ISTOÉ Gente (01/08/11)

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exemplar de assinante

aMY WiNeHouSe, 27 aNoS

1/aGo/2011 ano 12 n째 620

r$ 9,90

Diva louca Diva breve 1983-2011


victor r. caivano /ap

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DIVA LOUCA


DIVA...


jeff pachoud /afp

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...DIVA IMENSA Aos 27 anos, Amy Winehouse é encontrada morta em sua casa, em Londres. Como a síndrome da tragédia anunciada, o álcool e as drogas levaram precocemente a mais genial das cantoras do século 21 Silviane Neno e Bruna Narcizo

Era uma tardE dE vErão como tantas outras no bairro londrino de Camden town. as ruas e mercados tomados por aquela gente jovem reunida. meninos e meninas em trajes coloridos, peles tatuadas, cabelos em esculturas, lenços, turbantes, piercings. um vai e vem de turistas, vendedores, cidadãos nada pacatos e pubs embalados pelo som da máquina cuspindo cerveja. É sempre assim naquele endereço boêmio e alternativo, no centro de Londres. No número 30 da Camden Square uma moça dormia. Pouco antes das 16 horas a polícia recebe um chamado pelo serviço municipal de emergência. “uma mulher de 27 anos estaria desacordada”, é a informação passada. Em poucas horas a notícia explodiu no mundo. amy Winehouse estava morta. Como marilyn monroe, ela morreu dormindo. Seu corpo franzino, sem curvas, translúcido e tatuado foi encontrado inerte pelo segurança particular. morreu sozinha, como costumam se sentir todos os que não suportam levar a vida que levam. “Louca, loucona!”, era o que se ouvia no show no Brasil em janeiro deste ano. “olha lá, ela vai beber agora...”, torciam os urubus de plantão. “Coitada, não vai durar muito...”, mandou um rapaz ao meu lado, no espaço “vip” do curto show no anhembi, em São Paulo. No palco, seu esforço parecia pouco caso, a voz saía num sopro. Letras erradas, tropeços, mas a menina tinha sim jeito de diva. No quarto da casa de três andares nenhuma carta foi encontrada, nem gravação. Em poucos minutos os olhos de Camden town e os holofotes do mundo se voltaram para aquele portão e a pequena multidão que se formara ali assistiu impávida seu último espetáculo. Pronto, era verdade. a menina branca de voz negra, de beleza estranha e letras sinceras saía de casa embrulhada num saco de tecido roxo. desta vez ela não teria forças para xingar nenhum fotógrafo. Nem diria “não, não não”. amy viveu menos que marilyn. o mesmo


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ben stansall/afp

grosby group

carl court/afp

ao lado, o momento em que o corpo da cantora é retirado de casa. abaixo, o santuário criado pelos fãs: flores, velas, bebidas e cigarros

“Ela parecia fora de controle. Sua morte foi tão prematura que ainda não consegui digeri-la”, Janis Winehouse, mãe da cantora

tanto que Janis Joplin, Jimi Hendrix, um pouquinho mais que Noel rosa, seus companheiros em talento e excessos. viveu intensamente até o seu limite e do jeito que quis. do esse a quem doesse, ela criou suas próprias regras. E mesmo quando o pai pediu que parassem de comprar seus discos numa tentativa de impedir que o dinheiro continuasse a alimentar seu vício, ela fez com que suas letras (e seu comportamento) respondessem por ela. Estava tudo ali: a autodestruição consciente, o desafio às instituições burguesas, a dor da garota que chora de amor no chão da cozinha. E era tudo tão forte, tão sincero, que não havia quem não seguisse o coro: “No, no, no...” “a personalidade vai ficar em quinto plano. o que vai ficar da amy Winehouse é que ela foi a maior cantora dos últimos 20 anos, a maior do século 21 até agora”, disse o escritor e produtor musical Nelson mota. amy morreu antes de concluir o terceiro álbum. Saiu de cena como faz o herói que se exaure em sua missão. afinal, gênios nas artes, de tempos em tempos, costumam incorporar o mito. aquiles, aos 20 anos, foi indagado pela mãe: “Se for à Guerra de troia você morrerá muito novo, porém será eternizado por sua bravura heróica. mas se não for será um excelente rei e viverá longamente. o que preferes?” aquiles, preferiu morrer jovem e brilhar na eternidade.


gotcha images/splash news

Mitch Winehouse, pai da cantora, inconsolável. “Estamos arrasados e sem palavras, mas agradeço a todos que estão aqui”, disse na segunda 25


carl court/afp

Minutos depois de anunciada a morte da cantora, a casa em Camden Square foi isolada pela polícia

amy talvez tenha sido uma heroína de si mesma. E, por isso mesmo, escolheu a hora de se retirar – em um gesto que a faz eterna, a transforma em mito mas carrega também uma outra mensagem: por mais que seja uma escolha pessoal é estupidez viver colado a drogas e bebidas, porque elas matam, sim. Nesse aspecto, o fim de amy Winehouse não tem nada, absolutamente nada, de elegíaco.

Homenagens

assim que os principais noticiários ao redor do mundo confirmaram a morte de amy Winehouse, a multidão de fãs, incrédulos, só aumentava em frente à casa da cantora, em Camden Square. Eles vinham de todas as partes do mundo e fizeram vigília e homenagens bem ao estilo amy. Flores, velas, cartazes, bilhetes, garrafas de bebidas e maços de cigarro e isqueiros compunham uma espécie de santuário roqueiro. Na segunda-feira 25, mitch e Janis Winehouse, pais de amy e o irmão alex

grosby group

a última aparição, durante um show de sua afilhada, dionne bromfield, na quarta-feira 20, em londres

ficaram ao lado dos fãs na porta da casa por alguns instantes e se emocionaram com as homenagens para a cantora. “Não consigo dizer o que tudo isso significa para nós. realmente está nos ajudando. Estamos arrasados e sem palavras, mas agradeço a todos que estão aqui”, disse o pai de amy. Janis esteve com a filha um dia antes da sua morte. “Ela parecia fora de controle. Sua morte foi tão prematura que ainda não consegui digeri-la”, ela disse ao jornal britânico Sunday Mirror no último domingo. o atual namorado da cantora, reg traviss, declarou ao jornal The Sun o que está sentindo. “Perdi meu querido amor, amy. Não consigo descrever o que eu estou passando”, disse. Ele foi um dos primeiros que chegou à casa de amy na tarde do sábado 23. No mesmo dia, a Polícia metropolitana Britânica declarou que a autópsia feita não definiu o motivo da morte da cantora. o exame toxicológico, mais conclusivo, deve ficar pronto em até quatro semanas. a doutora Sharon duff, médica legista que examinou amy, abriu e adiou o inquérito que apurará a morte inexplicada. dessa forma, ela deixou os pais da cantora livres para planejar o funeral previsto para ser realizado na terça-feira 26. o inquérito deve ser retomado no dia 26 de outubro.


rex features

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Em sua última apresentação, na Sérvia, em 18 de junho, a cantora foi vaiada e saiu do palco com apenas 30 minutos de apresentação

“Não tenho medo de parecer vulnerável. Escrevo músicas sobre coisas que não consigo realmente superar – e, então, escrevo uma música e me sinto melhor” Amy Winehouse


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‘‘Apenas dizemos adeus com palavras/ Eu morri umas 100 vezes/ Você volta para ela/ Eu volto para o luto’’ Trecho de “Back to Black”

Cantora expôs as agudas dores de amor nas letras das canções de seu segundo álbum, instantaneamente classificado de antológico


A vida breve e a voz imortal Somente por Back to Black, Amy WinehouSe já merece um lugar entre as divas da música, que não chegou a lançar o terceiro disco e cuja última gravação sai em setembro no álbum de Tony Bennett

andy paradise /getty images

Mauro Ferreira


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‘‘Eu gostaria de nunca ter jogado/ Oh, que estrago a gente fez/ Agora, no lance final/ O amor é um jogo de azar’’ Trecho de “Love is a Losing Game”

AMy WInEhOuSE se deixou levar por sua louca vida e morreu na idade de aura trágica no mundo pop por ter representado também o ponto final da caminhada de gênios de outras eras musicais, logo transformados em mitos. A “vida louca vida” de Amy se tornou breve e a levou, para parafrasear versos de sucesso de Cazuza (1958 – 1990), ídolo pop nativo que também pecou pelos excessos. Mas vai ficar a obra, também breve, mas tão original e verdadeira que permanecerá como uma das referências máximas da produção musical dos anos 2000. Lançado no final de 2006, o segundo e agora último álbum de Amy, Back to Black, fez jus ao adjetivo instantâneo de antológico. Foi como se uma cantora da era de ouro do jazz tivesse mergulhado fundo no balanço da gravadora Motown, berço do soul, e emergisse com um disco de grande intensidade emocional. Combustível que acelerou a criatividade da compositora, as fraturas emocionais de Amy foram expostas em disco que expiou as agudas dores de amor sofridas por essa artista. Formatado por Mark Ronson, produtor que arregimentou banda (Dap-Kings) que cultuava o soul dos anos 60 na mesma intensidade de Amy, Back to Black definiu a identidade musical da artista. Tarefa na qual falhara o antecessor Frank (2003), disco que apresentou coquetel de jazz, pop, rap e soul de sabor bom, mas indefinido. De início, Frank repercutiu (bem) somente dentro das fronteiras do Reino unido, mas ganhou projeção mundial no rastro da explosão planetária de Back to Black. 34

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Previsível, mas nem por isso menos doída, a morte de Amy priva o mundo de testemunhar a evolução de uma cantora de voz tão forte quanto o sentimento que punha em suas gravações. Sua saída de cena entristece porque as loucuras cotidianas de sua vida breve (ainda) não haviam afetado seu desempenho em estúdio como vinham prejudicando o do palco. A versão de Amy para “It’s my Party” – regravação da música lançada pela cantora norte-americana Lesley Gore em 1963 – foi o ponto alto do último álbum do produtor Quincy Jones, Q: Soul Bossa Nostra (2010). Em março, Amy gravou o que acabou sendo seu último registro de estúdio, pondo voz no standard “Body and Soul” para o CD Duets II, a ser lançado em setembro pelo cantor Tony Bennett. Obra-prima imersa em soul e R&B contemporâneo, Back to Black por si só tem cacife para imortalizar a voz de Amy. Mas é claro que agora vão aparecer discos ao vivo e CD com as gravações feitas em janeiro pela artista numa ilha do Caribe. Seriam faixas para seu nunca terminado terceiro álbum, recusadas pela gravadora pelo teor supostamente sombrio. Especula-se que Amy teria gravado com o produtor Cee Lo Green e que estaria começando a invadir a praia do reggae. Evoluções naturais que a artista não teve tempo de aprimorar. Com tantos vícios e excessos, a vida até pareceu uma festa para a cantora, mas é pena que ela tenha saído tão cedo dela, por ter pisado tão fundo no acelerador. Cristalizada nessa imagem junkie, sem tempo para desenvolver ou mesmo banalizar sua obra, Amy Winehouse é o novo nome da galeria de mitos do universo pop.


dave hogan /getty images

Amy teria gravado o terceiro álbum usando referências mais fortes do reggae e o repertório teria sido recusado pela gravadora por ser muito sombrio

‘‘Ele vai embora/o sol se põe/ ele leva o dia/ mas eu já sou crescidinha/ e do seu jeito, numa sombra triste/ as lágrimas secam por elas mesmas’’ Trecho de “Tears Dry On Their Own”


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Aos 6 anos, vestida de Minnie em uma festa judaica

Garota prodígio

Aos 2 anos, Amy era um bebê de bochechas grandes

Aos 10 anos, a menina inglesa de bochechas grandes e pernas grossas já dava demonstrações do seu gigantesco talento e, aos 16, assinou seu primeiro contrato como cantora Amy Winehouse nAsceu em uma família judia, no subúrbio de southgate, no norte de Londres. Desde muito pequena, ela aprendeu a ouvir e a gostar de jazz e soul, pois seu pai, o taxista mitchell Winehouse, era um grande entusiasta desse estilo de música. Também seus tios eram músicos profissionais. Assim, a menina gordinha, de bochechas grandes e pernas grossas, que gostava de se vestir de bailarina, cresceu ouvindo de James Taylor a sarah Vaughan. Aos 10 anos, montou um grupo de rap amador sweet'n sour. Aos 16, já cantava com o amigo Tyler James e pela sua voz surpreendentemente poderosa, assinava seu primeiro contrato com a island Records, dando início à sua carreira no mundo do soul e do jazz. no começo de sua trajetória, aliás, Amy chamava a atenção não só pela voz, mas pela aparência saudável. em 2002, tinha curvas bem torneadas, seios fartos e pele alva, que usava quase sem maquiagem. Também apostava em looks bem mais discretos. com a fama, veio a mudança de visual. 36

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Aos 8 anos, com o uniforme da escola 14 de setembro de 1983 – Amy Winehouse nasce em Londres, filha da farmacêutica Janie e do taxista Mitchel Winehouse. 1993 a 1999 - Aos 10 anos, monta um grupo de rap amador Sweet 'n Sour. Aos 12, ingressa em uma escola de teatro, mas é expulsa por mau comportamento. Aos 16, assina seu primeiro contrato, dando início à carreira musical.

Fotos rex Features

Simone Blanes


MikE MArSLANd/gEtty iMAgES

tiM Whitby/gEtty iMAgES

Em 2004, no Brit Awards, Amy ainda exibia uma aparência saudável

‘‘Desde que tinha 16 anos, sinto uma nuvem negra sobre mim. Desde então, tomo remédio para depressão” Amy Winehouse

Em 2004, no prêmio britânico Mercury Prize, ela tinha curvas bem torneadas

Graham jepson/Getty imaGes

No começo de carreira, Amy tinha pele alva e quase não usava maquiagem


AP

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Na sua última apresentação, em 18 de junho, na Sérvia, a cantora deixou o palco escoltada por um dos músicos da banda. Abaixo, loira, em janeiro de 2008, Amy deixa o julgamento do seu marido na época, Blake Fielder-Civil

Garotaproblema Na mesma proporção em que conheceu o sucesso, Amy sucumbiu ao uso de drogas e álcool e teve sua vida privada exposta em escala mundial. A trajetória profissional da cantora ficou marcada por sua degradação física e psicológica

SANg tAN/AP

Simone Blanes

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‘‘Eu te falei que eu era problema / Você sabe que não sou boa’’

Ao lado, em uma de suas muitas brigas com os fotógrafos ao sair do Jazz After dark bar, em Londres, em setembro de 2009

Trecho de “You Know I’m no Good” Outubro de 2003 – Lança seu primeiro álbum, Frank. começam os problemas com álcool e drogas. Outubro de 2006 – conquista cinco prêmios Grammy com seu segundo álbum, Back to Black, mas não vai recebê-los pois as autoridades americanas declaram que ela não seria bem-vinda aos euA. Maio de 2007 – casa-se com o assistente de produção Blake Fielder-civil. Agosto de 2007 – É considerada a revelação musical do ano. Lidera a lista mundial de vendas, com mais de seis milhões de cópias. internada para lavagem estomacal, volta a ser hospitalizada supostamente por overdose de drogas. cancela shows pela europa. Janeiro de 2008 – Dá entrada em uma clínica de reabilitação, após ser encontrada desmaiada em casa. Pede desculpas depois do vazamento de um vídeo no qual faz comentários racistas, vai presa por brigar em uma festa e é investigada porque tem imagens suas fumando crack em um tabloide.

groSby grouP

Junho de 2008 – É internada com início de enfisema pulmonar e problemas cardíacos por abuso de heroína, crack e cigarros.

De topless, durante uma temporada com amigos na praia de St. Lucia, no Caribe, em dezembro de 2008

Janeiro de 2009 – Passa uma temporada no caribe, onde anuncia estar “limpa”. Março de 2009 – Tem músicas preparadas para seu terceiro álbum rejeitadas pela gravadora. Junho de 2009 – o pai da cantora, mitchell, revela que ela está em tratamento e se recuperando, apesar de ainda beber muito. Julho de 2009 – obtém o divórcio. coloca implante de silicone nos seios e é levada ao hospital três vezes alegando dores relacionadas à cirurgia. É internada após sofrer uma suposta reação alérgica a medicamentos. Abril de 2010 – Dá entrada em uma clínica particular londrina, após uma queda em casa. É processada por agredir um homem. Janeiro de 2011 – Faz show no Brasil. Maio de 2011 – Volta a ser internada. Recebe um ultimato dos médicos: morreria caso não parasse de beber.

FLyNEt/brAiNPix

Junho de 2011 – É vaiada por se apresentar embriagada em Belgrado, na sérvia, e não conseguir cantar uma música inteira no dia 18. cancela turnê europeia. Julho de 2011 – Faz sua última aparição pública na quartafeira 20, em Londres, durante show de Dionne Bromfield, sua afilhada musical. 39


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Amor

de perdição

A convite de Gente, a escritora Mayra Dias Gomes comenta a morte de AMy Winehouse e sua relação destrutiva com o ex-marido Blake Fielder-Civil, que a inspirou a escrever algumas de suas mais belas canções e que injetou heroína em seu braço pela primeira vez Morreu a Maior cantora desta década. aquele álbum pelo qual aguardávamos como se aguardássemos por axl rose e seu Chinese Democracy nunca será lançado. Ficamos, todavia, com algumas das canções mais tocantes e honestas que ouvimos nos últimos anos. canções que surgiram de feridas abertas, profundas demais para serem curadas com uma indesejada internação. canções que exibiam a dor e o desespero que assolavam amy Winehouse desde quando se envolveu com o amor de sua vida, o inglês problemático Blake Fielder-civil, e foi apresentada por ele às drogas pesadas que a mataram. Foi Blake quem injetou heroína no braço de amy pela primeira vez. o casal tornou-se ícone de relacionamento destrutivo, sendo comparado constantemente a Sid Vicious e nancy Spungen. também foi Blake quem inspirou o aclamado álbum Back to Black, de 2007. amy havia lançado Frank em 2003 e tido algum sucesso, mas foi a melancolia e a sinceridade do seu segundo álbum que a trouxeram fama mundial. as canções relatavam seu relacionamento volátil com o namorado, de quem a cantora estava separada na época. Depois do lançamento, porém, os dois reataram e se casaram. tiveram uma convivência marcada por brigas sangrentas, mutilação e drogas. o divórcio veio em 2009, por insistência dos pais dos dois. Blake passou um ano na cadeia em 2007 por agressão e suborno e, agora, está preso novamente por porte de armas, cumprindo sentença de 32 meses. enquanto chora a morte da amada, os fãs de amy o culpam por seu trágico fim. “Minhas lágrimas nunca vão secar”, ele teria dito após o corpo da cantora ser encontrado. 40

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‘‘Estou inconsolável. Minhas lágrimas não vão secar. Quem me conheceu e conhecia Amy sabe da profundidade do nosso amor. Não consigo acreditar que ela está morta’’ Blake Fielder-Civil, ex-marido da cantora

Ao lado, as fotos do álbum de casamento encontrado numa caçamba de entulho pelo pedreiro Dermot O´Regan em 2009. O álbum foi jogado fora por ela


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Fotos Grosby Group

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Acima, o casal aproveita a lua de mel em Miami: um dos poucos momentos sem brigas. Ao lado, foto do casamento

eu choro por amy Winehouse como se chorasse por mim. Há alguns anos eu estava tão atormentada por uma paixão destrutiva, usando drogas diariamente para escapar da realidade, incapaz de lidar com frustrações e esperas e com uma autoestima baixa demais. consegui superar meus traumas e, como seu pai e sua mãe e outros que a rodeavam, desejei por diversas vezes poder abraçá-la e convencê-la de que o tratamento e o amor de sua família poderiam salvá-la. Quando terminei um relacionamento em camden town, em 2009, caminhei na chuva ouvindo “tears Dry on their own” e fumei um cigarro em frente à casa de amy. Suas palavras me ajudaram a seguir em frente no bairro londrino onde ela conheceu Blake. amy era tímida e insegura como muitos viciados. o visual pin-up icônico mascarava seus verdadeiros sentimentos sobre si mesma. as substâncias químicas a permitiam subir no palco enquanto se sentia um lixo. Seu talento a levou para os palcos do mundo, mas os palcos a levaram para o túmulo. amy deveria ter sido vigiada 24 horas por dia para não recair. ela tinha acabado de sair da reabilitação antes de seu último show em Belgrado, intoxicada. Que sua morte sirva de alerta. em vez de criminalizar ou glamurizar as drogas, a sociedade precisa investir na reabilitação dos doentes e na educação dos preconceituosos. amy, você era genial. Sua voz sobreviverá a nossa lamentável perda. Mayra Dias GoMes é escritora e filha do dramaturgo Dias Gomes, autora de Mil e Uma Noites de Silêncio e Fugalaça, em que relatou sua batalha com drogas, mutilação e paixões obsessivas 42

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“Amy não ia querer ser uma pessoa normal” O filósofo Renato Janine Ribeiro compara as coincidentes mortes, aos 27 anos, de ídolos do rock aos românticos do século 19 bela megale

para o FilósoFo renato Janine ribeiro, a morte dos músicos Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e, agora, amy Winehouse, todos aos 27 anos, é uma coincidência – não a “maldição dos 27”. o professor de ética e filosofia política da universidade de são paulo relaciona a imagem desses artistas à de alguns poetas do século 19.

Por que tantos ícones da música morreram aos 27? Deve ser coincidência. Mas antigamente havia uma expressão na literatura brasileira que questionava se os poetas românticos morreram jovens porque eram românticos ou se eram românticos porque morreram jovens. Casos como os de amy Winehouse, Jimi Hendrix, Janis Joplin e de outros seriam equivalentes. no século 19, houve uma associação entre juventude e romantismo.

A que podemos associar a juventude de hoje? entre os artistas citados, há uma associação a algo da ordem do conflito, de não conseguir fazer as pazes com o mundo como ele existe. todos eles representam a rebeldia e, por causa dela, talvez não consigam prolongar sua vida. seria necessário fazerem uma série de concessões que eles podem não estar dispostos.

Algo relacionado à passagem para a vida adulta? não necessariamente. está ligado em não aceitar uma série de valores dominantes na sociedade, como o do equilíbrio e o da frustração necessária. em uma das músicas principais, “rehab”, ela conta que se recusou a ir para a reabilitação. a cantora precisava, mas não quis ir. e é direito dela não querer. se ela morreu em função dessa rebeldia, há uma grandeza. e isso a aproxima dos

poetas românticos, que não eram conformistas e recusavam a vida que a maioria de nós tem.

Seria uma depressão pós-sucesso? É algo mais profundo. não podemos chamar um terapeuta e dizer para amy aceitar o sucesso. ela não ia querer ser uma pessoa normal, não veria graça nisso. Quem a escuta, curte sua rebeldia, mas fica impressionado quando vê uma moça com talento, sucesso e dinheiro morrer assim.

Artistas assim têm mais dificuldade para envelhecer? ao falarmos em “dificuldade”, pode parecer que esses artistas são menos e não é verdade. talvez tenham coragem de romper com padrões dominantes e pagar o preço.

O rock precisa da relação com a morte para manter-se transgressor? não. Foram poucos os cantores de rock que morreram de forma trágica. uma vez li um conto onde o autor faz uma máquina do tempo para ir atrás de Vincent Van Gogh. ele o vê à beira de se matar e o ajuda. a partir dali, o pintor vira uma pessoa tranquila. o autor então pega todos os quadros, traz para os dias de hoje e anuncia no jornal, mas ninguém o procura. Depois, ele descobre que Van Gogh casou, teve uma família e morreu de forma normal. talvez, o lado quase demoníaco e sofrido seja essencial para os grandes artistas. Questões ligadas à morte de amy, como não conseguir lidar com a vida, têm a ver com a visão romântica. ela se tornou uma espécie de mártir da arte. os cruéis dizem que ela era doente, louca. outros sofrem com sua morte. não é necessariamente melhor casar, ter filhos e uma vida longa e feliz.

É diferente morrer aos 27 hoje e nos anos 70? naquela época parecia fazer mais sentido. em Woodstock havia muito da morte no horizonte. os jovens de hoje não querem morrer. Hoje há a celebração do sucesso, que vai contra a morte. Quando alguém mostra suas feridas, assusta.

A maldição dos 27 anos Jimi Hendrix foi encontrado morto, em londres, em setembro de 1970. ele se afogou no próprio vômito após tomar remédios para dormir

Jim morrison foi encontrado morto em paris, em julho de 1971. o líder do the Doors teria aspirado heroína pensando que era cocaína

Janis Joplin morreu em outubro de 1970 vítima de uma overdose de heroína

Kurt Cobain o vocalista do nirvana suicidou-se em abril de 1990 com um tiro na cabeça. exames mostraram alta concentração de heroína em seu corpo


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Minha história com Amy Da depiladora que fez massagens nos seus pés ao músico que tocou com ela sentada em seu colo, o depoimento de brasileiros que por alguns instantes viveram momentos inesquecíveis com a cantora


Marcelo Cotta, motorista que a transportou no Rio

‘‘Minha música é a única coisa realmente digna na minha vida. Essa é a única área em que posso manter a cabeça erguida e dizer: ‘Ninguém pode me atingir’’’

“Fui escalado para transportar a Amy durante os dez dias da turnê brasileira e fiquei hospedado no mesmo hotel que ela, no bairro carioca de Santa Teresa. Foram poucas viagens. Ela só foi mesmo para o HSBC Arena, na zona oeste do Rio, onde se apresentou duas vezes, e para o aeroporto, por causa dos shows em Florianópolis, Recife e São Paulo. Assim que entrou no carro pela primeira vez depois de desembarcar no Brasil, eu comecei a dar boas-vindas, mas ela me cortou dizendo que estava muito apertada para fazer xixi e precisava de um banheiro. Ela acabou voltando para usar o dos funcionários do aeroporto. Não tinha nenhuma pose de diva. O carro era blindado e eu tinha ordens para jamais destravar as portas, mas ela não pedia nada... Não tomava nem a água disponível no carro. Nunca tentou comprar bebida durante os trajetos. Era pontual. Se o carro tinha que estar pronto às 18 horas, exatamente nesse horário ela já estava sentada no banco de trás. Amy estava sempre de bom humor, falava alto, de maneira descontraída, e ria de tudo. Ela também costumava retocar a maquiagem e contar piadas durante o caminho. E nunca deixava de perguntar se eu estava bem. Como reparei que ela era vaidosa, dei uma presilha de presente. Ela a colocou no cabelo e foi embora do País usando. “Espero voltar, Marcelo”, disse, quando se despediu pronunciando o meu nome com sotaque italiano.”

Amy Winehouse

Durante o show no Anhembi, em São Paulo, em 17 de janeiro deste ano

‘‘No carro, eu comecei a dar as boas-vindas mas ela me cortou, dizendo que queria fazer xixi’’

joão castellano /ag. istoé

Marcelo Cotta, motorista


Durante a estadia no hotel Santa Teresa no Rio de Janeiro. Na página ao lado, a foto que rodou o mundo

Patricia Zuffa, stylist e fã que a conheceu em Nova York “Encontrei com a Amy no saguão do hotel Soho Grand, em Nova York. Era verão de 2007 e ela estava no auge do sucesso com o disco Back to Black. Gosto da Amy desde o primeiro sucesso dela, “Valerie”. Sou fã de poucas pessoas, acho que antes dela só o David Bowie mesmo. Estava descendo para comprar um cartão de memória para a minha câmera fotográfica quando abri a porta do elevador dei de cara com ela no térreo! Era linda, supertímida e frágil ao lado do namorado, Blake Fielder-Civil. Eles ainda eram namorados e estavam superapaixonados. Fiquei superemocionada: “Amy posso tirar uma foto com você? Amo seus CD´s! Sou do Brasil”. Ela virou e me disse: “Você é do Brasil? Wow! Me lembro que ela tinha a pele linda, ainda sem cicatrizes e um olhar superexpressivo. Voltei para o quarto muito emocionada! Eu pulava em cima da cama: conheci a Amy! Nem eu mesma acreditava. Naquele mesmo dia cruzei em seguida com ela e o namorado no Soho. Eles estavam passeando e eu ouvia a música dela em todas as lojas de disco. De repente, quando entro no What Goes Around Comes Around (351W Broadway), que é um brechó superdescolado da West Broadway, lá estavam os dois. Amy e Blake estavam escolhendo camisetas. Neste momento pude ver melhor o look dela. Estava de camiseta, jeans e sapatilhas de balé Repetto. Sempre achei e Amy superelegante. Ela sabia usar o corpo que tinha superbem e apostava nesta base dos anos 60 para criar um visual superparticular.”

‘‘Amy me disse: ‘você é do Brasil? Wow!’’’

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Amy com o músico. Eles ficaram juntos esta noite

Rodrigo Lampreia, músico que ficou uma noite com Amy “Estava tocando no Jazz After Dark, em junho do ano passado, no Soho (centro de Londres) e no meio do show ela apareceu. Chegou acompanhada de dois seguranças. Entrou, caminhou em minha direção me olhando, e eu, no microfone, perguntei se ela queria cantar uma comigo. Sentou no meu colo e ficou cantando 40 minutos. Foi tudo bem informal, meio jam session. A música que filmaram foi a “Garota de Ipanema” que acabou indo parar na internet. Quando acabou o show, jantamos juntos. Ela convidou a minha banda, pagou jantar e bebidas pra todos. Conversamos muito sobre música brasileira, ela perguntou do Brasil e contou histórias dela. Acabamos ficando nessa noite. Mas foi só uma vez. Encontrei ela no Brasil e nos falamos uma vez via Skype. Conhecer ela foi um prazer. Foi uma grande alegria. Estou muito triste.”


Capa Luciana Chama, gerente de produção artística da XYZ Live Eu a acompanhei durante toda a turnê por aqui. Era tímida, na dela, mas muito simpática quando alguém lhe dirigia a palavra. Era uma menina doce, bem menina mesmo, com seus 27 anos. Adorou o Rio de Janeiro, só ficava irritada com aglomerações e a insistência dos paparazzi. Muitos perguntaram por que o show de São Paulo atrasou. A Amy estava insegura. Assim que ela soube que o evento estava lotado, ela teve medo e demorou para sair do hotel. Ela dizia que nunca tinha tocado para tanta gente. Mas foi lá e seguiu até o fim.”

fotos: ag. news

‘‘O show atrasou em São Paulo porque ela estava insegura’’ Antônia de Souza, costureira que ajustou seus vestidos antes do show no Rio

Ana Barros, depiladora que a atendeu no hotel Santa Teresa

"Meus vizinhos queriam me matar porque cobrei R$ 220 para consertar um vestido da Amy. Falaram que ela era muito famosa e que eu tinha que ter pedido o dobro, mas eu não sabia quem ela era. Moro em um quartinho dentro de uma espécie de viela. Costuro de bico e também vendo pipas a R$ 1 e trabalho como diarista em "casa de família. Ela vestia um short preto curtinho e uma blusa preta de alcinha. Estava na beira da piscina quando foram procurá-la para mim. Ela ficou com o short, tirou a blusa, ficou com sutiã e vestiu tudo por cima do short. Ela queria os vestidos bem curtinhos e bem apertadinhos. Também comprou três calças e pediu pra transformar em short. O que ela pediu foi 'pra ficar bem gostosona' e disse que tinha pressa porque ia fazer o show com aquelas roupas. Fiz duas saias para minhas netas com os retalhos das roupas dela. Ela estava mascando chiclete e só fez a brincadeira de 'ficar gostosona'. Achei ela calada, meio quieta. Tinha um aspecto triste aquela moça. A Amy me chamou uma segunda vez para outros consertos, mas eu estava na casa da minha patroa e não pude ir. Quando consegui passar no hotel, ela já tinha arranjado outra.”

“Presto serviço para o hotel que me chamou e fui lá atender, no quarto dela. Amy depilou meia perna, fez depilação brasileira na virilha, sobrancelha, a unha do pé e massagem. Ela pediu uma depilação simples na virilha e eu sugeri que fizesse um pouco mais. Ela gostou, foi generosa comigo. Ela estava muito bem, uma pessoa muito meiga, boazinha, muito bonita sem aquela maquiagem, com uma pele bonita. Não tinha mancha nenhuma, só tatuagens. Ela estava só com um roxinho na batata da perna, parece que tinha batido na beirada da cama. No quarto, ficamos só eu e ela. Não falo inglês, mas entendo alguma coisa. Entre depilação e massagem durou uma hora e meia mais ou menos. Fiz massagem nos pés dela. Ela tinha um pezinho maravilhoso, fino, não tinha calo nem nada, ela gostava muito de andar descalça. E fiz uma massagem nas costas dela. Quem me pagou foi um rapaz que ficava com ela o tempo todo. Quando atendi, ela estava vestindo bermudinha jeans e um top. Assim que cheguei no quarto ela estava arrumando os sapatos dela, no chão do quarto. Falei: lindos, lindos! Ela disse: 'Ah, gostou? Vou te dar um'. Mas depois não chegou a dar, né? Foi embora, esqueceu."

‘‘Amy pediu para ficar bem gostosona’’

‘‘Ela tinha um pezinho maravilhoso, fino, não tinha calo nem nada’’ REPORTAGEM Bianca Zaramella, Bruna Narcizo, Michelle Licory, Samia Mazzucco e Thaís Botelho 47


Capa

Último trago

Depoimentos de fãs e amigos da cantora lembram o valor de seu talento e o carinho que ela despertava

“Amy mudou a música pop para sempre. Eu me lembro de que há esperança, e de não me sentir sozinha, por causa dela.” Lady Gaga, cantora

“Ela era extraordinária, com uma intuição rara como cantora e estou realmente arrasado por saber que seu talento excepcional chegou a um fim tão cedo.”

“‘Save Amy’ (campanha da qual a artista participou para dependentes químicos), salvem todas as pessoas, sendo extraordinárias artistas ou não. É com muita tristeza que vemos, mais uma vez, uma frágil, suicidando-se aos poucos, tentando alimentar a alma perdida com drogas.” Giselle Itié, atriz

“Amy Winehouse é mais do que uma das melhores cantoras e compositoras Tony Bennett, cantor da história da música. Amy foi uma garota que se entregou sem limites a “Amy pavimentou o caminho para uma arte e uma vida intensas. Nós artistas como eu. Não acredito que ela tenha se dado conta de como era todos temos o dever de cuidarmos de todo o tipo de vida, seja um gênio brilhante. Mas isso apenas a torna mais charmosa. Sou grata por ela ter como Amy Winehouse, ou qualquer outra pessoa. A vida é sagrada. Viva me inspirado. Amy voa no paraíso.” Amy Winehouse para sempre.” Adele, cantora

“É uma perda muito triste, de uma grande amiga, com que passei muito tempo junto.” Ron Wood, dos Rolling Stones

“Amy não foi para a rehab. Está por aí. Finalmente livre, leve e solta. Doidivana diva. Vida de artista é clichê. Ou morre de overdose, ou entra para uma seita, ou vive em rehab. Os sobreviventes viram dinossauros. Assinado, Tiranossaura.” Rita Lee, cantora 48

IstoÉGente 1/8/2011 – 620

Angela Ro Ro, cantora

“Amy Winehouse foi um ícone da moda e musicalmente maravilhosa. Superestilosa, ela me serviu como exemplo para encarnar uma personagem para a Vogue francesa. Um exemplo de estilo e música!” Isabeli Fontana, top model

“Oh, Deus, não! É verdade? Deus, tenha piedade! Estou me sentindo mal no momento. Querida Amy.” Rihanna, cantora


matrix /brainpix


Capa


‘‘Se eu morresse amanhã, seria uma garota feliz’’

gary miller /getty images

Amy Winehouse



Voando

Ensaio

alto

Aos 16 anos, BrunA Linzmeyer saiu sozinha de uma pequena cidade no interior de Santa Catarina para se encontrar. Dois anos depois, ela é sucesso no horário nobre da Globo e namora o ator michel melamed, 17 anos mais velho Samia Mazzucco fotos Daniel Benassi styling Alexandre Schnabl ConCeito Bianca Zaramella

Vestido em crepe de seda Just Cavalli para Avec

Quando Insensato Coração acabar, a atriz pretende ir para Londres ou Nova York estudar interpretação


Ensaio

‘‘Sabe quando o estômago vibra e parece estar em qualquer lugar menos onde devia? Queria sentir isso e descobri que sentia com a arte. Pela arte, topo tudo!’’

Mudanças

De quando viveu em são Paulo, entre 2009 e 2010, ela lembra com carinho do apartamento que dividia no itaim Bibi com uma amiga do sul. Diz ter ficado marcada pela “vibração e densidade” da cidade. hoje morando sozinha no leblon, no rio, há cerca de um ano, Bruna faz aulas de canto, filosofia e piano para ampliar seus horizontes. no dia a dia, costuma passear a bordo de sua bicicleta e ouvindo música em seus “incríveis e gigantes” fones de ouvido amarelos, recém-comprados em uma viagem solitária a nova york. Animada, mostra outra preciosidade que comprou por lá: uma carteira de papel. “não é incrível?” nela, guarda seus cartões, dinheiro e a carteira de identidade, em que a foto, de dois anos atrás, ainda é de quando tinha cabelos compridos. “meu Deus, como mudei! não é nem o cabelo nem espiritualmente, mas o rosto, como mudou”, analisa aos risos.

Família e futuro

nem o friozinho de fim da tarde tirou o ânimo de Bruna linzmeyer. “Vamos fazer uma foto dentro da água?”, sugere ela, enquanto posava para Gente . ideia aprovada pela equipe, segura a saia longa do vestido estampado e, descalça, desce os degraus de pedra da piscina do Parque lage, no rio. sorrindo, solta a saia, que se molda em um círculo ao redor de seu corpo e começa a performance para as fotos. A cena resume um pouco da personalidade de Bruna. espontânea e inquieta, ela se joga sem medo na vida assim como se jogou na água. natural da pequena Corupá, em santa Catarina, Bruna saiu de casa aos 16 anos para terminar o ensino médio em são Paulo e, como diz, “tentar me encontrar”. hoje, aos 18, parece ter achado seu caminho profissional e amoroso. sucesso no horário nobre interpretando a adolescente espevitada leila na novela global Insensato Coração, namora o ator michel melamed, 17 anos mais velho do que ela. “idade não existe”, diz a atriz, deixando claro que a grande diferença é mero detalhe na história de amor do casal e não atrapalha em nada nos programas a dois. “não gosto de balada e somos bem tranquilos, vamos ao cinema, teatro, saímos para jantar... em casa lemos livros, poesias, escrevemos”, detalha. Apesar da sintonia, ela não planeja subir ao altar, “nem penso nisso”, e descarta a possibilidade de eles dividirem o mesmo teto. “gosto dos momentos sozinha em casa, são íntimos.” Bruna e michel se conheceram nos bastidores da série Afinal, o Que Querem as Mulheres?, exibida no fim de 2010 pela globo. michel era o protagonista e Bruna uma estudante que nunca tinha trabalhado como atriz e que, depois de apenas dois testes, estreava em uma grande produção na tevê. não só pelo namoro que começou nos bastidores, Bruna considera a série um marco na sua trajetória. “mudei muito depois desse trabalho, descobri muitos sentimentos que não sabia que tinha e podia ter”, diz. e é sempre em busca dessas novas que ela se joga de corpo e alma nas mudanças. “sabe quando o estômago vibra e parece estar em qualquer lugar menos onde devia? Queria sentir isso e descobri que sentia com a arte. Pela arte, topo tudo!”, comenta.

há poucas intersecções entre a personagem da novela e a Bruna da vida real. leila tem uma conturbada relação com os pais e foi até expulsa de casa. Bruna não só planejou sua saída como contou com todo o apoio da família quando resolveu morar sozinha. no início, ela ainda recebeu ajuda financeira dos pais − marcelo e Débora, sócios de uma empresa de comunicação. “hoje me sustento, mas quando saí, eles pagavam tudo, meu aluguel, meu curso de teatro”, conta. liberdade para conversar, inclusive sobre sexo, tabu entre pais e filha na ficção, também existe entre os linzmeyers.“mesmo que eles tenham opiniões diferentes das minhas nos respeitamos muito.” enquanto seu pai na novela reprova o envolvimento de seu personagem com André (lázaro ramos), por conta da diferença de idade, na vida de Bruna sua relação com michel é bem compreendida. “meus pais entendem que não existe idade”, explica. e com tantas mudanças acontecendo em apenas dois anos, se acha precoce? “minha mãe acha que sim”, diz às gargalhadas. ela justifica dizendo que sempre conviveu com muitos adultos, como o irmão dez anos mais velho, e primos, o que pode, sim, ter influenciado em seu amadurecimento. no ritmo de movimento e mudança que dão o norte de sua vida, ela conta já ter em mente qual será sua próxima parada. "londres ou nova york." A vontade é fazer um curso de interpretação depois que a novela acabar. mas também tem o projeto de uma peça para o ano que vem, filmes que fez teste e podem rolar... Por enquanto, Bruna diz não esperar “nada” do futuro e não pretende fazer grandes planos, apenas “continuar e permanecer”.


Ao contrário de sua personagem, Bruna tem liberdade para conversar sobre todos os assuntos com os pais: “Mesmo que eles tenham opiniões diferentes das minhas nos respeitamos muito”

Vestido em renda e algodão Cholet


Ensaio

‘‘Idade não existe’’ Bruna Linzmeyer, sobre seu namoro com Michel Melamed, 17 anos mais velho

BelezA Rogério Burnett ProDução De moDA Carol London, Tâmara Lacerda, Helena Junio e Fábio Bogea Assistente De fotogrAfiA Henrique Madeira AgrADeCimento Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Blusa em organza cristal Anju Anju e saia de linho Oh, Boy!


especial

MONTANHA

CAMPOS DO JORDÃO

larissa maCiel

bebê à vista

a atriz, casada há dois anos, sonha ser mãe de uma menina e mais:

r0drigo phavanello passeio na pedra do baú jurema reis o sucesso da caipira das 7 Patrocínio:

Copatrocínio:

Apoio:


O preferido de Michelle Obama Em passagem pelo Brasil, Jason Wu, um dos estilistas preferidos da primeiradama americana, fala de sua relação com ela e de sua inspiração nas telas da artista plástica brasileira Beatriz Milhazes para criar sua coleção 2011 Bianca Zaramella fotos Eduardo Ferracciolli

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IstoÉGente 1/8/2011 – 620


Carreira nibh et wis nibh elisis dolor alit, quis nisctet laore consecte cmod dolenim dignim iustio doloboreet luptat lum am vel utpat wissectet laore consecte corem do etum aute vulpute ti

o EstilistA Jason Wu visitou são Paulo e o Rio de Janeiro, ciceroneado pelo RP lorenzo Martone, para conhecer melhor o estilo de vida brasileiro. Para quem não sabe, esse taiwanês de 29 anos é um dos estilistas preferidos de Michelle obama. Em sua passagem por aqui ele esteve em restaurantes e pontos turísticos das duas cidades, além de badalar em festas. “sou da noite. Quero me divertir e acho que o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para isso”, disse ele. Considerado uma referência de sua geração, Jason Wu, nasceu em taiwan e desde 2006 desfila sua marca na semana de Moda de Nova York. o estilista foi parar no disputado guarda-roupa da primeiradama americana pelas mãos de André leon talley. foi o badalado editor da revista Vogue que apresentou seus vestidos para Michelle ainda em 2008, quando assinou um dos primeiros editoriais de moda com ela para a revista americana. logo depois disso, Michele comprou quatro vestidos da coleção primavera/verão 2009 de Jason Wu, e ele se consagrou como uma das jovens promessas da moda americana. Além de ter caído nas graças da primeira-dama, o estilista também costuma assinar looks para atrizes como Reese Witherspon e Diane Kruger, que escolheu um modelo seu para usar no badalado baile no Met, em maio. simpático e low profile, Jason Wu conversou com Gente durante o brunch armado, em são Paulo, pela Melissa, marca com a qual firmou parceria.

Qual a sua impressão do Brasil? Gosto dessa atitude receptiva de vocês. sou amigo de algumas modelos brasileiras e acho que o Brasil tem se tornado um mercado importante. Ah, sabe do que não me esqueço? Do pão de queijo. Comi uma vez em uma escala que fiz no aeroporto daqui e adorei! Como é vestir Michelle Obama? Eu a conheci em uma festa, e depois ela escolheu um vestido meu para usar na posse do sr. obama. Ela é esposa, mãe, trabalha e tem a vida de uma mulher real, que pode usar uma roupa minha ou uma peça de Us$ 20. Já a considera um ícone da moda? Michelle representa a nova imagem de primeira-dama, que veste roupas de designers de outros países e imigrantes como eu. sou chinês, morei no Canadá e só depois fui para Nova York. Ela valoriza o trabalho também dos jovens estilistas e isso é importante. ser chique tem a ver com confiança, caráter, personalidade e atitude. Não importa quanto custa, mas a forma como ela usa. Como é o seu processo criativo? Gosto de trabalhar à noite, sozinho no meu ateliê. Gosto de silêncio e acho que as minhas melhores ideias surgem nesses momentos. Desenho tudo à mão. Gosto dos traços, do lápis e papel. só depois disso é que passo para a modelagem e o computador. Existe muito fast-fashion por aí e acredito que seja fundamental dar o meu toque pessoal. Sua coleção de Primavera/Verão 2011 teve toques brasileiros? sim! Uma das principais características do meu trabalho é o uso das cores e me encantei com o trabalho da artista plástica Beatriz Milhazes. Descobri a beleza das telas dela em uma exposição em Paris. Gosto dos traços circulares e das combinações que ela faz. Gostaria de ter uma tela dela em casa. A atriz alemã Diane Kruger é a sua musa inspiradora, não é? Como é vestir estrelas de Hollywood? Minha relação com ela é interessante. sabe que editamos looks por telefone? Acredito que isso dá certo porque temos os mesmos gostos. Para a festa do Met foi assim. Eu escolhi as cores, e ela me disse: “ok, faça o que você quiser!”. É muito gratificante vestir essas mulheres.

“Ela é esposa, mãe, trabalha e tem a vida de uma mulher real, que pode usar uma roupa minha ou uma peça de US$ 20”, diz Jason Wu sobre a primeiradama americana

Pode adiantar algum detalhe da próxima coleção? Quero trabalhar cada vez mais com materiais tecnológicos. Acho que esse é o futuro da moda. Meu interesse é ser global, quero que a minha moda atinja cada vez mais pessoas. Este ano vou abrir minha primeira loja em Nova York e ampliar a venda da marca no mundo. 65


Diversão & Arte

avalia ★★★★★ indispensável ★★★★ muito bom ★★★ bom ★★ RegulaR fRaco

música

Cantor lança Músicas para Churrasco, lembra que cresceu no morro ouvindo samba e, sucesso no Exterior, diz que decidiu priorizar o público brasileiro neste momento

Seu Jorge

fotos divulgação

“Nunca renegarei que vim da favela” Aos 41 Anos, nascido em são Gonçalo (RJ), seu Jorge vive há oito em são Paulo. E seu novo disco, Músicas para Churrasco, reconecta o artista à sua origem geográfica e às rodas de samba que acompanhava na adolescência vivida em morros e favelas do Rio. Ator e cantor com trânsito livre na cena internacional, Jorge vem de disco cultuado no Exterior, Almaz (2010), feito com músicos do nação Zumbi, mas optou por direcionar o atual trabalho para o Brasil. Voltado para o samba, o novo álbum enfileira crônicas dos costumes protagonizadas por personagens fictícios, como “A Doida”, musa inspiradora da faixa que já está em rotação nas rádios e internet. nesta entrevista à gente, Jorge explica o conceito do projeto e revela que quer priorizar o mercado brasileiro no atual momento da carreira musical.


As letras são crônicas sobre personagens dos subúrbios. Essas pessoas existem ou você as criou? Eu criei. A teledramaturgia brasileira me ajudou muito (risos). “A Doida”, por exemplo, é uma personagem de novela que imagino sendo interpretada pela Deborah secco. o cara da faixa “Meu Parceiro” é um personagem facilmente imaginado em qualquer novela, interpretado pelo Eri Johnson. O disco tem um sabor carioca, mas você mora em São Paulo há oito anos. O que a cidade trouxe para sua música? Infraestrutura. Talvez, no Rio, eu não tivesse conseguido gravar esse disco em quatro dias, como gravei aqui. Gosto daqui, quero ficar aqui. E aqui tem uma turma muito boa: Daniel Ganjaman, Cidadão Instigado, nação Zumbi. são essas pessoas que estão levando a estética do Brasil para fora. Você também é um dos símbolos da atual cultura brasileira no Exterior... sim, vai se falar muito de Brasil no mundo pelo menos até o fim desta década. Muitos países veem o Brasil como um território estratégico para a recuperação de suas perdas mundiais. E vejo oportunidades lá fora não só para mim como para todos os nossos artistas. Por que, então, priorizar o Brasil no momento atual de sua carreira? Porque é meu país. Foi aqui que fiz o meu nome, que o povo me respaldou. não abri mão de minha carreira no Exterior, mas fiz que entendessem que era importante que eu também tivesse uma resposta positiva no meu país. Dá o maior trabalho juntar uma banda e eu prometi à minha turma que não ia fazer cinema tão cedo. o que vou fazer é um filme do (ator e cineasta francês) Vincent Cassel que vai se chamar O Divórcio e vai ser rodado no Brasil em 2012. Vou dirigir a parte musical e fazer uma ponta. Além do mais, tem sido tão divertido cantar essas crônicas. E, se Deus quiser, até o final do terceiro volume a gente vai estar com uma comédia nos cinemas, inspirada nessas personagens. Você anunciou o projeto Músicas para Churrasco como uma trilogia. Como vai ser isso? Vamos desenvolver as histórias nas próximas músicas. Vamos dizer que, por exemplo, a personagem da música “Japonesa”, desse disco, apareça no próximo volume com uma irmã coreana. Com a atual geografia sociopolítica, isso vai dar pano pra manga (risos). Já tenho algumas músicas prontas. Você reconhece que sua música chegou pela primeira vez ao público do Brasil por causa de sua gravação com Ana Carolina, “É Isso Aí”, em 2005?

‘‘Imagino a personagem da música ‘A Doida’ numa novela, interpretada pela Deborah Secco” Com certeza. Eu não teria essa massa tão intensa e tão antenada com o que estou fazendo se não fosse a gravação com Ana. Antes, o público até ouvia minha música, minha voz, mas não me reconhecia, embora já tivessem me visto no Cidade de Deus. Você concebeu o Músicas para Churrasco por uma necessidade artística ou por vontade de continuar chegando a esse público mais popular, já que seu disco com o Almaz é cultuado pela crítica, mas pouco ouvido no Brasil? As duas coisas. Músicas para Churrasco vem para dizer que não renego nada. nunca renegarei que fui um menino do morro, vindo da favela. Minha educação musical foi o samba. Foi importantíssimo ter tocado com o U2. Tem gente que espera isso por uma vida inteira, mas não fui criado ouvindo rock. Continuo ouvindo samba, e samba é a música que quero continuar fazendo. Quero ter a liberdade de tocar tudo o que eu gosto. Você esperava o sucesso do América Brasil? o público se divertiu com a crônica de músicas como “Burguesinha”. É a coisa da crônica que tem força. Eu me lembro da primeira vez que ouvi “Pega Eu” (sucesso de 1979 do falecido sambista Bezerra da Silva) com meu pai e minha mãe no barraco. Eu era moleque. A gente estava numa dureza do caramba. A gente dormia no chão, literalmente. E aí, quando ouvimos a música do Bezerra no rádio, falando do jornal que era colchão (cantarola todo o samba que fala de um ladrão que se assusta com a pobreza da casa que ia assaltar), meu pai e minha mãe riram muito porque era a situação da gente. Eu também comecei a rir porque entendi tudo. É a arte copiando um pouco as coisas da vida. Sua história de vida é muito incomum. O que proporcionou essa virada social? os encontros maravilhosos que tive na vida. Isso é oportunidade. o povo brasileiro é de luta. E foi por isso que gravei a canção “Chatterton”, do serge Gainsbourg, no meu disco Cru. Essa música foi proibida nos anos 60 porque diziam que ela incitava o suicídio. Mas eu, negro, brasileiro, vindo da favela, gravei essa música porque no Brasil a gente não se suicida. Lutamos para sobreviver. A gente jamais renuncia à vida. Mauro Ferreira 93


eSPecial

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exemplar de assinante

aMY WiNeHouSe, 27 aNoS

1/aGo/2011 ano 12 n° 620

r$ 9,90

Diva louca Diva breve 1983-2011

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