VÔLEI DESEMPREGO E DESILUSÃO: A DURA ROTINA DE IDA DEPOIS DA APOSENTADORIA
RIO NEGRO, AMAZONAS
A OLIMPÍADA CHEGOU AQUI
VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ • www.istoe2016.com.br OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2013 Edição 22 | Ano 4
É NAS ALDEIAS DA FLORESTA TROPICAL QUE PODE ESTAR O FUTURO DO TIRO COM ARCO. DESCUBRA O QUE O BRASIL ESTÁ FAZENDO PARA LEVAR ÍNDIOS AOS JOGOS DO RIO
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PANCADARIA O DESABAFO DE DIOGO SILVA, CRAQUE DO TAE KWON DO: "A MINHA CONFEDERAÇÃO NÃO TEM
CREDIBILIDADE E ISSO ME AFETA 100%" VENTOS FORTES AOS 20 ANOS, O VELEJADOR JORGE ZARIF SE TORNA O MAIS JOVEM CAMPEÃO MUNDIAL DA HISTÓRIA DA CLASSE FINN. PARA 2016, O BRASIL PREPARA SUA MELHOR GERAÇÃO NO IATISMO DESDE A ERA ROBERT SCHEIDT
O índio Wipi participa do projeto olímpico com as tribos da Amazônia
MOLECAGEM CAMPEÃ NASCIDA E CRIADA NA CIDADE DE DEUS, A JUDOCA RAFAELA SILVA, PRIMEIRA BRASILEIRA A VENCER UM MUNDIAL, BRINCA NA RUA, ANDA DE SKATE, JOGA FUTEBOL E DESTRÓI ADVERSÁRIAS NO TATAME ADRENALINA NOS NEGÓCIOS OS SEGREDOS DA RED BULL, A EMPRESA QUE MAIS INVESTE EM ESPORTES NO MUNDO
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CliqueOlĂmpicO imagens surpreendentes dO espOrte
Dia Dos namoraDos O problema de realizar um trabalho fantástico é a expectativa imediatamente gerada em torno da criação seguinte. Modéstia à parte, nós, da 2016, sabemos disso. Fica cada vez mais difícil tirar do forno uma edição melhor do que a anterior. O fotógrafo americano Jordan Matter também conhece o sentimento. Depois de alcançar fama global com fotos que retratavam dançarinos em situações cotidianas – no banho, no trem ou no escritório –, ele precisava se superar. E conseguiu. Repetindo a fórmula, criou algo novo e surpreendente. A série “Atletas entre Nós” é capaz de ser, ao mesmo tempo, divertida e sensível. Nesta imagem, batizada de “Dia dos Namorados”, o jogador de futebol americano Erik Coleman, de capacete e tudo, parte para cima da companheira, num verdadeiro mergulho do amor.
CliqueOlímpicO imagens surpreendentes dO espOrte
EspEranDo para atravEssar Talvez o grande mérito do fotógrafo Jordan Matter seja mostrar que o esporte pode ser absurdo enquanto normal. Uma ginasta como Jackie Carlson pendurada em um poste esperando que o semáforo de pedestres mude de vermelho para verde em uma esquina de Nova York não faz o menor sentido. Mas coloque-a em barras paralelas, em um ginásio, e tudo volta a ser perfeitamente aceitável, embora o esporte permaneça o mesmo. Essa simplicidade esconde um enorme trabalho de produção e um talento ímpar. Repare que nenhum dos pedestres olha para cima nem mostra espanto com a situação inusitada. Eles simplesmente existem, independentes da menina pendurada sobre suas cabeças.
Foto: Javier Soriano/AFP
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TEXTO: BENJAMIM OLITALLO, DANIELLE SANCHES, FLÁVIA RIBEIRO, MARCELO MADUREIRA, MARIANA BARBOZA, MARIANA BASTOS, MARIANA BRUGGER, MAURÍCIO OLIVEIRA, MICHEL ALECRIM, NATHALIA ZIEMKIEWICZ, RAFAEL FREIRE, RAFAEL PEREIRA, RENATA VALÉRIO DE MESQUITA, RICARDO SENO, RODRIGO RIBEIRO, TOM CARDOSO E VERA LYNN FOTO: ADRIANO MACHADO, CARLOS ROCHA, CHRISTIAN GAUL, DANIEL KFOURI E EDUARDO ZAPPIA ILUSTRAÇÃO: OLIVER QUINTO PRODUÇÃO: CINTIA SANCHEZ REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS: João Castellano, Masao Goto Filho, Pedro Dias e Rafael Hupsel GERENTE: Maria Amélia Scarcello SECRETÁRIA: Terezinha Scarparo ASSISTENTE: Cláudio Monteiro AUXILIAR: Lucio Fasan
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10 ISTOÉ 2016
Quem precisa de NeNê? Nenê nasceu e cresceu em São Carlos, no interior de São Paulo, mas fala português com sotaque. Na NBA desde 2002, parece um cidadão americano. Outro dia, referiu-se a nós como “vocês, brasileiros”. Nenê foi convocado 20 vezes para defender a seleção de basquete. Em 17 ocasiões, disse não. Nenê é um bom pivô, daqueles que marcam dez pontos por jogo. Ou 15, num grande dia. E só. É inegável que ele faz falta para o Brasil – e o desempenho tenebroso na Copa América está aí para provar isso – , mas sua presença em quadra não significa, digamos, que teremos um Michael Jordan ao nosso lado. Ou um Manu Ginobilli. Ou, sequer, um Oscar Schmidt. Acredite: Nenê nunca será o cara que vai decidir o jogo. Ele não decidiu contra a Argentina, na Olimpíada de Londres, e essa maldita partida tirou o Brasil do páreo. O que quero afirmar é o seguinte: ok, Nenê é bom jogador, mas nem tanto. Beleza, ele pega uns rebotes, mas falha muito no ataque. Precisamos realmente dele? Devemos dar outra chance a quem disse não 17 vezes ao Brasil? Se fosse um gênio incontestável, um Neymar de 2,11 metros de altura, nós o receberíamos de braços abertos. Perdoaríamos. Aceitaríamos. Mas Nenê não é, bem, um craque de bola. No jogo da NBA no Brasil, entre seu Washington Wizards e o Chicago Bulls, Nenê foi vaiado pela torcida. O pessoal não gostou dos 17 nãos. O sujeito que pagou R$ 500 para ficar na cadeira central não é bobo. Quer dizer, jogar um amistoso pela NBA no Rio de Janeiro dá, mas defender a seleção na Venezuela, algumas semanas antes, não? Repito: Nenê faz falta à seleção e é mesmo uma pena ele ter desprezado as convocações, mas a vida segue. Hoje, e provavelmente nos próximos anos, ele faria mais mal do que bem à seleção. Torcida é coisa séria. Quando se dá esse divórcio entre um atleta e a turma da arquibancada, o único jeito é se livrar do jogador – especialmente se ele não for tão indispensável assim. Nenê teve muitas chances e desprezou todas. O melhor para ele é não vir ao Rio, em 2016. Fique com a NBA, Nenê. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br
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A 2016 venceu o Prêmio Petrobras de Jornalismo 2013, na categoria "Mídia Impressa - Esportes". A reportagem "A Hora de Sair da Lama", do repórter Pedro Marcondes, trata da heroica batalha do rúgbi brasileiro para deixar o anonimato. O prêmio é ainda mais relevante considerando que foram inscritas mais de mil reportagens (de jornais e revistas), muitas delas relativas à cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres. Parabéns ao Pedro e a toda a equipe da 2016.
CORREÇÃO · Na nota sobre o Centro de Treinamento de São Paulo (edição 23) faltou esclarecer o seguinte: CBDN é a sigla de Confederação Brasileira de Desportos na NEVE. Não há, no Brasil, uma entidade responsável pelos esportes de inverno como um todo. A CBDN se divide com a CBDG (de Gelo).
editorial
nAthALiA ZiEMKiEwiCZ
Uma viagem incrível à Amazônia resultou na reportagem de capa desta 2016. Nathalia, apaixonada por histórias de todo tipo de gente, foi ao rio Negro para conhecer o projeto que quer tornar índios atletas olímpicos. Ela, que hoje é jornalista freelancer, já passou por ISTOÉ, "Marie Claire", "Claudia", "Brasileiros"e "Revista da Folha", entre outros.
MAuRíCiO OLivEiRA
Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Maurício Oliveira, 41 anos, tem mestrado em história cultural pela mesma instituição. Trabalhou em veículos da mídia impressa catarinense e, em São Paulo, foi repórter do jornal "Gazeta Mercantil". A experiência de dez anos como freelancer o levou a escrever o livro "Manual do Frila", publicado pela Editora Contexto. É autor também de livros sobre temas históricos, como "Patápio Silva, O Sopro da Arte", "Amores Proibidos na História do Brasil" e "Giuseppe Garibaldi, Herói dos Dois Mundos". Foi responsável, nesta revista, pelo perfil do técnico de tênis Larri Passos.
RAFAEL PEREiRA
Carioca e flamenguista, é apaixonado pelo Rio de Janeiro até diante das maiores contradições da cidade. Jornalista formado pela PUC-Rio, trabalhou no finado Jornal do Brasil e em diversas outras publicações. Cobriu tudo, desde segurança pública até música, mas até agora nunca tinha contado uma história que envolvesse peixes, mesmo que remotamente, como na reportagem que fez para esta edição da 2016. Essa profissão é cheia de primeiras vezes.
COLABORADORES
MARCELO MADuREiRA
O casseta não é novato na revista. Foi ele quem contou, nestas mesmas páginas, a história do Maracanã pela perspectiva de uma árvore plantada em frente ao estádio na década de 1950. Desta vez, o flamenguista Marcelo fala do que mudou e do que permanece igual na reformada arena, que agora segue o “padrão Fifa”. Tudo com muito bom humor, é claro. Nada muito complicado para o mais carioca dos curitibanos, que vem fazendo o Brasil rir há décadas, seja com seu grupo, seja com a coluna do Agamenon, publicada no jornal “O Globo”. Leia o texto desta edição e, caso não ache graça, saiba que o homem é faixa preta de judô.
DAniEL KFOuRi
Durante seis anos, Daniel navegou por diversas áreas da comunicação visual. De estagiário em agência de publicidade, em 1995, a designer gráfico de uma pequena editora de livros, em 2001, testou de tudo. Mas foi durante uma viagem pela Europa, com uma câmera emprestada pela ex-namorada, que descobriu a paixão pela fotografia. Passou pelo jornal "Folha de S.Paulo" e pelas agências Associated Press, France-Presse e Getty Images. Também colaborou com o jornal americano "The New York Times" e participou de mais de uma dúzia de exposições. Nesta 2016, fez os retratos que acompanham a entrevista da ex-jogadora de vôlei Ida.
MASAO GOtO FiLhO
Este fotógrafo é o nosso “carregador de piano” no Rio de Janeiro. Enquanto toca pautas semanais para ISTOÉ, Masao arranja tempo para resolver as mais variadas buchas inventadas pela 2016. Na presente edição, fez as imagens da histórica Adega Pérola, do Museu de Arte do Rio, dos renovados trens metropolitanos, dos pescadores que aparecem na reportagem sobre sustentabilidade e da musa do funk Anitta, talvez a mais ilustre cidadã carioca da atualidade. Toda essa carga de trabalho requer a experiência de quem passou, antes da ISTOÉ, pelos jornais "Folha de S.Paulo" e "O Estado de S.Paulo".
10 EXPEDIENTE 15 EDITORIAL 16 COLABORADORES
SEÇÕES
REPORTAGENS
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CLIQUE OLÍMPICO Atletas fotografados em situações cotidianas geram imagens engraçadas e sensíveis
36 TALENTO NATIVO
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UM CASSETA NO MARACANÃ Marcelo Madureira relata seu reencontro com o gigante do Rio de Janeiro após nove anos de uma dolorosa separação
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AQUECIMENTO O que o Rio de Janeiro faz para transformar seus obsoletos trens metropolitanos em meios de transporte modernos e confortáveis
44 MOLECA DA RUA
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OS ATLETAS MANDAM A chegada de um ex-esgrimista ao comando do Comitê Olímpico Internacional consolida a presença de esportistas nos altos cargos da cartolagem
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RAIO X Como funciona, o que serve e quem frequenta um legítimo boteco carioca tombado pelo patrimônio histórico
52 BOM DE BRIGA
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ENTREVISTA: IDA A ex-musa do vôlei brasileiro reclama que foi abandonada depois da aposentadoria: “O esporte não é um mundo encantado”
O PROFESSOR FIEL Larri Passos, o técnico que revelou Gustavo Kuerten, volta às origens e procura, praticamente sozinho, novos talentos para o tênis nacional
59 VAQUINHA
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O RIO QUE NÃO PESCA Por que o Estado que já foi a maior potência da indústria pesqueira do Brasil perde cada vez mais importância quando o assunto é peixe
60 BONS VENTOS
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PRESENÇA DE ANITTA A funkeira que se tornou fenômeno nacional é a cara do Rio de Janeiro. Sexy, desbocada e irreverente, ela fala com exclusividade à 2016
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PERFORMANCE Os equipamentos essenciais para quem quer se aventurar pelo golfe de fim de semana
100 CONCENTRAÇÃO
Um roteiro completo para você aproveitar o melhor do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro
102 PAINEL
Dezoito Estados brasileiros não têm pista oficial de atletismo. Isso no país da Olimpíada
106 PÁGINA DOURADA
Para a maratonista suíça Gabrielle Andersen, vencer não é preciso
A incrível busca por novos atletas do tiro com arco entre os indígenas que habitam as margens do Rio Negro, no Amazonas Rafaela Silva, primeira brasileira a conquistar um título mundial de judô, saiu da Cidade de Deus para a elite do esporte Os escândalos de corrupção na Confederação Brasileira de Tae Kwon Do enfurecem o ídolo Diogo Silva, que parte para cima: “Eles não têm credibilidade” Os sites de financiamento coletivo viram uma alternativa inovadora para atletas que sofrem com a falta de patrocínio Conheça a vida de Jorge Zarif, o velejador brasileiro que se tornou o mais jovem campeão mundial da classe Finn e é uma das grandes esperanças de medalha em 2016
66 ALTOS E BAIXOS
Os homens brilham e as mulheres decepcionam no Mundial de Ginástica Artística. Nós estivemos lá e explicamos por quê
70 ASAS DA FORTUNA
Os milhões que a Red Bull investe em esportes radicais a transformaram em uma das marcas mais admiradas do mundo, mas não a livraram de polêmicas
ÍNDICE Foto: Joãs Castellano
ESPORTE A TODA VELOCIDADE
TREM BOM O QUE O RIO DE JANEIRO FAZ PARA TRANSFORMAR
SUAS OBSOLETAS COMPOSIÇÕES EM UMA ALTERNATIVA EFICIENTE DE TRANSPORTE AOS LOCAIS DAS COMPETIÇÕES OLÍMPICAS Modernidade e obsolescência convivem lado a lado nos trilhos da malha ferroviária da região metropolitana do Rio de Janeiro. Um cenário que, segundo o governo do Estado, deverá mudar até a Olimpíada de 2016, quando o turista quiser se transportar de trem para ver a cerimônia de abertura no Maracanã, uma competição de pentatlo moderno em Deodoro ou a disputa de atletismo no Engenhão. RENOVAÇÃO Os novos trens, vindos da China, deverão substituir toda a frota antiga até a Olimpíada de 2016
Até mesmo os trens antigos estão ganhando, paulatinamente, o ar refrigerado “Em 2010, existiam somente dez trens com ar-condicionado. Hoje, já são 83. Até 2014, queremos que sejam 210 e, em 2016, 231, ou seja, todos”, afirma Júlio Lopes, secretário estadual de Transportes.
FROTA ATUAL: 190 TRENS
MODERNOS O painel de controle informatizado (à esquerda) é um grande avanço em relação aos analógicos. Painéis informativos digitais (acima, à direita) e bancos antivandalismo (à direita) também fazem parte dos novos trens chineses do Rio de Janeiro
Desses, 30 são os chamados trens chineses, novos em folha, que representam uma oferta adicional de 290 mil lugares por dia > Outras 60 composições similares deverão entrar em circulação em 2014 > Ao todo, foram gastos US$ 472,5 milhões em duas licitações, o que representa um gasto de US$ 5,25 milhões por veículo > A SuperVia, que tem a concessão do sistema ferroviário do Rio, também se responsabilizou por colocar 20 novos veículos em circulação em 2014. Esses, no entanto, serão da francesa Alstom
O QUE O TREM CHINÊS TEM > Ar-condicionado – enquanto, nos trens antigos, a temperatura pode passar dos 40º, nos novos vagões ela fica entre 21º e 23º. O sistema se adapta automaticamente, de acordo com o número de passageiros > Painéis de LED com informações sobre a viagem e as estações > Câmeras de monitoramento interno > Bagageiro de inox > Assentos com tecido antivandalismo > Painel de controle informatizado > Freio a disco, que aumenta a segurança do transporte
SINALIZAÇÃO EFICIENTE Um novo sistema de sinalização denominado ATP (Automatic Train Protection), adquirido pela SuperVia ao custo de R$ 150 milhões da empresa francesa Bombardier, também promete dar mais segurança e agilidade aos trens do Rio. O QUE ELE FAZ > Tira a autonomia do maquinista. Pela central, a SuperVia controla a velocidade e pode impedir que o trem passe, por exemplo, por um sinal vermelho COMO FUNCIONA Mais de três mil balizas de sinalização, instaladas em 400 quilômetros de trilhos, se comunicam com a antena do trem e permitem a troca de informações com a central OS BENEFÍCIOS > O objetivo do ATP é evitar incidentes como o ocorrido em 2010. Após o maquinista descer para verificar um problema, o veículo superlotado percorreu sozinho duas estações em altíssima velocidade e só foi parado após ter a energia cortada > A nova sinalização também melhorará o fluxo de trens. Atualmente, há um intervalo de seis minutos entre as composições. Depois que o sistema estiver completo, o tempo diminuirá para três minutos, o mesmo do Metrô
AQUECIMENTO
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Em comparação com outros atletas, halterofilistas possuem pernas e braços mais curtos. Isso proporciona uma vantagem chamada “efeito-alavanca”: como são compactos, poupam energia ao levantar barras a alturas menores. A musculatura altamente trabalhada e fortalecida resulta em poder de explosão maior na hora do levantamento.
John Henry Davis
Kim Um Guk
O americano John Henry Davis conseguiu nada menos que 19 recordes mundiais durante sua carreira. Ele, que pesava 106 kg, ficou famoso ao levantar 181 kg – 75 kg a mais do que seu próprio peso corporal. Ele tinha 1,77 m de altura.
O peso pesado Hossein Rezazadeh, conhecido como o “Hércules do Irã”, atingiu a marca que ainda hoje é o recorde mundial na prova de arremesso ao erguer 263 kg – 109 kg a mais que seu peso corporal, de 154 kg. Ele tem 1,84 m de altura.
1948 > Halterofilistas A CATEGORIA SE DIVIDE EM DUAS PROVAS: ARRANQUE, QUANDO O ATLETA LEVANTA A BARRA EM UM MOVIMENTO CONTÍNUO, SEM PAUSAS; E ARREMESSO, EM QUE É PRECISO ERGUER O PESO EM ETAPAS, PARANDO NA ALTURA DOS OMBROS E DEPOIS PARA O ALTO.
Kim Um Guk, 62 kg e 1,58 m, levou o ouro nos Jogos de Londres e estabeleceu uma nova marca mundial para os pesos leves ao erguer, no total das provas (arremesso e arranque), 174 kg – quase três vezes o seu peso.
2006
2012
A TENDÊNCIA Halterofilistas são divididos em oito classes, dos mais leves (56 kg) aos mais pesados (105 kg ou mais). Estes conseguem levantar mais peso, mas, no total, a somatória representa pouco em relação ao seu peso corporal – Rezazadeh, por exemplo, ergueu pouco menos do que duas vezes o seu próprio peso.
CORPOS EM EVOLUÇÃO NOS MAIS DE 100 ANOS DE JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA, MUITA COISA MUDOU NA COMPETIÇÃO. E ISSO INCLUI OS PRÓPRIOS ATLETAS. COM MEDIDAS DENTRO DA MÉDIA DE QUALQUER CIDADÃO COMUM, OS ESPORTISTAS DE ANTIGAMENTE EM POUCO SE COMPARAM COM OS SEMIDEUSES QUE CIRCULAM PELOS JOGOS ATUAIS. DESCUBRA COMO AS LEIS DA FÍSICA, A INCRÍVEL CAPACIDADE HUMANA DE SE ADAPTAR E A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA TORNARAM A OLIMPÍADA MAIS COMPETITIVA
Eddie Tolan
Usain Bolt
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Eddie Tolan, americano de Detroit, ficou conhecido como “O Expresso da Meia-Noite”. Irreverente, corria mascando chicletes e mantinha os óculos presos à cabeça com fita crepe. Seu melhor tempo foi de 10,4 s – ele tinha 1,73 m e 65 kg.
O jamaicano Usain Bolt começou a vida esportiva como jogador de críquete. Poucos sabem, mas ele correu para conseguir o recorde nos 100 m em Pequim-2008 com um tênis desamarrado. Com 81 kg e 1,98 m, ele é o atual recordista mundial, com 9,58 s.
1929
2012
A física do esporte favorece atletas altos e musculosos. Grandes braços ajudam a contrabalancear a força utilizada para o arranque, mantendo o corredor em posição na hora da saída. Um centro de massa corporal (ponto responsável pelo equilíbrio do nosso corpo) mais alto “cai” para a frente mais rápido. Africanos ocidentais e seus descendentes têm a massa central 3% mais alta do que os europeus e, por isso, dominam o esporte. Joelhos e cotovelos flexionados criam uma espécie de pêndulo, facilitando a movimentação. Velocistas possuem maior número de fibras musculares de contração rápida, estruturas que promovem maior velocidade de explosão na hora da corrida. Tendões, musculatura dos glúteos e do quadril fornecem quase todo o impulso para atingir as velocidades mais altas. Nem tudo são flores: as longas pernas (que geralmente vêm com a altura maior) tornam mais difícil para o corpo acelerar.
> Velocistas A TENDÊNCIA Velocistas têm se tornado mais esbeltos ao longo dos anos. Isso quer dizer que o resultado da altura dividida pelo peso corporal está menor.
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Mais altas e, consequentemente, mais pesadas, as remadoras fazem com que seus barcos afundem mais na água, aumentando a resistência. O que poderia ser ruim é compensado pela força das atletas e pela remada mais longa. Quanto maior o corpo, mais longa é a remada. O resultado é que as atletas mais altas conseguem ir um pouco mais longe a cada movimento.
Ernestine Bayer, mulher do remador campeão olímpico Ernest Bayer, é considerada a mãe do remo americano. Ela tinha 1,67 m.
Miroslava Knapkova, da República Tcheca, ganhou o ouro no esquife individual. Remador profissional, o pai de Miroslava participou dos Jogos Olímpicos de 1976 e 1980. Ela tem 1,80 m.
1948
2006
> Remadoras A TENDÊNCIA As remadoras atuais estão mais altas em comparação com a média feminina. Nos últimos 50 anos, as atletas se tornaram ainda mais altas – algumas estão, inclusive, acima da média olímpica para mulheres.
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> Maratona
A TENDÊNCIA Maratonistas surgem em vários tamanhos e pesos. Contudo, os atletas que marcaram algum recorde possuem baixo índice de massa corporal e são muito mais leves em comparação com outros competidores olímpicos. Alguns deles, aliás, conseguem ter os pesos mais baixos entre todos os atletas da competição. NO DETALHE O maior problema dos maratonistas é o aumento da temperatura. Por isso, os baixinhos e magrinhos levam vantagem: eles possuem menos volume corporal para produzir calor e uma boa superfície (pele) para eliminar o excesso. Também podem correr de forma “suave”, diminuindo o impacto e aumentando a média de passadas.
Duke Kahanamoku, do Havaí, cravou o recorde mundial dos 100 metros livre com 61,6 s. Ele acabou dedicando grande parte de sua carreira ao surfe. Altura: 1,88 m. Peso: 83 kg.
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Nathan Adrian, nadador americano de ascendência chinesa, marcou 47,52 s na prova dos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e conquistou o ouro. Contudo, o atleta, de 1,98 m e 102 kg, ficou longe de bater o recorde mundial de Cesar Cielo.
2012
Nathan Adrian
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1912
Despontando para o sucesso, o brasileiro Cesar Cielo quebrou o recorde mundial ao marcar 46,91s. Com 1,95 m e 88 kg, Cielo ainda mantém a melhor marca do planeta.
Duke Kahanamoku
A física está do lado dos mais altos. Isso porque, mesmo mais pesados, eles ainda conseguem ser rápidos. Tudo por conta das leis do empuxo – na água, o seu peso corporal faz menos diferença. A grande envergadura é essencial: braços mais longos dão impulsos maiores aos nadadores. Juntas mais flexíveis melhoram o impulso e a movimentação na água, enquanto pernas relativamente pequenas (em comparação com o resto do corpo) e musculosas são essenciais na propulsão. Um tronco longo e estreito é hidrodinâmico. E, quanto mais altos os atletas, mais longos os troncos. Esse padrão, tipicamente europeu, não se repete nos asiáticos – eles têm os torsos mais longos em relação ao corpo, mas são em média mais baixos. Mãos e pés grandes atuam como pés de pato, aumentando a quantidade de água “empurrada” e impulsionando o atleta ainda mais.
> Nadadores – 100 metros livre A TENDÊNCIA Quanto mais altos ficam os nadadores, mais rápidos eles se tornam. Na média, os velocistas da piscina são mais altos do que os atletas que participam das Olimpíadas.
CABEÇA OLÍMPICA
AQUECIMENTO
COMO ESTRELAS DO ESPORTE SUPERARAM TRANSTORNOS MENTAIS PARA CHEGAR AO ESTRELATO INTERNACIONAL
Nas últimas semanas, a notícia de que o craque do Barcelona Lionel Messi teria síndrome de Asperger, uma forma branda de autismo, agitou o mundo esportivo. Apesar de não admitido oficialmente, o caso do argentino não seria exceção entre atletas. Várias estrelas olímpicas, do presente e do passado, souberam lidar bem com patologias psicológicas e, em muitos casos, usá-las a favor do desempenho. Por sofrer pressões avassaladoras, esportistas estão mais sujeitos a depressão e transtornos bipolares. Mas não faltam também casos de males da modernidade, como síndrome do pânico e hiperatividade. Confira.
> Amanda Beard
> Bruce Jenner
dona de sete medalhas olímpicas na natação (duas delas douradas), a americana confessou que teve que lidar com depressão, bulimia e até automutilação
Diagnosticado com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, o americano passava até oito horas na pista treinando para disputar o decatlo na Olimpíada de Montréal-1976. O resultado: campeão, com recorde mundial
> Chris Hoy
> Magic Johnson
> Greg Louganis
> Michael Jordan
Consagrado nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, o ciclista britânico teve que enfrentar a síndrome do pânico para brilhar na carreira olímpica
Era um verdadeiro desastre no colégio, sofrendo de dislexia e transtorno do déficit de atenção. Mais tarde, tornou-se um dos mais ilustres integrantes do Dream Team de basquete dos EUA, em Barcelona-1992
O acidente que sofreu, ao bater a cabeça na plataforma durante a disputa dos saltos ornamentais em Seul-1988, é uma das imagens mais repetidas da história olímpica. O americano superou crises de depressão para conquistar quatro ouros nos Jogos
Campeão olímpico em Los Angeles-1984 e Barcelona-1992, o maior jogador de basquete de todos os tempos sofre de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade
> Michael Phelps Aos 9 anos, tinha dificuldade para se concentrar na sala de aula e levava a mãe, Debbie, à loucura por não parar quieto em casa. Teve diagnosticado transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Em Londres-2012, já homem feito, tornou-se o maior campeão olímpico da história com 18 comendas douradas
> Monica Seles
> Oksana Baiul
> Rafael Nadal
Dona de nove títulos em torneios de Grand Slam (principal série do tênis), a sérvia naturalizada americana enfrentou crises de depressão durante a carreira
A ucraniana superou a depressão após a morte da mãe para se tornar campeã olímpica da patinação artística em Lillehammer-1994
Especialistas afirmam que o espanhol, octocampeão do Torneio de Roland Garros, sofre de TOC (transtorno obsessivocompulsivo). No caso dele, os rituais para sacar, por exemplo, ajudariam na concentração
AQUECIMENTO
O esporte, que havia sido retirado da lista de categorias olímpicas para os Jogos de 2020 pelo Comitê Olímpico Internacional, voltou a fazer parte do cronograma após votação dos membros da entidade. A luta está presente nas Olimpíadas desde a primeira edição, em 1896, e é uma das categorias que faziam parte dos Jogos da antiguidade, na Grécia, que deram origem à Olimpíada moderna.
VIRA CASACA O tenista Andy Murray pode defender a Escócia nos Jogos de 2016 e não o Reino Unido
RIO DE JANEIRO RECEBE EXPOSIÇÃO OLÍMPICA Depois de passar o primeiro semestre inteiro em São Paulo, é a vez de o Rio de Janeiro, sede da Olímpiada de 2016, receber a exposição gratuita “Jogos Olímpicos: Esporte, Cultura e Arte”. Organizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, a mostra traz 300 itens históricos que marcaram as edições modernas da competição, como medalhas, tochas, mascotes e uniformes. Todo o acervo veio diretamente do Museu Olímpico, que fica em Lausanne, na Suíça, e ficará disponível para os cariocas até o dia 1º de dezembro, no Museu Histórico Nacional. Informações: museuhistoriconacional.com.br
Squash
EM BAIXA
UM TIME PARA A ESCÓCIA Às voltas com um intenso debate sobre a separação do Reino Unido, a Escócia já anunciou que o primeiro passo pode ser dado nos Jogos do Rio de Janeiro. Shona Robson, ministra do Esporte, afirmou em entrevista coletiva que o país se sente “confortável e tem certeza” de que terá um time olímpico e paraolímpico para 2016. Para ela, atletas como o tenista Andy Murray e o ciclista Sir. Chris Hoy (atualmente o britânico com o maior número de medalhas de ouro) mostram que a Escócia tem talento de sobra para se manter como uma potência do esporte. A opinião, no entanto, não é compartilhada por todos. Imogen Bankier, jogadora de badminton, afirma que o país não possui infraestrutura ou investimentos suficientes, e acredita que todos os atletas vão sofrer, caso a separação de fato aconteça. A votação sobre a possível independência está marcada para setembro de 2014.
Na mesma votação, havia a chance de que beisebol e squash pudessem virar esportes olímpicos. Os praticantes, no entanto, acabaram frustrados. Para o squash, a dor foi ainda mais profunda: tentando desde 2009 entrar para a lista, a modalidade passou por reformulações, como a prática em quadra de vidro para aumentar a visibilidade, e o patrocínio de partidas televisionadas em lugares icônicos, como as Pirâmides no Egito e a Grand Central Station, em Nova York. O beisebol, por sua vez, já entrou e saiu várias vezes do cronograma olímpico, e esteve fora dos Jogos de Londres-2012.
EM ALTA
Luta olímpica
aquecimento RAIO X Tudo o que você precisa saber sobre o botequim carioca
Está nO dIcIOnáRIO: Botequim - “estaBelecimento comercial popular onde servem BeBidas, lanches, tira-gostos e eventualmente alguns pratos simples; Bar; Boteco”. vem do grego apothéke, que significa armazém, depósito. deriva ainda da palavra portuguesa Botica. e encontrou em Bares do rio de Janeiro sua mais perfeita tradução. alguns Botequins têm tanto a cara da cidade que 40 deles foram tomBados, com o status de patrimônio cultural. entre eles está a adega pérola, estaBelecida há 55 anos no coração de copacaBana. é para lá que muitos dos turistas vão correr durante as pautas dos Jogos olímpicos de 2016.
fotos: masao goto filho/ag. istoé
Fundadores......................................................................................................os irmãos João, antônio, horácio e vasco de souza coelho, portugueses da ilha da madeira. ano de Fundação......................................................................................................1957 (com o nome de pérola do atlântico). donos atuais...............................................................................................os cariocas marcelo paulos e heitor linhares e o português ricardo martins. o último dos irmãos fundadores morreu há cinco anos, e a família resolveu botar o negócio à venda. há três anos, quando ficaram sabendo que uma rede de botequins “pé-limpo” compraria a casa, heitor e ricardo, frequentadores assíduos, convidaram marcelo – que já era dono de um bar – para a empreitada. “uma das nossas promessas foi manter a tradição do lugar”, conta marcelo. 12 Funcionários..............................................................................................11 são cearenses e um é paraibano, o garçom luciano. dos 12, quatro são cozinheiros e oito servem as mesas ou atendem no balcão. 25 anos é o tempo de casa do Funcionário mais antigo....................o garçom José adalberto oliveira, o Beto, cearense, que sempre é apontado como um dos melhores garçons do rio de Janeiro – até prêmios já ganhou. 0°...........................................................................................................................é a temperatura em que é tirado o chope. 3 são os tipos de chope.............................................................................na pressão (com bastante colarinho), meia pressão (com pouco colarinho) ou sem colarinho. para Beto, quem realmente entende e gosta de chope prefere sempre na pressão. há chope preto e chope tradicional. 500 chopes são vendidos por dia.............................................................em média, a r$ 6 a tulipa ou r$ 4,80 o garotinho. a casa ainda oferece cervejas como a brasileira therezopolis e a alemã licher Welzen, além de uísque e licores. 30 tipos de cachaça.......................................................................................entre cariocas, mineiras, gaúchas e paraibanas. são vendidas entre 30 e 50 doses por dia, com preços que variam de r$ 6 a r$ 8 a dose. 60 rótulos de vinhos ....................................................................................entre portugueses, argentinos, chilenos e brasileiros. de r$ 25 (Jota pê, um litro) a r$ 60 (fundação eugênio almeida). 55 opções de petiscos no balcão..............................................................alguns estão na casa desde a fundação, há 55 anos, como a sardinha portuguesa assada no forno (r$ 7 a unidade) e o polvo à vinagrete (r$ 20, 100 g). outros acabaram de entrar no cardápio, como o haddock (r$ 24, 100 g). o alho no azeite (r$ 14, 100 g) chama a atenção por ser cru e, ainda assim, não deixar aquele gosto típico na boca – a receita é guardada a sete chaves. 4.............................................................................................................................é o número de vezes que os 55 tabuleiros de petiscos são trocados no balcão diariamente. 35 tipos de petiscos quentes .......................................................................os campeões de venda são o bolinho de bacalhau (r$ 18 o prato com seis unidades) e o frango a passarinho (r$ 25). também faz sucesso o camarão grelhado com ervas finas (r$ 24). 11 são as mesas da adega pérola................................................................com 6 bancos em cada. “À noite, elas viram mesas coletivas, muitas vezes com três casais que não se conhecem e que começam a bater papos animados. várias amizades nascem aqui”, diz marcelo paulos, um dos donos da adega, nada de tevê passando novela ou Futebol............................................na adega pérola, a aposta é no batepapo sem barulheira externa. entre 30 e 60 anos..........................................................................................é a faixa etária do frequentador habitual da adega. a maioria mora na zona sul do rio, mas aparece gente de todos os lugares. À noite, a casa fica repleta de turistas estrangeiros. o ambiente é informal e o traje idem. o atendimento também aposta na simplicidade.................................o garçom anota o pedido no papel e leva à cozinha. nada de tablets ou computadores. os petiscos quentes demoram de cinco a dez minutos para sair, enquanto pratos levam entre 10 e 15 minutos. Já os petiscos do balcão são servidos imediatamente.
entrevista Ida
ESPERANรงA Bronze em Atlanta-1996, Ida nรฃo tem emprego fixo e sofre para cuidar das duas filhas. Ela sonha com um futuro melhor
“o esporte não é um mundo encanta do”
Aos 48 anos, a ex-jogadora de vôlei Ida, medalhista de bronze em Atlanta-1996, luta para repetir fora das quadras o sucesso que obteve dentro delas. Solteira, sem emprego fixo, mãe de duas filhas, ela diz que não aprendeu a dar continuidade à carreira depois da aposentadoria como atleta. “Ninguém quer saber se você está preparada para o que vem pela frente”, afirma. Hoje, o suor e a gana de vitória são mais necessários do que nunca. Ida já falou com muita gente importante do mundo do esporte e fora dele, pediu emprego sem cerimônias, mas esbarrou na mesma dificuldade de muitos brasileiros: a falta de qualificação. Por isso, solta o verbo contra o baixo investimento em educação para esportistas. “Eu não quero me fazer de coitada, mas é uma realidade do País. O que está sendo feito desses atletas?”, questiona. A ex-jogadora, que mora em São Paulo, também diz que chegou a treinar mal de propósito, quando era da seleção juvenil, para forçar o corte do time. “Era para eu estar com os amigos tomando cerveja, e não ali.” Muitos atletas se dão bem depois que deixam o esporte. Seu problema foi não saber fazer um pé de meia? Nós não tivemos tempo para estudar nem para investir. Nós não ganhávamos o que essas meninas ganham hoje. Se forem bem orientadas, com R$ 80 mil, R$ 100 mil por mês, com estrutura de família, dá para fazer um pé de meia. Precisa ter cabeça. Mas, na nossa época, não ganhávamos o suficiente para comprar um apartamento por ano. Agora eu pergunto: e ajuda para estudar? Alguém ajuda o atleta com bolsa, algo assim?
O que faltou foi mais: educação, preparação, um diploma? Você precisa ter qualquer formação superior para trabalhar, e eu não tenho. Tudo é difícil. Quando paramos de jogar, saímos meio perdidas. Você passa a época mais importante da sua vida, que é uma época de formação profissional, de colegial, faculdade, ralando muito e no auge do alto rendimento esportivo. Jogando na seleção a mil por hora, não dá para estudar. Eu parei com 37 anos e uma filha recém-nascida. Tudo fica difícil. Quando você para,
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Ana Margarida Vieira Álvares está ferida.
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por RicaRdo Seno foto daniel kfouRi
entrevista Ida
o tempo passou e você pergunta: o que eu vou fazer? Para onde vou? Como vou? Quem vai me ajudar? Nós somos máquinas durante um tempo. Somos máquina de trabalho, de treinar, de jogar, e depois acabou? Acabou, tchau. Ninguém quer saber se você está preparada para o que vem pela frente.
"quero ter uma oportunidade de trabalho. Já FIz ATÉ CURSO DE DEPIlAçãO NO SENAC. MINHAS CONTAS SãO JUSTAS"
Alguém da confederação lhe procurou para saber como está ou oferecer ajuda?
"Não, não é possível." Nem sei se o Di Genio soube disso. Saí de lá muito chateada. Já é duro você pedir, é chato. Eu pedi estudo, pedi formação em uma área em que qualquer professor gostaria de ter um atleta olímpico. Pedi bolsa para o curso de educação física e fiquei muito chateada. Não é pela Unip, mas por tudo. A gente joga a vida inteira e, na época de formação, não tem ajuda de ninguém. O que vale tudo o que você fez?
Ninguém me pergunta, ninguém me liga. Ninguém quer saber se você está bem ou não. Outro dia falei com o Ary (Graça, presidente da CBV). Disse: "Ary, me separei, estou sem trabalho, precisando, estou ruim". Ele falou: "Ah, vai lá pro Rio”. Eu quero ir, mas não sei qual é o critério para trabalhar com a Confederação. Se for medalha, eu tenho medalha também. Eu quero participar, mas quero produzir. Não quero viver de ser ex-atleta. Esse meio do voleibol é muito fechado. Parece que as pessoas têm medo de dar oportunidade.
E como tem sido essa dificuldade de procurar trabalho? De onde você tira motivação? Tem dias que eu acordo de manhã e penso: "O que vou fazer hoje?”. E às vezes eu falo: “Não tem nada para fazer, que merda". E não é só pelo dinheiro em si. Eu preciso produzir. Já inventei milhões de coisas, já fui fazer até curso de depilação no Senac. Já pensei em vender meu carro e montar casa de depilação. Mas eu nunca trabalhei com comércio. Fica tudo perdido, solto, e ao mesmo tempo você tem filho para criar. Quero ter uma oportunidade de trabalho. Estou há dois anos sem emprego fixo, mas com um bico aqui, uma clínica ali. Não passo dificuldades, não sou coitada. Mas minhas contas são justas.
Tem alguma função específica que você gostaria muito de fazer? Eu adoraria treinar uma equipe. Não precisa ser de ponta. Pode ser juvenil, um time que tenha um trabalho de base legal. Já fui técnica, tenho Cref (registro no Conselho Regional de Educação Física) para voleibol e cursos da CBV. Aí eu liguei para o Montanaro (ex-jogador e gerente do time do Sesi), mas não rolou. Ele disse que eu precisava de curso de educação física e que a única exceção era o Giovanni (Giovanni Gávio, ex-jogador da seleção). Falei para ele que eu tinha curso e experiência como técnica. Mas não deu. É um mercado muito fechado, entendeu?
Você reclamou de não receber uma bolsa da Unip para estudar. Desistiu de tentar obter diploma universitário? A Unip não me deu a bolsa, mas não desencanei. Pedi a bolsa porque estudei lá e conheci muita gente. Meu ex-marido, pai da Agatha, foi professor do Objetivo por uns 300 anos. E o Di Genio (Antonio Di Genio, empresário dono da Unip) sempre investiu no esporte. Pensei: “Vai ser fácil." E quando negaram, pensei:
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Acha que sua situação pode servir de alerta para outros atletas? Eu não quero me fazer de coitada, mas é uma realidade do País. O que está sendo feito desses atletas? Não estou morrendo de fome nem com atestado de pobreza. Não é nada disso. Mas é preciso pensar no que se faz com os atletas deste País. Eu não peço favor, não estou abandonada. Estou correndo atrás. E quero mostrar que saímos com dificuldade, saímos da vida de atleta sem diploma nas mãos. Qualquer empresa pede isso hoje. E isso tem que ser revisto.
Você acha que perdeu a juventude? O convívio e a amizade entre atletas não suprem isso? Quando você vai para a seleção, não escolhe as pessoas que estão do seu lado. É comando. Não é fácil. Cada um vem de uma cidade diferente, de cultura diferente, educação e formações diferentes. Mas o objetivo em comum mantém o foco. Depois que acaba, cada um vai para o seu lado. Não é aquele negócio da sua turma da faculdade que vai ser importante na vida. Você não sai com amigos, eles vão seguir o caminho deles. Hoje estou fazendo novos amigos, e fico muito feliz com cada amigo que faço.
Então você acha que não vale a pena ser jogadora? Ser atleta de ponta não é um mundo encantado? Não estou reclamando nem quero desvalorizar tudo que fiz. A questão é: quais são os pontos bons e ruins? Tem um preço que a gente paga. Vou te contar uma coisa. Quando eu tinha 15 anos, fui convocada para a seleção brasileira juvenil que ia para o Mundial. Tínhamos que ficar concentradas uns quatro meses em Campinas. E eu estava começando a namorar. Quando fui convocada, meu pai achou o máximo. Eu achei legal, mas não queria muito ir. Mas como eu iria decepcionar meu pai? Eu não queria estar lá, e comecei a treinar mal de propósito para ver se me cortavam. Aí chegava na hora e eles não me cortavam. E eu pensava: “Como não me cortaram?". Mas a ordem era para a Ida não ser cortada. Aí um dia eu cheguei para o técnico do meu clube, chorando, e falei que não queria estar lá. Só então fomos pedir dispensa. Com 15 anos, era para eu estar com os amigos tomando cerveja, e não ali. Não quero dizer que atletas são coitados. Ganhamos em muitas coisas, mas perdemos em muitas
outras. Não me arrependo de nada, ganhei muito, me diverti muito. Mas também perdi muito. São escolhas. Não é esse mundo encantado, e isso precisa ser falado. Não são só flores.
As coisas não eram sempre lindas dentro de quadra, também. Em 1996, quase houve aquela briga com as cubanas... Elas eram as mais fortes. E éramos amigas delas, elas são legais. Só que tínhamos a relação de amizade e estávamos chegando cada vez mais perto delas tecnicamente, mas não conseguíamos ganhar. Aí, um dia, o Bernardo (o técnico Bernardinho) sentou com a gente e falou: "Escuta, peraí, vocês vão ficar amiguinhas delas? Chega lá na quadra, elas vão provocar vocês". Elas provocavam, mas a gente não ligava. Tinha uma coisa suave, mas na hora elas ganhavam da gente. E o Bernardinho falou: "Peraí, não pode ser mais assim. Pode ser amiga depois do campeonato. Durante o campeonato, não tem essa de ‘vem no meu quarto, vamos jogar carta'. Acabou!". Depois que ele falou isso, ganhamos o primeiro Grand Prix. Elas se irritaram com aquilo. E aí criou um clima. Mas tenho certeza de que nenhuma delas tem raiva da gente, nem nós temos delas. Foi uma rivalidade. Isso de cair na provocação vai de cada um. Eu nunca liguei. Mas a Márcia Fu não aguentava. A Ana (Moser) chegava uma hora que também não aguentava.
Você foi uma pioneira do vôlei ao posar nua. Como se sentiu? Eu não posei nua por satisfação pessoal. Sempre fui sossegada. Mas é um desafio. Não me importo com o que as pessoas dizem, mas sim com o que eu sou. Era uma maneira de ganhar um dinheiro. E eu fiz porque não achava que era algo negativo. Antes de decidir posar, muitas vezes eu comprei e olhei a revista. Vi que eram pessoas bacanas e que posar nua não muda o caráter de ninguém. Então fiz. Foi divertido, engraçado. Fiz tudo isso muito confiante do meu caráter.
Foi difícil aguentar a repercussão depois? Eu nem ligava. logo depois que a revista saiu, fui jogar vôlei de praia. Você está na arena jogando e de repente vai um cara do nada e fala alguma bobagem. Você escuta e fala: "Ai, meu Deus". Mas você fez, assume e pronto. Eu fiz tudo muito segura, não tive dúvidas. A maioria das pessoas lembra disso positivamente.
"com 15 anos, era pra eu estar com os amigos tomando cerveja, e não no treino da seleção. GANHEI MUITO NO ESPORTE, MAS TAMBÉM PERDI"
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COM O FUTURO NA MIRA: Muipiruata (à esq.) e Wanaiu não tinham grandes perspectivas na pequena tribo em que vivem. Depois de selecionados pelo projeto, eles querem o pódio olímpico. E mais: sonham concluir uma faculdade
O ARCO, A FlEChA E O sONhO Nas tribos iNdígeNas do rio Negro, habilidosos arqueiros apreNdem desde cedo a caçar e se defeNder. a fuNdação amazoNas susteNtável quer traNsformá-los em atletas olímpicos por Nathalia ZiemkiewicZ, de maNaus fotos joão castellaNo/ag. istoé
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O MOTOr DA LANChA rASgA O SiLêNCiO DO riO NEgrO. No ponto mais largo desse mar doce, 11 quilômetros separam uma margem da outra. A “fundura”, diz o piloto, esconde peixes do tamanho de um boi. É um Brasil de verde imponente e (quase) intocado, de águas escuras que lambem a areia de praias desertas, onde descansam jacarés e, em ocasiões mais raras, onças-pintadas. O inverno na Floresta Amazônica alcança 39 graus e escorre úmido pelas têmporas. Ao longo do caminho, passageiros de uma grande barca acenam, balançando nas redes amontoadas. Do pequeno porto em Manaus até a comunidade Três Unidos, em que vive a tribo kambeba, eles demoram cinco horas – viagem que realizamos em duas em nossa lancha rápida. As indiazinhas notam a chegada de gente estranha e espiam das janelas. Não há mais ocas por ali, substituídas há muito tempo por moradias de madeira similares às que se veem nas periferias urbanas. Esse é apenas o primeiro indício da civilização. O cacique, ali conhecido como Tuxaua, se aproxima com trajes típicos. Nada de tapa-sexo com galhos e folhas. Ele veste uma bermuda e uma regata, confeccionadas em algodão natural pela esposa e ilustradas à mão com desenhos característicos da ascendência peruana dos kambebas. Em vez do cocar colorido, uma tiara de madeira. “Sejam bem-vindos”, diz na língua de seu povo, estendendo a mão. Crianças pequenas riem sem parar, não se sabe do que, com suas bochechas tingidas de urucum. Logo se descobre que as roupas e as pinturas não fazem mais parte do dia a dia. São uma encenação para os turistas que desembarcam na tribo uma vez por semana, trazidos por agências locais. Passam algumas horas tirando fotos e comprando acessórios produzidos pelas índias: colares com sementes de açaí e morototó, penas e dentes de animais. Na aldeia vivem cerca de 60 pessoas, habituadas a uma rotina de subsistência. Todos os dias são iguais. Eles acordam com o sol e tomam banho no rio. Depois, as mulheres se reúnem para lavar roupa e louça no mesmo rio em que há pouco banharam os próprios corpos. Os homens voltam da caça ou da pesca e limpam o animal que será servido no almoço. A diversão dos adultos é a tevê, mas pouca – luz CURUMINs ARQUEIROs: desde cedo, os meninos ganham de presente um arco e flecha feitos de madeira local pelos próprios pais. Aprendem atirando em calangos e lagartixas, para só depois se aventurarem com peixes e pássaros
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elétrica só das 16 horas às 21 horas para economizar o diesel do gerador. A estrutura social é conservadora: eles provêm o alimento; elas cozinham e cuidam da casa. Dinheiro praticamente inexiste. Tudo funciona na base da troca. Se uma faz o pão, a outra paga com farinha. Cada família recebe uma quantia de r$ 50 por mês do governo, a chamada “Bolsa Floresta”. Com o troco que faturam dos turistas, permitem-se alguns luxos no regatão, um barcomercearia que circula vez em quando vendendo de bolacha a panela. Os curumins brincam o tempo inteiro. Nadam, jogam bola e taco, remam em canoinhas, atiram com flecha. Aos 5 anos, em média, recebem o primeiro arco do pai, manufaturado em madeira local. Treinam acertando calangos e lagartixas, para só depois se aventurar pescando jaraquis. O alvo está sempre em movimento. graças às expedições a trabalho, o engenheiro florestal Virgílio Viana, presidente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), conhecia muito bem essa realidade. Certo dia, anos atrás, atentou para a habilidade nata das crianças em esportes que elas desconheciam. Virgílio sonhou, então, com um projeto olímpico ambicioso. “A essência é olhar para o óbvio: o arco e flecha faz parte do dia a dia dos indígenas”, afirma. “Simboliza um povo que merece ter sua beleza e seu valor exaltados.” Ele propôs encontrar potenciais atletas nas aldeias indígenas da região e capacitá-los tecnicamente na cidade para que pudessem sonhar em disputar os Jogos do rio, em
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2016. “Loucura”, disseram quase todos que ouviram a ideia. E era mesmo. Sem verba ou patrocínio, ele convenceu a professora de educação física Márcia Lot a sair de São Paulo para caçar talentos no trajeto do rio Negro. No currículo, ela trazia duas Olimpíadas, como auxiliar técnica de equipes de ginástica e vôlei, e uma sólida experiência com equipes de alto rendimento. Nunca com índios. Nem arqueiros. Mesmo assim, Márcia topou. O desafio começou em maio deste ano. Com alguns litros de diesel e um par de chinelos, ela foi se apresentando de tribo em tribo, assuntando com os caciques para ser aceita por alguns dias na comunidade. Márcia é uma mulher de meia-idade, cabelos cacheados grisalhos, fala acelerada, sorriso comprido, braços que abraçam a todo instante. Dá para imaginar, portanto, a desconfiança que provocou nos índios retraídos e monossilábicos. “Como é o movimento por aqui?”, perguntava. “Parado”, ouvia sempre. A olheira Márcia inventou, estrategicamente, uma seletiva para reunir garotos e garotas praticantes de arco e flecha. A notícia se alastrou feito fogo, alterando a dinâmica do estilo parado ao qual estavam acostumados. Tinha uma “dona legal” que distribuiria medalhas a quem participasse do evento. Oitenta curumins, entre 14 e 19 anos, compareceram. Eram de três diferentes etnias: kambeba, karapana e baré. Ela improvisou um alvo de isopor, posicionado a dez metros da linha de tiro, e cada um teve a sua chance. Um tímido kambeba de 16 anos, de nome iagoara (“cachorro do mato”), levou o ouro. Foi a apoteose, a maior diversão coletiva de que se lembravam. “ganhei confiança aos poucos, mexi com a autoestima deles”, diz Márcia. Os 12 melhores índios foram selecionados para um treinamento em Manaus,
sendo que somente dois já tinham saído da aldeia. O processo de convencimento dos pais não foi fácil. Eles temiam que os filhos se perdessem na capital amazonense, com seus dois milhões de habitantes. A angústia tem outra razão de ser. Índio, quando tenta a vida na cidade grande, se depara com um mundo muito menos sedutor do que aquele visto na televisão. Em geral, acaba como morador de rua ou refém da prostituição. Márcia argumentou que cuidaria de todos e garantiu que eles ficariam no alojamento da Vila Olímpica, cedido num acordo entre a ONg FAS e a prefeitura. E, claro, ressaltou a importância dos Jogos Olímpicos no cenário mundial. Mas ninguém sabia o que era isso. Um dos índios respondeu: “Ouvi falar que é uma competição, né?” O cacique Tuxaua autorizou a ida, ordenou que todos fossem obedientes se quisessem conhecer o rio de Janeiro e fez um ritual de despedida. Deu as bênçãos do santo Tururucari, protetor dos kambebas. Márcia compara o encantamento de sua trupe ao desembarcar em Manaus com a primeira vez em que ela visitou Paris. Cada um dos indiozinhos recebeu r$ 10 dos pais para passar uma semana fora de casa, dinheiro que guardavam como uma fortuna particular. No supermercado, um deles quis saber o que era iogurte. “Parece um leite com sabor de fruta”, explicou a professora. No passeio pelo shopping center, deslumbraram-se com uma máquina de sorvete e fizeram fila para comprar a iguaria. “Mas também pode comer o copo?”, perguntou outro, referindo-se à casquinha. Tutora, Márcia é doce e paciente com as questões mais pueris. Na Vila Olímpica, ensinou inclusive o que era descarga e como funcionava a geringonça desconhecida. Ao mesmo tempo, mantém uma postura rígida como trei-
nadora, exigindo dedicação integral à atividade esportiva. São dois ciclos técnicos por dia, quatro horas pela manhã e quatro à tarde. Embora os adolescentes ajudem nas tarefas domésticas ou na caça, as obrigações são bem mais flexíveis na aldeia – após o almoço, a grande maioria passa o resto do dia descansando. recentemente, com a construção de uma escola de ensino fundamental na tribo kambeba, eles começaram a ter horários e compromisso de frequentar as aulas. “Foi difícil colocar disciplina e regularidade nos meninos”, diz Márcia. “Mas acho que consegui.” Quando foi incumbido da missão de treinar curumins, o técnico roberval Fernando dos Santos reagiu com indisfarçável ceticismo. Ele é heptacampeão brasileiro no tiro com arco, também campeão sul-americano e das Américas. A formação de alto rendimento, segundo roberval, dura no mínimo cinco anos. Pediram que ele preparasse os índios em apenas dois e meio. O adolescente iagoara e seus colegas apareceram com o equipamento nativo, produzido sem medidas oficiais, mas ornado com penas de patos e araras. Acessório para mira? Não, eles só tinham o olho mesmo. Braçadeira de couro para evitar ferimentos nos braços quando a corda ricocheteia? Legal, mas para quem suporta ferrão de arraia e picada de cobra... Apresentá-los às novas ferramentas não seria tão desafiador quanto repassar a técnica. “Os índios desenvolvem um estilo próprio, cada um atira de um jeito”, afirma roberval. “Na competição, há uma forma correta de se posicionar, cada detalhe é preciso. Não basta mirar no centro do alvo se você não for capaz de soltar a corda com exatidão.” isso é tão sério que, na hora do disparo, o atleta para de respirar por cinco segundos. Até o batimento cardíaco pode mudar o trajeto
da flecha e prejudicar a pontuação. As primeiras aulas foram exercícios de postura e coordenação motora. Depois, eles exploraram o arco olímpico e testaram alguns tiros básicos a uma distância de 30 metros – nos torneios, o alvo fica a 70 metros do competidor. No fundo, foi um intensivão de uma semana com conteúdo de dois meses. O garoto Ywytu, cujo nome karapana significa vento, parece ter nascido para a coisa. O que ele não diz com palavras mostra com os braços fortes e precisos. Conversar com esses meninos envergonhados é como flechar uma águia em pleno voo. Quase impossível. Eles nunca deram uma entrevista. Desviam o olhar do interlocutor e se limitam a responder com “sim” ou “não”. Ywytu não sabe, mas é uma das apostas de roberval. Tem porte físico de atleta e autocon-
OS ÍNDiOS SãO háBEiS ArQUEirOS, MAS iSSO NãO BASTA. NAS PrOVAS, É PrECiSO CONTrOLAr AS EMOçõES
fiança de um herói olímpico. Em sua aldeia, enquanto os garotos remam em canoas de madeira, ele anda de lancha motorizada. O arco que faz para vender custa r$ 100, cinco vezes mais que o valor cobrado pelos seus conterrâneos. Também não treme as pernas quando alguém se aproxima para cumprimentá-lo com um beijo no rosto, talvez porque namore – fato único entre aqueles amigos. Quer dizer, aqui vale uma explicação à parte. Muipiruata, que significa arco-íris, casou aos 15 anos. E é essa a história de amor que recentemente abalou Três Unidos. Certa madrugada, ele colocou a namorada de 14 na canoa e desapareceu. remou sob a luz da lua que pintava de amarelo as águas escuras do rio. Continuou remando quando o sol se levantou e os botos surgiram na superfície para respirar. Foram oito horas para atravessar de uma margem a outra. “Nossas famílias não deixavam a gente ficar junto”, diz. “Fugimos porque somos primos.” Muipiruata é um menino diminuto e magro, cabelos pretos reluzentes, pele cor de terra. Não conta sobre o episódio hercúleo como quem se gaba, mas como quem fez o que tinha de ser feito. A mãe dele foi atrás do jovem casal, procurou até encontrar. Eles só voltaram para a aldeia depois de convencê-la do casamento. Tuxaua permitiu a união e Muipiruata se mudou para uma casa nova com a esposa. Mas as questões mundanas não podem interferir nos treinos. “Quando você ergue o arco, não deve pensar em mais nada”, orienta o preparador Aníbal Fortes, que também faz parte da equipe que busca talentos entre os curumins. “Foco no aqui e agora.” Enquanto imita a pose do professor, pés fincados no chão e coluna ereta, iagoara percebe aos poucos que concentração e equilíbrio não são lições válidas apenas para o tiro. “É incrível
capa
como cada um já dá sinais de mudança”, diz Márcia. Eles querem terminar os estudos, fazer faculdade, conhecer outras cidades. Fazendo poesia com sua inocência, iagoara confessou que “a vida era uma janela que se abriu”. Porque o fizeram acreditar, agora deseja ser atleta digno de pódio olímpico. Aos 17 anos, o sonho da karapana Yaci (“lua”) é ainda mais ousado. Quer conciliar a rotina de esportista com três faculdades: administração, matemática e direito. E que ninguém duvide da coragem dessa índia, a única menina no grupo de 12. Dois anos atrás, embora devesse se limitar às “atividades de mulheres”, Yaci pediu que lhe fizessem um arco para aprender a atirar na aldeia de 30 habitantes. Ela se destacou na seletiva e conseguiu o apoio dos pais para treinar na cidade graças a uma coincidência genética – o irmão Ywytu também se classificara. Aluna dedicada, está no terceiro ano do ensino médio. Estudar é um dos pré-requisitos para integrar o projeto. Ter uma família estruturada também. há outros fatores que contam. O índio Wipi quis participar, mas não pôde. Não porque fosse ruim de mira ou de braço. Aos 24 anos, é considerado “ velho demais”. De fato, já é casado desde os 17 e pai de uma indiazinha de 4. A Fundação Amazonas Sustentável, no entanto, tem levado Wipi para os treinamentos na cidade com o intuito de capacitá-lo como instrutor de arco. Ele poderá acompanhar o dia a dia dos atletas na própria aldeia, incentivando a prática e a dedicação. “Não tô chateado, não”, diz. “Vou ajudar de algum jeito e também ensinar os pequenos.” “Pela árvore conhecemos os frutos”, diz Márcia. Ela considerou o equilíbrio e a índole dos pais. Por exemplo, se eram queridos na tribo e trabalhavam em prol de todos. Wanaiu (“ave pescadora”), um rapaz de 16 anos e semblante sereno, cresceu com cinco irmãos em um
ambiente familiar sólido. Sua mãe é cozinheira da escola indígena, seu pai caça e constrói casas. O avô era curandeiro, cuidava com plantas das febres e doenças que achacavam os índios da região. Wanaiu tem vontade de ser médico para ajudar seus pares. Assim como ele, nenhum aspirante a atleta dali calcula o valor dessa oportunidade. Em todos os sentidos. A arqueria é um esporte caro: um arco recurvo de competição não sai por menos de r$ 6 mil (sem utensílios). A seletiva ainda não acabou. Apenas três curumins serão bancados pelo projeto – isso se conseguirem a Lei de incentivo do Ministério de Esporte e patrocínio de empresas. O trio escolhido será obrigado a mudar de suas respectivas aldeias para Manaus. Na cidade, terão moradia e alimentação, além de acompanhamento médico. Devem treinar à exaustão diante do alvo de 80 centímetros de diâmetro, mirando apenas a menor circunferência, de 8 centímetros. E, quem sabe, atirar tão bem uma flecha que ela atinja a velocidade de 220 km/h e provoque arrepios nos asiáticos, feras na modalidade. O cacique Tuxaua e seus curumins nem esperam tanto. Eles já se sentem vitoriosos porque expandiram as próprias fronteiras e crenças. “Tô feliz”, diz o líder dos kambebas. “Quem sabe agora o Brasil enxerga seu povo indígena.”
APENAS TrêS CUrUMiNS SErãO BANCADOS PELO PrOJETO. QUEM FOr APrOVADO TErá QUE TrOCAr A FLOrESTA PELAS rUAS BArULhENTAS DE MANAUS
A ROTINA NA AlDEIA: aos 24 anos, Wipi não pôde participar da seletiva por causa da idade. Mas será capacitado como instrutor dos menores. Antes de o sol nascer, assim como os outros homens kambebas, ele sai de canoa pelo rio para caçar o almoço
jud么
Rafaela Silva anda de Skate, SuRfa, empina pipa, joga futebol e faz o diabo naS RuaS da Cidade de deuS, no Rio.
e também é Campeã mundial de judô por Michel AlecriM fotos christiAn gAul
NA PELE Rafaela e a tatuagem que lembra as agruras que passou: a dor constrói vitórias
judô
Na parte iNterNa do braço direito, a judoca Rafaela Silva tatuou a seguinte frase: “Só Deus sabe quanto eu sofri e o que fiz para chegar até aqui”. Os atletas gostam de dizer que passaram o diabo para alcançar o topo – a maioria passou mesmo –, mas para Rafaela o desabafo cravado na pele não poderia ser mais apropriado. Ela cresceu na Cidade de Deus, favela na zona oeste carioca que teve sua dura realidade exposta pelo escritor Paulo Lins, e viu muita coisa ruim acontecer. Sorte que a violência da comunidade jamais chegou dentro de casa. O pai é um motorista dedicado e a mãe ganha a vida numa daquelas mercearias de periferia que vendem de tudo. Rafaela fez a tatuagem depois da desclassificação precoce nas oitavasde-final dos Jogos de Londres, no ano passado, derrota especialmente dolorida porque a brasileira estava na lista de favoritas ao título. Disseram, na ocasião, que ela não tinha a frieza necessária para uma competição daquele porte. Que tinha perdido a humildade. Que jamais chegaria ao olimpo das campeãs. Nada disso era verdade. “A eliminação em Londres não me derrubou”, diz Rafaela. “Acho até que fiquei mais forte.” No final de agosto, em um Maracanãzinho lotado, no Rio, ela se tornou, aos 21 anos, a primeira brasileira campeã mundial do judô. Apesar da espetacular ascensão, Rafaela não abandonou a CDD, sigla usada pelos moradores para se referir à favela. Afinal, é ali que moram seus amigos e parentes. Uma boa justificativa para isso é que a casa dos Silva fica a poucos metros do local onde a judoca treina. Rafaela é uma revelação do Instituto Reação, comandado pelo ex-judoca Flávio Canto, que tem um núcleo na academia Body Planet, de Jacarepaguá, próximo a um dos acessos da comunidade. A casa dela tem três quartos e foi construída pelos pais, que antes moravam de aluguel em outra parte da Cidade de Deus. Por fora, a arquitetura improvisada não difere muito das residências típicas de periferia. Para chegar ao endereço, no alto de uma ladeira, é preciso subir uma escada íngreme sem corrimão. Parte do que
a lutadora conquistou pode ser vista na residência, decorada com placas e troféus amealhados por ela. Rafaela foi vice-campeã mundial adulta, em 2011, e campeã do Mundial sub-20, em 2008, entre outras glórias. Com as vitórias, vieram os patrocinadores. Com eles, algum dinheiro. Rafaela ajudou a família a reformar parte da casa e comprar eletrodomésticos. Além de um som potente e geladeira, se deu ao luxo de adquirir uma segunda máquina de lavar. Na família há outra judoca, a irmã Raquel, 24 anos, que chegou a ser medalhista de prata no Mundial de Lisboa, em 2009. O pai delas, Luiz Carlos do Rosário Silva, 50 anos, lembra com clareza como conheceu o treinador Geraldo Bernardes, em 2000, quando Rafaela tinha 8 anos. Na época, Geraldo estava implantando o judô na academia Body Planet, que só três anos depois se tornaria parceira de Flávio Canto. “Precisava tirar minhas filhas da rua e vi que tinha sido aberto um projeto social aqui perto”, diz Rosário Silva. “Nem imaginava que ela iria um dia competir pelo Brasil.” Apesar de a família não esperar muita coisa do projeto, o técnico Geraldo percebeu de imediato que seria um desperdício não dar atenção especial às irmãs. Rafaela levou vantagem por ter começado a aprender judô mais nova, e uma gravidez aos 15 anos prejudicou a carreira de Raquel. “Vi que a Rafaela tinha a agressividade e a coordenação motora naturais para a luta”, diz o técnico, que comandou a equipe brasileira de judô nos Jogos de Sydney-2000. “Depois descobri que essas habilidades foram adquiridas na rua.” A desenvoltura era mesmo fruto de uma infância inquieta. Rafaela jogava futebol com os meninos, pulava muro, subia em árvores e soltava pipa. Difícil era segurá-la em casa. Quando tinha 5 anos, já participava das aulas de judô do chamado Clube Escolar, um projeto da Associação de Moradores
Look Skate Shorts: Farm Sapato: Vans da Rafaela Casaco: Northface
RADICAL A vocação para o esporte é fruto de uma infância inquieta. Rafaela jogava futebol com meninos, pulava muro, subia em árvores. Até hoje, anda de skate com a molecada da rua 47 istoé 2016
judô NO TOPO Os resultados obtidos por atletas como a campeã olímpica Sarah Menezes são fruto de uma estratégia de preparação que começou em 2007
a v e z daS mulh eReS aS braSiLeiraS Á SuperaM oS HoMeNS NaS CoMpetiçÕeS iNterNaCioNaiS o judô é o esporte que deu o maior número de medalhas olímpicas ao Brasil. das 108 conquistadas na história dos Jogos, 19 foram ganhas por judocas. a maior parte delas, pelos homens. o que se viu no Mundial do Rio, porém, foi uma inversão desse fenômeno. a equipe feminina ficou num inédito segundo lugar entre as equipes, atrás do Japão. das seis medalhas individuais que ficaram no País, cinco foram para o feminino: além do ouro de Rafaela silva, Érika Miranda e Maria suelen levaram prata, enquanto sarah Menezes e Mayra aguiar ficaram com bronze. só Rafael silva (prata) foi medalhista entre os homens. na olimpíada de londres-2012, foram duas medalhas para as mulheres e duas para os homens, mas o ouro ganho por sarah desequilibrou a disputa a favor delas. o que teria motivado essa mudança? até 2007, as judocas brasileiras eram tratadas como as primas pobres do esporte. Ficavam sob o guarda-chuva da equipe masculina e nem sequer havia um programa específico de treinamento, nem competições direcionadas para elas. se a seleção masculina partia para um determinado campeonato, lá estavam também as moças, independentemente do benefício que aquilo pudesse lhes trazer. em 2007, durante a preparação para o Pan-americano, a confederação Brasileira de Judô mandou o grupo feminino treinar em cuba, enquanto o masculino seguiu rumo à europa – foi a primeira vez que se dividiu o grupo. a separação foi benéfica. as mulheres passaram a usufruir de programas de treinamento exclusivos, concebidos especialmente para elas. os resultados estão aí. “o judô feminino tinha um espaço para crescer e, graças ao excelente trabalho que vem sendo desenvolvido, conseguiu aproveitar as oportunidades que apareceram”, diz Wanderley teixeira, presidente da confederação Brasileira de Judô.
hÁ algunS anoS, Quando tinha gueRRa de tRÁfiCo, Rafaela não podia tReinaR na aCademia de judô, Com medo da violÊnCia. a favela eRa dominada poR tRafiCanteS e a população temia oS tiRoteiRoS ConStanteS. hoje a Situação melhoRou
FIEL Uma escada íngreme dá acesso à casa da campeã mundial. Ela recebeu convites para treinar em outros clubes, mas diz que seu lugar é no bairro onde cresceu
da Cidade de Deus. No lugar, não havia como aprender direito as técnicas da luta, mas as primeiras lições ajudaram a disciplinar Rafaela. “Na época, ganhei um quimono usado que era maior do que eu.” Não foi só o improviso do projeto da associação que impediu um aprimoramento maior da garota. Àquela altura, a favela era dominada por traficantes e a população vivia refém de bandidos, em constantes tiroteios. Rafaela lembra que, quando tinha guerra do tráfico, ninguém podia treinar. Os dias de terror, felizmente, ficaram para trás. Desde 2009, a comunidade conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A violência não foi totalmente varrida dali, mas o policiamento já permite aos moradores exercerem seu direito de ir e vir. Os avós de Rafaela foram morar na Cidade de Deus no início da década de 1960, depois que a casa em que moravam na favela da Rocinha foi condenada pela Defesa Civil. Na CDD, viram de perto o aumento da violência. . “Aqui já foi um lugar muito estigmatizado”, diz Sérgio Luiz Silva, tio da campeã mundial. “A gente precisava dar outro endereço para conseguir emprego.” Para o técnico Geraldo Bernardes, não é à toa que tantos talentos do judô desabrochem em comunidades pobres como a Cidade de Deus de Rafaela Silva. Só o instituto de Flávio Canto, com cinco polos voltados para crianças carentes, tem três atletas na seleção principal e seis nas categorias de base. O projeto atende ao todo mil alunos. “A pessoa que já luta pelo seu espaço e pela sobrevivência acaba levando essa garra para o tatame”, diz Bernardes, considerado um segundo pai na vida da judoca. A garota que soltava pipa nas ruas da Cidade de Deus está na seleção brasileira desde os 13 anos. Aos 15, venceu o Mundial Júnior, mesmo enfrentando atletas três anos mais velhas. Atualmente, Rafaela ocupa o segundo lugar no ranking mundial
Shorts: Nike Regata: Movin Top: Oxer
judô
da categoria para até 57 quilos e sua faixa preta já leva o segundo dan (graduação superior). A judoca também atribui seu sucesso ao acompanhamento psicológico que recebe. Tanto que decidiu estudar psicologia – está no primeiro período do curso no Centro Universitário Celso Lisboa. “Quero ensinar às meninas mais novas o que eu aprendi”, diz. “O equilíbrio mental me ajudou muito.” Se o acompanhamento psicológico auxilia a judoca a se concentrar na hora das lutas, não foi o suficiente para vencer a timidez. Rafaela é de respostas diretas como seus golpes, mas prefere as frases curtas. Para esta reportagem, ela só descontrai quando brinca com a cachorra Moly, da raça pug, um de seus xodós. Apesar de não perder uma festa dos amigos da academia de judô, não é de se requebrar na pista de dança. “Na balada, a Rafaela sempre fica na dela”, diz o amigo Sérgio Souza, 20 anos. A família dela é majoritariamente evangélica, mas a campeã mundial foi poucas vezes à Igreja Assembleia de Deus Vai Agir, frequentada pelos pais. “Rezo sempre antes de dormir e na hora da luta”, diz a lutadora. A principal preocupação da mãe, Zenilda Lopes da Silva, 42 anos, é com a segurança da filha. Rafaela tem um utilitário esportivo Captiva e faz questão de deixar as amigas em casa depois das festas de madrugada. “Como ela é a única do grupo que não bebe, acaba se responsabilizando pelas outras”, diz Zenilda. Como se não bastasse, Rafaela ainda surfa no mar da Barra da Tijuca, nos fins de semana de sol. Apesar da energia à toda prova e de, no mundo das aparências, ser uma fortaleza intransponível, Rafaela tem a alma doce e sensível. Depois de derrotar a americana Marti Mallori em menos de um minuto de luta, ela chorou ao vencer o Mundial no Maracanãzinho. Nos Jogos de Londres, também se debulhou em lágrimas ao perder para a húngara Hedvig Karakas. Na interpretação do árbitro, ela deu um golpe irregular ao puxar a perna da adversária. “Vi homens fazerem coisa parecida e não serem eliminados”, diz. “Agora pelo menos evito esse tipo de golpe.” Difícil mesmo foi suportar os comentários racistas feitos por internautas nas redes sociais após a eliminação. A vontade era, claro, de agredir aqueles imbecis, mas ela manteve a compostura, talvez um dos ensinamentos mais valiosos do judô. “A Rafaela sempre foi diferente”, diz Flávio Canto, um de seus mentores. “Em to-
dos os meus anos de judô nunca vi nenhum atleta com a mesma vontade. Ela foi, de longe, a que mais gostava de competir.” As adversárias sempre temeram sua determinação. Aos 12 anos, quando foi disputar um torneio, Rafaela chorou porque nenhuma menina queria lutar contra ela, com medo de enfrentá-la. Forte, destemida, agressiva, teve muitas vezes que treinar com garotos. Ainda hoje, no Instituto Reação, ela enfrenta os homens de igual para igual. O sucesso da judoca está estimulando novas adesões de crianças e adolescentes ao esporte, principalmente de meninas. “A história dela vai resgatar muitos jovens de comunidades carentes como a que Rafaela vive”, diz Paulo Wanderley Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Judô. “Depois do Mundial, já tivemos uma resposta muito positiva das academias”, afirma Ney Wilson, coordenador técnico da seleção brasileira. Além de Rafaela, o bom desempenho geral do judô feminino tem atraído garotas para um esporte até pouco tempo atrás essencialmente masculino. A medalha de ouro da piauiense Sarah Menezes em Londres-2012 também surtiu efeitos positivos. “No Instituto Reação, já temos uma média de 35% de meninas nas aulas”, diz Canto. Para Rafaela, a vida mudou depois do Mundial. Nas ruas da Cidade de Deus não dá mais para fazer molecagens sem ser reconhecida. O assédio de clubes interessados em contratá-la também aumentou, mas ela se mantém fiel às origens. “Prefiro continuar no instituto”, diz a campeã mundial “Isso aqui é a minha casa.”
Quando tinha 12 anoS, a futuRa Campeã mundial ChoRou numa Competição. o motivo: Como Rafaela eRa muito agReSSiva, nenhuma menina QuiS lutaR ContRa ela
PERSONALIDADE FORTE Tímida, Rafaela não gosta de dar entrevista e só se sente à vontade junto de amigos ou nos tatames
aS Con Q uiS taS de Ra f ae l a Si lva > ouro no Mundial do Rio, eM 2013 > prata no Mundial de PaRis, eM 2011 > prata nos Jogos Pan-aMeRicanos de guadalaJaRa, eM 2011 > ouro na coPa do Mundo de são Paulo, eM 2011 > ouro no caMPeonato Mundial JúnioR de Bangcoc, eM 2008 Styling: Helena Luko Produção de Moda: Julia Tartari
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tae kwon do
n 達 o
combate "minha confedera巽達o n達o tem credibilidade e isso me afeta 100%", diz Diogo Silva
f o g e
à
l u t a
por Renata ValéRio de Mesquita fotos fRedeRiC jean/ag. istoé
As bAtAlhAs do tAe kwon do brAsileiro são mAis difíceis forA do que dentro do tAtAme, mAs AtletAs veterAnos como diogo silvA tentAm gArAntir que umA gerAção de novos tAlentos não sejA desperdiçAdA Antes dA olimpíAdA de 2016
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tae kwon do
Aos 7 Anos de idAde, um magrelo Diogo Silva, moleque viciado em filmes de artes marciais com Bruce Lee e Van Damme, viu um treino de tae kwon do pela primeira vez. Foi paixão imediata. O garoto que arranjava briga nas ruas de São Sebastião (SP), era hiperativo e desatento, passou a cumprir horário, estar sempre com o dobok (quimono) impecável e, acima de tudo, manter o sangue-frio e o foco, para sossego da mãe. Em 1998, aos 16 anos, fez a primeira viagem internacional para disputar o Mundial Júnior. Voltou com a medalha de bronze. “Aí decidi que queria viver disso”, diz. “Não sabia como ia fazer, não conhecia outros atletas que vivessem de tae kwon do, mas sonhava com isso para minha vida.” O esporte se tornou olímpico nos Jogos de Sydney-2000. Quatro anos depois, na Olimpíada de Atenas, Diogo foi o primeiro homem a representar o Brasil na modalidade. Hoje, ele coleciona medalhas – como as de ouro no Pan-Americano do Rio, em 2007, e no Mundial Universitário, em 2009. Mas ainda sente o gosto amargo de não ter conquistado uma medalha olímpica e mostra descontentamento com as mazelas de sua confederação. Apesar de estar constantemente entre os dez melhores no ranking mundial, o atleta enfrenta as maiores batalhas fora dos tatames. A Confederação Brasileira de Taekwondo tem um histórico de escândalos e denúncias envolvendo irregularidades legais e financeiras. Diogo
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não tem medo de partir para cima. “O que gira meu mundo é muito mais do que a prática do tae kwon do”, afirma. Segundo o atleta, os resultados nos tatames não são a única coisa que conta para a evolução na carreira. Também importam o prestígio da modalidade no Brasil, o posicionamento da confederação e do Ministério do Esporte e, ainda, a visão que o mundo corporativo tem do tae kwon do. “A forma como cada uma dessas peças mexe recai 100% sobre mim”, diz. “E esse retorno não tem sido positivo.” É assim que ele costuma entrar numa disputa: com o pé alto. Esta arte marcial coreana já traz no nome os pés (tae) antes das mãos (kwon), que são mais usadas na defesa que no ataque. “Do” significa caminho ou arte. E a arte de dar o caminho correto aos golpes depende da cabeça, mais do que tudo. Assim, Diogo também aprendeu que, para entrar numa briga, é preciso estar muito bem preparado. “Não falo nada do que não conheço”, diz. “Tudo eu vou estudar.” Por isso, cursa a faculdade de gestão esportiva, para poder dialogar e discutir sobre as forças que, na sua opinião, jogam contra. Para resumir os episódios mais recentes, é preciso voltar à gestão do sul-coreano Jung Roul Kim, presidente da CBTKD destituído em dezembro de 2010. Ele foi tirado da entidade sob 15 alegações de irregularidades detectadas em auditoria. A principal delas era de supostamente vender diplomas, per-
mitindo que lutadores sem qualificação se tornassem mestres. Quem liderou o movimento para afastá-lo do cargo foi seu aluno e vice, Carlos Fernandes, hoje à frente da confederação. Mas, atualmente, é ele que vem sendo acusado de contratar auditor que não era auditor, de alterar o estatuto após a aprovação em assembleia e de pagar viagens pessoais com verba da entidade, entre outras contas que não fecham. “Eu acreditei, assim como todo mundo, que as coisas iam mudar no tae kwon do com a entrada do Carlos Fernandes”, afirma Juliano Tomé Crapanzani, faixa preta desde 1998 e um dos advogados contratados pelo atual presidente para mover a ação contra Jung Roul Kim. “Hoje, tem mais de 20 processos em andamento contra ele e a confederação.” As atuais ações são movidas pelas federações de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, além de ex-funcionários e outras pessoas ligadas ao esporte. A reação da CBTKD foi descredenciar as entidades rebeldes. “Ou seja, as coisas só pioraram”, diz Crapanzani. “Além de os problemas continuarem, os custos para o atleta triplicaram, em anuidade, participação de eventos e competições e obtenção de diploma.” Diogo reforça o coro. “O novo não pode parecer o antigo, senão não seria novo”, diz, como quem explica o óbvio. Segundo o atleta, a quantidade de denúncias permanentes atrapalha o desenvolvimento da carreira. “Cada vez que sou entrevistado, tenho que falar da má administração da CBTKD, e não do que eu fiz para engrandecer o esporte”, diz. “Minha confederação não tem credibilidade e isso me afeta.”
o eSporte já traz no nome oS péS (tae) anteS DaS mãoS (kwon), que São uSaDaS maiS na DefeSa que no ataque. "Do" Significa caminho ou arte
potencial para vencer em 2016, novos talentos como gabriele Siqueira precisam de uma confederação com menos escândalos e mais trabalho
tae kwon do raiva DirecionaDa na luta contra os desmandos da confederação, Diogo estuda gestão esportiva: "não falo nada do que não conheço"
Para Diogo, a relação é clara: o mundo corporativo observa com muito cuidado a credibilidade da instituição antes de investir dinheiro. Uma entidade constantemente manchada por denúncias de corrupção perde essa credibilidade, e o empresário, muito logicamente, não consegue separar o atleta do esporte que ele pratica. “Isso retorna diretamente para mim”, afirma. “Não entra investimento, não entra recurso e eu não consigo me manter. Vira uma bola de neve.” Lutar esse combate costuma ser desgastante para a imagem de Diogo, mas também o ajuda a se manter na mídia, independentemente de estar competindo, de fazer parte da seleção ou não. Involuntariamente, ele ofusca outra grande atleta que prefere se manter afastada das questões políticas. Natália Falavigna, de Maringá (PR), é a maior medalhista entre todos os lutadores da modalidade – campeã mundial nas categorias júnior, adulta e universitária, e bronze olímpico. Começou relativamente tarde no esporte, aos 14 anos. Com a mesma idade, Diogo já dava aulas para bancar os gastos das competições. Na infância, ela praticou todo tipo de esporte – vôlei, handebol, basquete, natação, tênis, atletismo. Procurava por um esporte e um treinador que a levassem às Olimpíadas. “Me matriculei por impulso na aula de tae kwon do quando fui ver uma amiga treinar”, diz Natália. “Na terceira aula, o Clóvis Aires, meu primeiro mestre, falou para eu continuar treinando que em três anos eu ia ser campeã mundial. Era tudo o que eu queria ouvir.” Hoje, ela treina com o filho de Aires, Wallace. Na seleção, trabalha com a técnica Carmem Silva, a primeira atleta brasileira do esporte a ir para a Olimpíada, em 2000. Natália evita as polêmicas da confederação. Prefere falar da luta como um todo. Diz que, desde que começou, muita coisa vem mudando. “Eu aproveitava a brecha da regulamentação para lutar com as meninas faixa preta, mesmo sendo faixa vermelha, e assim aprendia
mais”, diz. “Agora, faixa preta é uma categoria à parte.” Ela destaca alterações mais recentes, como nos pesos máximo e mínimo das categorias, a criação do registro mundial para melhor controle da WTF, a federação internacional do esporte, e os coletes eletrônicos (confira quadro). Como esporte relativamente novo que é (o primeiro campeonato mundial ocorreu na década de 1970), o tae kwon do parece mais aberto às mudanças. “Ter se tornado um esporte olímpico tem feito com que ele se desprenda da arte marcial”, diz Natália. “Está deixando aspectos mais tradicionalistas, como a questão do respeito ao mais velho, e está se estruturando, encontrando mecanismos de controle e se profissionalizando.” A atleta ficou fora do último Mundial, disputado em julho, no México, por conta de uma lesão no joelho direito, que precisou de cirurgia. Diogo, por sua vez, perdeu a seletiva para Nichollas Pigozzi durante a chamada “ressaca pós-Olímpica”, o período depois dos Jogos em que atletas perdem rendimento e ficam mais suscetíveis a lesões. O esforço de representar o País na maior competição do mundo parece ser subestimado. No caso do tae kwon do, o esportista volta sem nenhuma garantia e precisa tirar o atraso da vida pessoal após meses mergulhado no esporte. Depois de Londres, Diogo nem sequer tinha clube para treinar, pois o São Caetano havia dispensado
mais de 700 atletas do seu quadro. “Os Jogos Olímpicos são muito desgastantes, e quatro meses depois o atleta já tem que defender uma vaga para continuar na seleção”, afirma o assessor esportivo e ex-atleta Diogo Veiga. “O lugar do lutador devia ficar garantido no ano seguinte a uma Olimpíada.” Veiga é agente de Diogo e Natália e também é sócio do site de financiamento coletivo especializado em atletas Pódio Brasil (confira quadro), que surge como opção para captar a verba necessária às competições e ao desenvolvimento da carreira. “Eu não gosto de ficar reclamando do que não funciona”, diz. “Prefiro convidar os outros a participar da mudança.” Ele não é só críticas ao novo comando da confederação. “Vejo que a CBTKD está realizando etapas do Campeonato Brasileiro em diversos Estados do País”, afirma. Ao levar o tae kwon do para outras regiões, a diversidade de integrantes da seleção aumenta. Na época em que Veiga competia, metade das equipes nacionais juvenil e adulta era de São Paulo. “Antes, tudo era muito concentrado no Sul e Sudeste”, afirma. Outro aspecto positivo está na captação de novos talentos. Guilherme Dias, de Brasília (DF), e Gabriele Siqueira, de Marília (SP), são duas das promessas mais brilhantes. Ela começou em 2003, aos 9 anos. “Para emagrecer, porque era baixinha e gordinha”, diz. “E eu emagreci.” Tricampeã brasileira júnior, ela rece-
como eSporte relativamente novo que é, o tae kwon Do parece maiS aberto a muDançaS. "ter Se tornaDo olímpico tem feito com que ele Se DeSprenDa Da arte marcial", Diz natália falavigna
tae kwon do tecnologia: em londres-2012, coletes eltrônicos ajudaram a dar precisão à contagem dos pontos
be bolsa atleta desde 2010 e demonstra enorme potencial. Ganhou dois bronzes em torneios abertos: na Espanha, em 2011, e nos Estados Unidos, no ano passado. Em sua primeira seletiva para a equipe nacional, neste ano, conquistou a vaga. Já Guilherme Dias recebe dinheiro da ONG Instituto Passe de Mágica, da seleção brasileira e do bolsa atleta. “Se hoje temos recursos, é por causa do que a geração anterior à nossa conquistou”, reconhece. Quando começou, em 1998, o esporte era uma forma a mais de se divertir. “Eu destruía tudo, tinha muita energia, por isso minha mãe e minha tia queriam que eu praticasse alguma arte marcial para me acalmar”, diz. Após ganhar o Brasileiro Infantil, com 11 anos, decidiu levar o esporte a sério. “Hoje é meu trabalho, minha vida.” Dias voltou do Pan-Americano da Bolívia, em 2012, com ouro. Também foi o único a faturar medalha no último Mundial, trazendo o bronze para casa. O técnico da seleção, Fernando Madureira, confessa que não ficou feliz com a equipe que foi ao México em julho. “Mas saí satisfeito com os nossos jovens, pois eles já mostraram que estão aí para ficar”, diz. Na opinião de Madureira, que coincide com a de muitos dos envolvidos nos esportes de combate, o atleta brasileiro possui ótima genética e facilidade para escapar de situações difíceis, além de muita criatividade. Hoje, esse potencial tem se materializado em conquistas mais por esforço individual do que por mérito coletivo. Se a Olimpíada de 2016 traz perspectivas que permitem inverter esse panorama, o melhor que o Brasil tem a fazer é não eleger novas estrelas solitárias nem desperdiçar os talentos maduros, que têm tanto para transmitir aos recém-chegados. Ou irá meter os pés pelas mãos.
> D e a rte ma rc ia l a esporte As novidades que transformaram o tae kwon do depois da olimpíada de sydney-2000 > a área de combate foi reduzida de 10 m x 10 m para 8 m x 8 m, forçando os lutadores a partir para o ataque. > foi estabelecido o limite de dez segundos para que os adversários entrem em combate depois que o juiz declara o início da luta. > na olimpíada de londres-2012, um colete eletrônico foi adotado para dar precisão à contagem de pontos. o sistema sem fio manda à central os dados do local atingido e da força do golpe. Seis câmeras distribuídas ao redor do tatame permitem tirar dúvidas imediatamente, sem problemas de ponto cego. > hoje, a luta dura três assaltos de dois minutos cada um. ganha quem fizer mais pontos. para os jogos do rio, isso deve mudar. a proposta é que a luta termine em caso de nocaute, ou se um atleta atingir 12 pontos a partir do segundo round, ou ainda se abrir uma diferença de sete pontos para o adversário. a contagem chute no tórax = 1 ponto chute giratório no tórax = 2 pontos chute na cabeça = 3 pontos chute giratório na cabeça = 4 pontos Soco no tórax = 1 ponto chute abaixo da cintura = -0,5 ponto
foto: lars baron/getty | pedro Dias/ag. istoé
a bo a e v elh a v a qui n h a A antiga tática para juntar dinheiro ganhou a internet por meio dos sites de financiamento coletivo. os atletas já descobriram que podem usar a rede para arrecadar a verba necessária para competições e viagens
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equipamento, academia, treinador, nutricionista, técnico, deslocamentos diários, anuidade da confederação, inscrições, transporte, hospedagem, moradia e alimentação. a lista de gastos de um atleta é imensa. e a entrada de recurso, em muitos casos, é escassa. com a facilidade de pagamento pela internet e o poder das redes sociais, um mecanismo surge como alternativa aos patrocínios e às premiações: é o financiamento coletivo, ou crowdfunding, em inglês. o princípio é simples: pessoas ou entidades interessadas em determinado projeto contribuem com uma quantia X até que o objetivo Y seja alcançado. Duas plataformas dedicadas ao financiamento do esporte entraram no ar no país em 2013. a pódio brasil e a SalveSport ainda estão tateando o mercado e aprendendo o que funciona neste modelo de negócio, já bastante desenvolvido nos estados unidos e na europa. por isso, a SalveSport também abriu uma filial na espanha. “acreditamos que o fato de atuar lá fora vai impulsionar as doações no brasil”, diz cláudia graner, ex-goleira da seleção brasileira de polo aquático e idealizadora da plataforma. um dos projetos já financiados pelo seu site é o livro “memórias olímpicas por atletas olímpicos brasileiros”, da psicóloga e pesquisadora kátia rubio. outro projeto foi o da triatleta cintia tobar, que precisou
alternativa: nélio costa e Diogo veiga, do site de crowdfunding pódio brasil
adquirir uma nova bicicleta após ter seu equipamento roubado. quando o que está em jogo são os custos com treinamentos ou competições, os internautas têm mais dificuldade de entender com o que estão contribuindo – embora eles sempre ganhem contrapartidas, como uniformes e aulas. para amenizar o problema, a SalveSport e o atleta se comprometem a manter por seis meses um microblog com notícias sobre os torneios e a evolução da carreira. ReCoMPensAs a pódio brasil realizou, de abril até agora, quatro arrecadações. todas bateram a meta estipulada. “já recebemos e-mails de mais de 60 atletas desde que começamos”, diz nélio costa, criador, cofundador e sócio do site, juntamente com Diogo veiga. a campanha da lutadora de tae kwon do talisca reis para ir ao aberto do canadá inaugurou a plataforma e obteve os r$ 4 mil solicitados. o mais recente projeto de captação foi para Diogo Silva e márcio wenceslau, também lutadores, irem à etapa da rússia (r$ 12,5 mil). lesionado, Diogo acabou fora da competição e se dispôs a devolver o dinheiro. o sucesso da empreitada dará origem, em breve, à segunda fase do projeto. o novo site trará um sistema elaborado de pontuação. hoje, quem ajuda um atleta ganha contrapartidas relacionadas ao esporte, como equipamentos e ingressos.
mas a pódio quer ir mais longe com a “ludificação”, que nada mais é do que tornar a experiência lúdica. os financiadores ganharão brindes, prêmios ou pontos por ajudar esportistas, por frequentar academias parceiras e por comparecer a determinadas competições. a ideia é atrair mais gente e estimular a atividade física. “nossa proposta é aproximar as pessoas do esporte e mudar a cultura esportiva do brasileiro”, afirma costa. os atletas interessados em colocar uma campanha no ar precisam contatar os sites com cerca de dois meses de antecedência para preparar todo o material de divulgação. a campanha fica no ar por um mês, em média. os vídeos costumam aumentar em 60% a eficiência dos projetos, segundo costa. o “termômetro” de cada iniciativa indica como evolui a captação de recursos. geralmente, um montante mínimo precisa ser atingido para que o atleta receba o dinheiro. caso contrário, as intenções de doação são devolvidas às pessoas que queriam ajudar. entre comissões e taxas, cerca de 10% do valor arrecadado fica com o site e a gestora das transações financeiras. a divulgação fica por conta do atleta, mas os sites também dão uma mãozinha ao lançar as campanhas nas redes sociais. os prêmios oferecidos como contrapartida são de responsabilidade do atleta, mas ele pode incluir esse custo no valor a ser captado.
vela
vento por Tom Cardoso fotos pedro dias/ag. isToĂŠ
PArA o ALto A carreira do velejador Jorge Zarif deu uma guinada com a conquista do título mundial. o apoio financeiro, que era escasso, agora permite contratar uma equipe multidisciplinar com foco na preparação para os Jogos olímpicos do rio de Janeiro
O títulO mundial de JOrge Zarif na classe finn é um prelúdiO dOs resultadOs que O mais talentOsO nOme da nOva geraçãO da vela pOde traZer para O Brasil em 2016
vela
um cachOrrO cOm um par de havaianas na BOca quase prejudicou irremediavelmente a carreira de Jorge João Zarif, atual campeão mundial da classe Finn e maior promessa da vela brasileira dos últimos anos. O cão de Bruno Prada, também velejador, companheiro de treinos da jovem revelação, atacou sem dó os chinelos da sorte de Zarif. O par era o mesmo que ele usara em todas as grandes conquistas na vela, iniciadas em 2009, na Hungria, com o título mundial júnior. Os danos causados pela fera de quatro patas foram imensos, mas o talismã foi recuperado dias antes de Jorge vencer a Finn Gold Cup, em agosto, na Estônia. Sem se importar com a gambiarra, Zarif remendou a alça dos chinelos com fita crepe e foi em frente. “Eu fiquei desesperado”, lembra o atleta. “Sem minhas Havaianas, eu não entraria na água com a mesma segurança.” Superstição, para ele, é coisa séria. Não faz muito tempo, o brasileiro passava alho no barco, para afastar o olho gordo. O ritual, no entanto, foi abandonado por absoluta falta de tempo. “Minha rotina de treinos é muito corrida, não posso mais me dar o luxo de parar o que estou fazendo para esfregar alho”, diz o velejador. Toda essa história foi contada em meio a um lanche rápido no restaurante do Yatch Club Paulista, na represa de Guarapiranga, na zona sul de São Paulo. É lá que Zarif treina duro para garantir para si a única vaga brasileira da classe Finn nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
oLímPico Zarif em ação na olimpíada de Londres-2012. A 20a colocação na classe finn foi suficiente para chamar a atenção do britânico Ben Ainslie, mito da vela mundial
62 istoé 2016 foto: William West/Getty
Com ou sem crendice, sorte, alho e chinelo, Jorginho, como é chamado por quase todos ao seu redor, está no topo. Dono de enorme talento, tem a vela no DNA. Ele carrega o nome do pai e do avô, já falecidos, dois grandes expoentes do iatismo brasileiro. O avô, João Zarif, foi um dos pioneiros do esporte no País e fez fama na classe Oceânica. O pai, Jorge Zarif Neto, é considerado até hoje o maior nome paulista da classe Finn. Foi nove vezes campeão brasileiro da categoria e representante do Brasil em duas Olimpíadas, em Los Angeles-1984 e Seul-1988. Foi com o pai – e um pouco com o avô – que Jorginho aprendeu todos os segredos e manhas do esporte. Em 2008, pai e filho competiram um contra o outro para saber quem representaria o País na Olimpíada de Pequim. Jorginho tinha apenas 15 anos e quase chegou lá. Na época, os Zarif foram acusados pelos adversários de se beneficiarem mutuamente durante a fase seletiva, marcada por polêmicas e desclassificações. O jovem atleta terminou eliminado ao se queixar de ter sido atrapalhado por um rival. Só não foi para Pequim por “motivo extracampo”, nas palavras dele. A desclassificação para a Olimpíada de 2008 coincidiu com a perda do pai, que morreu pouco depois, aos 50 anos, vítima de um infarto. Depois da tristeza, Jorginho conseguiu se classificar para a Olimpíada de Londres, em 2012. Com apenas 19 anos, sem patrocínio e com pouca experiência, terminou na 20ª posição. O resultado aparentemente pífio foi bom o suficiente para chamar a atenção de Ben Ainslie, mito da vela mundial, três vezes campeão olímpico. Impressionado com a juventude do rapaz, o britânico fez elogios públicos a Zarif, que não se deslumbrou. Continua com os pés no chão, até porque a vida de iatista em São Paulo não é para principiantes. Jorginho costuma velejar no máximo três vezes por semana, limitação imposta pela lentidão dos deslocamentos até a represa de Guarapiranga. “Quando não estou preso no trânsito das Marginais, estou preso pelas condições de vento”, afirma. Nos dias em que falta o sopro da natureza, resta esperar sentado. “Já fiquei duas horas no barco aguardando o vento, que nem sempre vem.” As dificuldades operacionais da vela afastaram Jorginho do esporte nos primeiros anos de vida, mesmo sendo filho e neto de quem era. “Eu queria, como toda criança, jogar futebol, nadar e lutar judô”, diz. “Achava muito chato velejar.” Zarif começou na classe Optimist, barco concebido para crianças e jovens de até 15 anos de idade. “Só quando comecei a andar de Oceânica, a classe do meu avô, em que o barco é enorme e tem um monte de gente, é que eu comecei a me divertir um pouco”, afirma. Nessa época, já adolescente e bem perto do 1,91 m de altura que tem hoje, adorava uma piscina e tinha porte de nadador. A família, que nunca forçou a barra para que ele virasse iatista, o apelidou de “Cielinho”, numa referência ao campeão olímpico dos 50 metros livre. Mas era tarde demais. “Eu já estava completamente apaixo-
nado pelo iatismo”, afirma. “Faltava às aulas de natação para velejar de Oceânica.” Por influência do pai, passou a treinar na classe Finn. Logo vieram os primeiros títulos nas categorias de base, o que, na prática, não resultou em apoio. “Eu disputei a Olimpíada de Londres em condições totalmente adversas”, diz. Os Jogos foram em agosto, mas Zarif só começou a treinar em maio – sozinho, sem ajuda de ninguém. Como a classe Finn exige muita força e preparo físico, Jorginho fez treinos para ganhar massa muscular e chegou a quase 100 kg de peso. Mas a sobrecarga de exercícios resultou numa contusão grave logo após a Olimpíada: o rompimento do ligamento cruzado anterior de um dos joelhos. Com o recente título mundial na classe Finn, que o Brasil não conquistava desde 1972, com Jörg Bruder, Zarif conseguiu o respeito dos cartolas e dos patrocinadores. Graças à ajuda de custo mensal do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ele desenvolve uma preparação de ponta para velejadores da sua modalidade. Perdeu 7 kg com uma dieta baseada em vitaminas e suplementos alimentares. Seu fisioterapeuta conduziu um estudo levando em conta os movimentos que ele faz no barco – nunca mais se contundiu. “Eu treinava tudo errado e nunca tive condições de fazer melhor do que fazia”, diz. Com as conquistas e a melhora na preparação física e técnica aumentaram também as cobranças. Hoje, ele é um dos nomes mais cotados para subir ao pódio nos Jogos Olímpicos de 2016. Mas precisa, primeiro, garantir lugar na competição. A ironia é que o principal adversário pela vaga é o seu companheiro de treino diário. Bruno Prada, 42 anos, veterano da vela, foi proeiro (o responsável pelo equilíbrio do barco) de Robert Scheidt durante mais de dez anos na classe Star. Os dois conquistaram diversos títulos mundiais, além da prata nos Jogos de Pequim e Londres. Com a saída da Star da Olimpíada de 2016, Prada voltou a velejar de Finn. No mundial conquistado por Jorginho, o veterano terminou em 67º lugar (entre os 86 participantes). Na prática, diz o jovem iatista, isso não significa que ele é o franco favorito para ficar com a única vaga olímpica.
cOm O recente títulO mundial na classe finn, que O Brasil nãO cOnquistava desde 1972, cOm Jörg Bruder, Zarif cOnseguiu O respeitO dOs cartOlas e dOs patrOcinadOres
vela
“Muita gente acha estranho eu treinar quase todos os dias ao lado do cara que vai disputar uma vaga olímpica comigo, mas eu acho ótimo”, diz Zarif. “Tenho aprendido muito com o Bruno.” Historicamente, a confederação dava apoio apenas ao primeiro do ranking. Isso era ruim para o próprio iatista contemplado, que não treinava nas mesmas condições que os outros e, portanto, não era forçado a melhorar. Esta é a primeira vez na história da categoria em que dois concorrentes por uma vaga olímpica realizam um plano conjunto de preparação, inclusive com a mesma equipe de treinadores. A Finn, em virtude dos recentes resultados conquistados por Jorginho, foi a que mais recebeu aporte financeiro entre as classes da vela em 2013. De atleta sem treinador em 2012, Zarif passou a contar com uma equipe formada por um técnico de água (Rafa Trujillo, um dos maiores do País), um preparador físico (Luigi Turisco) e dois fisioterapeutas (Felipe Tadiello e Maurício Garcia). Jorginho sabe que as cobranças por medalha nos Jogos
Herdeira dos Grael como JorGe ZArif, mArtine GrAeL mostrA que o tALento PArA A veLA está no sAnGue martine Grael, filha mais nova do bicampeão olímpico torben Grael, também se prepara para brilhar em 2016. Ao lado de Kahena Kunze, ela conquistou o vicecampeonato mundial da classe 49erfK (exclusiva para mulheres), em marselha, na frança, em setembro. A dupla brasileira ficou atrás das neozelandesas Alexandra maloney e molly meech. “o começo do campeonato foi bem duro, mas velejamos muito bem e surpreendemos a nós mesmas”, afirmou a filha de torben, de apenas 22 anos. o irmão de martine, marco Grael, também competiu em marselha. formando dupla com Gabriel Borges, ele terminou na 40ª colocação. martine e Kahena competem juntas há quase um ano. Apesar da parceria recente, venceram o campeonato norte-Americano de 49erfX e a miami ocr, válida pela copa do mundo de vela. em julho, também conquistaram o segundo lugar no campeonato europeu de 49er.
de 2016 serão intensas, independentemente de quem for o representante brasileiro. “Não vou fazer nenhum tipo de previsão, mas posso garantir que, sendo eu ou o Bruno, vamos dar muito trabalho para os rivais”, diz. “No nível em que estamos, nenhum resultado é impossível.” Para Bruno Prada, ter um parceiro de treinos do nível de Jorginho é fundamental para suas pretensões olímpicas. “Nos anos anteriores, eu treinava sempre com atletas de nível inferior ao meu e não evoluía nunca”, diz. Segundo o veterano, a avaliação de performance na vela é diferente da de outros esportes, como a natação ou o atletismo. “Não temos uma piscina ou uma pista para medir o desempenho, o que torna mais importante essa parceria.” Segundo Prada, Zarif possui três características de um grande campeão: força física acima da média, força mental e “estrela”, aquele tipo de predisposição à vitória que une sorte e talento. Dois grandes nomes do iatismo brasileiro fazem coro nos elogios. Robert Scheidt, bicampeão olímpico, ídolo de Jorginho, diz que o jovem velejador “mostrou que é um atleta que veio pra ficar e tem tudo para evoluir ainda mais até 2016”. Lars Grael, outro medalhista olímpico, que chegou a ser companheiro de vela do pai de Zarif, não tem dúvidas da capacidade do jovem. “Ele ainda tem muito a evoluir, mas já tem um currículo impressionante com uma participação olímpica e agora este campeonato mundial”, afirma. “Tenho certeza de que ainda dará muitas alegrias ao esporte brasileiro.” Se os ventos continuarem a soprar assim, Jorginho Zarif nem vai precisar apelar para simpatias e superstições para chegar ao pódio em 2016. O inquestionável talento e o par de chinelos velhos serão o bastante.
os TÍTUlos de JorGiNHo ZariF Na FiNN tricAmPeão BrAsiLeiro 2009/2010/2011 PentAcAmPeão dA semAnA BrAsiLeirA dA veLA 2009/2010/2011/2012/2013 cAmPeão mundiAL Júnior 2009 BicAmPeão suL-AmericAno 2010/2011 cAmPeão mundiAL 2013
“muitA Gente AchA estrAnho eu treinAr quAse todos os diAs Ao LAdo do cArA que vAi disputar uma vaga Olímpica cOmigO, mas eu achO ótimO”, diZ Zarif Produção: cintia sanchez Agradecimentos: calvin Klein (www.calvinklein.com) e nike (www.nike.com.br)
ginástica
TRABALHO DURO Cao Hamburger comandou a apresentação brasileira em Londres ao lado da cenógrafa Daniela Thomas: estresse que durou meses para produzir oito minutos de espetáculo
ALTOs e BAixOs Arthur Zanetti (à esquerda) brilhou mais uma vez. Abaixo, a veterana Daniele Hypolito, que deixou o Mundial ainda nas eliminatórias
por Vera Lynn e benjamim oLitaLLo, da antuérpia
Óti m o e r uim Ao m e s mo t em po No masculiNo, ouro de arthur ZaNetti e outras ciNco fiNais. No femiNiNo, a pior performaNce em 16 aNos. o muNdial da Bélgica mostra que a giNástica Brasileira vive duas realidades opostas
Assim que crAvou os pés no solo Ao encerrAr a apresentação nas argolas, nas finais do Mundial de Ginástica da Antuérpia, na Bélgica, o paulista Arthur Zanetti fechou os punhos, balançou os braços e soltou um grito que parecia uma mistura de raiva e alegria. O gesto, semelhante aos desabafos do nadador César Cielo nos seus momentos de vitória, surpreendeu porque o equilibrado Zanetti não é do tipo que costuma externar emoções. Nem quando ganhou o ouro na Olimpíada de Londres-2012 ele demonstrou tanta empolgação. O que teria motivado a explosão? A quem eram dirigidos os gritos ouvidos em alto e bom som por todos que estavam no ginásio Sports Palace? “É que faltava o título mundial para a minha carreira”, diz Zanetti. Não foi só isso. O campeão evita entrar no assunto, mas a verdade é que ele estava engasgado. Quando levou o ouro em Londres, Zanetti teve sua vitória contestada pelo chinês Yibing Chen, detentor de oito títulos mundiais, que declarou que os juízes “roubaram” para o brasileiro. Deselegante, Chen enviou uma carta para a Federação Internacional de Ginástica
67 istoé 2016 Fotos: John Thys/AFP
ginástica
BONs vOOs: Diego Hypolito (à esquerda) chegou em quinto no salto e em sexto no solo. Já sérgio sasaki saiu da Antuérpia com dois respeitáveis quintos lugares, no individual geral e no salto
exigindo a revisão da prova. Claro, a vitória em Londres foi justa e merecida – e na Antuérpia Zanetti calou de vez os maus perdedores. “Se alguém tinha alguma dúvida sobre o meu ouro em Londres, acho que agora isso acabou”, diz o ginasta. “Não tem mais nada para ser falado.” Zanetti provou na Bélgica que é um dos grandes da história do esporte brasileiro e talvez o nome mais certo para o ouro em 2016. Antes do ginasta, só seis atletas do País conseguiram ser campeões olímpicos e mundiais. A lista é formada por Emanuel e Ricardo (vôlei de praia), Robert Scheidt e Torben Grael (vela), César Cielo (natação) e Rodrigo Pessoa (hipismo). Na Bélgica, Zanetti sentiu pela primeira vez a responsabilidade de participar de uma competição internacional como maior favorito. Nesse aspecto, a conquista do Mundial foi até mais difícil do que a da Olimpíada – quando, de certa forma, ele entrou na prova como azarão. “Desta vez, tinha
um peso a mais em cima de mim”, diz. “Senti que todos estavam me olhando e isso tem uma carga muito grande. O que me ajudou foi o trabalho psicológico que fiz durante toda a preparação.” A Confederação Brasileira de Ginástica mantém uma psicóloga que atende, desde o início do ano passado, toda a Seleção Brasileira. A ideia era ajudar os atletas a espantar a fama de amarelões, construída depois de decepções protagonizadas por talentos como Daiane dos Santos e Diego Hypolito. O trabalho funcionou e Zanetti está aí para provar isso. Não é só a força mental que justifica as duas conquistas extraordinárias do ginasta em um período de apenas um ano. Zanetti é resultado de uma combinação rara no universo esportivo brasileiro: talento exuberante e oportunidade de, afinal, praticar o que gosta. O ginasta nasceu em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, e começou a treinar aos 7 anos, no clube Serc Santa Maria, que ficava perto da
casa dele (leia quadro). É verdade que o Serc não tinha estrutura adequada – o pai de Zanetti chegou a construir um cavalo com alça e argolas para o filho se exercitar –, mas pelo menos havia um espaço para um atleta nato desabrochar sua vocação. Sem o tal Serc, haveria Zanetti? “Ficaria bem complicado achar um lugar para treinar”, responde o próprio. A consciência da precariedade nacional incomoda até hoje o supercampeão. “Não é por causa de um título que vamos esconder nossas dificuldades”, diz ele. “Ainda não existe um centro de treinamento no Brasil, e isso é um problema sério. A Rio 2016 está aí e parece que vamos deixar tudo para a última hora.” Zanetti não fala apenas em causa própria. “Não acho que tem de ajudar só São Caetano, onde treino, mas clubes de ginástica de todo o Brasil.” A análise fria da performance brasileira na Bélgica permite duas considerações opostas. A primeira diz respeito à seleção masculina. Os homens
O fenômenO Zanetti Ao faturar o ouro nas argolas, o ginasta passa a ser o sétimo brasileiro a deter um título olímpico e mundial. A seguir, conheça a trajetória de um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro iníciO
em 1997, aos 7 anos, entra na escola de ginástica da sociedade esportiva santa maria, em são caetano do sul as primeiras vitórias
os títulos começam a aparecer aos 10 anos, nas competições infantis realizadas em são paulo a estreia na seleçãO
aos 18 anos, e depois de uma série de títulos nacionais nas argolas, é convocado pela primeira vez para a seleção Brasileira adulta de ginástica cOnquista internaciOnal
em 2010, vence o campeonato sul-americano em medellín, na colômbia, e chama a atenção pelo estilo seguro, de poucos erros talentO cOnfirmadO
em 2011, conquista a medalha de prata, nas argolas, no mundial de tóquio a cOnsagraçãO
em 2012, fatura o ouro olímpico em londres, o primeiro da ginástica brasileira a cOnfirmaçãO
ao ganhar o mundial da Bélgica, em 2013, entra de vez na lista dos maiores atletas da história do país
chegaram a seis finais, o melhor desempenho da história. O Mundial também confirmou que há três nomes com boas chances de medalha em 2016. Além de Zanetti, Sérgio Sasaki (quinto no individual geral e no salto) e Diego Hypolito (quinto no salto e sexto no solo) estão no páreo para os Jogos do Rio. Sasaki vem apresentando uma evolução impressionante – em Londres, foi o décimo no individual geral – e não é pouca coisa ser o quinto ginasta mais completo do planeta. “Estou chegando cada vez mais perto dos caras que ganham medalha”, diz Sasaki, 23 anos. “No Rio, espero estar no auge da minha forma.” É bom também não desprezar o incansável Diego Hypolito. Mesmo sem clube desde março e depois de passar por quatro cirurgias nos últimos anos, Hypolito foi melhor do que pensava. “Eu não esperava ir tão longe”, diz ele, que tem quatro medalhas em Mundiais (dois ouros, uma prata e um bronze, no solo). No Rio, terá 30 anos e, quem sabe, não será a hora de encerrar a carreira calando os eternos críticos. “O Mundial provou que continuo entre os melhores.” O outro brasileiro a chegar Fotos: Yves Logghe/AP | Dirk Waen
a uma final na Antuérpia foi Arthur Nory, 19 anos, que terminou em 18º lugar no individual geral. A segunda análise do desempenho nacional não é animadora. Pela primeira vez em 16 anos a delegação feminina não chegou a uma final sequer. O fiasco é chocante. Além de simbolizar um retrocesso às vésperas de uma Olimpíada que será disputada em território brasileiro, revela que o Brasil não consegue mais formar talentos entre as mulheres. O País enviou só duas atletas para o Mundial: a veterana Daniele Hypolito, 29 anos, e a novata Letícia Costa, 18. Daniele não passou das eliminatórias nas barras assimétricas e na trave, enquanto Letícia não chegou à final do individual geral. Em entrevista recente ao jornal “Folha de S.Paulo”, Klayler Mourthé, supervisor de seleções da Confederação, afirmou que o problema é que não há verba suficiente para atender as categorias de base. Ou seja, ao priorizar os atletas já formados, a entidade negligencia por tabela a nova geração. O resultado dessa estratégia se observa em campeonatos internacionais, como o Mundial da Antuérpia. Para Luciene Resende, presidente da Conferação Brasileira de Ginástica, o balanço da competição foi positivo. “Conquistamos a inédita medalha nas argolas e estivemos presentes em seis finais”, diz Luciene. “Isso demonstra o grande trabalho que está sendo feito.”
neg贸cios
eMPIlHadOS a escaladora anna Stohr sobe em carros na cidade de Thörishaus, na Suíça: imagens ousadas para cativar fãs
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A empresA que levA mAlucos pArA sAltAr de pArAquedAs nA estrAtosferA ou pArA pulAr de penhAscos revolucionA o mArketing esportivo e fAz fortunA com Ações rAdicAis que expõem os AtletAs Ao risco extremo por Mariana Queiroz BarBoza
negócios
Saltos de paraquedas na estratosfera, mergulhos de esqui em penhascos a 300 metros de altura, surfe em ondas gigantes, corridas de aviões. Nenhuma empresa levou a prática de esportes radicais a um nível tão elevado quanto a austríaca Red Bull e provavelmente não há outra companhia que tenha investido tanto para que essas atividades cativem pessoas do mundo inteiro. Entre 30% e 40% de seu faturamento é aplicado em marketing e campanhas promocionais, o que dá algo como 1,8 bilhão de euros por ano. Estimase que só a Coca-Cola gaste tanto, embora de forma diferente. Associada principalmente aos Jogos Olímpicos, a tradicional empresa de refrigerantes também vincula sua marca a ações que nada têm a ver com o esporte. Esse não é o caso da Red Bull. Desde sua fundação, ela promove centenas de eventos em que a adrenalina, a diversão e a ousadia andam juntas, na expectativa de seduzir principalmente o público jovem. A estratégia tem funcionado. Em 2012, foram vendidos 5,2 bilhões de latinhas do energético, 12,8% a mais do que no ano anterior. Suas receitas saltaram 15,9% no ano passado e as vendas dispararam até em países como França, Estados Unidos e Japão, que enfrentam os efeitos perversos da crise econômica.
Criada em 1987, a Red Bull não é só a líder do mercado, como também a fundadora do segmento de bebidas energéticas. Desde então, ela mudou a cara do patrocínio esportivo, criando equipes (como seus times de corrida de Fórmula 1, Stock Car e Nascar e seus quatro clubes de futebol, inclusive um no Brasil) e esportes novos, como o crashed ice, que consiste numa espécie de corrida no gelo e que a empresa sonha em transformar numa modalidade olímpica de inverno. No total, cerca de 600 atletas recebem incentivos da Red Bull. “O sonho de toda marca é transformar seus consumidores em fãs”, diz Clarisse Setyon, professora do curso de MBA em marketing esportivo da pós-graduação da ESPM. “O esporte ajuda a transferir seus admiradores para as marcas associadas a ele.” Um exemplo do poder de atração de uma iniciativa dramaticamente ousada foi o salto na estratosfera feito pelo austríaco Felix Baumgartner, em novembro do ano passado. O evento Red Bull Stratos levou Baumgartner para um salto de impressionantes 39.045 metros, que durou exatos 4 minutos e 19 segundos, a uma velocidade de 1.342,8 quilômetros por hora. Se tivesse dado errado, ele morreria diante dos olhos de milhões de espectadores que acompanhavam a façanha pela tevê e pela internet, a Red Bull teria sua imagem destruída e a estratégia de marketing baseada em testar os limites de esportes radicais estaria em cheque de uma vez por todas. Mas foi um sucesso. Um recorde para o esporte (essa foi a primeira vez que um ser humano superou a barreira do som em queda livre), um recorde para a transmissão esportiva (só no YouTube, foram mais de oito milhões de visualizações simultâneas) e um novo patamar para os executivos de marketing. O investimento, que consumiu estimados US$ 20 milhões e sete anos de planejamento, levou o slogan da companhia ao pé da letra e não há quem possa dizer que a Red Bull não deu asas a Baumgartner.
O sal t O da es t ratO s fe ra f e i t O p e lO aus trÍaCO fe li X B a u M G a r tNer fO i v is to Ao v ivo , no You t u Be , por oi to m il hõ e s d e p e ss oAs
A escolha pelos esportes radicais tem grande influência do fundador da marca, o austríaco Dietrich Mateschitz, 69 anos. Hoje o homem mais rico da Áustria, Mateschitz trabalhou como instrutor de esqui durante a faculdade e, depois de formado, passou dez anos trabalhando com marketing. Aos 38 anos, durante uma viagem à Tailândia, ele descobriu uma versão local da bebida que curou seu “jet lag”. Decidiu, então, trocar a vida que levava como executivo para investir, junto com um empresário tailandês, numa bebida gaseificada a partir daquela que experimentara. A Red Bull se espalhou pela Europa e, quando chegou aos Estados Unidos, já era um sucesso de vendas. No Brasil, o energético desembarcou em 1999. Tido como um sujeito excêntrico e excessivamente controlador, Mateschitz é apaixonado por aviões. Ele tem um hangar particular próximo a Salzburgo, na Áustria, onde guarda sua coleção de aeronaves, inclusive antigos aviões de caça. Todos estão decorados com o logo e as cores da Red Bull. O acesso a seu escritório, na sede da companhia na pequena vila de Fuschl, só é autorizado com sua impressão digital. “Em termos financeiros literais, nossas equipes esportivas ainda não são lucrativas, mas em termos de valores, elas são”, declarou o magnata em entrevista recente à Bloomberg. Procurada pela 2016, a Red Bull se manifestou apenas de forma protocolar, por meio de sua assessoria de imprensa. Não raro, o bilionário vê seu nome envolto em polêmicas. Em maio, uma reportagem do jornal americano “New York Daily News” mostrou que Mateschitz foi diretamente responsável pela decisão de contratar o médico Bernd Pansold para trabalhar com os atletas patrocinados pela empresa no Centro de Diagnósticos e Treinamento da Red Bull, em Thalgau, na Áustria. Pansold já esteve envolvido em diversos escândalos de doping e, em 1998, chegou a ser condenado
pela Justiça por receitar a adolescentes esteroides anabolizantes na antiga Alemanha Oriental. Entrevistado pelo jornal, o médico negou que tenha recebido qualquer tipo de pedido ou autorização da Red Bull para dopar seus atletas. Em contraponto a uma imagem tão ousada, a Red Bull é conservadora em seu limitado portfólio. Segundo Jonas Feliciano, analista de bebidas da consultoria Euromonitor International, a razão para isso está no fato de a companhia ser líder do mercado. “A Red Bull não precisa correr tantos riscos, porque tem uma marca consolidada”, diz. Aos poucos, isso vem mudando. Pela primeira vez em 15 anos, a empresa introduziu três novos sabores no mercado em 2013 e, no ano passado, começou a testar novos tamanhos de embalagem para fazer frente à concorrência da Monster, que vem numa lata maior e já ultrapassou a Red Bull em volume de vendas nos Estados Unidos. A marca também expandiu seus negócios e hoje tem uma produtora de mídia, além de atuar no mercado de telefonia móvel em países como Áustria, Hungria, Suíça e África do Sul. É pela Red Bull Media House que está sendo lançado o filme sobre a vida do canadense Shane McConkey (ainda sem previsão de lançamento no Brasil). McConkey, um pioneiro no salto de penhascos com paraquedas e no esqui em grandes montanhas, morreu em 2009 durante um salto na Itália, aos 39 anos. O atleta não conseguiu se livrar dos esquis que levava e abrir seu paraquedas a tempo. Detalhe: o slogan do filme é “One life. Live it.” (“Uma vida. Viva-a”). A questão toca num ponto delicado para a Red Bull. Nos últimos dez anos, ao menos cinco atletas que divulgavam a marca em arriscadas estripulias morreram na execução das ações radicais: um perdeu a vida num acidente de paraquedas, outro ao pular de parapente e três ao praticarem base jumping. Da mesma forma que divulga 74 istoé 2016
como virais as fotos impressionantes dos feitos de seus atletas, todas as vezes em que algo dá errado, a companhia zela pelas imagens dos acidentes e limita-se a lamentar os ocorridos em suas declarações à mídia. Um documentário produzido pela rede de comunicações alemã Deutsche Welle, chamado “The Dark Side of Red Bull” (“O Lado Negro da Red Bull”), explora o impacto negativo das mortes em acidentes com atletas e questiona se a empresa não pode estar exagerando na fórmula. “Esporte radical é sinônimo de alto risco, e quem pratica está disposto a morrer, desde que tenha uma experiência única”, diz Clarisse Setyon, da ESPM. A lógica por trás disso é que, se morrerem, os atletas se tornam mártires. Para Jonas Feliciano, da Euromonitor, isso segue uma velha receita dos marqueteiros. “Notícia ruim, ainda assim, é notícia”, afirma. É exatamente assim que Mateschitz parece pensar. À Bloomberg, ele disse uma vez: “A coisa mais perigosa para uma marca é o baixo interesse.” Desse mal a Red Bull, definitivamente, não sofre.
Ousa d a N O e spOrte , a re d B ull é CON se rva d O r a N Os NeGóC i O s . A empresA f i co u 15 Anos se m lAnçAr pr o du to s
e NerGia pura o s nú me ros dA r e d Bu l l mos trAm qu e A Apos tA nos es porte s rA dicAis trAz re s u ltAdos finAnce iros
• em 2012, foram vendidos 5,226 bilhões de energéticos red Bull no mundo inteiro. isso representa um aumento de 12,8% em relação ao ano anterior • no Brasil, foram comercializados 191 milhões de latas red Bull, um crescimento de 10% sobre 2011 • no ano passado, o faturamento da companhia cresceu 15,9%, de 4,253 bilhões de euros para 4,930 bilhões de euros. entre 30% e 40% desse montante é reinvestido em marketing e atividades promocionais • África do sul (+52%), Japão (+51%), Arábia saudita (+38%), frança (+21%), estados unidos (+17%) e Alemanha (+14%) são os países onde a marca mais cresce • A empresa tem 9 mil funcionários espalhados por 166 países • são mais de 600 atletas patrocinados pela red Bull nos cinco continentes • no Brasil, a empresa apoia 15 atletas em diferentes modalidades, como o surfe (maya gabeira, carlos Burle e Adriano de souza), o skate (sandro dias e pedro Barros) e o vôlei de praia (Alison cerutti)
TRaGÉdIa: O canadense Shane McConkey morreu ao saltar de um penhasco, em 2009. ele estava a serviço da Red Bull
GOSTO PelO RISCO Surfistas em Fiji (no alto), atleta praticando base jump na Grécia (acima) e salto de esqui em montanhas nevadas de engelberg, na Suíça (à dir.): a empresa investe 1,8 bilhão de euros por ano em atividades radicais como essas As fotos desta reportagem foram cedidas pela red Bull e fazem parte do concurso red Bull ilumme (www.redbullilume.com)
copa do mundo
Domingo, eu fui ao maracanã, fui torcer pro time que sou fã Ou: O lOngamente adiadO reencOntrO de um flamenguista cOm O gigante que sediará a cOpa dO mundO por marcelo madureira
fotos: arquivo geral do rio de Janeiro/reprodução | agência o globo
Defesa torcedor na geral do maracanã, em 1976, durante clássico entre flamengo e fluminense: preços populares e público diversificado
copa do mundo
Havia nove anos que não punha os pés no Maracanã. A última vez foi quando o Flamengo perdeu para o Santo André, quando só precisava empatar para levar a Copa do Brasil de 2004. Naquela noite de triste memória, o estádio estava completamente tomado pela massa rubro-negra. O desconforto era enorme, não tinha nem água da bica para beber. Fiquei tão injuriado que prometi a mim mesmo que nunca mais voltaria ao que já fora “o maior estádio do mundo”. Vida que segue, o Brasil foi escolhido como sede do mundial de futebol e o Maracanã foi reformado. Tal e qual uma provecta perua, submeteu-se a uma cirurgia plástica que custou uma fortuna. Como pacato cidadão pagador de impostos, resolvi quebrar a minha promessa e fui assistir a Flamengo e Criciúma, no dia 29 de setembro de 2013, pelo Campeonato Brasileiro, no Novo Estádio Mário Filho. Afinal, precisava inspecionar a obra que também havia financiado. Cheguei à estátua do Bellini 40 minutos antes de começar o jogo e encontrei uma fila homérica para comprar ingresso. Mas, para minha surpresa, depois de 25 minutos, estava de posse da minha entrada. Não fui importunado por nenhum cambista, coisa comum no Maracanã de outrora. Paguei, numa inteira, R$ 60, preço bem salgado para um brasileiro médio. O lugar era na arquibancada coberta superior. Para o Flamengo, o jogo era de vida ou morte, e a torcida do Mengão compareceu em peso para dar força ao time. Mesmo assim, às 16 horas em ponto, já estava sentado em meu lugar. 78 istoé 2016 fotos: arquivo geral do rio de Janeiro/reprodução | marcelo moreira/futura press | shutterstock
passaDo e presente público deixa o maracanã em 1950, ano da fatídica derrota para o uruguai na final da copa do mundo (acima, à esquerda); torcida em amistoso da seleção contra a inglaterra, em junho de 2013 (à esquerda); torcedor do flamengo grita durante partida contra o criciúma válida pelo campeonato Brasileiro, em setembro deste ano (acima)
Percebi que um momento mágico do Maracanã havia se perdido. Era quando se entrava no estreito e escuro túnel que dava acesso às arquibancadas – uma sensação incrível porque, dentro do túnel apertado e escuro, reinava um clima de silêncio e tensão. De repente a arquibancada se abria em sons, em múltiplas cores, com o sol da tarde e o calor da torcida. Era, como disse, um momento mágico, uma espécie de “parto futebolístico”. Comparando com o passado, o estádio estava um brinco. A cadeira muito mais confortável do que a antiga arquibancada de cimento. Mas faltava algo ali naquele conforto. O calor da torcida diminuiu bastante. Há bem menos bandeiras tremulando e, também, talvez devido ao preço do ingresso, um público bem mais educado. É diferente dos antigos tempos de arquibancada, quando a torcida se espremia para assistir ao jogo e sempre cabia mais um. Subitamente, nascia ali uma amizade profunda entre os torcedores. Tornávamos “brothers in arms”, irmãos de guerra, lutando e sofrendo juntos na mesma batalha. Comemorando cada gol com abraços e tapas nas costas, como se tivéssemos anos de convivência. Isso, neste Maracanã padrão Fifa, nunca mais. Uma mudança positiva é que ficou melhor para ver o jogo. O torcedor está bem mais perto do campo, e, na próxima vez, quero ver se arrumo um lugar em frente ao gramado. Presumo que ali seja o melhor lugar para se sentir o clima dentro do campo. Os telões também colaboram para se acompanhar melhor o espetáculo. Só acho que poderiam ser um pouco maiores e que deveriam dar, pelo menos, o replay dos gols. Já a nova iluminação metida a modernosa parece mais coisa de veado.
Patrocínio:
Uma falha imperdoável é que os vendedores de mate, cachorro-quente e pipoca não podem mais ficar pela arquibancada. Também pudera: com as cadeiras, o espaço de circulação ficou muito limitado. Se o torcedor quiser sair para ir ao bar ou ao banheiro, necessariamente vai incomodar um monte de gente. Por falar em banheiros, constatei um avanço inacreditável. Quem conheceu os sanitários do Maracanã antigo sabe que eram verdadeiras sucursais do inferno. Hoje se pode fazer um pipi no Maracanã sem se afogar em urina alheia. Os banheiros são razoavelmente limpos e modernos. Já os bares deixam a desejar. As filas são intermináveis: uma para comprar a ficha, outra para pegar a comida (ou bebida). Os funcionários não estão bem treinados, não têm método para servir as pessoas que se acotovelam no balcão. Para beber, só tem cerveja sem álcool, vê se pode! E o cachorro-quente, que ainda é o tradicional e saboroso Geneal, estava em falta nos três bares em que procurei pelo bicho. E Maracanã sem cachorro-quente não existe. Tenho dito.
quem cOnheceu Os sanitáriOs dO maracanã antigO sabe que eram verdadeiras sucursais dO infernO. hOje se pOde fazer um pipi sem se afOgar em urina alheia
gestão
Todo o poder aos aTleTas a eleiÇão do ex-esgrimista alemão thomas Bach para o principal cargo do comitê olímpico internacional confirma: o comando está, cada vez mais, nas mãos dos esportistas por mariana bastos
experT Na eleição para a presidência do CoI, o alemão Thomas Bach, medalha de ouro na esgrima na olimpíada de Montreal, em 1976, derrotou de lavada um rival que não tinha experiência como atleta
Um esgrimista sUcedeU Um velejador no topo da hierarqUia olímpica. Depois de ocupar por 12 anos o cargo mais alto do esporte mundial, o belga Jacques Rogge, 71 anos, que competiu na classe Finn nos Jogos da Cidade do México-1968, Munique-1972 e Montreal-1976, acaba de passar o bastão. O novo presidente eleito do Comitê Olímpico Internacional (COI) é Thomas Bach, 59 anos, um alemão especialista no florete que ganhou o ouro olímpico em 1976. Assim como o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna e primeiro presidente do COI, Pierre de Coubertin, Bach aprendeu com o esporte habilidades fundamentais para obter sucesso nos bastidores políticos. Teve paciência para galgar os degraus que o levariam ao cargo máximo do movimento esportivo. Contando com o suporte do ex-presidente Juan Antonio Samaranch, o alemão se tornou membro do COI em 1991. Em 1996, entrou para o comitê executivo da entidade, e em 2000 chegou a vice-presidente. Foi somente após uma longa trajetória de 22 anos no COI, atuando nas mais diversas áreas, entre as quais antidoping, direitos de tevê e coordenação das cidades-sedes, que o esgrimista fez o lance decisivo para chegar ao topo. Bastou candidatar-se uma vez para ser eleito. O que fez a diferença foi a sólida carreira construída após a aposentadoria da esgrima. O alemão Bach, que também é fluente em inglês, francês e espanhol, se formou em direito e, por muitos anos, trabalhou como diretor de relações internacionais da Adidas, onde começou a montar sua rede de influências. “Thomas Bach trouxe para o cargo uma experiência mais ampla do que os candidatos anteriores, incluindo Jacques Rogge e Juan Antonio Samaranch”, disse Michael Payne, excolega de Adidas de Bach e ex-diretor de marketing do COI, ao jornal “Financial Times”. Uma carreira fortemente estruturada na área dos negócios, no entanto, é vista como um alerta. Antes de ser eleito, Bach foi acusado de usar sua influência no COI para beneficiar contratos com a Siemens, empresa para a qual prestava consultoria. “Não há mais espaço para amadorismo no esporte olímpico”, afirma Katia Rubio, professora e pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP). Para ela, a oligarquia que comandou o esporte ao longo do século XX precisa ser substituída pela competência empresarial que cuida dos grandes negócios no mundo. “O grande desafio é conduzir tudo isso dentro dos ideais olímpicos, senão o esporte será apenas mais uma mercadoria de consumo em um mundo marcado pelo poder de troca”, diz Katia. “A marca maior do esporte olímpico é a capacidade de emocionar. Se o atleta e a competição perderem isso, o movimento se esvaziará e a galinha dos ovos de ouro pode morrer de inanição.” Embora a maioria dos 111 membros do board do COI seja composta por pessoas que nunca disputaram os Jogos Olímpicos, há uma tendência de incluir mais esportistas em seus quadros. Entre os 13 membros que assumiram suas cadeiras neste ano, só quatro não foram atletas de elite. Sete disputaram ao menos uma edição olímpica. Juntos, somam 19 medalhas, sendo nove de ouro, sete de prata e três de bronze. Entre os escolhidos, destacam-se dois nomes muito conhecidos pelos brasileiros. O queniano Paul Tergat ganhou duas pratas olímpicas nos 10.000 m, mas, no Brasil, sua fama se deve às cinco conquistas na Corrida de São Silvestre. O outro novo membro do COI é o carioca Bernard Rajzman, integrante da geração de prata do vôlei nacional, que obteve o segundo lugar na Olimpíada de Los Angeles-1984. Ganhou a vaga no comitê após receber 81 votos a favor, 12 contra e uma abstenção.
Fotos: Milena Boniek/photoalto | Carl smith/Ge tty | reprodução | alexander Hassenstein/Getty
gestão
Na década de 1980, Bernard sacudia os ginásios do Brasil e do mundo com um saque novo que inventara: o “jornada nas estrelas”, que consistia em lançar a bola o mais alto possível, quase sempre próximo ao teto, para dificultar a recepção do adversário. Depois que deixou as quadras, Bernard, 48 anos, enveredou para a política. Foi secretário nacional de Desportes do governo Collor entre 1991 e 1992, e, em 1994, ganhou a eleição para deputado estadual no Rio de Janeiro. Figurou também como subsecretário estadual de Esportes para o Pan do Rio. Em 1995, justamente quando Carlos Arthur Nuzman assumiu a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foi convidado para ser membro da entidade e começou a ser lapidado pelo presidente para se tornar um futuro cartola. Nos últimos cinco Jogos Olímpicos, foi chefe da delegação brasileira. “A minha vida foi toda dedicada ao esporte”, diz Bernard. “O conjunto da minha experiência, dentro e fora das quadras, me faz sentir capacitado a integrar a organização mais importante do esporte mundial.” Considerado até hoje modelo de gestão do esporte olímpico no Brasil, o vôlei tem revelado um número cada vez maior de cartolas, incentivados sobretudo por Nuzman. “A transição não é fácil e, por isso mesmo, deve ser pensada com boa antecedência”, afirma Bernard. Para o ex-atleta, a geração de prata é um exemplo disso. “Curiosamente, todos os jogadores que conquistaram a medalha de prata em Los Angeles seguiram carreira no esporte”, diz. Um de seus companheiros de quadra é braço forte do COB. Marcus Vinícius Freire é o atual superintendenteexecutivo de esportes da entidade. Todo o planejamento voltado para a conquista de medalhas nos Jogos do Rio, em 2016, passa por ele. “Acho fundamental a participação de ex-atletas no processo de gestão do esporte”, afirma Bernard. “O atleta passa por diversas situações durante a carreira que facilitam o entendimento das prioridades quando ele se torna um gestor.” Para a professora Katia Rubio, no entanto, apenas o conhecimento dos meandros internos do esporte não basta. “Se o atleta, depois de viver tudo isso, buscar capacitação, unindo essa experiência única aos conhecimentos de administração e gestão que o esportenegócio precisa hoje, ele será um dirigente acima da média.”
Embora a maioria dos 111 membros do board do COI seja composta por pessoas que nunca disputaram os Jogos Olímpicos, há uma tendência de incluir mais esportistas em seus quadros. Entre os 13 membros que assumiram suas cadeiras neste ano, só quatro não foram atletas de elite. Sete disputaram ao menos uma edição olímpica. Juntos, somam 19 medalhas, sendo nove de ouro, sete de prata e três de bronze 82 istoé 2016
jorNada Na CarTolaGeM Bernard rajzman, destaque da geração de prata do vôlei e criador do saque "jornada nas estrelas", foi lapidado no Comitê olímpico Brasileiro antes de ser eleito para o CoI, neste ano
O s at l et as nO pOd er o Comitê olímpico Internacional tem 111 membros. destes, 40 são ex-atletas olímpicos (28 conquistaram medalhas) esporte
9 do atletismo 5 de esportes de inverno
destaqUe serGey BuBka (uCr) • ouro, seul-1988 yaNG yaNG (CHN) • doIs ouros, duas praTas e uM BroNze – NaGaNo-1998, salT lake CITy-2002 e TurIM-2006)
4 do hipismo
prINCesa aNNe (GBr) • MoNTreal-1976
3 da vela
BarBara keNdall (Nzl) • uM ouro, uMa praTa e uM BroNze – BarCeloNa-1992, aTlaNTa-1996 e sydNey-2000
3 da esgrima
THoMas BaCH (ale) • ouro – MoNTreal-1976
3 do remo
aNITa deFraNTz (eua) • BroNze – MoNTreal-1976
3 do tiro esportivo
daNka BarTeková (esv) • BroNze – loNdres-2012
3 da natação
alexaNder popov (rus) • quaTro ouros e CINCo praTas – BarCeloNa-1992, aTlaNTa-1996 e sydNey-2000
2 da canoagem
ToNy esTaNGueT (Fra) • Três ouros – sydNey-2000, aTeNas-2004 e loNdres-2012
2 do vôlei
BerNard rajzMaN (Bra) • praTa – los aNGeles-1984
1 do hóquei sobre a grama
Barry MaIsTer (Nzl) • ouro – MoNTreal-1976
1 do nado sincronizado
NICole HoeverTsz (aru) • los aNGeles-1984
1 do tae kwon do
MooN dae-suNG (Cds) • ouro – aTeNas-2004)
Fotos: shutterstock | Hannah johnston/Getty
tênis
POR MAURÍCIO OLIVEIRA, DE CAMBORIÚ FOTOS CARLOS ROCHA
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LARRI PASSOS TENTOU SER TENISTA, MAS DESCOBRIU NA CARREIRA DE TÉCNICO A VERDADEIRA VOCAÇÃO. O ESTILO DISCIPLINADOR QUE AJUDOU GUGA A SER O NÚMERO 1 DO MUNDO CONTINUA A FORMAR TALENTOS PARA O ESPORTE BRASILEIRO
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EM FEVEREIRO DO ANO PASSADO, QUANDO NASCEU MARIA AUGUSTA, PRIMEIRA FILHA DE GUSTAVO KUERTEN, O EX-TENISTA LIGOU IMEDIATAMENTE PARA LARRI PASSOS, SEU TREINADOR AO LONGO DE 15 ANOS E PARCEIRO DE CONQUISTAS COMO O TRICAMPEONATO EM ROLAND GARROS E A LIDERANÇA DO RANKING MUNDIAL POR 43 SEMANAS. “Tua neta chegou, vovô”, disse Guga, levando às lágrimas o emotivo Larri. A cena sintetiza a força das relações que o treinador estabelece com os pupilos. Guga é o exemplo mais conhecido, duradouro e significativo – juntos, conquistaram 28 títulos e US$ 14,6 milhões em prêmios –, mas desde que o vínculo profissional entre os dois chegou ao fim, em 2005, várias outras histórias foram sendo construídas por Larri. “O que sempre fica é o carinho pelos atletas com quem trabalhei”, diz o técnico, de 55 anos. “São como pessoas da família, das quais quero sempre ter notícias.” É assim com Tamira Paszek, que ele treinou entre 2005 e 2007, quando a austríaca chegou à 35ª posição do ranking mundial com apenas 15 anos de idade. E também com a eslovaca Daniela Hantuchová, uma das musas do tênis mundial, que convidou Larri para treiná-la em 2009, num momento em que havia caído para a 40ª posição do ranking após ter frequentado o top 5. Sob a orientação do brasileiro, Hantuchová ganhou confiança para barrar a queda e se consolidar como tenista de elite. No fim de 2010, Larri se tornou treinador do brasileiro Thomaz Belucci. “Esse trabalho tinha tudo para ir longe, mas depois do primeiro ano os empresários dele acharam que eu era caro demais para ser mantido”, afirma. “Não tiveram paciência para esperar resultados que certamente viriam dali em diante.” No momento em que houve o rompimento, no final de 2011, Belucci estava em 38º lugar no ranking da ATP. Atualmente, está acima da centésima posição – e caindo. Depois de Belucci, Larri optou por não ser mais treinador exclusivo, apesar de ter recebido várias propostas. Passou a se dedicar à equipe de sua academia de tênis em Camboriú (SC), que inclui jovens talentos vindos de diversas partes do País. O principal motivo da decisão foi a oportunidade de ficar mais tempo ao lado da mulher, a jornalista Carla, e das filhas, Betina, 9 anos, e Sofia, 6. “Por muitos anos eu quase não vivi nada além do tênis”, afirma. “Chegou a hora de colher os frutos desse sacrifício”, diz ele, pai também de Davi, de 16 anos, nascido de um relacionamento rápido com uma fã. Larri conheceu Carla há dez anos, em Acapulco, no México, quando ela trabalhava na ESPN e foi escalada para fazer reportagens para o programa “Nas pegadas do campeão”, que acompanhava Guga em seus torneios pelo mundo. Depois de um jantar, os dois começaram a se falar com frequência e não tardou para que a amizade evoluísse para um namoro. “Sempre admirei a honestidade inabalável do Larri e sua dedicação intensa a tudo o que faz, tanto no trabalho quanto na vida pessoal”, derrete-se a esposa. Além da vontade de ficar perto da família, outro fator que Larri levou em conta ao escolher o novo rumo da carreira foi a percepção de que os melhores resultados obtidos em sua trajetória se deram com pupilos ainda muito jovens, a exemplo de Guga e Tamira. “Com a má qualidade da base no Brasil, um país sem política de formação de tenistas, as crianças logo ficam tortas, com
tênis
erros de postura e de empunhadura”, diz. “Até certa idade dá tempo de corrigir, mas com jogadores mais velhos fica bem complicado.” Os pais dos alunos da academia se interessam não apenas pela comprovada capacidade de Larri como treinador, mas também por seu perfil disciplinador e rigoroso no que diz respeito ao comportamento, tanto dentro quanto fora das quadras. Ele espera que os alunos consigam alcançar o estágio que costuma chamar de “sofrer com felicidade”. “Já que é inevitável repetir um determinado exercício 50 vezes, que isso seja feito com entrega plena, porque mau humor e corpo mole não vão ajudar em nada”, diz. Larri sempre foi exigente, mas não deixa de se mostrar compreensivo em momentos difíceis. Sua fórmula de liderança mescla rigor e afeto em doses precisas. Guga lembra que uma das regras estabelecidas pelo treinador era o prazo de apenas uma hora para lamentar uma derrota. “Era o tempo que eu tinha para chorar, gritar, xingar, fazer o que quisesse para absorver aquela frustração”, diz o tricampeão de Roland Garros. “Daí em diante, era aprender com os erros e voltar a dar foco nos treinos.” Outro momento marcante na relação entre os dois ocorreu na comemoração da primeira conquista do célebre torneio francês, em 1997, quando Guga tinha 20 anos. “No meio de toda
aquela euforia, o Larri fez questão de dizer que nada mudaria no nosso trabalho, pois aquele havia sido apenas um passo da longa caminhada que teríamos pela frente”, lembra o ex-jogador. Manter os pés no chão foi fundamental para suportar a pressão da torcida e da imprensa ao longo do ano seguinte, em que Guga demonstrou certa instabilidade nos torneios dos quais participou. “Isso era previsível. A primeira conquista em Roland Garros foi uma antecipação dos nossos planos, já que o Guga não estava ainda entre os 50 melhores do ranking”, diz Larri. O topo só seria alcançado mais de três anos depois, em dezembro de 2000. O treinador acredita que outros campeões podem surgir em sua academia – e trabalha duro para que isso aconteça. “Continuo respirando tênis o dia todo”, diz. A academia conta com estrutura de hospedagem para alunos que vêm de fora – a Casa dos Atletas, com capacidade para um treinador-supervisor e oito jogadores. Larri considera que sair o quanto antes para jogar torneios no Exterior é uma estratégia fundamental para desenvolver tenistas competitivos. “Para quem pretende ir realmente longe, ficar jogando apenas aqui no País é perda de tempo”, diz. “Na Europa, cada partida é uma pedreira e aprende-se muito nessas circunstâncias.” Claro que tudo isso exige um
GOLPE CERTO: Larri dá aula na academia em Camboriú (SC). Sua fórmula de liderança mescla rigor e afeto em doses precisas
volume considerável de investimentos. Por isso, o técnico desenvolveu parcerias que asseguram hospedagem para seus atletas em alguns países europeus. Nos primeiros anos da carreira de Guga, os dois chegaram a passar três meses seguidos longe de casa, praticamente incomunicáveis, participando de torneios na Europa. “Para suportar a saudade, a gente simplesmente esquecia que o Brasil existia”, diz Larri. “Já os jovens de hoje são imediatistas e têm dificuldades para fazer sacrifícios em nome do futuro.” Para ele, as redes sociais e os recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia são prejudiciais. “É só dar uma brecha que estão todos lá, mexendo em algum aparelhinho e deixando a concentração se dispersar.” Com dez funcionários, a academia se mantém exclusivamente com a renda das aulas e o apoio de empresários. Durante um ano, ele chegou a receber um salário como coordenador do chamado Projeto Olímpico do tênis brasileiro, mas o patrocínio governamental foi suspenso em abril, depois que investigações da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU) colocaram sob suspeita o uso das verbas pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT). A confederação atribuiu o problema à dificuldade dos órgãos fiscalizadores em compreender os remanejamentos de passagens e de locais de hospedagem típicos do cotidiano dos tenistas, que não sabem exatamente quanto tempo ficarão em cada lugar, já que dependem dos resultados dos jogos. Nessa polêmica, Larri não defende lado algum, a não ser o seu próprio e o do tênis brasileiro. “Foi uma grande decepção, e ainda tive meu nome associado a irregularidades”, diz. “Nunca mais quero saber de verba do governo. Escreve isso, por favor, para que eles nunca mais me convidem.” Larri não cansa de trabalhar no aprimoramento dos atletas em que identifica potencial. Ao longo da entrevista, não tirou os olhos do tenista que treinava na quadra em frente: o canhoto Thiago Monteiro, 19 anos, que vive seu primeiro
ano como profissional e já conseguiu entrar no grupo dos 300 primeiros do ranking da ATP. “Só há dois outros tenistas da mesma idade à sua frente no mundo inteiro”, diz. Seguindo a cartilha aplicada a Guga, Thiago passou quase três meses na Europa, entre junho e agosto. Em meados de setembro, ele partiu para uma sequência de sete challengers pela América do Sul, com a perspectiva de acumular pontos importantes para escalar mais posições no ranking. Nascido em uma família humilde de Fortaleza (CE), Thiago treina na academia de Larri desde os 14 anos. Com a batida firme na bola que demonstrava desde cedo, começou como “sparring” de Daniela Hantuchová, treinada por Larri à época. “O Thiago vive longe da sua terra e os primeiros tempos não foram fáceis, mas hoje ele entende que no tênis só sobrevive quem se doa 100%”, diz o treinador. A mesma lógica pode ser aplicada ao aspecto financeiro: todos os investimentos feitos na formação do atleta ultrapassam com folga os US$ 32 mil que ele recebeu até agora como premiação. “É essa noção de longo prazo que muitas vezes falta às pessoas que trabalham com o esporte, aos patrocinadores e ao governo”, diz. “Hoje, é muito difícil chegar entre os 100 primeiros do ranking mundial antes dos 26 anos.” A equipe de Larri ainda conta com uma estrela em ascensão do tênis feminino, a paulista Bia Haddad, 17 anos, que também já está entre as 300 primeiras do ranking mundial. Ela voltou às quadras em setembro, depois de dois meses de recuperação de uma lesão no ombro direito sofrida ao escorregar durante um torneio em Campinas (SP). Bia se mudou aos 14 anos para Camboriú. Sem ter os pais por perto, foi “adotada” por Larri e Carla nos primeiros tempos. Hoje, mora sozinha em um apartamento de Balneário Camboriú, cidade litorânea ao lado de Camboriú, mas continua muito ligada à família do treinador. Durante o período de fisioterapia, que ela realizou em São Paulo, os contatos com o treinador continuaram diários. Um diferencial, ressalta a tenis-
“nunca mais quero saber de verba do governo”, diz Larri, sobre possíveis irregularidades cometidas pela Confederação de tênis na distribuição de recursos para alavancar o esporte. “Quero que eles nunca mais me convidem” ta, é o respeito com que ele é visto no circuito internacional. Antes da contusão, os dois ficaram sete semanas participando de torneios na Europa. “Chegar com o Larri faz as outras atletas terem mais respeito por mim”, diz Bia. Foi quando era um pré-adolescente que o tênis cruzou o caminho de Larri. Ele considera que o jogo o salvou. Nascido em Rolante (RS) e criado em Novo Hamburgo (RS), o menino vinha de uma família desestruturada pelo alcoolismo do pai, Almiro. Aos 11 anos, Larri convenceu a mãe, Orestina, a sair de casa junto com os três irmãos mais novos – os quatro mais velhos já haviam buscado um rumo próprio. Orestina foi trabalhar como cozinheira na Sociedade Aliança, um clube da cidade. Enquanto esperava pelo fim do expediente para voltar com ela para casa, às onze e meia da noite, o menino observava as partidas de tênis. Um dia, perguntaram se ele queria recolher as bolas, o que começou a fazer com entusiasmo. Não tardou para que aprendesse a contagem. Quando o administrador do clube o presenteou com uma raquete, Larri não teve dúvidas de que havia uma espécie de presságio naquele ato: nela estava inscrito o número 1957, justamente o ano do seu nascimento. O jovem decidiu se tornar tenista e chegou a disputar torneios. Quando entrou na universidade para cursar educação física, o tempo exigido pelos estudos e a falta de condições financeiras para bancar as viagens o fizeram optar por outra variedade da mesma paixão: ensinar tênis. “Eu jamais teria ido além de 300º
no ranking mundial”, diz. Larri começou a dar aulas na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo e, a partir daí, apostou no aprimoramento como treinador. Fez o célebre curso do mestre australiano Harry Hopman, radicado nos Estados Unidos. Para bancar a passagem aérea e a permanência de um mês no Exterior, propôs um acordo aos empregadores: pegaria um adiantamento e permaneceria três anos com o mesmo salário ao voltar da viagem. “O curso valeu muito a pena e os três anos seguintes foram uma dureza, ainda mais naqueles tempos de inflação alta”, lembra. “Mas eu tinha dado a minha palavra e cumpri o combinado.” Depois de mais de duas décadas sem se aproximar do pai, Larri teve a oportunidade de conversar com ele e perdoá-lo. “Quando a gente perdoa, a gente se liberta”, diz. Tanto o pai quanto a mãe morreram no mesmo ano, 2002. Ela em fevereiro, ele em agosto. Embora tenha tido criação católica, Larri se aproximou dos ensinamentos do espiritismo, em que busca compreensão para muitos dos fatos ocorridos em sua vida – como a promessa que fez ao pai de Guga de que treinaria o garoto. Algum tempo depois, a inesperada morte de Aldo Kuerten, aos 41 anos, vitimado por um ataque cardíaco fulminante, o impeliu a cumprir o juramento. “Há uma lógica que só começa a fazer sentido quando a gente compreende o nosso propósito na Terra”, diz. “Não acho que as pessoas passam nas nossas vidas pelo simples acaso.”
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EXTRAÇÃO PREDATÓRIA, FALTA DE FISCALIZAÇÃO, FECHAMENTO DE PONTOS DE VENDA E SUCATEAMENTO DE BARCOS PREJUDICAM A PRODUÇÃO DE PESCADO NO RIO DE JANEIRO
POR RAFAEL PEREIRA
Foto: Shutterstock
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COMPETIÇÃO DESIGUAL: pescador disputa espaço com navio cargueiro na Baía de Guanabara
OS PEIXES SUMIRAM O pescador Carlos Eduardo da Costa, o Pixico (no alto), e seu barco na Colônia Z-13, que existe desde 1923 em Copacabana: "Antigamente, era normal voltar com 100 kg no barco, o dobro do que consigo hoje nos dias bons"
Carlos Eduardo da Costa, o PixiCo, 31 anos, aCorda todos os dias às 5 horas Para tomar o rumo do mar. Da favela do Pavãozinho, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ele observa o céu para ver as condições do tempo e desce o morro a pé até a orla de Copacabana. Ali, na região do Posto 6, funciona desde 1923 a Colônia de Pescadores Z-13, tradicional entreposto de venda de peixe fresco do bairro. Pixico é pescador desde os 11 anos, mas foi aos 15 que herdou o pequeno barco da mãe, que tinha acabado de morrer, e resolveu largar a escola antes de ingressar no ensino médio para transformar a pesca em profissão. Desde então, sai cedinho da costa munido de rede e linha para trazer o sustento da mulher e dos dois filhos. Em dias bons, a pescaria da manhã rende corvinotas, olhos-de-cão, tainhotas e paratis, que chegam a somar 40 kg. Às 10 da manhã, no máximo, o barco de Pixico está de volta e o peixe é vendido na própria colônia. À tarde, o processo se repete, dessa vez com foco na linha e no anzol, para pegar os peixes maiores. Mas isso em dias bons. Em dias ruins, cada vez mais comuns, ele volta para casa sem um peixe sequer para vender. Pixico, o último de sua família de pescadores a seguir a profissão, é remanescente de uma tradição há décadas desvalorizada no Estado do Rio de Janeiro. Há 20 anos, quando ele lançou a rede ao mar pela primeira vez, o Rio era o maior produtor de pescado do País. Hoje, segundo o último levantamento publicado em 2010 pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, foi ultrapassado por Santa Catarina e Pará na produção de pesca extrativa (se entrar na conta a aquicultura, o cultivo de pescado em cativeiro, o Rio cai para sétimo lugar). O carioca tem um consumo de peixe per capita anual de mais de 20 kg, bem maior que a média nacional de 9 kg, mas boa parte desse peixe vem de outros Estados e de países como Chile e Noruega. A Z-13, em Copacabana, uma das 25 colônias de pescadores artesanais do litoral fluminense, é um pequeno exemplo dos efeitos desse declínio. Aos poucos, perde importância econômica para virar apenas uma relíquia pitoresca do passado, uma atração turística. “A colônia, que já teve mais de 100 pescadores, hoje tem, no máximo, 30”, afirma Pixico. “A velha guarda foi morrendo e os jovens perderam o interesse.” E o motivo não é cultural. O maior problema é a falta de peixe. “Antigamente, era normal voltar com 100 kg no barco, o dobro do que consigo hoje nos dias bons”, diz o pescador.
Fotos: Masao Goto FIlho/Ag. IstoÉ | Luiz Ab
O declínio da economia pesqueira no Rio de Janeiro ocorreu por uma série de fatores, desde a pesca predatória e a falta de fiscalização até o sucateamento da estrutura logística do setor, o que afastou as grandes indústrias. Mas existe um marco simbólico do descaso: o fim do tradicional Mercado do Peixe da Praça XV, no centro da cidade, que funcionava ali sem fiscalização desde a época do Império. Em 27 de maio de 1991, as autoridades da época interromperam a venda de peixes na região alegando falta de condições sanitárias. Os pescadores da época afirmaram que o verdadeiro motivo foi um esforço do poder público para “maquiar” o centro do Rio à véspera da chegada dos chefes de Estado para a realização da Eco92, a cúpula das Nações Unidas que disseminou no mundo o conceito de desenvolvimento sustentável. O atual presidente da Associação dos Pregoeiros de Pescados e Afins do Rio de Janeiro (Appaerj), Francesco Tommaso “Franco”, já era envolvido com a venda de pescado e estava lá quando o mercado fechou. Teve que migrar do centro para o bairro de Irajá, na zona norte do Rio, onde funcionam as Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa). “Do dia para a noite tivemos de nos instalar no estacionamento do Ceasa e trabalhar ao ar livre, com lampiões na mão”, afirma Tommaso. Em poucos meses, o mercado ganhou um teto provisório no Pavilhão 12 do Ceasa até que encontrasse um lugar para se estabelecer. Passaram-se 22 anos e, hoje, o Mercado do Peixe, o maior atacado de pescado do Estado e um dos maiores do País – são entre 200 e 300 toneladas comercializadas todos os dias –, continua exatamente no mesmo lugar. “Sofremos com incontáveis promessas não cumpridas, trabalhando esse tempo todo com a insegurança”, diz Tommaso. “Sempre que entra um governo novo nós temos de começar do zero o namoro para retomar as negociações.” O último “namoro” de Francesco Tommaso foi com Felipe Peixoto, o secretário de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca do Rio desde 2010. Na última semana de setembro de 2013, Peixoto apresentou aos pregoeiros de pescado o projeto do Novo Mercado do Peixe, em um terreno já cedido para isso no próprio Ceasa. A estrutura terá 60 boxes, uma área de embarque e desembarque para 260 caminhões e uma fábrica de gelo, além de restaurantes e vagas para visitantes. “Pretendemos iniciar a licitação ainda este ano”, afirma Peixoto. Tudo está ainda no plano das ideias, mas a previsão de entrega é para 2018.
O novo Mercado do Peixe resolveria apenas um dos problemas ocasionados em 1991, deixando dois outros grandes entraves para a economia da pesca no Estado. O primeiro deles, também consequência do fechamento do antigo mercado, foi a pulverização do desembarque do pescado. Já não havia estrutura naquela época – os barcos pesqueiros disputavam o pouco espaço disponível com as barcas e lanchas que fazem até hoje o transporte entre o Rio e a cidade de Niterói, também na Região Metropolitana –, mas o pescado seguia todo para o mesmo lugar, boa parte através da Baía de Guanabara. Com o fechamento do mercado, o desembarque dos barcos carregados de peixe passou a ser feito em mais de 40 pontos distintos na Baía, segundo estimativa da Fundação Instituto da Pesca (Fiperj), do Governo do Estado. Hoje, os principais portos estão nas cidades de Niterói, São Gonçalo, Angra dos Reis e Cabo Frio. O segundo problema é financeiro. As grandes empresas de beneficiamento (que preparam o peixe para o consumidor final) migraram para Santa Catarina, que modernizou nesse período o Porto de Itajaí, o segundo maior do País, e a frota de barcos pesqueiros (confira quadro). “Grande parte da sardinha e do atum pescados no Rio é processada nas empresas que saíram daqui para se instalar em Santa Catarina”, diz o secretário Peixoto. “É comum encontrarmos trabalhadores daqui que estão trabalhando lá.” O resultado mais cruel disso é que, segundo a Appaerj, cerca de 80% das 200 mil toneladas de pescado comercializadas por dia no Mercado do Peixe do Rio de Janeiro vêm de fora do Estado.
92 istoé 2016
Junto com o dinheiro das empresas, foi também para Santa Catarina o dinheiro do financiamento público do setor. O governo federal colocou, via Plano Safra, R$ 4 bilhões disponíveis para financiamento de projetos de pesca e aquicultura. Desses, R$ 800 milhões já foram liberados e a imensa maioria foi para Santa Catarina. “É natural que, com o maior poderio industrial, Santa Catarina buscasse, até agora, a maior fatia dos recursos. Mas não levou tudo não”, afirma Marcelo Crivella, carioca e atual ministro da Pesca e Aquicultura. “O Rio de Janeiro foi uma das maiores vítimas da falta de política de governo para o setor”, diz o ministro. “Mas estamos trabalhando em parceria com as federações e colônias de pesca para informar os pescadores e instruí-los quanto à oferta de crédito.” Sem dinheiro, os pescadores do Rio não tiveram condições de modernizar a frota de embarcações que, segundo todas as autoridades do setor, estão sucateadas. Boa parte dos pescadores órfãos do antigo mercado da Praça XV atravessou a Baía de Guanabara e passou a vender seus peixes no tradicional Mercado São Pedro, no centro de Niterói. José Augusto Monteiro, presidente da associação que gerencia o funcionamento do mercado, afirma que a condição dos barcos é um problema para a qualidade do produto. “No Rio, a maioria pesca como se fazia há décadas, como os pais ensinaram”, diz Monteiro. “Os pescadores não têm a tecnologia para encontrar cardumes mais rapidamente e ganhar tempo.” Já a pesca nas águas da Baía de Guanabara ficou inviável pela quantidade de óleo lançado pelas grandes embarcações.
O Mercado São Pedro vende, em média, 30 toneladas de pescado por semana, e Monteiro garante que não há peixes da Baía nos 37 boxes. “Você frita aquilo em casa e tem que sair por causa do cheiro forte de óleo. É horrível”, afirma. O grande projeto que resolveria tanto o problema do desembarque quanto o da fuga das empresas (e do capital) é a Cidade da Pesca, idealizada pelo Governo do Estado. No papel, ela consiste em um novo Terminal Pesqueiro Público, para centralizar a chegada das embarcações, e em um Condomínio Industrial com espaço para abrigar cerca de 20 empresas. O problema tem sido achar um lugar e convencer os moradores de lá a receber a estrutura, depois do trauma da Praça XV. Em 2010, o governo conseguiu uma área para a Cidade da Pesca na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, mas manifestações de moradores interromperam os planos. Atualmente, as negociações são feitas com os moradores da Ilha de Itaoca, no município de São Gonçalo. “Estamos em discussão permanente com as associações de moradores da Ilha de Itaoca e nosso plano é criar lá um distrito industrial sustentável da pesca, incluindo aí um programa de capacitação com os pescadores de lá”, diz o secretário Peixoto. Nenhum investimento será totalmente eficaz sem que haja fiscalização contra a pesca predatória nas costas fluminenses. Nesse quesito, pelo menos, o Rio de Janeiro acaba de ter uma boa notícia. No dia 1º de outubro, o governo do Estado publicou no “Diário Oficial” o decreto que cria a segunda Reserva Extrativista Marinha (Resex) do Estado – a 14a do País –, no distrito de
Itaipu, em Niterói. Na prática, uma Reserva Extrativista Marinha funciona como um Parque Nacional no mar, uma área protegida onde é proibida a pesca industrial. A primeira Resex do Estado do Rio foi criada no litoral de Arraial do Cabo em 1997 e tem 56 mil hectares. A nova, em Itaipu, é menor – tem quase 4 mil hectares –, mas seu posicionamento, bem na saída da Baía de Guanabara, é estratégico. Sua implantação demorou 17 anos e só foi possível depois de estudos de equipes de antropólogos e biólogos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e muita negociação com os membros da Colônia de Pescadores Z-7, de Itaipu. Os critérios de exploração da área ainda serão definidos, mas o plano é que a região seja exclusiva para pescadores artesanais. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), 12 embarcações vão fiscalizar a área. Outras quatro reservas marinhas ainda estão em estudo de implantação no Estado do Rio, em Barra de São João (Casimiro de Abreu), Sepetiba (zona oeste da capital), Gargaú (São Francisco de Itabapoana) e na cidade história de Paraty, no litoral sul. Não existem estudos para reservas semelhantes em Copacabana, e a tendência é que o pescador Pixico passe a voltar à Colônia Z-13 com o barco cada vez mais vazio. Seu filho Raphael está agora com 11 anos, a mesma idade que ele tinha quando começou a pescar. O menino vai com o pai para o mar e gosta da pesca – principalmente com linha e anzol, pela emoção de batalhar com o peixe. Mas Pixico não quer que o filho siga a profissão do pai, como ele mesmo fez. “Eu parei de estudar porque tive de trabalhar”, diz. “Hoje, eu trabalho para que ele estude e tenha um emprego melhor no futuro.”
Em outubro, o governo do rio oficializou a criação da segunda reserva extrativista marinha do estado, em niterói. Na prática, ela funciona como um parque nacional do mar
O DECLÍNIO DA INDÚ STRIA PESQU EIRA DO RIO NA DÉCADA DE 90, 23% DOS PESCADORES PROFISSIONAIS ERAM DO RIO. HOJE, SÃO SÓ 11%. DÉCADA DE 90 RIO DE JANEIRO: SANTA CATARINA: SÃO PAULO:
23% 21% 17%
HOJE RIO DE JANEIRO: SANTA CATARINA: SÃO PAULO: PARÁ:
11% 35% 14% 19%
ANTES, OS FLUMINENSES RESPONDIAM POR 34% DOS EMPREGOS DO SETOR DE BENEFICIAMENTO DE PEIXE. HOJE, A PARTICIPAÇÃO É IRRELEVANTE DÉCADA DE 90 RIO DE JANEIRO: SANTA CATARINA:
34% 13%
HOJE RIO DE JANEIRO: SANTA CATARINA:
5% 29%
Patrocínio:
Vida carioca
Quando anitta empina a bunda, o brasil para. É o sonho dos homens, a inveja das mulheres, a cobiça de ambos. Quando Anitta abre a boca, ninguém fica indiferente, seja para falar mal de sua música, seja para fofocar sobre as polêmicas em que volta e meia se envolve. “Tu não vai comer ninguém, hein!”, disse, meio a sério e meio de brincadeira, para um homem que atirou uma lata de cerveja em sua direção durante um show no Espírito Santo, em setembro. Bomba! O “bêbado horrível”, como ela qualificou o desqualificado, foi motivo de piada e comentários nas redes sociais por dias a fio. “Se essa porra pega na minha cabeça, eu vou para o hospital. E tenho show pra cacete pra fazer.” Anitta é a cara do Rio de Janeiro. Sexy, desbocada e irreverente, é classificada como funkeira, embora seu som esteja mais próximo do pop de Beyoncé do que dos proibidões dos morros cariocas. A identificação com a sede da próxima Olimpíada a transformou em embaixadora informal da cidade. O sucesso da menina de apenas 20 anos atravessou fronteiras. Hoje, ela marca presença em casas noturnas de Paris e Londres, além de ter frequentado as badaladas festas do Festival de Cannes, na França. O hit “Show das Poderosas”,
que mistura o jeito de ninfeta com a postura de mulher-que-sabe-o-que-quer, permanece na boca do povo há meses. A dança provocante, cheia de rebolados, abaixadas e tremidinhas, completa o fascínio. Àqueles que desdenham de sua fama e preferem ouvir Rodrigo Amarante cantando em francês, avisa: veio para ficar. “Parece repentino, mas tudo foi muito planejado”, disse à 2016. “Vou cantar até ficar velhinha.” Anitta não se chama Anitta. Larissa de Macedo Machado é o nome de batismo da cantora. A alcunha de guerra foi inspirada na sensual protagonista da minissérie global “Presença de Anita”, de 2001. Moderninha e ousada, é difícil de ser compreendida. Por um lado, prega o poder da mulher e a independência sexual, valores caros para as feministas. Por outro – e não há outra maneira de dizer isso –, faz sucesso com a bunda. Uma bunda legítima, ao contrário dos seios siliconados e do nariz operado. “Parece que o povo gosta do que é de mentira”, diz. “Por exemplo, adoram uma bunda que não tem celulite, mas isso não existe!” Contraditória. E dane-se.
A cA r A d o ri o Sexy, deSbocada e irreverente, a cantora anitta vira embaixadora informal da cidade que vai Sediar a olimpíada de 2016 por lucas bessel e mariana brugger
Foto: cAio durAn / Agnews
tAlento: larissa de Macedo Machado, a cantora Anitta, exibe seu maior atributo em um dos mais de 300 shows programados para este ano
Vida carioca
Anitta garante que nenhum corpo perfeito é mais importante do que uma mente sadia. “Ser linda, mas abrir a boca e só sair besteira, não adianta nada”, afirma. Ela não gosta de ler. Só frequentava o curso de inglês porque era obrigada pela mãe. Hoje, agradece a ela pela insistência. Talvez devesse agradecer também a um ex-namorado que provocou uma decepção amorosa aos 17 anos, o que a levou a ler (pois é) um livro de autoajuda e achar ótimo. “A obra explica por que os homens se apaixonam por mulheres poderosas”, diz. “Levei muita coisa para a minha música e agora também ajudo os outros com essa mensagem.” As polêmicas de Anitta não se limitam ao que a artista diz ou canta. Elas alcançam, digamos assim, questões mais profundas. “Na van, ela sempre obrigava a gente a cheirar o pum dela”, afirmou uma das poderosas – seu time de dançarinas – ao apresentador Fausto Silva, em rede nacional. A cara de tacho da cantora só não foi mais impagável do que a emenda de Faustão: “Se uma pessoa comum pode criar problemas
O fe nômenO em nú merO s > CaChê: saltou de r$ 15 mil no final de 2012 para os atuais r$ 120 mil > o Cd de estreia, “anitta”, ganhou disCo de ouro pelas 40 mil Cópias vendidas > o disCo alCançou a primeira posição no primeiro dia de seu lançamento virtual, no itunes, no iníCio de julho > o vídeo “show das poderosas” tem 60 milhões de visualizações no Youtube > anitta faz de 25 a 30 apresentações por mês > “show das poderosas” está entre as primeiras ColoCadas do itunes desde 9 de abril
para a camada de ozônio, imagina um time de poderosas.” Menos engraçado é o processo que a também funkeira MC Bruninha move contra Anitta por suposto plágio na introdução de “Show das Poderosas”. Falta de originalidade, por sinal, é uma das acusações mais comuns contra a artista, tanto que ela nem dá mais bola quando dizem que suas danças são uma cópia descarada de tudo que Beyoncé já fez. Não há como negar: Anitta foi montada. Por trás da musa, a empresária Kamilla Fialho cuida de tudo. “Anitta é a artista dos meus sonhos”, diz ela, que fez exigências para fechar contrato. No kit de preparação, Kamilla inclui a obrigatoriedade de Anitta fazer terapia analítica, ser acompanhada por uma coach, fazer aulas de canto, dança, teatro e fonoaudiologia e se vestir com as dicas de duas stylists. Inteligência prática e ousadia são características da jovem cantora. Anitta sabe só um pouco de violão e está aprendendo a tocar piano, mas se atreve a ajudar nos arranjos das canções de seu novo disco de uma forma peculiar: com a boca. Ela faz os sons que imagina “casar com a música”. A poderosa também dá palpites nas coreografias, no cenário e no figurino. “É o meu nome que aparece no fim das contas, né?”, diz. É. Nesse pico de sucesso e grana, o que ela mais lamenta é a ausência do avô materno, Pedro, que morreu um ano antes de a menina estourar nas rádios. “Sei que ficaria muito feliz porque fui a única a seguir a sua veia musical”, diz. O vovô Pedro conduzia o louvor na Igreja Católica, cantando e tocando violão. Anitta foi longe, mas precisou fazer escolhas difíceis para isso. Quando ainda era Larissa, trabalhava como estagiária na área de administração de uma multinacional, no Rio, e recebeu proposta para ser contratada. Declinou do emprego dos sonhos de qualquer
96 istoé 2016 Fotos: MAsAo goto Filho/Ag. istoÉ | reprodução
filha de classe média, com o apoio da mãe e contra a vontade do pai, para correr atrás do sonho da carreira artística. Hoje, todos aplaudem: ela ajuda a família, dá emprego de assistente a um irmão e planeja comprar uma grande casa para todos voltarem a viver juntos, na Barra da Tijuca, bairro moderno e à beira-mar. A família ainda reside em Honório Gurgel, subúrbio do Rio, de onde ela saiu para o estrelato. Para a garota de 17 anos que apareceu ao colocar um vídeo no YouTube cantando funk e usando um vidro de perfume como microfone, os passos em direção à fama foram largos. “Nunca pensei em ser funkeira, só queria ser cantora”, diz. Conseguiu mais: é poderosa.
> rotinA puxAdA Anitta se esbalda com um prato de penne ao sugo enquanto recebe os afagos da mãe, Miriam, no camarim (no alto). na outra foto, enlouquece o público ao se pendurar durante um show no rio de Janeiro
As influ ênciAs d e A nittA mariah Carey: ela aprendeu a cantar e a ter performance de palco assistindo aos clipes da cantora americana e imitando-a na frente do espelho. beyoncé: as músicas com mensagens direcionadas para mulheres e os clipes supercoreografados são marcas da cantora e foram apropriados por Anitta. A fotografia e a dança de “show das poderosas” são inspiradas no clipe “single ladies”. rihanna: a inspiração vai desde a personalidade forte até as roupas rasgadas e tatuagens, passando pelo gosto por misturar diferentes ritmos nas músicas. Katy perry: ser como a cantora, que é considerada pop e atinge diferentes públicos, é o objetivo de Anitta. um feito ela já conquistou: tem muitos fãs entre as crianças.
não há coMo negAr: A FunkeirA Foi MontAdA. por trás dA MusA, A eMpresáriA kAMillA FiAlho cuidA de tudo. "AnittA É A ArtistA dos Meus sonhos", diz
PERFORMANCE Consumo inspirado pelo esporte
A C E R T E
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O QUE VOCÊ PRECISA TER PARA SE TORNAR UMA ESTRELA DO GOLFE DE FIM DE SEMANA por Danielle Sanches
T A C A D A
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CONCENTRAÇÃO Cultura e esporte juntos
M A R A D E N T R O UM ROTEIRO PARA VOCÊ APROVEITAR O MELHOR DO MUSEU DE ARTE DO RIO
OS PRÉDIOS A arquitetura das construções que compõem o Museu de Arte do Rio é uma atração à parte. De um lado, um edifício modernista dos anos 1940 – onde antes ficavam o terminal rodoviário Mariano Procópio, no térreo, e o Hospital da Polícia Civil, nos andares superiores –, que foi completamente restaurado e modernizado. Hoje, abriga a Escola do Olhar, parte educativa do projeto, onde acontecem cursos e seminários. De outro, o Palacete Dom João VI, construído em 1916 e tombado desde 2000. Lá, em seus quatro pavimentos, acontecem as exposições. Uma passarela conecta os dois prédios, e uma cobertura suspensa, que simula a ondulação da água, une os projetos. A VISITA O passeio pelo MAR começa pelo terraço do prédio da Escola do Olhar, com vista para a Baía de Guanabara. De lá, o visitante acessa a passarela que liga os dois prédios e chega à primeira sala de exposição do quarto pavimento do Palacete Dom João VI, todo dedicado à cidade do Rio de Janeiro. São oito salas com cerca de 320 metros quadrados, duas em cada um dos quatro andares de exposição. Não há mostras permanentes no MAR, apenas temáticas. A expectativa é receber anualmente dois mil professores e 200 mil visitantes, sendo metade deles alunos de escolas municipais.
CONTEMPORÂNEOS O primeiro pavimento do MAR é dedicado à arte contemporânea. Até 8 de dezembro, estão em cartaz duas mostras: "Vazio de Nós", com cinco videoinstalações da paraense Berna Reale, e "Turvações Estratigráficas", um trabalho artístico de Yuri Firmeza com achados arqueológicos e escombros das obras de construção do museu. No mesmo mês, chegam ao MAR duas novas exposições: "Pernambuco Experimental", com curadoria de Paulo Clarissa, e "Ocupação Acessível", com curadoria de Janaína Melo, gerente-educacional do museu, e Clarissa Diniz.
100 ANOS DE TOMIE OHTAKE Em novembro, entra em cartaz no MAR a exposição "Pinturas Cegas", de Tomie Ohtake, que apresenta uma série de quadros pintados pela artista plástica japonesa – naturalizada brasileira – sem o auxílio da visão. No fim dos anos 1950, Tomie colocou uma venda nos próprios olhos para criar as telas, que têm como marca os sulcos feitos com o cabo do pincel. A exposição celebra os 100 anos da dama das artes plásticas brasileiras, que serão completados justamente no mês de estreia da mostra. A curadoria é de Paulo Herkenhoff.
MORRINHO No térreo, ainda na entrada do MAR, chama a atenção do público a obra Morrinho, maquete que apresenta detalhes do cotidiano de uma favela carioca, feita por dez jovens da comunidade Pereirão, em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro. A obra faz parte do Projeto Morrinho, surgido em 1997 na mesma favela, que já levou maquetes de morros cariocas a exposições em cidades como Barcelona, Paris e Veneza. A instalação, feita com materiais reciclados e tijolos, ficará exposta por prazo indeterminado.
ESCOLA DO OLHAR Uma das missões do MAR é unir arte e educação. A Escola do Olhar não tem agenda fixa de programas de aula, mas há um curso permanente de formação – em arte e história – de professores da rede pública. Há também programas para jovens artistas e para formação curatorial, além de parcerias e cooperações com universidades do Rio de Janeiro e ações educativas no entorno do museu. A casa possui ainda auditório, biblioteca, restaurante-mirante, café, loja e áreas administrativas e de reserva técnica.
IMAGINÁRIO O quarto andar do museu é sempre dedicado à cidade do Rio de Janeiro. Até 16 de março de 2014, estará em cartaz a exposição ImagináRio, que se propõe a analisar as mutações na paisagem da cidade e a formação de sua identidade cultural e arquitetônica. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, a mostra reúne 400 obras, como pinturas, fotografias, gravuras, litografias, suvenires, esculturas, vídeos e instalações, numa mescla de arte clássica e contemporânea. Entre os artistas representados estão Marc Ferrez, Iberê Camargo, Burle Marx, Lasar Segall, Emile Gallé e Ismael Nery.
ACERVO PRÓPRIO Outra área da mostra ImagináRio expõe algumas das obras do acervo próprio do MAR. São mais de cinco mil peças, entre elas 1,2 mil aquarelas do arquiteto espanhol Santiago Calatrava – que projetou o Museu do Amanhã, atualmente em construção a poucos metros do MAR. Esculturas de Mestre Valentim, um dos principais artistas do Brasil Colonial, também fazem parte do acervo, assim como litografias de Rugendas e manuscritos sobre a escravidão. Há ainda peças de memorabilia do Rio, como cartõespostais, livros, pratos com imagens de pontos turísticos da cidade e até mesmo uma coleção de Barbies com o tema Rio.
ALEIJADINHO A grande vedete do acervo próprio do MAR é uma escultura de Antônio Francisco Lisboa, o mestre barroco mineiro Aleijadinho, escultor, entalhador e arquiteto, maior expoente da arte do Brasil Colonial. Datada do século 18, São José de Botas é uma das quatro esculturas de Aleijadinho tombadas individualmente. Esculpido em madeira, o santo leva o menino Jesus em seus ombros. Não é a única escultura de Aleijadinho presente no museu, mas é a obra que mais chama a atenção pela importância dentro da produção artística brasileira.
BOXE
YAmAguchi está forA dA rio-2016
O boxe brasileiro está seguindo um caminho estranho depois da extraordinária performance em londres-2012, quando o País faturou uma prata e dois bronzes. no início de outubro, o medalhista de bronze Yamaguchi Falcão assinou contrato com uma promotora de eventos americana e se tornou profissional. Pelas regras do esporte, ele já está fora da Rio-2016. seu irmão, o vice-campeão olímpico Esquiva Falcão, diz que está pensando em fazer o mesmo, o que também o eliminaria dos Jogos. Já adriana araújo, bronze na Olimpíada britânica, está afastada da seleção nacional por desavenças com os cartolas. Ou seja: em vez de avançar, o boxe brasileiro está destruindo o que era positivo. Vai entender!
>ATLETISMO
>CANOAGEM
fAltAm pistAs oficiAis
um levantamento realizado pelo Ministério do Esporte trouxe um dado espantoso: 18 Estados brasileiros não possuem uma única pista oficial de atletismo. isso, nunca é demais lembrar, num país que está prestes a organizar a maior festa do esporte mundial. a escassez de locais para a realização das provas resulta em situações esdrúxulas. nos Jogos Escolares em natal (Rn), as competições de atletismo tiveram que ser promovidas em João Pessoa (PB) porque a capital potiguar não tinha sequer uma pista decente. Há alguns dias, o ministro aldo Rebelo, do Esporte, declarou que pretende implantar pistas de atletismo oficiais em todas as capitais brasileiras. é ver para crer.
>BADMINTON
os líderes do rAnking
saiu em outubro o aguardado ranking da Confederação Brasileira de Badminton. é por meio dele que a entidade vai definir os representantes para o Campeonato sulamericano que será realizado em dezembro, no Chile. Confira os cinco líderes entre homens e mulheres. RaNKING MaSCULINO
Posição 1a 2a 3a 4a 5a
atleta alex tjong luiz dos santos Pedro Chen gabriel gandara igor ibrahim
Pontos 2720 2480 2400 2160 1760
atleta Fabiana silva ana Paula Campos thalita Oliveira Paloma silva gabriele Pereira
Pontos 4560 2640 2640 2000 2000
>BASQUETE
no fundo do poço
Primeiro brasileiro a ser campeão mundial na canoagem (em setembro, em duisburg, na alemanha, foi ouro na prova não olímpica C1 500 metros e bronze na olímpica C1 1.000 metros), o baiano isaquias Queiroz, 19 anos, está uma fera. Em sua página no Facebook, reclamou da falta de reconhecimento e afirmou não ter recebido remuneração pelo título mundial. Queiroz lembrou que, quando foi campeão mundial júnior, em 2011, ganhou um lanche do Mcdonald's como prêmio. indignado, disse que está pensando em abandonar o esporte. Em nota, a Confederação Brasileira de Canoagem respondeu que “em nenhum momento acordou qualquer prêmio por medalha com o atleta isaquias Queiroz”.
>CICLISMO
vem Aí o brAsileiro de mountAin bike
anote na agenda: nos dias 23 e 24 de novembro, em Juiz de Fora (Mg), será disputado o Campeonato Brasileiro de Mountain Bike Marathon, um dos principais eventos do calendário nacional. além de contar para o fechamento do ranking brasileiro no ano, a prova é válida para pontuação no ranking da uCi, a entidade que regula o ciclismo mundial. se você não é atleta, vale a pena assistir às disputas, marcadas pelo equilíbrio e pela qualidade técnica dos competidores.
>FUTEBOL
RaNKING FEMININO
Posição 1a 2a 3a 4a 5a
cAmpeão mundiAl AmeAçA deixAr o esporte
se fosse preciso usar uma única expressão para definir o momento do basquete masculino brasileiro, ela poderia ser a seguinte: terra arrasada. depois dos fiascos no sul-americano, em junho (quando o Brasil ficou em quarto lugar, pior posição da história), na Copa américa, em agosto (quatro derrotas em quatro jogos), e na Copa intercontinental, em outubro (o Pinheiros, representante brasileiro, perdeu dois jogos em casa para o Olympiacos, da grécia), ninguém duvida mais que é preciso mudar muita coisa. Há um forte movimento de exatletas, liderados por Oscar schmidt, pela demissão do técnico argentino da seleção, Rubén Magnano. Resta saber se uma simples troca de comando será suficiente para a necessária revolução.
o brAsil Quer outrA copA
>ESGRIMA
sÓ 21 clubes pArA treinAr
O leitor Márcio Josias de souza, que mora em são Paulo, pediu à 2016 a lista de locais para treinar esgrima no Brasil. só 21 clubes oferecem o esporte. Confira. RIO GRaNDE DO SUL
sociedade de ginástica de Porto alegre grêmio náutico união associação dos amigos do Casarão da Várzea > lindoia tênis Clube > > >
PaRaNÁ > > > >
sociedade thalia Clube Curitibano Círculo Militar do Paraná associação Mestre Kato
uma Copa do Mundo competente, sem problemas de organização, pode ser importante para as mulheres. O Brasil estuda se candidatar à sede da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019. Em 2015, o evento será no Canadá. a favor do Brasil está o sucesso dos Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio, quando as meninas jogaram para mais de 70 mil pessoas.
SaNTa CaTaRINa
>GINÁSTICA
RIO DE JaNEIRO
trAmpolim nA bulgáriA
a mais jovem entre as três disciplinas do esporte (estreou nos Jogos de sydney-2000), a ginástica de trampolim distribui 18 medalhas em Olimpíada. Por isso mesmo, o Brasil está tentando formar um time competitivo para 2016. a seleção conta com cinco atletas (dois homens e três mulheres), que vão disputar, em novembro, o mundial da Bulgária. Por enquanto, as chances de medalha são pequenas.
>
sociedade desportiva Vasto Verde
SÃO PaULO > > > > > >
> > >
sala são Jorge de Esgrima Club athletico Paulistano Esporte Clube Pinheiros Círculo Militar de são Paulo academia Paulista de Esgrima Escola de Esgrima abel Melián Clube de Regatas Vasco da gama Real sociedade Clube ginástico Português Clube Militar da lagoa
BRaSÍLIa > >
uniceub Colégio Militar de Brasília
BELO HORIZONTE >
Barroca tênis Clube
111 istoé 2016
Foto: Caio guatelli
painel
Todos os esportes olímpicos
>LUTAS As competições de fim de Ano
>NATAÇÃO
O ano está no fim, mas o calendário brasileiro de lutas está lotado. Observe as competições que serão realizadas ainda em 2013.
nOVEMBRO QuandO
OndE
frAtus segue o cAminho de cielo
COMPEtiçãO
CatEgORia
2
Manaus (aM)
Vi sElEtiVa dO tORnEiO da JuVEntudE
EstilO liVRE, gRECOROManO E luta FEMinina
2
BEléM (Pa)
JOgOs EsCOlaREs da JuVEntudE (15 a 17 anOs)
EstilO liVRE
28 a 30
RiO dE JanEiRO (RJ)
COPa BRasil intERnaCiOnal
EstilO liVRE, gRECOROManO E luta FEMinina
CEFan (RJ)
CaMPO intERnaCiOnal dE tREinO
EstilO liVRE, gRECOROManO E luta FEMinina
CEFan (RJ)
EsCOla BRasilEiRa dE téCniCOs
EstilO liVRE, gRECOROManO E luta FEMinina
dEzEMBRO 2a9 3a9
>HANDEBOL
intensivão pArA juvenis
Poucos esportes brasileiros realizam um trabalho tão sério quanto o handebol. Em outubro, a Confederação Brasileira divulgou a lista dos 110 atletas da categoria juvenil convocados para o acampamento nacional de Melhoria técnica, marcado para janeiro de 2014. a ideia é reunir o grupo mais talentoso do País para um intensivo de preparação. Eventos desse tipo são comuns nas grandes potências olímpicas, como Eua e China.
>HIPISMO
pessoA brilhA nA chinA
aos 41 anos, o cavaleiro Rodrigo Pessoa, ouro nos Jogos de atenas-2004, deu mais uma prova de que continua entre os melhores – e que vai brigar por um pódio em 2016. no início de outubro, venceu o gP do China tour Finals, realizado em Pequim. detalhe: competiu com um cavalo emprestado pela organização. E mais: na série de desempate, superou o britânico Ben Maher, campeão olímpico em londres.
>HÓQUEI SOBRE A GRAMA procurAm-se tAlentos
tem campo. tem bola. tem gol. se o esporte oferece tudo isso, é difícil a molecada não gostar. Foi o que descobriu o atleta da seleção augusto de Paula Felipe, um dos coordenadores de um belo projeto realizado entre o sesi de Mogi das Cruzes e a Confederação de Hóquei sobre a grama. augusto foi convidado para ser técnico da escolinha e o bacana é que ele está em busca de novos talentos. Quem tiver interesse é só entrar em contato com augusto pelo e-mail depaula88@gmail.com
>JUDÔ
brAsileiros escAlAm rAnking mundiAl
O bom desempenho nos grand Prix de almaty, no Cazaquistão, e tashkent, no uzbequistão, garantiu a judocas brasileiros uma escalada no ranking mundial. a pernambucana Mariana Barros, ouro nos dois torneios, subiu da 17ª para a 9ª posição. O maior salto, porém, foi o do paulista leandro Cunha. afastado das competições por um ano por causa de uma lesão, leandro conquistou o bronze em tashkent e subiu do 70º lugar para o 44º atual.
Quarto colocado nos 50 metros livre dos Jogos de londres e uma das maiores esperanças de medalha do Brasil na Olimpíada de 2016, o carioca Bruno Fratus, 24 anos, tomou uma importante decisão: em 2014, vai treinar na universidade de auburn, nos Estados unidos, integrando o grupo formado pelo técnico australiano Brett Hawke. Fratus repete assim o caminho traçado pelo campeão olímpico Cesar Cielo, que venceu os 50 metros em Pequim-2008 sob a tutela de Hawke. depois de quase beliscar um bronze em londres, Fratus teve um 2013 pouco proveitoso por causa de uma lesão no ombro direito.
>PENTATLO MODERNO
treino de esgrimA nA frAnçA
nenhuma vitória é por acaso e Yane Marques, bronze nos Jogos Olímpicos de 2012, sabe disso. é preciso treinar, treinar e treinar – e, de preferência, com os melhores. nesse aspecto, merece elogios a iniciativa da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno, que programou uma clínica de treinamentos de esgrima para quatro atletas brasileiros em Bordeaux, na França. além de Yane, participaram do projeto, em outubro, Priscila Oliveira, larissa lellys e luís Magno. Vale lembrar: Bordeaux é referência na esgrima mundial.
>POLO AQUÁTICO
“QuAndo virA obrigAção, ficA chAto”
O Centro de treinamento de levantamento de Peso da universidade Federal de Viçosa, em Minas gerais, está se tornando referência desse esporte. O local, que já recebe os principais nomes do halterofilismo do País, iniciou um trabalho de intercâmbio com especialistas estrangeiros. Recentemente, o treinador cubano luis lopez participou de uma clínica com atletas brasileiros.
O polo aquático brasileiro feminino não é nenhuma potência, mas o que não é muito bom pode piorar. Principal jogadora do País, illana Pinheiro disse que não está com vontade de defender a seleção. “Eu não sei se quero essa obrigação”, disse a flamenguista de 27 anos, em entrevista recente. “Quando vira obrigação, fica chato, sabe?” Chato, digamos, não seria ficar fora da Olimpíada de 2016? “é, eu até tenho vontade de participar do evento.” Ora, não dá para desfrutar do momento mais nobre do esporte mundial sem ralar antes, certo?
>NADO SINCRONIZADO
>REMO
sabe aquelas gêmeas bonitas do nado sincronizado? as atletas, que adoram holofotes, trocaram há alguns dias o programa que tinham na Rede Bandeirantes por um novo projeto no VH1, canal por assinatura que pertence à Viacom, também dona da nova MtV. Bia e Branca Feres vão apresentar um programa chamado “40 Coisas”, que vai trazer a vida cotidiana das meninas nas piscinas e fora delas.
O Clube de Regatas Flamengo fez jus ao nome: no início de outubro, venceu o campeonato brasileiro júnior de remo, na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. O rubronegro venceu o Botafogo pelos critérios de desempate e confirmou o favoritismo. das 13 provas disputadas, os flamenguistas venceram quatro. O terceiro lugar no campeonato ficou com o Clube união.
>LEVANTAMENTO DE PESO clínicA com técnico cubAno
gêmeAs trocAm de tevê
flAmengo vence brAsileiro júnior
>RÚGBI
duelo de extremos
a final da Copa do Brasil de Rúgbi foi uma prova do alcance desse esporte no País. a partida envolveu clubes de dois extremos: o alecrim, do Rio grande do norte, e o Charrua, do Rio grande do sul. E mais: o palco da disputa foi o sPaC, em são Paulo. Os potiguares venceram os gaúchos com sobra: 33 a 7. Com o resultado, o alecrim ganhou o direito de ir para a repescagem que vale vaga no Campeonato Brasileiro de 2014.
>SALTOS ORNAMENTAIS o pulo dA novA gerAção
O Brasil começa a formar uma geração forte para os próximos ciclos olímpicos. no Pan-americano Júnior de saltos ornamentais (para atletas entre 14 e 18 anos), realizado em tuckson, nos Estados unidos, a dupla formada por Jessica Hilary e dayane Couto ficou em quinto lugar no trampolim de três metros sincronizados. O torneio foi dominado pelos americanos, um dos países mais fortes do mundo nesse esporte.
>TAE KWON DO
crise nos euA cAncelA torneio
a paralisação das atividades do governo dos Estados unidos afetou diretamente o tae kwon do brasileiro. O Campeonato Mundial Militar, que seria disputado em Fort Bliss, no texas, entre os dias 14 e 21 de outubro, foi cancelado pela organização em consequência do impasse político. isso porque o torneio seria realizado com recursos públicos e, enquanto o orçamento não se definia, só havia permissão para os gastos considerados essenciais. Com o cancelamento do Mundial Militar, os atletas do Brasil começaram a se preparar para o grand Prix de londres, em dezembro.
>TÊNIS DE MESA
imbAtível nAs AméricAs
Em poucos esportes o Brasil demonstra uma predominância tão grande nas américas quanto no tênis de mesa. O domínio, total entre os adultos, agora se aplica também às categorias de base. na segunda semana de outubro, o Brasil obteve 100% de aproveitamento no Campeonato latinoamericano sub-11 e sub-13, realizado na guatemala. Os brasileiros venceram os três títulos que disputaram: mirim masculino e feminino e pré-mirim masculino.
>TIRO
fAltou um prAto
Foi por um mísero prato que o paranaense Rodrigo Bastos não se classificou para as finais do Mundial de tiro, realizado em
lima, no Peru. Rodrigo acertou 119 pratos, o que lhe valeu a nona colocação geral – o melhor resultado do Brasil em muitos anos. a prova teve 89 participantes de cinco continentes e o brasileiro ficou à frente dos dois primeiros colocados na Olimpíada de londres-2012. O campeonato foi vencido pelo italiano giovanni Pellielo.
>TIRO COM ARCO
inspirAção no “senhor dos Anéis”
Quando tinha 14 anos, a paulista sarah nikitin virou fã dos livros e dos filmes da série “O senhor dos anéis.” Ela gostava especialmente do elfo legolas, que usava a habilidade com o arco para enfrentar inimigos. inspirada por ele, decidiu praticar tiro com arco. Hoje, aos 24 anos, sarah é um dos principais nomes do esporte no País. Em outubro, terminou em oitavo lugar no arco recurvo (modalidade olímpica) do Mundial de antalya, na turquia. Foi o melhor resultado da história do tiro com arco brasileiro. tudo graças ao elfo legolas.
>TRIATLO
brAsil recebe copA do mundo
depois de uma década, o Brasil voltará a receber, em 2014, uma etapa da Copa do Mundo de triatlo. Evento mais antigo do calendário internacional desse esporte, a Copa do Mundo é dividida em dez provas, realizadas em dez países diferentes. O Rio foi escolhido como parte dos preparativos para os Jogos de 2016. nas próximas semanas, a Federação internacional de triatlo (itu, na sigla em inglês) deve anunciar as datas das competições.
TÊNIS
biA hAddAd está de voltA
Maior esperança do tênis brasileiro desde a aposentadoria de gustavo Kuerten, a paulista Beatriz Haddad está de volta ao circuito feminino. Bia, 17 anos, se afastou das quadras em julho depois de fraturar o braço. nas próximas semanas, ela disputa uma série de torneios nos Estados unidos para recuperar o tempo perdido. Mesmo fora das competições há um bom tempo, ela é a terceira brasileira mais bem colocada no ranking mundial. À sua frente estão teliana Pereira, 25 anos, e Paula Cristina gonçalves, 23.
>VELA
desAfio sAntos-rio
uma das competições mais bacanas da vela brasileira será realizada neste sábado, 26 de outubro. trata-se da Regata santosRio, com largada no iate Clube de santos e chegada no iate Clube do Rio. Mais de 20 barcos devem participar do desafio, que contará com gigantes como torben e lars grael. Juntos, os dois têm nada menos que sete títulos da competição: 1990, 1993, 1994, 1995, 1996, 2004 e 2011.
>VÔLEI
título mundiAl pArA cAlAr os críticos
de uns tempos para cá, muita gente disse que o problema do vôlei masculino era a falta de renovacão e que as categorias de base estavam sendo negligenciadas. Essas supostas verdades, porém, foram enterradas com o título mundial sub-23 conquistado pelo Brasil. a vitória por 3 a 2 contra a sérvia, no domingo 13, em
uberlândia (Mg), foi a sétima em sete jogos dos brasileiros no torneio. Melhor ainda: o oposto Rafael araújo, 22 anos, que anotou 23 pontos na final, demonstrou que está pronto para brilhar no time principal
>VÔLEI DE PRAIA
duplAs cAdA vez mAis fortes
a menos de três anos da Olimpíada no Rio, o vôlei de praia brasileiro dá mostras de que chegará com um time fortíssimo a 2016. no ranking mundial masculino, o País ocupa a segunda (com Bruno e Pedro solberg) e terceira posições (com Ricardo e Álvaro Filho). no feminino, as brasileiras estão no primeiro (com talita e taiana) e terceiro lugares (com Maria Clara e Carol). no domingo 13, Bruno schmidt e Pedro solberg venceram o grand slam de são Paulo, prova válida pelo circuito mundial, e diminuíram a distância para smedins e samoilovs, da letônia, que lideram o ranking.
página dourada Conquistas que entraram para a história
Quando venCer não é preCiso
desorientada pelo esforço, a maratonista suíça Gabrielle andersenschiess inclinou a coluna, retorceu os braços e cambaleou. Mas seguiu em frente
Os JOgOs OlímpicOs de 1984 quebraram uma barreira: fOi a primeira vez que as mulheres disputaram a maratOna
aOs 39 anOs, a suíça gabrielle andersenschiess tinha um únicO ObJetivO: cOmpletar O percursO de 42.195 metrOs
vera Lynn texto
oliver Quinto arte
depOis dO km 35, ela cOmeçOu a se sentir mal, mas parar Não fazia parte dos plaNos.
Uf...
Uf...
Uf...
nO km 40, Já caminhandO em vez de cOrrer, um médicO perguntOu se gabrielle queria aJuda. ela apenas balançOu a cabeça. Não queria.
nO dia da prOva, O céu estava clarO e fazia calOr. enquantO as favOritas dispararam, gabrielle se manteve nO pelOtãO intermediáriO, prOcurandO nãO fOrçar O ritmO.
Os 200 metrOs finais da prOva fOram talvez os mais dramáticos da história olímpica. desOrientada pelO esfOrçO, cOm cãibra nas pernas e Os músculOs explOdindO de dOr, gabrielle inclinOu a cOluna, retOrceu Os braçOs e cambaleOu – mas seguiu em frente.
diante dOs gritOs e aplausOs dOs tOrcedOres nO estádiO OlímpicO, gabrielle deu O últimO passO até a linha de chegada. imediatameNte caiu desacordada nOs braçOs dOs sOcOrristas. sua agOnia nOs 200 metrOs finais durOu seis minutOs. mas a meta estava cumprida: ela completou a prova Na 37a posição eNtre 44 corredoras.
três hOras depOis da prOva gabrielle apareceu, Já recuperada, nO mesmO estádiO e deu entrevistas que a tOrnaram celebridade muNdial. cOnfessOu:
peNsei que fosse morrer
* Uf...
Uf...
Uf...
cada passO era um sOfrimentO, uma luta inglória cOntra a exaustãO. aO ladO dela, mas sem pOder sOcOrrê-la (se fizessem issO seria desclassificada), dOis médicOs caminhavam atônitOs, temendO O piOr.
hOJe, aOs 68 anOs, gabrielle vive na suíça. é cOnsiderada uma das maiOres heroíNas olímpicas.