominicana, em 2003) e Tyler Clary com a prata (nadou nos Jogos do Rio de Janeiro). Eles também devem aparecer no torneio de Guadalajara. Na maioria dos esportes, os Estados Unidos levam a equipe principal para o Pan. Nos casos de hipismo, luta olímpica, nado sincronizado, polo aquático e tiro, a equipe em Guadalajara será a mais forte que o país dispõe. Em outros esportes, em que eles não têm tanta tradição, como tênis de mesa, badminton, judô, levantamento de peso, boxe e tiro com arco, os primeiros do ranking nacional também estarão no México. Ainda que as equipes de natação e atletismo não sejam formadas pelos principais atletas americanos, o “time B” que disputará o Pan conta com grandes nomes, muitos deles entre os dez melhores do mundo, mas que não podem disputar a Olimpíada pelo limite de atletas por nação, como é o caso das provas de medley e lançamento de peso na natação e no atletismo, respectivamente. O Canadá não tem visão muito diferente que a de seu vizinho de baixo. Uma pequena mostra disso: o país ganhou três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim. Na luta olímpica, com Carol Huynh; no hipismo, com Eric Lamaze; e, no remo, com a equipe de oito com timoneiro, masculino. Huynh e Lamaze já garantiram vaga no Pan, enquanto boa parte do time de remo estará no México em busca do ouro. Se no atletismo e na natação o país poupa suas maiores estrelas, na maioria das outras modalidades, o time canadense vai com seus principais atletas. Ainda do lado de lá do equador, não dá para desconsiderar Cuba, que, apesar de

decadente no esporte, ganhou 28 medalhas na Olimpíada de Pequim e leva sua força máxima em todas as modalidades no Pan. O carro-chefe dos cubanos é o boxe. Só na China, o esporte levou o país oito vezes ao pódio. Veremos em Guadalajara os medalhistas olímpicos Carlos Benteur e Rosniel Iglesias, além de toda a equipe titular de Cuba. O atletismo da ilha também vai com tudo para o México, em busca de repetir os 12 ouros conquistados no Rio em 2007. Destaque para o campeão olímpico e recordista mundial dos 110 m com barreiras, Dayron Robles, e para o líder do ranking mundial do salto triplo, Alexis Copello. “A equipe irá forte e completa, em busca do segundo lugar no quadro de medalhas”, diz Norge Marrero, chefe de alto rendimento do Instituto Cubano de Esporte. “Nosso objetivo é conquistar entre 60 e 65 medalhas de ouro.” O Brasil levará cerca de 550 atletas para Guadalajara. Os campeões olímpicos Maurren Maggi, Robert Scheidt, Giba e Cesar Cielo já estão confirmados na delegação nacional. “Quero ganhar quatro ouros no Pan”, disse Cielo, que busca superar a marca do Rio, quando ganhou três medalhas douradas. Maurren, mesmo em ano de mundial, também confirmou que o seu foco está na competição continental: “Em 2011, meu objetivo principal é ganhar o ouro do salto em distância no Pan e chegar ao tricampeonato.” Os demais países do continente não possuem uma tradição olímpica digna de nota, mas, com exceção dos velocistas jamaicanos, os melhores atletas vão ao Pan. Com o objetivo de não fazer feio atuando em casa, os mexicanos garimpam o que têm de melhor em todos os esportes, com destaque para a medalhista olímpica nos saltos ornamentais Paola Espinoza. Colômbia e Venezuela estão crescendo em termos esportivos e levam campeões mundiais no ciclismo e no levantamento de peso, além de seus melhores atletas nas demais modalidades. Os argentinos não vão com time A no futebol e no basquete, em que fazem parte da elite mundial, mas querem esquecer a pior participação da

história, ocorrida em 2007, quando não passaram da oitava posição no quadro de medalhas. “Queremos a quinta posição no quadro”, espera o presidente do Coarg (Comitê Olímpico Argentino). só no Pan Nove modalidades estão no programa do Pan e não são esportes olímpicos. Duas delas, o beisebol e o softbol, faziam parte da Olimpíada até Pequim 2008, mas foram excluídas. Outra fará parte da Olimpíada de 2016, o rúgbi de sete, uma das novidades do programa de Guadalajara. Caratê, patinação, pelota basca, raquetebol, esqui

EM hiPiSMO, luTA OlíMPiCA, NAdO SiNCRONizAdO, POlO AquáTiCO E TiRO, OS ESTAdOS uNidOS vãO lEvAR PARA OS JOGOS dE GuAdAlAJARA SuAS EquiPES MAiS fORTES aquático e boliche completam a lista. Nesses casos, o Pan é a Olimpíada. “A gente tem um carinho especial pelo Pan”, afirma o bicampeão da competição na patinação artística, o gaúcho Marcel Sturmer, terceiro melhor do mundo. “Nos anos em que ele acontece, vamos de carga máxima.” No softbol, esporte disputado só entre as mulheres, os Estados Unidos são os favoritos absolutos ao título. Treze campeãs no Rio em 2007 subiram ao pódio na Olimpíada de Pequim em 2008, quando o time ficou com a medalha de prata. Para o Pan de Guadalajara, as melhores jogadoras do País estão preparadas para mais um título, agora ainda mais importante pelo fato de o esporte ter saído do programa da Olimpíada.


TODOS OS ESPORTES OLÍMPICOS

AGENDA DO PAN

15

DE OUTUBRO SÁBADO

> BADMINTON > GINÁSTICA > HANDEBOL > NATAÇÃO > PENTATLO MODERNO > REMO > TAE KWON DO > TÊNIS DE MESA > VÔLEI (FEM.)

16

DE OUTUBRO DOMINGO

> BADMINTON > GINÁSTICA > HANDEBOL > HIPISMO > NATAÇÃO > PENTATLO MODERNO > REMO > TAE KWON DO > TÊNIS DE MESA > TIRO > VÔLEI (FEM.) > VÔLEI DE PRAIA

17

DE OUTUBRO SEGUNDA-FEIRA

> BADMINTON > CICLISMO > GINÁSTICA > HANDEBOL > HIPISMO > NATAÇÃO > TAE KWON DO > TÊNIS > TÊNIS DE MESA > TIRO

> TIRO COM ARCO > VELA > VÔLEI (FEM.) > VÔLEI DE PRAIA

PAN

18

DE OUTUBRO TERÇA-FEIRA

> BADMINTON > CICLISMO > FUTEBOL > GINÁSTICA > HANDEBOL > HIPISMO > NATAÇÃO > TAE KWON DO > TÊNIS > TÊNIS DE MESA

> TIRO > TIRO COM ARCO > VELA > VÔLEI (FEM.) > VÔLEI DE PRAIA

Divulgação Ibovespa

PAINEL

ESPECIAL


ATLETISMO JOGAR PARA LONGE

Ronald Julião, que já está classificado para representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara no arremesso de disco, mostrou que é polivalente. Durante a última edição da Universíada, disputada em Shenzhen, na China, no fim de agosto, o atleta bateu o recorde brasileiro do arremesso de peso, que já durava 17 anos, com a marca de 18,78 metros. Otimista, ele agora diz estar pronto para buscar medalhas em Guadalajara, em outubro.

BOXE NOVES FORA UMA

A equipe do Brasil está definida. Se, por um lado o País está bem nas tabelas com nove atletas de ponta, também é fato que o time vai sentir a ausência de Érica Matos, derrotada nas classificatórias por 9 a 8 pela colombiana Ingrid Valença. Dessa forma, o elenco final conta com Adriana Araújo, Roseli Feitosa, Éverton Lopes, Yamaguchi Florentino, Julião Neto, Robenílson de Jesus, Robson Conceição, Myke Carvalho e David da Costa.

> Estádio Telmex de Atletismo – Guadalajara

> Arena Expo Guadalajara – Guadalajara

BADMINTON

CANOAGEM EFEITO CASCATA?

TÊNIS DA HUMILDADE

Grande esperança de medalha e maior expoente do badminton brasileiro no Pan de Guadalajara, Daniel Paiola rejeita a alcunha de estrela. “Não me considero herói, muito menos sonho ser reconhecido na rua”, diz o atleta, natural de Campinas (SP). Apesar disso, ele afirma que ficará feliz caso um dia sirva de modelo para alguém. Para chegar lá, luta também para ajudar o País a conquistar uma vaga em Londres 2012. > Ginásio poliesportivo U.D Revolución – Guadalajara

BASQUETE A TODO VAPOR

Embora a principal competição do basquete feminino brasileiro em 2011 seja o Pré-Olímpico, em setembro, isso não quer dizer que o Pan será subestimado por comissão técnica e atletas. Tanto é que o treinador Ênio Vecchi já avisou que vai levar força máxima para Guadalajara: “O que temos planejado é que o mesmo grupo que vai para o Pré-Olímpico também vai para o Pan, pois são duas competições muito próximas e não dá tempo de ficar trocando ou treinando outro grupo”, afirma. > Domo do Code – Guadalajara

FUTEBOL LÁ VÃO OS CAMPEÕES

Para deleite da torcida e terror dos adversários, a Confederação Brasileira de Futebol confirmou que vai enviar a Seleção Sub-20, que conquistou a Copa do Mundo da categoria em agosto, para disputar o Pan. Inicialmente, cogitava-se que a entidade máxima do futebol brasileiro poderia enviar a equipe Sub-17 para a competição, como fez no Pan do Rio de Janeiro, em 2007. > Estádio Omnilife – Guadalajara

GINÁSTICA A VOLTA DE DAIANE

Os bons resultados da equipe brasileira no último Campeonato Mundial, disputado em agosto, animaram o time para os Jogos PanAmericanos. O País chegou a três finais na categoria A, e o atleta Nivalter Santos ficou a apenas uma posição de garantir a vaga em Londres 2012 pela classe C1 200 m.

Outubro é o mês-chave para a seleção brasileira de ginástica artística. Além da disputa do Pan, a equipe enfrentará o Mundial de Tóquio, que também serve como pré-olímpico (classifica os mais bem colocados para Londres 2012). A boa notícia é que o Brasil conta com a volta da veterana Daiane dos Santos, que ficou quase três anos afastada por causa de lesões e de uma suspensão por doping.

> Pista de Remo e Canoagem da cidade de Guzmán

> Complexo Nissan de Ginástica – Guadalajara

CICLISMO CONTRA

HALTEROFILISMO PRÉVIA

O CRONÔMETRO

A cidade paranaense de Maringá foi o local escolhido pelos atletas da seleção brasileira de ciclismo para a fase final de treinamentos antes do Pan. Lá, o time pode aproveitar a boa estrutura, com pista de 250 metros, academia e centro de recuperação, para tentar baixar os tempos de volta. “Acredito que vamos brigar por medalha”, diz o técnico Emerson Silva.

O evento que serviu de teste para as competições de levantamento de peso do Pan trouxe boas notícias para o Brasil. Disputado em agosto no mesmo local que abrigará as finais, o torneio para atletas sub-20 se encerrou com seis esportistas brasileiros no pódio. O principal destaque foi para Monique Lima de Araújo, que conquistou três terceiros lugares na categoria até 75 kg.

> Velódromo Pan-Americano – Guadalajara

> Foro de Halterofilismo – Guadalajara

ESGRIMA CORAÇÃO VALENTE

Atual campeão brasileiro do florete, o esgrimista Heitor Shimbo, um dos pré-classificados para o Pan, superou mais do que adversários para chegar ao patamar atual. Portador de uma séria doença do coração, o atleta passou por uma cirurgia e por cinco meses de recuperação quando ainda era criança. "Assim que os médicos me liberaram, comecei a praticar esgrima", conta Heitor, que foi influenciado pelo irmão mais velho, o esgrimista Elton Shimbo.

HANDEBOL PASSAPORTE

Motivados pelos bons resultados obtidos nas últimas edições dos Jogos Pan-Americanos, os atletas do handebol brasileiro, tanto homens quanto mulheres, têm mais uma boa razão para ir em busca do ouro em Guadalajara. O primeiro lugar na competição vale a classificação automática para a Olimpíada de Londres, em 2012. > Ginásio San Rafael – Guadalajara

> Ginásio poliesportivo U.D Revolución – Guadalajara

19

DE OUTUBRO QUARTA-FEIRA

> ATLETISMO > CICLISMO > FUTEBOL > HANDEBOL > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > NADO SINCRONIZADO > NATAÇÃO > TÊNIS

> TÊNIS DE MESA > TIRO > TIRO COM ARCO > VELA > VÔLEI (FEM.) > VÔLEI DE PRAIA

20

DE OUTUBRO QUINTA-FEIRA

> ATLETISMO > CICLISMO > FUTEBOL > HANDEBOL > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > LUTAS > NADO SINCRONIZADO > NATAÇÃO > TÊNIS

> TÊNIS DE MESA > TIRO > TIRO COM ARCO > VELA > VÔLEI (FEM.) > VÔLEI DE PRAIA

21

DE OUTUBRO SEXTA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETE (FEM.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > FUTEBOL > HANDEBOL > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > LUTAS

> NADO SINCRONIZADO > NATAÇÃO > TIRO > TIRO COM ARCO > VELA

22

DE OUTUBRO SÁBADO

> ATLETISMO > BASQUETE (FEM.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > FUTEBOL > HANDEBOL > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > LUTAS > NADO SINCRONIZADO > TIRO > TIRO COM ARCO > VELA


PAINEL

Todos os esportes olímpicos

HIPISMO A BELEZA VEM A CAVALO O México vai ficar ainda mais bonito em outubro. Luiza Almeida, a musa do hipismo brasileiro, será uma das integrantes da equipe que disputará o Pan. A jovem, de apenas 20 anos, compete na modalidade de adestramento. Ela diz que a experiência de já ter disputado uma Olimpíada – em Pequim, 2008 – pode ajudar a superar os adversários. > Guadalajara Country Club – Guadalajara

HÓQUEI SOBRE GRAMA

NADO SINCRONIZADO

POLO AQUÁTICO BASE SÓLIDA

A dupla dos Estados Unidos será a grande rival das brasileiras Lara Teixeira e Nayara Figueira no nado sincronizado. Com o 11º lugar no último Mundial, Mary Killman e Lyssa Wallace ficaram apenas uma posição à frente do duo brasileiro. “Estamos pau a pau com os Estados Unidos”, afirma Lara. “O Pan é uma competição diferente, de grande energia, e vamos confiantes de que podemos ficar com a prata.”

> Centro Aquático Scotiabank – Guadalajara

NA COLA DAS AMERICANAS

> Centro Aquático Scotiabank – Guadalajara

SEM VAGA

O Brasil não conseguiu classificar nenhuma equipe, masculina ou feminina, para o Pan. Por conta disso, a confederação da modalidade tenta organizar torneios paralelos, como o Pan American Challenge, realizado em agosto, no Rio de Janeiro. A boa notícia fica por conta do anúncio de um acordo de cooperação do COB com dirigentes ingleses, que buscarão fomentar o esporte no Brasil. > Ginásio Pan-Americano de Hóquei – Guadalajara

NATAÇÃO SEM RELAXAMENTO

Cesar Cielo, maior estrela da natação brasileira, deu fim às especulações e confirmou que vai competir em Guadalajara. O atleta, campeão dos 50 metros livre e borboleta no último Mundial, disse que o time nacional não pode relaxar na competição. “Os americanos, mesmo não mandando o melhor time, vão ter atletas perigosos, sem falar nos canadenses”, afirmou o homem mais rápido das piscinas. > Centro Aquático Scotiabank – Guadalajara

JUDÔ EM BUSCA DO TRI

O judoca brasileiro Tiago Camilo tem enfrentado dificuldades desde que passou a competir na categoria dos meio-médios. Eliminado logo nas oitavas de final do Mundial de Paris, o ganhador do bronze olímpico em Pequim agora concentra suas atenções no Pan. Vai tentar seu terceiro ouro consecutivo na competição. Apesar de chateado com o desempenho na França, o brasileiro diz estar feliz com os bons resultados do restante do time. > Ginásio do Code 2 – Guadalajara

A delegação brasileira que disputará o pentatlo moderno já conta com pelo menos quatro atletas que participaram dos Jogos Mundiais Militares, no Rio de Janeiro. As sargentos Priscila Oliveira e Yane Marques, o capitão Wagner Romão e o tenente Luis Magno Barroso formam a espinha dorsal do time. Eles pretendem fazer de Guadalajara um grande trampolim para a Olimpíada de Londres. > Clube Hípica – Guadalajara

LUTAS O NOSSO ATLETISMO

> ATLETISMO > BASQUETE (FEM.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > FUTEBOL > HALTEROFILISMO > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > LUTAS > POLO AQUÁTICO > TRIATLO

> Pista de Remo e Canoagem – Cidade de Guzmán

O excelente desempenho da seleção masculina no Campeonato Sul-Americano da modalidade é a motivação que faltava para o time pensar grande para Guadalajara. “Os atletas e a comissão técnica estão dedicando suas vidas por um ideal”, afirmou o presidente da CBRu (Confederação Brasileira de Rugby), Sami Arap, que classificou de histórico o segundo lugar obtido na competição continental. > Estádio Tlaquepaque – Guadalajara

SALTOS ORNAMENTAIS O Brasil já definiu os oito atletas que disputarão os saltos ornamentais no Pan. No masculino, os convocados são Cesar Castro, do Mackenzie-RJ, Hugo Parisi, Rui Marinho e Ian Matos, todos do Mackenzie de Brasília. No feminino, foram chamadas Juliana Veloso, do Fluminense (RJ), Bruna Brunnett, do Grêmio Cief da Paraíba, Natali Cruz e Andressa Mendes, ambas da Apoe, do Rio de Janeiro.

> Ginásio do Code 2 – Guadalajara

DE OUTUBRO DOMINGO

A equipe brasileira que disputará o Pan já está totalmente definida. O País levará 19 esportistas, que garantiram as vagas em competições realizadas em julho, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Um dos destaques do time é Fabiana Beltrame, que vai brigar por medalhas ao lado das compatriotas Kissya Cataldo da Costa, Bianca Miarka, Carolina Araújo, Camila de Carvalho e Luciana Granato.

LISTA FECHADA

O Brasil torcerá por sete atletas da luta olímpica no Pan. Rafael Páscoa (55 kg), Diego Romanelli (60 kg) e Marcelo Gomes (84 kg) conquistaram as vagas no estilo grecoromano. As meninas serão representadas por Joice Silva e Aline Ferreira, que carimbaram o passaporte em maio. Os dois postos restantes couberam aos irmãos Antoine (120 kg) e Adrian Jaoude (84 kg), destaques da delegação.

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REMO SÓ FAZER AS MALAS

RÚGBI VICE HISTÓRICO

PENTATLO MODERNO PELOTÃO REFORÇADO

A seleção brasileira masculina júnior de polo aquático subiu ao lugar mais alto do pódio no Pan da modalidade, disputado em agosto, em Porto Rico. Os meninos garantiram o ouro ao derrotar os Estados Unidos na final por 6 a 4. Os americanos, aliás, também serão os grandes adversários dos adultos em Guadalajara, onde a equipe principal buscará esquecer o mau resultado no último Mundial (14º lugar).

> Centro Aquático Scotiabank – Guadalajara

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DE OUTUBRO SEGUNDA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETE (FEM.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > ESGRIMA > FUTEBOL > HALTEROFILISMO > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > LUTAS > POLO AQUÁTICO > VÔLEI (MASC.)

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DE OUTUBRO TERÇA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETEBOL (FEM.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > ESGRIMA > FUTEBOL > HALTEROFILISMO > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > POLO AQUÁTICO > VOLEIBOL (MASC.)

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DE OUTUBRO QUARTA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETE (MASC.) > BOXE (COMPETIÇÃO) > CANOAGEM > ESGRIMA > FUTEBOL > HALTEROFILISMO > HIPISMO

> HÓQUEI SOBRE GRAMA > JUDÔ > POLO AQUÁTICO > SALTOS ORNAMENTAIS > VÔLEI (MASC.)


TAE KWON DO TUDO EM CIMA

TIRO COM ARCO

A equipe brasileira completou os testes físicos na segunda quinzena de agosto, na Universidade de Londrina, no Paraná. O elenco conta com nomes consagrados, como Natália Falavigna e Diogo Silva, que tenta o bicampeonato na competição. A preparação final da equipe será feita na Coreia do Sul, em setembro.

As atletas brasileiras do tiro com arco sabem que não terão vida mole em Guadalajara. Afinal, ninguém menos que a atual campeã mundial participará da competição. Medalha de ouro no Mundial de Turim, na Itália, a chilena Denisse Van Lamoen é uma das principais esperanças de pódio para o país andino. O ótimo desempenho também garantiu uma vaga para Denisse em Londres 2012.

> Ginásio do Code 2 – Guadalajara

TÊNIS PODER FEMININO

Ana Clara Duarte, Roxane Vaisemberg e Teliana Pereira, as três melhores brasileiras no ranking mundial de tênis, devem fazer parte do time nacional no Pan. O torneio terá disputas de simples, duplas e duplas mistas. Tudo indica que Ana e Roxane formarão uma parceria, já que possuem pontuação mais alta.

> Estádio Pan-Americano de Tiro com Arco – Guadalajara

TRIATLO

MOTIVAÇÃO EXTRA

Se você fica cansado só de pensar em disputar provas de natação, ciclismo e corrida em sequência, saiba que, de vez em quando, os atletas do triatlo também precisam de uma motivação extra. No Pan, esse empurrãozinho vem na forma de classificação para Londres 2012, garantida aos campeões da modalidade.

> Complexo Telcel de Tênis – Guadalajara

TÊNIS DE MESA

APETITE VETERANO

Hugo Hoyama não descansa. Aos 42 anos de idade – 35 deles dedicados ao tênis de mesa –, o veterano treina cinco horas por dia para disputar o Pan de Guadalajara, que será o último de sua vitoriosa carreira. Com nove medalhas na história da competição, o brasileiro poderá chegar a 11 conquistas no México, se subir ao pódio nas disputas de simples e duplas.

> Terminal Marítima – Puerto Vallarta

Paula Pequeno já ganhou duas vezes o título de melhor jogadora do mundo e conquistou um ouro olímpico. Toda essa dedicação, no entanto, não impede a musa do vôlei nacional de cuidar da vaidade, mesmo durante os treinos puxados para o Pan. “Sou perua assumida”, brinca a atleta. “Se deixar, toda semana eu tomo um banho de salão”. > Complexo Pan-Americano de Vôlei – Guadalajara

VÔLEI DE PRAIA REPETECO?

O Brasil vai com duplas campeãs mundiais tanto no masculino quanto no feminino. Além de Juliana e Larissa – tema de uma reportagem nesta edição da 2016 –, o País leva Alison e Emanuel. Com isso, aumentam as chances de haver uma repetição do resultado obtido no Rio 2007, em que só deu Brasil no pódio. Mesmo assim, as moças apontam os Estados Unidos como principal candidato a estragar a festa brasileira no México. > Estádio Pan-Americano de Vôlei de Praia – Puerto Vallarta

VELA ATLETA-TORCEDOR

Fora do Pan – a Classe Star não faz parte da disputa mexicana –, o astro da vela brasileira Robert Scheidt aposta que o País não vai decepcionar na competição. “Certamente conseguiremos bons resultados.” Entre as esperanças do time está o experiente Cláudio Biekarck, da Classe Lightning, que vai para seu oitavo Pan.

> Domo do Code – Guadalajara

TIRO

> Vallarta Yatch Club – Puerto Vallarta

NUNCA É TARDE

Andy Wong/AP

VÔLEI PERUA ASSUMIDA

OBSTÁCULO CHILENO

Uma das grandes esperanças do tiro esportivo brasileiro tem 50 anos e é dentista. Stênio Yamamoto começou na modalidade aos 39 anos e, hoje, é um atleta de ponta. Para ele, a profissão e o esporte têm muito em comum: “A precisão é essencial nos dois casos." O treinamento ocorre nos intervalos das consultas, em uma sala ao lado da clínica, com a providencial ajuda de um programa de simulação no computador. > Polígono Pan-Americano de Tiro Esportivo – Guadalajara

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DE OUTUBRO QUINTA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETE (MASC.) > CANOAGEM > ESGRIMA > HALTEROFILISMO > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > JUDÔ > POLO AQUÁTICO > SALTOS ORNAMENTAIS > VÔLEI (MASC.)

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DE OUTUBRO SEXTA-FEIRA

> ATLETISMO > BASQUETE (MASC.) > BOXE (FINAIS) > CANOAGEM > ESGRIMA > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > JUDÔ > SALTOS ORNAMENTAIS > VÔLEI (MASC.)

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DE OUTUBRO SÁBADO

> ATLETISMO > BASQUETE (MASC.) > BOXE (FINAIS) > CANOAGEM > ESGRIMA > HIPISMO > HÓQUEI SOBRE GRAMA > JUDÔ > RÚGBI > SALTOS ORNAMENTAIS > VÔLEI (MASC.)

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DE OUTUBRO DOMINGO

> ATLETISMO > BASQUETE (MASC.) > RÚGBI


PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história | por Edson Franco

Arma indiana contra Hitler A disputa pelo ouro no hóquei sobre grama, nos Jogos de Berlim de 1936, começou às 11h de 15 de agosto. No primeiro tempo, o resultado foi um apertado 1 a 0 para a seleção da Índia. Jogando em casa e lutando para defender a suposta superioridade ariana, a equipe da Alemanha surpreendia até seus compatriotas, incrédulos. Afinal, eles enfrentavam uma seleção que, até aquela altura da Olimpíada, havia feito 30 gols e cujo goleiro não havia buscado a bola no fundo das redes nem uma vez sequer. Mas esse retrospecto não resolvia muita coisa diante da entrega e determinação alemãs. Na volta dos vestiários, o capitão do time indiano, Dhyan Chand, teve uma ideia para facilitar a vitória: tirou os tênis e as meias. Descalço, ficou mais veloz e coordenou um massacre. Fez três gols e viu seus companheiros marcar outros quatro. Aos alemães, sobrou o consolo de ter furado a defesa indiana pela única vez naqueles Jogos. Resultado: Índia 8 x 1 Alemanha. Naquela manhã ensolarada, o estádio estava completamente lotado para acompanhar a final. A maioria, claro, era de torcedores alemães. Mas poucos voltaram tristes pra casa. Apesar de torcer por um improvável milagre protagonizado pela sua seleção, eles tinham ido mesmo conferir o show indiano. Um dia depois da semifinal, na qual os indianos aplicaram um aterrorizante 10 a 0 nos franceses, um jornal berlinense manchetou: “O complexo olímpico agora abriga também shows de mágica.” Cartazes espalhados pela capital convidavam a população para assistir ao “mago indiano Dhyan Chand em ação”. Levou um bom tempo para essa magia aparecer. Até entrar para o Exército indiano em 1922 aos 16 anos, o futuro “Pelé do hóquei” não tinha intimidade nenhuma com os bastões. Mesmo assim, era escalado para participar dos amistosos disputados em seu regimento. O major Bale Tiwari notou a facilidade com que Chand driblava e passava a bola com precisão. Acabou virando mentor do jovem atleta e passou a ele os fundamentos do esporte. Até 1926, a então maior promessa do hóquei sobre grama disputou apenas jogos entre seus colegas militares. Passou a enfrentar civis só em 1928, ano em que aconteceria a Olimpíada de Amsterdã, na Holanda. A Índia não tinha nenhuma medalha de ouro ainda e enxergava no hóquei sobre a grama a grande oportunidade de conquistar a primeira. Para chegar lá, a seleção local não poderia deixar de fora um jogador que, dois anos antes, havia participado da primeira turnê da equipe do Exército, com a qual maravilhara a Nova Zelândia – em 21 partidas, o time fez 192 gols, mais da metade havia saído do bastão de Chand. Com ele em campo na Olimpíada, a seleção da Índia, mesmo com três jogadores adoecidos, bateu os anfitriões holandeses na final

Hulton Archive/Getty

Com sua técnica aprimorada no Exército, Dhyan Chand comandou a seleção de seu país, que enfiou 8 a 1 na final, contra os alemães, em Berlim-36

As conquistas olímpicas do hóquei sobre grama indiano 8 ouros (Amsterdã-28, Los Angeles-32, Berlim-36, Londres-48, Helsinque-52, Melbourne-56, Tóquio-64 e Moscou-80), 1 prata (Roma-60) e dois bronzes (Cidade do México-68 e Munique-72) A campanha que Hitler acompanhou em 1936 Fase de grupos Índia 4 x 0 Hungria (5/8) Índia 7 x 0 EUA (7/8) Índia 9 x 0 Japão (10/8)

Semifinal Índia 10 x 0 França (12/8) Final Índia 8 x 1 Alemanha (15/8)

por 3 a 0, dois gols do militar. O país ganhava o primeiro de uma série de oito ouros no esporte. Na Olimpíada seguinte, em Los Angeles (EUA), Chand foi ainda mais avassalador. Na final, fez 8 dos 24 gols dos indianos sobre os anfitriões norte-americanos, que conseguiram marcar apenas uma vez. Assim, depois dessas duas finais, quando entraram em campo na Olimpíada de Berlim para enfrentar aqueles indianos implacáveis, os alemães sabiam que estar em casa pouco adiantaria. Apesar de indignado com as vitórias do negro americano Jessie Owens, nem Adolph Hitler deu piti por conta do massacre indiano. Em vez de tentar inventar uma maneira criativa de explicar ao povo aquela derrota, o ditador tentou tirar proveito da situação. Chand era major no exército indiano. Para seduzi-lo, Hitler ofereceu-lhe a patente de coronel na força nazista. Espertamente, o indiano declinou. Deixou de ganhar muitas medalhas não esportivas, mas morreu com a consciência tranquila em 1979, aos 74 anos.



ESPECIAL PAN: OS DUELOS, AS ESTRELAS E AS FORÇAS BRASILEIRAS NOS JOGOS DE GUADALAJARA

NO TOPO DO MUNDO

Fabiana conquistou o primeiro ouro do Brasil na história dos Mundiais de atletismo

O MELHOR TÉCNICO DO PLANETA, UM NOVO JEITO DE SALTAR E AJUDA PSICOLÓGICA: A RECEITA QUE FEZ DE FABIANA MURER CAMPEÃ MUNDIAL DE SALTO COM VARA – E O QUE OUTROS ATLETAS PODEM APRENDER COM ELA

VAI ENCARAR?

ÚNICO ESPORTE A LEVAR O PAÍS AO PÓDIO EM TODAS AS ÚLTIMAS SETE OLIMPÍADAS, O JUDÔ BATE RECORDE DE MEDALHAS NO MUNDIAL DE PARIS. DESCUBRA POR QUE OS RIVAIS TEMEM ESSA NOVA GERAÇÃO

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Setembro/2011 Edição 33 | Ano 2

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MURILO E JAQUELINE, O CASAL MAIS VITORIOSO DO VÔLEI NACIONAL, SUPERAM A PERDA DO BEBÊ E VOLTAM A SONHAR COM 2012


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