Ubirajara Crespo
Não Faça de seu Filho
uma Arma A Vítima Pode Ser Você
São Paulo 2012
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Introdução
Todos os dias, pela manhã, antes do café, vou até a frente da minha casa pegar o jornal do dia. Desenvolvi esse hábito há alguns anos, gosto de começar o dia bem informado. Coisa de cinquentão! Confesso que ultimamente as notícias não têm sido agradáveis nem estimulantes. Em uma dessas vezes, um jovem que passava, ao ver minha expressão de espanto diante das notícias, perguntou: – E aí tio, o que tá pegando? Cuidado!!! Esquenta não meu, senão o bicho pega. Ainda bem que ele não me chamou de vô, pensei.
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Aquele jovem é um símbolo vivo de uma geração que não está nem aí pra tudo (tô nem aí). Às vezes sou levado a pensar que eles é que estão certos. Mas pensando bem, se ninguém “esquentar”, nada vai mudar. Tiradentes “esquentou” e provocou mudanças profundas que fizeram com que a vida melhorasse para muitos. Se Isaac Newton tivesse “ficado frio”, não teria descoberto nada. Caso Lavoisier, Einstein, Bach, Picasso e outros não tivessem “esquentado”, o mundo seria mais pobre na cultura e na ciência. Diante disso, resolvi “esquentar” e produzir algo que possa ser utilizado para tornar a vida de alguém um pouco melhor. Aproveitando a metáfora, vamos dar uma requentada, ainda que despretensiosa, em alguns princípios de vida para a família. A situação do ser humano na terra é caótica. O nível dos relacionamentos entre as pessoas
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poderia ser classificado pelo menos como decadente. Por mais que a gente tente ser otimista, as coisas não parecem estar melhorando. Quem vive há mais tempo neste planeta sabe muito bem disto. A notícia ruim está solta. Os pais se revoltam contra os filhos e os filhos se revoltam contra os pais. Em alguns meios, parece que dá um certo status cometer algum tipo de desatino contra os pais ou a família. A chamada guerra das gerações parece que está deflagrada. A família está vulnerável a esse ataque. O que aflige o seu pai, ou manda embora sua mãe, é filho que traz vergonha e desonra (Pv 19:26). Quem está colocando todo este armamento nas mãos das pessoas? Onde será que vai parar tudo isto? Quem poderá nos ajudar? Essas
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são algumas das questões nas quais tenho meditado com frequência. Minha cabeça está pegando fogo. Espero que este livro, resultado destes questionamentos, possa ajudá-lo a relacionar‑se com seu filho e sua família de maneira nova e edificante. Profetizando a respeito dos últimos acontecimentos de nosso mundo, Malaquias nos promete algo que me deixa esperançoso. Alguma coisa ainda vai acontecer. Esta é a última notícia do Antigo Testamento, e eu quero acreditar. Acredite você também: “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição” (Ml 4:6).
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Procurei colocar neste livro as diversas fases em que nos relacionamos com nossos filhos. Caminhei desde a infância até o casamento. Cada uma destas fases percorridas, são momentos únicos, e devem ser vividos de forma exclusiva. Caminhe comigo e aproveite bem.
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PARTE I
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Alianças Familiares
O Jornal da Tarde de 16 de agosto de 2003 trouxe a seguinte notícia: RAPAZ MATOU MÃE E IRMÃ. “Sinto ódio dos meus pais e nojo da minha irmã” disse o matador à polícia. Leandro contou que teve muitos problemas com o pai, entre seus quatro e dez anos. Disse que apanhava todos os dias e que chegou a ser amarrado no pé da mesa. “Quem estragou minha vida foram meus pais”, reclamou o jovem. Escrevo este livro para você, querido pai, torcendo para que esse tipo de notícia não tenha um de seus filhos como protagonista. A verdade, porém, é que necessitamos não apenas torcer para
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que tudo dê certo, precisamos agir. Uma coisa eu sei, e devo admitir, que nossos filhos têm a tendência natural, herdada de Adão, de absorver tudo o que veem de ruim no comportamento dos pais. O processo de redenção completado na Cruz do calvário inclui em seu bojo um livramento dessas cargas hereditárias, visto que fomos resgatados de todas aquelas manifestações de inutilidade que vimos em nossos familiares. Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais (1Pe 1:18). A família é uma autêntica incubadora, um laboratório onde qualidades como misericórdia, longanimidade, paz, amor e respeito pudessem ser formados e desenvolvidos livremente. É assim que acontece em sua casa? É no lar que sonhos são alimentados, esperanças crescem
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e potenciais são descobertos e desenvolvidos. Para que tudo isto aconteça, é necessário que, antes de qualquer coisa, três componentes básicos de uma família estejam reunidos dentro de um mesmo teto: Deus, pais e filhos. Quando falta um destes, podemos afirmar que temos uma família descaracterizada. As melhores soluções para os maiores problemas são bem mais simples do que podemos imaginar. Deus não é complicado. É dele que vêm os sonhos e as esperanças mais dignas. É preciso sonhar os sonhos de Deus para o lar, pois os Seus sonhos são bem melhores do que os nossos. Os pensamentos de Deus devem ser absorvidos por pais que estejam dispostos a passá‑los para seus filhos. Na mente de Deus foi concebido um projeto perfeito para a família de Abraão:...em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12:3). Há propósitos
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divinos para a sua família também, querido leitor. Sonhos perdidos precisam ser reencontrados. Mesmoquando desastres provocam desagregações familiares, podemos reconstruir nossa história. Vamos rever o contrato que Deus fez com a família. Uma aliança familiar deve ser assumida definitivamente. Deus tem um objetivo para cada família. Os objetivos de Deus estão previstos no contrato feito com cada casa. Nos planos do Senhor havia um lugar para a família de Davi e seus descendentes e há um lugar para a sua também. Ora, se tu andares perante mim como andou Davi, teu pai, com inteireza de coração e com equidade, fazendo conforme tudo o que te ordenei, e guardando os meus estatutos e as minhas ordenanças, então confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre, como prometi a teu pai Davi, dizendo: Não te faltará varão sobre o trono de Israel (1Rs 9:4,5).
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Deus tem planos de paz para nós e não de extermínio. Há quem carregue uma espécie de “carma evangélico” e assuma uma atitude de autoexpiação, achando que deve sofrer por causa de seus pecados. Jesus já fez isso por nós: levou sobre si as nossas dores (veja Isaías 53). No salmo 103 lemos que Ele não nos trata segundo os nossos pecados. Constantemente afligimos nossas mentes com lembranças de um passado que insistimos em reviver. Sempre que relembramos cenas de nossa história, revivemos também as mesmas emoções das quais essas memórias estão carregadas. É como se tudo estivesse acontecendo novamente. Infelizmente convivemos com sintomas reais que funcionam como espinhos na carne, mensageiros de Satanás que nos atormentam. Nada, porém, pode nos impedir de prosseguirmos rumo à vitória, sejam quais forem os empecilhos. Há um objetivo de Deus para você e toda a sua descendência, e todos chegarão lá.
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