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Tecnologias digitais e ciclos inovação no setor de energia, óleo e gás
Victor Venancio Head de Transformação Digital LatAm da IHM Stefanini
A inovação ocorre em ciclos, e oscilam conforme desenvolvimento da sociedade, evolução tecnológica e demandas do mercado. Neste artigo, não vamos abordar a parte conceitual das teorias econômicas de destruição criativa de Joseph Schumpeter, de inovação como recurso estratégico para geração de valor do Peter Drucker, de inovação aberta com o Henry Chesbrough, ou mesmo da inovação incremental ou disruptiva, cunhada por Clayton Christensen, entretanto, poderemos observar alguns destes conceitos presentes no texto, onde traremos uma análise dos ciclos de inovação no setor de energia, óleo e gás, que pode ser considerado para diversos segmentos industriais.
Estamos acostumados a ver a famosa imagem da evolução industrial, desde a indústria 1.0, até a mais recente, a indústria 4.0, destacando-se algumas tecnologias que marcaram o início de um novo ciclo industrial. (Fig 01))
Figura 01 – Evolução da indústria
Entretanto, temos marcos distintos, quando falamos da evolução tecnológica nos ciclos de inovação ao longo dos anos, extrapolando as fronteiras das indústrias, sendo eles: 1 – A primeira revolução industrial, com as máquinas a vapor e as fábricas mecanizadas; 2 – A era do vapor, carvão e das linhas férreas; 3 – A era do aço e da engenharia pesada (elétrica, química, civil, naval...); 4 – A era dos automóveis a combustão, petróleo, petroquímica e produção em massa; 5 – A era da tecnologia da informação e telecomunicações, ... ... é a que estamos vivendo, 6 – A era da tecnologia digital, biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais . Ou seja, a era da quarta revolução industrial, da transformação digital, transição energética, mobilidade urbana, saúde digital e diversos outros movimentos transformacionais, que estão impactando nosso jeito de viver. A evolução tecnológica acontece em ciclos, e costumava durar meio século, conforme indicado na figura 2, abaixo.
Figura 02 – Ciclo de evolução tecnológica (fonte: livro Technological Revolutions and Financial Capital - Carlota Perez)
O progresso nas economias de mercado tem ocorrido em ciclos sucessivos de transformação, onde ciclos mais maduros entram em declínio, e um novo ciclo surge, trazendo novas tecnologias, modelos de negócios, processos e desafios estratégicos. Estes ciclos levavam, em média, 40 a 60 anos (Fig 03).
Figura 03 – Evolução em ciclos
O conceito de mudança de paradigma tecno-econômico e a teoria das grandes ondas, explicitam os ciclos de inovação que temos visto na sociedade ao longo dos anos, e são evidenciados
através dos estudos da Carlota Perez, pesquisadora e professora sobre o impacto socioeconômico de grandes mudanças tecnológicas e condições para o crescimento, desenvolvimento e competitividade, a qual serve de base para este artigo, onde relaciono estes conceitos, com o setor de energia, óleo e gás.
Olhando estas curvas, usando um zoom maior, observamos que a mudança de um ciclo maduro de inovação para um novo ciclo, normalmente ocorre por algum fato relevante, um “big bang”, que conecta uma série de inovações que estão sendo desenvolvidas, e que culminam na erupção de novos produtos, serviços e tecnologias, que impactam toda sociedade e o ambiente de negócios. (Fig 04)
Este novo ciclo segue, então, a sua curva de maturidade, apresentando sucessivas inovações incrementais e/ou disruptivas, ao longo dos anos, redefinindo como as organizações e os cidadãos executam suas tarefas e geram riquezas. Quando os mercados já estão saturados, atingimos o limite de produtividade e os lucros começam a cair, propiciando-se então, um novo ciclo de inovação.
Figura 04 – Evolução da indústria
Observamos que o tempo que antes levávamos para tornar um ciclo novo, em maduro, que historicamente se apresentava de 40 a 60 anos, agora tem sido bem mais curto, devido ao avanço tecnológico, o surgimento de inovações disruptivas, e uma maior facilidade de compartilhamento do conhecimento, através das estratégias de inovação aberta.
Temos, atualmente, um relativo fácil acesso à informação acadêmica e de pesquisas & desenvolvimento, que permite acelerar todo este ciclo de inovação. Empresas e profissionais, com acesso ao conhecimento de forma estruturada, possibilitam reduzir o tempo de maturidade deste ciclo, que se tem expressado através do aumento exponencial do número de patentes, ao longo dos últimos anos. (Fig 05)
Figura 05 – WIPO – gráfico de aumento de registro de patentes ao longo dos anos
Na medida que este ciclo se vai tornando mais maduro, com as tecnologias mais maduras, e já sendo comprovadamente adotadas e aprovadas em suas tarefas, através de startups de destaque, por exemplo, temos então a consolidação das entidades atuantes neste sistema econômico, e começamos a ver as operações de M&A (Merge & Acquisition), compra, venda e fusão de empresas, expressa notadamente em nosso dia-a-dia, como as operações de CVC (Corporate Venture Capital) das grandes organizações, onde as empresas mais sólidas, estruturadas, e com capacidade financeira, efetuam investimentos ou adquirem as empresas menores, que atuaram na formação da curva de maturidade deste novo ciclo de inovação (Fig 06).
Figura 06 – Acesso ao conhecimento
Para exemplificar esta visão, na imagem abaixo, temos o gráfico que demonstra a mudança de ciclo da era da produção em massa, do petróleo e dos automóveis, para a era da tecnologia da informação, telecomunicações e dados (Fig 06).
Figura 07 – Mudança de ciclo
Temos, atualmente, este mesmo cenário de décadas atrás, revelando-se, em nossa frente, o surgimento de um novo ciclo de inovação. Temos o “big bang” do imperativo da transição energética e da necessidade urgente de redução das emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa ), com compromissos ( ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis ) firmados em acordos internacionais por governos e organizações, pressionando por um novo ciclo de inovação.
O acesso mais facilitado às tecnologias digitais permite acelerar este novo ciclo de inovação. Vemos inúmeras iniciativas de inovaçao aberta, os conhecidos hubs setoriais (Enegy hub, Mining hub, etc.), ou mesmo os ecossistemas criados por grandes empresas, acelerando a troca de conhecimento e a geração de valor compartilhado. Estas iniciativas resultam num ciclo mais rápido de inovação, possibilitando resultados mais efetivos, em menores espaços de tempo.
No setor de energia, óleo e gás, ou melhor, nos diversos setores de base industrial, temos o IoT (Internet das Coisas) ou IIoT (Internet das Coisas Industriais), a inteligência artificial,
o big data e o data analytics, a robótica e a automação massiva, impressoras 3D (manufatura aditiva), computação nas nuvens (cloud computing), realidades virtual, aumentada e mista, cybersegurança, blockchain, entre outras tecnologias, que até há alguns anos atrás estavam representando o início de um novo ciclo de inovação, hoje já constituem ferramentas comprovadas de aceleração dos resultados, e demonstram a redução do tempo do ciclo de inovação. Empresas que ainda não estão adotando estas tecnologias se colocam em uma zona perigosa de risco, onde a continuidade do negócio pode não ser alcançada.
A integração destas novas tecnologias digitais, que surgiram neste novo ciclo de inovação que estamos vivendo (as ditas tecnologias emergentes da indústria 4.0), às tecnologias convencionais, consolidadas na indústria, desde o ciclo de inovação anterior (sistemas de controle, SCADA, MES, PIMS, etc.), representam um desafio tecnológico e organizacional bastante representativo para os gestores das organizações de base industrial. A convergência dos dados dos sistemas legados, sejam eles de OT (Operational Technologies) ou IT (Information Technologies) às novas tecnologias digitais, resultarão numa potencial geração de vantagens competitivas sustentáveis, e na perpetuidade da empresa, precisando, portanto, fazer parte da sua estratégia corporativa.
A transformação digital, em seus conceitos fundamentais de atuação em tecnologias, sejam elas emergentes da indústria 4.0, convencionais ou mesmo as tecnologias disruptivas, a otimização de processos, e a adaptação da cultura organizacional, têm o potencial de acelerar os ciclos de inovação. Algumas organizações terão ciclos mais curtos e outras mais longos, mas é importante destacar que o nível de maturidade digital do setor de energia, óleo e gás como um todo, está, infelizmente, entre os menores, perante os mais diversos setores de mercado.
Este estudo recente da Deloitte, em parceria com o IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), indicou que o nível de maturidade digital dos setores de energia, óleo e gás, é um dos menores, o que representa que há um enorme potencial de crescimento, nestes setores estratégicos para nossa economia, através da adoção massiva de tecnologias digitais e inovação. Ou seja, ainda estamos no início da curva de maturidade, indicado nos gráficos dos ciclos de inovação, em nosso setor de energia, óleo e gás.
O período da indústria 4.0 tem somente dez anos aproximadamente, e já podemos ver, em algumas organizações, o impacto destas tecnologias nos resultados financeiros e operacionais das empresas, rejuvenecendo modelos de negócios, e trazendo inúmeras possibilidades de geração de valor, mesmo aos negócios mais tradicionais, e enraizados em modelos organizacionais típicos da era da indústria 3.0 (como o setor de energia, óleo e gás, por exemplo), porém, como vimos, na pesquisa da Deloitte, ainda temos muito a fazer, englobando um esforço conjunto de todos os entes do ecossistema de inovação aberta, as próprias empresas produtoras de petróleo, as fornecedoras de tecnologia, universidades, hubs, startups e governo. Não tenho a menor dúvida de que este novo ciclo de inovação não levará 40 a 60 anos e, muito em breve, já teremos um novo ciclo de inovação se formando, com “big bangs” mais relacionados ao ser humano e nossas demandas mais existenciais de bem-estar, saúde e convivência. De fato, termos como sociedade 5.0, ESG, e alguns artigos já citando a indústria 5.0, onde a centralidade no ser humano será o foco deste novo ciclo, já estão impactando como as organizações se posicionarão daqui em diante. Gestores de empresas, que não tiverem esta percepção em tempo de adaptarem suas respectivas estratégias corporativas, de negócios e operacionais, deixarão de aproveitar oportunidades de negócios e geração de valor a toda sociedade. E a sua empresa, está preparada para um novo ciclo de inovação? Já está executando a transformação digital, e elevando a maturidade digital? Figura 08 – Estudo de maturidade digital (Deloitte e IBP)