A RT E D E S I G N C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A E T E C N O LO G I A
CHRISTIAN MARCLAY TANIA BRUGUERA FRANKLIN CASSARO FELIPE CAMA MARK AMERIKA
AGO/SET 2011
MUITO ALÉM DA FICÇÃO MIKE TYSON, JAMES JOYCE E O BATMÓVEL : ABUSOS DE DIREITO AUTORAL
A ATUALIDADE DA APROPRIAÇÃO, DA CÓPIA E DO REMIX NA VOZ DE NELSON LEIRNER E KENNETH GOLDSMITH
NASCE A ECONOMIA CRIATIVA O CAPITAL INTELECTUAL COMO RECURSO PRODUTIVO
ABAIXO A ORIGINALIDADE WWW.SELECT.ART.BR
AGO/SET 2011 ANO 01 EDIÇÃO 01 R$ 14,90
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ANA DIAS BATISTA CHRISTIAN SCHOELER DANIEL STEEGMANN DIEGO SINGH JEN DENIKE KEVIN FRANCIS GRAY KOTA EZAWA LETICIA RAMOS LUCAS ARRUDA MARCOS BRIAS MARIANA TASSINARI MARINA PEREZ SIMÃO PAULO NAZARETH THIAGO MARTINS DE MELO THEO CRAVEIRO RUA DA CONSOLAÇÃO, 3358, JARDINS, SÃO PAULO, SP, BRASIL, 01416-001, + 55 11 3081 1735 WWW.MENDESWOOD.COM, INFO@MENDESWOOD.COM | SEGUNDA A SÁBADO, DAS 10 ÀS 19HS
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index
34 ENSAIO
O sonho não acabou Internet é pré-requisito de novos formatos autorais e modelos de conhecimento
36
ENTREVISTA
Inventar não é preciso Kenneth Goldsmith, editor do Ubuweb, lança livro sobre não criatividade
44 PORTFÓLIO
Christian Marclay A trajetória de apropriações do Leão de Ouro da Bienal de Veneza
Criatividade para todos
S U LTAN & M AN D E L D O L I V RO EV I D E N CE
50 FOTOGRAFIA
72 COMPORTAMENTO
76 PERFIL
80 ARTES VISUAIS
98 E-CONOMIA
Apropriação a 3x4 Das cópias de Richard Prince ao compartilhamento de fotos no Instagram
Clonebridades A internet, como um conto de fadas, PAG 56 transforma mortais em clones de celebridades
Nelson Leirner Os 80 anos do grande apropriacionista e desmitificador da obra de arte única
Recicloides Trabalhos com lixo e materiais descartados abrem reflexão sobre sociedade de consumo
Arte do dinheiro Novas moedas e mercados paralelos engendram outras regras para a circulação da arte
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ECoNoMia Criativa
Agenda de ideias Nasce uma economia baseada em indivíduos e coletivos que exercitam a imaginação
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108
livros
Na onda do remix Mark America, teórico do cut & paste, lança livro com código aberto e convite para remixagem
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dEsigN
eternos O design perfeito que não queremos que mude nunca
PaNorâMiCa
Além da imaginação Casos bizarros escancaram os usos e abusos das leis de direitos autorais
68 Curto-CirCuito
112 tErritório
Remixália Como artista e mercado devem se orientar entre patentes e downloads?
Golem do século 21 O economista Gilson Schwartz analisa o lado B dos BRICS
104
dEsigN
Seis por meia dúzia O design preguiçoso que se mantém por inércia ao longo dos séculos
84
PortFólio
Moda de camelô Editorial dá sequência à série fotográfica sobre artigos falsificados de Felipe Cama
SeçõeS 16 Editorial | 18 NavEgação | 26 tribos do dEsigN | 30 Futuro | 32 MuNdo CodiFiCado | 116 rEviEws 120 CrítiCa | 122 ColuNas MóvEis | 124 sElECts| 126 bagagEM | 128 dElEtE | 129 obituário | 130 rEiNvENtE
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expediente
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EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL: DOmINgO ALzugARAy EDITORA: CÁTIA ALzugARAy PRESIDENTE-ExECuTIVO: CARLOS ALzugARAy DIRETORA DE REDAçãO: PAuLA ALzugARAy EDITORA-ChEfE: gISELLE bEIguELmAN EDITORA DE ARTES VISuAIS: ANgéLICA DE mORAES DIREçãO DE ARTE : RICARDO VAN STEEN REPóRTERES: JuLIANA mONAChESI E NINA gAzIRE COLABORADORES
Armando Prado, Ciro midena, Dimitri Lee, felipe Chaimovich, gilson Schwartz, guto Lacaz, Jorge Wakabara, Leo Vas, Lucas Rampazzo mario Cesar Carvalho, Paulo Vainer, Ramiro zwetsch, Tatiana Stepanenko, Thiago Carrapatoso.
pROjEtO gRáfiCO
Cassio Leitão e Ricardo van Steen
DESigNER
bruno Pugens
EStAgiáRiO
Adriano Vanni
pRODuçãO
Anna guirro
EDiçãO DE imAgEm
monica maia e Carla Romero
COpy-DESk E REviSãO
hassan Ayoub
pRé impRESSãO
Retrato falado
CONtAtO SERviçOS gRáfiCOS OpERAçõES LOgíStiCA E DiStRiBuiçãO vENDA AvuLSA mARkEtiNg
faleconosco@select.art.br gERENTE INDuSTRIAL: fernando Rodrigues COORDENADORA gRÁfICA: Ivanete gomes DIRETOR: gregorio frança gERENTE: Thomy Perroni ASSISTENTE: Luiz massa ASSISTENTES JR.: fábio Rodrigo e André barbosa COORDENADORA: Vanessa mira COORDENADORA ASSISTENTE: Regina maria ASSISTENTES: Karina Pereira e Denys ferreira gERENTE: Rosemeire Vitório COORDENADOR : Jorge burgatti ANALISTA: Cleiton gonçalves ASSISTENTE: bruna Pinheiro DIRETOR: Rui miguel gERENTES: Débora huzian e Wanderly Klinger DIRETOR DE ARTE: Charly Silva ASSISTENTE DE mARKETINg: marciana martins e marina bonaldo
puBLiCiDADE
DIRETOR NACIONAL: José bello Souza francisco gERENTE: Ana Lúcia geraldi SECRETÁRIA DIRETORIA PubLICIDADE: Regina Oliveira COORDENADORA ADm. DE PubLICIDADE: maria da Silva gERENTE DE COORDENAçãO: Alda maria Reis COORDENADORES: gilberto Di Santo filho e Rose Dias CONTATO: publicidade@select.art.br RIO DE JANEIRO-RJ: Diretor de Publicidade: Expedito grossi gERENTES ExECuTIVAS: Adriana bouchardet, Arminda barone e Silvia maria Costa COORDENADORA DE PubLICIDADE: Dilse Dumar; Tel.s: (21) 2107-6667 / (21)2107-6669 bRASíLIA-Df: gerente: marcelo Strufaldi; Tel.s: (61) 3223-1205 / 3223-1207; fax: (61) 3223-7732 SP/CAmPINAS: mário EsTel.ita - Lugino Assessoria de mkt e Publicidade Ltda.; Tel./fax: (19) 3579-6800 SP/RIbEIRãO PRETO: Andréa gebin - Parlare Comunicação Integrada; Tel.s: (16) 3236-0016 / 8144-1155 mg/bELO hORIzONTE: Célia maria de Oliveira - 1ª Página Publicidade Ltda.; Tel./fax: (31) 3291-6751 PR/CuRITIbA: maria marta graco - m2C Representações Publicitárias; Tel./fax: (41) 3223-0060 RS/ PORTO ALEgRE: Roberto gianoni - RR gianoni Com. & Representações Ltda. Tel.: (51) 3388-7712 PE/RECIfE: Abérides Nicéias - Nova Representações Ltda.; Tel./fax: (81) 3227-3433 bA/SALVADOR: Ipojucã Cabral - Verbo Comunicação Empresarial & marketing Ltda.; Tel./fax: (71) 3347-2032 SC/fLORIANóPOLIS: Paulo Velloso - Comtato Negócios Ltda.; Tel./ fax: (48)3224-0044 ES/VILA VELhA: Didimo benedito - Dicape Representações e Serviços Ltda.; Tel./fax (27)3229-1986 SE/ARACAJu: Pedro Amarante - gabinete de mídia - Tel./ fax: (79) 3246-4139/9978-8962 mARKETINg PubLICITÁRIO - DIRETORA: Isabel Povineli gERENTE: maria bernadete machado COORDENADORA: Simone f. gadini ASSISTENTES: Ariadne Pereira, Laliane barreto e marília Trindade 3PRO DIRETOR DE ARTE: Victor S. forjaz REDATOR: Alessandro de Araújo
ASSiNAtuRAS
DIRETOR: Edgardo A. zabala DIRETOR DE VENDAS PESSOAIS: Wanderley Quirino gERENTE DE ASSINATuRAS: marcelo Varal SuPERVISORA DE VENDAS: Rosana Paal DIRETOR DE TEL.EmARKETINg: Anderson Lima gERENTE DE ATENDImENTO AO ASSINANTE: Elaine basílio gERENTE DE TRADE mARKETINg: Jake Neto gERENTE DE PLANEJAmENTO: Reginaldo marques gERENTE DE OPERAçõES DE ASSINATuRAS: Carlos Eduardo Panhoni gERENTE DE TEL.EmARKETINg: Renata Andrea gERENTE DE CALL CENTER: Ana Cristina Teen gERENTE DE PROJETOS ESPECIAIS: Patrícia Santana
SELECT é uma publicação da EDITORA BRASIL 21 LTDA., Rua William Speers, 1.000, conj. 120, São Paulo - SP, CEP: 05067-900, Tel.: (11) 3618-4200 / Fax: (11) 3618-4100. COmERCIALIzAçãO E DISTRIBuIçãO: Três Comércio de Publicações Ltda.: Rua William Speers, 1.212, São Paulo - SP; DISTRIBuIçãO ExCLuSIvA Em BAnCAS PARA TODO O BRASIL: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A.; Rua Teodoro da Silva, 907, Rio de Janeiro-RJ, Tel.. (21) 2195-3307. ImPRESSãO: PROL Editora Gráfica Ltda - Avenida Papaiz, 581 – Jd nações – Diadema/SP – CEP.: 09931-610
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colaboradores
Ronaldo Fraga É estilista e pesquisador da cultura brasileira. É coautor de Moda, Roupa e Tempo, sobre Carlos Drummond de Andrade. – futuro p 30
Felipe Chaimovich
Guto Lacaz
Ciro Midena
Doutor em filosofia pela USP, curador, professor da Faap. Autor de Greenberg After Oiticica em The State of Art Criticism (Routledge). – colunas móveis p 122
Arquiteto e artista. Sua obra mistura ciência, design e arte na construção de máquinas insólitas. Humor e surpresa são características de seu trabalho. – economia criativa p 58
É stylist. Enfant terrible da moda, formou-se na College of Fashion de Londres. – moda p 84
Pedro Lourenço
Thiago Carrapatoso
Fatima Finizola
É estilista, lançou em 2005 sua própria marca na São Paulo Fashion Week. Desde 2010, apresenta seu desfile no calendário oficial parisiense. – futuro p 30
É jornalista, diretor da ONG Veredas. Ganhou o prêmio sobre Arte e Economia da Arte no Brasil, concedido pela Fundação Bienal de São Paulo. – r e v i e ws p 116
É designer especializada em tipografia. Seu trabalho trata da cultura brasileira de rua. Sua fonte 1Rial foi escolhida para os títulos desta edição.
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Gilson Schwartz É professor da ECA-USP, criador da Cidade do Conhecimento e diretor da Games for Change AL. – território p 112
selectors Jorge Wakabara
Mario Cesar Carvalho
É jornalista de moda e web editor. É figurinista do grupo de teatro Dodecafônico e DJ residente da noite Killing the Dance, no Clube Glória, em SP. – reviews p 116
É Repórter especial da Folha de S. Paulo e autor de várias reportagens premiadas. Foi editor da Ilustrada e é autor do livro Carandiru: Registro Geral. – colunas móveis p 122
Dimitri Lee É fotógrafo e tem obras nas coleções de Cinemateca Brasileira, Masp e MEP (França). – design p 92
Armando Prado
Alemar Rena
Estilista radicado em Londres, participa há três edições do Fashion Week Rio. Assinou a coleção da grife Ghetz na SPFW. – f u t u r o p 30
Fotógrafo, professor da Faap e curador da Fauna Galeria. Possui obras na coleção Pirelli/ Masp e integra o coletivo SX70. – fotografia p 50
Professor, músico e doutorando em Literatura na UFMG. Escreveu Do Autor Tradicional ao Agenciador Cibernético. – selects p 124
Ramiro Zwetsch
Tatiana Stepanenko
Rodrigo Savazoni
É jornalista e escreve sobre música. Trabalha na TV Cultura desde 2005. – curto - circuito p 68
É formada na ECAUSP. Produtora de arte para cinema, publicidade e editorial. – design p 92
É organizador do livro CulturaDigital. br e participou do curta Remixofagia. – selects p 124
Paulo Vainer É fotógrafo e diretor de filmes publicitários pela produtora Paranoid Films. – ensaio visual p 84
Lucas Rampazzo É designer gráfico da Tempo Design. Mora na Holanda, onde faz residência artística. – ensaio p 34
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Lucas Nascimento
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editorial
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Capa Juliane Elting e Bia Motta vestem Reinaldo Lourenço. Foto: Paulo Vainer. Styling: Ciro Midena. Beleza: Eliezer Lopes. Assistente: Adal Alves. Casting: Deborah Carvalho. Produção: Valeria Andrighetti.Tratamento de imagem: Leo Vas. Agradecimento: Tatiana Stepanenko
Lady Gaga, fotografada por Mario Testino para a Vogue América
Futuro transcriativo Ler, escrever e publicar, que na era Gutenberg foi um processo produtivo quase exclusivo do profissional de imprensa, hoje é uma prática social irrestrita. As organizações sociais são desenhadas para a interação e o leitor torna-se colaborador ativo da cadeia criativa. Uma nova paisagem midiática delineia-se e seLecT dedica-se a decifrá-la e a participar dela
Paula Alzugaray
Ricardo van Steen
Juliana Monachesi
Bruno Pugens
Giselle Beiguelman
Nina Gazire
Cassio Leitão
Angélica de Moraes
Hassan Ayoub
Anna Guirro
Num mundo em que o fluxo de informação é vasto e descentralizado, uma revista deve ser um lugar de conexão e articulação. Deve ser um ambiente em que o exercício da comunicação é também da imaginação. Num tempo de discursos multidirecionais, a revista deve ser uma ferramenta de navegação que facilite o transitar permanente entre áreas. Estamos propondo um modelo de jornalismo cultural que dê conta dessa nova realidade de uma forma transversal. Tomando emprestada a frase de Lala Deheinzelin sobre os caminhos das economias criativas que hoje se fortalecem mais e mais (pág. 58), afirmamos que “o futuro é trans”: transversal, transdisciplinar, transetorial... seLecT, portanto, é uma revista trans. Atravessamos artes visuais, design, arquitetura, moda, mídia, softwares, games, música, gastronomia... E para transitar por esses campos ampliados da cultura, reunimos profissionais também trans, que não se encaixam em categorias estritamente definidas. Giselle Beiguelman, nossa editora-chefe, é midiartista e professora da FAU-USP. Seu trabalho artístico e teórico é referência em arte digital. Angélica de Moraes, editora de artes visuais, é jornalista, crítica de arte e curadora. Ricardo van Steen, diretor de arte, é designer, cineasta e artista visual. A repórter Juliana Monachesi é uma talentosa critica de arte, assim como Nina Gazire, jornalista com mestrado sobre ciberfeminismo. E esta que vos fala é também documentarista, curadora e crítica. Como tema de estreia de seLecT elegemos trabalhar sobre os novos modelos de criatividade, que surgem com as mídias digitais e que prescindem da originalidade. A cópia, a reprodução, o remix e as apropriações, vistos como paradigmas dos processos de criação, compõem as áreas selecionadas desta edição. O exercício da cópia criativa começa já na capa. Para representar a temática de seLecT 01, escolhemos o fenômeno das “clonebridades” (pág. 72) na internet. E para ilustrar esse conceito tão contemporâneo, a equipe de arte partiu de uma livre apropriação da capa da Vogue América de março. Bem-vindo à seLecT, onde as ideias se multiplicam e são transcriadas.
Paula Alzugaray Diretora de redação Ilustrações: rIcardo van steen, a partIr do aplIcatIvo face your mangá
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notícias + tendências + transcendências
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Loca L da In t e rve n ç ão can t e Iro d e op e rações de resende e brIssac
Intervenção urbana
Projeto de Peso Escultura, arquitetura e engenharia são somadas em projeto efêmero que usa mil toneladas de vagões de carga desativados
Se fosse ópera, certamente o escultor José Resende e o filósofo e curador Nelson Brissac seriam tenores wagnerianos. Eles se reuniram para realizar, a partir de 15 de agosto e até setembro, um projeto de escala gigantesca denominado Canteiro de Operações. Trata-se de cortar e agrupar em arranjos efêmeros mais de mil toneladas de aço e ferro arrancadas de 30 vagões de carga pela ação de maçaricos e guindastes. O objetivo é refletir sobre os destinos do bairro paulistano da Mooca, epicentro de onda de especulação imobiliária
que começa a destruir galpões e arrasar a memória de parte importante da história da industrialização do Brasil. A estação ferroviária, com quilômetros de vagões sucateados ainda presos aos trilhos, integrava a principal via de escoamento para o porto de Santos. “É um laboratório de manipulação dessas grandes massas de aço”, conta Brissac. “Vamos deslocar, desestabilizar e transformar esses vagões”, diz Resende. O escultor será auxiliado por uma equipe de arquitetos e engenheiros de cálculo e metalurgia. Os exercícios serão acompanhados por estudantes de arquitetura, gestores da esfera pública e associações de moradores. Não restará nenhuma obra escultórica, apenas a memória de um work in progress. Tudo será documentado em textos e fotos que integrarão um livro. Formato já utilizado por Brissac, aliás, na série de intervenções urbanas Arte/Cidade, realizada em São Paulo desde 1994, demarcando escala e modelo de curadoria até então inéditos no País.
À esquerda: divulgação; À direita: shrink - lawrence Malstaf/galerie fortlaan 17, gent (B) e divulgação
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em shr in k , de lAWr e n c e m AlstA f, os pA rt ic ipA n t es são e m pAcotA d os A Vácuo
Video clipe utiliz A dAdos do u s u á r i o pA rA m o n tA r filme em tempo reAl
Arte digitAl
Web Arte
tradiçãO de inOvar
O audiOvisual na era das redes sOciais
Festival de arte digital apresenta obra que repensa conceito de interatividade
O Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File) chega a mais uma edição com a paradoxal incumbência de manter a tradição de inovar. Isso é feito com simpósio, mostra de games, festival de música, ações nas ruas e uma exposição. Um dos destaques é o artista belga Lawrence Malstaf, que trabalha nas intersecções das artes visuais com as artes do corpo. Ele participa do File com duas instalações: Nemo Observatorium, que nos põe no centro de um tornado, e Shrink. Nesse projeto, duas grandes lâminas de plástico envolvem os participantes da obra. Um dispositivo suga o ar, deixando os corpos suspensos e embalados a vácuo. O resultado é uma escultura performática, que desafia as noções convencionais sobre interatividade. O que importa não é como a obra reage ao participante, mas o que se modifica em nossa percepção depois de vivenciá-la.
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Videoclipe interativo transforma espectador em protagonista
FILE, de 9 de julho a 21 de agosto. Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso Av. Paulista, 1313 São Paulo - SP www.file.org.br
Sour-Mirror é um videoclipe para web criado pelos japoneses Masashi Kawamura, Tomohiko Koyama, Hiroki Ono e Qanta Shimizu para a música Utsushi Kagami (Espelho), da banda Sour. Inspirados pela letra, eles decidiram transformar os espectadores em protagonistas do clipe. Tudo que se tem a fazer é conectar a webcam e assistir à sua própria performance. Uma performance divertida, inusitada, baseada no remix das informações visuais e textuais relacionadas ao status do participante em suas redes. É a partir dessas informações, recuperadas das identidades fragmentadas que circulam no Google, no Facebook e no Twitter, que o filme é montado em tempo real. O resultado é um videoespelho que provoca a reflexão sobre o estatuto da imagem e do sujeito no tempo das mídias sociais e da emergente estética do banco de dados. http://sour-mirror.jp
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Simula ção gráfica do JeSolo magica – reta il centre, que Será inaugura do em 2014 na itália
moda
Moda a 8 bits Estilista cruza técnica do patchwork com estética pixelizada
O estilista japonês Kunihiko Morinaga lançou sua marca Anrealage em 2003, logo depois de se formar em design na Universidade de Waseda. A palavra Anrealage é uma combinação das palavras real, unreal (irreal, em inglês) e age (época, em inglês). Unidas, caracterizam muito bem o espírito criativo desse artista. Sua coleção outono-inverno utilizou a técnica artesanal de patchwork de uma maneira nada convencional. Blasers, calças, vestidos e jaquetas foram feitos com pequenos quadrados de tecidos de diferentes cores, costurados em uma composição milimetricamente geométrica. De perto é perceptível o trabalho minucioso empregado na criação dessas roupas, mas é de longe que esses mosaicos de tecidos ganham sentido. Denominada Low, a coleção produz o efeito comum às imagens pixelizadas em baixa resolução. O estilista desenvolveu ainda um conjunto de vestidos infláveis que lembram pixels agigantados e uma linha de sapatos, cujos saltos são como os blocos assimétricos do jogo Tetris. na co leção low, de Kunih iKo mo rinaga , oS pix elS Sa lta m da tela e Se tra nSfo rma m em patch wo rK
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ArquiteturA
EfEito BilBao? Polêmica acalorada ronda projeto de Zaha Hadid para shopping center no norte da Itália 21
Em um único ponto fãs e detratores de Zaha Hadid concordam: cada novo projeto da iraquiana é sempre a grande controvérsia nos debates sobre arquitetura. Previsto para ser inaugurado em 2014, o Jesolo Magica – Retail Centre, um complexo de lojas assinado por Hadid que está sendo construído na região do Vêneto, na Itália, é o alvo do momento. Campanha publicitária da Nike, parque de skate pomposo e espaçonave para filme de ficção são alguns dos comentários menos maldosos sobre o projeto na revista on-line Dezeen. Os volumes foram desenhados como as pétalas de uma flor, abrindo-se ao redor de um espaço central onde os eixos de circulação se encontram em uma piazza coberta. Muitos apostam que o efeito Bilbao vai transformar mais uma cidade irrele-
vante em ponto turístico. Mas muitos dos comentários do blog, que somam 109 (91 atacando o projeto), criticam o que chamam de uma arquitetura projetada para o ponto de vista dos pássaros, não das pessoas. “Estes projetos de Hadid estão desovando ao redor do planeta como uma espécie de infestação biológica; um dia vamos descobrir que estão todos sendo gerados por algum algoritmo genético altamente evoluído”, escreve um mais catastrófico. Alguém resume: “Nós precisamos da Zaha, ela sempre incita um debate”.
A prAn c h A des e n vo lv i dA pe l A pu kAs su r f e pe l A t ec n Al i A est á A pAr e l h A dA pA rA os n ovos desAfi os do espo rt e
design esportivo
SurfE tEcnológico Prancha desenvolvida na Espanha mapeia desempenho de surfista no mar
Uma prancha com capacidade para analisar a mecânica do surfe promete otimizar os treinamentos e o desempenho dos atletas no mar. A invenção é da fabricante de pranchas Pukas Surf e foi desenvolvida com a fundação de pesquisa Tecnalia. O teste foi feito pelo surfista de elite Aritz Aranburu. Ele caiu na água em San Sebastián, na Espanha, no dia 22 de fevereiro, munido de giroscópio, acelerômetro, GPS, bússola, medidores de flexibilidade e sensores de
pressão, tudo embutido em uma prancha. Comparada ao Olho de Falcão – sistema de revisão eletrônica utilizado por juízes nos torneios de tênis –, a prancha hi-tech poderá servir para mensurar critérios subjetivos utilizados nas competições. “Quantificar a verticalidade dos giros, a velocidade na cavada, comparar um surfista a outro: está aí a inovação”, afirma Aranburu.
À esquerda: cortesia de Zaha hadid architect / aNreaLaGe co. Ltd.; À direita: divuLGação
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LantejouLas soLares geram eLetricidade para carregar um ceLuLar
moda
Narrativas do agora Site do grupo de luxo LVMH reinventa o marketing orientado
c e n as d o curta-m e t rage m en t ran ce rom ance (i t F e Lt L ik e a k i ss), est r e Lado p or caroLy n murph y
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Ele bateu a Vogue italiana na categoria “melhor site de moda” no Webby Awards deste ano e é o balizador da tendência na indústria da moda de conteúdo produzido por marcas conhecidas. O site Nowness, que há um ano e meio antecipa assuntos de moda, arte, cinema, música, gastronomia, viagem e esporte, faz uma única atualização por dia. Iniciativa do grupo de luxo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), aposta na ideia de premières digitais exclusivas. Elas vão de um vídeo exclusivo do fotógrafo Ryan McGinley, com a top Carolyn Murphy, a ilustrações do tesouro perdido do lendário ourives Peter Carl Fabergé, que anunciam a revista da casa de joias russa (exclusiva para iPad), Mir Fabergé, dias antes de seu lançamento. As “narrativas de luxo” do Nowness pretendem inspirar seus leitores. Ao marcar as opções “love” ou “don’t love”, em cada história, contribuem para orientar na direção ainda mais certeira a sutilíssima campanha de marketing da empresa.
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Ecologia
Muito aléM das ecobags
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Bolsa com lantejoulas fotossensíveis recarrega um celular
O estúdio de design dinamarquês DIFFUS trabalha com tecnologias interativas, executando projetos feitos com materiais de ponta e técnicas tradicionais. Sua mais nova criação é a Solar Bag, uma bolsa que com cem lantejoulas fotossensíveis aplicadas na face externa é capaz de carregar a bateria de um celular. Ao receber a luz do sol, as lantejoulas da bolsa geram 2 watts de energia, funcionando como uma fonte de eletricidade. Além de recarregar a bateria, a bolsa é confeccionada com fibras ópticas iluminadas, que ajudam a localizar os itens espalhados no seu interior.
arquitEtura
a galeria e seu duplo Galeria Leme constrói nova sede reproduzindo o seu projeto arquitetônico original, assinado por Paulo Mendes da Rocha
Em sua obra mais conhecida, O Teatro e Seu Duplo, Antonin Artaud contesta a ideia de cultura separada da vida cotidiana. Seu conceito pode ser aplicado a qualquer manifestação artística ou arquitetônica. Hoje, até uma galeria de arte pode repensar sua existência em relação ao espaço urbano. Caso da Galeria Leme, em São Paulo, que aproveitou a mudança de endereço para promover uma reflexão nesse sentido. A galeria terá de deixar sua localização atual para a construção de um prédio comercial, já em andamento. O antigo edifício, com projeto de Paulo Mendes da Rocha, será reconstruído a 300 metros
Simula ção do novo Edifício da ga lEria
da localização original. O detalhe é o fato de que o novo espaço tem um projeto arquitetônico idêntico ao anterior, com pequenas alterações. “O novo edifício não chega a ser uma releitura, mas se aproxima muito da ideia de um clone”, diz Eduardo Leme, dono da galeria. Já o arquiteto Martin Corullon, que trabalha em parceria com Paulo Mendes da Rocha na adaptação, afirma que a intenção de duplicar a estrutura veio em primeiro lugar. “Tivemos essa ideia bem-humorada de fazer uma cópia, assim como Gus van Sant quis refilmar Psicose fazendo uma cópia do original de Alfred Hitchcok”, comenta. Durante as obras do novo edifício – a ser inaugurado no fim do ano –, a galeria coloca em prática uma curadoria que tem como tema as relações entre mobilidade, memória e arquitetura.
À esquerda: divulgação e lisbeth holten; À direita: Metro arquitetos
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Bienal do Mercosul
Ao som do portunhol Com a geopoética como tema, 8 a Bienal do Mercosul dilui noções de fronteiras e nacionalidades
Na região das Missões, no Rio Grande do Sul, escuta-se português, espanhol, guarani e portunhol. Nesse território fronteiriço, que reúne culturalmente Brasil, Argentina e Paraguai, a 8ª Bienal do Mercosul começou a ser gestada no mês de abril. Para lá foram enviados os artistas Bernardo Oyarzún (Chile), Marcelo Moscheta (Brasil) e María Elvira Escallón (Inglaterra/Colômbia), devidamente munidos de instrumentos para o registro, a coleta e a documentação de experiências vividas. Os artistas integram o projeto Cadernos de Viagem, que promoveu o deslocamento de nove nomes de diferentes nacionalidades por diversos roteiros do Rio Grande do Sul. Outros nove artistas-viajantes convidados para o módulo Além Fronteiras, como Gal Weinstein (Israel) e Lucia Koch (Brasil), foram buscar em outros extremos do território gaúcho as regiões que sobrepassam o termo fronteira. Assim, sob a égide da itinerância, foi elaborada esta bienal que conta com cerca de 60 artistas de 28 países – que extravasam de longe as fronteiras do Mercosul. Mas não é de representatividade internacional nem de nacionalidades que se trata aqui. “Não nos limitamos ao Cone Sul, nem ao Brasil. No entanto, se há hoje tantas bienais internacionais, é interessante atentar para uma identidade regional. Então, fizemos uma bienal gaúcha”, revela o curador- geral, José Roca. Mas, ao olhar para o Sul com lentes artísticas, descobre-se um Rio Grande feito de nações fictícias e territórios poéticos, sem identidade fixa. “O pampa tem identidade diluída, mas isso só ocorre até que o Brasil e a Argentina se enfrentem no futebol”, completa Roca.
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a rtistas da Biena l do Mercosul ca íra M na estra da e pro duz ira M a nota çõ es de viageM. de ciMa pa ra Ba ixo, Berna rdo oya rz ún tra Ba lh ou so Bre as ruínas de são Miguel das Missõ es; Ma rcelo Mosch eta fez roteiro a rqueo ló gico ; e Ma ría elvira esca lló n to rneou as árvo res do ca Minh o
8a Bienal do Mercosul Ensaios de Geopoética, De 10 de set. a 15 de nov. Armazéns do Cais, Av. Mauá, 1.050, Centro, Porto Alegre, Santander Cultural, R. 7 de Setembro, 1.028, Centro. Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs) Pça. da Alfândega, s/n, Centro. Casa M, R. Cel. Fernando Machado, 513, Centro, Porto Alegre. www.bienalmercosul.art.br
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Artes visuAis
Cápsulas de tempo Em exposições no Rio e na Bienal de Lyon, Lenora de Barros especula sobre o tempo, a luz e a palavra
Lenora de Barros começou sua investigação sobre o tempo em 2008, num mergulho no mundo das brincadeiras de infância. Convidou sua mãe, Electra de Barros, para acompanhá-la em um diálogo a partir do trava-línguas “Quanto tempo o tempo tem” e encapsulou o texto poético resultante desse jogo em uma cabine de vidro, na exposição Temporália. Na mesma ocasião, realizou a vídeoperformance Tempinhos, na qual manipula com uma pinça mínimos ponteiros de relógios de pulso, formando frases abstratas. O tempo passou – três anos –, os dois trabalhos se reproduziram e geraram outras reflexões sobre o tema, que agora são expostas na individual
PArA to do o semPre, reAliz Ado co m Po nteiros de re l ó g i os
Destempos, na Galeria Laura Marsiaj, no Rio de Janeiro. Tempinhos também será exposta na 11ª Bienal de Lyon, com curadoria da argentina Victoria Noorthoorn. Além do vídeo, Lenora de Barros exibe na França uma seleção de colunas que produziu para o Jornal da Tarde entre 1993 e 1996, e a instalação sonora Le Rencontre de Echo et Narcissus, realizada especialmente para um silos de uma antiga usina de açúcar. No mito grego, Eco, apaixonada por Narciso, perde a fala e é condenada a repetir o final das frases dos outros. Com essa história de amor, Lenora encontra o mote perfeito para dar continuidade à sua pesquisa com tempo, som e imagem. O trabalho investiga as relações entre o eco e a imagem especular, entre a luz e a palavra, entre a cegueira e o silêncio.
Destempos, de 2 de agosto a 15 de setembro, na Galeria Laura Marsiaj, Rua Teixeira de Melo, 31C, RJ www.lauramarsiaj.com.br 11a Biennale de Lyon, de 15 de setembro a 31 de dezembro, França www.biennaledelyon.com
P Íer mAuá r ece b e f e i rA e m se t e m b ro
turismo culturAl
Com vista para o mar A ArtRio Fair tem projeto de movimentar o turismo cultural brasileiro
Diante das evidências indubitáveis do crescimento do mercado de arte brasileiro, agora é a vez de o Rio de Janeiro lançar sua feira internacional. A ArtRio Fair entra para a agenda artística reunindo 80 galerias nacionais e estrangeiras e criando condições
para a formação de um novo roteiro de turismo cultural no Brasil. O intuito das diretoras Brenda Osório e Elisângela Valadares é garantir um fluxo turístico internacional. “Os visitantes farão passeios culturais no Rio e depois poderão seguir viagem para a 8ª Bienal do Mercosul”, diz Brenda Osório. A ArtRio Fair tem como atração uma seleção de Solo Projects assinada por Julieta González, cocuradora de arte latino-americana da Tate Modern, em parceria com o artista e galerista Pablo León de La Barra.
ArtRio Fair, de 8 a 11 de setembro. Píer Mauá (Armazéns 2 e 3) - Av. Rodrigues Alves, 10, Rio de Janeiro www.artriofair.com.br
À esquerda: divulgação; À direita: divulgação / ana Branco - ag o gloBo
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tribos do design
O subtexto das coisas
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OS OBJETOS SÃO IRRADIADORES DE IDENTIDADE entre diversos grupos sociais. A partir da intuição de que a indústria se organiza em torno de não mais que duas dúzias de padrões de gosto, criamos esta seção para mapear tendências de identidade que podem ser flagradas por meio da compilação de utilitários de desejo. Neste número, as formas essenciais servem de subtexto e revelam duas tribos básicas: quadrada e redonda.
R I C A R D O VA N S T E E N
Colaborou Vera Bighetti
DE CIMA PARA BAIXO, OS CARROS CONCEITO HONDA EV-N, CHANEL FIOLE, VOLVO AIR MOTION, HONDA STEP BUS E BMW ZX-6 ATENDEM AOS MAIS VARIADOS ESTILOS DE MOTORISTA FOTOS: DIVULGAÇÃO
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tribos do design
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Q ua d ra d o Precisão e f un ci o n a l i d a d e s ã o atributos d es s a tr i b o. D es i g n comprom eti d o co m a s fo r m a s essencia i s re p e n s a a trad i ç ã o, ma s não romp e co m a m atr i z o r i g i n a l P’3635 Lighter
Da coleção Porsche Design White, o isqueiro é minimalista na forma e na cor
Honda Step Bus Concept
O espaço interno acomoda os equipamentos da banda ou os apetrechos esportivos. O design compacto permite versatilidade na direção.
Pioneer BDP-LX71
O blu-ray player foi chamado de deck dos sonhos de qualquer videófilo por uma revista especializada; mas a superfície polida frontal pode ser um pesadelo para os maníacos por limpeza
Le Cube Interface de usuário desenvolvida pela emissora francesa de televisão Canal+ com design de Yves Behar/fuseproject. O sistema integrado reúne informação, comunicação e preferências pessoais Cappellini Fronzoni 64
A cadeira ultrabásica foi desenhada pelo arquiteto e designer A.G. Fronzoni, em 1964, e é considerada dos melhores exemplos da filosofia minimalista
Privé Lounge Por que ter um sofá se você pode ter uma sala estofada? Releitura de Mies van der Rohe, o elegante e formal design de Philippe Starck acomoda muita gente e permite uma versatilidade de usos
Samsung SE-S084C
Drive externo superesguio e branco; mas também pode ser prateado ou azul celeste, para os menos quadrados
Slow Sofa Mesa e sofá integrados em um único objeto: a economia compositiva, Design de Frederik Roijé, é composta, na verdade, de nove elementos que podem ser combinados de diferentes maneiras DIVULGAÇÃO FOTOS:FOTOS: DIVULGAÇÃO
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Re do n d o Uma tribo que privilegia as linhas contínuas e celebra o encontro entre começo e fim. Aposta na direção da clareza, sem ceder ao raciocínio fácil
Circular Walking Bookshelf
Assinada pelo David Garcia Studio, a extravagante invenção funciona como uma biblioteca nômade. “Um livro demora 43 km para ser lido”, informa o site do escritório
Clock-O Aparência de relógio analógico esconde a tecnologia deste elegante relógio de parede digital, com acabamento polido como o de teclas de piano Bias Clock O relógio pode ser pendurado em qualquer posição, ou de acordo com o humor do proprietário, porque não contém números BeoSound 8 O alto-
USB Ring Supergêmeos, ativar!
falante Bang&Olufsen, com docking station compatível com iPhone e iPod, parece bidimensional, mas as caixas têm forma cônica
Forma de um anel! Forma de um pen drive! Da Dialog05, serve de aliança; se o casamento acabar, apaga-se a memória
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Ball Chair Clássico do design industrial, a
cadeira de fibra de vidro desenhada pelo finlandês Eero Aarnio, em 1963, bloqueia os ruídos externos e funciona como universo particular
Nulla Bike Bradford Waugh desenhou esta bike como trabalho de design de transporte na faculdade. Sem eixo de roda, funciona só com engrenagens
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futuro
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moda
Ar-condicionAdo portátil Ronaldo Fraga, Lucas Nascimento e Pedro Lourenço apresentam ideias de roupas com refrigeração integradas
A convite de seLecT, três estilistas brasileiros de renome internacional lançam um olhar para o futuro não tão distante quando as roupas poderão ter ar-condicionado integrado. Os croquis foram inspirados em uma nova tecnologia desenvolvida pela Embraco, que permite que o sistema de refrigeração utilizado nas geladeiras seja incorporado aos itens de um guarda-roupa tropical. Os três criadores – Ronaldo Fraga, Lucas Nascimento e Pedro Loureço – optaram por esconder o mecanismo, deixando o estilo protagonizar a vestimenta refrescante do futuro. R i c a R d o va N s t e e N
Do tamanho de uma caneta, o microcompressor desenvolvido pela Embraco funciona como um aparelho de ar-condicionado individual. Em setembro de 2010, o protótipo de um macacão refrigerado foi apresentado a investidores na Bolsa de Nova York. A companhia de Santa Catarina, especializada na produção de componentes para geladeira, já iniciou negociações com escuderias de Fórmula 1, exércitos e corporações de bombeiros para criar soluções de refrigeração em vestimentas específicas. No segundo semestre uma linha piloto de produção do microcompressor começa a funcionar na fábrica de Joinville.
Ronaldo Fraga Pensar os caminhos possíveis para as roupas do futuro é um desafio que o estilista mineiro adora, e ao qual responde com uma afirmação sobre o mundo: “Por mais que se conceba um futuro cercado de tecnologias com foco no conforto e no bem-estar, acredito que duas coisas nunca podem sumir de nossas preocupações, que são o humor e a humanização de processos”, defende. A roupa que ele propõe se afasta de qualquer tipo de padronização robótica, fazendo conviver harmoniosamente a tecnologia com a aparência do design. “A tecnologia dá sustentação ao design; ostentá-la não é algo que me interesse”, explica. À esquerda: agência estado
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Lucas Nascimento
Pedro Lourenço
“Acho que a ideia de acoplar um microprocessador à roupa é muito instigante, sobretudo se puder ser pensada como um processo factível para todo tipo de ready-to-wear”, reflete o estilista. Em seu desenho, Nascimento evidencia que a tecnologia é um elemento funcional e não estético e, portanto, não precisa aparecer. “A mudança que esse mecanismo traria para a moda diz respeito à possibilidade de manter seu estilo, manter aquilo que você é, mesmo em pleno Rio 40 graus, em vez de precisar usar uma regata de verão, se isso não combina com você”, afirma.
A forma oval e solta no corpo faz com que o ar circule no entorno de quem veste a roupa, o que permite que seja criada uma atmosfera própria dentro da peça. “Como uma bolha que vira uma micromoradia que você carrega consigo, nesse caso, com ar-condicionado”, afirma Lourenço. A bota de cano bem alto tem a boca alargada, para abrigar o dispositivo no topo. “As peças são de feltro de lã e couro, materiais naturais e térmicos, cujas estruturas porosas permitem um grau de isolamento ideal, e ainda possibilitam troca com o ambiente. Assim, o ar interno não fica tão seco”, diz.
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mundo codificado O consumo de música, filmes e softwares piratas movimenta milhões no mundo todo. Os prejuizos em impostos e divisas são da escala de dezenas de bilhões de dólares. A facilidade de cópia, por um lado, e o alto custo dos produtos originais, por outro, explicam essa realidade
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PESQUISA: NINA GAZIRE ILUSTRAÇÕES: BRUNO PUGENS INFOGRÁFICO: RICARDO VAN STEEN E BRUNO PUGENS
LADEIRA ABAIXO 20 01
CINEMA FALSI FICADO
LUCROS COM A VENDA DE CDS DE MÚSICA DESPENCAM NO MUNDO
Calcula-se que o mercado cinematográfico nacional perde, com a pirataria, mais de 35 vezes a renda do Campeonato Brasileiro de Futebol 2010 de e R$ 976 milhões em impostos.
33,
07
7,
20 04
00
20 08
PREJUÍZO NA INDÚSTRIA DE SOFT WARES 20 08
3,55
(EM BILHÕES DE DÓLARES)
(EM BILHÕES DE DÓLARES)
FI LMES AVATAR
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OS MAIS QUEBRANDO TUDO
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PIRATARIA DE SOFTWARES (2010)
PIRATEADOS (MILHÕES DE DOWNLOADS)
A ORIGEM
2,
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MUNDO CRESCEU 14%
55 % da população urbana do Brasil consome filmes piratas em DVDs falsificados, downloads, transmissões on-line (streaming) e transferências de cópias de um computador para outro (P2P)
9, 6, 02 64 4, 1, 01
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ESTADOS UNIDOS
CHINA
RÚSSIA
BRASIL
EM 2010
CALL OF DUTY BLACK OPS
JOGOS
BATTLE FIELD: BAD COMPAN Y 2
MAFIA 2
4, 3, 3, 27
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00 BILHÕES
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BRASIL CRESCEU 54%
4,
2 BILHÕES
FONTES: RELATÓRIO MEDIA PIRACY IN EMERGING; FECOMÉRCIO RJ; MPAA (ASSOCIAÇÃO CINEMATOGRÁFICA DOS EUA); BUSINESS SOFTWARE ALIANCE; OFFICE OF THE UNITED STATES TRADE REPRESENTATIVE
20 10
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Este mercado ao ar livre abriga cerca de 300 stands que vendem produtos pirateados, incluindo filmes, música, jogos e softwares.
OS REIS DA PIRATARIA De acordo com informações do governo americano estes são os principais centros de Pirataria no mundo
MERCADO PETRIV KA
Shenzhen fica ao norte de Hong Kong, na República Popular da China e é conhecida mundialmente pelos inúmeros mercados especializados em produtos pirateados ou falsificados. A exibição de sinais de proibição da venda de tais bens não tem se mostrado eficaz.
Vende bens de consumo, principalmente. É um dos maiores centros de produtos falsificados do mundo. Suas mercadorias estão disponíveis internacionalmente.
CHINA SMALL COMMODITIES MARKET (YIWU, CHINA)
MERCADO LUOWU (SHENZHEN, CHINA)
(KIEV, UCRÂNIA)
ZONAS VERME LHAS
SAN ANDRESITOS
(TAILÂNDIA)
(COLÔMBIA)
Mercados de diferentes portes espalhados por toda a Colômbia, conhecidos como centros de comercialização de pirataria.
É o nome dado pelas autoridades tailandesas à Praça Panthip, Klong Thom, Saphan Lek e áreas comerciais Mor Baan, como centros de pirataria e falsificação.
NEHRU PLACE (NOVA DÉLHI, ÍNDIA)
Semelhante a vários outros mercados da Índia, é especializado na comercialização de softwares piratas e DVDs.
BAHIA MARKET (GUAYAQUIL, EQUADOR)
Reúne mais de mil vendedores. A maior parte dos produtos é de falsificados ou mercadorias roubadas do porto de Guayaquil.
QUIAPO
LA SALADA É o maior dos muitos mercados estabelecidos em Buenos Aires que têm sido citados como fortemente envolvidos na venda de produtos falsificados.
MUNDO DA MODA
MILHÕES CALÇADOS, BOLSAS E TÊNIS
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HARCO G LODO K
(JACARTA, INDONÉSIA) A economia da cidade é baseada, em boa parte, no comércio e falsificação Este mercado é um dos de produtos eletrônicos. Esta muitos na Indonésia, atividade se espalha por toda a conhecida pela abundância região da Tríplice Fronteira (Paraguai, de mercadorias falsificadas e Argentina e Brasil), constituindo um pirateadas. Destaca-se aí o polo de pirataria e falsificações. comércio de DVDs.
(BUENOS AIRES, ARGENTINA)
4,
(MANILA, FILIPINAS)
CIUDAD DE L ESTE CIUDAD DEL ESTE (PARAGUAI)
09
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Quiapo é apenas um exemplo das várias localidades e bairros, especialmente na região metropolitana de Manila, conhecido por trabalhar com produtos falsificados e pirateados, como roupas, sapatos, relógios e bolsas.
16,8
Segundo uma pesquisa da Fecomércio-RJ, MILHÕES de brasileiros compraram produtos falsificados do segmento de moda em 2010
4,
04 MILHÕES ÓCU LOS
3,
09 MILHÕES ROUPAS
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04 MILHÕES RELÓGIOS
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O SONHO NÃO ACABOU
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Internet nos põe na encruzilhada entre a
sociedade do conhecimento e a da Imbecilidade. Mas é pré-requisito da inteligência distribuída GISELLE BEIGUELMAN
A WAYBACK MACHINE, um serviço do Internet Archive que arquiva sites desde 1999 tem um acervo acervo cresce 20 terabytes por mês. Se a Biblioteca do Congresso dos EUA, a maior do mundo, digitalizasse os seus 33 milhões de livros, produziria 10 terabytes. Resumindo: o Internet Archive cresce, por mês, duas Bibliotecas do Congresso e seu patrimônio bibliográfico construído em quase 200 anos de história. Essa quantidade de dados é um parâmetro do aumento no volume de textos, imagens e sons que temos hoje à nossa disposição. Os mais conservadores dirão que nunca fomos inundados com tanto lixo cultural. Esquecem, porém, que a internet não inventou a banalidade, nem a pedofi lia, o racismo e outros acintes políticos e estéticos. Apenas deu vazão a eles. Mas deu vazão, também, a um manancial de recursos que quebrou a hierarquia da cadeia produtiva cultural. Possibilitou que artistas e criadores chegassem ao público e aos críticos antes de passar pela chancela das galerias, gravadoras, editoras e emissoras de TV. Isso tudo faz parte de um cenário cultural novo e inovador que põe em questão um sistema de produção e circulação do conhecimento que vai muito além do valor da propriedade intelectual. Pelo menos desde o modernismo, no início do século 20, as práticas de apropriação e reciclagem dialogam com a produção artística. Pensar na obra de artistas referenciais da arte pop, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein, fora da esfera da cópia como fenômeno criativo é um exercício insano. Sampleagem e remix surgiram no mundo das fitas cassete e dos LPs, muito antes que alguém, fora dos laboratórios de ciência avançada, sonhasse com a internet.
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Então, o que há de tão diferente no que se faz hoje? O fato de que todas essas coisas podem ser feitas sem qualquer referência anterior. Tudo pode ser combinado com tudo e chegar ao seu desktop ou à palma da sua mão sem que seja necessário consultar as fontes. Basta seguir uma tag específica no Twitter, como, por exemplo, #NowPlaying. Você fica sabendo, via @fulano, que fi ltrou @beltrano que assina o os feeds do blog X, que é alimentado pelo tumblr Y, que coleta informações em um serviço automatizado de publicação, que o DJ Z está bombando. O conteúdo espalha-se e vaza pelos nós da rede. E é aí que a coisa pega. Porque a qualquer momento alguém, diretamente do #SPFW, pode tuitar: um dos maiores stylists italianos! Michelangelo. Moda noite. #fashion. >3. http://youtu.be/NPkzQJo9ByE. Até explicar que Michelangelo designa o autor de uma das obras máximas da Renascença, o Davi, e que La Notte é uma das obras-primas do cineasta Antonioni, também Michelangelo e também italiano, mas não estilista, nem muito menos nascido no século 15... Porque agora, com todas as facilidades de transmissão de conteúdo que os meios digitais favorecem, as comportas do conhecimento estão abertas para que ele seja recriado, mas também reutilizado sem lastro e sem contextualização das informações. Os limites entre a sociedade do conhecimento e da Imbecilidade são estreitos. Mas é simplista acreditar que conteúdo livre é prerrogativa da barbárie. Especialmente porque é ingenuidade pensar que os novos formatos autorais que emergem na internet são formatos do pode tudo. Como disse o poeta americano Charles Bernstein, a autoridade nunca é abolida, apenas se reposiciona. Em um sistema descentralizado, gera autoridades múltiplas e conflitantes, não sua ausência. O desafio hoje, portanto, não é pensar como con trolar as informações que circulam na internet, mas como fomentar processos de criatividade distribuída que expandam o repertório cultural, pluralizando os focos de validação das informações.
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O desafio hoje não é pensar como controlar as in formações que circu lam na internet, mas como fomentar processos de criatividade distribuída que expandam o repertório cu ltural 35
ILUSTRAÇÃO: LUCAS RAMPAZZO
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Criador do site UbuWeb e de curso universitário sobre escrita não criativa, Kenneth Goldsmith propõe uma abordagem democrática e libertária para a criação literária
Inventar não é preciso Giselle BeiGuelman
Kenneth Goldsmith é o criador do melhor arquivo de cultura contemporânea e experimental da web, o obrigatório UbuWeb. Com influências que variam de John Cage a Andy Warhol, passando pelo hip-hop, a Googlecultura e o concretismo, é autor de dezenas de ensaios críticos sobre poesia e livros de poemas próprios. Prepara, no momento, uma versão das Passagens de Walter Benjamin, ambientadas em Nova York. Em setembro, lança, pela Columbia University Press, Uncreative Writing, um conjunto de ensaios que discutem a urgência de pensar a não originalidade, a cópia, o plágio e as escrituras automatizadas como paradigmas dos processos de criação da atualidade. Nesta entrevista, conversa sobre o livro novo, o que vem a seguir e defende uma pedagogia da não criatividade. FOTO: ElEcTrOnic POETry cEnTEr - cOrTEsia dO arTisTa
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entrevista
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Você ens ina re da ç ão não cri a t iVa na U niVers i da de da Pens i lVâni a. s eU l iVro U ncre a t iVe Wri t ing é o re sU lta do oU a caU sa do c Urs o?
Em 2004, comecei a dar um curso chamado Escrita Não Criativa, na Universidade da Pensilvânia. Senti que as mudanças textuais que eu percebia na paisagem digital, em consequência do intenso envolvimento na rede, seriam repetidas por uma geração mais jovem que nunca conheceu nada além desse ambiente. Esta é uma descrição do curso: Está claro que noções há muito tempo consensuais sobre criatividade estão sob ataque, desgastadas pelo compartilhamento de arquivos, a cultura midiática, a mixagem generalizada e a replicação digital. Como a escrita reage a esse novo ambiente? Este workshop vai enfrentar esse desafio, empregando estratégias de apropriação, replicação, plágio, pirataria, mixagem, saque, como métodos de composição. No percurso, vamos traçar a rica história das falsificações, fraudes, truques, avatares e simulações em todas as artes, com ênfase particular para como elas empregam a linguagem. Veremos como as noções modernistas de acaso, procedimento, repetição e a estética do tédio se combinam com a cultura pop para usurpar ideias convencionais de tempo, lugar e identidade, como expressas linguisticamente.
Ac i m A , O n e An d T h r e e c h Ai rs ( 1 9 6 5 ), de J Ose ph KOsu T h . À esqu e r dA , sl e e p ( 1 9 63) de An dy WA r h O l
e ssas e stra tégi as em bU t i das em sU a m e t o do l ogi a de de scon tra ç ão do Proce ss o cri a t iVo foram disc U t i das Por andreW K een, em o c U lt o do am a dor, com o Prát i cas qU e c U l m inam na bana l iza ç ão da c U lt Ura e na Perda de re ferê nci as. com o a e scri ta não cri a t iVa re s Ponde a e ssa ProVoca ç ão?
A escrita não criativa propõe uma abordagem democrática e libertária para escrever, não muito diferente da definição de gênio não original de Marjorie Perloff. Não é tanto o que nós escrevemos, mas sim aquilo que decidimos reformular o que faz um escritor melhor que outro. Tem havido uma enorme quantidade de discussão sobre amadorismo e desqualificação, mas o que mais me interessa é uma nova abordagem libertária de escrever que vem com essas novas formas de trabalhar. Ainda que se possa dizer que o modernismo já estava preocupado com a fragmentação e a ruptura da linguagem, o que a escrita conceitual faz é simplesmente apropriar-se de textos preexistentes na sua totalidade e proclamá-los como
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seus. É algo que qualquer um pode fazer e qualquer um pode entender. Quem não consegue entender um ano de boletins meteorológicos ou a transcrição de um jogo de beisebol? Qualquer pessoa tem uma relação íntima com essas formas vernaculares. Quando eu li na Casa Branca relatórios de tráfego transcritos do rádio, a plateia – que incluía o presidente Barack Obama e a primeira-dama, Michelle – delirou de alegria. Mas quase não reagiu quando li a poesia “real” de Walt Whitman e Hart Crane. E assim você tem uma situação em que a abordagem mais radical, o mais experimental e o mais avant-garde – plágio, transcrição, não criatividade – é o que é entendido. Esta é uma situação realmente nova.
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ninguém se espanta hoje ao entrar em uma galeria e ver um filme de um homem dormindo durante oito horas (s leep, de andy Warhol, 1963), mas atos paralelos a esse, inseridos nas páginas de um livro, ainda despertam muitas reações e gritos: isso não é literatura! Qua l foi a reaç ão da universidade e dos est udantes, Quando você apresentou a em enta desse curso?
Meu palpite se mostrou correto. Não apenas os alunos aprovaram o currículo, como acabaram me ensinando muito mais do que eu sabia. Toda semana eles vinham para a aula e me mostravam o último meme de linguagem que percorria as redes, ou alguma nova máquina de remix que era mais capaz de misturar textos do que eu já havia sonhado. A sala de aula assumiu as características de uma comunidade on-line, mais um lugar dinâmico para compartilhar e trocar ideias do que um curso de faculdade tradicional, de professor-ensina-alunos. Mas, com o passar do tempo, percebi
que, embora eles pudessem me mostrar coisas novas e bacanas, não sabiam contextualizar esses artefatos, histórica, cultural ou artisticamente. Se, por exemplo, eles me mostravam O Meme de Hitler, em que a infame cena do filme A Queda de Oliver Hirschbiegel recebeu novas legendas, de modo que Hitler gritava sobre tudo, desde os problemas do Windows Vista até o colapso da bolha imobiliária, eu tive de lhes informar que, na década de 1970, o cineasta situacionista René Viénet usou a técnica de relegendagem para transformar filmes pornô e kung fu em obras de arte incisivas de crítica social e política. Também me ocorreu que eles estavam muito mais orientados a consumir a cultura on-line do que a vê-la como ponto de partida para criar novas obras. Senti que havia uma verdadeira necessidade pedagógica a ser preenchida, uma que se concentrasse em questões de contextualização. E havia grandes lacunas de conhecimento. Era como se todas as peças estivessem lá, mas eles precisassem de alguém para ajudá-los a colocá-las no lugar certo e na ordem certa, uma situação que pedia uma reorientação conceitual do que eles já percebiam naturalmente.
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como são suas au las de escrita não criativa?
A primeira coisa que eu quero é fazê-los pensar sobre o ato de escrever em si, por isso lhes dou uma tarefa simples: redigitar cinco páginas, sem outra explicação. Para minha surpresa, na semana seguinte, cada um deles chega à aula com um texto original. Suas reações são variadas e cheias de revelações. Em outro exercício, dou à classe instruções para transcrever uma peça de áudio. Tento escolher algo com pouca excitação ou interesse, de modo a manter o foco na linguagem, uma reportagem simples ou algo aparentemente seco e sem graça, de modo a não inspirar qualquer aluno. Se eu der a dez pessoas o mesmo arquivo de áudio para transcrever, acabaremos com dez transcrições completamente originais. Como escutamos – e por sua vez como processamos essa audição em linguagem escrita – é cheio de subjetividade. O que você escuta como uma breve pausa e transcreve como uma vírgula, eu escuto como o fim de uma frase e transcrevo como um ponto. O ato da transcrição, portanto, é complexo e envolve tradução, deslocamento e détournement (desvio). Por mais que tentemos, não conseguimos objetificar esse processo aparentemente simples e mecânico. Eu lhes peço para pegar um filme ou vídeo que não tenha roteiro e fazer um para ele, tão precisamente anotado que possa ser recriado depois por atores ou não atores. O formato do roteiro não deve deixar nada ao acaso e seguir os padrões da indústria de roteiros
fotos: cortesia fundação andy warhol e electronic Poetry - center cortesia do artista
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entrevista
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de cinema. Em suma, a obra final deve ser inconfundivelmente um roteiro para Hollywood. Eles roteirizaram filmes de Warhol, filmes pornô e vídeos caseiros. Esse exercício distancia, formaliza e desfamiliariza seu relacionamento com a linguagem. Um de s eU s l iVros é Um a an t o l ogi a de entreVistas com andy Wa rho l, Um a rt ista qU e leVoU a o l i m i te o tens ionam en t o da aUra da o bra de a rte. o qU e Wa rho l tem a nos ens ina r s o bre a a rte não cri a t iVa?
As artes visuais há muito tempo adotaram a não criatividade como prática criativa. A partir dos readymades de Marcel Duchamp, o século 20 foi inundado por obras de arte que desafiaram a primazia do artista e questionaram noções herdadas de autoria. Especialmente na década de 1960, com o advento da arte conceitual, as tendências duchampianas foram experimentadas ao extremo, produzindo importantes corpos de obras muitas vezes efêmeras e proposicionais de artistas importantes, como Dan Flavin, Lawrence Weiner, Yoko Ono e Joseph Kosuth. O que eles fizeram foi muitas vezes secundário à ideia de como foi feito. Há muito que os escritores podem aprender com esses artistas, em como eles tentaram erradicar as noções tradicionais de gênio, labor e processo. Essas ideias parecem especialmente relevantes no clima digital de hoje, já que a base de grande parte da arte conceitual foi a linguagem lógica e sistemática. Ninguém se espanta hoje ao entrar em uma galeria e ver algumas linhas desenhadas na parede seguindo uma receita (Sol LeWitt), ou entrar em um teatro ou galeria que mostre um filme de um homem dormindo durante oito horas (Sleep, de Andy Warhol, 1963), mas atos paralelos a esses, inseridos nas páginas de um livro e publicados como escrita ainda despertam muitas reações e gritos: isso não é literatura! criatiVidade é Uma das pa laVras mais repetidas em nossa época. em presas têm departamentos de criação, a economia criatiVa é Um tema recorrente em discUssões políticas e a indústria edi toria l em todo o mUndo pUb l ica gUias e manUais com recei tas de como ser criatiVo. seU l iVro pode ser entendido como Uma reação a esse fenômeno?
Eu trabalhei em publicidade durante muitos anos, como diretor de criação. Posso afirmar que, apesar do que os gurus culturais poderiam dizer, a criatividade – como foi configurada em nossa cultura – é
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Vivendo em um tempo em que a tecnologia muda as regras do jogo em todos os aspectos de nossas vidas, é hora de questionar e derrubar os clichês sobre criatividade algo de que devemos fugir, não apenas como membros da classe criativa, mas também como membros da classe artística. Depois da desconstrução e atomização das palavras no modernismo (diante da linguagem poética), existe uma necessidade não apenas de ver a linguagem novamente como um todo – sintática e gramaticalmente intacta –, mas reconhecer as rachaduras na superfície do vaso linguístico reconstruído. Vivendo em um tempo em que a tecnologia muda as regras do jogo em todos os aspectos de nossas vidas, é hora de questionar e derrubar esses clichês e estendê-los no chão à nossa frente, para reconstruir essas brasas ardentes em algo novo, algo contemporâneo, algo finalmente relevante. Portanto, para prosseguir, precisamos empregar uma estratégia de opostos – o tédio não tedioso, a escrita não criativa, a contraexpressão,
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bro de 2001. Depois dessa data, Nova York entra no século 21 e se torna apenas mais um ator no palco global. O século 20 foi realmente o tempo de Nova York.
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Por qu e ree screVer Benjam in hoje ?
Benjamin foi o primeiro escritor a realmente se engajar com apropriação em grande escala. O gesto benjaminiano levanta várias questões sobre a natureza da autoria e formas de construção da literatura: todo o material cultural não é compartilhado a partir de novas obras feitas sobre outras preexistentes, de forma consciente ou não? Os autores não estão apropriando desde sempre? E essas bem digeridas estratégias de colagem e pastiche? Não foram feitas antes? E se foram, seria necessário fazer tudo de novo? Qual é a diferença entre apropriação e colagem? Você quer dizer que aProPriação é um tema e um esti lo em Benjamin? Penso no ensaio soBre a oBra de arte na éPoca da reProdução mecânica, naque le soBre o narrador, o flanêur...
o não original –, todos métodos de desorientação usados para reimaginar o nosso relacionamento normativo com a linguagem. Você e stá ree screVendo Passa g ens, de Wa lter Benjam in. e ssa o Bra t inha Pa ris com o a ca Pi ta l do séc u l o 19. o s eu ocorre em noVa Yor k. e sta a inda é a ca Pi ta l do m u ndo no noss o séc u l o?
tradução luiz robErto mEndEs gonçalvEs
Meu livro, Capital, é uma reescrita das Passagens de Walter Benjamin ambientada em Nova York no século 20. A ideia é usar uma metodologia idêntica à de Benjamin para escrever uma história poética da cidade de Nova York no século 20, assim como Benjamin fez com Paris no 19. Meu livro vai exatamente até 11 de setem-
Sim! Benjamin foi realmente o primeiro escritor que sentiu a necessidade de NÃO escrever, mas copiar. Lembra dessa genial citação dele: “A força da estrada do campo é uma se alguém anda por ela, outra se sobrevoa de aeroplano. Assim é a força de um texto, uma se alguém o lê, outra se o transcreve. Quem voa vê apenas como a estrada se insinua sobre a paisagem e para ele se desenrola segundo as mesma leis que o terreno em torno. Somente quem anda pela estrada experimenta algo de seu domínio e de como, daquela região que, para o que voa, é apenas a planície desenrolada, ela faz sair, a seu comando, a cada uma de suas voltas, distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada nova curva [...]. assim comanda unicamente o texto copiado a alma daquele que está ocupado com ele, enquanto o mero leitor nunca fica conhecendo as novas perspectivas do seu interior, tais como se abre o texto, essa estrada através da floresta virgem interior que sempre volta a adensar-se: porque o leitor obedece ao movimento de seu eu no livre reino aéreo do seu devaneio, enquanto o copiador o faz ser comandado”. Isso não é poderoso? Ninguém pensou nisso antes! qu ando sa i o l iVro?
Estou na página 500 e pouco. Acho que termino daqui a uns dez anos. t udo Bem. e s Peram os. Pa ra a s e le c t 100?
Talvez para a número 1.000… foto: ElEctronic PoEtry cEntEr - cortEsia do artista
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exclusivo
Leia trecho do livro Uncreative Writing, de Kenneth Goldsmith, que será publicado em setembro nos EUA
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Há aproximadamente um século , o mundo da
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arte deu um fim às noções convencionais de originalidade e replicação com os readymades de marcel duchamp, os desenhos mecânicos de Francis picabia e o muito citado ensaio de Walter Benjamin, a obra de arte na era da reprodução mecânica. desde então, um cortejo de artistas blue chip, de andy Warhol a matthew Barney, levou essas ideias para novos patamares, resultando em noções muito complexas de identidade, mídia e cultura. isso se tornou de tal forma parte integrante do discurso mainstream do mundo da arte, que reações contrárias, baseadas no genuíno e na representação, emergiram. de forma semelhante, na música, o sampling – faixas inteiras compostas a partir de outras faixas – tornouse lugar-comum. do napster aos jogos de computador, do karaokê aos arquivos torrent, a cultura parece estar adotando o digital e toda a complexidade que ele envolve, com exceção da escrita, que ainda é majoritariamente comprometida com a promoção de uma identidade autêntica e estável a todo custo. não estou dizendo que esse tipo de escrita deve ser descartado: quem nunca se emocionou com um grande livro de memórias? mas sinto que a literatura – infinita no seu potencial de tipos de expressão – está em ponto morto, tendendo a bater na mesma tecla repetidas vezes, limitando-se ao mais estreito dos espectros, o que resulta em uma prática que perdeu o passo e é incapaz de tomar parte daquele que é, sem dúvida, o debate cultural mais vital e excitante do nosso tempo. acho que este é um momento muito triste – e uma grande oportunidade perdida para a criatividade literária revitalizar-se de maneiras que não se tenha imaginado.
A l ex An d r e vogle r - P i n t urA d e re toque M An h At tAn (2 0 0 5 ), guAche sob r e Puzzle
talvez uma razão para a escrita estar emperrada pode ser o modo como a escrita criativa é ensinada. em relação a muitas ideias sofisticadas sobre mídia, identidade e sampleagem desenvolvidas ao longo do século passado, os livros sobre como ser um escritor criativo perderam completamente o rumo, confiando em noções estereotipadas do que significa ser “criativo”. esses livros são temperados com conselhos do tipo “um escritor criativo é um explorador, um inovador. a escrita criativa permite-lhe traçar o seu próprio caminho e ir audaciosamente até onde ninguém jamais foi”. ou, ignorando gigantes como de certeau, cage e Warhol, sugerem que “a escrita criativa é a libertação das limitações impostas pela vida cotidiana”.1 no início do século 20, duchamp e o compositor erik satie manifestaram o desejo de viver sem memória. para eles, era uma maneira de estar atento para as maravilhas do dia a dia. no entanto, parece que cada livro sobre escrita criativa insiste em que “a memória é muitas vezes a principal fonte de experiência imaginativa”. acho as seções “como fazer” desses livros extremamente vulgares, coagindo-nos, em geral, a priorizar o dramático em detrimento do mundano, como base para nossos escritos: “usando o ponto de vista na primeira pessoa, explica-se como um homem de 55 anos se sente no dia do seu casamento. é o seu primeiro matrimônio”. prefiro as ideias de Gertrude stein, que, escrevendo na terceira pessoa, fala de sua insatisfação com esse tipo de técnicas: “ela experimentou de tudo na tentativa de descrever. tentou um pouco inventar palavras, mas logo desistiu. o inglês era o seu meio e, com a língua inglesa, a tarefa era para ser feita e o problema resolvido. o uso de palavras inventadas ofendeu-a, era uma fuga para o sentimentalismo imitativo”.2 (tradução: Giselle Beiguelman)
1. Laurie Rozakis, The Complete Idiot’s Guide to Creative Writing (New York: Alpha, 2004), p. 136. 2. Gertrude Stein, The Autobiography of Alice B. Toklas (New York: Vintage, 1990), p. 119.
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StillS do filme the CloCk (neSta página) e do vídeo de 1995 telephoneS (na página ao lado): o artiSta expandiu a prátiCa da Colagem e da juStapoSição de SonS para o mundo daS imagenS em movimento. em veneza, marClay lembrou andy Warhol e diSSe que o relógio teve SeuS 15 minutoS de fama
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A TRAJETÓRIA DE APROPRIAÇÕES E MIXAGENS DO PRECURSOR DOS DJS, ANTES DE SE TORNAR CELEBRIDADE INSTANTÂNEA NA BIENAL DE VENEZA ANGÉLICA DE MORAES
CHRISTIAN MARCLAY
Misturar e reaproveitar de modo criativo pedaços de criações alheias para fazer uma obra autoral é o que caracteriza o trabalho de Christian Marclay. Ele próprio é resultado de um sampleamento cultural: nascido em 1955, na Califórnia (EUA), de pais suíços, fez formação em artes em Genebra e Boston antes de se radicar em Nova York e, atualmente, passar parte do ano em Londres. Híbrido de artista visual e compositor, performer e DJ, ganhou o Leão de Ouro na 54ª Bienal de Veneza como melhor artista da mostra. A obra que exibe, The Clock (O Relógio, 2010), é uma colagem magistral de filmes de outros autores. O roteiro segue os ponteiros de muitos relógios ao longo de 24 horas e centenas de filmes, protagonizando cenas em que o tempo é aliado ou inimigo da ação. O tempo na tela e o tempo no relógio do espectador são idênticos, jogando-o numa vertigem de causar inveja aos pioneiros surrealistas. A memória do cinema foi assaltada de modo sedutor. Marclay é quase um Ladrão de Casaca, filme de Hitchcock que também está em The Clock. Para executar o assalto, o artista comandou seis assistentes em uma pesquisa de frames que envolveu desde o cinema mudo até séries de televisão, passando por clássicos de Hollywood. A junção criativa desses fragmentos deixa evidente que o artista definiu com precisão suíça o que queria fazer e significar. Não há uso gratuito da imagem. Ela sempre está a serviço de uma ideia que costura a trama e gira, como os ponteiros, em torno de nossas angústias com esse instrumento de medição e danação do cotidiano. Estudante do Massachusetts College of Art (Boston), no fim dos anos 1970, ia muito mais a clubes noturnos de punk rock do que a galerias e museus. Suas maiores influências eram John Cage e a música concreta. Amigo de Laurie Anderson, subiu ao palco pela primeira vez como integrante de uma banda liderada por John Zorn, no clube The Chandelier em Nova York.
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FOTOS: CHRISTIAN MARCLAY-CORTESIA GALERIA PAULA COOPER, NOVA YORK
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em recycled records (discos reciclados), série de 1981, o artista iNterferiu com estilete e cola Na superfície dos discos, criaNdo esculturas tocáveis (fotos à esquerda). lps de viNil são o material predileto também para iNstalações (fotos à direita), oNde o pé do visitaNte produz scratchs
No fim dos aNos 70, marclay realizou performaNces pioNeiras usaNdo toca-discos de viNil como guitarras, peNdurados do pescoço. simulava o braço da guitarra com o braço da agulha e fazia arraNhados e iNterferêNcias Na velocidade do disco. recursos soNoros que se traNsformariam em repertório dos dJs em todo o muNdo FOTOS: ChriSTian MarClay-COrTeSia Galeria Paula COOPer, nOva yOrk
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Nesta págiNa e ao lado, fotos da série de objetos/ colageNs body Mix, de 1991: os astros da Música david bowie e Michael jacksoN são retratados eM aNatoMias traNsgressivas e irôNicas, coMo mashups visuais. o MesMo acoNteceu coM a baNda fraNcesa les vierges e a aMericaNa Malachi
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ElE toca E grava com músicos do punk rock E da música ExpErimEntal, como William HookEr E otomo YosHiHidE. rEalizou projEtos musicais com intEgrantEs do sonic YoutH. para HomEnagEar o multiartista, o WHitnEY musEum fEz o fEstival cHristian marclaY, com três mEsEs dE programação musical, Em 2010 FOTO: ChrisTian MarClay-COrTesia Galeria Paula COOPer, nOva yOrk
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A reutilização de imagens ou objetos criados por outros é uma prática artística moderna que remonta ao readymade duchampiano e à fotomontagem dadaísta, mas chega a ser tão contemporânea quanto o fenômeno do Instagram na internet. Selecionamos quatro categorias de apropriação fotográfica que fazem jus à declaração do artista conceitual Allen Ruppersberg: “A cópia é verdade também” armando prado
apropriação a três por quatro
rosângela rennó A Série Vermelha (Militares) (2001-2003) tem como ponto de partida o retrato, mais especificamente o “retrato burguês”. As fotografias originais, encontradas em álbuns de família, apresentam homens e crianças vestindo uniformes militares. A intervenção da artista sobre essas imagens é cromática: o vermelho-sangue empurra as imagens para o limite da visibilidade. Rennó usa a apropriação fotográfica como gesto ético e político: reutilizar é seu posicionamento em relação ao excesso e à banalidade da imagem na contemporaneidade.
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carrie mae weems A série From Here I Saw What Happened and Cry (1995) assume um ponto de vista distanciado da história afro-americana. A artista norte-americana refotografa imagens existentes da Guerra Civil Americana e de movimentos pelos direitos civis. Seu objeto de apropriação – imagens de afrodescendentes que tiveram suas individualidades roubadas – é emoldurado e acompanhado de textos que evidenciam os estereótipos a que os retratados foram frequentemente reduzidos.
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richard prince Prince escolheu o ponto de vista publicitário para se expressar. Mas, em vez de fazer publicidade, decidiu refotografar alguns dos estereótipos máximos da cultura de massa americana. Enfermeiras, vaqueiros e ícones do entretenimento foram seus alvos. Uma fotografia da série Cowboys (1980-1984) – réplica de anúncio do Marlboro – atingiu o preço de US$ 1.240.000 em leilão na Sotheby’s. Ao desafiar o mito do Oeste, Prince desarticulou o mito do autor.
foto da foto
A apropriação – ou posse, em geral desautorizada, de imagens alheias – afirma-se como prática artística recorrente nos anos 1980. Nos EUA, Richard Prince e Sherrie Levine são dois dos mais célebres expoentes da apropriação, ao refotografar fotos existentes, deslocandoas de seu contexto original e questionando a noção de originalidade. No Brasil, o título é de Rosângela Rennó. Mas cabe à crítica francesa a origem teórica do conceito: são referências no assunto o texto “A Morte do Autor” (1969), de Roland Barthes, e o détournement de Guy Debord e os situacionistas franceses. À esquerda: Cortesia da artista; À direita: Cortesia JaCk shainman Gallery/ny e Cortesia GaGosian Gallery
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olhar de vidro O mapeamento do planeta pelo Google Street View e pelas câmeras dos satélites da Nasa é uma forma ultracontemporânea de vigilância. Esses olhos computadorizados que rompem os limites entre espaço público e privado agora estão sendo apropriados e manipulados em obras de artistas como Andreas Gursky e Michael Wolf.
michael wolf O projeto A Series of Unfortunate Events (2010), de Michael Wolf, é composto de quatro séries de fotos tiradas do Google Street View e causou polêmica ao receber menção honrosa do World Press Photo. “O trabalho é meu. Eu uso um tripé, monto a câmera e fotografo a realidade virtual que vejo na tela. Movo a câmera para fazer o corte exato e isso torna a foto minha. Não pertence ao Google”, afirma Wolf.
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AndreAs gursky Na maior parte de seus trabalhos, o alemão Andreas Gursky posiciona-se tão longe de seus temas que nunca toma parte na ação, mas permanece sempre como observador crítico da realidade. Dessa forma, Gursky nos coloca num ponto de vista epicamente distante. Essa experiência foi levada ao extremo em ensaio recente, Ocean II (2010), exposto na Gagosian Gallery, em Nova York, composto de imagens apropriadas de uma câmera de satélite da Nasa. À esquerda: Cortesia do artista; À direita: Cortesia GaGosian Gallery
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S u lta n & M a n d e l Em 1977, os artistas norteamericanos Larry Sultan e Mike Mandell lançaram o livro Evidence, no qual buscam demonstrar as similaridades entre os trabalhos de fotógrafos contemporâneos e de fotógrafos técnicos, funcionários de empresas estatais especializadas em pesquisas científicas.
fotografia técnica Os surrealistas se sentiram atraídos por diversas categorias de objetos do mundo. No texto Objeto, de 1938, André Breton e Paul Éluard categorizaram-nos como “objetos naturais, objetos perturbados, objetos encontrados, objetos involuntários, objetos matemáticos”. Entre esses últimos, destacam-se as fotografias técnicas e vernaculares, em que os surrealistas viam um link para o subconsciente. Man Ray, por exemplo, adorava o fotógrafo Atget, que na porta de seu ateliê tinha uma placa anunciando seu trabalho: “Documentos para artistas”. Imprimir ao estilo pessoal a frieza do olhar técnico é, desde o surrealismo, uma forma de apropriacionismo.
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J oa n F o n t c u b e r ta Na série Fauna (1988), o espanhol Joan Fontcuberta joga com as convenções da fotografia de exploração e da fotografia antropológica, construindo um arquivo de um cientista alemão fictício, Peter Amersen Haufen. Entre as imagens, espécies de morcegos gigantes e elefantes voadores, que teriam sido descobertos por Haufen. Em outra série, apresentada no Itaú Cultural, em 2010, Fontcuberta simula a existência de um astronauta russo que teria sido limado das fotos oficiais na época do regime soviético por supostas divergências ideológicas. À esquerda: ?????????? ; À direita: Cortesia do artista
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UsefUl PhotograPhy O coletivo holandês Useful Photography é formado por Hans Haarman, Claudie de Cleen e Julian Germain e edita seis revistas temáticas anuais, produzidas apenas com fotografias apropriadas. A premissa do Useful é tirar a fotografia do mundo real e apresentá-la fora de seu contexto, incitando-nos a olhar o que normalmente não percebemos.
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I n s tag r a m No início da primeira década dos 2000, o fotógrafo Thomas Ruff baixou fotos pornográficas da internet, aumentou sua granulação e demonstrou que elas poderiam se tornar mediação de uma nova forma estética. A experiência gerou o livro Nudes. Mas a internet está longe de ser território de especialista. Vide o Instagram, aplicativo de iPhone que funciona como uma rede social para fotógrafos, mas que já está virando um gênero. Existem, hoje, comunidades on-line totalmente dedicadas ao fenômeno. Mas as imagens geradas não são sempre apropriadas e muitas vezes substituem os flagrantes jornalísticos. Exemplos são as imagens recentes de brigas entre os torcedores de um time de hóquei e a polícia, em Vancouver, no Canadá.
AntiespeciAlistA
“Você aperta o botão, nós fazemos o resto”, dizia a publicidade das câmeras portáteis Kodak, quando chegaram ao mercado norte-americano, em 1891. Desde então, a fotografia amadora é o gênero que mais cresce. Hoje, com as facilidades digitais, seu destino são as redes sociais e sites como o Flickr e aplicativos como o Instagram. Mas o fenômeno da multiplicação instantânea dos álbuns de retratos atrai artistas desde os anos 1970, interessados nos valores estéticos contidos nessa fotografia não autoral. Naquela época, o fotógrafo William Eggleston tirava inspiração para seus trabalhos nas lojas One Hour Photo.
em sentido horário: AnA BeAtriz erlozA, ÉrikA GArrido e As demAis Filipe redondo
À esquerda: Cortesia useful PhotograPhy
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uma reaLidade FLuida, eXTremamenTe dinÂmiCa, Que Vai CresCer de FOrma eXpOnenCiaL, graÇas Às inÚmeras FOrmas de COLaBOraÇÃO Que surgem COm as nOVas TeCnOLOgias. essa É a VOCaÇÃO da eCOnOmia CriaTiVa
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Pa u l a a l z u G a r ay I l u s t r a ç õ e s G u to l ac a z
Se um elefante incomoda muita gente, doiS elefanteS incomodam muito maiS. com
essa sacada, 140 músicos de dez big bands paulistas uniram-se em um projeto colaborativo, o movimento elefantes, a fim de viabilizar a produção de um cd e um dVd. movidos por um princípio em comum, eles lançaram em junho um cd coletivo com tiragem de 2 mil cópias integralmente financiadas pelo público. o princípio é simples: quando a estrutura girava em torno das gravadoras, o artista que seguia outro caminho era considerado independente. mas esse termo perdeu a validade. Hoje eles se consideram músicos dependentes uns dos outros, dos parceiros e do público. Por que ninguém pensou nisso antes? no mesmo mês de junho, a banda de rock brasiliense móveis coloniais de acaju colocou R$ 30 mil no caixa para a viabilização do 12º festival móveis convida, evento criado para promover o intercâmbio entre as bandas do distrito federal, de outros estados e países. em 11 edições, o móveis convida já apresentou mais de 500 artistas. a contrapartida para seus investidores são cds, ingressos, camisetas, bonés ou até mesmo acesso vip para o backstage. estamos diante de artistas sem patrocina-
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uma agenda para as ideias dores, mas plenos de apoiadores e colaboradores, quase sempre conquistados em plataformas on-line de captação de recursos, ou crowdfunding – sites que funcionam como bolsas de ideias. entre eles, o catarse e o embolacha. a viabilização dos projetos dessas bandas dá-se a partir da percepção de que a economia mudou e com ela a forma de girar a roda. ao experimentar modelos de autogestão ou de gestão compartilhada, elas conseguem realizar o que antes da revolução digital não existia nem em sonho. Quantas pessoas não puderam realizar seus talentos porque não tiveram apoio? Pois agora elas reinventam suas maneiras de trabalhar. crowdfunding, The Hub, co-working e outras formas de compartilhamento de infraestruturas são indicativos de que vivemos um tempo de economia criativa, um conceito que nasceu em meados dos anos 1990, na austrália, a partir do reconhecimento da contribuição do trabalho criativo para a economia daquele país. a tal da economia criativa é algo que hoje brota espontaneamente em todo o planeta – sempre no contexto desses novos modelos de produção e distribuição –, mas que também pode ser semeado, regado e fomentado, como vem sendo feito no Reino unido, na china, na colômbia, no líbano e, agora, no Brasil, que acaba de conceber uma Secretaria de economia criativa dentro ministério da cultura. da moda à arquitetura, do circo aos games, do artesanato às nanotecnologias, do turismo ao entretenimento. Qualquer campo criativo que, mais que produtos, gere experiências entra no escopo da economia criativa. na prática, o conceito prevê o encontro entre campos culturais, a diluição de suas fronteiras e, em última instância, a ampliação do campo
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da cultura. “Economia Criativa é essa realidade fluida, extremamente dinâmica, com um potencial extraordinário, que vai crescer de forma exponencial graças às inúmeras possibilidades de colaboração que surgem pelas novas tecnologias”, diz Lala Deheinzelin, que há seis anos movimenta discussões sobre o tema e hoje assessora a Secretaria da Economia Criativa do MinC. Falamos de uma economia que não é produzida com matérias-primas tangíveis ou perecíveis, como petróleo, minerais, gás, mas com valores intangíveis, como conhecimento, criatividade, imaginação, inovação, experiências, valores – tudo aquilo que ainda não tem medidas de valor claras. “Além de serem abundantes, os recursos intangíveis são os únicos que se renovam e se multiplicam com o uso. Se você tem um ambiente criativo, você gera mais criatividade. Quanto mais conhecimento, mais conhecimento. É algo que se multiplica em progressão geométrica”, diz Deheinzelin. Cultura, vocações criativas, comércio, tecnologia e ferramentas participativas são competências que estão na agenda da nova pasta do governo. “O relatório da Conferência do Comércio e Desenvolvimento da ONU apresenta um quadro de crescimento da Economia Criativa em até 7% ao ano, em vários países. Como um país como o Brasil, com seu enorme insumo de criatividade, não aparece ainda nesses relatórios?”, questiona a socióloga Claudia Leitão, atual secretária de Economia Criativa. “Teremos no MinC, pela primeira vez, uma discussão sobre desenvolvimento por meio da arte e da cultura. A secretaria tem o papel de costurar, criar relações transversais. Penso em Edgar Morin, que diz que complexo não é difícil, complexo é o que é tecido junto.” A percepção de que vivemos uma cultura de transversalidades e a determinação em transformar a criatividade em recurso econômico são dois grandes ganhos desse novo pensamento que quer virar política pública. Não são novidade, mas valorizam algo que já ocorre informalmente há tempos no Brasil. O Móveis Coloniais de Acaju que o diga, pois há mais de uma década se autodefine como uma “banda-empresa”, que administra a própria carreira, gera seus recursos e produz seu próprio festival. Para isso, conta com um time de dez integrantes com competências múltiplas. “Todos nós temos formação superior e experiências variadas em outras áreas. Cada um traz para a banda a experiência de fora – o publicitário, o jornalista, o economista, os músicos, os designers, aquele que trabalhou com o pai em alguma outra coisa...”, conta Paulo
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Da MODa à aRQUITETURa, DO cIRcO aOs gaMEs, DO aRTEsanaTO às nanOTEcnOlOgIas, DO TURIsMO aO EnTRETEnIMEnTO. QUalQUER caMpO cRIaTIvO QUE, aléM DE pRODUTOs, gERE ExpERIêncIas, EnTRa nO EscOpO Da EcOnOMIa cRIaTIva. O cOncEITO pREvê a DIlUIçãO DE fROnTEIRas EnTRE caMpOs cUlTURaIs
Rogério, que toca sax tenor. A formação do Móveis é totalmente ilustrativa do perfil de um profissional de Economia Criativa. Um especialista nessa área pode entender de direito, comércio internacional, economia, cultura, política ou tecnologia da informação. Ainda não há um curso universitário no Brasil, mas já existem iniciativas pontuais que se dedicam a promover sinergias entre campos criativos, como a Escola São Paulo, criada, em 2006, como espaço para informação e discussão de temas contemporâneos. Em 2010, a escola incluiu formalmente o assunto Economia Criativa em sua programação, difundindo a considerável produção teórica e intelectual que se produz no Brasil sobre o tema, como o trabalho da economista Ana Carla Fonseca Reis, autora de livros como Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável (Manole, 2006), primeira obra brasileira sobre o tema e vencedora do Prêmio Jabuti 2007; e Economia Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma visão dos países em desenvolvimento (Itaú Cultural, 2008). “O futuro vai ter mais oportunidades para os profissionais ‘trans’, os híbridos. Os profissionais da Economia Criativa não têm uma definição única”, endossa Lala Deheinzelin. “O futuro vai ser ‘trans’. Tranversal, transetorial, transdisciplinar, sem fronteiras. Tomara que seja transparente também”, diz ela.
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Até onde vAi o direito de proteger A AutoriA e a divulgação de uma obra, seja
Dos abacaxis de Carmen Miranda à tatuagem tribal de Mike Tyson, o lado bizarro que resulta dos usos e abusos dos direitos de autor
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ela de alta voltagem intelectual, vinda da cultura de massa ou subproduto da fama volátil das celebridades? em que medida esses direitos podem ser dos seus legítimos herdeiros ou de pessoas acostumadas a criar dificuldades para vender facilidades? A fruição cultural deve sobrepor-se ou submeter-se ao direito patrimonial? do ponto de vista jurídico e cultural, esta é uma questão em aberto não só no Brasil, mas no mundo todo. Alguns fatos bizarros talvez nos ajudem a refletir sobre os rumos estranhos que por vezes a defesa autoral consegue trilhar. Caminhos que se embaralham na contemporaneidade, quando o acesso e a troca de informações ganham uma abertura e uma velocidade inéditas, colocando em xeque os limites entre direito público e direito privado. essas leis têm na origem a intenção justíssima de garantir ao autor o acesso aos lucros de sua atividade. tudo começa a enroscar quando esses direitos expandem suas margens ao infinito ou passam do titular para seus herdeiros e, nesse caminho, perde-se o bom senso para geri-los. é quando alguém resolve autonomear-se autor de algo de domínio público, como uma tatuagem tribal. ou quando fãs de Batman, que sonham com um Batmóvel na garagem, batem de frente com a administradora da franquia. Conheça aqui alguns casos de direito autoral que vêm causando espanto não só no mundo jurídico, mas também na mídia. Até que ponto os cuidados de alguns donos de espólios, como os da cantora Carmem Miranda ou dos escritores Manuel Bandeira e James Joyce, podem atrapalhar a publicação de livros de memórias e de importantes pesquisas científicas ou até mesmo simples, mas honestas, refeições servidas em um bar?
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RetRatos em PReto e BRaNCo A quem pertence a foto que você tirou abraçado ao seu amigo famoso, já falecido, e guarda na gaveta ou, mesmo, tem emoldurada na sala? Essa imagem é sua ou dos herdeiros do famoso? E quando são dois os famosos e um deles quer publicar em suas memórias a foto do outro? O bom senso indica que não há problema. Mas não é essa a situação que o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Ledo Ivo, vive atualmente. Amigo do poeta Manuel Bandeira (1886-1968), Ivo resolveu publicar no seu livro de memórias O Vento do Mar (Ed. Contracapa), em breve nas livrarias, algumas fotos que fizeram juntos. Para lembrar um convívio cultivado por mais de três décadas, desde os 19 anos de idade. Aos 87, Ivo confessa ainda estar presenciando absurdos. Entre outras coisas, que parentes distantes de Bandeira têm mais direito do que ele de publicar essas fotos. “Direito autoral no Brasil é um caos, uma maluquice. Meu advogado me aconselhou a não colocar essas fotos porque a família poderia apreender a edição do livro”, esbraveja Ivo. “Essa família aí nunca conviveu com Bandeira, são sobrinhos mais que distantes que nunca visitavam o tio. Bandeira não teve filhos e a única irmã também não. Ele deixou seus direitos autorais para uma namorada. Quando ela morreu, ficou essa confusão.” E pergunta: “Se Bandeira, em vida, não deixou direito autoral para a família, por que uma lei pode ser usada para garantir o contrário?” A pergunta fica no ar. O defensor dos direitos autorais da família Bandeira, Alexandre Teixeira, não respondeu aos telefonemas e e-mails de SeLecT.
Conhecido por mover estranhos processos por supostas quebras de direitos autorais, o detentor do espólio do escritor irlandês James Joyce e único herdeiro vivo, Stephen Joyce, nada fez no dia 16 de junho passado. Essa data assinala anualmente as comemorações do Bloomsday, o dia em que transcorre toda a ação do protagonista Leopold Bloom no livro Ulysses. A obra, um dos monumentos literários do século 20, motivou este ano uma homenagem inédita. Milhares de fãs publicaram no Twitter todas as frases do livro. Por incrível que pareça, o neto de Joyce não fez nada contra esses posts. Decidiu concentrar-se no ataque a John Craig Venter, cientista americano que trabalhou no Projeto Genoma e ajudou a mapear as características do DNA humano e de várias outras espécies. Venter, em março passado, foi impedido de concluir uma importante pesquisa genética. Desde 2008, desenvolvia o projeto de uma célula cujo genoma seria inteiramente sintético. Para isso, junto de seus colegas do J. Craig Venter Institute, decidiu dar vida a
À esquerda: acervo pessoal ledo ivo; À direita: fotomontagem estúdio select
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Batmóvel oficial e oficioso uma citação de James Joyce. Para criar esse código de DNA artificial, usaram a frase “To live, to err, to fall, to triumph, to recreate life out of life” (Viver, errar, cair, triunfar, recriar a vida fora da vida), presente no livro Retrato de um Artista Quando Jovem. A frase foi transformada em sequência genética, por meio de computação e da atribuição de uma letra a cada par de gens. O código, implantado em uma bactéria, passou a reproduzir outras células com essa marca literária. Mas a bela homenagem acabou em intimação oficial para suspender o projeto. O neto de Joyce move uma ação contra o cientista por quebra de direitos autorais. Há pouco tempo, ele também tentou barrar a publicação da biografia de sua mãe, Lucia Joyce. O livro só foi publicado após a biógrafa e professora universitária, Carol Schloss, pagar US$ 240 mil para ter o direito de escrever qualquer informação sobre a família Joyce.
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O Batmóvel, o famoso carro do Homem-Morcego, apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1941. Mas foi só em 1966 que saltou dos desenhos para as ruas cenográficas de Gotham City, quando um modelo real foi feito especialmente para o seriado televisivo. De lá para cá, o fabuloso bólido teve muitas atualizações. Tornou-se um fetiche não só para os fãs do super-herói, mas para os colecionadores de automóveis. Esses aficionados não poupam esforços para construir seus próprios modelos. Um desses admiradores é o mecânico Mark Towle, que fez seu Batmóvel inspirado no modelo de 1966, com o intuito de comercializar outras cópias. A DC Comics, editora responsável pela franquia Batman, não gostou da brincadeira e move processo contra Towle por quebra de direitos autorais. O processo foi aberto em maio deste ano e está no tribunal do estado da Califórnia. Isso aconteceu porque outro Mark, o mecânico americano Mark Racop, é o único que possui a licença oficial de fabricação do Batmóvel, concedida pela DC Comics. Se o leitor for tomado pelo irresistível desejo de ter um Batmóvel, pode encorajar-se na internet. Além do veículo fabricado por Towle, é possível encontrar outros fãs que construíram versões do carrão do morcego justiceiro. A Wikipedia tem as especificações para a construção tanto do modelo de 1966 quanto da versão de 1989, feita para o filme Batman Returns, dirigido por Tim Burton. Towle montou uma empresa, a Gotham Garage e, mesmo processado, ainda vende seus modelos. Com os Bat-opcionais, eles chegam a custar até US$ 5 mil. Uma pechincha perto do que o mecânico terá de gastar com despesas de advogado. Santa confusão, diria o menino prodígio.
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Whitmill considerou que a tatuagem usada pelo ator Ed Helms desrespeitava seus direitos autorais. Tyson teria concordado que Whitmill seria o proprietário dos direitos autorais dessa obra em sua pele, alegou o tatuador. Algo muito curioso, já que, segundo Whitmill, a tatuagem seria inspirada nos motivos tribais dos maori, aborígines da Nova Zelândia. Não se sabe de nenhum maori ter processado algum dos milhões de tatuadores que reproduzem esses desenhos mundo afora, há tempos. Desta vez, pelo menos, o bom senso venceu. Talvez porque jogasse ao lado dos estúdios Warner Bros., donos do filme. O processo foi julgado um dia antes da estreia e o filme faturou US$ 86 milhões só em sua primeira semana de exibição nos Estados Unidos. Já pensaram se os maori decidissem finalmente fazer valer seus direitos? Ganhariam uma boa bolada.
TaTuagem ancesTral com auToria? O tatuador americano S. Victor Whitmill quase impediu o lançamento do filme Se Beber Não Case, Parte II, continuação de uma franquia cinematográfica milionária. O ex-pugilista Mike Tyson, que possui uma tatuagem feita por Whitmill em seu rosto, participou do primeiro filme. Na continuação, é lembrado quando um dos personagens aparece com uma tatuagem igual ao do lutador. Isso foi o suficiente para o tatuador apresentar uma ordem judicial para impedir que o filme estreasse no dia 26 de maio.
o que que a baiana Tem (com isso)? O vatapá, o caruru e o mungunzá acabaram se tornando receitas indigestas para os proprietários do Bar São Cristovão, na Vila Madalena, em São Paulo. Em 2009, para homenagear o centenário de Carmem Miranda, o restaurante resolveu montar um cardápio que oferecesse todos esses pratos, cantados pela maior celebridade musical brasileira de todos os tempos. Os familiares de Carmem resolveram processar o bar
por quebra de direitos autorais e exigir uma indenização. A ação foi julgada em primeira instância em janeiro passado. A Justiça deu ganho de causa ao bar, acatando os argumentos do advogado Pedro Soutello Escobar de Andrade, que defendia o restaurante, de que não houve uso indevido do nome da artista. A família Miranda resolveu recorrer a uma segunda instância e a absurda novela jurídica continua. Alguém já ouviu falar de alguma baiana processar Carmem Miranda por cantar para o mundo as delícias de seus quitutes? A música O Canto do Pregoneiro (South American Way) foi composta em 1939 por Al Dubin e Jimmy Mchugh, com versos em português de Aloysio De Oliveira. O gostoso cardápio baiano citado por ele é herança das comidas de santo das religiões africanas enraizadas na cultura popular. Em momento algum poderia ser da famosa intérprete. Além de usar abacaxis em exóticos arranjos na cabeça, Miranda acabou espalhando involuntariamente muitos outros pelo caminho. Fotos: divulgação e Álbum/latinstock
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REMIXália -As vendas digit (por internet e celular) c milhões e meio de reais e m dois milhões e setecentos M DE CDs no Brasil caíram 1 unidades em 2006 para 2 5 em 2009. 44% dos interna mÚsicas protegidas pelo m Remixália
O músico Kassin, o empresário João Marcelo Bôscoli e o artista sonoro Panetone mostram que não há consenso sobre como os criadores e o mercado devem se orientar hoje entre downloads e patentes RamiRo Zwetsch
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igitais de música no Brasil r) cresceram 502%-de oito s e m 2006 para quarenta e tos MIL em 2009. As vendas m 18% -de 31, 4 milhões de 2 5, 7 milhões de unidades rnautas brasileiros baixam o menos uma vez ao mês
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Fontes: – Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD) e Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI)
Até MozArt reMixoU.
O compositor austríaco escreveu composições sob influência explícita das dinâmicas do colega também austríaco Joseph Haydn – que nunca se sentiu roubado, na verdade os dois até ficaram amigos. Num passado menos distante, na Jamaica dos anos 1960 e 1970, um mesmo registro instrumental servia de base para diferentes intérpretes cantarem letras e melodias distintas. O crédito? Ficava somente com os cantores e produtores, restando aos instrumentistas nada além do que o cachê acertado pela gravação. A disseminação do sampler como
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elemento musical indispensável à cultura hip-hop nos anos 1980, a proliferação dos inúmeros gêneros musicais eletrônicos e a revolução promovida pela internet colocaram em xeque o atual modelo da indústria fonográfica. Três figuras emblemáticas do cenário musical brasileiro, que transitam em frequências distintas no universo da criação sonora confrontam suas ideias e convicções. Com opiniões distintas sobre a necessidade do aparato industrial e direitos autorais, deixam claro um coisa: mp3, internet e samplers indicam que o mercado precisa remixar seus valores.
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No atual modelo da indústria fonográfica, quem é beneficiado e quem é prejudicado pela internet?
A indústria fonográfica tem alguma importância na difusão de sua música?
Todos se beneficiam da internet, qualquer meio de comunicação dessa dimensão é um grande incentivo à troca de informações e à cultura. Mudou o modelo de negócio e, como em todo processo de transição, existe um período de dúvida.
Quem vive de música vive da indústria, é uma ilusão achar que a falta de uma estrutura industrial é um benefício. O interessante do momento em que vivemos é a possibilidade de todos nós criarmos uma indústria forte e que não seja um filtro. Sou contra a ideia de extinção da indústria, acredito que a saída é haver tanto uma indústria fonográfica quanto cultural no Brasil. O modelo dessa indústria é o que deve ser discutido. Por isso sou a favor do direito do autor.
kassin O cantor, compositor, baixista, guitarrista e produtor musical Alexandre Kassin, 37 anos, é integrante da Orquestra Imperial e do grupo +2, este ao lado de Domenico Lancelotti e Moreno Veloso. Suas experimentações eletrônicas deram origem ao projeto Artificial, em que criou melodias a partir das batidas de um Game Boy.
João Marcello Bôscoli Fundou a Trama com os irmãos André e Claudio Szajman, em 1998 e ela tornou-se a maior gravadora independente do Brasil. A Trama Virtual, que divulga novas bandas nacionais, reúne hoje 75 mil artistas.
panetone Cristiano Rosa, 37 anos, é bacharel em letras, mas tornou-se conhecido por divulgar o Circuit Bending, uma prática de investigação em que o suporte pode ser qualquer dispositivo eletrônico. Ele define-se como um “colecionador de sons”.
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A internet só traz benefícios.
A música, na maior parte do século 20, foi ouvida de graça. As pessoas ouviam música no rádio, depois vieram as fitas cassete, que possibilitaram as cópias, é claro que em escala menor do que o mp3, mas já era possível copiar as faixas. O fato é que a internet é um grande difusor da música. A crise do CD não tem a ver com a rede. É um problema de gestão. A revolução digital permitiu que cada artista ou banda pudesse produzir e publicar sua música de maneira independente. E não estamos falando apenas da internet. Com um laptop é possível ter acesso a uma quantidade inimaginável de músicas. Hoje, produzir música ficou muito mais barato. Nos anos 1970, entrar em estúdio era muito mais difícil, não havia o acesso à tecnologia. Atualmente o artista, tem poder de publicar sua obra. Se estivéssemos em 1982, um artista não teria condições de gravar um disco sem passar por uma major.
Com todo o aparato digital ao qual os artistas têm acesso hoje, a produção musical pode ser desenvolvida independentemente das majors. Por outro lado, ainda hoje no Brasil as majors investem alto nos artistas. A Warner, por exemplo, grava discos o ano inteiro. As gravadoras têm uma grande parcela de contribuição na carreira dos artistas.
Acho que todos os artistas são beneficiados, porque, quanto mais pessoas eles atingem, mais pessoas vão aos seus shows. No Circuit Bending, a internet é importante na difusão dos projetos. Na prática não existem patentes ou direitos de autor, todos os projetos são de todos. Quando você encontra um projeto bacana, você é livre para fazer o que quiser com ele, inclusive vender o objeto final como sua obra. Nesse momento não existe mais o projeto eletrônico, e sim um objeto sonoro ou visual assinado por um artista.
Meu trabalho trata de objetos sonoros, e não exatamente de música. Nessa prática estou bem distante da indústria fonográfica. Eu construo objetos. Eles produzem sons e eu fico na tentativa de controlá-los por meio da corrente elétrica. Tudo é completamente instável e pode parar a qualquer momento. Algumas vezes meu trabalho é classificado como arte experimental ou áudioinstalação ao vivo.
A diferença agora é que elas não dominam o mercado Porque mudou o modelo de negócio, que era em cima das mídias físicas. É inegável que as gravadoras representam um investimento alto. A maioria dos grandes sucessos está nas majors.
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Se uma música sua for sampleada até ficar irreconhecível, você faria questão de receber direitos autorais?
qual é a importância do remix na história da música?
O sampler e o computador podem ser considerados instrumentos?
Quem compra ou baixa um CD pirata seu merece ser punido?
Acho que os diretos autorais deveriam prever uma forma de remuneração para cada sample. Por exemplo, eu fiz uma canção, mas ela foi produzida por outra pessoa , gravada por um técnico e tocada por um baterista. Se um artista “X” sampleia o baterista e quiser pagar, o autor ganha. Mas o baterista, o técnico e o produtor não ganham. Por quê?
A importância é imensa.
Tudo que gera som eu considero instrumento musical
Claro que não! Como em qualquer acordo, ninguém é culpado, somos todos parte. O governo poderia ajudar mais. Para fazer um CD somos taxados bem alto. Paralelamente existe o “incentivo”, empresas dedicam parte da sua tributação à cultura. Mas, quando eu vou trabalhar num disco incentivado, pago impostos. Qual é a ideia? Por que não é como o livro?
Quem publicou o primeiro livro com licença Creative Commons (licenças flexíveis para obras intelectuais) no Brasil foi a Trama. Para mim, se ficar irreconhecível, é outra coisa. Por exemplo, se um artista pega só uma virada de bateria e insere em outro contexto, vira outro produto. Muitas vezes, o próprio compositor libera aquele trecho. Isso foi feito à exaustão nos anos 80, quando o sampler ficou mais acessível.
Uma das origens do remix remonta às versões feitas especialmente para as pistas de dança, principalmente no período da disco music. Os DJs davam às faixas uma roupagem mais palatável, esticando o tempo da bateria, por exemplo. Mais tarde o remix virou uma forma de expressão. O artista reestrutura a música, acrescenta outros timbres, muda a estética.
Sim. Hoje você pode fazer o download de aplicativos para fazer remix. Se você pluga o iPod no laptop, você pode criar batidas, da mesma forma que os DJs criam sons a partir dos toca-discos.
Não, porque não considero o download uma atividade ilegal. Quando eu, você ou qualquer pessoa pega uma música, baixa da internet e manda para os amigos, isso é a música seguindo seu curso pela sociedade. Se gosta mesmo do artista, o fã vai ao show, compra o vinil, a camiseta, a caneca, o que for. Pirataria é quando alguém pega as músicas na rede ou copia o CD e põe para vender. Ficar com o dinheiro é roubo.
O remix mudou a cultura popular gerou uma forma completamente nova de arranjo.
O Hermeto Pascoal faz música com um balde de águA
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Tem gente que toca serrote. Qualquer objeto pode virar um instrumento musical.
Algumas vezes, um sample cai muito melhor que o original. Posso citar o caso de um sample de 6 segundos da banda Amen Brothers, que se tornou Amen Breaks, um riff de quase todas as músicas do gênero jungle e drum and bass. Esse sample ainda hoje é vendido pela indústria fonográfica em CDs para produtores.
Vejo no remix um conceito de interpretação Sempre dá uma nova cor para a música e com isso faz o ouvinte, muitas vezes, ir atrás da versão original.
Sim. Se voltarmos no tempo, podemos comprovar. Artistas como Karlheinz Stockhausen, Luigi Nono, John Cage, entre outros, utilizavam gravadores de rolo em suas composições.
Não
À direita: Leonardo aversa - agência o gLobo; À esquerda: PauLo FehLauer - FoLhaPress e divuLgação
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A internet é a nova rota para a calçada da fama. Tudo que estava relegado às margens da televisão, um dia poder absolutista da mídia, surge pela luz dos monitores de centenas de milhões de computadores. No mundo do YouTube, qualquer um pode ser catapultado por um simples upload. Lá, os imitadores que antes povoavam o reino da TV como covers criam um novo jeito de aparecer, tornando-se verdadeiros clones. Sim, os programas de auditório televisivos continuam existindo, mas os reis da televisão não são mais as únicas autoridades no jogo dos holofotes que determina a projeção dos ídolos pop. É a internet, com seus memes e virais, que dita boa parte das atrações desses programas. Conheça três histórias de sucesso da emergente era das clonebridades:
No reino das
Madonnas, Ladies Gagas e Beyoncés da internet dão novo sentido ao mundo das paródias, imitações e covers
NINA GAZIRE
Era uma vez... Um lugar muito distante, onde se tornar famoso era muito difícil. No reino da televisão, Chacrinha era o rei dos auditórios e anunciava duas possibilidades para se chegar aos 15 minutos de fama: “Vai para o trono ou não vai?” E quem nunca quis ser Madonna que atire o controle remoto pela janela! Em 1995, a mineira Gizele Silveira, então com 9 anos e vivendo em Vitória, no Espírito Santo, assistiu a uma reportagem no programa Fantástico, da Rede Globo, que mudou sua vida para sempre. O assunto era Madonna e seu disco Bedtime Stories. Gizele ficou fascinada e decidiu inspirar-se na cantora para vencer uma doença que a impedia de andar. “Quando assisti à reportagem, senti vontade de ser como ela e isso me deu forças para melhorar”, conta. Sem falar inglês, começou a adaptar melodias de músicas como Papa Don’t Preach e Like a Virgin para letras em português como forma de terapia. Em 2002, seu ex-professor de inglês resolveu jogar na rede um CD com as versões em português que ela fizera. Rapidamente as músicas se espalharam pelas caixas de e-mails e comunidades virtuais. A fama chegou quando já era adolescente e estava recuperada da doença. Gizele ficou então conhecida como a Madonninha Capixaba, fez shows e apareceu em programas de auditório. Hoje, vive e trabalha no Rio de Janeiro, mas garante que já está longe do personagem que criou. “As pessoas me chamam para cantar, mas eu não faço mais isso. Foi tudo brincadeira”, jura. FOTO: CAROLINA KUNH
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A rainha dos clones Uma rainha dá à luz seus clones monstruosos como se fosse a líder de uma colônia de insetos. Seus filhos serão eternos devedores de uma genitora que mantém sua soberania no império do entretenimento. Tudo graças à era dos remixes e apropriações artísticas tão infinitas quanto sua própria prole. Pelo menos é essa a história que Lady Gaga parece nos contar no videoclipe da música Born This Way, que tem roteiro assinado por ela mesma. Lady Grávida, Lady Gagita e Lady Goga são alguns de seus clones que encontramos no YouTube. Entre os exemplos brasileiros mais famosos está a paródia criada por um grupo de estudantes da faculdade ESPM de Porto Alegre. Em junho de 2010, eles fizeram um trabalho para uma disciplina que tinha como meta a criação de um vídeo viral na internet. Porto Alegre É Demais, nome do projeto, pretendia ser uma propaganda de divulgação das atrações turísticas da capital gaúcha. A personagem principal da campanha era Lady Gagaúcha, interpretada pela estudante Carolina Kuhn. Vestida como Lady Gaga, ela dublava a música Porto Alegre É Demais, da compositora Isabela Fogaça, que teve a letra adaptada para a melodia de Bad Romance, hit da rainha dos clones. Além de criar o vídeo, os alunos mantiveram a personagem ativa através de um blog, no Twitter e no Facebook. “As pessoas começaram a achar que eu era cover da Lady Gaga. Me chamavam para ir a programas de televisão, mas nem cantora sou”, relembra Kuhn, que dublou uma cantora profissional especialmente contratada para interpretar o jingle. A estudante, que está terminando o curso de publicidade, jura que nunca quis ser famosa. “Só topei fazer o personagem porque eu estava loira e a Lady Gaga, também.” Diferentemente de Carolina, a bailarina Bia Motta, uma das modelos que estampam a capa de Select, resolveu fazer da semelhança física com Lady Gaga o seu ganha-pão. Ao realizar uma performance em uma festa, um agente de modelos notou sua semelhança e a convidou para fazer uma imitação de Lady Gaga em um evento. “Desde então, já perdi a conta de quantos trabalhos tenho feito imitando a Lady Gaga”, diz Bia, que também trabalha como professora de dança.
Lady Grávida, Lady Gagita e Lady Goga são alguns dos clones de Lady Gaga que estão no Youtube
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O tecnobrega na guerra dos clones
A m o d e lo B i A mot tA j á p e r d e u A co n tA d e quA n tos t rA BAl h os f e z co m o clo n e d e l Ady GAGA
A cantora Gaby Amarantos, musa do tecnobrega, nunca quis ser a Beyoncé do Pará. Mas uma força maior do que ela mesma a empurrou para esse destino. Tudo começou no festival pernambucano Rec Beat, em fevereiro de 2010. Em seu show, Gaby vestia uma roupa parecida com a da cantora americana. Por um problema com o instrumento de seu tecladista, decidiu cantar uma versão do hit Single Ladies em português, chamado Hoje Eu Tô Solteira, já conhecido pela interpretação do grupo Aviões do Forró. “Na
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Ga by ama ra n tos - ra in h a do tec n o breGa ( à esq. ) ta mbé m co n h ec ida co mo beyo n c é do pa rá, diz qu es ua rede so c ia l preferida é o t wit t er, o n de possu i ma is de 7 mil seGu ido res. no you t u be, seu vídeo de a pa riç ão n o pro G ra ma do min G ão do fau st ão t em 66 mil visua l iz a ç õ es
G iz el e silveira - m a do n n in h a ca pixa ba ( à dir. ) no o rku t, possu i u ma co mu n ida de co m 900 fãs. o vídeo de u ma a presen ta ç ão sua ca n ta n do co mo uma virG em ( l ike a virG in ) em u m c lu be t em 36 mil visua l iz a ç õ es n o you t u be
ca ro l in a ku h n - la dy GaGa ú c h a ( n o a lto) na é po ca da c ria ç ão do perso n aG em, em 2 01 0, fo ra m at iva dos perfis n o t wit t er, n o fac ebo o k e u m blo G , qu e h oj e est ão fo ra de at ivida de. n o t wit t er el a t em 600 seG u ido res. no you t u be, o vídeo p o rto a l eG re é dema is t em 1 00 mil visua l iz a ç õ es
plateia tinha um produtor do Faustão que vendeu a ideia de uma apresentação para o programa, como se eu fosse uma Beyoncé do Pará”, diz Amarantos, que já possuía uma sólida carreira de 15 anos. Além disso, seus vídeos interpretando a música tornaram-se virais assistidos por milhares no YouTube e esse fato coincidiu com a sua aparição em programas de TVs “Quando apareci para me apresentar nos programas de TV, as pessoas achavam que eu era um mero cover, mas, quando conheciam meu trabalho anterior, ficavam surpresas”, conta. Hoje Gaby Amarantos é famosa fora do circuito brega de Belém do Pará e há um tempo sua imagem está desvinculada da de Beyoncé. “Foi minha oportuni-
dade quando topei me apresentar as primeiras vezes como se fosse uma Beyoncé brasileira”, explica. Já sobre a comparação com estrelas internacionais, ela afirma que é um hábito meio equivocado. “A gente olha o figurino da Lady Gaga ou da Beyoncé e pensa, a gente já tem o Ney Matogrosso, mas prevalece a referência de fora.” Além de ser uma militante da música paraense, Gaby reforça a importância da cultura digital em sua produção. “O tecnobrega deve a sua construção aos meios digitais, às cópias, aos remixes e samplers. Não importa se sou Beyoncé ou Lady Gaga. O negócio é que qualquer mistura aqui é bem-vinda”, diz a cantora, para quem a originalidade também é feita de cópias bem elaboradas.
à esquerda: Gaio Hernandes; à direita: Carolina KuHn, aldriGe neto e Gizelle silveira
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perfil
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Em janeiro de 2012, o artista Nelson Leirner completa 80 anos, 50 deles dedicados à desmitificação da obra única Pa u l a a l z u g a r ay
quero ser NelsoN leirNer
• La Gioconda, produzi mais de 60 delas. • Sempre tento fazer uma síntese, mas nunca consigo parar. Sempre vem alguma coisa que me leva a fazer outra e a síntese nunca surge.
Volto e continuo trabalhando. • De repente, o Hobby pode ser um final, uma síntese. O Hobby é uma nova instalação que será mostrada na retrospectiva da Galeria do
Sesi, feita a partir de uma coleção de trabalhinhos que eu fazia e dava para a Liliana, minha mulher. • Não quero ser um Andy Warhol da arte. Porque o número de trabalhos que eu fiz já é tão grande... que, de repente, você já se sente assim
um Andy Warhol. • A mostra Quero Ser Nelson Leirner (Casa da Xiclet, 2002) foi uma das maiores emoções que tive. Eu me tornei um trabalho naquele
momento. Se eu fosse receber uma medalha de honra ao mérito no palácio do governo, não ficaria tão emocionado nem tão eufórico, como me marcou essa homenagem da Xiclet. • Os outros artistas dentro de mim? Todos. Vou fazer uma exposição em Miami, no dia 12 de novembro, que eu chamo Who is Who. Trabalho em cima do Monet, do Beuys, do Andy Warhol, do Picasso, e, lógico, do Duchamp. Em cima do Leonardo da Vinci, do Damien Hisrt, do Jeff Koons. É quase um “Adivinhe se puder”. • Nunca copiei outro artista. Me aproprio do conceito. • Já fui copiado e apropriado. Homenagem a Fontana foi copiado, vieram até me mostrar, queriam saber o que eu achava da cópia da cópia. • Tudo o que eu vier a fazer vai ser contestador. Isso é um estigma que não sai mais. Não adianta. • Sou acomodado. Muita gente enxerga mudanças no meu trabalho, mas eu não vejo. Não sou contestador. Arte pra mim é obsessão. • No meu trabalho, continuo sendo um colecionador. Ter um olhar consumista me dá satisfação. • Eu usava muito camelô, loja de museu. O Saara, a 25 de Março, a Liberdade, a Rua Augusta, bancas de jornal. De vez em quando, fico mais sofisticado, vou a lojas de design. • Tudo o que eu uso é pirataria. Meu trabalho com adesivos deveria se chamar “China mon amour”. • É paradoxal que os stickers virem trabalhos únicos, originais. Meus mapas com adesivos são os trabalhos mais procurados, porque ainda há o fetiche da manualidade no gesto de colar os stickers. Meu galerista de Paris disse que o interesse pela fotografia está decaindo. • Não coleciono nada que não vire obra de arte. Mas é isso que estou procurando. Preciso colecionar alguma coisa e parar de fazer arte. Penso muito, mas não consigo encontrar alguma coisa pra fazer. O que vou colecionar? Borboleta? Fósforo? Canecas? • Os patuás são um ritual. Todo dia 31 de dezembro, à meia-noite, troco de colar. Ao longo do ano, vou juntando as peças. Tem de ter sempre um apito, um São Jorge (sou da confraria de São Jorge), uma estrela de Davi, uma figa, um espelho pra rebater (porque ele é muito olhado). Tem de ter sempre algo em relação ao meu cachorro, o Dog, tem de ter sempre algo ligado ao cristianismo, à cruz. Tem de ter algo daquela Maria Silenciosa, da Rue du Bac, de Paris. O resto são presentes, um Mickey da Disney... Às vezes, quando chega outubro, o colar está tão carregado de energia que o espelho explode. • Havia um valor afetivo em coisas que eu fazia. Eu gostava muito de fazer cartões de Natal. Mandava para uns 120 amigos. Enchia de selinhos, de bananas... Tinha gente que colecionava, colocava na parede, em quadrinhos... Hoje, vejo meus cartões em leilões. R$ 5 mil o lance inicial de um cartão de Natal. Meus presentes, todos no moldureiro. Passei a mandar por e-mail. • A série Sotheby’s é a mais procurada. É o best seller. Adorei quando a própria Sotheby’s vendeu um catálogo Sotheby’s. Tenho o catálogo em que esse trabalho estava sendo vendido. Essas são as coisas que realmente me divertem e gratificam. • Um problema não solucionado: Encontrar um hobby. foto: juan esteves
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E m sE t Em b ro, LEirnEr gan h a u m a r E t rospEct i va n a ga L E r i a do sEsi , E m s 達 o pau Lo, co m cu rado r i a dE ag n aL do Far i as . n a m ost ra , o b ras dos an os 1 9 6 0 a 201 1
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COISAS PARA SABER SOBRE
LEIRNER
A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA Os trabalhos de Homenagem a Fontana (1967), que nasceram como objetos seriados de baixo custo, tornaram-se hoje os mais caros de Nelson Leirner. Cada um está cotado em US$ 120 mil. Esses objetos de lona e zíper são importantes porque demarcam o momento em que o artista se desliga do objeto único.
RITUAIS O uso dos patuás começou como um gesto exibicionista e logo se tornou fetichista.
CIDADE MARAVILHOSA APROPRIAÇÕES É o primeiro artista brasileiro a sistematizar seu trabalho sobre a prática de apropriações de objetos cotidianos. Seu primeiro gesto nesse sentido é a série Apropriações, de 1962, que consiste em assemblages de objetos recolhidos em caminhadas pela cidade. Nesse mesmo ano, a alguns milhares de quilômetros daqui, Andy Warhol começava seu primeiro trabalho em série, com a apropriação da imagem da lata de sopa Campbell’s.
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É DANDO QUE SE RECEBE
CONTRA O PODER
A busca de alternativas para o mercado de arte leva-o a criar, com Geraldo de Barros e Wesley Duke Lee, a Rex Gallery & Sons, em São Paulo, em 1966. Dedicada à pesquisa do happening, a galeria dura um ano. Seu fechamento é marcado por um ato antimercado em grande estilo: todos os objetos expostos foram doados aos visitantes. Em cinco minutos, não sobrou um objeto ou quadro na parede.
A primeira paródia da Monalisa é de 1965, e consistiu numa assemblage que ligava a cabeça de um macaco à lâmina de uma enxada. O artista lembra que, na época da ditadura, os militares eram chamados de macacos.
Em 1995, troca São Paulo pelo Rio de Janeiro e se instala no bairro da Gávea, região conhecida como Sovaco do Cristo. De braços abertos e tolerante a todas as crenças, estatuetas do Cristo Redentor povoam suas instalações ao lado de Mickey Mouses, Davis de Michelangelo e Pombajiras.
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BANQUETE A primeira série de sucesso comercial foi Santa Ceia, exposta na Galeria Luisa Strina, em 1994.
BEST SELLER
CAMINANTE NO HAY CAMINO É, desde sempre, um andarilho. Se, no começo da carreira, catava lixo na rua, a partir dos anos 1990 começa a frequentar feiras livres e mercados populares, à cata de santos, pinguins de geladeira, anões de jardim, stickers made in China e toda classe de bugigangas para compor instalações, como Futebol (2000), A Grande Parada (1999) e Missa Móvel (2000).
A série Sotheby’s, intervenções em capas de catálogos da famosa casa de leilões, é hoje a mais procurada pelos colecionadores.
AO MESTRE COM CARINHO Durante 28 anos, Nelson Leirner deu aula na Faap, em São Paulo, e formou três gerações de artistas. Decidiu parar quando percebeu que só ele envelhecia e os alunos, não.
PADRINHOS Interessado em artes visuais desde a leitura de um livro de Paul Klee, em 1953. No entanto, elegeu como padrinho Marcel Duchamp, de quem herda o iconoclasmo e a crítica ao sistema de arte. Em homenagem a Duchamp, fez trabalhos em comentário à Roda de Bicicleta (1913), como a bicicleta que traz acoplado um painel publicitário, e à Fonte (1917), instalação em que transforma oratórios em mictórios.
O ANTICRÍTICO O happening mais célebre foi o envio de um porco empalhado para o 4o Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, em 1967. Diante da aceitação da “obra”, Nelson Leirner escreve uma carta aos membros do júri questionando os critérios que os levaram a aceitar o trabalho. Entre eles, figuravam os críticos Walter Zanini, Frederico Morais e Mário Pedrosa.
DE FRENTE PARA O GOL Gosta de todos os esportes e jogos. Pôquer principalmente. É corintiano, dedicou muitos trabalhos ao time de futebol. Nos anos 1960, ia frequentemente ao estádio com o amigo Geraldo de Barros.
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J U L I A N A M O N AC H E S I
NUVE M (2 008 ), INSTALA Ç Ã O D E HE NRI QUE OLIV EIRA COM COLCHÕES E T RAV ESSEIROS D ESCARTAD OS A PÓS O F URACÃO KATRINA , AP RES E NTADA NO CONT E M P ORARY ARTS CE NT E R, E M NEW ORLEANS
HENRIQUE OLIVEIRA, FELIPE BARBOSA, FRANKLIN CASSARO E MONICA TINOCO TRABALHAM COM MATERIAIS DESCARTADOS PARA REFLETIR SOBRE UMA SOCIEDADE ENTULHADA DE CONSUMISMO
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ARTE RECICLOIDE O que os artistas do século 21 mais fazem desde que o maneirismo pós-moderno ficou para trás, nos anos 1990, é repensar a apropriação, a colagem, a coleção e o arquivo. Tomemos emprestado o neologismo recicloide, do artista carioca Franklin Cassaro, para tratar da criação contemporânea que tem como modus operandi a reutilização cíclica de matéria-prima, tanto material quanto simbolicamente. Também poderíamos adotar a máxima da crítica Jori Finkel, da revista ArtNews, que cunhou a expressão “geração Merzbau”, em referência à obra maior de Kurt Schwitters, para designar artistas que despontaram na virada do milênio e vêm se dedicando ao reaproveitamento de materiais. Muitas vezes a opção por trabalhar com o lixo, seja ele industrial, caseiro ou da sociedade de consumo, coincide com uma atitude política. Foi emblemática a escolha de materiais de Henrique Oliveira, quando convidado para participar de uma exposição em New Orleans (EUA), três anos depois do desastre provocado pelo furacão Katrina. Em vez de criar uma instalação com tapumes, sua marca registrada, Oliveira decidiu utilizar restos de colchões, travesseiros e cobertores que a avassaladora tempestade deixou pelo caminho. A obra Nuvem, de 2008, foi exibida suspensa, na entrada do Contemporary Arts Center, espelhando
a problemática maior da cidade: a falta de moradia. Massimiliano Gioni, curador-chefe do New Museum, de Nova York, e um dos observadores mais lúcidos da arte contemporânea, destacou que a arte deste século recupera a tradição da assemblage e a agilidade da colagem para “anexar o mundo inteiro ao seu corpo”, reunindo material encontrado, objetos, imagens de segunda mão ou, para dizer claramente, lixo. “É uma arte de contingência que traça nova linhagem na qual o pauperismo da arte povera é redescoberto, mas sintonizado a uma sociedade que está longe da pobreza. O trabalho de muitos artistas no início deste século retrata uma sociedade que está sufocando tão dramaticamente sob o peso do lixo tóxico que é forçada a transformar o lixo em uma forma de arte”, escreveu Gioni. Uma sociedade rica é o que transparece na obra de Felipe Barbosa. Ele faz colagem e apropriação, construindo suas esculturas pelo agrupamento de objetos idênticos ou semelhantes: um bicho de pelúcia recoberto de bombinhas coloridas, uma mesa de bilhar com pernas de bolas, figuras geométricas compostas de esquadros ou guarda-chuvas meticulosamente encaixados, enormes animais de plástico feitos de pequenos bichos infláveis. “Quando utilizo materiais ou objetos comuns, estou interessado na carga de significados que eles já carregam. Procuro FOTO: DIVULGAÇÃO
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alterá-los o mínimo possível, para que fique clara sua origem e para que o espectador possa emprestar à leitura da obra o seu conhecimento prévio sobre aquele material”, diz Felipe Barbosa. Trata-se de uma inversão radical da prática apropriacionista. Em vez de deslocar o sentido dos materiais para a esfera da arte, Barbosa, evidencia a natureza banal deles. “Algumas pessoas se dizem satisfeitas porque eu reutilizo coisas, diminuindo o descarte no já sobrecarregado meio ambiente, mas a minha motivação não é essa.” Em série exposta na Galeria Baró, em julho, em São Paulo, o princípio construtivo de não camuflar os materiais mostra-se mais depurado. As obras são feitas com cédulas de real picotadas. O artista conta que decidiu fazer uma instalação em que todos os elementos fossem compostos de uma massa de dinheiro. “Seria algo como o dinheiro se materializando em tudo. Para isso, procurei o Banco Central, pois era importante ter notas verdadeiras. As cédulas são fruto de roubos a banco. Apesar do volume pequeno em material, os valores são impressionantes. Segundo o Banco Central, eles já me deram mais de R$ 3 milhões! Em notas picadas, infelizmente”, comenta rindo.
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Fel ipe Ba rB osa – Mat eM át ica iMperF eita , o Bj etos revest idos co M din h eiro co rta do ; a Ba ixo : Fra n kl in cassa ro – Fa l sa co ra l verda deira (2 01 1 ) , Fo l h a de a lu Mín io co lo rido
Outras reciclagens Franklin Cassaro fez a opção de utilizar materiais pouco convencionais no universo da escultura, como jornal, tampas de metal, borracha e papel-alumínio. “Comecei a trabalhar com o meu lixo pessoal para dar mais uma chance de vida para materiais tão ou até mais interessantes do que os vendidos em lojas especializadas em materiais para escultura. Chamo isso de Outraciclagem Escultórica.” Há mais de dez anos o artista desenvolve uma investigação sobre os desdobramentos possíveis do neoconcretismo, a que ele dá o nome de bioconcretismo. Tão afeito às metáforas biológicas, Cassaro não considera o preconceito com arte ecológica um problema. “Tenho um trabalho chamado Cardume, em que dezenas de sacolas plásticas transparentes ficam voando soltas numa sala, estimuladas por circuladores de ar. Agora estou pensando em usar sacolas plásticas de supermercado, pois logo elas entrarão em extinção. Geralmente, arte é desperdício e tento desperdiçar pouco para realizar o meu trabalho”, afirma. Na última exposição individual que fez na Galeria Artur Fidalgo, no Rio de Janeiro, Cassaro apresentou seres híbridos, meio mitológicos, meio mutantes, para desconstruir paradigmas que vão da robótica à engenharia genética. “A Inclusão Robótica Social e a Outraciclagem Escultórica foram misturadas à toy art para que eu pudesse expressar algumas questões pessoais com um toque de humor”, explica. Mulher Mantis (2011), por exemplo, integra uma série de recicloides fêmeas que devoram ou representam ameaça ao macho assim que a cópula termina e a reprodução da espécie está assegurada, como acontece com os mantis (o inseto louva-a-deus, em francês). “No momento, estou trabalhando também na ideia de um bonsai bioconcreto, misturando alumínio colorido das embalagens de bombom com gesso ortodôntico cor-de-rosa”, antecipa Cassaro. Para a artista paulistana Monica Tinoco, é impossível criar uma nova imagem partindo do zero. “Cada imagem é ressignificação ou recombinção de imagens preexistentes na memória ou no imaginário, seja pessoal ou coletivo. Em geral, produzimos imagens para um uso específico, seja para eternizar, relembrar ou reviver, seja para vender um produto, ideia ou serviço. As imagens boas nós colocamos em porta-retratos, álbuns, publicações e no Facebook. O que fazemos com todas as outras que não ficaram boas?”
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O reaproveitamento criativo de material analógico descartado por fotógrafos profissionais é o que embasa uma série de fotografias que Tinoco vem desenvolvendo há três anos. “Separo as imagens por temas e assuntos: moda, arquitetura, retrato, paisagem. Dentro de cada tema, faço subdivisões. Utilizo fotografias impressas, negativos fotográficos e slides. Seleciono os elementos que me interessam na imagem contida nesses objetos e recorto. Reúno e reorganizo isso de maneira aparentemente aleatória, mas até formalista, porque me preocupo com forma e cor”, explica. As colagens realizadas a partir de negativos e slides têm de passar por novos processos fotográficos para serem apreendidas no que a artista chama de “visualidade máxima”. Impressão cromogênica em negativo (C-print e fotograma) ou impressão em positivo Cibacrome são as soluções analógicas por que passam as colagens em sua última etapa de mediação. A obra final é uma espécie de metafotografia, porque as imagens iniciais são processadas de várias maneiras e o conteúdo inicial sofre inúmeros processos de abstração. O resultado é uma imagem construída e ficcional, que dá nova significação ao termo criatividade. MO N ICA T IN O CO – S E M T Í T U LO (20 0 8) , CI BACRO M E
OBRAS CONTRASTAM COM ESCALA HERÓICA E ASSERTIVIDADE DO MODERNISMO SÉCULO 20 - Monumentalidade
SÉCULO 21 - Não-monumentalidade
Louise Bourgeois - Maman (1999), em frente à National Gallery do Canadá
Franklin Cassaro - Viúva Negra (2011), no ateliê do artista
Obra em grandes dimensões, de escala heróica e proporção urbana
Obra em pequenas dimensões, de escala intimista, que toma como referência o corpo
Material perene: é de bronze e mede 10 metros
Material precário: é de folha de alumínio e tem 27,5 cm de altura
Assertividade : grandes e permanentes afirmações sobre a vida e a arte
Dúvida: as afirmações são, quando muito, provisórias
À ESQUERDA: MIDORI DE LUCCA - CORTESIA GALERIA BARÓ, MARCIA KRANZ - CORTESIA GALERIA ARTUR FIDALGO; À DIREITA: DIVULGAÇÃO
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Com produção publicitária impecável, falsificações de artigos de luxo ganham status de legítimos objetos de consumo de alto padrão. As fotografias da série O Que Te Seduz, de Felipe Cama, se completam com a leitura do pequeno recibo ao lado de cada imagem. O observador tende a ver nas imagens de produtos falsificados as emanações do referente autêntico. fotos encomendadas por felipe cama ao fotógrafo publicitário rogério miranda
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O QUETE SEDUZ? moda
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A convite da Select, Felipe Cama retoma a série O Que Te Seduz, em editorial de moda feito inteiramente com artigos de camelô. O artista mostra que a fotografia não é, em si, real ou enganosa. Ela só pode ser entendida no jogo entre a pretensão da foto à transparência e o desejo do observador por este estatuto Fotos Pa u lo Va i n e R , styling C i R o M i D e n a
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TE Z? Moda de camelo_RF.indd 87
Legging R$ 22, do Largo da Conc贸rdia, vestido R$ 50, do Largo de Pinheiros, blazer R$ 45, da feira da madrugada no Br谩s, sapato R$ 180, da Galeria do Rock
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Calça preta, R$ 60, da feira da madrugada no Brás, blazer, R$ 60, e camisa, R$ 35, da Ladeira General Carneiro, brinco, R$ 9,99, de camelô da Rua 25 de Março.
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Vestido, R$ 50, e legging R$ 22, da Ladeira General Carneiro, no centro de SP, e brinco, R$ 9,99, de camel么 da Rua 25 de Mar莽o
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À esquerda: maiô R$ 20 e blazer R$ 80, dos camelôs do largo da Concordia, cinto R$ 18, da rua barão de duprat, meia cano curto tri -fil, R$ 12, Nesta página: calça preta R$ 60, da feira da madrugada no Bras, blazer R$ 60, e camisa R$ 35, da galeria na ladeira General Osorio, brinco R$ 9.99 de camelo da 25 de março
Créditos da equipe Modelo: Letícia Lembe (Joy Model) Beleza: Eliezer Lopes (Capa MGT) Assistente de beleza: Adal Alves Assistente de moda: Carolina Barbieri Assistente de fotografia: Pedro Nasser e Luciana Izuka Tratamento de imagem: Leandro Galan
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Heróis da resistência? Criações perfeitas e irretocáveis? Existem objetos tão bem bolados que nunca conseguiram ser substituídos. Relógio bom tem ponteiros e números, mulheres ficam muito mais bonitas quando estão de salto alto. Viva os insuperáveis! Fotos D i m i t r i L e e , direção r i C A r D O VA N S t e e N
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À esquerda, sapatos de couro preto com tachas de Christian Louboutin, salto 16. Tecido de fundo: coleção Chenille Medalhões. De algodão – desenho exclusivo da Again. Nesta página, facas Laguiole com cabo de madeira e lâmina de aço inox.
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Produção de objetos Tatiana Stepanenko Fundos de tecidos revestidos Helena Magano Encadernação e Restauração Coleção de ninhos Bia Pessoa Adereços Teresa Barros Agradecimentos Again Tecidos Boutique Chanel, Shopping Iguatemi Christian Louboutin, Shopping Iguatemi Cartier Joalheria Empório Santa Maria Estilo K, Tecidos para Decoração Fauré, Shopping Iguatemi www.wine.com.br
À ESQUERDA: RODRIGO BRAGA; À DIREITA: EDUARDO ORTEGA
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À esquerda, relógio Cartier – modelo Baignoire Caixa e pulseira de ouro amarelo, 18 quilates. Mostrador prateado decoração sol. Movimento quartzo. Nesta página, perfume Chanel No5, com vidro de cristal criado por Ernest Beaux, em 1921. Tecido do fundo Toile de Jouy - coleção Marcelle, Estilo K
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À esquerda, champanhe Dom Pérignon – Oenotheque 1996 envelhecida 36 meses em barris de carvalho. Uma das grandes safras do século 20. Nesta página, Jarra de cerâmica LE CREUSET, com pintura em dégradé e capacidade para 3 litros. Tecido de fundo: tafetá de seda importado Again .
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Cansados de reClamar da opressão e da fa lta do vi l meta l, artistas Criam moedas e CirCuitos a lternativos que propõem um novo rumo ao Capita l
Giselle BeiGuelman
Muito se teM falado da bitcoin, moeda que não é emitida por nenhum banco central, só existe na internet e é acumulada em forma de arquivo. Parece brincadeira, tipo banco imobiliário, mas é uma moeda cotada a us$ 18! Mas a bitcoin não é a única forma de dinheiro nativa da internet. sem se preocupar com criptografia e mercado financeiro, artistas estão criando moedas e bancos próprios que propõem modelos alternativos aos sistemas macroeconômicos. trata-se de um conjunto de ações críticas que têm pensado a ideia de economia criativa para além do imediatismo do circuito de produção-consumo. elas engendram mercados paralelos e formulam novas regras para a circulação da arte na era das redes. deslocam a discussão sobre o mercado de arte para uma reflexão sobre a cultura da economia. o modelo do software livre é a base de vários projetos que propõem mecanismos comunitários de aproveitamento e gestão de recursos naturais e culturais. compartilhamento de informações, metodologias de criação e trabalho remoto e em rede, pautados pela democratização do acesso ao conhecimento, e investimento em capacitação de autogestão são algumas de suas características. um dos casos mais interessantes dessa nova economia pautada pelo padrão open source é o do circuito fora do eixo, uma rede de pequenos produtores concebida em 2005 por produtores culturais de cuiabá (Mato Grosso), Rio branco (acre), uberlândia (Minas Gerais) e londrina (Paraná). a rede cresceu e hoje tem nós por todo o País, sendo responsável por muitos festivais, incluindo iniciativas internacionais, e um bem estruturado portal on-line com uma importante base de dados e uma forte rede social. nas suas palavras, fora do eixo mostrou “ser possível produzir em escala autossustentável, pautando-se, sobretudo, no contato direto com produtores de outros estados, através de uma rede de informações e sob uma lógica da união de pequenos em prol de grandes ações”.
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Time Notes, projeto do artista argentino Gustavo Romano em que é possível recuperar o tempo perdido e solicitar empréstimos de tempo, rendeu uma exposição na sede do Banco Mundial, em Washington
Time NoTes http://www.timenoteshouse.org
É lugar-comum dizer que tempo é dinheiro, mas, no caso do projeto do artista e curador argentino Gustavo Romano, esse ditado é lei. Ele criou um banco em que é possível recuperar o tempo perdido, solicitar empréstimos de tempo e consultar sua base de dados sobre desperdício de tempo. Em um ano ele já conseguiu implantar escritórios dessa rede bancária em Cingapura, Berlim, Buenos Aires e várias outras cidades. O projeto é um desdobramento de uma pesquisa maior do artista, o laboratório nômade de discussão de problemas globais Pshychoeconomy. Rendeu a Romano uma exposição no prédio do Banco Mundial, em Washington, onde apresentou suas teses. O relato da experiência pode ser conferido no e-book Mis 10 Días como Consultor del Banco Mundial, disponível para download no site. À esquerda: fotomontagem estúdio select; À direita: divulgação
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Valores reinVentados ArtistAs não só expAndem As fronteirAs do pensAmento e dA práticA econômicA, como tAm bém con frontAm seus vA lores. ironizAm sím bolos de e ficiênciA e questionAm os pArâmetros de orgAnizAção do mercAdo
P2P Credit Card http://www.p2pgiftcredit.com
Lançado em dezembro de 2010, esse cartão de crédito idealizado pelo italiano Paolo Cirio, conhecido por seus projetos artísticos com Alessandro Ludovico, tem por princípio as regras da Economia da Doação (Gift Economy). Não se trata de moeda alternativa, explica Cirio, mas de criação de dinheiro falsificado baseado no sistema de cartões de crédito e nas regras do fair use. Cirio sugere que é urgente pensar em um novo design para o dinheiro. Isso passa por dar às pessoas a capacidade de administrar democraticamente as emissões, engajando as comunidades em um processo de criação de dinheiro e regulação dos recursos. Ao inscrever-se (basta seu email ou celular), você receberá o seu número e 100 libras esterlinas (falsas). Mas, para que seu cartão seja ativado, é obrigatório dar um cartão para um amigo. Seu crédito cresce na medida em que você traz mais pessoas para a sua rede.
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IP Détournement Entre 8 e 13 de setembro de 2010, a artista cubana Tania Bruguera participou do fórum Voir/Revoir (ver/ rever), do Centro Pompidou, em Paris, que dava carta branca aos artistas para explorar a coleção do museu. Com o projeto IP Détournement (IP pour Propriété Intellectuelle), Bruguera aproveitou para colocar em questão os modos de difusão, recepção e apropriação de obras de arte. Ela contatou cem artistas da Coleção de Novas Mídias do Museu Nacional de Arte Moderna do Centro Pompidou, solicitando autorização para vender cópias pirateadas de seus trabalhos a 1 euro cada. Sessenta e três responderam positivamente
O camelô museografado: no projeto Ip Détournement, Tania Bruguera colocou cópias da coleção de vídeos do Centro Pompidou à venda por 1 euro cada e a artista montou algumas banquinhas na piazza em frente ao museu e dentro do próprio espaço museográfico. “Esse dispositivo conduz a uma reflexão sobre a circulação de obras de vídeo e novas formas de apropriação”, avaliza Etienne Sandrin, curador do Departamento de Novas Mídias do Centro Pompidou, em texto publicado no site do museu. Mais que isso, coloca em discussão a urgência de o mercado e as instituições repensarem a noção de valor em um mundo cujos bens, por serem produzidos em formato digital, tiveram abolidas as diferenças entre original e cópia. Afinal, qual é a diferença entre um arquivo gravado no disco rígido do seu computador e a cópia no seu pen drive? Enfrentamos, por isso, a era da cultura dos originais de segunda geração, como definiu o teórico norteamericano Peter Lunenfeld. O valor das coisas e das obras, nesse contexto, vai ter de ser reinventado. À esquerda: divulgação; À direita: cortesia centro pompidou
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FALA, TANIA BRUGUERA O compartilhamento é prática fundamental da cultura digital e do código aberto. Mas isso altera a posição de artistas, instituições e sociedade em relação aos direitos autorais? Nas culturas digital e de código aberto há uma mudança em relação à ideia de compartilhar. Mas essa ideologia, originalmente ligada à internet, é criminalizada quando sai do âmbito pessoal e entra no campo do “produzido”. Parece que se quer deixar claro que qualquer um que tente criar uma sociedade (virtual ou real) baseada em critérios diferentes de acumulação de capital será sinalizado como suspeito e rastreado. Essa perseguição da solidariedade me faz pensar na ideia que está sendo infiltrada por alguns na internet a respeito da liberdade de expressão. Por sorte, a internet é infinita, o que a torna mais resistente a uma unidade ideológica imposta por poucos. Mas a cumplicidade entre Estado e corporações está gerando uma batalha legal que reduz a delinquentes aqueles que pensam de maneira diferente. Soma-se a isso a internet-lixo, que prolifera como um vírus. Nesta época de economia do conhecimento, acesso e acumulação de capital significam acesso e acumulação de informação. Mas acho entediante que estejam usando os mesmos sistemas de câmbio da velha sociedade de economia capitalista. O que está sendo feito de interessante na internet é criar maneiras de conceber valor, de criar moedas que não sejam barras de ouro, mas atitudes em relação a outros seres humanos. Ambos são conceitos igualmente abstratos, mas, enquanto o ouro pertence ao campo da geologia, a ideia de compartilhar pertence ao conceito de sociedade e isso tem de evoluir. A predisposição do mundo da arte, dos artistas e das instituições em relação aos direitos autorais? Depende do que cada um aspira como status social e qual é sua ideia sobre a arte como produto. Talvez alguns, influenciados pela energia que emana do compartilhar virtual, revejam suas posições, mas não estou segura de que isso seja um processo proselitista. Esse é um tema que todos falavam a portas fechadas e agora eles têm de se posicionar publicamente. Aí começa o jogo das hipocrisias institucionais e aí incluo os artistas. Por que pedir permissão ao Centro Pompidou para vender DVDs falsos no projeto IP Détournement? Esse ato não deveria ser proibido, para ser um verdadeiro ato de pirataria? Os DVDs não eram falsos, mas sim material original pirateado, para ser distribuído ao preço de 1 euro na piazza e nos arredores da instituição. Copiamos os trabalhos filmando-os sem autorização no centro de documentação do museu. Outros foram enviados diretamente pelos artistas contatados, pois para alguns era importante garantir a qualidade da cópia. Só distribuímos obras que pertenciam à coleção. A instituição distanciou-se do que aconteceu no espaço “exterior” ao museu e toda responsabilidade, no caso de acontecer algum problema legal, recairia sobre mim. Esse foi o acordo. A carta enviada aos artistas foi assinada por mim e revisada pela instituição, para assegurar-lhes que não estariam legalmente envolvidos. Mais que nada, essa obra é uma crítica institucional, usando a arte de conduta como meio (Arte de Conducta é um projeto artístico que Tania Bruguera desen-
volve em forma de aulas e grupos de estudos, que considera a conduta como meio de expressão). A crítica institucional não era ao museu ou à sua coleção, mas aos artistas e sua participação nesse jogo de valores agregados. A obra se fazia em dois momentos: primeiro, quando os artistas reagiam à carta, posicionando-se de um lado ou de outro, pois a condição para participar da exposição era autorizar a venda. Depois, quando as pessoas compravam o DVD fora do museu, entrando na fantasia do proibido e do jogo com anarquia. Mas há também todo o processo de negociação com a instituição, e como muitos dos que trabalhavam lá compravam secretamente os DVDs copiados. Em um momento, falou-se inclusive em incluir na coleção os DVDs em versão pirateada. Em caso de compra, minha opinião era de que o museu também pagasse 1 euro. Foi muito interessante visualizar os processos de valorização e cumplicidade intrínsecos ao trabalho das instituições no mundo da arte. E constatar que, realmente, é ridícula a forma como se tentam impor, a mídias como o vídeo, valores aplicáveis às obras únicas. É como se essa fosse uma estratégia para sentir-se popular dentro de uma classe especializada. A reação das pessoas ao trabalho foi incrível. Como pirateávamos dia a dia, as pessoas vinham diariamente ver o que havia de novo. Foi maravilhoso ver como negociavam, reservavam os discos, e a ansiedade que tudo isso gerou. Também houve aqueles que trataram de alterar o sentido da obra, ao me proporem a compra da coleção de discos e do pedaço de lençol sobre o qual estiveram expostos dentro do Centro Pompidou, como relíquias. Eu recusei, porque isso negava o gesto que essa obra queria provocar naquele lugar. Paula Alzugaray (Leia a íntegra da entrevista em www.select.art.br)
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Alguns dos itens mais corriqueiros de nosso dia a dia seguem rigorosamente idênticos ou com pouquíssimas alterações de design, desde que foram inventados há séculos ou milênios. Por que tanta falta de imaginação? j u l i a n a m o n ac h e s i
Paradas na linha do tempo da criatividade, as mais fossilizadas invenções da humanidade estão entre os produtos que os executivos da indústria chamam de “categoria dos pouco pensados”. Mas isso não significa que sejam ótimos do jeito que estão. O vaso sanitário, a gravata e a roda estão longe de ser razoavelmente satisfatórios. Por que ainda não inventaram um guarda-chuva impossível de ser perdido? A indústria da iluminação recuperou o ânimo criativo, letárgico desde Thomas Edison (1879), com o anúncio de que a lâmpada incandescente será banida até 2012 nos Estados Unidos (no Brasil, a meta é acabar com o item ecologicamente incorreto até 2016). Nos últimos meses, dispositivos emissores de luz estão sendo virados do avesso em busca do Santo Graal da iluminação: o substituto definitivo da lâmpada de filamento. Por que não fazem o mesmo por alguns clássicos involuntários do design?
quem apertou meu tubo de pasta de dente bem no meio? Aos pintores impressionistas devemos não apenas a invenção da arte moderna. Não fosse pela prática da pintura plein air com bisnagas descartáveis de tinta e estaríamos tirando nossa pasta de dente de canhestros potes de vidro até hoje. Pasta de dente feita em casa foi regra até o fim do século 19, apesar de a invenção datar de 5.000 a.C., quando um manuscrito egípcio descreve uma mistura de mirra, pedra-pomes, cinzas de casco de boi, casca de ovo, concha de ostra e outros abrasivos suaves para aplicar com o dedo. Para refrescar o hálito, os romanos adicionaram à mistura original carvão, casca de árvore queimada e condimentos. No século 18, o bicarbonato de sódio (abrasivo mais comum nas
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pastas até hoje) já era a base da receita dos cremes dentais. No início do século 19, a glicerina foi adicionada para transformar o dentifrício em uma pasta palatável (ainda o principal umectante utilizado na fabricação de qualquer creme dental). Em 1873, a pasta de dente começou a ser fabricada em larga escala. O doutor Washington Sheffield, de Connecticut, nos EUA, foi quem inventou o tubo dobrável para embalar o produto, em 1892. A ideia foi importada de Paris, onde seu filho Lucius estudava, e se inspirou nos tubos de metal em que as tintas eram comercializadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados americanos trouxeram da Europa a novidade, difundindo a cultura da higiene bucal nas Américas.
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seRÁ Que não dÁ pRa fazeR um pneu Que não fuRe? De Duchamp a Allan Kaprow, passando por Richard Prince, para quem pneus são os ícones do american way of life, muitos artistas já reinventaram a roda. Nenhum deles desfez a grande dúvida: quem nasceu primeiro, a roda ou o carro? A teoria mais aceita sobre a invenção da roda é que ela e o carro foram desenvolvidos simultaneamente por volta de 3.500 a.C., pelos mesopotâmios, com base em trenós com trilhos puxados sobre troncos. Entre as obras de infraestrutura para habilitar o Brasil a receber a Copa do Mundo em 2014, nenhuma é mais candente do que a ampliação dos sistemas sobre trilhos, do metrô ao VLT. Com cidades intransitáveis e serviços igualmente dependentes da roda, considerando que 90% de todo e qualquer produto consumido no estado de São Paulo chega às gôndolas graças ao transporte rodoviário, é de se questionar por que ainda não houve imaginação criadora capaz de nos tornar menos dependentes dessa mais que paradigmática invenção humana?
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Quando o GuaRda-CHuVa Vai saiR do CHoVe-não-molHa?
Desenhos técnicos De patentes registraDas nos estaDos UniDos entre 1882 e 2009; imagens Do google patents.
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Os palácios de Nínive, capital da Mesopotâmia durante o apogeu do Império Assírio, são coalhados de esculturas em baixo-relevo, representando cenas de batalha e da vida cotidiana: ali está, sem tirar nem pôr, o moderno guarda-chuva. A única diferença é que era utilizado como sombrinha e não para se proteger da chuva, que na região (hoje Iraque) é e sempre foi muito rara. A invenção tem pelo menos 4 mil anos. De guarda-sol e item aristocrático a mercadoria de R$ 5 em qualquer esquina chuvosa do mundo, o guarda-chuva sofreu pouquíssimas alterações de design ao longo desses milênios.
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O R I TUAL M A I S N O B R E D E TO D OS OS T EM P OS Recentemente, a revista Time elaborou uma lista das top ten toilets de todos os tempos: além dos suspeitos usuais – o urinol de Duchamp, o cenário da morte de Elvis Presley e a escatológica cena de Trainspotting, em que o ultraviciado protagonista (Ewan McGregor) mergulha de cabeça no pior vaso sanitário da Escócia atrás de um supositório de ópio–, a lista menciona o banheiro espacial da Nasa, o escândalo envolvendo o senador Larry Craig em um (hoje famoso) banheiro no aeroporto internacional Saint Paul, em Minneapolis, e o sanitário multifuncional Toto, fetiche de estrelas hollywoodianas
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e item recorrente nos lares japoneses (72%). Invenção de pelo menos 4,5 mil anos, de quando datam achados arqueológicos no Vale do Indo que localizaram um sistema de sanitários com encanamento e água corrente, os banheiros públicos foram regra indiscutível até a invenção, pelo afilhado da rainha Elizabeth I, Sir John Harrington, do sanitário privado, em 1596. Foram necessários outros 200 anos até que a primeira patente fosse registrada por Alexander Cummings, em Londres, em 1775, e a produção em série começasse. O primeiro vaso nosso de todos os dias (de cerâmica) data de 1885.
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MAN I A DE S E EN FO RCA R Umberto Eco já afirmou que dar o nó na gravata pela manhã é como fazer uma opção ideológica. Ideologia à parte, o ritual diário do nó em volta do pescoço é, sem dúvida, dos mais antigos códigos da liturgia que alicerça essa estranha entidade de classe que são os homens. Patti Smith que o diga. Quem visitou a mostra Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, em São Paulo, em 2003, deve ter reparado no cachecol com nó em volta do pescoço dos soldados de terracota que datam de 200 a.C. O precursor da gravata dos nossos tempos era figurino corrente na China do imperador Qin Shi Huangdi, assim como entre os egípcios, mas seu advento no Ocidente é atribuído ao impacto que o acessório dos mercenários croatas causou no obcecado por luxo rei Luís XIV (que não saía da cama sem seu salto alto). Cravate, em francês, seria uma corruptela de croate.
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M EN I N O V EN EN O O primeiro registro iconográfico conhecido do ato de fumar é um vaso de cerâmica datado de antes do século 11, que retrata um cidadão maia fumando um rolo de folhas de tabaco amarradas com um laço. Teriam sido alguns dos marinheiros de Cristovão Colombo que, após se depararem com indígenas Arawak e Taino fumando, adotaram o hábito e terminaram por espalhá-lo mundo afora. Entre os incontáveis usos do tabaco ao longo da história, de moeda corrente nas colônias – cujo status de padrão monetário ao longo dos séculos 16 a 18 durou duas vezes mais que o padrão-ouro – a medica-
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mento, sua função recreativa é objeto de eternas disputas. Na Turquia, em 1647, chega a ser banido por se associar ao vinho, ao café e ao ópio como uma das quatro “almofadas no sofá do prazer”. No século 17, inúmeras leis são promulgadas proibindo o fumo por completo ou nas proximidades de casas, celeiros e plantações: nenhuma histeria avant la lettre de uma protogeração saúde, a medida visava apenas evitar incêndios. No século 20, o cenário de ataques, defesas, regulamentação governamental e cerceamento das liberdades ganha tons dramáticos e, claro, vira roteiro de cinema, como em Obrigado por Fumar e O Informante.
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NA ONDA DO REMIX O artista lança livro com código aberto, acompanhado de site onde convidados reescrevem seus textos J U L I A N A M O N AC H E S I
REMIX: O LIVRO. O artista e teórico das novas mídias Mark Amerika lança, em setembro nos EUA, obra em que remixa do poeta beatnik Allen Ginsberg (1926-1997) ao pintor abstracionista Ad Reinhardt (1913-967). Remix: o site. O livro remixthebook (com minúsculas no original) é lançado concomitantemente ao site do projeto, que reúne remixes do próprio livro. O projeto sampleia artistas como Nam June Paik, Kathy Acker e Robert Rauschenberg – ou mesmo comediantes como George Carlin, Stephen Colbert e Steve Martin – em vez de, por exemplo, os tentadores pós-estruturalistas, embora tome emprestado deles também. Professor no Departamento de Arte e História da Arte na Universidade do Colorado, em Boulder, Amerika define-se como remixólogo e defende que as pessoas tenham uma consciência “recortar-e-colar” (cut-and-paste) na rede e uma postura de compartilhamento em sintonia com os campos sociais da distribuição. Ele é autor de obras pioneiras de net art, como Grammatron (1997), ficção hipertextual em que as pessoas utilizam tecnologias em rede para se teletransportar a ambientes narrativos de domínio público, e Society of the Spectacle (A Digital Remix), de 2004, que atualiza o filme de Guy Debord. Amerika falou à Select, por e–mail, sobre o projeto do novo livro. FOTOMONTAGEM DO ESTÚDIO SELECT A PARTIR DE IMAGEM DE FRANCIA NELSON
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Colagem, apropriação, intertextualidade, Cover, mashup, pastiChe, pós-modernismo, pósprodução, avant-pop, bastard-pop: a prátiCa Centenária (e de alguma maneira peri fériCa até os anos 1990) da Colagem finalmente tornou-se a protagonista da história da arte? o que aConteCeu Com a Criatividade?
A criatividade está na mistura. É inseparável da prática do remix. De fato, esse é o princípio central que exploro em remixthebook. O livro abre com um remix da filosofia processual de Alfred North Whitehead, que é considerado o principal filósofo, com a possível exceção de (Henri) Bergson, a trabalhar integralmente o conceito da criatividade em uma plataforma filosófica que revela como todos somos entidades criativas, criaturas que intuitivamente geram novas versões da vida remixando o material-fonte em que nos encontramos imersos. A frase de Whitehead que continuamente ecoa ao longo de remixthebook é “a criatividade é o princípio da novidade”. O que eu faço no livro é ligar a noção de criatividade de Whitehead e sua relação com a novidade com o que significa ser de vanguarda (que não é mais um palavrão) e com o fato de que ser um artista do remix sempre à frente de seu tempo é uma espécie de condição necessária, quando se espera visualizar a versão de “criatividade” seguinte. Portanto, o protagonista dessa trajetória histórica não é per se uma prática de colagem, mas o meio em si. Neste caso, o artista é “o meio e a mensagem”. A criatura como animal remixológico. Considerando a maneira Como voCê trabalha, nunCa dissoCiando fiCção, teoria, arte e CiberpsiCogeografia, remixtheboo k não é exatamente um livro de teoria. ele também foi esCrito, Como outras obras suas, na forma de Códigos de programação e por muitas de suas personas em fluxo?
Sim. Isso se deve ao fato de que estou fazendo com a teoria coisas que raramente são feitas. Eu a pós-produzo para que ela apareça como outra coisa que não a teoria acadêmica. Uma das principais premissas de remixthebook é que a teoria por si só foi sequestrada pela elite acadêmica, que tece seus próprios remixes carregados de jargão em estilos acadêmicos muito específicos que tentam calar todos os demais, de modo que possam manter a autoridade cultural sobre o que é e não é considerado teoria. Mas por que tentar manter o status quo da teoria mesmo quando o mundo que nos rodeia já passou por mudanças tão radicais e, essencialmente, nos desafia a inventar novas formas
de discursos teóricos que sejam relevantes para os tempos tecnológicos em que vivemos? A maioria dos acadêmicos que ensinam teoria tem, por algum motivo, optado por não aceitar o desafio de reinventar a teoria do nosso tempo, e é esse elitismo cultural que torna impossível para eles manter a sua autoridade cultural. Qualquer um que presta atenção ao que está acontecendo, que está ativamente envolvido com tecnologias e meios de comunicação em rede e móveis, e que lê e compõe suas próprias formas de discurso teórico faça-você-mesmo, está muito naturalmente remixando a teoria em suas pesquisas. Nas várias versões de remixthebook que aparecem tanto no livro como na rede, em remixthebook.com, o que se tem é a realização de teoria como pesquisa prática de arte. Gostaria também de mencionar Vilém Flusser, pois, na minha opinião, ele é uma figura teórica única, uma espécie de híbrido de artista de ficção e teórico de mídia. Ele disse uma vez que considerava sua teoria de mídia mais como ficção científica do que teoria de mídia em si. Nesse sentido, vejo a minha própria teoria de mídia mais como arte performática pop-vanguardista.
r e m i xt h e b o o k University of minnesota Press 3 3 6 P á gs . , U s $ 1 9,9 5
Como foi ConCebido o site de remixtheboo k? ele é de fato o livro inteiro remixado?
Vídeos vernaculares como teoria digital, e-book como arte conceitual, Net arte como a escrita performática. Os artistas e teóricos são todos surpreendentes em seu próprio direito e o que estão fazendo é remixar pedaços diferentes, ou trechos de material-fonte do texto escrito ou das minhas gravações de áudio lendo remixes do texto, ou até mesmo vídeos comigo simulando conferências a partir do texto como “curso material” etc. Há também uma seção inteira que chamamos de O Curso, na qual a ideia é olhar para a história da apropriação, colagem, cut-up literário, sampleagem de audiovisual e ativismo ao vivo, e o que Nicolas Bourriaud chama de arte pós-produção. A ideia é tomar o que costumávamos pensar como um livro e recontextualizá-lo para a arte e a cultura de mídia social. Isso não é tão incomum. O poeta francês do século 19 Stéphane Mallarmé estava tentando fazer algo semelhante à sua própria maneira intermídia (Mallarmé: “Tudo no mundo existe para acabar em um livro”. Meu remix: “Tudo no mundo é material-fonte readymade que existe para que possa acabar sendo remixado”.). Minha esperança é que os alunos, bem como os visitantes do site, também remixem o livro.
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brics: o golem do cApitAlismo em crise A discussão sobre A e-infrAestruturA pArA A sociedAde do conhecimento não deve ser simplificAdA por meio de umA siglA vAziA
G i l s o n s c h wa r t z
Do caos fez-se a luz e Do pó, aDão, obra maior e final do criador. o resto é história feita de repetidas tentativas de criar inteligência a partir do caos, inteligência a partir da matéria, um ser feito de barro capaz de incorporar o espírito do criador (com c minúsculo). Na mitologia das criaturas bíblicas, destaca-se o Golem, uma espécie de frankenstein da mística judaica. No capitalismo em crise, os BRIcs são o Golem de uma ordem global que se aproxima (novamente) do caos da desintegração financeira. Já se gastaram rios de tinta e papel em provas e contraprovas da existência ou resistência da ideia de BRIcs – Brasil, Rússia, Índia, china e África do sul – como próximos gigantes no desenvolvimento econômico do mundo. o ícone assume a forma de uma sigla que aparentemente facilita o planejamento e a tomada de decisões em um complexo contexto de incertezas conectadas por redes digitais que tiram sentido à própria noção de espaço. enquanto os mercados ficam desnorteados, a fuga é fingir que as fronteiras sumiram, o espaço derreteu e as nações se reinventam pela força ou pelo delírio. assim surgiu também a ilusão de um descolamento (decoupling), que seria a fé nos países periféricos e mais populosos como âncora na resistência à crise global. “Monstros” como china ou Brasil assumiriam a liderança de uma recuperação que a cada rodada na espiral do desgoverno revela-se como especulação precoce. Nesse contexto de mistificação, um exercício saudável é olhar o lado B dos BRIcs. uma das mais notáveis diferenças entre Brasil e os estados-Nação ligados à Ásia
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resulta da relação totalmente diferente com temas tabus como direitos de exclusividade territoriais, sobre recursos naturais e o protagonismo de prioridades militares na história das agendas públicas entre a família latina (muito embora não possamos ignorar dramáticas guerras regionais, incursões revolucionárias e contrarrevolucionárias, ambições nucleares e espaciais, sobre o controle da água e do petróleo, e nacionalismos que prevaleceram muitas vezes em conluio com ambições de natureza militar). exceto para o imaginário conflito bolivariano-chavista, não há nada remotamente comparável nas agendas da américa latina e do Brasil à geopolítica dos gasodutos entre a união europeia e a Rússia, ao peso da dívida pública norte-americana no Tesouro chinês e às incertezas étnicas, religiosas e fundamentalistas nas áreas instáveis das fronteiras da Índia. Há tragédia social na história latino-americana e brasileira, heterogeneidade estrutural e desigualdades atrozes na distribuição de renda, mas nada no Brasil se compara à escala, extensão e intensidade da opressão
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social que afeta a mão de obra chinesa e a indiana, que, de fato, constitui uma insustentável força competitiva apenas parcialmente correspondida por esforços ocidentais em radicalizar a desregulamentação e liberalização do mercado de trabalho, liberar com mais rapidez as certidões ambientais ou criar facilidades no campo fiscal e financeiro para salvaguardar a competitividade das empresas locais. Os modelos sociopolíticos e institucionais, assim como a situação étnica na Índia, são bem diferentes dos que prevalecem na China e compará-los em uma mesma escala (o caso de BRICS) também não é correto. A opressão social na Índia vem de um sistema de castas piramidal, em vez de um modelo burocrático e militar de segregação social e controle étnico como na China. Comparado com o perfil latino, mais especificamente com a mistura brasileira, torna-se claro que nossas violências (sociais e institucionais) são muito mais simpáticas à evolução de mediações criativas entre etnias, localidades e confissões religiosas. Filósofos sociais e artistas como Gilberto Freyre,
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Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda já analisaram e documentaram amplamente a variedade de apropriações disciplinares (e muitas vezes anárquicas ou tropicalistas) da ordem e do progresso na história brasileira. Talvez nesta matriz humana aberta, diversa e interativa resida a própria fundação para a impressionante expansão e apropriação da internet, do celular e da televisão no Brasil, assim formando uma super-e-strutura ou iconomia cultural associada a flexibilidade, criatividade e com (paixão) no Brasil e na América Latina. Como dizia Sérgio Buarque de Holanda, a mistura brasileira está na raiz de uma humanidade do gênero “cordial”. Rússia, China e Índia são economias continentais, assim como o Brasil. Mas basta ser grande e populoso? Como arquetípicos Estados-Nação, essas sociedades experimentaram em algum ponto de sua história uma vocação por projetos imperialistas, em que andam em par a violência social e a institucional (para possuir domínio global, você tem de possuir domínio absoluto interno, pensam os ditadores).
InterferêncIa gráfIca do estúdIo select sobre estudo de personagem do projeto do game clay golem de cory ryan sponseller
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No entanto, o contexto estratégico, econômico e regulatório no Brasil (e em grande parte da América Latina) é, principalmente, resultado de rebentos da inteligência cívica e de comunidades científicas livres, em vez do legado de agendas militares e nacionalistas utópicas de longo prazo que submetem as inteligências individuais. Apesar de tudo, somos mais democráticos. O Golem das finanças ganhou popularidade em 2003, quando o banco americano de investimentos Goldman Sachs, que enxerga nesses países o pelotão de frente dos emergentes, projetou um desempenho espetacular do grupo até 2050. A sigla é um jogo de palavras – brick, em inglês, é tijolo. Investir nos BRICS seria participar da grande e sólida fronteira de expansão da economia global. Recentemente, surgiu outra sigla que ameaça o brilho dos BRICS. É Chíndia, marca de um fundo gerenciado pela consultoria de investimentos Ashburton. Como sugere o rótulo, o futuro está reservado para a China e a Índia. Brasil e Rússia seriam coadjuvantes, meros fornecedores de commodities. Pesa na opção pelos asiáticos o tamanho do mercado consumidor, fator decisivo para o retorno dos investimentos nesse fundo. Nos próximos 15 anos, os dois países chegariam à condição de segunda força econômica mundial, com PIB de US$ 16 trilhões e consumo de 25% da energia do planeta. BRICS x Chíndia é, atualmente, o jogo que mais chama a atenção quando o mundo dos negócios exercita a futurologia da competição global. Entre os apostadores no vigor dessas criaturas feitas de ideologia e manipulações estatísticas, ganha pontos a região que tiver vocação para operar como plataformas comerciais e infraestruturas estratégicas para os mercados de consumo globais, tanto para atender às empresas globalizadas, cujas matrizes estão nos Estados Unidos, Europa e Japão, quanto para apoiar as multinacionais locais na conquista de mercados externos. Na emergente era das democráticas diversificação e e-infraestruturas de rede, a variedade tropical de desenvolvimento humano orientado pelo empreendedorismo científico, tecnológico e cultural no Brasil e na América Latina mostra-se mais afim ao desafio histórico que agora enfrentamos com ansiedade – promover um processo evolutivo global em que padrões de organização, comunicação e sentido se tornem mais criativos, inovadores, dinâmicos e democráticos. Este é o espírito da Sociedade do Conhecimento,
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BRICS x ChíndIa
é, atualmente, o jogo que maIS Chama a atenção quando o mundo doS negóCIoS exeRCIta a futuRologIa da CompetIção gloBal
esta é a cidadania baseada no conhecimento que aproxima os ideais emancipatórios compartilhados por europeus e latino-americanos, seja entre a elite rica, seja na base da pirâmide econômica. Grandes territórios e alta densidade demográfica são, certamente, a fundação para mercados vigorosos e investimentos de larga escala, mas isso é relevante para a dimensão tangível do desenvolvimento sustentável. Os ativos intangíveis que agora nos desafiamos a identificar, mapear e processar utilizando a e-infraestrutura para ciência, saúde, educação, lazer e meio ambiente não devem ser simplificados ou diminuídos por meio de uma sigla vazia, um Golem da territorialidade. Na mitologia judaica, a grande característica que afinal desmascara um Golem como mera ilusão humana de criar inteligência a partir da matéria é sua incapacidade de falar. Como um fantoche, um Golem parece gente, mas não articula um discurso. Quem olhar para as várias reuniões de cúpula promovidas por governos dos BRICS nos últimos anos rapidamente perceberá que eles podem ter muitos aspectos econômicos que induzem à crença no seu potencial econômico, mas não têm um discurso comum. Não votam juntos na ONU, nem no FMI. Não compartilham projetos políticos, sociais ou culturais. São apenas um monstro sem voz, um Golem a serviço da especulação que a cada rodada da crise se agarra a um ícone para evitar o pior.
Gilson Schwartz é economista, sociólogo e jornalista, professor no Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
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aqui você está em casa. Bem-vindo ao Programa de Sócios do MAM. Como sócio do MAM, você tem acesso a uma programação atraente e contribui para a realização das múltiplas atividades do museu. Participe!
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Empty Dream, fotografia de Mariko Mori realizada em praia artificial
estética DisneylânDia nina Gazire Em exposição irregular, Mariko Mori introduz no Brasil a hiper-realidade japonesa Hiper-realidade, segundo a semiótica e a filosofia pós-modernas, é a incapacidade de a nossa percepção distinguir a fantasia da realidade quando confrontada com imagens tecnologicamente avançadas. A artista japonesa Mariko Mori parece trabalhar muito bem a hiper-realidade, mas esse virtuosismo se volta contra a própria obra: o real submerge completamente no reino da fantasia. Em sua primeira retrospectiva em território nacional, denominada Oneness, que esteve no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro até 10 de julho e chega ao CCBB de São Paulo em agosto, percebese bem essa “estética Disneylândia”, característica da cultura pop nipônica. Empty Dream, fotografia
Oneness: Mariko Mori, de 23 de agosto a 16 de outubro de 2011 – Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. Rua Álvares Penteado, 112, Centro www.ps1.org www.ccbb.com.br
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em grande formato que mostra o Ocean Dome (Miyazaki, Japão), maior praia artificial do mundo, é exemplo disso. A convivência com uma natureza inventada é algo habitual naquelas latitudes. Mori usa e abusa dos elementos da cultura j-pop, como os personagens de estilo mangá das videoperformances Kumano (1998) e Miko no Inori (1996), presentes na exposição. Esses personagens fofos (kawaiis, em japonês) também estão na obra de Takashi Murakami e outros artistas da mesma geração de Mori. Mas a arte japonesa atual é feita só de personagens encantadores saídos de histórias em quadrinhos? A exposição parece nos deixar essa dúvida. A curadoria é desigual e deixou de fora obras mais recentes da artista, nas quais ela mostra seu lado adulto, que repensa a tradição escultórica oriental. As longas filas para participar de trabalhos mais interativos parecem realçar a sensação de parque de diversões. Oneness, obra-título da mostra, é muito disputada. Todos querem se ajoelhar diante dos graciosos extraterrestres que, ao serem tocados simultaneamente, acendem seus olhinhos e corações. Não se sinta surpreso ao lembrar o ET do filme de Spielberg. Mori usa clichês bastante piegas, afinal. foto: cortesia de mariko mori, autivis, brasil 2010
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PoP Media art thiago CarraPatoso, de Nova York As obras de Cory Arcangel trazem à tona nossas dúvidas sobre a ubiquidade tecnológica contemporânea
A exposição de Cory Arcangel no Whitney Museum of American Art, Pro Tools, tem aguçado o paladar da crítica especializada sobre o tema da arte digital. Cory é um dos poucos artistas contemporâneos que quebraram a barreira da arte-além-da-margem (como parece ser considerada a arte digital hoje) para ocupar um andar inteiro da renomada instituição norte-americana. “Houve um aumento no interesse, mas acredito que ainda seja muito pequeno. Eu diria, sim, que a exposição de Cory é um marco. Mas muitas peças estão impressas, gravadas em vídeo ou são esculturas. Apenas duas são videogames. Ou seja, a exposição ainda é muito tradicional para as possibilidades da arte digital”, aponta Christiane Paul, curadora-adjunta para novas mídias do museu. Os trabalhos de Arcangel têm evidenciado os anseios e as ansiedades de uma sociedade já nascida entre máquinas e redes. Em Super Mario Clouds (2004) – vídeo feito a partir da modificação de um velho jogo da série Mario Brothers, da qual ele apagou tudo, menos as nuvens – ele demonstrava o quanto uma geração inteira estava imersa em um mundo 8 bits. No seu trabalho mais recente, Various Self Playing Bowling Games (a k a Beat the Champ), em exposição no Whitney, exemplifica o tipo de relacionamento frustrado que existe entre nós e os dispositivos midiáticos. Arcangel destaca-se por trazer à tona os reais sentimentos de uma pessoa diante de um mundo mediado pela tecnologia. Nesta exposição, apresenta trabalhos que contribuem para a dissolução da ideia de que há uma distinção entre o humano e a máquina. A sequência Palms (2011), por exemplo, na qual o artista desenha uma palmeira em um computador e imprime três versões por meio de uma plotadora de caneta, choca por quebrar a barreira entre o que é a criação do artista e a produção de uma máquina, entre o que é realizado por uma mão orgânica e os movimentos de coordenadas precisas. Quando
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Em diálogo com a cultura do software livre, a exposição de Cory Arcangel no Whithney incentiva o público a apropriarse das obras
Cory Arcangel: Pro Tools ,até 11 de setembro, Whitney Museum of American Art 945 Madison Avenue at 75th Street Nova York, NY 10021 http://whitney.org
Arcangel modifica cartuchos de videogames para que todas as bolas de um jogo de boliche caiam na canaleta, ou em um de golfe em que nunca se acerta o buraco, mostra a ligação que existe entre os movimentos do corpo ao jogar e a representação dele no mundo virtual. Se no real fazemos o que parece ser o mais certo para chegar ao objetivo, quando vemos a não resposta do virtual, caímos na frustração que essa relação irreal tem como base. O físico está fora do virtual. E essa frustração precisa ser trabalhada para que se veja a tecnologia com outros conceitos e olhares. O museu Whitney abriu-se às referências contemporâneas e ao pop. Isso fica patente na obra Since U Been Gone, de Arcangel, que explora as fontes de inspiração desse primeiro grande sucesso da cantora Kelly Clarkson, vencedora da primeira edição do American Idol. Silenciosa, a obra apenas disponibiliza os CDs das músicas que teriam inspirado Clarkson. Em todos os momentos há pessoas fotografando, gravando vídeos ou falando pelos celulares no recinto expositivo. Não é a primeira vez que o Whitney permite que se fotografem ou se filmem as obras, mas é a primeira em que foi disponibilizada conexão à internet sem fio e instalado um amplificador de sinal do celular para que o público capture e transmita imagens das obras para suas redes pessoais. “Seria uma grande ironia se a exposição de Cory Arcangel, que está inserida na cultura da internet e do software livre, não pudesse fotografar ou captar imagens. Seria um absurdo”, contextualiza, Christiane Paul. Realmente seria.
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reviews moda
Copy & paste tupiniquim Chique
São Paulo Fashion Week, de 11 a 18 de junho de 2011, no Pavilhão da Bienal do Ibirapuera http://ffw.com.br
Jorge Wakabara O melhor da São Paulo Fashion Week foi o afrotropicalismo. Mas a Prada já havia anunciado a tendência
Uma semana antes, Rio de Janeiro, Cais do Porto. A Fashion Rio terminava com um gosto de “já vi tudo isso antes”. A coleção tropical-kitsch de Primavera-Verão 2011 da Prada deu o tom dos desfiles da temporada de moda carioca. Sem ingenuidade: marcas brasileiras bebem da fonte de marcas estrangeiras, assim como lá fora isso também é comum. Incomum é apenas uma coleção influenciar tanto um line-up inteiro, e de forma tão clara que até quem não é especialista percebe. E corta para a SPFW, que completa 15 anos na edição de Primavera-Verão 2011-2012. Será que, em sete dias, as marcas tiveram tempo de mudar suas coleções a ponto de não passar pela mesma situação? Só os ateliês sabem. Mas, fora o clima tropical que veio da marca de Miuccia, não deu para pegar esse “copy + paste” de maneira clara. O que pintou mesmo foi a procura por uma elegância com signos que nos são familiares, quase uma moda autoajuda com ar de “vamos nos aceitar como somos” – que acabou levantando a qualidade de algumas apresentações. A Osklen, por exemplo, inspira-se na cultura afro-brasileira e traz costas e pernas de fora, tecidos de fibras naturais em cru, muito elegantes. No lugar das rendas das baianas, a marca reproduz o que chama de “renda pixelada” em estampa no tecido e em vazados no metal dourado que se transforma em óculos e adornos. Já a Maria Bonita vai para o outro lado do oceano. Hemisfério Norte. O ex-Império, Portugal, traz linho e musselina de seda (com fios de ouro fazendo as vezes de alça, para remeter à ourivesaria), tela de arraiolo, pinturas à mão: tudo fica fino na silhueta limpa criada pela estilista Danielle Jensen. Tufi Duek, mesmo com um clima Balenciaga (pelo
Looks da coleção PrimaveraVerão de Pedro Lourenço
menos faz sentido, já que a marca tem história no minimalismo), fez uma apresentação redonda com citações ao artesanato indígena. E o melhor é Pedro Lourenço – grita a genética –, que inclui paisagens indígenas pintadas por Lelli de Orleans e Bragança e tweed-tressê-de-palha em sua moda futurista. Saldo final positivo na SPFW. Fica uma impressão: a italiana Prada precisou dizer que o lado de baixo do Equador é inspirador, para o Brasil se liberar e pensar no chique tipicamente tupiniquim.
livros
amantes das Citações paula alzugaray Em Dublinesca, Enrique Vila-Matas promove um funeral para uma era que desaparece e faz elogio da escritura hipertextual
Um editor aposentado sente-se subitamente envolvido por uma estimulante atmosfera de preparativos para viajar a Dublin. Samuel Riba pretende ir à capital irlandesa tomar parte de um à esquerda: Thiago CarrapaToso; à direiTa: aurea CalCaveCChia/siTe lilian paCe
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reviews
Instalação TH -2058, obra da artista Dominique Gonzalez-Foerster na Tate Modern
cortejo fúnebre. Talvez o mesmo que conduziu Bloom até o cemitério de Glasnevin, em 16 de junho de 1904, no sexto capítulo de Ulysses, de James Joyce. Mas talvez ele se dignifique a seguir outro cortejo – o de uma prostituta –, dentro de um poema de Philip Larkin. Riba elege as figuras da prostituta e de Ulysses – o romance considerado o cume da
Dublinesca, Enrique Vila-Matas C os a c N a i f y, 2 0 1 1 , 3 2 0 p á gs . , R $ 5 5
era da imprensa – para celebrar um réquiem pela era de Gutenberg. Riba é um duplo do escritor Enrique Vila-Matas. Mais um deles. Um dos autores mais premiados e traduzidos da Espanha atual, o catalão Vila-Matas tem uma atividade literária que certamente não compactua com o alarme da morte dos livros, das editoras ou dos autores. Mas como a literatura contemporânea é a grande protagonista de seus livros, ele não poderia deixar de se posicionar historicamente, quando muito se especula acerca de suas pequenas mortes. Riba é, então, um editor afastado de seu ofício, que hoje passa os dias diante do computador, dividido entre o Google, sua biblioteca e os fantasmas de seu catálogo de títulos. Na preparação do funeral em que vai “se despedir dignamente da gloriosa e liquidada era de Gutenberg”, tece um manto de referências que é uma verdadeira galáxia. Para além de Joyce, navega por Paul Auster, Siri Hustvedt, Saul Bellow, Godard, até os irlandeses, célebres ou não, como Samuel Beckett e Brendan Behan. Em dado momento, Riba se pergunta se acaso um editor não vem a ser como um ventríloquo que cultiva em torno de seu catálogo as vozes mais variadas. Nesse emaranhado de citações, destaca-se Dominique Gonzalez-Foerster, evocada pelo editor muito provavelmente para dar o tom cinzento e chuvoso de seu destino. Ribas lembra a ficção que a artista francesa montou em forma de instalação na Tate Modern. Gonzalez-Foerster criou um ambiente para receber refugiados de uma tempestade que teria consumido Londres durante anos a fio e levou uma seleção de esculturas, filmes e livros. Como Vila-Matas, uma grande amante das citações. Dublinesca afirma-se, afinal, como citação de Ulysses não só pela viagem a Dublin, mas porque investe em jogos de palavras, referências históricas, estilísticas e literárias. Exatamente como Joyce faz. Vila-Matas identifica em Riba um “eu plural” que, afinal, remete à Galáxia de Gutenberg (1960), de Marshal McLuhan, que antes da invenção da internet, afirmava que a maneira linear de pensar estava em via de ser substituída por um modo mais global de percepção. O modelo de texto gerado por esses meios seria o de uma galáxia. O livro de McLuhan é a definitiva citação de Vila-Matas, em Dublinesca, e sua escrita hipertextual vem festejar o enlace entre a Galáxia de Gutenberg e o Google. foto: Paula alzugaray e divulgação
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crítica 120
angélica de moraes de veneza
A BienAl dA clonAgem A 54a Bienal de Veneza sinaliza e consagra a cópia e a apropriação paródica como tendência de processo criativo
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Poucas vezes na história recente da Bienal de Veneza uma premiação definiu de modo tão certeiro uma tendência da produção artística. Nesta 54ª Bienal, a norte-americana Sturtevant ganhou, aos 81 anos de idade, o troféu pelo conjunto da obra. Uma produção controversa, que afirma identidade pela cópia fiel de obras famosas ou pela paródia ácida de muitas delas. A cópia assumida como linguagem e a alusão como comentário de visualidades hegemônicas estão presentes em vários momentos desta edição da bienal. Tanto na curadoria-geral como nos pavilhões nacionais e, mesmo, em exposições realizadas em paralelo, por instituições com sólido acervo. A caça a supostas contrafações é um divertido e labiríntico jogo de identificação. Quem
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45a Bienal de Veneza – ILLUMInazioni (Iluminações), Giardini e Arsenale. Veneza, Itália. Até 27 de novembro www.labiennale.org/en/art Punta della Dogana e Palazzo Grassi Até 31 de dezembro www.palazzograssi.it Fondazione Prada (Cá Corner della Regina) Até 2 de outubro www.fondazioneprada.org
apostar na originalidade perde. Quem gosta de ler o originalíssimo escritor argentino Jorge Luis Borges e sua fixação por espelhos e duplos vai amar. Sturtevant, além de exibir trabalhos na área externa da Bienal, no Arsenale, é das grandes homenageadas do museu Punta della Dogana, uma das magníficas sedes que o megaempresário francês François Pinot mantém em Veneza para abrigar sua coleção. A outra é o Palazzo Grassi. Em ambas, a clonagem está na ordem do dia. E Jeff Koons reina, soberano, por toda parte. No Punta della Dogana, armazéns aduaneiros do século XVII transformados internamente por Tadao Ando em joia arquitetônica contemporânea, Sturtevant tem uma sala dedicada a famosas obras de Marcel Duchamp. Com direito a sacos de carvão recobrindo o teto (como na protoinstalação que Duchamp fez em 1918), a indefectível Fountain (Urinol, 1917) e, mesmo, uma versão de Nu Descendo a Escada (o original duchampiano é de 1912), com a então jovem Sturtevant fazendo o papel da modelo do quadro. Mais adiante, ainda no Dogana, Sturtevant clona obra de Felix Gonzáles-Torres (Light Strings, de 1993), instalação com cordões de lâmpadas acesas que pendem do teto e se enrodilham no chão. Idêntico ao original. Apenas a legenda nos diz do engano. A aura da obra de arte, preciosa no passado, fica em cacos. Sturtevant é impiedosa. No pavilhão coreano, Yongbaek Lee mostra Pietá: Self-death (Pietá: a Própria Morte) moldada em plástico, que remete à Pietá de Michelangelo. O festival de cópias e paródias continua na novíssima Fondazione Prada, que a empresária Miuccia Prada abriu na mesma semana da inauguração da 54ª Bienal. Lá, o enfant terrible Francesco Vezzoli exibe imagens fotográficas que duplicam e homenageiam, com celebridades atuais, estrelas de outros tempos. Uma delas é a extasiante Santa Teresa, do escultor Bernini, encarnada por Eva Mendes, atriz de blockbusters tipo Velozes e Furiosos. Obras de Vezzoli também podem ser vistas no Palazzo Grassi, entre elas o filme Marlene Redux, em que a diva alemã Marlene Dietrich é protagonizada por uma idosa Anni Albers, a mítica artista têxtil da Bauhaus e viúva do pintor Josef Albers (1888-1976). Anni não pede para ficar sozinha, mas crava, olho fixo para a câmera: “Glamour é uma commodity muito cara, querida”. Anni Albers
(1899-1984) faleceu antes do filme de Vezzoli ficar pronto. Nesse jogo de espelhos e referências cruzadas, o humor e a memória da história da arte são excelentes aliados para o prazer do passeio. Assim é também quando chegamos à sedutora projeção do filme The Clock, do norte-americano Christian Marclay (veja portfólio nesta edição). Mas o troféu dos troféus pela clonagem cabe mesmo a Regina José Galindo. A artista guatemalteca ganhou Leão de Ouro em 2005 com o vídeo Himenoplastia, de uma cirurgia de reconstituição de hímen. Galindo exibe na 54ª Bienal uma cópia exata da famosa estatueta do leão alado, com seu nome na base. Vendeu o original a um colecionador. Ele ficou com a obra de arte certa? Claro que não. A obra é a cópia.
N a pá g i N a ao l ado, V e zzo l i : do ê xtase de sa N ta t e r esa a eVa M e Ndes (2009). à esqu e r da , r eg i N a gal i N d o exi b e Na b i e Nal a c ó pi a do t ro fé u qu e gaNh ou e M 2005. abai xo, st u rt eVa N t protagoN i za N u desc e N do a escada apr es duc h aM p
À esquerda: angélica de moraes; À direita: cortesia galeria thaddaeus ropac
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colunas móveis / mídia
mario cesar carvalho 122
Jornalismo sem lucro É o apocalipse do papel. Entre 2007 e 2009, a circulação de jornais caiu 30% nos Estados Unidos, 22% no Reino Unido e 15% no Japão, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que reúne os países mais ricos do mundo. Se o jornal de papel corre risco, imagine então o que será do jornalismo investigativo, aquele que incomoda, inclusive, os donos de jornais, pois é caro e de lenta maturação
13 meses de investiga çõ es rendera m repo rtagens e o a plicativo myfault, que detecta se um edifício está em área de terremoto
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Nos EUA, onde a morte de jornais e a eclosão de similares tecnológicos andam de mãos dadas, surgiram as primeiras respostas para essa dúvida. É uma espécie de jornalismo ONG, sem fins lucrativos, no qual os altos custos da investigação são bancados por fundações ou milionários. As experiências mais famosas são as do ProPublica e do California Watch. No Brasil, uma entidade similar, a Publica, começa a divulgar suas primeiras investigações. Todas têm em comum a crença de que os jornais já não dão conta de todas as investigações que uma democracia necessita para funcionar. Todas trabalham com temas de alto interesse público. A experiência mais bem-sucedida é a do ProPublica. A organização nasceu no fim de 2007. Paul Steiger, editor do ProPublica, era o chefão do Wall Street Journal, o mais bem-sucedido jornal norte-americano. Steiger diz estar em busca de reportagens com “força moral”. Com esse mote que parece saído de um filme de Frank Capra, o ProPublica já ganhou dois prêmios Pulitzer, o mais importante dos EUA. Uma das investigações premiadas (sobre o tratamento que os hospitais de New Orleans deram às vítimas do Katrina) demorou dois anos para ficar pronta. O ProPublica só para de pé porque recebeu um financiamento anual de US$ 10 milhões de um casal de milionários da Califórnia, Herbert e Marion Sandler. O California Watch, criado dentro da Universidade de Berkeley, é bem mais modesto em recursos, mas não em ambições jornalísticas. Uma investigação de 13 meses do grupo revelou que a Califórnia tem centenas de escolas e hospitais públicos em zonas de terremoto, onde é proibido construir, em tese. A descoberta foi transformada em reportagens para rádios, tevê, internet e até um aplicativo para iPhone, por meio do qual é possível descobrir se um hospital de San Diego ou de Los Angeles está em área de terremoto. Só o aplicativo é pago (US$ 0,99). Jornais, tevês e rádios recebiam o conteúdo do California Watch de graça. Para os que acreditam que o jornalismo investigativo está morrendo (estou fora desse time), essas experiências mostram que será um enterro de gala.
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colunas móveis / gastronomia
Felipe chaimovich 123
el Bulli está morto, viva el Bulli! Ferran Adrià acaba de servir seu último menu degustação. O El Bulli fez o cozinheiro de um pitoresco estabelecimento à beira-mar tornar-se o principal chef da globalização. Consagrado internacionalmente, alavancou a projeção da cozinha espanhola como líder em experimentalismo gastronômico. Mas a criatividade estrelada encontrou seu limite no próprio ninho: o formato de restaurante terá de ser abandonado, para surgir a Fundação El Bulli em 2013
F er ra n a d r ià r e i n ve n tou a gast ron om i a p or duas d é ca das e Fechou se u r estauran t e e m 3 0 d e j ul ho. co mo se r c r i at i vo d e p oi s d e el B ulli?
No início dos anos 1990, Adrià começou uma pesquisa de transformação dos elementos das receitas e de suas combinações. A clássica fritada de batatas da Espanha foi decomposta em um fundo de cebola refogada e gema, encimado por espuma salgada de clara, servida em taça cônica de coquetel. Duas texturas marcantes pelos anos seguintes já estavam indicadas: a gelatinosa e a espumante, hoje reprodutíveis com a linha de enlatados “Texturas Albert e Ferran Adrià”. A experiência da degustação ao vivo prova o domínio de Adrià sobre a prática. Em São Paulo, o chef serviu pão de ló de gergelim negro e missô, num livre trânsito entre o mundo doce e o salgado: a massa aerada por levíssima clara batida tornou-se untuosa pelos demais componentes e surpreendia pela cor preta brilhante desdobrada a cada mordida. Adrià transgride a natureza do ingrediente, controlando as qualidades preservadas no prato final, apesar da transmutação de sólidos, líquidos e gasosos, secos e úmidos. Entretanto, o espaço lógico do acontecimento gastronômico permanece o prato individual. Historicamente, a ênfase na ração porcionada começou com Escoffier, criador dos grandes restaurantes do fim do século 19 e editor da Larousse Gastronomique. Mas foi a nouvelle cuisine que consagrou o indivíduo como medida única, a partir do célebre escalope de salmão com azedinha criado pelos irmãos Troigros, no início dos anos 1960. Eles abandonaram a composição da receita concebida para a travessa, passando a focar na escala do prato servido. Se, por um lado, Adrià elevou o prato individual ao status de plataforma inventiva, por outro, a medida da porção limitava-lhe o experimento. Apesar de todas as transgressões, o El Bulli não deixou de ser um serviço comercial dirigido ao agrado do freguês. Adrià fecha o restaurante para buscar um formato livre de clientes e reservas, menus degustação e rações empratadas. O potente patrocínio da Telefónica à Fundação El Bulli mostra o interesse espanhol no sucesso da transformação. Caso consiga dissociar a gastronomia da fórmula individualista de refeição, Ferran Adrià terá conseguido provar que a economia criativa pode ir além dos constrangimentos impostos pela idolatria do consumidor.
À esquerda: fotomontagem estúdio select; À direita: isabel martínez
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selects / música
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Rodrigo Savazoni
Ra di o h ea d by DJ C rem oso
Rec u rsos Educacionais Abe r tos
h ttp : / /youtu.b e/ 7 c ZxXTYeH8M
h ttp : / / b i t .ly/ak fis4
Deliciosa fuleiragem brega contra a banda mais digital do mundo.
Aco m pa n h e o t ra ba l h o d e q u e m difunde o direito de não ser original na educação.
Todo Mahle r
Refo r m a L DA e Mo b i l i za C u lt u ra
B a i le Tro p i ca l
h tt p: / / bi t . ly/kh m 8 X E
h ttp : / / b i t .ly/9 BRC MB h ttp : / / b i t .ly/e2wxsC
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Que r fa ze r a lgum a cois a? D ois s ites onde os a t iv ist a s se orga niza m p or políticas culturais contemporâneas e pela mudança da lei de direitos autorais.
Pa ra a com pa n h ar as an d an ças d a festa d e B e lé m d o Par á q u e ch ego u à Fran ça e d e r rubou a B astilh a.
Marco Civil d a Inte rnet
Mo by Gra t i s
B a i xa Cu lt u ra
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h ttp : / / b i t .ly/ixegv
Uma lei coletiva, escrita pela rede, para disciplinar o nosso direito ao compartilhamento.
Um clássico do compartilhamento. Músicas do produtor americano liberadas para recriações.
O melhor blog brasileiro sobre artimanhas da cultura livre. Não deixe de ler sobre détournement.
Fórum de C ultura Livre d e Barcelona
B a n co de Co n teú dos em C rea t i ve Co m m o n s
h tt p: / / bi t . ly/Fm G P I
h ttp : / / b i t .ly/m m g Dkd
Ambi en te vi rt u al so b re o even to qu e reún e an u al m en te q u em l u t a pelo di reito d e n ão ser o ri g i n al .
Pro c u re i n s u m os pa ra co n st ru i r s u a o b r a “ n ã o o r i g i n a l ”. A s l i c e n ç a s C C se r ve m pa ra a j u d á - lo n i s so.
PELO DIREITO DE NÃO SER ORIGINAL Remixar é contra a lei. Que mudem as leis! Enquanto isso, viva a legítima desobediência, porque todos nós quase sempre vivemos de recombinar
To da s a s ob ras d o co m p os i to r au st rí aco dispo n í veis para d ow n load .
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Rodri go Savazon i integrante da Casa da Cultura Digital, é organizador do livro CulturaDigital.br e um dos remixadores do curta-metragem Remixofagia – Alegorias de uma revolução (disponível em http://vimeo. com/24172300)
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selects / remix
Alemar Rena
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Ra di o h ea d Rem i x
Sta r Wa rs Uncut
h ttp : / / b i t .ly/m Ygvg
h ttp : / / b i t .ly/NGuKQ
Projeto e m q ue a ba nda Ra d iohea d ofe re ce s ua s m ús ica s pa ra re m ixa ge m . Ouça tod os os m ilha res ou fa ça o se u.
Para fãs e apreciadores de Star Wars. Recebe pequenas cenas de 15 segundos dos fãs e as remonta em um longa colaborativo.
Every t hing Is a Re m ix
Ch a r l i e Rose po r Sa m u el B ec kett
T h ru -yo u
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h ttp : / /youtu.b e/ LFE2CCfAP 1o
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Se vo cê a ch a q u e a p rát i ca d o rem i x surgiu co m o co m p u t ad o r e a i n tern et , veja este si te. D e Led Zep p el i n a Quen ti n Ta ran t i n o, t u d o é rem i x .
O jor na list a e e nt rev ist a dor a m e r ica no C ha r lie Rose é e nt rev ist a d o por e le m es m o e m um re m ix d e A ndrew Filip pone J r.
U m a da s m a is exp ressivas re mixage n s d o conte úd o d e v íd e o e áu d io d o YouTube foi p ro d u zid a p o r Ku timan neste p rojeto
Exquisite C lock
R i p : a Rem i x M a n i festo
I llega l A r t
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Desenvo lv i d o p o r Jo ão Hen ri q u e Wi l bert n o p ro j eto F áb ri ca, d o G ru p o Ben etto n , é u m rel ó g i o co lab o rat i vo a l i men ta do co m i m agen s envi ad as vi a si te e a pl i cat i vo d e i Ph o n e.
Exce le nte d ocum e nt á r io d o escr itor e diretor B rett G aylor sobre a cult ura re m ix. Ope n S ource te m ce na s re m ixa d a s p e lo p úb lico.
Selo com álbuns de produtores como Gregg Gillis (a k a Girl Talk), um dos maiores representantes do mash up, estilo de produção musical em que canções já existentes são misturadas para criar novas trilhas.
Harder Bette r Fa ste r Stronge r
T h ree Fra m es
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h ttp : / / b i t .ly/n KI fy
Apli ca ti vo para i Ph o n e e i Pad qu e permi te q u e vo c ê b ri n q u e de remi xar d u as m ú s i cas d a du pla Da ft Pu n k. Para ad u ltos e cri a n ça s.
U m a s im p les e dive r t id a ga le r ia de im a ge ns a nim a da s e m loop fe it a s com t r ê s f ra m es d e f ilm es clá s s icos .
MULTIDÃO CONECTADA Tudo que você não conhecia sobre cultura remix e nem por isso tinha vergonha de perguntar. Confira a história, produções inovadoras e arrisque o seu remix. Criativos do mundo todo, uni e multiplicai-vos!
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Alemar Ren a é professor universitário, músico e doutorando em Literatura Comparada pela UFMG. É autor de Do Autor Tradicional ao Agenciador Cibernético: Do biopoder à biopotência. www.fluxos.com
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ABAIXO A CRIATIVIDADE, EM LETRAS E IMAGENS
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Uma seleção de livros, filmes e sites que consultamos para montar esta edição
LIVROS, CATÁLOGOS E FILMES SOBRE CULTURA DO REMIX, DA CÓPIA E DA APROPRIAÇÃO QUE FORAM UTILIZADOS NA REALIZAÇÃO DESTE NÚMERO DA SELECT
Critique of Creativity Gene Ray e Ulf Wuggenig (org.). MayFlyBooks, 2011 Coleção de ensaios sobre o ressurgimento dos mitos da criatividade, que se propõe fazer a crítica dos impulsos populistas mobilizados em torno da indústria criativa. Disponível em http://bit.ly/bag22. Media Piracy in Emerging Economies Joe Karaganis (org.) . The Social Science Research Council, 2011 Relatório feito por 35 pesquisadores e nove instituições de diversos países, mostra que os preços altos dos bens midiáticos, baixos rendimentos e difusão de tecnologias digitais baratas são os ingredientes principais da pirataria. Retromania: Pop Culture’s Addiction to its Own Past Simon Reynolds. Faber & Faber, 2011 O crítico de música inglês que cunhou o termo pós-punk analisa em seu novo livro a indústria do revival: das novas formações de bandas há muito extintas até os relançamentos e remakes musicais. Unoriginal Genius Marjorie Peloff. The University of Chicago Press, 2010 A respeitada crítica literária argumenta que, no contexto hiperinformacional de hoje, o gênio individual começa a dar lugar à citação, à reciclagem e outras formas de mediação na literatura. Everyone Is a Designer in the Age of Social Media Geert Lovink e Mieke Gerritzen (org.). BIS Publishers, 2010 Os autores afirmam que o desejo de democratizar o design tornou-se realidade e anunciam o surgimento de um novo movimento estético colaborativo que combina visualidade guiada social, tecnológica e economicamente. Appropriation – Documents of Contemporary Art David Evans (org) Whitechapel Gallery e The MIT Press, 2009 O legado de roubar imagens e formas é lastreado nas estratégias apropriacionistas dos anos 1980, de Sherrie Levine a Cindy Sherman, até as fotomontagens das vanguardas, de Duchamp e Picabia a Cildo Meireles e Martha Rosler.
Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento
Ana Carla Fonseca Reis (org). Itaú Cultural, 2008 Apresenta diversos pontos de vista acerca do conceito de economia criativa, discutindo suas práticas à luz do saber de pensadores de diferentes realidades locais. Disponível em http://bit.ly/bag03 Tecnobrega – O Pará Reinventando o Negócio da Música Ronaldo Lemos e Oona Castro. Editora Aeroplano, 2008 O livro conta a história do gênero musical paraense, que é produzido em estúdios na periferia de Belém e distribuído nos camelôs da cidade, e mostra a importância de modelos alternativos de negócios na indústria cultural brasileira.
Na web A Sociedade do Espetáculo http://bit.ly/bag21 Dial H-i-s-t-o-r-y http://bit.ly/bag05 Steal This Film http://bit.ly/bag07 Remix Theory http://bit.ly/bag14
Remix: Making Art and Commerce Thrive in the Hybrid Economy Lawrence Lessig. Penguim USA, 2008 O advogado e criador do projeto Creative Commons mostra como as operações de remixagem revitalizam o sentido de comunidade e de bem comum, indicando novos formatos de sociabilidade e criação. The Culture of Copy Hillel Schwartz. MIT Press, 1997 Tentativa de esclarecer o fascínio ocidental por réplicas, duplicatas e cópias de todo tipo. Por meio de análise histórica e estudos de caso da cultura contemporânea, Schwartz investiga falsificações, manequins, clonagem, camuflagem, replay instantâneo, imitações e museus de cera. F for Fake – Verdades e Mentiras Direção: Orson Welles, 1973. Distribuição: Continental O filme retrata o excêntrico falsificador de arte Elmyr de Hory, autor da biografia de Howard Hughes – a mais famosa falsificação da década de 1970 – e seu confidente Clifford Irving. Faz o espectador titubear o tempo todo e perder a referência entre falso e verdadeiro no filme.
Contos: Ficções, Jorge Luis Borges. Cia das Letras, 2007; A Coleção Particular, Georges Perec. Cosac Naify, 2005
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Governo de SÃo Paulo e Secretaria de eStado da cultura
Que FalaM a MeSMa lÍnGua: o PortuGuÊS.
venHa ver na eStaÇÃo Pinacoteca 100 FotoGraFiaS de artiStaS de lÍnGua PortuGueSa Que inteGraM
Kiluanji Kia Henda, angola
FotoGraFiaS
BeS PHoto 2011 carlos lobo, Portugal
ApresentAm:
a 7ª ediÇÃo do PrÊMio
eStaÇÃo Pinacoteca larGo General oSÓrio, 66
Mario Macilau, Moçambique
realização
Manuela Marques, Portugal
de 20 de aGoSto a 23 de outuBro de 2011
Mauro restiffe, Brasil
BeS PHoto.
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Arquitetura genérica: contraindicações Niemeyer tornou-se grife e refém de sua equipe AngélicA de MorAes
Estão produzindo genéricos de Oscar Niemeyer. O princípio ativo parece o mesmo, o balconista da farmácia diz que o efeito é igual, mas não adianta: uma coisa é a fórmula original e outra coisa a sua diluição mercantil. Um dos mais recentes genéricos de Niemeyer foi aprovado pela Cúria Metropolitana de Belo Horizonte e pelo papa Bento 16: uma “nova” catedral para a capital mineira. A atual, concluída em 1932, em estilo neogótico-Disneylândia, certamente é bem pior, claro. Mas a atribuída a Niemeyer é feita de pedaços clonados da catedral de Brasília mixada com a calota da Oca do Ibirapuera, em São Paulo. Um susto. Dois clássicos da arquitetura, recortados e colados sem um pingo de invenção, geraram um monstrengo indigno da assinatura Niemeyer, um dos mais importantes arquitetos brasileiros do século 20 no cenário internacional. Mas a assinatura está surpreendentemente lá. Niemeyer é refém da equipe de seu escritório de arquitetura? É roda de engrenagem que não pode parar, movida pelo fluxo de encomendas oficiais? Difícil afirmar. Certo mesmo é que a demanda incessante pela grife Niemeyer está produzindo banalidades impensáveis no currículo do autor da Pampulha. A insistência em aviar contrafações grotescas para demandas da sinuosa e elegante obra de Niemeyer deve-se, em parte, à desinformação dos que fazem essas encomendas. Certamente, ignoram os rumos da arquitetura contemporânea no País e no mundo. Niemeyer é, hoje, um fato histórico. Algo assim como o glorioso Biotônico Fontoura ou o óleo de fígado de bacalhau. Sua obra mais importante já foi realizada e bem realizada há décadas, antes do fim do milênio. Aperto o botão delete para essa diluição da qualidade estética e da relevância criativa do legado de Niemeyer. É um legado de arquitetura moderna que não consegue nem precisa se mostrar vital na contemporaneidade. Precisa é ser protegido.
P roj e to da n ova cat e d ral d e b e lo H o r i zo n t e , ass i n ada P o r n i e m ey e r
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Fita cassete (1963 - 2000) Na genealogia do remix, ela reina soberana. Se um dia fosse construído um museu da sampleagem, teria de ocupar uma sala especial. Hoje condenada à condição de lixo da indústria eletrônica, já foi musa dos piratas e sua história se confunde com a do pop.Ganhou o mundo nos anos 1970, quando se juntou a uma criatura japonesa, o walkman, de quem se tornou companheira inseparável. Casal de sucesso, a dupla marcou época nos anos 1990 e mudou a paisagem urbana, aparecendo com frequência ao pé do ouvido e colada na cintura dos passageiros de metrô e dos pedestres, sem distinção de sexo, cor ou religião. Diva do cut & paste, merecia um mausoléu no cemitério dos DJs. Ícone da época dos demos, foi símbolo de um tempo em que músicos acreditavam em majors e em hit parades. Com seu amante, o gravador portátil, deu origem a uma das palavras-chave da cultura digital: bootleg. Termo que remonta ao século 17 e literalmente
define o cano da bota, é associado hoje à pirataria de games a programas, passando por vídeos e afins. Mas ganhou expressividade na cena musical. Era ali, na perna, escondida debaixo da calça e agarrada ao gravador, que ia aos concertos de rock e registrava os áudios que seriam multiplicados e compartilhados sem ligar para registros, patentes e autorizações. Geniosa, era dada a enroscos frequentes, partindo-se em pedaços, fragilizada diante do envelhecimento que parecia não suportar. Nascida em berço holandês, na casa Philips, em 1963, morreu solitária e foi enterrada sem pompa nem glória no ano 2000. Jaz numa cova rasa, sem identificação, junto de uma pilha de CDs, ironicamente, seu primeiro algoz. G B
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Do cesto de lixo à cesta de tricô
Rosana Hermann tricota linhas de fuga da obsolescência programada, dando novos sentidos para as fitas cassete
Todo mundo conhece Rosana Hermann na web. Atual gerente de criação do portal R7, ela é autora do blog Querido Leitor (especializado em generalidades, como define), e uma das twiteiras mais ativas e influentes do Brasil. Multimídia no sentido mais pleno da palavra, é mestre em Física Nuclear pela Universidade de São Paulo e começou sua carreira profissional no rádio. Sempre escrevendo, migrou para a televisão em 1983 e passou por todas as emissoras abertas. Foi roteirista do Sai de Baixo, da Rede Globo, trabalhou na criação e redação do Pânico na TV e em programas educativos. Tricota desde os 7 anos. O dia em que soube que a palavra texto vem do verbo tecer (texere, em latim), “foi uma epifania”, diz. “Descobri que as duas coisas que mais gosto de fazer na vida são uma só! Não precisava mais optar por uma favorita”, conta. Há cerca de dez anos, em um dia de faxina, percebeu que não conseguia jogar fora suas velhas VHS. Incorporou-as ao texto de sua vida. Passou a mão nas agulhas e dali foram nascendo bolsas, chapéus e cachecóis de linhas analógicas. As fitas cassete tiveram o mesmo fim, ou reinício, já que também foram parar na sua cesta de tricô, em vez de ir para o lixo. “Com a digitalização, as mídias deixaram de ser materiais, tornaram-se arquivos. Pra que ficar convertendo tudo em mp4 e mp3, se eu posso baixar tudo da internet? Tricotando, eu restabeleço essas fitas como matéria, dou a elas um novo sentido”, diz. G B FOTO: ADRIANO VANNI
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