Por Elvis Tavares
Álvaro Tito Um dos maiores cantores da música evangélica no Brasil
São Paulo / 2012
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Apresentação
Álvaro Tito, registrado por seus pais, Jorge Severiano e Olindina Ramos, como Álvaro Tito de Oliveira, nasceu em 18 de junho de 1965, no Rio de Janeiro. Além de Álvaro, o casal tem as filhas Elvira Ramos e Eudócia Paloma. Álvaro iniciou sua carreira musical no limiar dos anos 80, confirmando-se como um dos maiores intérpretes da música evangélica brasileira ao longo desses mais de 30 anos. O nome Álvaro tem origem germânica e significa “o atento a tudo”. Seu estilo musical influenciou diversos outros cantores no território nacional, como Marquinhos Gomes e Kleber Lucas, por exemplo, obtendo deles tal reconhecimento e colocando-o como o precursor de uma nova geração, isso sem qualquer desrespeito e menosprezo ao trabalho em disco promovido pelos amantíssimos levitas Feliciano Amaral, Luiz de Carvalho, Victorino Silva, Elson Rodrigues (sem acento mesmo!), entre outros, mestres da música gospel daqui e que naqueles anos somente era denominada de música sacra. Estes serviram de inspiração ao menino Álvaro quando vivia a fase da pré-adolescência, portanto, ainda imberbe, e que já prenunciava aos que o ouviam cantar o surgimento de uma das vozes mais apreciadas da nossa gospel music. 11
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Desde o primeiro LP, intitulado Meu ser para Cristo até o mais recente lançado pela gravadora Sony Music/ATV, o CD Reinas em glória, contam 17 discos lançados durante a carreira do cantor. Suas músicas são conhecidas do Caburaí (Roraima) ao Chuí (divisa do Brasil com o Uruguai), não havendo no país um evangélico – nem possivelmente até alguém fora do arraial, e isso é uma dedução nossa – que, se não souber o nome de Álvaro Tito, não saiba, pelo menos, cantarolar uma de suas músicas, mesmo que a letra da canção não esteja de todo correta. O objetivo deste livro será contar um pouco da história do menino de Campo Grande, no Rio de Janeiro, que já pôs os pés nas cinco regiões do Brasil, nas outras Américas e no Velho Continente; em igrejas grandes ou pequenas (inclusive católicas), de construções suntuosas ou simples, de todas as denominações, e que sempre procurou levar a mensagem do evangelho ao aceitar os convites dos diversos pastores, líderes e irmãos em Cristo espalhados pelo Brasil e nações do mundo afora.
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Capítulo 1 O início na Assembleia de Deus de Campo Grande
O menino Álvaro Tito, ou melhor, Tito, como sempre foi chamado no seio de sua família, pelos amigos mais próximos e moradores, principalmente, de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, nasceu em lar evangélico e teve evidenciado em sua vida o cuidado previsto nas Escrituras quando se concita aos pais a ensinar seus filhos o caminho em que devem manter os passos para não se desviarem dele evitando-se, mais à frente, colherem frutos ruinosos (Provérbios, capítulo 22, versículo 6). A verve musical de Álvaro Tito, por sua vez, possivelmente tenha ligação com fatores hereditários, isso porque tanto sua mãe quanto seu pai trazem a musicalidade nas suas veias, tendo composições inseridas em todos os trabalhos do cantor. Seu pai, por exemplo, o pastor Jorge Severiano, participou da gravação de um compacto simples, bem antes de o filho pensar em carreira, executando um violão, acompanhado do pastor Geraldo Arsênio, no trombone (nenhum dos dois era pastor ainda) e de Isaías Ramos, tio de Álvaro, irmão de sua mãe – já falecido – como intérprete. A música principal do disco, de capa em preto e branco, era Reconciliação, do próprio Isaías. 13
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Elvis Tavares
Corria o final dos anos 60, quando a família já congregava na Assembleia de Deus de Campo Grande, então liderada pelo saudoso Pastor Carlos Malafaia. Álvaro contava apenas com seus 3 anos de idade e, sem quaisquer receios de plateia, era carregado no colo pelo pastor Carlos que o colocava numa cadeira para cantar ao microfone da igreja. Passados alguns anos, aprendeu a tocar vários instrumentos musicais com facilidade: o violão, sax tenor, bombardino e bateria. O violão auxiliava-o a compor suas primeiras canções – naqueles tempos somente tratadas como músicas sacras ou hinos, pois chamá-los de outra forma não era considerado uma atitude de “crente”. Há de se ressaltar, no entanto, que no mundo da música pop existem canções que recebem a honraria de serem chamadas de hinos; muito disso se deve ao sucesso que representam, avançando nos anos, sem que tais obras caiam no esquecimento. Por isso, o rótulo de “hinos”. We are the world (Michael Jackson/Lionel Ritchie), por exemplo, canção gravada em 1985, por 45 dos maiores ícones da música mundial, visando angariar fundos para o combate à fome no Continente Africano, é tida como um hino por muita gente e pela crítica especializada. Tito crescia e, agora, na transição da fase criança-adolescente, frequentava a classe infantojuvenil da Escola Bíblica Dominical dirigida pelas professoras Raquel e Miriam Malafaia e Nilma Gonçalves. Atuava na banda musical da igreja integrando o naipe dos instrumentos de sopro com seu saxofone, juntamente, com seu primo Mateus, que tocava clarinete.
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Álvaro Tito - Uma biografia sem barreiras
Aliás, foi justamente nessa época de escola dominical que nos conhecemos, e no primeiro dia de aula, na classe, já fizemos uma amizade que perdura até os dias atuais. E nisso já se vão quase 35 anos. A igreja organizava os conhecidos retiros espirituais na congregação postada em Seropédica (no quilômetro 40 da antiga Estrada Rio-São Paulo), durante os dias de carnaval, e uma das atrações que concentrava bastante a atenção das pessoas presentes no retiro, principalmente dos jovens, era o concurso de música que se realizava: o inesquecível COMEV – Concurso de Música Evangélica. Os candidatos eram excelentes intérpretes e vinham não só da igreja-matriz como de outras congregações para participarem do evento. No concurso do retiro de 1977, Tito concorreu com O amor de Deus, música de sua autoria, ganhando o troféu de primeiro colocado. Muitos anos depois, na década de 90, O amor de Deus foi escalada para compor o repertório do LP Deus está aqui, da gravadora Nancel Produções. No retiro seguinte – dessa vez, fui testemunha ocular – Tito inscreveu-se com a balada Livra minh’alma, novamente angariando a medalha de vencedor. Livra minh’alma foi, mais tarde, gravada no disco Cenas (aquele em que Álvaro é retratado, além da roupa toda em tom marrom, com o violão e vários esboços de partituras, sugerindo o momento de confecção dos arranjos musicais daquele LP). Na terceira vez que presenciei a promoção do concurso “anticarnavalesco”, lá estava Tito defendendo seu título, agora com a música autoral Quando será. Tudo indicava uma nova vitória de Tito quando, inusitadamente, vi surgir num concurso de música evangélica, ainda que informalmente, a condição de candidato hors concours. 15
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O querido pastor Carlos Malafaia, entendendo a necessidade de se conceder a oportunidade a outros valores, alçou João Sarmento, segundo colocado, à condição de primeiro. E, no fundo, ele foi sensato! Analisando detidamente a questão, podia-se ver que somente Tito utilizava-se de obras musicais inéditas, isso porque os demais concorrentes valiam-se de sucessos da época gravados, principalmente, pelos cantores Ozeias de Paula, Shirley Carvalhaes, Carlos de Oliveira etc. Segundo as palavras do musicólogo alemão Hugo Reimann (falecido em 1919), “o maior elogio feito a um instrumentista é dizer que ele canta”, isso porque a voz humana é o instrumento mais perfeito de todos. Daquela turma, que contava com Ana Nunes, Joel Arsênio, Miriam Cabral, Siméa Arsênio, João Sarmento, para lembrar alguns, realmente, apenas Tito seguiu carreira musical, excetuando-se Joel Arsênio, que gravou um trabalho em disco, incluindo uma música de Manoel S. O. Filho, também primo de Álvaro, chamada Espere um pouco mais. Acho interessante revelar aqui, nestas páginas, a origem da pronúncia forte de Álvaro Tito no que tange à letra “R”. Ele sempre primou por cantar apresentando a dicção, da forma mais perfeita possível, e um dos itens que pontuava na votação dos jurados, inclusive, era a correta expressão das palavras pelo intérprete. O pastor Jorge instruía-lhe a pronunciar “Senhooooorrrr” ou “amoooorrrr”. Lembro-me de “reclamar” com ele dando o exemplo do Paulo Cezar, líder do Grupo Logos, nascido no Rio de Janeiro e que, mesmo radicado no Estado de São Paulo, por vários anos, permaneceu com o sotaque carioca, em suas belíssimas canções – são 78 gravadas pelo Grupo – enquanto Álvaro cantava, em alto e bom som: “Pois, não há barrrrrrrrreirrrrrras...”. 16
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Algum tempo depois passei a entender mais esse pormenor, até mesmo porque participei de um coral e vi como era importante a dicção das palavras na música. Enfim, os admiradores de Álvaro não estão muitos preocupados com seus “erres” em excesso e deve ter gente achando até interessante essa história. A Assembleia de Deus, situada na Avenida Cesário de Melo, avenida esta ironicamente conhecida como Esquina do pecado, no bairro de Campo Grande, foi palco de grandes acontecimentos durante a juventude de Álvaro Tito. Ali, costumeiramente, apresentava-se cantando as músicas que o Senhor concedia para ele em inspiração, e, em algumas ocasiões, utilizou-se da escatológica canção Jerusalém (Nova cidade de Deus), de Elson Rodrigues, o emblemático “Cantor do Apocalipse”, hoje (2011) ainda em plena atividade com seus 77 anos.
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