A R T E D E S I G N C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A E T E C N O LO G I A
PIETER HUGO EDER SANTOS YOSHUA OKÓN NATHALIE DJURBERG JOÃO CASTILHO
VIDEOCRÍTICOS HENNESSY YOUNGMAN COMENTA EXPOSIÇÕES EM RITMO DE HIP-HOP JUN / JUL 2012
CUBA QUASE LIBRE SEM CONEXÃO, CUBANOS REINVENTAM AS NOVAS MÍDIAS
DO YOUTUBE A NOLLYWOOD
AFETO E VIOLÊNCIA VIDEOARTE LATINA OSCILA ENTRE EXTREMOS EMOCIONAIS
MICROCINEMAS FESTIVAL EM HONG KONG ANUNCIA A GERAÇÃO DAS TELAS MINÚSCULAS
PÓS -REALISMO EDITORIAL DE MODA RECRIA O FILME DESERTO VERMELHO, DE ANTONIONI
Chommy Choko Eli, Florence Owanta, Kelechi Anwuacha. Enugu, Nigéria, 2008, da série Nollywood, de Pieter Hugo
WWW.SELECT.ART.BR
Do YOuTUBE A NOLLYWOOD Novos circuitos da imagem em movimento revelam as estéticas do século 21
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INSCRIÇÕES ATÉ 13 DE JULHO
PREPARE-SE PARA TER SEU TRABALHO APOIADO E DIVULGADO PELO RUMOS ITAÚ CULTURAL. Já estão abertas as inscrições para três novos editais do programa Rumos Itaú Cultural 2012: Cinema e Vídeo, Dança e Pesquisa, que pela primeira vez estará focado em Moda e Design. Através do Rumos Itaú Cultural 2012 também chegará a diversas cidades brasileiras uma série de atividades de formação. Os selecionados serão anunciados no segundo semestre de 2012. Os três editais estão em itaucultural.org.br/rumos, e a inscrição, gratuita, deve ser feita até 13 de julho de 2012 nesse mesmo endereço.
fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br
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PILAR COMUNICAǘAO
RUMOS DANÇA • Dança para Crianças • Residência para Criação • Formadores
RUMOS CINEMA E VÍDEO
• Documentários para Web • Filmes e Vídeos Experimentais • Espetáculos Multimídia
RUMOS PESQUISA MODA E DESIGN • Pesquisa Concluída • Pesquisa em Andamento
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OUTROS CINEMAS Mél i ès conte m por â ne os dia loga m com a hist ór ia do cine m a e p rojet a m a s im a ge ns e nt re o pa s s a d o e o f ut uro
36 MUNDO CODIFICADO
122 TERRITÓRIO
32 ARQUITETURA
68 CUBA DIGITAL
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Afogado em números Bilhões de imagens por segundo desaguam na Internet para ser linkadas e “likadas”, não apenas vistas
Que viva Eisenstein O filme que o mestre do cinema revolucionário russo não fez pensava as cidades como imagem
11 de Setembro As primeiras fotos do memorial criado para preservar os restos materiais e emocionais do atentado
Era do Faceboom O ativista Rodrigo Savazoni revela as peculiaridades da cultura digital na ilha de Raul e Fidel Castro
Narrativas africanas Emulando sets de filmagem da indústria cinematográfica nigeriana, Pieter Hugo relê Nollywood
FOTO: CORTESIA THOMAS DEMAND; VG BILD-KUNST, BONN; AUTVIS, SÃO PAULO; E ESTHER SCHIPPER GALERIE, BERLIN
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index 42 PERFIL
Eder Santos Artista fala do novo longa e de suas paixões além das câmeras:
56 MODA
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Pour Antonioni Ensaio faz tributo ao filme Deserto Rosso, de Antonioni, e projeta moda do outono
Música Imagem para ouvir ou sons para ver? O videoclipe define um campo de hibridações
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PÓ S -CINEMA
Vídeo on-line Internet é a tela por onde circulam as estéticas do banco de dados
SEÇÕES 12 EDITORIAL | 16 CARTAS | 20 NAVEGAÇÃO | 34 TRIBOS | 36 MUNDO CODIFICADO | 102 CURTO CIRCUITO 112 REVIEWS | 122 TERRITÓRIO | 124 COLUNAS MÓVEIS | 127 SELECTS | 128 DELETE | 129 OBITUÁRIO | 130 REINVENTE
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O artista Loren Munk, mais conhecido pelo seu personagem, o videocrítico james Kalm, posa na frente de uma de suas pinturas
O vídeo How To Be a Successful Black Artist (Como se Tornar Um Artista Negro de Sucesso), de Hennessy Youngman, aconselha, com ironia, jovens artistas afrodescendentes a usarem de todos os estereótipos possíveis para adentrar o “mundo branco da arte”
de maneira jocosa e cheia de gírias, porém não necessariamente de modo incorreto. A vontade de explicar para os leigos as entranhas do mercado e teorias da arte tem a ver com o próprio passado de Musson, que desconhecia grande parte dos conceitos até entrar na faculdade. “Para mim, o mestrado tem sido útil na medida em que me permitiu vislumbrar uma cultura que eu pensava que era ridícula. Deu-me uma nova criatura para observar”, ele revela. Usando uma webcam para gravar seus comentários, ao longo de dois anos Youngman já estrelou mais de 20 vídeos com mais de 800 mil visualizações ao todo. Seu público é composto, em grande parte, de pessoas do próprio mundo da arte. Estudantes, curadores e até profissionais de grande calibre, como o artista e curador italiano Maurizio Cattelan, tornaram-se fãs dessa espécie de guru hip-hop do mundo da arte. Ao usar o aparato teórico para dar uma visão mais acessível da arte contemporânea, Youngman introduz sua própria opinião sobre as desigualdades econômicas, de gênero e, principalmente, sobre a desigualdade racial no mercado de arte. Seu vídeo How To Be a Successful Black Artist aconselha, com ironia, jovens artistas
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em uma vizinhança que exclui muitos artistas, e me pareceu que as pessoas estavam se divertindo muito. Na verdade, parecia mais uma festa do que a abertura de uma exposição”, reflete Hennessy Youngman, que, durante a abertura da mostra, recebeu a visita de Loren Kalm, personagem crítico de arte criado pelo artista Loren Munk, que visita as galerias de Nova York montado em uma bicicleta e munido com uma câmera na mão. Quando o artista americano Munk decidiu criar o alter ego James Kalm, a internet estava começando a engatinhar. Até então, Munk fizera certo sucesso como grafiteiro e pintor “fundador do estilo neocubista”, na década de 1980. Nessa época, chegou a expor no Brasil, mas logo foi vítima da crise financeira provocada pelo colapso da Bolsa em 1989. A carreira, que em 1981 fora catapultada ao ser preso por grafitar, enfrentou um declínio vertiginoso. Munk sentia necessidade de emitir sua opinião como alguém que fora expulso de dentro da bolha de status do mundo da arte, mas sentia que, se o fizesse como um artista assumido, correria o risco de ser encarado como mais um membro do “clube dos frustrados”. “Quando de partida já se sabe que um pintor também é escritor, seu trabalho torna-se suspeito. Por que escrever se você é um pintor reconhecido? Como forma de voltar para o circuito, decidi começar a escrever crítica de arte com um nome falso”, explica ele, que resolveu revelar a identidade secreta há pouco tempo.
afro-descendentes a usarem de todos os estereótipos possíveis para adentrar o “mundo branco da arte”. Segundo Youngman, a mistura de exotismo e raiva contra o status quo “costuma funcionar bem”, e o guru fundamenta sua teoria dando exemplos ilustrados. “Be angry!” (Seja bravo!), recomenda ele mostrando imagens de trabalhos da renomada artista Kara Walker, conhecida por suas gravuras que mostram cenas do período da escravidão nos EUA. Tamanha visibilidade como Hennessy Youngman acabou também por alavancar a carreira de Musson, que no fim de março inaugurou sua primeira individual na Postmasters Gallery, localizada em Chelsea, em Nova York. Mas, apesar de debutar como pintor, a grande estreia deu-se mesmo como Hennessy Youngman. No mesmo mês, a convite do artista Maurizio Cattelan e do curador do New Museum, Massimiliano Gioni, ele realizou sua primeira curadoria para a galeria recém-inaugurada dessa superdupla, a Family Business. Youngman realizou uma chamada de trabalhos via internet, recebendo obras de qualidades e suportes mais diversos que invadiram o espaço da galeria de maneira caótica e eclética, fazendo jus ao discurso verborrágico do rapper-crítico. “Eu fiquei feliz em dar essa chance
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Antes de tornar-se famoso na internet por seus canais de vídeo James Kalm Report e James Kalm Rough Cut, nos quais registra com uma câmera digital vernissages e exposições de Nova York, Munk começou a publicar, sob o pseudônimo James Kalm, suas visões sobre a cena nova-iorquina. “Mantive minha prática crítica e minha identidade secreta como James Kalm nos primeiros dez anos. Eu documentava e fotografava as exposições muito tempo antes de começar a filmá-las”, comenta. Tudo mudou com o YouTube e a compra de uma câmera em 2006. “O YouTube estava apenas começando e então pensei que poderia usar a internet para fazer crítica de arte de uma maneira nova”, diz o videocrítico, que percorre as galerias de Nova York diariamente em sua bicicleta. Ao retirar sua identidade de campo e colocar-se apenas como um narrador do qual desconhecemos o rosto, Kalm evoca uma intimidade típica dos meios digitais, em que o anonimato acaba por gerar uma aproximação. “A maioria das pessoas me conhece apenas como James Kalm, ‘o cara da bicicleta’, o que é bom. Eu gosto de ter duas identidades, embora James Kalm ainda seja bem mais famoso que Loren Munk”, explica o artista, que, devido ao sucesso de seu personagem, frequentemente é convidado por curadores a realizar registros de aberturas de exposições e que, em dezembro do ano passado, graças à fama de James Kalm, ganhou um review positivo do New York Times de sua mais nova exposição.
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PA RTICIPA Ç Ã O DE M ERCA DO DA S M A IORES OPER A DOR A S DE TV POR A SSIN AT U R A NO B R A SIL
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Há um crescimento explosivo na televisão por assinatura no Brasil e na demanda por produção audiovisual. Será que teremos menos reprises? Três protagonistas analisam os desafios do momento. Não perca este próximo (e novo) capítulo
n ossA t v paga vai melhorar ? O setor da produção audiovisual está e m e bu l iç ão n o Br a s i l . O pe r f i l da televisão paga está mudando. Qual será sua nova cara? O número de assinantes está crescendo “a níveis chineses”, diz Luiz Noronha, produtor executivo da Conspiração Filmes. Eugênio Bucci, professor da ECA-USP, teórico da comunicação e crítico de televisão, acredita que o País “já é um criador de linguagem audiovisual”. O diretor e roteirista de cinema, tevê e publicidade Tadeu Jungle acredita que
Angélica de Moraes
este é um momento estimulante “porque a criação audiovisual está sendo transformada pela tecnologia”. Enquanto isso, todos aguardam a regulamentação para a entrada em vigor, ainda este ano, da lei da tevê paga, que estabelece cotas mínimas de produção nacional na programação das emissoras. Ela deverá chegar, até 2014, a três horas e meia por semana em cada canal por assinatura. Um volume de produção que poderá aplacar o irritante fenômeno das reprises em looping que assolam o telespectador.
3,5 milhões
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EUGÊNIO BUCCI
“O que não pode é haver hipertrofia dessa política de proteção para retirar o enfrentamento do produto audiovisual brasileiro com as produções estrangeiras. Aí seria direcionamento e xenofobia”
O B r a s i l e s t á c a m i n h a n d o pa r a s e r u m g r a n d e p o l o p r o d u t o r a u d i ov i s u a l?
EUGÊNIO BUCCI Não estamos partindo do zero. O Brasil já é um formulador, um criador de linguagem audiovisual. Isso se manifesta na nova ascensão do cinema a partir de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, mas também já ocorria com as novelas da tevê aberta, mercadoria de carreira internacional. A publicidade brasileira é respeitada no mundo porque tem repertório próprio. Esses três segmentos – o cinema, a novela e a publicidade – são geradores de mão de obra especializada para a produção audiovisual atingir a escala de indústria. Por outro lado, essa base segura não garante volume de produção. LUIZ NORONHA O Brasil tem condições de ser um grande polo, sim, mas não acredito que o mercado publicitário dê conta de formar profissionais para a área de televisão porque é uma cadeia produtiva e um universo econômico diferente. Não temos hoje profissionais em número suficiente para sustentar o nível de crescimento do setor audiovisual, que está em ritmo chinês: 20% ao ano nesses últimos cinco anos. O difícil é dizer quanto tempo esse ritmo vai durar e que tamanho o mercado terá. Tem ainda o problema do idioma. Poucos países no mundo falam o português e o público não gosta de ler legenda. Nosso produto tem mais valor para o mercado interno. TADEU JUNGLE Para ter um polo produtor, o parque industrial do audiovisual tem de ser revisto. A maneira de pensar o audiovisual está mudando porque o setor está sendo mudado pela tecnologia. Acredito que no futuro tudo será tela, seja em tevê, tablet, celular, tudo em interação. Essa multiplicação gigantesca de telas é estimulante para a criação audiovisual. Precisamos avançar além dos modelos conhecidos porque estamos em um momento especial do planeta, momento da web ao vivo, do vídeo on demand, das redes interligadas, da interação do programa de tevê com o público dessas redes. Novas tecnologias estão inventando novos formatos de programação. Antes, todos éramos telespectadores e, agora, boa parte de nós se transformou em emissores de conteúdo.
O m e r ca d o b ra s i l e i r o p o d e r á at e n d e r , a c u r t o p r a z o e co m p ro d u to s d e q ua l i da d e , à d e m a n da a b e r ta p e l a l e i da t e v ê pag a?
EUGÊNIO BUCCI Nenhuma lei de reserva de mercado produz qualidade por si só. Isso depende de convivência e competição com o estrangeiro. Mas pode haver estímulo para a qualidade se essa reserva for proposta com sensatez, protegendo a indústria nacional sem eliminar a convivência com outras culturas. É legítimo que o País proteja sua produção audiovisual. A França é o caso mais impressionante disso. Não existiria o cinema francês atual sem uma lei que assegurasse espaços para ele. LUIZ NORONHA Essa lei é totalmente positiva para consolidar a atividade audiovisual no País. O setor inteiro vai se beneficiar, mas a lei não vai gerar resultados no primeiro ano. Tem de acreditar e investir desde já. TADEU JUNGLE A lei da tevê paga traz junto uma verba anual de R$ 450 milhões para ser distribuída aos produtores independentes pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), ligada ao Ministério da Cultura, e fruto dos impostos das emissoras de tevê paga. É uma grande injeção de capital para realizar projetos. Uma das demandas que a gente imagina como produtor e criador é que parte desses recursos deveria ir para pesquisa e formatação e não apenas para produzir os programas. Porque fazer roteiro e orçar produção demanda tempo, talento e dinheiro. O m e ca n i s m o da s c o ta s s e r á e f i c i e n t e pa r a s e c o n t r a p o r à c o n corrência norte-americana, que detém 80% dos programas exibidos aq u i e c h e g a a p r e ç o s i m b at í v e i s porque o custo de produção já foi pag o n a d i s t r i b u i ç ã o g l o b a l?
EUGÊNIO BUCCI Um dos pioneiros do cinema brasileiro, Humberto Mauro, já dizia, em 1935, que o gargalo estava na distribuição. O Brasil produz filmes, mas a distribuição privilegia os filmes dos EUA. Os canais pagos de tevê também são as-
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TADEU JUNGLE
“A maneira de pensar o audiovisual está mudando porque o setor está sendo mudado pela tecnologia. Antes, todos éramos telespectadores e agora boa parte de nós se transformou em emissores de conteúdo”
sim. Cotas não são antimercado. O que não pode é haver hipertrofia dessa política de proteção para retirar o enfrentamento do produto audiovisual brasileiro com as produções estrangeiras. Aí seria direcionamento e xenofobia, obstáculo posto contra o indivíduo e sua liberdade de escolha. LUIZ NORONHA Todos os países com produção audiovisual fazem política de cotas. Nossas cotas de exibição são café pequeno, se comparadas às praticadas na França e no Canadá. Há quem diga que a lei vai trazer muita porcaria para a programação. Mas o que se vê hoje? Você vê O Homem-Aranha sendo exibido pela 35ª vez e ao mesmo tempo em outros canais do pacote de sua assinatura. O que a lei vai mudar? Vamos ver essas reprises menos vezes.
“Nossas cotas de exibição são café pequeno, se comparadas às praticadas na França e no Canadá”
TADEU JUNGLE O dinheiro repassado pela Ancine ao produtor brasileiro é um fator que vai ajudar a reduzir essa grande diferença de preço com o enlatado. Para que o produto audiovisual independente, ou seja, aquele que não é produzido nas grandes redes de tevê, chegue à emissora por preço competitivo e com boa qualidade. Todo mundo quer programas de boa audiência e, para conseguir isso, o produto brasileiro precisa ser tão bom ou melhor que o da concorrência. A qualidade é fundamental. Com a redução dos custos de assinatura das tevês pagas e sua acessibilidade aos públicos C e D, a estratégia das emissoras será não se diferenciar muito do padrão dos canais abertos ou oferecer opções melhores?
EUGÊNIO BUCCI É difícil saber. Temos uma tevê aberta ainda muito forte. Em toda a América Latina, a presença da tevê paga sempre foi muito maior do que no Brasil. A tevê aberta atende muito mais o público por causa do conteúdo nacional. Os campeões de audiência são o jornalismo, o programa de auditório e a teledramaturgia. É possível que o barateamento da tevê paga a aproxime mais da tevê aberta, com forte presença da produção nacional. LUIZ NORONHA Vejo tendência de popularizar os conteúdos. Faço uma média de 15 programas para diferentes canais e noto que hoje temos um cenário diverso. Os conteúdos são mais massificados, mas não acho isso ruim. Você nota que a exigência de qualidade desse público aumentou. TADEU JUNGLE Não acho que as classes C e D, acostumadas a ver tevê aberta, vão querer ver mais do mesmo na tevê paga. Elas vão buscar outro tipo de programa, vão escolher. Temos de pensar em inovação. Não podemos subestimar o público, ele está acostumado às novelas da Globo, um bom padrão de produção. Falta é criar produtos para a interação da tevê com as redes sociais, por exemplo. Com um programa de qualidade e uma boa repercussão nas redes sociais, consegue-se aumentar a audiência e o produto audiovisual se paga. O público vê programas ruins porque não tem outra alternativa.
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Imagens sonoras Nunca antes, na indústria cultural, imagem e música estiveram tão intrimcadas. A cultura do videoclipe ensaia renovação a bordo da web e apps, mas ainda reproduz os clichês das mídias de massa
O dia 5 de fevereiro de 2012 foi de recordes históricos para a televisão. Em plena era digital, quando os meios massivos perdem cada vez mais público para a internet, cerca de 111 mi l h õ es de te l e s p e ctadores sintonizaram seus canais para assistir ao Super Bowl, final do ca mp e o n a to de futebol americano. Porém, foi no intervalo do jogo que a audiência subiu outros 3 milhões, quando a eterna Material Girl, no auge de seus 53 anos, entrou em campo. Exageros à parte, o fato é que a apresentação de Madonna foi o programa jamais tão visto da televisão americana, segundo o instituto de pesquisas Nielsen. Na apresentação do Super Bowl,
Madonna quebrou os recordes audiência da história da tevê no suporbowl 2012, concentrando uma audiência de 114 milhões de telespectadores
a cantora, que tem assumidamente suas habilidades vocais limitadas, fez um playback de hits como Vogue, Like a Prayer, e até mesmo de sua nova música de trabalho, Give me All Your Lovin’. Coreografias inspiradas em líderes de torcida, mudanças de figurino, pirotecnia, a participação de artistas mais jovens como M.I.A, Nicki Minaj, Cee Lo Green e LMFAO, unidos à nostalgia dos sucessos dos anos 1980, deram um clima de ufanismo quanto à posição de Madonna na cultura pop. E, se a propaganda é a alma do negócio, ninguém melhor do que ela na promoção de uma imagem vendável. Sim, pois nunca antes na indústria cultural imagem e música estiveram tão intrimcadas, a ponto de serem inseparáveis. Pouco importa o alcance vocal de Madonna ou se suas canções são inovadoras, o que importa é a manutenção da fórmula “emi-
to, logo existo”. Mas, atualmente, a difusão musical está sendo reconfigurada, com a chegada das mídias digitais. O público que antes dependia de um esquema massivo e vertical para acessar a produção musical, não mais depende da rádio, da tevê ou da loja de discos. Pode fazer uma curadoria relacionada ao seu ídolo escolhendo o material via internet. Antes mesmo de a música e o videoclipe estarem disponíveis no mercado, já existe um material prévio circulando, graças à cultura de compartilhamento digital. Essa espécie de press kit self-service é algo que passou a fazer parte da estratégia de qualquer artista minimamente antenado com a cultura contemporânea.
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Foto: divulgação
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Apesar de ser fruto da era de comunicação de massa, Madonna tem cada vez mais se orientado para a internet. Como estratégia de divulgação, no dia seguinte do lançamento de seu novo álbum, realizou uma entrevista ao vivo via facebook, respondendo em tempo real às perguntas enviadas pelos fãs. Madonna nunca esteve tão acessível. “Você vai ao canal da Madonna, você tem lá o making off da coreografia do clipe, o vídeo da festa depois da apresentação do Super Bowl, e isso vai se desdobrando em milhares de coisas que são feitas para ser acessadas pelo público”, diz Eduardo de Jesus, professor de teoria audiovisual da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-MG. Toda essa mudança no parâmetro de circulação da informação talvez justifique a relação intrínseca, porém paradoxal, que a indústria da música acabou por estabelecer com o audiovisual. As ferramentas digitais – de fácil acesso – e o surgimento de canais como o YouTube, o Vimeo e o Dailymotion dão ênfase na produção do audiovisual voltada para a indústria musical e sua facilidade de circulação, mas não significam um aumento qualitativo dessa produção. “O sistema tradicional de fazer videoclipes ainda é dominante. Poucos artistas estão investindo em outras maneiras de fazer videoclipe. As relações entre som e imagem ainda são as mesmas: gente dublando a
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música
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música ou contando uma historinha”, critica Eduardo de Jesus. Algumas iniciativas parecem pensar o futuro dessa produção – caso da banda Arcade Fire. O clipe da faixa We Used to Wait, presente no álbum The Suburbs e dirigido por Chris Milk (2009), foi uma novidade por se tratar de um videoclipe interativo. O vídeo utilizava recursos do Google Street View para fornecer uma versão personalizada ao público. Quando acessado, é necessário que o fã digite um endereço de sua escolha, e então as imagens de cenas gravadas são sincronizadas em tempo real com imagens das ferramentas do Google Street View. “A música, mais do que outras manifestações artísticas, possui um siste-
ma de sociabilidade gritante. E isso está ficando cada vez mais evidenciado porque se conecta intensamente com o circuito de comunicação”, afirma Eduardo de Jesus, que já dirigiu videoclipes para a banda Pato Fu. Outro exemplo que se enquadra na mudança de circulação da música é o projeto Biophilia (2011), de Björk. Na época do lançamento do CD, a cantora islandesa declarou diversas vezes que não fazia mais sentido pensar a música apenas sob a pers-
Arcade Fire fez uso radical do vídeo na internet com clipe interativo de lançamento de The Suburbs
Não faz mais sentido pensar a música apenas sob a perspectiva do som” Björk
pectiva do som. Ela aproveitou também a chegada dos tablets para repensar um novo modo de dar uma “cara” à sua música que não fosse apenas por meio de videoclipes. Trabalhando com o designer e programador americano Scott Snnible, Björk criou um disco cujas músicas eram aplicativos interativos para iPad. Em longa entrevista à seLecT, Snnible destacou que, na ocasião do lançamento, Björk disponibilizou iPads para que o público interferisse em tempo real nas imagens da performance, a fim de garantir a experiência dos novos modos de criação que esse tipo de mídia sugere. Acesse a entrevista completa em http://bit.ly/HZtl1v.
Foto: Anton Corbijn
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“O LUGAR DO VIDEOCLIPE É A INTERNET” EDUARDO DE JESUS Na década de 1980, o videoclipe estabeleceu-se como ferramenta da indústria musical. O que mudou de lá para cá? O sistema de circulação da comunicação. O lugar do videoclipe não é mais a televisão. O lugar do videoclipe é a internet. Antes, eu ligava a MTV para ver o Top 10 e ficar esperando a quinta colocação, que era a da banda que eu gostava. Agora, não. Posso ver essa banda no YouTube, no Vimeo, no Daylimotion, onde quer que seja, já vejo o que eu quero. É essa mudança que aconteceu: a de um sistema que antes era massivo para o que alguns chamam de pós-massivo. É uma forma de comunicação distribuída. Como isso reflete na relação dos artistas com o videoclipe? Algumas pessoas são muito apologéticas com relação a essa ideia de comunicação distribuída. Mas, quando vejo lá que o vídeo mais visto no YouTube é o de uma criança mordendo o dedo da outra, eu penso: estamos no mesmo circuito massivo de sempre. Não significa que seja uma mudança qualitativa – da qualidade do que se vê, porque a internet
recebe tudo –, mas agora se pode escolher o que se quer ver. E isso traz uma circulação gigante. Têm uns caras falando agora em ciberfilia, coisas que já estão apontando para outra história. Toda essa situação do audiovisual passa pela internet. Já há bandas experimentando novas linguagens do videoclipe no âmbito do digital? Sim, mas elas são um número significativamente pequeno, perto da quantidade de bandas que lançam videoclipes diariamente. Você tem o clipe Sour, de uma banda japonesa, cujo vídeo transforma os espectadores em protagonistas. Tudo que se tem a fazer é conectar a webcam e assistir à sua própria performance. Outro é o Arcade Fire, que fez aquele vídeo interativo que usa o Google Street View. Mas esses exemplos ainda são experimentações, não é a linguagem dominante. Isso é o futuro. Quando Björk faz iPhone e iPad, além do disco, é uma forma de apontar como a imagem musical poderá despontar no futuro. Mas não é o que acontece na prática. Grande parte dos artistas ainda investe em videoclipes caretinhas; vide Lady Gaga, Rihanna e até mesmo a Madonna, com esse videoclipe novo, Girls Gonna Wild. É um vídeo bonito, mas não tem nada de novo. Fico pensando se não é uma resposta para Lady Gaga, do tipo: “A tia aqui é quem sabe fazer”.
FOTO: INEZ VAN LAMSWEERDE & VINOODH MATADIN
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Design Grรกfico
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PANAMERICANA : CRIATIVIDADE v i s i t e
on Graphics
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Gaby Amarantos bebe nas festas de Aparelhagem no primeiro disco-solo
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reviews ção com a cantora, exceto na composição de duas faixas – justifica o interesse da mídia em inserir o álbum Treme no circuito nacional como a nova promessa da música brasileira. E a justificativa vai mais além. É dada como uma espécie de reconhecimento da expertise da classe C (da produção cultural de regiões mais pobres do País) em dar um tratamento próprio e criativo aos produtos de consumo, muitas vezes já exauridos pela entediante classe média brasileira. E certamente a música é um desses produtos. Ex My Love, quarta faixa do disco, por exemplo, é trilha de abertura de Cheias de Charme, novela global que pela primeira vez tem como protagonistas três empregadas que se tornam cantoras populares de sucesso. Treme mostra não só a riqueza a ser descoberta no Pará, mas também novas possibilidades para a música brasileira, que vai muito além do samba e do axé.
música
Do Pará para o Brasil Nina Gazire Em seu primeiro disco-solo, Treme, Gaby Amarantos mostra que a música pop brasileira é muito mais do que samba e axé
Talvez o dado mais impressionante em relação ao mais recente fenômeno pop brasileiro, a paraense Gaby Amarantos, não seja o surgimento de uma cantora, mas o fato de que o Brasil esteja descobrindo o que já não era novidade. As Aparelhagens são festas que acontecem na Região Norte do País há muito tempo. O termo tem origem no aparato (uma espécie de nave espacial formada por pick-ups e caixas de som) de onde o DJ controla as misturas que deram origem ao tecnobrega e ao tecnomelody. A música brega em si é menos novidade ainda e é algo que está urdido na nossa cultura de maneira indissociável, sendo quase um fato natural que ela tenha ganho uma roupagem eletrônica – como todos os ritmos musicais receberam nos últimos tempos. E, convenhamos, a banda Calypso já levou seu tecnomelody por aí e os figurinos usados pela vocalista Joelma fazem da excentricidade de Lady Gaga coisa ultrapassada. Fenômeno regional que atinge uma escala que ultrapassa seus limites territoriais, o primeiro disco-solo de Gaby Amarantos bebe nas festas de Aparelhagem e está aí para mostrar – para um público que não possui familiaridade – a amálgama cultural da música paraense. Esse é seu grande trunfo. No álbum, o tecnobrega não se dá apenas pela equação tecno + brega. Há muito mais mistura que nasce dos ritmos do carimbó, da guitarrada e do siriá. Além disso, composições clássicas do sertanejo, como a versão de Coração em Pedaços, de Zezé de Camargo e Luciano, recebem roupagem dançante, tendência presente também nas canções mais novas desse gênero. Toda essa lavagem pop que o brega/popular paraense recebe com propriedade – toda a produção e execução do disco foi feita por artistas locais em colabora-
livros
Entre neblinas Juan Esteves Fotografias de Robert Rauschenberg valorizam as afeições e a amizade do artista com Cy Twombly e Jasper Johns
Treme, Gaby Amarantos, Som Livre, R$ 14,90
Rupturas na arte raramente são geradas por um único artista ou uma única mídia. É importante pensar nisso quando tratamos do texano Robert Rauschenberg na produção contemporânea, em especial suas fotografias publicadas no livro Robert Rauschenberg Photographs 1949-1962, organizado por Susan Davidson e David White, com prefácio de Nicholas Cullinan, editado no fim de 2011 na Inglaterra. Cullinan é curador de arte moderna da Tate Modern, Davidson é curadora-chefe do Guggenheim Museum e White foi curador do próprio Rauschenberg, de 1980 até a morte do artista, em 2008, aos 83 anos. O material que eles apresentam no livro não é inédito, mas surge como uma boa tentativa de mapear as ligações dessa produção fotográfica seminal, antes que o artista passasse a inserir as imagens em litografias ou instalações. As fotografias de Rauschenberg já haviam ganho
Foto: Luiz braga
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tenham assumido isso em público. Em entrevista a Jonathan Katz, publicada em 1993, ele declarou: “Não estou assustado com a afeição que Jasper e eu tivemos, tanto pessoalmente como quando artistas trabalhando. Não vejo nenhum pecado ou conflito nesses dias quando cada um de nós era a pessoa mais importante na vida do outro”. Rauchemberg também não via pecado em inserir fotografias na arte quando pouca gente ousava fazer isso. Estava também certo.
boas análises anteriores. O curador Walter Hopps (1932-2005) garantia que elas constituíam a ferramenta essencial da obra do artista. Mas, agora, nessa cuidadosa edição, podemos observar o que sustentou seu processo criativo como fotógrafo, ainda que o conjunto possa parecer conservador. Excetuando imagens heliográficas e algumas duplas exposições, a formalidade, surpreendentemente, parece nortear sua câmera. O livro é dividido em vários portfólios: o primeiro é New York I, que traz imagens do fim dos anos 1940, notadamente retratos de familiares e as famosas Blue Prints (monotipias em cópias heliográficas de grandes formatos), do início de 1950. O segundo é Black Mountain and the South, retratos do americano Cy Twombly, que morreu em 2011 e com quem Rauschenberg partilhou ideias, uma intensa relação e intimidades que todos preferiram manter entre neblinas. Estas, sem dúvida, aqui ficam implícitas. “Europa-North Africa-Europa” traz paisagens de Veneza, Roma, Madri e Tânger, no Marrocos, e algumas aparições do amigo Twombly. Rauschenberg é atento às esculturas antigas, à arquitetura, às cenas de ruas, mas não promove nenhuma experimentação gráfica mais ousada, talvez por limitações técnicas. Já New York II traz detalhes de seu estúdio na Rua Fulton, onde ele se autorretrata, e de trabalhos como as importantes Black Paintings. Há retratos do amigo e coreógrafo Merce Cunningham e de Jasper Johns, então com 25 anos. Os retratos de Twombly ou Johns não lançam uma luz direta na relação dos três, mas acendem as especulações sobre suas intimidades, já discretamente apresentadas por Rauschenberg, embora nunca
em 1952, robert rauschenberg utiliza o artista cy twombly como modelo de uma série fotográfica de alta potência cinematográfica
arte
Instável como a dança Tiago de Abreu Pinto Retrospectiva de James Coleman em Madri percorre filmes e ambientes audiovisuais realizados desde os anos 1970
Robert Rauschenberg Photographs 1949-1962, Susan Davidson e David White (org.), Thames and Hudson, 232 págs., 167 ilustrações, US$ 54,75 na www.amazon.com
Mesmo que o artista irlandês James Coleman seja uma figura capital da arte das últimas três décadas, com uma extraordinária inf luência em artistas como Steve McQueen, Tacita Dean e Janet Cardiff, ele não costuma expor com frequência. O Museo Reina Sofia dedica-lhe atualmente uma exposição que reúne 17 peças, e algumas obras mudarão durante o período de exibição, dando lugar a outras. É a primeira vez que se pode ver a pluralidade da produção desse artista, que se mostra somente agora dadas sua resistência em compartilhar seu processo e a complexidade de sua obra que, dentre outras características, questiona, como Foucault e Barthes, a visão romântica do autor até o aniquilar por completo. A mostra reúne desde os primeiros trabalhos filmados em 8 mm, com uma câmera Bolex – realizados a partir de seu interesse na improvisação e na estrutura narrativa dos cineastas neorrealistas italianos e da nouvelle vague francesa –, até a última obra realizada para a Documenta XII, intitulada Retake with Evidence (2007), que tem Harvey Keitel como protagonista.
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reviews Segundo o curador Manuel Borja-Villel, a característica da instabilidade aparece na obra de Coleman por ele trabalhar sempre nas “brechas”. Comparada por Borja-Villel com a dança – por compartilhar com ela a instabilidade –, a obra de Coleman exige áreas abertas, onde o espectador, em movimento, constrói seu próprio espaço. Outros elementos marcantes em suas obras são o som, construtor de espaços e ritmos; a imagem, que questiona a própria natureza da percepção; a estrutura narrativa, que funciona a partir da repetição rítmica, sem conteúdos precisos e de impossível tradução; a integração de distintas temporalidades; o dispositivo (projetor), que faz parte da obra; a representação, questionada de maneira circular; e as tradições populares e eruditas, como no caso de Retake with Evidence, que conta com Keitel recitando Édipo Rei. Coleman desde o princípio se sentiu atraído pela análise das propriedades do “fotográfico” (a imagem fixa e em movimento), como em Pheasant (c.1970), que cativa, como todos os trabalhos do artista, por apresentar uma realidade sem solução entre a “morte” reanimada no tempo e a “vida” congelada em um tempo suspendido.
arte
Uma chance de ter sorte ALESSANDRA MONACHESI RIBEIRO Instalação de Christian Boltanski apresentada na Bienal de Veneza é recriada para mostra no Rio de Janeiro
James Coleman, até 27 de agosto. Museo Nacional C e n t ro d e A r t e Re i n a Sofia, Madri
harvey keitel protagoniza retake with evidence (2007), de james coleman
Primeiro vem o som. Ensurdecedor. O que nos atinge primeiro em Chance, a instalação de Christian Boltanski exposta na Bienal de Veneza de 2011 e agora recriada para uma exposição na Casa França-Brasil, no Rio, é o intenso ruído que nos envolve e nos arremessa para dentro do ambiente criado pelo artista. Pois a obra, aqui, é todo um contexto produzido para suscitar um estado de alma – do clima à iluminação, do som às imagens. A memória, na obra de Boltanski, vai do pessoal reconstituído ao esforço de uma reconstrução coletiva. As referências ao Holocausto – paradigma do desaparecimento de cada indivíduo singular em meio à unidade despersonalizante e mortífera de uma massa homogênea de seres indistintos – trazem o tom melancólico que permeia toda sua obra, lembrando-nos da precariedade de nossa condição humana. A memória seria, então, o contraponto dessa fragilidade extrema que nos ameaça não apenas com o perigo da morte, mas com aquele ainda mais aterrador do desaparecimento. Ela funcionaria como tática de resistência contra a indistinção, tentativa de recuperar para a vida, sinalizar cada um dos desaparecidos, dando-lhes uma chance para que se perpetuem. Mesmo que como obra de arte. Na instalação de 2011, imagens de bebês recém-nascidos percorrem uma esteira maquinal, como se Chance fosse uma chance de ter sorte. E como se sorte pudesse ser destino, essa criação arbitrária que funciona como antídoto para o acaso. Destino de ser o escolhido, aquele que ao sinal do estrondoso alarme da instalação aparece projetado em uma tela. Aquele que ganha o direito de nascer e de fabricar memórias. Um contador marca os nascimentos, outro assinala as mortes, numa espécie de competição perdida de
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antemão, na qual a vida tentaria, de algum modo, levar a melhor. A morte é inevitável, mas a vida persiste mecanicamente. A chance interfere ainda no botão que cada espectador pode apertar, formando um Frankenstein de diversos pedaços de rosto que constituem um só, noutro ponto da instalação. Uma caricatura da arbitrariedade com que tantos pedaços se juntam para constituir um ser sempre malformado, um arremedo de singularidade que não se faz em harmonia. Somos uma colcha de retalhos imperfeita, com a qual cada um tem de se virar dada a chance – sorte – destino – acaso de ter nascido. Sem razão e sem sentido, a não ser aqueles que possam ser inventados. Mas quem, mesmo nessas condições de precariedade, recusaria que o sinal de alarme da máquina barulhenta da vida o apontasse? Christian Boltanski poucas vezes foi tão mordaz e pouco reverente em seu posicionamento diante da existência humana.
instalação A Roda da Sorte (2011), de Christian Boltanski, fica entre uma máquina do tempo e um projetor de filmes
Chance – Christian Boltanski, até 8 de julho, Casa França-Brasil, Rua Visconde de Itaboraí, 78 – Rio de Janeiro
francês de melhor roteiro em 2012. Um de seus trunfos é a aliança com a própria autora como corroteirista e com um ótimo elenco: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly. A multiculturalidade que está impressa nos genes da dramaturga talvez explique a acolhida internacional desse texto, encenado na Suíça, na Inglaterra, nos EUA, na França e no Brasil. Filha de mãe húngara e pai russo-iraniano, ambos judeus, Yasmina imprime essa marca com particular perícia nesse texto de 2006. A câmera indiscreta de Polanski dá a esse embate entre dois casais um clima de Big Brother, apesar de se passar dentro do cenário quase único de um apartamento. Ironicamente, o confinamento físico limitou o próprio Polanski durante a escritura do roteiro, desenvolvido durante os sete meses que durou sua prisão domiciliar, em Gstad, na Suíça, depois da prisão em Zurique, em 2009. Pesa sobre o cineasta a acusação de estupro de uma menor em 1977, nos EUA – país que ainda busca sua extradição, o que motivou que o apartamento de Deus da Carnificina, apesar de nominalmente localizado em Nova York na história, na verdade ter sido filmado em Paris. Contornando as limitações do cenário único, Polanski desdobra nos diálogos não raro ferozes as muitas nuances desse quarteto, formado pelos pais de um garoto que agrediu o filho do outro casal, quebrando-lhe dois dentes. O filme mostra a briga dos meninos – na peça, apenas mencionada –, desnudando um tema muito moderno, o bullying e os limites da reação razoável a ele.
cinema
Claustrofobia em tempo de Big Brother Neusa Barbosa Em Deus da Carnificina, o diretor Roman Polanski cria um retrato cínico dos limites da civilização
O diretor Roman Polanski volta ao melhor do seu cinema claustrofóbico, visto em Repulsa ao Sexo (1965) e O Inquilino (1976), agora em tom de comédia corrosiva em Deus da Carnificina, que adapta a peça da francesa Yasmina Reza e foi premiado com o César
Reilly, Jodie Foster, Waltz e Kate Winslet em Carnage - deus da carnificina, de polanski
Fotos: Nederlands Fotomuseum e Imagem Filmes
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reviews Corriqueiro na aparência, o incidente deflagra um enfrentamento, cujo foco se alterna em cada um dos protagonistas. A discordância sobre os termos da reparação é o rastilho que incendeia com fogo lento as duas duplas, que se julgam muito civilizadas, mas logo deixam cair a máscara. Acirrando o conflito, cada par tem diferente origem social e cultural, assumindo posições em choque sobre questões que, por mais extemporâneas que pareçam, alimentam essa guerra verbal. Polanski faz justiça ao texto com um filme notável por sua intensidade minimalista, sustentando a ironia que se costura nas entrelinhas. Capta, assim, o sentimento muito moderno de cansaço com o politicamente correto e da cínica constatação da latência de alguns dos piores instintos da espécie humana, cujos séculos de cultura e civilização têm sido insuficientes para atingir uma vida pacífica em sociedade. Até dentro do próprio lar.
vídeo
Ótica retrô Camila Bechelany, de Paris Vidéo Vintage 1963-1983 é uma exposição incontornável para os profissionais e uma aula de videoarte para os iniciantes
Centro Georges Pompidou, quarto andar. No final da galeria, móveis antigos, papel de parede florido, tapetes felpudos, plantas, grandes poltronas alaranjadas e televisores, vários televisores antigos. Nesses televisores, vídeos históricos como Shoot (1971), de Chris Burden, Centers (1971), de Vito Acconci, ou Bouncing in the Corner 1 and 2 (Upside Down) (1968-1969), de Bruce Nauman. A exposição Vidéo Vintage 1963-1983, que esteve em cartaz até 7 de maio em Paris, e vai para o ZKM na Alemanha, é uma seleção de 70 obras de 52 artistas presentes na coleção de Novas Mídias do Museu Nacional de Arte Moderna da França. A curadoria é de Christine van Assche, responsável pelo Departamento de Novas Mídias do museu, e de Florence Parot, assistente de curadoria. A cenografia retrô da exposição é uma aposta bem-humorada e inteligente na contextualização da atmosfera da época em que os vídeos foram realizados. A galeria do museu foi transformada em 16 minissalas, onde se
Deus da Carnificina, de Roman Polanski, a partir de 7 de junho nos cinemas brasileiros
Frame de vídeo de Fred Barzyk, do período em que foi diretor e produtor da WGBH, televisão pública de Boston. a Obra está em exibição na mostra Vidéo Vintage
Vidéo Vintage 19631983, Zentrum für Kunst und Medientechnologie (ZKM), em Karlsruhe, Alemanha
pode assistir com tranquilidade e conforto às performances delirantes de Marina Abramovic ou às meditações místicas de Bill Viola e resgatar um tempo da obra, que não pode ser apreendido quando se assiste aos vídeos pela internet. Com 1.400 obras, a coleção de vídeos do MNAM é uma das mais importantes do mundo e na exposição as curadoras colocaram o foco numa apresentação globalizada da videoarte, defendendo a hipótese de que essa mídia se desenvolveu em todo o mundo mais ou menos no mesmo ritmo nos seus primeiros 20 anos de vida. Sonia Andrade estava fazendo o seu Sem Título 2 (Feijão), no Rio de Janeiro em 1975, mais ou menos no mesmo momento em que Nil Yalter fez o seu La Femme Sans Tête ou La Danse du Ventre em Paris, em 1974, e que Martha Rosler produzia seu Semiotics of the Kitchen em Nova York, em 1975. A exposição é dividida em três sessões temáticas, com um recorte curatorial construído por meio da afinidade de estratégias artísticas. A primeira parte, Performance e Autofilmagem, reúne vídeos feitos com as primeiras câmeras portáteis disponíveis no mercado, as Portapak Sony, que registram performances ou ações quase sempre em close. O trabalho Button Happening (1965), de Nam June Paik, considerado a primeira obra de arte em vídeo, abre essa sessão. A segunda parte, A Televisão – Pesquisas, Experimentações, Críticas, explora a utilização da televisão. Nos seus primórdios, os canais de tevê eram como laboratórios de pesquisa estética e tecnológica e vários artistas foram convidados a utilizar seus equipamentos de gravação e montagem. Segundo Christine van Assche, a questão do espectador é central nessa exposição e os vídeos de Valie Export, Facing a Family (1971), e de Bill Viola, Reverse Television – Portraits of Viewers (1983-1984), se interessam pelo espectador anônimo da televisão. No vídeo de Export observamos por quase cinco minutos uma família jantar assistindo à tevê. Numa estratégia
Foto: Coll. Centre Pompidou. Photo Hervé Véronèse
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similar, o vídeo de Viola coloca os espectadores no lugar da televisão e vemos uma série de telespectadores que nos encaram atentos ou entediados. A terceira parte da exposição, Atitudes, Formas, Conceitos se interessa pelas pesquisas conceituais que utilizam o vídeo como meio de expressão. A cenografia utilizada é a tradicional do museu, com pedestal e monitor catódico em cima. Estão representados, entre outros, Joseph Beuys, Daniel Buren e a artista brasileira Anna Bella Geiger com o vídeo Passagens II, de 1974. A curadoria aproveita também para contar um pouco da história institucional do vídeo e apresenta alguns documentos e publicações que testemunham a entrada dessa mídia nas coleções e exposições da Europa e dos EUA. Vidéo Vintage 1963-1983 é uma exposição incontornável para os profissionais do meio e uma verdadeira aula de videoarte para os iniciantes.
Antonio fagundes em ação como Rothko na peça Vermelho, sob direção de Jorge Takla
t e at r o
Rothko com ares de Picasso JULIANA MONACHESI O melhor de Vermelho, peça em cartaz em São Paulo, é o texto do autor, John Logan, roteirista de A Invenção de Hugo Cabret
A peça começa com um Rothko que projeta exageradamente para a frente as ancas, vestindo calça pula-brejo, que lembra de forma temerária Anthony Hopkins interpretando outro artista, que estaria mais adequadamente situado em uma peça ambientada uns 30 anos antes. O Hopkins de Os Amores de Picasso (1996) insiste em voltar à memória nas cenas seguintes, até que o avassalador texto de John Logan atropela o espectador e o toma por
Vermelho, Teatro Geo, Rua Coropés, 88, Alto de Pinheiros, tel. (11) 37284925. Sexta, às 21h30. De quinta a sábado, às 21h00. Domingo, às 18h00. De R$ 100 a R$ 120. Censura 12 anos.
completo. Estamos em 1958, no ateliê de Mark Rothko (1903-1970), em meio à produção das telas que Philip Johnson, um dos arquitetos do então em construção Edifício Seagram, encomendou para o restaurante Four Season, no térreo do arranha-céu de Manhattan. Rothko receberia pela encomenda US$ 35 mil, o que hoje equivaleria a US$ 2,5 milhões. Nunca um artista tinha recebido um montante desse porte por um trabalho comissionado. Porém, em 1958, o trágico e filosófico artista entra em crise por estar talvez comprometendo sua obra – a mais purista do alto modernismo. Ele contrata um assistente (Ken, interpretado por Bruno Fagundes), com quem vai estabelecer uma relação de mestre e pupilo, pai e filho. Baseada na escassa biografia e nos fartos escritos sobre arte de Rothko, a peça atualiza os conflitos entre abstração e pop e entre arte purista e mercado. Um texto impecável e uma atuação intensa (apesar do cacoete picassiano) são relativizados pelas reproduções de Rothko desprovidas de energia. O cenário apresenta um Rothko que está mais para pintor hard-edge do que soft-edge – que ele era. Em uma peça que originalmente (Londres, 2009) tomava as telas como verdadeiro protagonista, talvez esta seja uma falha fatal. Sobre as telas de 1958 e 1959, o crítico Simon Schama afirma, em episódio do programa O Poder da Arte, da BBC: “Quando fui ver as pinturas do Seagram, em 1970, pensei que seria como uma viagem ao cemitério do expressionismo abstrato, uma reverência zelosa a um beco sem saída. Mas eu estava enganado”. Schama chega à sala da Tate Modern, onde as pinturas estão hoje: “Olhe para esta. O que você vê? Um véu pendurado, suspenso entre duas cores? Uma abertura que recusa a entrada? Uma janela cega? Para mim, é uma passagem. Se alguns desses portais estão bloqueados,
Foto: joão caldas
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outros se abrem para o espaço desconhecido de que Rothko falava, o lugar onde apenas a arte pode nos levar. Tudo o que ele fez a essas pinturas, as formas que se parecem com colunas sugeridas, mais do que desenhadas, as manchas soltas, tudo é feito para tornar a superfície ambígua (...). Pode alguma coisa estar mais distante do barulho furioso do agora? Isto não é sobre o agora. Isto é sobre o sempre”. São estas, em suma, as protagonistas ausentes da montagem da peça Vermelho em São Paulo. Mas o espetáculo, em cartaz no Teatro Geo, ainda vale pelos excelentes diálogos e a profunda pesquisa de John Logan – o talentoso roteirista de A Invenção de Hugo Cabret.
Fabio del re
reviews
Instalação de Lydia Negromonte no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte
arte
Fluxo de ideias Angélica de Moraes Nydia Negromonte faz instalação hidráulica semiclandestina no Museu da Pampulha, em BH, e propõe reflexão sobre a promiscuidade entre o público e o privado no Brasil
A ideia é superbem-humorada, mas faz pensar sobre coisas muito sérias. Nydia Negromonte fez um “gato”, ou seja, uma ligação clandestina no Museu de Arte da Pampulha. Em vez dos “gatos” habituais, que roubam luz, este é hidráulico. Rouba da caixa d’água do prédio público, instalando uma utilíssima reflexão sobre a promiscuidade existente em Pindorama entre o que é público e o que é privado. E sobre os que lavam as mãos. A água flui de cisternas e recipientes de vários formatos e tamanhos, em trajetos gráficos, em canos de diâmetros e cores diversos, pelo espaço expositivo do andar térreo e ligando-se com o teto do mezanino. Jorra ou pinga de torneiras e até de um chuveiro co-
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Lição de Coisas: Nydia Negromonte, até 30 de junho, Museu de Arte d a Pa m p u l h a , Av. D r. Otacílio Negrão de Lima, 16.585, Belo Horizonte (MG)
locado do lado de fora do prédio. Como aquele que se usa para tirar a areia do corpo na saída da praia. Praia? Em Belô? Esse não é o único estranhamento do percurso. Há pias e tanques, mas não há toalha nem sabão. O visitante, porém, pode usar uma mangueira para molhar o gramado do museu, porque, só então, haverá benefício público para a água da instituição. “Há uma hidrografia que torna aparente o desenho do fluxo d’água e remete, também, à irrigação interna das pessoas, das plantas, do solo”, comenta Nydia. Esse site specific, denominado Hídrica, já valeria a visita. Mas a individual Lição de Coisas, com certeira e sensível curadoria de Renata Marquez, apresenta vários outros trabalhos de alta voltagem criativa. Um deles é a obra que dá nome à exposição e “remete a um livro didático que, popularizado em Paris no século 19, propunha um método de ensino intuitivo, no qual vinham as coisas antes das palavras”, observa Renata. Assim, ressignificando a parte pelo todo, a mostra vai tecendo conceitos estimulantes e, sem tropeçar em obviedades panfletárias, toca aspectos nevrálgicos da cidadania. A distribuição das obras entre térreo e mezanino, abrindo amplas áreas de vidro com vista para a Lagoa da Pampulha (aliás, uma água pública poluída pelas mansões e negócios à sua volta), conseguiu integrar a exposição à arquitetura do prédio, um Niemeyer da melhor safra, que até recentemente era retalhada por painéis. Nydia, que já viveu em São Paulo, Porto Alegre e Barcelona, na Espanha, até radicar-se na capital mineira, está no elenco de artistas da 30ª Bienal de São Paulo, que abre em setembro. Vale a pena esperar. O fluxo de ideias dessa artista está entre os mais vitais e bem estruturados conceitualmente da cena contemporânea brasileira.
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editorial
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O q faço é cinema
Paula Alzugaray
Ricardo van Steen
Giselle Beiguelman
“O q faço é música” é uma frase emblemática de Hélio Oiticica que define seu método de uso das palavras, coisas e ideias: intercalando-as como as faixas de um disco ou como notas musicais. É também o título de uma exposição individual do artista, realizada em 1986, na extinta Galeria São Paulo. “Descobri que o que faço é música e que música não é ‘uma das artes’ mas a síntese da consequência da descoberta do corpo”, escreveu ele. Nos anos 1980, muito antes de as artes serem interligadas pela tecnologia, HO já sabia que música, cinema, artes visuais, texto, arquitetura, dança, design e moda eram partes de um mesmo “Programa”. E é por isso que em seLecT 06 nós fazemos cinema. E com isso citamos Hélio Oiticica. Nesta edição dedicada à imagem em movimento veiculamos cinema, vídeo, televisão e as miríades de novos formatos audiovisuais que surgiram com as mídias digitais. Especialmente os microformatos. Mas não apenas isso. Falar de cinema é fazer circular também a música, o design, a gastronomia, a moda. Autor do editorial de moda desta edição, o fotógrafo Roberto Wagner faz cinema quando refotografa Deserto Vermelho – clássico de Antonioni, de 1964, protagonizado por Monica Vitti –, aqui ambientado na paisagem pós-industrial de Cubatão, em São Paulo. Eder Santos, que teve um perfil realizado por Angélica de Moraes, está hoje finalizando seu segundo longa-metragem, Deserto Azul. Mas ele não faz cinema só quando está imerso na produtora Trem Chic, envolvido em produções ou montagens de videoinstalações. Eder Santos faz cinema quando relaciona experiências gastronômicas a cinematográficas. Ou quando instala seus video-objetos no salão de seu restaurante, Salumeria Central, o mais novo point na noite de Belo Horizonte, que tem entre as grandes estrelas do cardápio a panturrilha de porco. Esta edição de seLecT enaltece os fazedores de cinema, sejam eles cineastas, internautas ou designers. Na maior e mais importante feira de design do mundo, a Semana de Milão, Juliana Lopes selecionou designers-cineastas que demonstram a onipresença do audiovisual no banheiro, na cozinha e outros cantos insuspeitos da casa. E inaugurando as reviews de música, Nina Gazire afirma que o grande mérito do disco-solo de estreia de Gaby Amarantos, a musa do tecnobrega, é tratar-se de uma “amálgama cultural” que equaliza ritmos e influências não apenas sonoras, mas visuais e culturais. Afinal, música e imagem nunca estiveram tão intrincadas. Parafraseando HO, o cinema que se projeta em seLecT não é “uma das artes”, mas todas elas.
Paula Alzugaray
Angélica de Moraes
Juliana Monachesi
Nina Gazire
Bruno Pugens
Anna Guirro
Hassan Ayoub
Mariel Zasso
D i reto ra d e re d a ç ã o
Ana Moraes Ilustrações: Ricardo van Steen, a partir do aplicativo face your mangá
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reviews cinema
O eterno retorno da memória Neusa Barbosa Walter Salles assina o longamente esperado Na Estrada um retrato maduro das buscas inadiáveis da juventude
Há certo anticlímax em toda a euforia que envolve Sal (Sam Riley, de Control), Dean (Garrett Hedlund, Tron: O Legado) e Marylou (Kristen Stewart, saga Crepúsculo), o trio de personagens à frente de Na Estrada, o novo filme de Walter Salles concorrente à Palma de Ouro em Cannes 2012. Essa espécie de melancolia, de sensação de catástrofe iminente, é a melhor prova do acerto na sóbria e elegante adaptação de Salles a partir do cult autobiográfico publicado por Jack Kerouac há exatos 55 anos. Porque do que a história realmente trata é de perda, seja da inocência, da amizade ou do amor, diluídos no tempo que passa, inexoravelmente, carregando os traços de tudo o que fomos. Longamente esperado e passando por inúmeras mãos antes de finalmente ser assumido pelo diretor de Diários de Motocicleta (2004) – road movie que levou Coppola, detentor dos direitos do livro desde 1969, a cogitar o cineasta brasileiro –, Na Estrada consegue ter personalidade própria diante de uma obra quase sagrada. Respeita o texto, mas não se deixa aprisionar por ele, tomando liberdades suficientes para escapar à habitual prisão cronológica dos filmes de época. Embora fiel ao tempo da história, final dos anos 40, começo dos 50, no pós-guerra, portanto, a história se libera de um excesso de obrigações em termos de cenários e figurinos, em favor de permitir o máximo de espontaneidade juvenil aos seus personagens – o que garante a sintonia com o espírito de rebelião e inconformismo diante da autoridade que caracteriza não só a Geração Beat, mas toda e qualquer nova geração. Salles confiou em seus atores o suficiente para lhes permitir trazer suas próprias contribuições, sem perder de vista a moldura de seus papéis. Um bom exemplo é o de Viggo Mortensen, o mais velho e experiente
Sal paradise (Sam Riley) e Dean moriarty (Garrett Hedlund), em cena de na estrada, de salles
Na Estrada, de Walter Salles, a partir de 13 de julho nos cinemas brasileiros
do elenco, que, ao interpretar o veterano rebelde Old Bull Lee, alter ego do escritor William Burroughs, usou sua própria pesquisa para nutrir sua caracterização. Ou seja, não só roupas e as armas como as que Burroughs usava na época da história, como também os livros que lia, caso da obra do polêmico francês Louis-Ferdinand Céline. Por conta disso, uma improvisação com Viggo gerou uma cena com um livro de Céline, que não é citado no original de Kerouac. Sexo, drogas e mais jazz do que rock-n’-roll, numa trilha assinada pelo argentino Gustavo Santaolalla, além da fotografia de beleza documental do francês Éric Gautier – ambos parceiros de Salles em Diários de Motocicleta –, arrematam este dolorido relato sobre a persistência da memória. Afinal, se Sal pudesse esquecer Dean, não haveria o livro de Kerouac, nem o filme de Salles, nem o poderoso testemunho de ambos sobre a vertigem da juventude e a inevitável chegada da maturidade.
Foto: joão caldas
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ALCINO LEITE NETO O VISIONÁRIO PRÉDIO DE VIDRO DE EISENSTEIN FILME NUNCA REALIZADO DO CINEASTA RUSSO É CRÍTICA AO PROJETO ARQUITETÔNICO MODERNO PARA A INFELICIDADE DO CINEMA, ALGUNS PROJETOS DE FILMES DE SERGEI EISENSTEIN JAMAIS FORAM REALIZADOS, COMO A ADAPTAÇÃO DO ROMANCE UMA TRAGÉDIA AMERICANA, DE THEODORE DREISER, A AMBICIOSA VERSÃO DE O CAPITAL, DE KARL MARX, E O ESPANTOSO GLASS HOUSE, CUJO CENÁRIO SERIA UM EDIFÍCIO INTEIRAMENTE FEITO DE VIDRO – PAREDES, TETO E CHÃO. “Cada um na sua vida escreve seu mistério; o meu é Glass House”, anotou Eisenstein em seu diário, em 1946, dois anos antes de morrer, aos 50 anos. Mistério dele e também nosso, pois do projeto desse filme só restaram alguns poucos desenhos e anotações, que, todavia, permitem dizer que Glass House teria sido a mais radical experiência arquitetônica do cinema, em todos os tempos. Não apenas isso: teria sido ainda um filme que abriria caminhos insuspeitados para o cinema, por querer subverter a lógica do plano, da perspectiva e da montagem, ao mostrar corpos, objetos e situações que, por causa da transparência, participariam de um registro fílmico feito de simultaneidade e sobreposição, misturando várias ações diferentes, o alto e o baixo, o interior e o exterior (e, portanto, o público e o privado). A ideia de Glass House surgiu ao diretor (com esse nome, em inglês), durante uma viagem a Berlim, em 1926. Eisenstein – que era filho de arquiteto e estudou engenharia civil – inspirou-se no uso do vidro pela arquitetura moderna, que investira o material de atributos novos e utópicos. No entanto, aos olhos do diretor engajado na Revolução Soviética, os arquitetos
ocidentais estavam por demais arrebatados pelas “obras miraculosas da arte da construção e do pensamento arquitetônico, feitas de cimento, ferro, vidro e raios solares”, para se preocuparem com o “homem real... o morador”. Glass House se configuraria, então, como um ensaio cinematográfico sobre o isolamento dos indivíduos nos países capitalistas e a indiferença social que os cerca, mas também como uma crítica – ou mesmo uma sátira – ao projeto arquitetônico moderno. No filme, apesar da transparência absoluta reinante no edifício, os personagens agiriam na mais completa ignorância do que está ocorrendo a uns e outros. Assim, uma cena de aspecto folhetinesco mostraria um marido que não percebe a traição de sua mulher na mesma casa em que ele está. Em outra, um sujeito solitário se enforcaria, envolvido pelos demais habitantes do prédio, ocupados com suas atividades habituais. “Pegar as ações mais banais ‘and change the point of view’. Pegar os tipos e conflitos psíquicos mais tradicionais ‘and change the point of view’”, escreveu Eisenstein, em inglês.
AMERICAN DREAM Glass House voltou à
mesa de trabalho do diretor em 1930, quando ele desembarcou nos EUA, atendendo a um convite para filmar em Hollywood – coisa que nunca se concretizaria. Um orçamento do gigantesco cenário de vidro chegou a ser encomendado pela Paramount, mas o filme esbarrou em mil empecilhos. Entre eles, a teimosia dos produtores em encontrar uma “story” para encaixar no prédio de vidro de Eisenstein, que, por seu lado, imaginava fazer do filme “um desfile de episódios com todos os lugares-comuns envolvendo as estrelas americanas”. Décadas mais tarde, o francês Jacques Tati – outro grande “arquiteto” do cinema –, provavelmente sem ter conhecimento de Glass House, criou na obra-prima Playtime (1967) sequências extraordinárias que lembram muito o projeto fascinante do diretor soviético. Projeto que Eisenstein assim definiu, como se pensasse numa época futura, a nossa: “A solidão da exposição permanente aos outros e da visibilidade completa”.
FOTO: REPRODUÇÃO
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“PEGAR AS AÇÕES MAIS BANAIS ‘AND CHANGE THE POINT OF VIEW’. PEGAR OS TIPOS E CONFLITOS PSÍQUICOS MAIS TRADICIONAIS ‘AND CHANGE THE POINT OF VIEW’ Escreveu Sergei Eisenstein, em russo, com trechos em inglês
D O P R OJ E TO G L ASS H O U S E , D E E I S E N ST E I N , Q U E T E R I A S I D O A M A I S R A D I CA L EX P E R I Ê N C I A A R Q U I T E T Ô N I CA D O C I N E M A , S Ó R ESTA R A M A LG U N S P O U COS D ES E N H OS E A N OTA Ç Õ ES
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colunas móveis / novo cinema cearense
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YURI FIRMEZA TERRA DOS POSSÍVEIS
Cinema produzido em Fortaleza inventa uma cidade volátil que só existe enquanto se filma Há pouco mais de uma década, irrompia em Fortaleza uma série de ações que injetavam “doses de pulsão poética” no modo de se posicionar e, sobretudo, de inventar a cidade. Data desse período o surgimento do Alpendre, do primeiro curso de graduação em Artes Visuais e do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural Dragão do Mar. Com o esforço de artistas como Alexandre Veras, Eduardo Frota e Solon Ribeiro, entre outros, pequenos levantes ocorriam. À semelhança de fogos de artifício, eles aconteciam, produziam diferenças, deixavam lastros e se dissipavam para voltar a acontecer com novo frescor e potência. A intempestividade, o vigor e, paradoxalmente, a fragilidade daquele momento faz pulsar certos gestos audiovisuais produzidos hoje em Fortaleza. Se, por um lado, a aparente aridez da cidade – coronelista e provinciana como quase todo o Brasil – se configura como um empecilho para a experimentação de outros modos de existir em Fortaleza, por outro, o não engessamento do circuito e de suas regras – normalmente já definidas de antemão – possibilita a desconfiança das cartas postas na mesa. Esse parece ser um dos muitos lugares de incursão da produção em cinema e audiovisual cearense. Mas que lugar? Seguindo a esteira blanchotiana, diríamos que se trata justamente do lugar a partir do qual se fi lma, mas que tornamos visível no momento em que o
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fi lmamos. Dito de outro modo, o cinema (e pensemos o cinema em sua dimensão elástica, expandida e torcida) produzido em Fortaleza inventa uma cidade volátil que, concomitantemente, só existe enquanto se fi lma. Funda-se, ainda que provisoriamente, aquilo a partir do qual se fala enquanto se fala. E, além disso, faz falar uma Fortaleza possível. Se pensarmos nos longas-metragens Praia do Futuro (que contou com 18 realizadores) e Sábado à Noite (Ivo Lopes Araújo); nos curtas Supermemórias (Danilo Carvalho), Centauro (Marina de Botas), Europa (Leonardo Mouramateus), O Mundo Bate do Outro Lado de Minha Porta (Ticiano Monteiro), Raimundo dos Queijos (Victor Furtado), ou ainda na videoinstalação Sage (Solon Ribeiro) – para nos atermos apenas em alguns trabalhos e realizadores –, vemos em cada um
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desses vídeos não uma, mas múltiplas Fortalezas. Eles nos apresentam as peças de um mapa que não representa um lugar dado a priori. No fi lme Sábado à Noite há o vácuo cortante do silêncio, a deriva, o ínfimo e árido cotidiano; Supermemórias – fi lme realizado a partir de doação feita por cidadãos cearenses de arquivos caseiros produzidos em Super-8 nas décadas de 1960, 1970 e 1980 – fala de esquecimentos; nas projeções de Sage, a cidade é apresentada como elemento cenográfico e dramatúrgico; os hábitats dos mangues e o devir animal da mitologia cearense estão em Centauro; o olhar não ressentido e tampouco vitimizador está em Europa. Esses filmes não se pretendem totalizadores ou “verdadeiros”, mas fabuladores. São peças que em nada condizem com quebra-cabeças, uma vez que não procuram resguardar uma imagem
latente, essencialista ou identitária da cidade. É imprescindível apontar também que o modo de fazer-pensar cinema hoje em Fortaleza não se prende a questões temáticas ou a problemas referentes à linguagem. O frescor dessa produção opera também nas formas de produção, distribuição e procedimentos de toda a maquinaria cinematográfica – em consonância com o que alguns autores apontam ser “característico” no cinema pós-industrial. Grupos como o Alumbramento (cujos vários fi lmes e realizadores citados neste texto fazem parte), escolas como a Vila das Artes e a implementação recente de um curso de graduação em Cinema e Audiovisual têm reconfigurado o modus operandi do cinema produzido em Fortaleza. Seguimos caminhando, também sem pressa, na Estrada para Ythaca, fi lme que inaugurou esse novíssimo cinema cearense.
À ESQUERDA, FRAME DO CURTA SUPERMEMÓRIAS, DE DANILO CARVALHO; ACIMA, SAGE, FILME DE SOLON RIBEIRO, PROJETADO EM MATADOURO
FOTOS: DIVULGAÇÃO / CORTESIA DOS ARTISTAS
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Edmar Bulla Viral é a gripe
O vídeo viral, assim como a gripe, não é cria da era digital. A tecnologia só potencializou a capacidade humana de propagar algo culturalmente relevante Não é raro ouvir alguém dizer que pegou uma virose. Médicos explicam por virose um grupo de sintomas genéricos. Os publicitários resolveram emprestar o termo para tentar construir um subproduto: o Marketing Viral. Mas marketing é, foi e sempre será alicerçado em relacionamentos. A comunicação pressupõe decodificação de um repertório comum. O viral é, portanto, apenas uma artimanha, um clichê engenhoso para temperar essa conversa. Todo bordão nasce predestinado a se tornar célebre. Essa sina “ai, se eu te pego” precisa ter ingredientes, às vezes tão impensados, para dar resultado, como os notórios memes, expressões, hashtags e seus derivados que caem na rede “para a nossa alegria”. Talvez o que se chama de vídeo viral tenha herdado tal alcunha da indefectível associação entre ser massivo e efêmero, assim como as gripes. Virais memoráveis já poderiam ser comparados a uma hepatite crônica, como se aquele vírus tivesse marcado alguém por toda a vida. Não podemos nos esquecer do “primeiro sutiã”, dos “cobertores Parahyba”, do “café Seleto”, entre tantas outras memoráveis invenções-virais-criativas. O Marketing Viral e seu filho mais pródigo, o vídeo viral, assim como a gripe, não é cria da era digital. A tecnologia só potencializou a capacidade humana de propagar, fofocar, mexericar, chacotar ou tricotar sobre algo culturalmente relevante e que se apropria de um interesse comum. E talvez seja esse o segredo de um bom viral publicitário: a apropriação cultural. Ferramentas não nos faltam para fazer essa grilagem do código cultural: o engraçado, o sexy, o divertido, o jocoso, o contraintuitivo, o inesperado, a cacofonia simples, as celebridades e suas pseudoversões, entre tantas outras que fazem de um vírus publicitário algo
Com menos de 1 ano de idade, o bebê Micah, nascido no Missouri, tornou-se uma celebridade mundial. Ele achou muito engraçado ver seu pai rasgando mais uma carta de rejeição de emprego. Imitando o gesto, às gargalhadas, foi flagrado pelas lentes do papi e rapidamente virou hit no YouTube. Comprado pela agência África, o vídeo virou comercial de banco e Micah, hoje, é conhecido como o “bebê do Itaú”
que pode ser facilmente instalado num corpo hospedeiro apto a receber aquela mensagem, naquele momento. O oportunismo é uma característica natural do processo de contaminação e a publicidade tradicional, lá nos primórdios da internet, tentou buscar garantias de prova da eficácia dos meios digitais por meio dos sucessos virais. Era como se a massificação da mensagem provasse que aquele negócio todo funcionava. Se fosse engraçado e fosse para as massas, então a promessa se cumpria. Em tempos de Twitter e Facebook, nos quais pessoas são veículos e cocriadores da mensagem, os paradigmas da viralização publicitária tradicional são postos em xeque. As marcas, aos poucos, se dão conta de que casos de epidemia viral não dependem de seu controle e muito menos de grandes orçamentos. O vírus, para se propagar, depende somente das pessoas. Um espirro e... atchim! Saúde!
fotos: cortesia Agência África e Banco Itaú S.A
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selects / cinema independente
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Francesca Azzi
B éla Ta r r, H u n gr i a
Ho n g Sa n g S oo, Core ia do Sul
b i t .ly/d 3xRS R
b i t .ly/ k88Bh3
Um mundo à parte da indústria do entretenimento, o cinema autoral possui milhares de festivais, um público imenso, poucas estrelas que ficam e um mercado forte.
G a n h a d o r d o U rso d e P ra t a n a B e r l i n a l e co m O C ava l o d e Tu r i m ( 2 0 1 1 ) , d e c l a ro u q u e es se se r i a se u ú l t i m o f i l m e. E m C a n n es 2 0 1 2 a p rese n t o u , co m o p ro d u t o r, o f i l m e F i n a l C U T, d e G y ö rg y P á l f i .
Dirige um filme ou mais por ano. Como diretor de uma história só, cria versões diferentes para temas, personagens e narrativas idênticas. Seu último filme, DaReun Na-Ra-E-Suh (In Another Country), concorreu à Palma de Ouro em Cannes.
Naomi Kawa se, J a p ã o
Apichatpong Weerasethakul, Tailândia
Cla i re D en i s, França
bi t . ly/u rGQ 6P
b i t .ly/9 ykQFP
b i t .ly/ L8QWmB
Das experiências documentais em vídeo ao cinema narrativo ficcional, destaca-se como uma das únicas mulheres japonesas a ganhar prêmios e a rodar o mundo com sua obra. Seu último filme, Hanezu no Tsuki, traz uma história de amor proibido.
Já levou uma Palma de Ouro em 2010. Além de filmes com ritmo e temas singulares, constrói obras imersivas para galerias e museus. Seu novo filme, Mekong Hotel, esteve em sessão especial em Cannes 2012.
D ir ig iu f ilm es me mo r áve is co mo N é nette et B o n i, Ve n d re d i So ir e 35 Ruhm s e se u ú ltimo lo n ga, Wh ite M a te r ia l ( M i n h a Te r ra Á f r ica), fo i la nça d o no B rasil, mas su a o b ra p e r m a ne ce p o u co co n h e cid a p o r aq u i.
Brillante Me nd oza , F ilip ina s
C h r i st i a n Pet zo ld, A lem a n h a
Miranda July, Estados Unidos
bi t . ly/ Izs B 99
b i t .ly/yx3TeG
b i t .ly/9 MQFAx
VOLTA AO MUNDO COM DEZ DIRETORES
Prêmio de melhor diretor em Cannes 2009, seu cinema é marcado pela linguagem virtuosa, com temas relacionados à violência e à pobreza. Colocou as Filipinas no mapa do circuito indie e seu último filme, Captive, com Isabelle Huppert, estava na Berlinale 2012.
Um dos expoentes da chamada Nova Escola de Berlim, seu cinema mistura rigor formal e angústia. Consagrou-se com Barbara e levou o prêmio máximo como diretor (Urso de Prata) na Berlinale 2012.
Artista, performer, escritora e diretora, July tem todos os requisitos para ser “a” estrela do mundinho indie. Seu último filme, The Future, traz a história de um casal em crise (ela é a atriz principal), contada por seu gato.
Aleksey Ba la ba nov, R úss ia
Ursu la Mei er, Su í ç a
Francesca Azzi
bi t . ly/ogL z z R
b i t .ly/wnv MV6
Conhecido como o David Lynch russo, dirigiu mais de 12 longas e expõe de maneira violenta e quase surrealista as feridas da antiga União Soviética. Sua verve kafkiana já levou grandes plateias ao cinema em seu país.
C o m a p e n a s d o i s l o n ga s , l e v o u e m Berlim o prêmio Menção Especial ( U rs o d e P ra t a ) c o m o f i l m e L’e n fa n t d ’e n H a u t (S i s t e r ) . C o m o f i l m e H o m e ga n h o u d es t a q u e e m fes t i va i s . A l g u é m a s e o b s e r va r.
Curadora dos festivais Indie e Fluxus, que acontecem há 12 anos em Belo Horizonte e São Paulo. É também diretora da Zeta Filmes
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Terrorismo retiniano
ANGÉLICA DE MORAES
Marcar pessoas indiscriminadamente no Facebook é uma forma de navegar nas redes sociais rodeando o próprio umbigo
O número de internautas no País, contabilizando os acessos em locais públicos, chegou a 73 milhões, dos quais 67% acessam redes sociais como Facebook, Orkut e Twitter, segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI.br). Uma multidão que só faz intensificar a iminência de um pesadelo recorrente. Aquele contido no singelo verbo “adicionar” e que saltou dos gostosos livros de receitas caseiras para ser aplicado na prática predatória, usual no Facebook, de pendurar no perfil dos outros coisas indesejadas pelo detentor do espaço. A coisa toda funciona mais ou menos como alguém invadir a sua casa na sua ausência e, com prego e martelo em punho, furar a parede da sua sala para pendurar um quadro horroroso, que jamais combinaria com a decoração do espaço. Exatamente daqueles que o dono da casa não gostaria de sequer bater o olho. Dói. Há quem diga que o Facebook está se orkutizando e que a massificação – tão benéfica aos movimentos sociais tipo occupy e assemelhados – também tem sua face perversa. Seria aquela dos que navegam nas redes sociais para circunavegar o próprio umbigo, em operações de marketing pessoal mais insistentes quanto menor o nível estético do produto anunciado? Sim, estou me referindo àquele aparentemente inofensivo aficionado dos pincéis que, para ocupar o ócio dos fins de semana, inventa (do nada) de ser artista e não poupa ninguém de seus acabrunhantes resultados. São aqueles que insistem na tecla de que o artista é um ser divino movido a inspiração do além e não um terráqueo como todos nós, que aprende uma profissão e o domínio técnico necessário ao exercício dela em cursos e práticas específicas para o desenvolvimento desse conhecimento.
Quando termina um quadro, esse cidadão larga a pacata existência e se transforma no predador mais implacável do espaço internético. Missão: espalhar sua “obra” a todo um público-alvo que ele coleciona com requintes de cálculo – os tais formadores de opinião – e sair marcando, em seu e-flyer ou reprodução de sua obra, os nomes de todos os “associados involuntários”. Alguém, por favor, pode dizer a esses terroristas retinianos que marketing pessoal eficaz é aquele antecedido da criação de algo? A gente diz, mas eles continuam fingindo que não entendem.
ILUSTRAÇÃO: MARCELO CIPIS
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Película 35 mm (1889-2015)
O filme inaugurou o tempo da arte industrial, globalizada. Sua morte marca um novo momento da história das imagens
Nascida no fim do século 19, a película foi emblema do arrojo de um novo tempo em que a arte ousava ser industrial, coletiva, globalizada e feita para as multidões. Andrógina, multissexuada e hermafrodita, a película foi desde sempre conhecida como filme. Consolidação do encontro de avanços científicos com a Revolução Industrial, foi, como todas as grandes invenções da época, filha de muitos pais, mas acabou diretamente ligada àquele que melhor soube instrumentalizá-la comercialmente, George Eastman, fundador da Kodak, empresa que se confundiu com a história das imagens do século 20. Das linhas de montagem da Kodak saíram também as primeiras câmeras digitais, paradoxalmente, as traíras que levaram a empresa à falência e à morte de seu símbolo principal: a película (foto e cinematográfica). Até 2013, a película de 35 mm deve estar extinta nas salas comerciais dos EUA. Hoje, 60% das salas da França, nação cinéfila por excelência, são digitais. Dinamarca e Hong Kong já desterraram seus últimos projetores analógicos. No mundo todo, as últimas salas comerciais com projetores analógicos devem dar seu último suspiro até 2015. Mas isso está longe de indicar a morte do cinema. Como escreveu o poeta Vinicius de Morais, homenageando o mestre do cinema soviético Sergei Eisenstein:
O cinema é infinito – não se mede. Não tem passado nem futuro. Cada imagem só existe interligada À que a antecedeu e à que a sucede.
O cinema é a presciente antevisão Na sucessão de imagens. O cinema É o que não se vê, é o que não é Mas resulta: a indizível dimensão.
FOTO: GISELLE BEIGUELMAN
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josé patrício 05.05 > 09.06.2012 avenida europa 655
a espiral e o labirinto
são paulo sp brasil t 55 (11) 3063 2344 info@nararoesler.com.br www.nararoesler.com.br
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Elos perdidos André Parente revisita os panoramas e o zoetrope em obra que atualiza equipamentos pré-cinemas no mundo pós-cinematográfico
N O ALTO, C I RCU LA DÔ , INSTA LA ÇÃO MOSTRA DA NO MIS -SP; ACIMA , DETA LH E DE UMA DAS PAN O R Â M I CAS DO V I SO RAM A
Os brinquedos ópticos do início do século 19, como a máquina estroboscópica criada, em 1834, por William Horner – um tambor com cortes através dos quais se veem imagens no interior de um cilindro que anima as figuras –, são o foco de André Parente, artista, pesquisador de novas mídias e professor da UFRJ. Seu Circuladô, exposto no MIS-SP em 2011, propõe uma imagem imersiva híbrida, entre o pré e o pós-cinema. Trata-se de uma projeção circular que coloca o espectador dentro do zoetrope e que o implica no desdobramento da ação, já que este define o sentido e a velocidade do “giroscópio”. As imagens projetadas – todas da história do cinema – mostram Thelonious Monk, Édipo (do Édipo Rei de Pasolini), Corisco (de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha), um praticante sufi e a Pombajira girando. Na exposição Figuras na Paisagem, no Oi Futuro (RJ), em 2010,
Parente apresentou a obra Visorama, resultado de uma pesquisa científica que foi desenvolvida ao longo de 12 anos. Inspirado nas primeiras projeções fotográficas em 360º (fotoramas), o trabalho cria uma imagem 3D, na qual o espectador pode entrar, seguindo a mesma lógica dos saltos espaço-temporais do cinema. O artista defende a tese de que o fotorama é o elo perdido entre os panoramas e o cinema. Por meio de um binóculo, o visitante da exposição podia escolher entre duas paisagens navegáveis: uma praia e uma biblioteca. Ao entrar no espaço do Real Gabinete Português de Leitura, por exemplo, para diferentes blocos de espaço havia micronarrativas distintas para observar. E cada narrativa dizia respeito ao ponto de vista do observador controlando o dispositivo, o que tornava sua navegação pela biblioteca – projetada em um telão no espaço – uma oportunidade voyeurística aos demais visitantes. JM
FOTO: DIVULGAÇÃO / CORTESIA DO ARTISTA
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EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL: DOMINGO ALZUGARAY EDITORA: CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO: CARLOS ALZUGARAY DIRETORA DE REDAÇÃO: PAULA ALZUGARAY EDITORA-CHEFE: GISELLE BEIGUELMAN EDITORA DE ARTES VISUAIS: ANGÉLICA DE MORAES DIREÇÃO DE ARTE : RICARDO VAN STEEN REPÓRTERES: JULIANA MONACHESI E NINA GAZIRE COLABORADORES
Felipe Chaimovich, Fernando Serapião, Gabriel Kogan, Ivana Bentes Oliveira, Ludovic Carème, Marcos Vinícius Faustini, Maurício Ianês, Nelson Brissac, Renata Motta, Ronaldo Lemos, Sheila Leirner, Zee Nunes
PROJETO GRÁFICO
Cassio Leitão e Ricardo van Steen
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ESTAGIÁRIO
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PRODUÇÃO
Anna Guirro
PESQUISA DE FOTOGRAFIA
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PRÉ IMPRESSÃO
Retrato Falado
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SELECT é uma publicação da EDITORA BRASIL 21 LTDA., Rua William Speers, 1.000, conj. 120, São Paulo - SP, CEP: 05067-900, Tel.: (11) 3618-4200 / Fax: (11) 3618-4100. COMERCIALIZAÇÃO: Três Comércio de Publicações Ltda.: Rua William Speers, 1.212, São Paulo - SP; DISTRIBUIÇÃO EXCLUSIVA EM BANCAS PARA TODO O BRASIL: FC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-3000 IMPRESSÃO: Editora Três Ltda. Rodovia Anhanguera Km. 32,5 - CEP 07750-000 - Cajamar - SP.
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cartas
e curadora de design
Assinei a revista e recomendei aos meus alunos na universidade. Muito boa, ainda mais para quem está distante fisicamente de centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Gedley Belchior Braga, São João del Rei (MG), via Facebook
Gostei do número 05 de forma geral. E gostei muito das entrevistas do Curto-Circuito (A arte pode salvar o mundo?). São três posições que instigam a reflexão. O bom é que vocês deram largos espaços para elas. Foi um prazer ter participado dessa conversa. Parabéns! Miguel Chaia , cientista social e professor da PUC-SP
Adorei a matéria Tecnoartesanato, da seLecT 05! Ela sintetizou com
Só fiquei triste porque o ensaio Quanto Pesa a Vida sem Fio é um pouco curto... Aliás, adoro a seLecT, mas acho os artigos geralmente um pouco curtos... Mas adoro! Ricardo Cutz,
A n dreA Zi ttel A rtu r l escher lucAs BA MB OZZi lAu rA V i n ci YAYOi Ku sA MA
l i xo e l e t Rô n i co A s uj e i rA d Os equ i pA Me n tOs qu e cA r r egA MOs n Os B O l sOs
sa lv e Ri o+2 0 cu lt u rA di gi tA l , ecO lO g i A , i n dú stri A , sO c i e dAde e u rBA n i sMO e M d Ossi ê especi Al
cuRto-ci Rcu i to A Arte pOde sAlVA r O M u n dO? três resp OstAs e u MA pOlêM i cA
músico
Agora que tivemos mais tempo para ler a seLecT 05, escrevemos para dizer que, como de costume, vocês estão de parabéns. Adoramos. Aliás, somos leitores desde a número 01! Estamos realmente felizes com a capa. Gostamos da forma como os trabalhos são apresentados no perfil. Só temos a agradecer o convite! Gisela Motta e Leandro Lima, artistas da capa da seLecT 05
Além de ser sempre delicioso ler a revista, abrir a edição 05 e ver a matéria sobre o Daquilo Que Me Habita foi um sorrisão estampado no rosto de todo mundo aqui! Superobrigada pelo apoio e credibilidade! E a revista está cada vez mais poderosa! Muito bom, muito bom!
Samantha Moreira e Maira Endo , Ateliê Aberto, Campinas
Sem dúvida, a melhor surpresa no campo das artes no Brasil. Cada edição melhor que a outra. Lucas Guedes, via Twitter
Acho que a seLecT poderia ter artigos maiores, talvez uns dois ou três bem recheados e aprofundados. Em 2012, ainda gostamos de ler... Felipe Felix, designer
Elemento condutor de ideias, a água é o motor e a questão do século 21 A dupla de artistas Gisela Motta e Leandro Lima fala sobre os significados da água em seu trabalho I S SN
05
via Facebok
A r t e d e s i g n c u lt u r A c O n t e M p O r â n e A e t e c n O lO g i A
Naiah Mendonça, artista
WWW.SELEcT.ART.BR
Decidamente, a melhor revista do gênero no País! Paulo Martins Pereira,
Linda a capa!
códIgo águA
“Bacana a capa da edição nº 05. Muito boa!” Joelson Barros , via
muita propriedade pontos importantes do livro. Fiquei muito curiosa por conhecer melhor o projeto em Sergipe... A revista inteira está muito bacana e fiquei impressionada com a penetração. Vários amigos comentaram que viram... Muito obrigada! Adélia Borges, crítica
ABR / MAI 2012
Olá, nesta tarde de sábado “mergulhei de cabeça” na seLecT 05 e queria dizer que vocês estão se superando a cada edição. Parabéns! Argênide Servilha , via
ABR/mAI 2012 ANO 02 EDIÇÃO 05 R$ 14,90
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Gosto muito da revista e dos assuntos abordados. Fabiana Coletta, estudante
Grata à equipe por esta bela e intrigante revista. Erica Paiva, por e-mail Sou apenas um crítico de arte desconhecido que prepara café para garantir a sobrevivência aqui, em Chiapas (México), onde tenho uma cafeteria e uma galeria de arte. No mês passado, fui ao Brasil e, só para ter um exemplar na biblioteca do jardim intercultural do CaféRelax Arte y Cultura, procurei a revista em quase todas as bancas do centro de São Paulo! M ag n o Fe r n an d es d os Reis , crítico de arte e preparador de café
Foi mal
Na página 23 da seLecT 05, a informação correta que deveria constar na legenda da fotografia de In-Mensa, escultura de Cildo Meireles, é que a obra foi exposta na SP-Arte pela Almeida & Dale Galeria de Arte, de São Paulo
escreva-nos rua Itaquera, 423, Pacaembu, São Paulo - SP cep 01246-030
revistaselect revistaselect www.select.art.br faleconosco@select.art.br
FOTO: CORTESIA GALERIAS GAVIN BROWN’S ENTERPRISE E MICHAEL WERNER, NOVA YORK cartas-RF.indd 16
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colaboradores
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André Hauck
Rodrigo Savazoni
Lucas Bambozzi
Roberto Wagner
Maurício Ianês
Artista plástico e fotógrafo, mestre em Artes Visuais pela UFMG. Participou de exposições como o 15º Salão da Bahia, em 2008, e o 63° Salão de Abril, em 2012. – perfil p 112
Ativista da internet livre, realizador multimídia, integrante da Casa da Cultura Digital e pesquisador da UFABC. – cuba libre p 76
Artista e curador do Festival Vivo arte. mov. Viajou a Hong Kong a convite do HKIMFA, de onde reportou para esta edição.– microcinema p 28
Fotógrafo, membro do coletivo SX-70 e colaborador em revistas como Vogue, Trip, FFW>>Mag! e Época Negócios. – moda p 00
Nascido em Santos e residente em São Paulo, é artista visual e atua também no universo da moda como stylist. – moda p 50
Alcino Leite Neto
Neusa Barbosa
Tiago de Abreu Pinto
Yuri Firmeza
Edmar Bulla
Jornalista e editor do Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha. É articulista da Folha de S.Paulo. – território p 125
Crítica de cinema, fundadora e editora do site Cineweb e autora de biografias de Fernanda Montenegro e Woody Allen. – reviews p 125
Critico de arte. Atualmente, realiza tese de doutorado sobre curadoria contemporânea na Universidade Complutense de Madri. – reviews p 125
Artista e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC), mas prefere dizer que não é biografável. – colunas móveis p 70
Empresário e professor da ESPM/Miami Ad School, com especialização em Marketing Digital em Harvard. – colunas móveis p 00
Camila Bechelany
Juan Estevez
Alessandra Monachesi Ribeiro
Emília Vandelay
Juliana Lopes
Curadora pela NYU e EHESS, onde faz doutorado em Teoria da Arte, e pesquisadora do Centro Georges Pompidou, em Paris. – crítica p 125
Fotógrafo, autor de quatro livros. Escreve no caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo, onde foi editor de fotografia. – reviews p 28
Psicanalista, pós-doutora em artes visuais pela ECA-USP e em arte e linguagem pela EHESS, de Paris. – reviews p 00
Formada em jornalismo pela Unisinos e cursa o Master of Arts Program in Cinema Studies pela Universidade de Toronto, no Canadá. – televisão p 112
Formada em fotografia pela Accademia di Belle Arti di Brera, a jornalista já colaborou com as revistas Isto É Gente, Folha, UOL,Trip, Elle e Piauí. – design p 112
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MINISTÉRIO E DA CULTURA A P R E S E N TA M
O R I O É A R T E . O T E M P O T O D O . E M T O D A PA R T E . PRESENÇA É APROXIMAR AS PESSOAS DA SUA CIDADE ATRAVÉS DA ARTE. POR ISSO O BRADESCO FAZ PARTE DA ARTRIO, UM MOVIMENTO ABERTO A TODOS QUE AMAM O RIO E QUEREM FAZER DAQUI UM LUGAR CADA VEZ MAIS ESPECIAL. E VOCÊ TAMBÉM PODE PARTICIPAR. ATRAVÉS DO NOSSO PORTAL VOCÊ FICA EM DIA COM O MUNDO DA ARTE CONTEMPORÂNEA, MONTA UMA AGENDA DE ATIVIDADES E CONHECE OS CIRCUITOS EXPOSITIVOS CRIADOS PARA TRANSFORMAR O DIA A DIA DO CARIOCA NUMA GRANDE EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA.
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Produção
Realização
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notícias + tendências + transcendências
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teatro
Robert Wilson no Brasil Referência da cena experimental, o diretor americano conduz o Berliner Ensemble em São Paulo
Depois da encenação, em abril, de A Última Gravação de Krapp, de Samuel Beckett, o projeto trienal do Sesc-SP dedicado a Robert Wilson – que inclui artes cênicas, exibições multimídia e uma nova obra teatral criada e produzida por aqui com profissionais brasileiros – traz à unidade de Pinheiros a montagem das peças A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, e Lulu, de Frank Wedekind. As duas obras terão elenco da companhia alemã Berliner Ensemble e direção de Bob
Wilson. Em 2013, o dramaturgo inicia projeto inédito com equipe e elenco brasileiros, que será apresentado em 2014. “Voltar a atuar no Brasil e ter a chance de montar um trabalho novo aqui é como fechar um ciclo 40 anos depois”, afirmou Wilson em entrevista no Sesc-Belenzinho. A primeira vez que ele se apresentou no País foi com a obra A Vida e a Época de Joseph Stalin, durante o Festival Internacional de São Paulo, em 1974, no Teatro Municipal. JM
foto: Axel Schneider
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Exposição
Um artista completo O cineasta visionário Georges Méliès ganha mostra em São Paulo organizada pela Cinemateca Francesa
Georges Méliès foi celebrizado como o inventor dos efeitos especiais no cinema. Mas foi bem mais que isso. Méliès antecipou o modelo do artista multimídia, atuando como autor, ator, cenógrafo, produtor e diretor de seus filmes. Ele fazia de tudo e essa maleabilidade toda deve ter sido, a bem da verdade, conquistada por ele ter iniciado sua atividade como mágico ilusionista. Artista de desaparições e reaparições, Méliès foi recentemente “reinventado” e projetado em escala global pelo longa-metragem A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, que levou cinco prêmios no Oscar 2012. Porém, quatro anos antes de ganhar essa visibilidade toda, o autor de Viagem à Lua (1902) recebeu uma homenagem em grande estilo da Cinemateca Francesa, que concebeu a exposição Méliès – Magicien du Cinéma a partir de 700 novas peças e obras cinematográficas recentemente adquiridas à sua coleção. A mostra, que em julho chega a São Paulo, traz boa parte dessas relíquias nunca antes mostradas em público. Há desenhos, figurinos, objetos de mágica e filmes, raríssimos, a julgar que a maior parte deles foi destruída durante a Primeira Guerra Mundial – evento relembrado no filme de Scorsese. Entre os destaques, uma maquete do Estúdio de Montreuil, que Méliès construiu em vidro para filmar com luz natural e onde trabalhou entre 1897 e 1913, até parar de trabalhar e mergulhar no ostracismo e no esquecimento. Isso até quando foi redescoberto, pela primeira vez, por um jornalista em 1929. O estúdio poderá ser visitado virtualmente, graças à reconstituição interativa em 3D. PA
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Cinema marginal
Mangue-Bangue redescoberto Retrospectiva de Neville D’Almeida ocupa o Sesc-Santo Amaro
Ambiciosa o suficiente para abarcar a variedade da produção do diretor de A Dama do Lotação, Rio Babilônia e Navalha na Carne, a retrospectiva de sua carreira multimídia no Sesc-Santo Amaro conta com a exibição do filme inédito Mangue-Bangue (1971), que havia sido dado como perdido durante 30 anos e foi encontrado na cinemateca do MoMA. O museu de Nova York emprestou a obra para a primeira exibição pública no Brasil, que acontece na terça, dia 3 de julho, às 20h00, no teatro do Sesc. A instalação CineLotação foi criada especialmente por Neville D’Almeida e Rafael Spaca para a exibição de documentários e material de arquivo durante a retrospectiva. Suas adaptações de peças Neville D’Almeida – de teatro de Nelson Rodrigues (A Dama do Lotação, 1978) Além Cinema, de terça e Plínio Marcos (Navalha na Carne, 1997) foram grandes a sábado, das 10 às 21h00, sucessos de bilheteria. Os filmes serão exibidos no Sesc. e domingos e feriados, das A mostra traz ainda shows de Jorge Mautner e Tetine, 10 às 18h30, até 8 de julho. debates e exposição dos poemas visuais, desenhos sobre Sesc-Santo Amaro, Rua fotografias de índios caiapó, que evocam as célebres CosAmador Bueno, 505 mococas, criadas com Hélio Oiticica nos anos 1970. JM
Méliès: Magicien du Cinéma, de 3 de julho a 16 de setembro, Museu da Imagem e do Som, Avenida Europa, 158 – São Paulo (SP) w w w. m i s - s p.o rg . b r
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visuais
o bicho suspenso na paisagem, site specific de ernesto neto
Bicho de crochê Ernesto Neto cria site specific que amplia a espacialidade têxtil de estruturas orgânicas
Ernesto Neto vai transformar a Galeria Fortes Vilaça em uma aventura sensorial e espacial que tem tudo para se tornar sucesso de público. Afinal, o artista brasileiro cria estruturas lúdicas, de grande apelo sensorial, que são irresistíveis à experimentação. As crianças adoram e os adultos acabam entrando no clima de playground. Mesmo que precisem da justificativa intelectual de que estão vivenciando um desdobramento contemporâneo do legado de Lygia Clark e Hélio Oiticica, claro. Em setembro de 2011, escolhido para fazer a mostra inaugural do Faena Arts Center, novo espaço cultural construído em Puerto Madero, em Buenos Aires, o brasileiro atraiu 75 mil visitantes à mostra que consistia em enorme site specific de crochê que denominou O Bicho Suspenso
na Paisagem. De abril a maio deste ano, a galeria nova-iorquina Tanya Bonakdar mostrou uma versão pocket desse bicharoco têxtil, denominada Slow iis Goood, novamente criando uma espacialidade multicolorida, de fruição prazerosa. A versão paulistana do animal tecido manterá a característica principal desses dois trabalhos anteriores: a ampliação dos planos/andares de percepção espacial. Estruturas suspensas e o uso de tecidos elásticos são uma constante na linguagem de Neto. Há algum tempo ele também incorpora o crochê e outras artes manuais na sua obra. Agora, porém, vai além e tece caminhos suspensos entre as estruturas, que balançam e oscilam aos passos do visitante fruidor, em diversas distâncias do chão. AM
foto: cortesia galeria fortes vilaça
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Música
Som para os olhos Coletivo Mater Suspiria Vision produz obra multimídia com samplers de clássicos do cinema de terror B
Música e cinema sempre andaram de mãos dadas. Mas o cinema nunca influenciou tanto o som de uma banda como acontece com o coletivo multimídia Mater Suspiria Vision. Filmes de terror B dão a tônica das músicas, vídeos e peças visuais da banda. Se apropriando de imagens de revistas de moda, de trechos de thrillers clássicos, como os dos filmes do diretor italiano Dario Argento, o grupo produz um work in progress infindável cheio de bruxas fashionistas e surrealismo cibernético. Para cada uma das músicas, com influências do rock industrial e do ritmo eletrônico darkwave, o MSV produz uma espécie de curta-metragem, por vezes mash-ups de cenas cinematográficas e em outros casos de autoria original bebendo na influência do cinema underground de Kenneth Anger. E as apresentações ao vivo não ficam atrás. Live imaging e projeções transformam-se em um espetáculo audiovisual que faz jus ao melhor da tradição iniciada por bandas como Kraftwerk e The Residents. O destaque está no modo como toda essa produção mescla a escala artesanal com o broadcasting digital. Seus vídeos/faixas musicais são lançados instantaneamente pelo Vimeo e as canções disponibilizadas gratuitamente pelo Soundcloud, rede social voltada para a música. Além disso, o MSV tem editado sua produção em cassetes, CD-Rs e DVDs de circulação extremamente limitada, muitas vezes com poucas dezenas disponíveis que podem ser adquiridas pelo blog do coletivo. E já que na era da internet tudo pode ser baixado gratuitamente, o grupo produz peças visuais, como fotos, gravuras e cartões-postais exclusivos e assinados. Um show à parte para os olhos. NG
Ernesto Neto, de 23 de junho a 11 de agosto. Galeria Fortes Vilaça, rua Fradique Coutinho, 1500, São Paulo
seduction of armagedon witchs, exemplo de peça gráfica incluída nas obras da banda Mater Suspiria Vision
foto: Wenceslao Scyzoryk
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A cultura do churrasco é sacralizada em Asado en Mendiolaza, Córdoba, Argentina (2001), de Marcos López
Fotografia
Grito estético O fotógrafo argentino Marcos López será um dos destaques do 8º Paraty em Foco
“A Argentina não é o México. A Argentina são alguns poucos campos ao Sul, com a gauchada rindo de piadas que eu nunca entendi.” Assim Marcos López explica sua série Sub-realismo Criollo, que produz ensaios visuais espirituosos da cultura pop de fala hispânica. Lutadores mexicanos, milongueiros portenhos ou churrasqueiros patagônicos fazem a festa dessa série de cores vibrantes e olhar caricatural que projetou o fotógrafo argentino. As influências estrangeiras nas sociedades latino-americanas, a diluição do conceito de nacionalismo e as reverberações da antropofagia moderna brasileira no outro lado do Rio da Prata estão entre as afirmações estéticas do fotógrafo que nasceu em Santa Fé e estudou roteiro para televisão na Escola Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de Los Baños, em Cuba. López será um dos destaques do 8º Paraty em Foco. “Este ano, estamos trazendo várias estrelas internacionais ao festival. Teremos Martin Parr, Claudia Andujar e muitos outros! Para mim, Marcos López é um dos melhores fotógrafos do país vizinho”, diz Iatã Cannabrava, diretor do festival internacional de fotografia. PA 8º Paraty em Foco Festival Internacional de Fotografia, de 26 a 30 de setembro.
Residencias Baeta I (2011-2012), pintura em óleo sobre madeira do artista venezuelano Juan Araujo
Fotos: cortesia masdar company e divulgação / cortesia galeria luisa strina
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Documenta (13), de 9 de junho a 16 de setembro. Diversos locais de Kassel, Alemanha. 25
www.d13.documenta.de
Renata Lucas movimenta sua instalação Falha (2003)
Artes Visuais
Em alto e bom som Quatro artistas brasileiras estão no elenco da Documenta (13) de Kassel
São apenas 100 dias de exposição a cada cinco anos na pequena cidade alemã de Kassel mas seus reflexos repercutem ao longo de décadas. Inaugurada dia 09 de junho, a 13ª edição da Documenta está sob curadoria da critica de arte norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev e reúne 154 artistas. Quatro são do Brasil: a escultora Maria Martins (1894-1973), Anna Maria Maiolino (70 anos), a paulista radicada em Berlim Maria Thereza Alves (51 anos) e a paulista radicada no Rio Renata Lucas (41 anos). Maiolino com uma casa/instalação e Lucas com uma intervenção urbana são as de maior presença no circuito internacional. Nesta Documenta, batizada com o número entre parênteses (13), a curadoria buscou links com a história da cidade e seus prédios, ampliando os espaços expositivos tradicionalmente situados no Museu Fridericianum e seu entorno. Assim, foram ocupados até mesmo um antigo monastério e um manicômio desativado. Misturando arte e política a uma visão abrangente que situa a estética em diálogo com a sociologia, a literatura e
até com técnicas de arquivamento e pesquisa, a Documenta (13) exibe tanto obras em meios tradicionais quanto a grande tendência do momento: a arte sonora (sound art), que começa a disputar visibilidade com a videoarte e a videoinstalação. Também há espaço para a performance e a dança. É com uma obra de sound art que o trabalho de Anna Maiolino é inicialmente percebido na paisagem de Kassel. Ocupando uma casa de três pisos junto a um bosque às margens do rio Fulda, Maiolino situou no jardim uma instalação com o canto de pássaros brasileiros, subvertendo os trinados bem comportados das avezinhas locais com estridentes araras, sabiás e bem-te-vis. A casa/instalação de Maiolino, denominada Here & There (Aqui e Lá) se desdobra em três segmentos: térreo, sótão e porão. No térreo, toda a mobília habitual de uma casa e em todas suas peças (sala, cozinha, banheiro) está recoberta de grossos e abundantes fios de argila crua, de ambígua aparência, remetendo a produtos de panificação ou matérias fecais. São desdobramentos da série Terra Modelada, que a artista vem realizando há algum tempo em diversas mostras internacionais. No sótão, mais argila moldada pela ação manual em rolos e bolas divide espaço com um suave aroma de resina de madeira. No sótão, enfim, uma instalação sonora em que Maiolino recita um texto/poema que escreveu na primeira pessoa e que, entre outras coisas, afirma: “Não sou daqui ou de lá, estou de passagem”. AM
Visuais
A ilusão da transparência O artista venezuelano Juan Araujo realiza mostra individual na Galeria Luisa Strina
Em sua terceira exposição individual em São Paulo, Juan Araujo apresenta uma série de pinturas que evocam a arquitetura modernista brasileira – um dos assuntos prediletos da visada crítica do pintor venezuelano. Por meio de intrincadas sobreposições de referências visuais e de deslocamentos espaciais nas telas, a nova série foca também outros temas da história da arte moderna, sobretudo em alusões a grandes nomes da pintura. Araujo surgiu na cena brasileira em 2006, quando participou da Bienal de São Paulo e da Bienal do Mercosul, nessa última em sala que foi concebida pelo curador Luis Pérez-Oramas. No mesmo período da mostra do venezuelano, a galeria apresenta a exposição Campo Fértil, individual do fotógrafo mineiro Pedro Motta. JM
Juan Araujo, de 21 de junho a 21 de julho, Galeria Luisa Strina, Rua Padre João Manuel, 755, São Paulo (SP)
fotos: divulgação e Catlin Seaview Survey Hermione Lawson - hermione@zing.net.au
FOTOS: Helena Tatay e Beto Felício Navegacao_RF_V2.indd 25
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Síndrome da desorientação global
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Emoção Art.ficial chega ao fim no Itaú Cultural com sua edição 6.0 e apresenta obras inéditas de artistas brasileiros
Você não está aqui, de Giselle Beiguelman e Fernando Velázquez
Emoção Art.Ficial 6.0 de 30 de maio a 29 de julho, Itaú Cultural. Av. Paulista, 149 - São Paulo
www.itaucultural.org.br
Arquitetura
A sexta edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural encerra a vida desse projeto dedicado às novas mídias deixando uma lição: nas mãos de artistas contemporâneos, dispositivos comerciais conhecem novas aplicações que os libertam da lógica econômica e funcional dos tempos correntes. Giselle Beiguelman, professora da FAU-USP e editora-chefe de seLecT, e Fernando Velázquez assinam Você Não Está Aqui (2012), obra que projeta em um biombo paisagens capturadas por eles em mais de 40 cidades do mundo. As paisagens se reorientam no espaço expositivo segundo o posicionamento dos visitantes na sala e são reeditadas pelo público, via aplicativo para iPad especialmente concebido para o projeto. Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti expõem Fala, sistema autônomo que promove conversa maquínica entre 40 celulares, projeto premiado na última edição do VIDA 13.0, da Fundación Telefónica espanhola. Em I-Flux, de Silvia Laurentiz e Martha Gabriel, uma criatura em um aquário sintético se alimenta de dados quantitativos do edifício do Itaú Cultural, como variações de temperatura ambiente e comandos dos elevadores. As três duplas são os únicos brasileiros na exposição (as outras sete obras são de criadores estrangeiros). Todas as obras dos artistas brasileiros foram comissionadas pelo Itaú Cultural. JM
Cinema cromado Complexo de cinemas inaugurado em Hong Kong inspira-se na forma do pixel para criar ambiente futurístico
Uma sala de cinema multiplex de 8.835 metros quadrados, baseada na estética low-res é a proposta para o Wuhan Pixel Box Cinema. O projeto dos arquitetos Ajax Law Ling Kit e Virginia Lung, do escritório de arquitetura One Plus Partnership, de Hong Kong, tem como objetivo a imersão máxima do espectador na sala escura. Os arranjos quadriculares dos pixeis repetem-se não só na decoração,
mas também no posicionamento das salas de formato cúbico. A dupla usou 6 mil chapas de aço inoxidável espelhadas para dar profundidade aos vários ambientes do edifício. A mesma lógica valeu para os bancos e espaços de convivência, feitos de estruturas minimalistas que conferem ao ambiente a aparência de uma nave espacial. NG
FOTOS: cortesia dos artistas e Ajax Law Ling kit, Ulso Tsang
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e+ Palestras e Workshops Internacionais de Tendências Inovação e Gestão
para CRIATIVOS que buscam ser mais EMPREENDEDORES e GESTORES que buscam ser mais CRIATIVOS
CURSOS
Fotografia Design Mídias Blogs Desenho Literatura Ilustração Cinema e Vídeo Cool Hunting Business Plan Produção Musical Crowdsourcing Produção Cultural Branding Marketing Moda História Cenografia Empreendedorismo Pesquisa de Tendências Captação de Recursos Design Thinking Projetos e Negócios Mercado e Concorrência
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TEMPORADA DE EMPREENDEDORISMO CRIATIVO NA ESCOLA SÃO PAULO cursos, palestras e workshops até 31 de julho
www.escolasaopaulo.org t. 11 3060.3636
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tecnoartesanato
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DESIGN
BELEZA SUSTENTÁVEL O tecelão Renato Imbroisi mescla design e moda em trabalho que incentiva arranjos produtivos locais em comunidades de artesãos
Quando o assunto é moda e design, as delicadas questões do comércio justo e da responsabilidade são ainda mais incômodas. Instigar discussões sobre sustentabilidade em um universo que se confunde com a definição corrente de futilidade torna-se um ato corajoso. Apesar disso, há quem acredite que a moda pode mudar vidas e ser um agente de transformação. O tecelão e designer de artesanato Renato Imbroisi é pioneiro nessa crença, e colhe os frutos de 20 anos de trabalho com comunidades de artesãos em todos os cantos do Brasil - e fora dele também. Em “Desenho de Fibra”, livro lançado na exposição homônima na CASA Museu do Objeto Brasileiro, no fim de 2011, reúne um panorama da arte têxtil produzida nas cinco regiões do Brasil.
O livro, escrito em parceria com Maria Emilia Kubrusly, apresenta uma série de peças confeccionadas com as principais técnicas têxteis - crochê, tecelagem, bordado, renda e cestaria, e prova que desenvolver componentes com recursos alternativos pode servir para resgatar culturas tradicionais, promover a autoestima das comunidades e incentivar os arranjos produtivos locais, além de trazer novo fôlego em mercados que vivem de inovação e graça. Beleza, nesse caso, se põe à mesa. Afinal, seja para artesãos ou grandes produtores, tão importante quanto produzir seguindo os ecocritérios - comércio justo, reciclado/reciclável, orgânico, local, socialmente responsável - é vender. Parece que preconceito o que aliava sustentável a “feio” e “mal acabado” está com os dias contados. Mariel Zasso
SOB ORIENTAÇÃO DE RENATO IMBROISI, ARTESÃOS AGREGAM VALOR ÀS SUAS TÉCNICAS. À DIREITA, GARGANTILHA FLOR DO CAMPO, DE CROCHÊ EM LINHAS DE ALGODÃO, PRODUZIDA POR ARTESÃS DO GRUPO PARAÍBA EM SUAS MÃOS (PB)
Desenho de fibra artesanato têxtil no Brasil, Renato Imbroisi e Maria Emilia Kubrusly. E d i t o ra : S E N AC S Ã O PAULO Edição: 1 a Ano: 2011. 208 páginas
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FOTO: BOB TOLEDO/CORTESIA DO ARTISTA
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ACOMPANHE O MELHOR DOS JOGOS OLÍMPICOS. Nas próximas páginas, você vai acompanhar mais uma matéria sobre Londres 2012. Confira também as versões para tablet, celular e os sites das revistas da Editora Três. É a cobertura completa do maior evento esportivo do mundo, onde e quando desejar. www.editora3.com.br
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REALIZAÇÃO:
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cibercelebridade
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Cibercelebridades
Jogos vão dar o que tuitar... Em 2008, o Twitter tinha 6 milhões de usuários; hoje, 140 milhões. Os Jogos Olímpicos de 2012 vão ser socialmente midiáticos
As Olimpíadas de 2012 vão entrar para a história como as Olimpíadas das Redes Sociais. Não que o Twitter e o Facebook, as principais mídias do tipo, fossem desconhecidos nos últimos jogos, em 2008. Contudo, nem seus números eram tão impressionantes, como são agora, nem existia um Hub oficial, como foi anunciado recentemente para os Jogos de Londres. A título de comparação, vale lembrar: em 2008, o Twitter tinha 6 milhões de usuários; hoje, são 140 milhões. O Facebook, há quatro anos atrás, contava com 100 milhões de usuários; hoje eles são mais de 845 milhões! Nada surpreendente, portanto, que mais de mil atletas tenham respondido ao chamado do Comitê Olímpico e aderido ao Olympic Athletes’ Hub. Alguns são realmente verdadeiras cibercelebridades. Pau Gasol, jogador de basquete espanhol, é disparado o campeão da tuitagem, com 974 mil seguidores. Mas, no Facebook, ninguém bate o tenista suíço Roger Federer, cuja página no reino de Mark Zuckerberg já ultrapassou os 10 milhões de Likes faz tempo. Ao longo dos Jogos, o Comitê Olímpico vai não só disponibilizar informações e notícias exclusivas via seus canais sociais, mas também distribuir prêmios e conteúdo exclusivo. Se linka: hub.olympic.org. Curtiu? GB
Roger Federer, tenista suíço cuja página no facebook já ultrapassou os 10 milhões de Likes
patrocínio:
foto: Esther Lim
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arquitetura
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Como lidar com o
va zio
seLecT visitou as obras do National September 11 Memorial Museum, em Nova York, trouxe as primeiras imagens do local e os conceitos envolvidos nesse projeto desenhado para preservar os restos materiais e emocionais do maior atentado terrorista de todos os tempos pa u l a a l z u g a r ay
A sensação de descida – ou, mais precisamente, de vertigem – é absoluta no trajeto de visitação ao National September 11 Memorial Museum, em construção no Ground Zero, de onde foram removidos os escombros das Torres Gêmeas de Nova York. Concebido para guardar a memória e as histórias daqueles que vivenciaram o horror no atentado de 11 de setembro de 2001, o museu está sendo construído 22 metros abaixo da já inaugurada Memorial Plaza. Posicionado num espaço intermediário entre a superfície e a bedrock (rocha subjacente às camadas instáveis da terra), o NS 11 Memorial Museum promove um tipo de visitação intimamente relacionado a uma experiência de ascensão e queda. O arquiteto Steven M. Davis, autor do projeto e diretor do escritório nova-iorquino Davis Brody Bond, conta que, após o processo de remoção dos detritos, restou no local um imenso vazio. Agora cabe aos arquitetos da reconstrução lidar com ele. Davis escolheu “preservar” o vazio. Optou por uma arquitetura de mínima intervenção, com rampas e estruturas que mal tocam o espaço original. A arquitetura do museu foi inteiramente desenhada de acordo com “quatro componentes primários de design” – memória cultural, escala, autenticidade e emoção – que conduzem o visitante em diversos níveis de experiências. “Ao entrar no museu, o visitante deve tomar uma série de decisões”, diz ele. “Alguns podem usar o local como parque, outros vão usá-lo como memorial. Isso implica diferentes níveis simbólicos de experiência. Você deve tomar uma decisão sobre o quão fundo quer chegar”, disse ele antes de começarmos o trajeto. A descida aos diversos níveis de experiência começa no Memorial Hall, um espaço de recepção que expõe, entre outros elementos resgatados, um dos maiores símbolos identitários das Torres Gêmeas: os “tridentes” que serviam como elementos estruturais das fachadas. A transição para o próximo nível dá-se por meio de uma rampa, que deverá “guiar o visitante através da força da Parede de suspensão de 18 metros resistiu ao atentado
fotos: Davis Brody Bond; paula alzugaray
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A “EScada da sobrevivência”, ao fundo, está entre os elementos originais do world trade center que foram integrados ao projeto arquitetônico no NS 11 memorial museum
gravidade” até o andar inferior, um ambiente de escala monumental. No trajeto, visualizam-se elementos originais do World Trade Center, como a parede de suspensão de 18 metros, que resistiu ao atentado e ficou intocada pelo projeto do NS 11 Memorial Museum. A rampa deixa o visitante em uma grande praça subterrânea, situada no exato local entre as antigas Torre Norte e Torre Sul – hoje transformadas nas duas fontes da Memorial Plaza. Vistas de baixo, as fontes são dois volumes de metais folheados, adquirindo um aspecto quase escultórico. No local serão instalados elementos hoje convertidos em símbolos da reconstrução. Um deles é a escada de emergência utilizada por todos que escaparam da morte. Nesse ambiente museográfico, ela passará a ser reconhecida como a “Escada da Sobrevivência”. Nessa arqueologia do horror incluem-se ainda os veículos utilizados para resgate e a “Última Coluna”, última estrutura de ferro a ser removida do Ground Zero, que ao longo do processo de reconstrução ganhou textos, fotos e todos os tipos de intervenções. A última decisão que o visitante tem a tomar é se quer ou não conhecer a bedrock. “Nesse ponto, decidimos quebrar o fluxo da descida suave proporcionada pela rampa e colocamos uma escada. O visitante não poderia chegar lá por acidente, mas só por decisão própria”, diz Davis. A gravidade da advertência se explica se encontrarmos na bedrock não apenas o alicerce para a elevação dos arranha-céus de Manhattan, mas de todo o sonho americano.
Projeto arquitetônico conduz o visitante até a bedrock , a rocha estrutural de Manhattan, a 22 metros do solo, que alicerçou todo o sonho americano
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Pixelizados Ícones da cultura hipster, os quadradinhos que já foram sinônimo de baixa qualidade gráfica ganharam o mundo 3D e o coração dos saudosistas
6 dpi Pixelated Sunglasses A coleção 6 dpi Eyewear, do designer parisiense Dzmitry Samal, carrega um ambíguo ar retrô-futurista em óculos que podem ser customizados com diferentes cores para cada parte
Lo-Res Shoe Mais uma figurinha para a coleção de sapatos pouco ortodoxos, estes são modelados à mão em fibra de carbono e ganham um aspecto sextavado comum às imagens pixelizadas em baixa resolução. Criação da United Nude, sob direção do arquiteto Rem D. Koolhaas, sobrinho do famoso arquiteto
Lo-Res Chair Esta cadeira do estúdio holandês OOOMS traduz a equação qualidade versus velocidade do mundo gráfico para o universo tridimensional, e materializa um objeto impresso em “baixa resolução”
Folded Shoe Confeccionados em uma peça única de couro dobrado sobre um calcanhar de aço inoxidável, este sapato-origami, desenhado pela Marloes ten Bhömer, lembra os blocos assimétricos de um tetris
Stolen Jewels Imagens “em baixa” foram roubadas das mais caras joalherias do mundo, tratadas e transformadas em peças de couro. Segundo seus criadores, a Mike and Maaike, o custo e a complexidade foram subtraídos, mas a essência e a intensidade visual, preservadas
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Megabytes of Spring O editorial de moda que lançou a coleção de sugestivo nome Megabytes de Primavera foi montado com gifs animados, produtos típicos do fenômeno da internet. Criação Reed & Radar para a V MAGAZINE
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pós-cinema
Giselle Beiguelman
Já se tornou senso comum dizer que vivemos em um mund o de imagens. Nenhuma novidade aí. Fala-se, discutese e celebra-se o tema com recorrência desde os anos 1960. Mas a situação com que nos defrontamos hoje é inédita, sua escala não tem precedentes. Quando se afere o que se passa nas redes sociais, os números são capazes de convencer o mais cético e tecnofóbico dos analistas. Em um mês o YouTube recebe mais vídeos do que as três principais emissoras de tevê dos EUA produziram em 60 anos. E esse é apenas um entre muitos dados impressionantes. Despejadas aos quaquilhões de bytes por segundo na internet, as imagens do século 21 tornam-se também espaços de sociabilidade, por onde outros regimes estéticos, que não são os das escolas de cinema e de artes, fluem e se impõem, especialmente no YouTube, rompendo cânones de classe, gênero e mercado. Todo um outro paradigma de consumo e produção está se montando aí e evidenciando que as imagens deixa-
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Internet consagra a estética do banco de dados e permite a cada espectador fazer a sua fábrica coletiva de cinema ram de ser planos emolduráveis e tornaram-se os dispositivos mais importantes da contemporaneidade, canibalizando o direito de acesso de projeção do sujeito na tela, subvertendo os modos de fazer (enquadrar, editar, sonorizar), mas também os modos de olhar. Por um lado, vemos emergir como protagonista, em particular no Brasil, sem qualquer cerimônia, o personagem que já foi o mais ausente tematicamente da cena cinematográfica nacional: a classe média, conforme já foi analisado em profundidade em um ensaio seminal de 1967 de Jean-Claude Bernardet (Brasil em Tempo de Cinema). Por outro, fenômeno tão brasileiro quanto global, vai se tornando comum um modo de vida mediado pelas lentes, em que tudo pode ser registrado e tubado, antes mesmo até de ter existido, como se a documentação pudesse prescindir do fato e da experiência das coisas. A câmera parece justificar o estar no lugar e em cena. Esses dois aspectos são essenciais em um dos mais interessantes documentários brasileiros recentes, Pacific (2009), de Marcelo Pedroso. Feito com imagens gravadas pelos passageiros de um cruzeiro (o próprio Pacific) que faz o trajeto Recife-Fernando de Noronha, o filme mostra não só a cara da classe média pelos olhos da classe média no contexto da classe média, como também revela, escancaradamente, as texturas dessas imagens produzidas aleatoriamente, no afã de registrar o acontecimento antes mesmo de ele ocorrer. Logo na abertura, vemos/ouvimos, entre o marulho e os gritos de uma multidão histérica à espera – há 50 anos, conforme diz uma senhora documentarista/personagem – da aparição dos golfinhos: Filmou? Ao que o outro responde: Mas é lógico... E do que valeria ter ido, então, se não fosse para registrar que se estivesse estado lá, ainda que gravar compulsivamente nos roubasse o privilégio de ver? Não se engane pensando que estamos em plena era do remake da Sociedade do Espetáculo. Adentramos o espaço do que a crítica inglesa Sarah Cook bem chamou da migração do Broad para o Narrowcasting, ou o que chamaríamos aqui de a batalha pelo direito de ser superstar para sua família e sua minimultidão de 20 fãs. É isso que deve ter mobilizado as centenas de
na página ao lado. imagem de whiteonwhite, filme de eve susseman, que se monta em tempo real, via programação algoritmíca. Acima, still de Pacific, filme de marcelo Pedroso feito apenas com imagens gravadas pelos passageiros de um cruzeiro do recife a fernando de noronha,
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pessoas que voluntariamente doaram seus arquivos à produção do filme Pacific. Todo o documentário foi negociado pessoalmente por um grupo de produtoras que viajou no navio e ao final do trajeto abordou os passageiros solicitando seu material. Com muito gosto o material foi disponibilizado, resultando em um longa-metragem que documenta uma viagem sem nenhuma imagem captada pelo diretor e da qual também ele não participou. É a “escola” Do It Yourself Hollywood impondo-se inegavelmente nessa movimentação cada vez mais intensa de cinemas do homem sem a câmera. Outra forma em que essa filmografia pós-YouTube se afirma é pela estética do banco de dados. Ela tensiona a hierarquia das rotinas de programação das grandes bases de dados online ao abri-la para a recombinação das informações contidas nessas bases.
fotos: SIMON LEE. orange factory, 2009. da série Shadow Over the Land for Eve Sussman e reprodução
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pós-cinema
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Breaking the news, de matt lee (acima e abaixo), video editado pelo público a partir de bancos de notícias on-line
Isso pode se dar a partir de universos fechados que se tornam infinitos, como em whiteonwhite: algorithmicnoir (2011), de Eve Sussman e a equipe da Rufus Corporation, ou da conversão de arquivos sempre crescentes, mas não preparados para remixagem global, como o que ocorre em Breaking the News – Be a News Jockey, de Matt Lee (2007). Pode dar-se também a partir da apropriação de tags populares em um banco de imagens do porte do YouTube e, a partir daí, desencadear um processo de vertigem na paisagem mais globalizada do planeta, tal qual acontece em Vista On, Vista Off II (2012), da brasileira Denise Agassi. No primeiro caso, temos 3 mil cenas gravadas em ruí nas comunistas do Cazaquistão. Elas são combinadas, enquanto o filme é projetado a partir de algumas palavras-chave (como neve, apocalipse, futuro etc.) e 150 músicas, em um loop contínuo, por um programa que improvavelmente conseguirá repetir a mesma combinação. No segundo, em Breaking the News, Matt Lee nos convoca a ser um “news jockey”, remixando notícias em tempo real. Basta digitar uma palavra ou seguir os trending topics do dia. Seu programa faz uma busca em bancos de dados variados na web e disponibiliza alguns filtros para que cada um possa dar o seu tom e ritmo ao marasmo das informações que se sucedem nos inúmeros clippings online. É possível salvar o seu videoclipe no final e tanto as versões instalativas para exposições, quantas as para acesso no computador são um sucesso Fotos: reprodução, giselle beiguelman/estúdio select
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ista on, vsita off II, de denise agassi. metanarrativa construída na internet levou prêmio de mídias ¬ocalitavs ado vivo arte.mov 2012
há anos (http://www.news-jockey.com/). Já em Vista On, Vista Off II, de Agassi, somos convidados a manipular um dispositivo circular que aciona a projeção de uma série de vídeos, todos provenientes do YouTube, cruzando informações de uma bússola digital com palavras-chave pré-selecionadas em diversos idiomas. Essas palavras se referem a tipos de vista (aérea, panorâmica, mirante etc.) e aos locais apontados pelo dispositivo. Os tamanhos das projeções que vemos na tela correspondem, imaginária e proporcionalmente, à distância entre o local onde a obra está instalada e o lugar que se vê na imagem, criando uma ilusão de profundidade espacial. Quanto mais movemos o dispositivo circular, mais vídeos são carregados na tela, superpondo-se em distintas camadas. Curiosamente, somos confrontados com a situação de estar diante de um timão que, se não é capaz de navegar por todas as paisagens do mundo (se é que, no limite, toda imagem do mundo não estaria hoje, de certa forma, depositada no YouTube), é certamente a paisagem globalizada por excelência. No seu horizonte, anunciam-se também as possibilidades de outras fábricas coletivas de cinemas e novas imagens.
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O YouTube pode não conter todas as imagens do mundo, mas é a paisagem globalizada por excelência
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EDER SANTOS CONFERE A FILMAGEM DE SEU SEGUNDO LONGA-METRAGEM, DESERTO AZUL, COM LANÇAMENTO PREVISTO PARA ESTE ANO FOTO: LEANDRO ARAGÃO/TREM CHIC
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UM DISCO VOADOR POUSA NA LAGOA Eder Santos pilota, de sua casa às margens da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, criações em cinema e vídeo que o transformaram em referência internacional ANGÉLICA DE MORAES
R E T R ATO S A N D R E H A U C K
EDER SANTOS É UM DOS VIDEOARTISTAS BRASILEIROS DE MAIOR TRÂNSITO E PRESTÍGIO NO CIRCUITO INTERNACIONAL. Uma visibilidade com mais de duas décadas de constância, entremeada de incursões no cinema. Nem por isso é daqueles sujeitos ansiosos que estão sempre de olho no relógio e orelha no celular, estressados pela agenda lotada de viagens. A agenda é extensa, claro, mas as principais viagens, aquelas que garantem seu passaporte para o mundo, são as viagens para dentro, a partir da tranquila visão da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. É dali, no amplo estúdio/casa de beiral de telha e tijolos aparentes pintados de branco, que Eder Santos provoca sinapses e costura nexos entre imagens eletrônicas que serão apresentadas nos principais festivais de vídeo do mundo. Vista das janelas do estúdio ou da ampla varanda com redes, a lagoa é também tela azulada, com garças brancas que, no amanhecer, rabiscam com suas sombras e bicos a superfície aquática espelhada de céu. É um estilo de vida que cultiva o slow motion, com grandes travellings. Objetivo surpreendente para quem participou da equipe de fundação da MTV em São Paulo, em 1990, filial da estética frenética de edição de videoclipes. Um currículo televisivo que incluiu a codireção de Netos do Amaral (1990), com Marcelo Tas na pele do repórter Ernesto Varela, paródia dos documentários ufanistas que Amaral Netto realizava nos anos 1970. Convites sólidos para permanecer na vida agitada de São Paulo não lhe faltaram. Até a direção da MTV ele recusou. Queria retomar a vida em Belô, com sua produtora de vídeos. “Isto aqui é um trem bão, é um trem chic”, diverte-se
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“Vídeo é algo que não tem jeito de se fazer em ateliê fechado, precisa de muito trabalho colaborativo”
com o nome da empresa, apropriação de conhecida gíria mineira. No térreo, junto à garagem onde estaciona seu conversível vermelho Mazda MX-5, de 1995, tão conservado e polido que parece ter saído da fábrica há algumas semanas, Eder Santos mantém o estúdio Trem Chic, com os sócios André Hallack, Barão Fonseca e Leandro Aragão. Todos jovens na faixa dos 20 a 30 anos. “Esta é a segunda geração de sócios, a primeira estava na minha faixa etária, agora em torno dos 50 anos”, esclarece. “Vídeo é algo que não tem jeito de se fazer em ateliê fechado, precisa de muito trabalho colaborativo.” Eder Santos começou cedo a mexer com vídeo. Aos 18 anos, fundou com Marcus Nascimento, amigo e colega de classe no Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a produtora Emvídeo (1978-2007), frequentadora assídua de festivais. Na estante na sala de jantar ele coleciona mais de uma dezena de troféus desse percurso, a maioria do Festival Videobrasil, mas também prêmios em Locarno (Suíça), Vigo (Espanha) e Montreal (Canadá). Plugado em bom design, ironiza o formato da maioria deles, mas recoloca todos no lugar com evidente carinho. “O Videobrasil foi o canal para levar meu trabalho para fora do País”, conta. “Mas sorte é tudo”, diz, pensativo. “Em 1989, veio a
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CENA DO LONGAMETRAGEM DESERTO AZUL, FICÇÃO CIENTÍFICA QUE EDER SANTOS DIRIGE E PEDRO FARKAS FOTOGRAFA
O trailer de Deserto Azul pode ser visto no vimeo.com/23316538 e uma versão exclusiva dele para seLecT no iPad
“Joan Logue viu meus vídeos e propôs mostrá-los a alguns amigos, entre eles Nam June Paik, Philip Glass, Lou Reed e Laurie Anderson” Minas a videoartista norte-americana Joan Logue, para dar um workshop na UFMG. Ela viu meus vídeos e propôs mostrá-los a alguns amigos dela em Nova York. Eu falava um inglês tosco, mas topei na hora e, um mês depois, já estava batendo na porta da casa dela. No andar de cima morava Nam June Paik e Joan era amiga também de Philip Glass, Lou Reed e Laurie Anderson, entre muitos outros. Decorei três ou quatro frases em inglês e lá fui mostrando meu trabalho a todos. A partir daí, não parei mais.” Sua obra atualmente está em importantes coleções, que incluem o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York e o Centro Georges Pompidou, em Paris. O cotidiano da produtora Trem Chic envolve também a produção e montagem de videoinstalações e objetos de videoarte. O trabalho de criação com os sócios e parceiros é colaborativo e descontraído. “Aqui a gente trabalha na contramão da possessividade e do individualismo”, comenta Hallack. O vídeo Cinema, de Eder Santos, exibido em 2010 na Galeria Luciana Brito, em São Paulo, surgiu da apropriação de algumas imagens feitas por André Hallack para seu documentário O Nome É a Última Coisa Que Escolhe (2010). Muitos dos integrantes de cada projeto são acionados a distância. É o caso do artista sonoro Stephen Vittiello, que vive
em Richmond (Virgínia, EUA). Atualmente, Vittielo faz o som de Deserto Azul, longa-metragem de ficção científica que Eder Santos dirige e Pedro Farkas fotografa. O roteiro, de Mônica Cerqueira e Daniel Toledo, inclui um personagem em dois tempos (moço e velho) de nome Eu (Odilon Esteves e Ângelo Antonio) e sua partner Alma (Maria Luiza Mendonça). Um personagem idoso (Chico Dias) ocupa-se de pintar o deserto de azul para atingir a transcendência. A locação será o Deserto do Atacama (Chile). O lançamento está previsto para este ano. seLecT assistiu ao primeiro corte de edição de Deserto Azul, com 90% das imagens já filmadas. Será o segundo longa do artista, que havia realizado Enredando as Pessoas, em 1995. O filme possui uma qualidade quase tátil na imagem granulada e áspera, de refinado senso de cor e saturação cromática. As cenas retornam e insistem. Várias vezes. “A repetição revela o que é permanente”, diz um dos monólogos do longa. Touché. A repetição é uma das ferramentas prediletas do artista e perpassa toda sua produção visual. Ele sabe usá-la para oferecer ao espectador várias possibilidades de ressignificar e ampliar o horizonte poético do trabalho. Outro recurso eficaz para esse resultado é a duração estendida de um único plano. Na desaceleração do olhar, assim como no uso da paisagem como
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UMA VIDEOINSTALAÇÃO CIRCULAR DE EDER PARA UMA EXPOSIÇÃO NO CCBB TRANSFORMAVA-SE, À NOITE, EM CENÁRIO DO FILME: SALA DE GINÁSTICA GIRATÓRIA, USADA PELO PROTAGONISTA.
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SALUMERIA CENTRAL: VÍDEOOBJETOS E PROJEÇÕES DE VIDEOARTE NA AMBIENTAÇÃO DO ESPAÇO
“ O vídeo já invadiu o espaço do cinema no plano da linguagem e da técnica, agora falta invadir também o circuito exibidor”
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EXPERIÊNCIA GASTRONÔMICA
recurso simbólico, o mineiro revela influências de Bill Viola, que ele soube decupar em sintaxe visual muito própria. Assim como Viola (e Bruce Nauman e uma constelação de outros), Eder Santos tem seus vídeos distribuídos internacionalmente pela prestigiosa Electronic Arts Intermix. São 18 títulos do brasileiro nesse acervo. “Existe mercado para videoarte, mas ele ainda não é majoritariamente o mercado das galerias de arte”, observa. O mundo das artes visuais, no entanto, é que deu o start para a filmagem de Deserto Azul. “Quando fui montar uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, em 2010, notei que o prédio, aquela caixa de vidro recortada contra o céu, podia ser o estúdio ideal para o meu filme”, conta. Assim, montou um esquema alucinado que deu certo: a exposição funcionava de dia e a filmagem era feita à noite. Muitas estruturas e obras da mostra – denominada Deserto Azul: estúdio – serviram para ambientar o filme, que contou com uma ideia redutora de custos: recorrer a amigos artistas plásticos para obter o cenário. O banheiro, por exemplo, foi feito com plotagens de labirintos de azulejos brancos feitos por Adriana Varejão. A Fiat emprestou o carro-conceito, avaliado em R$ 1,5 milhão, que transporta o protagonista. “Captamos pouco mais da metade dos R$ 2,3 milhões necessários”, calcula. Qual seu desafio agora? “Completar a captação e tentar fazer a distribuição de Deserto Azul no circuito comercial de exibição”, crava. Mesmo destino que deseja para sua produção em vídeo. “O vídeo já invadiu o espaço do cinema no plano da linguagem e da técnica, agora falta invadir o circuito exibidor.” Eder Santos afirma que “há uma qualidade de imagem do vídeo atual que exige salas de cinema, telas grandes e equipamentos de última geração. Há uma nova experiência estética invadindo a cena, deixando para trás a sensação de foco ruim e imagens toscamente manipuladas. Já se pode trabalhar conceitualmente a imagem sem que ela pareça ter cara de efeito eletrônico”. Eder Santos é mesmo um disco voador pousado na Lagoa da Pampulha. Olhando longe, ele vê o futuro bem de perto.
O ARTISTA É TAMBÉM GOURMET, SÓCIO DE NOVA ATRAÇÃO DA BOA MESA MINEIRA, A SALUMERIA CENTRAL No espaço do bom e simpático boteco há a insólita presença de obras de videoarte. No balcão de frios, ao fundo, uma gaiola abriga pássaros de pixels da série Call Waiting, de Eder Santos. Trata-se da Salumeria Central, associação do artista com André Hallack e com o chef italiano Massimo Battaglini, inaugurada há pouco menos de três meses e que já virou point na noite de Belô. Situada nos fundos da desativada estação de trens, junto à paisagem do centro histórico da cidade, faz convergir as culinárias mineira e italiana. A palavra salumeria designa, na Itália, produtos feitos com carne suína (presunto, salame e outros embutidos). Eder Santos somou a isso queijos artesanais mineiros garimpados no interior do estado. São as atrações principais do cardápio e os ingredientes de vários pratos escoltados por boa carta de vinhos. A entrada mais solicitada é panturrilha de porco, uma sutil delícia produzida com o músculo da pata do animal, preparada durante cinco horas no forno, em fogo lento, de onde sai se desmanchando em sabores e cercado de batatinhas noisette assadas. (AM)
Salumeria Central, Rua
Sapucaí, 527, Floresta, Belo Horizonte (MG). De segunda a sábado, das 18h30 à 1h00.
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Pieter Hugo’s Nollywood O fotógrafo sul-africano Pieter Hugo interpreta a indústria cinematográfica da Nigéria
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“Estamos fazendo cinema para as massas. Nós não fazemos filmes para a elite assistir em suas casas de vidro. Eles podem se dar ao luxo de ver seu Robocop ou qualquer coisa parecida”, afirma a diretora e produtora Paz Piberesima. Mahmood Ali Balogun, outro produtor e diretor de Nollywood, defende também a ideia de que “para aqueles que trabalham no cinema nigeriano, o que se faz aqui é um cinema de subsistência, é o que as pessoas fazem para ganhar a vida. Não é como fazer cinema de fantasia com fotos: cortesia Pieter Hugo / galeria Stevenson (Cape Town / Johannesburg) e galeria Yossi Milo, New York
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Rio Máquina A instalação Rio Máquina (2009) chama a atenção para a relação de concordância que existe entre os processos naturais e as linhas de montagem. Concebida a partir de uma esteira de aço encontrada em um ferro-velho, a obra encanta pela duplicidade de seu aspecto: remete tanto a uma cachoeira quanto a uma máquina rotativa de impressão de jornal. “O trabalho começou dessa visão da prensa, um pensamento totalmente programado de produção, com um fluxo. Mas essas plantas industriais funcionam imaginando um processo natural”, explica Lescher na conversa que atravessa o livro. É como se a obra resgatasse um rio sobrevivente na memória dos processos cíclicos e, portanto, rotativos.
Rio do Homem O papel, o aço, o vidro e o feltro foram articulados na instalação Rio do Homem (2006) para dar conta da dimensão humanizada que os rios assumem na vida contemporânea. Hoje os rios são navegáveis, represados, desviados, controlados a serviço das necessidades da vida humana. A continuidade entre natureza e indústria é a questão levantada pelo artista ao observar que, nas cidades, ”o homem tira a natureza dos rios”. Rios passam a ser máquinas, ou seja, ex-rios.
um grande orçamento. Assim que termina um filme, você se joga no set para começar outro, senão você não tem o que comer”. Os depoimentos são parte do documentário This Is Nollywood (2007), do diretor Franco Sacchi, sobre a florescente indústria cinematográfica da Nigéria, que em 15 anos de existência já transformou a cultura popular local. Depois de Hollywood e Bollywood (Índia), o cinema nigeriano é a terceira maior indústria do mundo (segundo relatório da Unesco de 2009), produzindo anualmente quase fotos: cortesia Pieter Hugo / galeria Stevenson (Cape Town / Johannesburg) e galeria Yossi Milo, New York
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2 mil filmes de baixo custo, lançados diretamente em vídeo. No contexto africano, esses produtos audiovisuais são uma das raras instâncias de autorrepresentação na mídia de massa do continente, segundo Federica Angelucci, curadora italiana sediada na Cidade do Cabo. “Trata-se de uma narrativa para a população africana, com a qual ela pode se identificar”, explica Franco Sacchi. Para perscrutar a realidade da indústria nigeriana de filmes, o fotógrafo sul-africano Pieter Hugo escolheu o caminho menos óbvio:
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em vez de ir a campo documentar os sets de filmagens e as criações que costumam ser executadas – do início ao fim – em pouco mais de uma semana, Hugo recriou as cenas, temáticas e personagens mais recorrentes e característicos de Nollywood. Assim como fizera com a série The Hyena & Other Men (2005-2007), mostrada na 27a Bienal de São Paulo, o artista encena tudo. E consegue, desse modo, o retrato mais fiel de seu assunto. fotos: cortesia Pieter Hugo / galeria Stevenson (Cape Town / Johannesburg) e galeria Yossi Milo, New York
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As fotografias da série Nollywood (2008-2009) foram tiradas com uma câmera de médio formato nos centros de produção cinematográfica de Enugu e Asaba, no sul da Nigéria, com atores verdadeiros e assistentes atuando em cenas inspiradas nos filmes e no imaginário popular típico retratado nos filmes. Segundo Angelucci, o cinema na Nigéria conta histórias e reflete as vidas de seu público. “As estrelas são atores locais, os enredos confrontam o observador com situações familiares de romance, comédia, bruxaria, suborno,
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prostituição. A narrativa é exageradamente dramática, sem finais felizes. A estética é violenta e excessiva; nada é dito, tudo é gritado”, afirma ela. As imagens da série de Pieter Hugo refletem tanto a estética de Nollywood quanto suas condições de produção, já que maquiagem e figurino eram improvisados em pouco tempo e os locais escolhidos para as fotos muitas vezes já não ficavam mais disponíveis quando a produção estava completa. Coisas da vida real. E mais um motivo para simpatizar fotos: cortesia Pieter Hugo / galeria Stevenson (Cape Town / Johannesburg) e galeria Yossi Milo, New York
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com as representações nigerianas: conforme o próprio artista, o mais fascinante dessa indústria talvez seja o fato de priorizar os finais trágicos, em detrimento dos desfechos felizes que, segundo Hugo, são artificiais. “Acho a versão nigeriana do mundo mais honesta, porque possibilita que o espectador se relacione com as tragédias da vida e com aspectos não resolvidos da existência humana”, diz Pieter Hugo.
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Deserto Verde Em clima pós-neo-realista, as luzes artificiais unem-se à neblina, pautando as cores e as texturas do outono Fotos R O B E R TO WAG N E R , edição de moda m a u r í c i o i an ê s
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Vestido de seda Alexandre Herchcovitch, sob consulta; Casaco de lã Max Mara, R$ 2.580; Colar de pedras Francesca Romano,R$ 440; Bolsa de couro Max Mara, R$ 3.520; Lenço de seda Animale, R$ 150; Bota de couro Louis Vuitton, sob consulta
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CASACO DE LÃ GLORIA COELHO, SOB CONSULTA; ÓCULOS ACETATO VENTURA, R$ 490; LENÇO DE SEDA HERMÈS, SOB CONSULTA; BOLSA DE COURO LOUIS VUITTON, R$ 6.350
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VESTIDO DE SEDA ANIMALE, R$ 598; CASACO DE LÃ MARIA BONITA, R$ 1.760; BOLSA DE COURO LOUIS VUITTON, R$ 10.000; SAPATO DE COURO FERNANDA YAMAMOTO, R$ 590
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VESTIDO TRICÔ CANTÃO, 1.299; SAIA TRICÔ CANTÃO, R$ 1.299; CASACO DE LÃ MAX MARA, R$ 3.520; SAPATO CAMURÇA HOUIS CLOS R$ 968
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Vestido de Lã Hermes, sob consulta. à esquerda, Blusa de seda Gucci, R$ 1.320; Saia de seda Houis Clos, R$ 923; Lenço de seda Hermes, sob consulta; Capa de tafeta Hermès, sob consulta; Sapato camurça Espaço Fashion, R$ 755 Produção de moda - Paloma Villas Boas, Podução de locação - Flavio Rodriguez, Assistente produção de locação - Jessica Yumi Lopes, Produção executiva - Anna Guirro, Assistente fotografia - Renan Prando, Modelo Michelli Provensi (Ford), Beleza - Agnes Mamede (Capa mgt) Agradecimentos: Prefeitura de Cubatão, Prefeituta de Santo André, Cepema USP, Cesari, Refinaria Presidente Bernardes Petrobrás
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N I N A S AU E R a l i á s R I TA
TV de vingança Revenge e Avenida Brasil unem classe C e elite para celebrar as heroínas canalhas
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NEM MOCINHAS E MUITO MAIS QUE BANDIDAS: NINA (ACIMA), DE AVENIDA BRASIL, E EMILY, DE REVENGE, PROTAGONIZAM A TELEVISÃO PÓS-MANIQUEÍSTA
JUNTE EM UMA PANELA FUNDA GENEROSAS FATIAS DA SÉRIE REVENGE, VÁRIAS PITADAS DE KILL BILL E MAIS ALGUMAS GOTAS DE QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. BATA, CHACOALHE E MISTURE BEM. PRONTO. Essa deve ser a receita de sucesso de Avenida Brasil, a novela das 21 horas de João Emanuel Carneiro, que vem assombrando o horário nobre da Rede Globo. Quase sem núcleo zona sul, restrito a meia dúzia de personagens de uma mesma família disfuncional – um marido pseudoengraçado (Alexandre Borges, sempre lindo, mas que já cansou um pouco nessa função), suas três esposas traídas (Debora Bloch, Camila Morgado e Carolina Ferraz) e alguns filhos inexpressivos –, tudo se passa em um subúrbio genérico do Rio de Janeiro. Ricos e pobres vivem aí. O expoente social é Tufão (Murilo Benício, versão Ronalducho), jogador de futebol aposentado mais devagar que a hiena do Lippy & Hardy e com o figurino também mais genial dos últimos tempos. O modelão calça de agasalho de helanca, conjuntinho com blusão da mesma cor, que orna com o inseparável par de chinelos Rider combinando com tudo é um triunfo. Só perde mesmo para o de seu pai, Leleco (Marcos Caruso), com seus inspirados óculos de Formiga Atômica equilibrados
FOTO: REPRODUÇÃO
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Carminha (Adriana Esteves), a dissimulada que também tem uma história triste, relacionada ao mundo do lixão, onde vive o núcleo ultramiserável de avenida brasil
Difícil encontrar alguém que preste em Avenida Brasil. Os personagens são em sua maioria podres. Isso parece estar na moda. Assim também é o mundo de Revenge (Sony), ambientada do outro lado do espectro social na testa. Ele é, definitivamente, o maior astro da novela. Não só pela atuação impagável, mas também por ser um dos únicos personagens decentes desse enredo que bem poderia se chamar Avenida Covil! Mundo-cão é pouco. Gente má e sem escrúpulos acumula-se aí aos borbotões. A começar pela heroína, Nina, que na verdade é Rita (Debora Falabella), a quem bem caberia o bordão de outra vilã do mesmo autor, a genial Flora, de A Favorita: Purgantezinho! Como é chata... Não menos que a peste da megera Carminha (Adriana Esteves), a dissimulada que, por ora, engana todos e, talvez, vá se ferrar totalmente no final. Ou não. Pois ela tem também uma história triste, relacionada ao mundo do lixão. Ah, sim, nessa história não tem núcleo pobre. Só ultramiserável. E nesse núcleo vivem o “ultrabad” Nilo (José de Abreu em versão Papai Noel diabólico) e a ultraboa mãe (de todos) Lucinda (Vera Holtz).
O primeiro é explorador de menores e pai do primeiro malandro-otário do planeta, Max (Marcello Novaes). A outra mora numa casa tão estetizada que já deve ter muita criança querendo morar lá, assim como na época de Chiquititas chorava-se suplicando às mães o direito de morar em um orfanato. Coisas da vida nas telas. Muito difícil encontrar alguém que preste em Avenida Covil, digo, Brasil. Os personagens são em sua maioria podres. Ou já cometeram algo bastante grave no passado. Isso parece estar na moda, aliás. Assim é o mundo de outra telessérie em capítulos atual, Revenge (Sony). Aqui, estamos do outro lado do espectro social. O radicalmente outro mundo da elite norte-americana que vive em Nova York e passa os verões em suas faustosas mansões nos Hamptons. Se você é triliardário nos EUA, a costa da Califórnia e Miami são kitsch. E mesmo Ocean County – que nas minisséries já foi emblema dos contrastes sociais americanos, palco do drama adolescente The O.C. – é cafona.
ÓDIO E SORDIdez
É nos Hamptons que a protagonista Emily Thorne (Emily VanCamp) vai se fixar para causar o máximo de estragos no menor intervalo de tempo possível nas vidas dos vizinhos. Logo de cara o espectador sabe que seu nome verdadeiro é Amanda Clarke – o que seria do dramalhão vingativo sem mudanças de identidade? – e que sua missão é vingar a desgraça e a morte do pai, David Clarke. Quando ela era criança, o pai foi arrancado de casa, acusado de um ato terrorista que vitimou centenas de pessoas em um avião que explodiu nos ares (o calo da América). Na realidade, ele teria sido o bode expiatório de um esquema malévolo do casal Conrad (Henry Czerny) e Victoria Grayson (Madeleine Stowe), que se torna naturalmente o arqui-inimigo de Emily/Amanda, para quem ela reserva o pior destino. No caminho da vingança, ela arruína – um a cada episódio – todos os coadjuvantes na cilada armada contra o pai: a secretária, o senador, a psicóloga, o autor do livro que colocou a última pedra sobre as esperanças de David Clarke de ser inocentado. Ela conta com a ajuda do magnata das telecomunicações Nolan Ross – o típico geek de Sillicon Valley que fez fortuna aos 20 anos (e cujo principal inves-
fotos: imagens do encuentro de nuevos medios na the Escuela Internacional de Cine de San Antonio por Lia Rangel; Productos para una vida feliz de Mauricio Abad
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tidor no início do sonho digital foi papai Clarke) –, do dinheiro que ela tem de sobra, da beleza (que a auxilia a fazer o filho dos Grayson, Daniel, cair de amores por ela) e da sorte (que assim tão cronometradamente exata só acomete mesmo os personagens de novela). No episódio 18, que deve ir ao ar na semana em que seLecT chega às bancas, encontramos o círculo de ódio e sordidez inflamado por um novo assassinato e uma escalada de violência que já não se contenta com meros incêndios de casas, surras com barras de ferro e pessoas sendo atiradas do alto de arranhacéus. Enquanto isso, nos trópicos, em Avenida Covil, digo, Brasil, sabe-se lá quantas pessoas a megera Carminha terá sacaneado dos píncaros de seu palacete decorado com todos os últimos gritos da moda do falso brilhante. Mas o jogo de gato e rato, ou rata e ratazana, entre ela e a mocinha-bandida, Nina/Rita, começará a esquentar e deixar os telespectadores inquietos. Seja nos Hamptons, seja no imaginário subúrbio carioca do Divino, quem vacila dança. O mundo é dos espertos e qualquer desfecho conciliatório vai frustrar os espectadores. Afinal, qualquer criancinha sabe que as histórias mais sujas só acabam em pizza no reino encantado das CPIs.
Aqui não tem núcleo rico, só podre de rico: nos hamptons, onde se passa a série revenge, emily manipula sem dó nem piedade, da reunião familiar dos arquiinimigos à conversa “amigavel” com o amor de infância, Jack. Este, aliás, só se dá mal no joguinho entre emily/ amanda e Amanda/Emily (a companheira de prisão juvenil com quem trocou de identidade)
Fotos: Lia Rangel, CORTESIA DOS ARTISTAS E REPRODuções de domínio público
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DA ESQUERDA PARA A DIREITA, TRABALHOS PRODUZIDOS POR RAÚL MARTÍNEZ; ENTRADA DO INSTITUTO SUPERIOR DE ARTE DE CUBA (1976); IMAGENS DE STRIKE!! NUEVOS MEDIOS EN CUBA, UM ESTUDO DE MAURICIO ABAD E MARCEL MÁRQUEZ
CUBA QUER SE CONECTAR. ESSE DESEJO PULSA ENTRE OS ARTISTAS QUE CONHECI EM MINHA RECENTE VISITA À ILHA. Jovens ou não, eles querem colaborar, trocar, conhecer e se integrar à imensa conversação global propiciada pela rede mundial de computadores. Esse desejo emula uma vontade que se vislumbra latente na população, mas esbarra na precária oferta de acesso à internet. Um dos fatores que contribuem para esse cenário de escassez é o bloqueio político e econômico imposto pelos Estados Unidos desde 1962. Não existe infraestrutura de conectividade. Um cabo de fibra óptica submarino, proveniente de Caracas (Venezuela), deveria já estar em funcionamento. As notícias oficiais dão conta de sua instalação, mas ainda não está em plena operação. A velocidade média de conexão é de 52kb/s. Ou seja, é como se estivéssemos na década de 1990. Ao bloqueio se somam medidas limitadoras empreendidas pelo governo da ilha. Um cubano, por exemplo, não pode solicitar serviço de internet para sua casa ou seu negócio – a iniciativa privada tem sido modicamente reintroduzida. A prioridade de conexão é para setores sociais, como cultura, saúde, esporte e educação. Só se consegue algum acesso residencial à internet ou à intranet utilizando o serviço estatal, restrito a artistas, médicos, esportistas, professores ou estudantes. Para o resto da sociedade, conectar-se à rede é muito difícil, pois a opção disponível são os cibercafés e os hotéis, cujo preço é, em média, US$ 8 a hora. O salário médio de um profissional no país é de 500 pesos, ou cerca de US$ 20. As outras opções são os escritórios, quase todos estatais. Mauricio Abad, artista multimídia, me escreve de um servidor chamado Cubarte, do Ministério da Cultura, que presta serviços a artistas por US$ 2 ao mês. O provimento foi barateado recentemente. Custava US$ 5. Abad tem acesso a um correio eletrônico com capacidade de armazenamento limitada a 4 MB e pode acessar o Google cubano, mas não a versão internacional. Pode abrir alguns sites cubanos de cultura, da imprensa internacional e a Wikipedia, por exemplo, mas não pode se conectar ao Gmail, ao Facebook, ao YouTube, ao Twitter ou a sites de universidades. “Ou seja, não podemos nos conectar à internet”, diz ele. Esse serviço da Cubarte é oferecido a cidadãos vinculados a instituições culturais do país. Para obtê-lo, o artista deve escrever uma carta às autoridades explicando por que necessita de um correio eletrônico. Abad me explica que, para entrar no Gmail ou no Facebook, ele recorre à Universidade de Artes, que tem alguns sites bloqueados, mas que oferece conexão mais aberta, com conexão Wi-Fi disponível a estudantes e professores. No mercado negro, é possível comprar serviços de internet pagando US$ 80 mensais. Mas é uma solução arriscada.
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Artistas cuba nos, apesar das limitaçõ es de conexõ es enfrentada s, se organi zam em grupos, com o no Labora tório artístico sa n agustín (l asa) e ocupam espa ços tradicio nais como a escuela in ternaciona l de cine de san anto nio, criada po r gabriel garcia marqu ez, fernando birri e orlando se nna
O outro detalhe que compõe o quadro de acesso limitado à internet para os cubanos é o fato de que muitos serviços internacionais estão bloqueados para Cuba. As contas bancárias dos habitantes da ilha não são reconhecidas por serviços de pagamento em rede e, como descreve Abad, em muitos casos, ao preencher os campos de cadastro para um determinado site, não existe a opção Cuba na lista de países. Ou seja, é como se a ilha comunista não existisse no mapa da internet. Abad manifesta preocupação com o preço que pode ser pago pelos habitantes cubanos dentro de alguns anos. “Nosso país viveu orgulhoso durante muitos anos em função do alto nível cultural do seu povo. Tristemente, em poucos anos, estamos vendo esse mesmo povo alijado do acesso às tecnologias, sem conexão à internet e, com isso, também sem acesso ao conhecimento e à comunicação.” Esse isolamento pode estar criando uma espécie de analfabetismo informático, o que nos anos 1990 foi tratado internacionalmente como brecha digital, ou seja, o fosso de acesso tecnológico entre os incluídos e os excluídos do acesso às tecnologias do conhecimento.
Cuba tecnofágica Essa falta de internet é um enorme limitador, mas não impediu que na ilha emergisse uma geração de produtores e realizadores integrada com as formas mais contemporâneas de produzir arte e mídia. Afinal, Cuba é um país muito complexo, onde muitas dimensões se misturam. Há dez anos, por exemplo, realiza um Salão de Arte Digital em Havana, organizado pelo Centro Cultural Pablo de La Torriente Brau, que já exibiu 130 trabalhos de artistas da ilha e mais de 200 obras de artistas de 39 países. O salão possui até uma mostra online de vídeos digitais. Essa história da produção artística digital de Cuba remonta aos anos 1980, mais especificamente a 1986, com a fundação do Laboratório de Computação Aplicada do Instituto Superior de Arte (ISA), cujo papel na difusão dessa forma de expressão no país é central, como registram Abad e Marcel Márquez, em uma apresentação chamada Strike!!! Novas Mídias em Cuba. Embora não gozem do acesso integral à internet, como podemos usufruir em boa parte do planeta, os cubanos experimentam uma formação educacional e teórica de altíssimo nível. A precariedade generalizada produziu um povo – em parte como o brasileiro – adaptado a se virar. Isso é, por um lado, limitador e, por outro, uma importante enzima que se multiplica em gambiarras de valor artístico inestimável. Se essa forma de criar a partir da apropriação desigual das tecnologias disponíveis tem produzido fenômenos de grande expressividade em todo o continente, dando origem à tecnofagia, em Cuba não é diferente. Candelário, autor da perfomance Urbanizáme, na 10ª Bienal de Havana (http://www. youtube.com/watch?v=4IPmo75Rrd8), e fundador do Laboratório Artístico de San Agustín (Lasa), um dos mais inovadores centros de arte contemporânea de Cuba, localizado na periferia de Havana (http://lasa-cuba.blogspot.com.br/), tem trabalhado em uma experiência colaborativa fascinante. Jovens artistas e trabalhadores da cultura
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Jovens artistas cubanos criaram a TV-USB, um modelo de televisão experimental e de produção descentralizada que compartilha sua programação via pen drives foram convidados a criar uma televisão experimental, conformando um coletivo de produção audiovisual, descentralizado, que compartilha sua programação por meio da tecnologia USB (pen drives). Com a ajuda de programadores, os dispositivos foram alterados para que não possam ser apagados e para que descarreguem automaticamente a programação dessa USB-TV, quando conectados a uma máquina (computadores ou outros aparelhos), espalhando as cópias. Os filmes são licenciados de forma livre, ou “mais que livre”, como narra o coordenador do Lasa. Fascinante também é a forma que o coletivo encontrou para financiar a produção dessa rede de distribuição audiovisual. Os recursos da USB-TV provêm da venda de pinturas, quadros e esculturas, entre outras obras. “Nós nos autofinanciamos”, explica Candelário. “Há muitos artistas práticos que pertencem à equipe. O que fazemos é que pintamos alguns quadros e os vendemos aos hotéis, e com esse dinheiro, às vezes, chegamos a arrecadar até US$ 50 mil.” O artista explica que o coletivo está construindo um estúdio móvel de televisão que tem como ideia estimular experiências semelhantes em todos os encontros de arte em Cuba, criando centrais multimídia colaborativas, voltadas à documentação e divulgação artística, com ênfase na experimentação de linguagens. “Como todo cubano sabe, há dois tipos de internet: a normal, que não existe aqui, e a internet do USB, que em Cuba funciona como uma maravilha”, afirma Candelário.
no alto, vista do instituto superior de arte que ocupa o campo de golfe da cuba pré-revolucionária. No detalhe, um frame do video The tuning (2010), de Jairo Gutierrez
Como bem lembrou Gonzalo Martín, em seu blog Pulsiones, o projeto da USB-TV de Cuba (http:// gonzalomartin.tv/pulsiones/2012/02/28/uusb-tvcuba-candelario-san-antonio/) demonstra que as sneaker nets estão vivas e que o desejo humano de compartilhar não começa com a internet. Ou seja, a indústria do entretenimento até pode tentar destruir com leis draconianas a crescente onda de cultura livre, mas terá dificuldades, dada a capacidade adaptativa que os criadores do mundo das redes interconectadas expressam, desdobrando-se em múltiplas alternativas. Uma capacidade adaptativa que também se expressa no curta-metragem dirigido por Yanet Llanes Alemán e Pedro Enrique Moya chamado Faceboom, uma obra que investiga, a partir dos depoimentos de usuários cubanos, a importância do Facebook na ilha de Fidel. Mais uma demonstração de que não faltam formas inovadoras de lidar com as dificuldades, Faceboom está disponível com exclusividade no Vimeo da revista seLecT.
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L u c a s B a m b o z z i , d e H o n g Ko n g
Festival de mídias móveis na Ásia põe foco em um cinema de bolso que tira proveito da miniaturização crescente dos meios de captação de imagens Já é lugar-comum falar que o cinema vem se expandindo. O cinema de hoje é algo mais amplo e também mais complexo do que o de ontem. São ramificações e possibilidades que surgem em todas as suas etapas de realização. E alguns problemas crônicos persistem, em especial na ponta desse processo, ligados à distribuição. Se mais pessoas fazem algo que pode ser considerado cinema, mais difícil fica separar o joio do trigo na busca por qualidade, criatividade, consistência e perspectiva de mercado – atributos que nem sempre andam juntos. Mesmo havendo internet de banda larga em boa parte do mundo, mesmo que existam canais como o YouTube e o Vimeo, por mais que se multipliquem os festivais, mostras ou feiras ligadas ao mercado, persistem os problemas de distribuição. Esse mal endêmico, que afeta o cinema típico das salas convencionais, faz dele um “esquema” de poucos para poucos, tendo em vista tanto a dificuldade de realização quanto os entraves para fazê-lo chegar a um público realmente significativo. Desde os anos 1980, começou a surgir uma série de iniciativas nessa trilha. Uma delas, associada ao termo “microcinema”, possui como diferencial a procura por um modelo que envolve as próprias alternativas de difusão. São formatos de curta duração que passam a dar lastro a uma rede cuja penetração vai além dos festivais, e se amparam em novas qualidades associadas a essas produções. Surgem de forma quase espontânea, tirando proveito da miniaturização cres-
cente dos meios de captação de imagens – e pelo fato de essas novas câmeras serem também dispositivos de visualização, com telas em alta definição, pequenas às vezes, mas adaptáveis à distância do olhar de cada um. Essas produções, mesmo que apelidadas por nomes um tanto anacrônicos, como “cinema de bolso”, atualizam a ideia de microcinema com a qual convivem realizadores alternativos de todo o mundo desde as mostras de garagem dos anos 1980-1990. Cada vez mais onipresentes, os dispositivos empregados surpreendem por gravar em full HD, com recursos de câmera lenta ou com sensores de geolocalização, operando em rede, viabilizando centrais de difusão (por streaming via Bambuser, Qik ou Kyte) e distribuição via Wi-Fi ou mesmo por meio das operadoras – estas ainda a preços proibitivos. Descontada a euforia inicial com esses atributos que nem sempre cumprem o que prometem, o fato é que alguns desses recursos potencializam em muito a visibilidade e penetração das produções, dando maiores chances a criadores, sejam eles iniciantes, desconhecidos, intuitivos, autodidatas ou mesmo experientes.
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outros circuitos para outras linguagens
As iniciativas que potencializam esse terreno, hoje, são muitas. E são muitas vezes dispersas e desconectadas dessa grande nave-mãe que se tornou o cinema e suas crias mais ou menos reconhecíveis. Um bom exemplo é o Hong Kong International Mobile Film Awards (HKIMFA), realizado no fim de março. Criado em 2010 como uma rede internacional que envolve outros dez festivais ligados a mídias móveis, incluindo o Vivo arte.mov – do qual sou um dos coordenadores, ao lado de Rodrigo Minelli e Aluizer Malab –, o HKIMFA coloca foco em produções amadoras e de baixo custo, associadas a vídeos realizados com celular e câmeras compactas. Aconteceu junto à Asian FILMART, uma grande feira de produtos da indústria cinematográfica e televisiva internacional realizada como um braço de negócios do gigante Hong Kong International Film Festival, este ano em sua 36ª edição. É nítida a tentativa de associar os formatos alternativos ao mercado internacional, pelo viés da fruição fácil dos chamados mobile vídeos. Com a premissa de reunir a indústria do entretenimento, estudantes e aspirantes a cineastas, e de misturar gêneros, categorias e formatos, o HKIMFA levou a Hong Kong os 11 finalistas candidatos ao prêmio, escolhidos por representantes dos festivais
fotos: Lucas Bambozzi
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à direita, Carlos Dowling, artista brasileiro que levou o prêmio de melhor animação no festival de hong kong, por lelê, e foi premiado também no Vivo arte.mov. abaixo, frames de seu vídeo e imagens da representante da grécia, Vassiliki Tzouveli. Assista aos filmes e acesse os links dos festivais e outras referências deste artigo em: select.art.br/article/ reportagens_e_artigos/ microcinema
Há uma nova geração de cineastas que não se identifica com os rótulos típicos do cinema. Eles não se encantam com o ato heróico de fazer cinema, quando a dificuldade bate de frente com o desejo criativo parceiros. O paraibano Carlos Dowling foi o escolhido para concorrer no HKIMFA pelo Vivo arte.mov. Seu videoclipe Lelê, uma animação realizada para a Chico Correa e ElectronicBand, que já havia sido agraciado no festival brasileiro, recebeu o prêmio de melhor animação na cerimônia em Hong Kong. Dowling tem um percurso que vem se tornando cada vez menos atípico. Faz parte de uma geração de realizadores de cinema que não se identificam com os rótulos característicos do cinema. Tendo realizado um média-metragem de ficção, Funesto (1999), já não se encanta com o ato heroico de fazer cinema quando a dificuldade bate de frente com o desejo criativo. Não se sente exatamente um cineasta, e nem mais concorda que exista um cinema paraibano. Hoje se vê inserido em um conjunto de ações e iniciativas pautadas pela cultura digital, “hibridizadas por natureza, em articulação com as novas mídias”, afirma. Fazer “um outro cinema” é, para ele, ao mesmo tempo um paliativo em vista das dificuldades de se produzir um longa, bem como começa a se tornar uma convicção, uma opção estética, em vista de um processo de mudanças, onde há caminhos múltiplos, com outras formas de difundir as produções. Trata-se de uma mudança de mentalidade que começa a acontecer não apenas entre os produtores, mas também entre os “consumidores” desses formatos. Essa pers-
pectiva incorpora novas vias de cruzamento, dando outras tonalidades ao que antes era caracterizado como hibridismo ou contaminação entre meios. Vassiliki Tzouveli, representante da Grécia no HKIMFA, estudou jornalismo e mídias em Atenas. Viu no festival grego Shoot It a oportunidade para difundir um vídeo feito com colegas de escola. Seu vídeo focaliza artistas que buscam ajuda financeira na rua e foi rodado como uma ação entre amigos usando basicamente um iPhone e produção básica de figurino e casting, em locações próximas. Por meio do festival Shoot It, ela foi convidada a viajar até Hong Kong para concorrer aos prêmios do HKIMFA. Vassiliki almeja para seu futuro uma condição idealizada em que poderia simplesmente continuar a realizar trabalhos como o que produziu. “Simplesmente fazer e continuar fazendo, chegar a algum público de forma descomplicada e sem maiores patrocínios”, diz. Mais uma vez, a continuidade ou manutenção de um percurso mostra-se o desafio maior. O distribuidor espanhol Millan Vázquez-Ortiz, representando o curta Intruso no HKIMFA, fala em transversalidade, tanto de linguagem quanto de mercado, como uma condição fundamental para os formatos de curta duração. Sua distribuidora, a Agencia Freak, existe há 11 anos, empregando cerca de dez pessoas e fornecendo curtas para circuitos que considera alternativos, como mostras em festivais,
Fotos: Lucas Bambozzi e cortesia dos artistas; Culture Robot 4 de Ricardo Palmieri (arquivo arte.mov)
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museus e galerias, e também para a televisão. Eles estão abertos a todo tipo de formato, em estéticas ecléticas e em terrenos comerciais, inclusive. “O curta é assistido em celulares, redes Wi-Fi, com facilidades tanto de download, por parte do usuário final, como para upload, por parte do realizador/produtor”, afirma, endossando que hoje o “consumo” de curtas é mais fluido do que o de longas.
cinemas em rede Hibridismo no formato de audiovisual não é novidade, mas como linguagem parece ser pouco percebido pelo público. O vídeo, há um par de décadas, já está em todo lugar, entre todas as coisas, dando sobrevida e atualidade ao que o teórico Raymond Bellour escreveu em 1990 em Entre Imagens. Há em curso um cinema ligado à conectividade. Há um cinema que revisita sua própria essência, negando os pressupostos do romance ou do folhetim. Há cinemas de sinestesias, há espaços cinemáticos sendo produzidos para vias públicas. Há narrativas imersas no compartilhamento coletivo que prescindem de projeções. Na conversa com Carlos Dowling, no meio de um festival do outro lado do mundo, surgiu mais uma vez a imagem do cinema como uma arte em transição, em um contexto em que a rede não deve ser desprezada. Ao contrário, ela impacta um novo tipo de pensamento colaborativo, no qual as hierarquias das equipes se mostram mais permeáveis a conhecimentos atravessados por novas posturas e práticas. Não se trata apenas da emergência de novas categorias, como as práticas transmídias – que endossam o cruzamento de mercados. As práticas audiovisuais se espalham no campo das mídias, ecoando as convicções de Peter Greenaway, que alardeou: “O cinema desperdiça o cinema – sem dúvida, temos de fazer melhor uso dele”. Frases de efeito à parte, que venham vozes mais plurais, para que a acessibilidade não seja vista como ameaça aos nomes estabelecidos; para que a diferença – os outros cinemas – não seja vista com indiferença.
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Cinema, doce lar Semana do Design de Milão mostra que o audiovisual invadiu todos os cômodos da casa t e x to e f oto s J U L I A N A LO P E S , D E M I L Ã O
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Milão recebe e catalisa anualmente as mais quentes novidades em design, arquitetura e tecnologia. Na Semana do Design, os primeiros contatos podem acontecer por pura atração estética e a aproximação do corpo pode ser movida pela busca de funcionalidade. Mas o nosso interesse hoje vai além disso, investigando a carga de virtualidade dos novos objetos. Estilos de vida estão hoje transpassados pela tecnologia. O audiovisual ganha especial importância nesse contexto, pois é a interface que nos informa, nos paralisa, ou pede para ser tocada. Dos tablets à televisão, o vídeo está em todos os lugares. Assim, objetos são desmaterializados, o sofá se transforma em banheira, a tevê se funde ao fogão e cadeiras viram poltronas de cinema retrô. Dentro de uma infinidade de exposições – cerca de 3.500 – que aconteceram na maior e mais importante feira de design do mundo, seLecT seleciona propostas de ponta que demonstram a onipresença do audiovisual em nosso cotidiano. Buon viaggio.
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Secos e molhados A empresa Lixil trouxe de Tóquio a seguinte concepção: sinestesia no banheiro. O design visual se acopla, com igual importância, à experiência que o objeto deve propor. Assim, a banheira de contornos arredondados se completa com a espuma cremosa, que cria uma borda infinita. O seco se une ao molhado. A estrutura de baixo funciona exatamente como um pires. E, claro, a estratégica tevê de tela plana em frente traz a tecnologia para mimar o “usuário” com seu filme preferido. Onde: Salone Satellite Produtos lançados: banheiras e espuma cremosa Mais: www.lixil-milano.com
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Invasão cinematográfica Apesar de vender lâmpadas, a italiana Foscarini cria sempre algumas das instalações mais impactantes do evento, propondo, sobretudo, transmitir sensações. Nesta edição, uma invasão cinematográfica paralisou os visitantes. A natureza, tema de vídeos, foi apresentada em projeções coreografadas entre diversas telas. Eclipses, explosões e fenômenos atmosféricos estão entre as imagens, acompanhados por uma direção sonora impecável. Essa viagem pelo espaço expositivo pode terminar, ou não, numa salinha onde ficam, concretamente, os objetos comercializados. Sem dúvida, o mais elegante dos displays da feira. Onde: Superstudio Pìu Produtos lançados: coleções de lâmpadas (Behive Suspension e Birdie Family, entre outras) Mais: www.foscarini.com e http://bit.ly/superstudiopiu, para ver o vídeo
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Estilos de vida estão hoje transpassados pela tecnologia e o audiovisual é sua interface. Dos tablets a televisão, o vídeo está em todos os lugares e cantos da casa
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Banheiro cromaqui Um lugar onde a mais básica das funções do dia – o banho – vem agregada a dispositivos visuais. Chuveiro com rádio acoplado já era um produto conhecido: a música com banho nos soa familiar. O “banho visual”, no entanto, em que podemos escolher as cores das luzes que também nos banham (de cromoterapia), diz algo a mais sobre nossa hiperatividade tecnológica. Queremos todos os sentidos aguçados? A água quente, a música escolhida e, agora, um pouco de azul ou laranja? O projetor que forra de vídeo todo o ambiente, como um papel de parede, responde à pergunta. Onde: Salone Internazionale del Bagno Produtos lançados: estruturas box com chuveiros Mais: www.samo.it
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Fogões tablet Ficou decidido tacitamente que toda cozinha quer ser um tablet. Os italianos em geral detestam mexer nas tradições culinárias, mas adoram repaginar o fogão, que virou uma superfície desmaterializada, funcionando via touch screen. Esse modelo, chamado InfinitePure, da Electrolux, resume o que há de ponta, por enquanto: uma tela de vidro-cerâmica conectada a dispositivos que reconhecem a panela. São as placas de indução que, agora, têm localização ilimitada. Qualquer lugar onde se coloca a panela, ela é reconhecida por sensores. O chef-navegador-virtual pode escolher a exata potência do calor que será transmitido ao alimento. Quando desligado, esse fogão se torna o que o novo ambiente pede: nada. Mas isso, por enquanto. Podemos esperar para os próximos anos um fogão que guarda dados de receitas, pesa alimentos e é comandado online. Onde: FTK – Technology for the Kitchen Produtos lançados: mobiliário para cozinha e fogões tecnológicos Mais: www.electrolux.it
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Cineminha caseiro A grande sacada dessa instalação é, simplesmente, enfileirar cadeiras em frente a um telão. Então todos podem ter um cinema em casa? Sim, mas o cineminha da eslovena Nika Zupanc parece algo de que estranhamente sentimos saudade. Não por acaso, Zupanc, que já produz com Mooi e Morosini, ganhou um canto especial entre os mais jovens e promissores criadores da tendência de amanhã. Suas propostas ricas em feminilidade merecem ser revistas. Porque, talvez, o amanhã também queira ser como ontem. Onde: Salone Sattelite Produtos lançados: a instalação e o documentário são a novidade. As peças (lâmpadas Lolita, cadeiras 5 o’clock e Scarlet Table) já são comercializadas Mais: www.nikazupanc.com e http://bit.ly/nikazupancvideo, para ver o que era veiculado no cineminha
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Yayoi kusama E Louis Vuitton A obsessão de Yayoi Kusama por bolinhas saltou da padronagem de uma toalha de mesa de jantar, quando ela ainda era menina, aos 10 anos de idade, e se espalhou por uma enorme variedade de mídias que inclui pintura, desenho, escultura, cinema, performance, instalações imersivas, textos e moda. Pontos e bolas apareceram logo cedo em sua vida artística e política, na forma das polka dots que proliferaram nos happenings, desfiles e manifestações anti-Guerra do Vietnã, dos quais participou, nos anos 1960, em Nova York. As bolinhas eram ativadas sobre espaços, roupas ou diretamente sobre a pele, como no happening Horse Play, realizado em Woodstock, em que uma Kusama nua e tatuada de pontos pretos contracenava com um corcel negro pintado com bolas brancas. Em clima de flower power, as peças da Kusama Dress and Textile, marca que chegou a ser vendida em lojas de departamentos e butiques dos EUA, incluíam minivestidos estampados, macacões com furos que exibiam os seios e modelagens moles que tinham tudo para ser o sonho de consumo de Rita Lee no auge dos Mutantes. Hoje fariam inveja a Ernesto Neto.
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Em continuidade a uma tradição colaborativa com a arte contemporânea, grife francesa lança coleção assinada pela artista japonesa
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Em fevereiro, a artista yayoi kusama comeรงou a instalar vรกrias de suas obras em lojas da Louis Vuitton. A obra Soring Spirits, por exemplo, estรก na loja da New Bond Street, em Nova York
Fotos: Louis vuitton/gauthier deblonde
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Acima, a escultura flowers that bloom tomorrow, na louis vuitton New Bond Street; à esquerda a instalação Dots obsessions (day and Night), no Kennedy center, em washington dc
“Vermelhas, verdes, amarelas, polka dots são círculos que representam a terra, o sol ou a lua. O que elas significam não importa realmente. Pinto polka dots em corpos e com elas as pessoas podem se autodestruir e retornar à natureza do universo”, escreveu Kusama na autobiografia Infinity Nets. A experiência com essa padronagem orgânica e repetitiva se radicalizaria com o avanço das décadas e tomaria grandes espaços ao ar livre e às salas dos principais museus do mundo. Hoje, aos 83 anos, a artista nascida no Japão – que desde 1977 vive voluntariamente numa instituição psiquiátrica – restabelece o vigor dos anos de experimentação no campo da moda. Em junho, ela dá início a um projeto colaborativo com Marc Jacobs, diretor artístico da Louis Vuitton. Suas Dots Obsessions, instalações imersivas que hoje itineram na mostra retrospectiva que passou pelo Centro Georges Pompidou, em Paris, pela Tate Modern, em Londres, e chega ao MoMA de Nova York em julho, agora vão ocupar as vitrines das lojas da grife francesa em todo o mundo. Não só vitrines, mas sapatos, acessórios, relógios e joalheria da Louis Vuitton serão suportes para suas eternas e indefectíveis acumulações de bolinhas.
Aos 83 anos, a artista restabelece o vigor dos anos de experimentação no campo da moda. A partir de junho, sapatos, acessórios, relógios e joalheria tornam-se suportes para seus trabalhos
fotos: louis vuitton/gaultier deblonde, yayoi kusama
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filhos de melies A infância do cinema influencia artistas como Thomas Demand, Nathalie Djurberg e Tom Thayer, que trabalham com animação j u l i a n a m o n ac h e s i
Os primeiros efeitos especiais, praticados por Georges Méliès no século 19, estão longe de esgotados. A infância do cinema ainda influencia muitos artistas trabalhando com animação nos dias atuais. E o assombro que uma foto como Frances and the Dancing Fairies (1917), de
Elsie Wright, que foi utilizada como prova da existência de fadas, causou no início do século 20 continua sendo atualizado por vídeos tecnicamente tão simples, como Rain, de Thomas Demand, exposto em 2011, na mostra Água na Oca, em São Paulo, e até recentemente no Museu Histórico Nacional, no Rio.
Foto: Gene Pittman / Cortesia Zach Feuer Gallery, New York, e galeria Giò Marconi, Milão
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The Parade (2011), vista da instalação de Nathalie Djurberg, com música de Hans Berg, no Walker Art Center, em Minneapolis
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Ao criar filmes caseiros com aparência propositalmente amadora, esses Méliès contemporâneos dialogam com a história do cinema e das técnicas ilusionistas e com o universo da fabulação infantil
à esquerda: Boundless Pathways of Relinquishment (2012), pintura e colagem sobre tela, obra de tom thayer; acima: frames da videoanimação Tunnel jerk (2010), também do artista norte-americano
A chuva, no vídeo, foi recriada com fotos de papel de bala prateado amassado e reaberto em centenas de variações registradas pacientemente pelo fotógrafo alemão. O trabalho de Demand consiste, todo, na confecção perfeccionista de pequenos cenários que reproduzem com exatidão espaços arquitetônicos internos desabitados. Quando participou da 26ª Bienal de São Paulo, Thomas Demand expôs a videoanimação Tricks (2004) juntamente com suas fotografias, mas o stop motion é uma variante menos frequente em sua produção. Já a artista sueca Nathalie Djurberg e o norte-americano Tom Thayer escolheram o stop motion para construir suas narrativas. A técnica é realizada a partir de sequências de tomadas fotográficas em que o efeito animado é obtido pelo registro de pequenos
movimentos que resultam no quadro a quadro cinematográfico. Exatamente como foi montada Viagem à Lua (1906), de Georges Méliès. Ao animar seus personagens de massinha (Djurberg) e papel (Thayer) e criar filmes caseiros com aparência propositalmente amadora, esses Méliès contemporâneos dialogam a um só tempo com a história do cinema e das técnicas ilusionistas e com o universo da fabulação infantil dos livros e desenhos animados. Mas as narrativas tendem a enveredar por roteiros e desfechos inapropriados para menores, sobretudo na obra de Djurberg. Uma garota se melindra com o comportamento de um tigre, mas acaba levando-o para a cama (Tiger Licking Girl’s Butt, 2004). Crianças tentam atravessar um obstáculo, mas acabam devoradas por crocodilos (Moving on to Greener Pastures, 2008). Uma mulher mata uma morsa, abre sua barriga e mergulha dentro dela (Putting Down the Prey, 2008). O pé de uma mulher fica preso em uma armadilha para animais e uma raposa abocanha sua perna para liberá-la (A World of Glass, 2011). Feitas de plasticina colorida, as figuras de Nathalie Djurberg são remodeladas em uma nova pose para cada tomada e, terminada a obra, costumam ser destruídas. As animações
Fotos: Cortesia do artista e Derek Eller Gallery, Nova York
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“Gosto de estar em contato direto com o meio e ter a possibilidade de são cheias de solavancos, os cenários são instáveis e os fios de apoio costumam ficar visíveis. Imperfeições na massinha de que são feitas as figuras e erros linguísticos nos textos – que acompanham, por vezes, a narrativa – são deixados sem correção. Esses elementos toscos conferem aos filmes da sueca uma vulnerabilidade que os humaniza. Djurberg cita as animações húngaras como forte influência. “Um dos meus favoritos é My Green Crocodile, de Yuri Norstein. Eu não gosto da maneira high tech de fazer animação, sobretudo porque ela demanda uma espécie de paciência que eu não possuo. Gosto de estar em contato direto com o meio e ter a possibilidade de mudar facilmente a direção da animação, se eu sentir que outro caminho é mais interessante”, conta em entrevista à seLecT.
Os filmes de Tom Thayer tendem mais à abstração, com seus característicos bonecos toscos de papelão e saturação de cores. Além dos vídeos animados, o artista costuma expor assemblages e pinturas, e seus displays favoritos são tecnologias obsoletas, como os monitores de tevê e toca-discos que utilizou na Bienal do Whitney Museum, em 2012. Nos últimos dez anos, Thayer criou um léxico que funde ingenuidade infantil com divagações psicodélico-visionárias. Ele está interessado na maneira como gestos humanos aparecem quando são processados em materiais humildes, como papelão. “Quando um material obviamente inanimado, como papelão ou pedaços de papel, é transformado pelo advento de uma qualidade gestual, há algo de mágico que acontece com a comunicação. É como isolar ou extrair algumas das nossas qualidades mais tocantes e examiná-las por um momento. É como ser capaz de olhar para um espelho e ver alguma essência da vida sobre a qual você não pensa todo dia”, conta o artista no audio guide da Bienal do Whitney. Thayer declara-se interessado na transformação de materiais. “Muitas dessas coisas tiveram uma história funcional. Elas tiveram uma vida anterior ligada a uma função”, afirma, sobre os objetos que compõem a instalação
Fotos: Cortesia Zach Feuer Gallery, Nova York, e galeria Giò Marconi, Milão
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a partir da esquerda, no alto, em sentido horário: frames dos vídeos I am a wild animal (2011), Tiger Licking Girl’s 93 Butt (2004), Didn’t you know I’m made of butter (2011), Monster (2011) e Johnny (2008), de Nathalie Djurberg, com trilha música de Hans Berg
mudar facilmente a direção da animação” The Psychogeography of a Nearby Highpoint (2012). “Uma pintura muitas vezes é algo que foi filmado como parte do cenário de uma animação e muitas vezes possui elementos pendurados de frente que foram, talvez em outro momento, um boneco ou uma escultura que eram vistos no espaço. As colagens são geradas a partir dos vídeos animados pelo processo de stop motion com cortes de papel”, explica ainda o artista. Se, para Tom Thayer, os desdobramentos espaciais da obra são uma consequência natural do trabalho com animação, para Nathalie Djurberg, apenas recentemente os objetos ganharam autonomia. O processo começou na exposição individual Turn Into Me (2008), na Fundação Prada, em Milão, quando criou esculturas e instalações para abrigar seus vídeos.
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Nathalie Djurberg
Até o dia 26 de agosto, Nathalie Djurberg estará expondo, no anexo do New Museum (Studio 231), a instalação Parade (2011), criada originalmente para o Walker Art Center, em Minneapolis. A obra consiste em cinco animações projetadas em um espaço que está tomado por 80 esculturas de pássaros coloridos. Curiosamente, o pássaro é uma figura onipresente também na produção de Thayer. Esse fascínio poderia ser explicado pelo fato de o animal ser um dos poucos seres que desconhecem a imobilidade. O pássaro seria, nesse caso, uma metáfora para artistas visuais que estão sempre insuflando vida e movimento em suas criações inanimadas. E a pulsão parece mais frequente do que se imagina. No ano passado, o Barbican Center, em Londres, realizou uma exposição chamada Whatch Me Move: The Animation Show, que contava a história da animação com filmes que iam de Hanna-Barbera a Pixar, dos irmãos Lumière a Steven Spielberg, de Jan Svankmajer a Tim Burton, de Fernand Leger a William Kentridge. E trazia dezenas de artistas plásticos que fazem ou já fizeram animação, como Francis Alys, Christian Boltanski, a própria Djurberg, Harun Farocki, Terry Gilliam, Julian Opie e Kara Walker, entre outros.
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Quando a história se encarrega de deixar obsoleta a expressão “terceiro mundo” e os países da América Latina mostram seu potencial de crescimento econômico e de desenvolvimento autossustentável, começa-se a observar uma nova onda migratória. Contribui para esse movimento a conjuntura de crise nos EUA e nos países europeus. Paralelamente, as produções artísticas do Brasil, Colômbia, México e Argentina ganham força no mercado internacional. Mas essas mesmas sociedades latino-americanas, hoje exemplares em suas estratégias de superação de crises, cresceram à sombra de regimes militares e exploratórios – e ainda mostram as marcas da violência sofrida por essas intervenções. São Paulo e México DF são as duas metrópoles mais populosas da América Latina, figurando entre as maiores do mundo. Hoje são 10,8 milhões de almas no município e 19 milhões na região metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do IBGE. O município da Cidade do México tem 8,8 milhões de habitantes, segundo dados da ONU. Nos últimos 50 anos, as duas metrópoles viram a violência crescer em proporção à intensificação de seus fluxos migratórios e ser metabolizada por disparidades sociais e exclusão socioeconômica. Enquanto os núcleos de estudo sobre a violência promovem pesquisas para detectar as causas desse crescimento, a videografia latinoamericana também acusa a percepção desses processos. Artistas do Brasil e do
Em pulpo (2011), Yoshua Okón encena uma batalha da guerra civil da guatemala no espaço vigiado de um estacionamento de outlet em los angeles Fotos: cortesia dos artistas, da, baró galeria e da bendana pinel art contemporain
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Leitmotif (2011), video de Cinthia Marcelle, articula uma orquestração de águas, em ritmo e volume crescentes até dominar completamente o quadro
America Latina: sem contencao Afetividade, violência, domesticidade e criminalidade estruturam videoinstalaçõesade artistas latinoamericanos apresentadas na LOOP Fair Barcelona Pa u l a A l z u g a r ay
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México apresentam trabalhos bastante contundentes e reflexivos que tendem, de maneira astuta e inteligente, a articular situações de afetividade e marginalidade. Esse é o elo comum entre as obras de Yoshua Okón (México), Gisela Motta e Leandro Lima (Brasil), João Castilho (Brasil) e Cinthia Marcelle (Brasil), apresentadas na curadoria Uncontained, na feira LOOP de Barcelona. Tratar a violência como um fenômeno global e interconectado é a questão levantada pelo corpo da obra do mexicano Yoshua Okón. Em Pulpo (2011), ele aborda a violência como ferramenta de poder do sistema neoliberal mundial. Nessa videoinstalação, ele promove a encenação de batalhas da guerra civil na Guatemala, no ambiente vigiado do estacionamento de um outlet na periferia de Los Angeles (EUA). Seus atores são os autênticos guerrilheiros que, nos anos 1990, combateram o golpe de Estado orquestrado pela CIA. Hoje, eles são imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Com esse trabalho, o artista chama a atenção para as estratégias selvagens de monopólio econômico que levaram empresas multinacionais a enriquecerem à custa da canibalização das economias de países latino-americanos. Mas não apenas isso. A coreografia social encenada por Okón atenta para os processos de domesticação a que essas populações foram submetidas. Afinal, ex-combatentes hoje procuram trabalho informal nas bordas do sistema que lutaram para derrubar. O tensionamento entre domesticidade/violência e afeto/agressividade é o mote de Calar (2011), obra da dupla brasileira Gisela Motta e Leandro Lima. O trabalho simula uma conversa entre dois corpos e foi realizado com uma câmera
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termográfica, utilizada em diversos ramos da indústria para detectar calor gerado em zonas de tensão e defeitos em sistemas. Os corpos se enfrentam e se tocam, produzindo frio e calor um sobre o outro. As marcas dessa relação que oscila entre afeto e violência são visualizadas na pele dos dois protagonistas, graças às imagens geradas pela termografia. Há aqui um dimensionamento quase científico sobre a intensidade com que um corpo invade o outro. A obra elabora de maneira surpreendente as questões recorrentes no trabalho do casal – afetividade, compartilhamento, erotismo, sexualidade, gênero, casamento, atração, repulsão, controle, resistência –, já exercitadas em Você Para (2008), em que eles performam um número de atiradores de facas, desafiando um ao outro, em revezamento. Com sua estética tecnocientífica, Calar dá continuidade a uma série de obras que tem sistemas de vigilância como ponto de partida e estratégia. O fenômeno da violência como episódio de alto poder midiático é apropriado, distorcido e manipulado pelo artista João Castilho em Morte Súbita (2012). São retratados aqui os últimos segundos de vida de sequestradores, enquadrados por câmeras televisivas e por armas de atiradores de elite. São nove casos dispersos – ocorridos em diferentes lugares do Brasil e do mundo – que nas nove telas da videoinstalação ganham um laço comum, ao terem sincronizado o momento do tiro fatal. Seu réquiem se faz em cores, que explodem a partir dos tiros, liberando tonalidades que, segundo o artista, são retiradas da própria imagem, vazando por todo o quadro, eliminando a figura e o realismo da imagem. A cor que vaza da imagem de Castilho é como a cidade que não se contém em seus limites. É como a Cidade do México de Yoshua Okón, que aumentou quatro vezes seu tamanho, passando de 5 milhões a 20 milhões de habitantes nos 42 anos de vida do artista. Territórios inflados e situações incontidas são temas recorrentes de nossa civilização.
Fala Yoshua Okón
Fotos: Cortesia dos artistas, da galeria vermelho e da zipper galeria
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Vídeos articulam conceitos de invasão e evasão, atração e resistência À esquerda, Morte súbita (2012), de joão castilho, aborda a sincronicidade entre a ação de câmeras e armas; a videoinstalação calar (2011), de Gisela Motta e Leandro Lima, acima, simula o diálogo entre dois corpos, registrados por uma câmera térmica
Janela para o futuro do planeta Tanto as pesquisas quanto as percepções pessoais de cidadãos de grandes centros urbanos da América Latina reconhecem uma explosão do crime e da delinquência nos anos 1980 e 1990. Como esse fator influenciou seu trabalho no México? Bom, acredito que a sensação de viver em uma civilização em crise é parte fundamental de minha prática artística. E ter crescido na Cidade do México, definitivamente, é um fator determinante para esse sentimento. Durante esse período, a zona metropolitana da minha cidade tornou-se quatro vezes maior, passando de 5 milhões para 20 milhões de habitantes, um fenômeno sem precedentes na história da humanidade e com consequências enormes para o tecido social e o balanço ecológico da região. O crescimento do crime e da violência a que você se refere é resultado direto desse fenômeno. Nesse sentido, como em outras megalópoles, a cidade se converte em uma espécie de janela para o futuro do planeta: um mundo com um aumento populacional brutal, com a distribuição da
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O vídeo Leitmotif (2011), de Cinthia Marcelle, sugere o início de uma inundação. Em ritmo e volume crescentes, águas e espumas tomam o quadro por completo, em ondas e jorros cada vez mais agressivos. Mas percebemos que se trata de uma agitação controlada pela ação humana, que aos poucos aparece nas bordas do quadro. No esforço repetitivo empregado por pessoas empunhando rodos para controlar a evasão das águas, articula-se uma violência coreografada. Cinthia Marcelle reconhece algo de sisifismo na repetição desses gestos, assim como ocorre em trabalhos anteriores. Na obra da artista, gestos ordinários são deslocados de seus contextos, para produzir, em sua inutilidade, uma nova forma de ocupação de tempo. Os resíduos dessas repetições dão forma às suas paisagens e instalações ambientais. Esse é o leitmotif de seu trabalho, aqui acionado nessa orquestração das águas. Leitmotif é, afinal, uma tentativa de recriar a natureza com as mãos. Em jogos entre evasões e invasões, violência e controle, atração e resistência, os projetos artísticos de Okón, Marcelle, Castilho e Motta/Lima funcionam como reconstrução afetiva e social de contextos em crise.
riqueza cada vez pior e maior degradação do meio ambiente; evidências inegáveis de um sistema insustentável e destinado à autodestruição. Essa situação está se tornando tão contundente que é praticamente impossível ignorá-la, tanto para o artista quanto para o cidadão comum. O México não viveu, como o Brasil, uma violência política e militar declarada. Mas em que medida o autoritarismo, a corrupção e outras formas de violência praticadas pelo Estado influenciaram o seu trabalho? Não me interessa ver a violência como um fenômeno local e isolado, já que vivemos em um mundo global e interconectado. As ditaduras latino-americanas são um excelente exemplo dessa interconectividade e de que é ultrapassado analisar esses fenômenos de maneira nacional ou regional. De qualquer forma, incluindo o México, que, à sua maneira, também viveu uma ditadura, estas foram planejadas e dirigidas desde fora (pelos EUA) e de alguma maneira preparam o terreno para o atual sistema global: o neoliberalismo. Ou seja, acho que vivemos uma época na qual a violência já não provém dos Estados, que são cada vez mais fracos e estão se convertendo em ferramentas. O poder está acumulado em outro lugar. Octopus, em grande medida, fala sobre isso. Então, foram a violência e a corrupção exercidas pelo sistema neoliberal que me influenciaram. Para mim, é de extrema importância não abordar a violência (seja do Estado, seja do crime organizado, se é que existe alguma diferença entre os dois) de maneira descontextualizada, já que se corre um grande perigo de convertê-la em sensacionalismo ou, pior, em exotismo, e dessa maneira isolá-la e desligá-la de suas origens.
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Hennessy Youngman junta hip-hop com filosofia francesa, vira sucesso no YouTube e conquista espaço no circuito artístico de Nova York. Ele faz parte de uma geração de críticos que está quebrando fronteiras entre as galerias e o videojornalismo online
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Foto: andrew blaize bovasso
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abertura da exposição it’s a small small world com curadoria de hennesssy youngman na galeria family business, de Maurizio cattelan e Massimiliano gioni
O vídeo How To Be a Successful Black Artist (Como se Tornar Um Artista Negro de Sucesso), de Hennessy Youngman, aconselha, com ironia, jovens artistas afrodescendentes a usarem de todos os estereótipos possíveis para adentrar o “mundo branco da arte”. Hennessy Youngman é um personagem do artista nova-iorquino Jaysson Musson. Nascido no Bronx e criado em uma comunidade de imigrantes jamaicanos, é fotógrafo e recentemente concluiu um mestrado em pintura pela Universidade da Pensilvânia. Foi durante esse período que ele criou a persona mais inusitada do circuito da crítica de arte no mundo virtual: um rapper que usa gírias da cultura hip-hop para explicar aos leigos os cânones e as teorias mais herméticas da arte contemporânea. A alcunha Hennessy Youngman tem origem em termos distintos. O nome Hennessy advém da marca de conhaque francês Hennessy – bebida popular entre os fãs de rap em Nova York – e Youngman é
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uma homenagem a Henry Youngman, comediante famoso nos anos 1950 por criar piadinhas rápidas. A ideia de juntar mundos distintos, o do hip-hop e o da arte contemporânea, foi uma consequência natural para o artista. “Sou fruto da música rap. Isso moldou a minha educação, eu produzo rap e tenho uma relação com profissionais desse estilo musical. Quando concebi pela primeira vez o Hennessy, eu sabia que ele deveria ser um comediante estilo stand-up afrodescendente. Elaborado a partir de uma miríade de negros comediantes que vieram antes, Paul Mooney, Richard Pryor, Chris Rock, Dick Gregory, esse tipo de personagem chamaria atenção por ter preocupações com a esfera da arte”, explica. Foi em 2010 que Musson criou seu canal de vídeos no YouTube, denominado Art Thoughtz (Pensamentoz da Arte, em tradução livre). Conceitos como estética relacional (de Nicolas Borriaud), pós-estruturalismo (marca da filosofia francesa dos anos 1980) e artistas como Josef Beuys, Bruce Nauman e Damien Hirst são alguns dos temas tratados pelo rapper-crítico de arte
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