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Edição Nº 30 — Ano III — Janeiro/2012 — Revista Nordeste VinteUm – Publicação sobre economia, política, cultura e educação — www.nordestevinteum.com.br
ENTREVISTA AMAURY JR ANUNCIA NOVO LIVRO SOBRE PRIVATIZAÇÕES
O Ano do
Seu Lua Em 2012 comemora-se o centenário de Luiz Gonzaga. A Nordeste VinteUm conta a história deste que foi um dos maiores gênios da música popular brasileira
Caatinga
Rio 20
I Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável do Bioma Caatinga – A Caatinga na Rio+20 14, 15 e 16 de março de 2012 Auditório Celso Furtado do Banco do Nordeste, Centro Administrativo Getúlio Vargas, Passaré -Fortaleza/Ceará
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VISÃO DE MUNDO “Fui um moleque feliz. No sertão, todo moleque que não vive no domínio de senhores perversos é feliz. Tem suas compensações, a pobreza. A liberdade ampla, a natureza imensa a sugerir uma grandeza que está longe de atingir” “Estimulado pelas coisas do meu sertão, abri a sanfona e fiz soar um xote. Eufórico, sapequei uma toada, contei a história da asa branca e já o doutor tinha o monstro da música riscado no papel. Maravilhado com tanta versatilidade, abri mais uma vez a sanfona como derradeiro desafio; nasceu, então, o maior de todos os ritmos regionais brasileiros. Nasceu o Baião” (sobre o primeiro encontro com Humberto Teixeira, promovido pelo compositor Lauro Maia)
“Envergando a simbólica indumentária cangaceira, de chapéu de couro, gibão e alpercata, Gonzaga desafiou os smokings e vestidos de gala da Era do Rádio. Desbravou o País fazendo shows gratuitos para multidões em praças” (Tárik de Souza, historiador e crítico musical)
“Ele próprio é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. O sertão é ele. A paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer quando ele põe os dedos no teclado da sanfona. Luiz Gonzaga prestanos uma colaboração viva, pessoal, humana” (Câmara Cascudo, historiador e folclorista)
“Gonzaga sintetiza em sua obra o espírito de uma região, da sociedade do Nordeste brasileiro; ele é, ao mesmo tempo, o meio de expressão desse espírito e o criador dessa expressão” (Elba Braga Ramalho, professora e pesquisadora de Música Popular Brasileira) “Falar do professor Luiz Gonzaga para mim é uma coisa muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil, porque ele representa muito para o Brasil. Para mim ele é um monumento nacional. E para o Nordeste, então, ele representa todo o sentimento, toda a dor da retirada, da seca, da partida... E toda a alegria do sacolejo dos forrós, também”. (Elba Ramalho, cantora e intérprete de músicas que fizeram sucesso na voz de Gonzagão)
Sumário
Editora Assaré Ltda ME Rua Waldery Uchôa, 567 A Benfica, Fortaleza, Ceará CEP: 60020‑110 e‑mail: assare@editoraassare.com.br (85) 3254.4469
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Revista Nordeste VinteUm (85) 3223.6652 www.nordestevinteum.com.br Diretor‑presidente Francisco Bezerra presidente@editoraassare.com.br Diretor Administrativo Financeiro Orlando Júnior orlando@editoraassare.com.br Diretor de Arte Claudemir Luis Gazzoni claudemir@editoraassare.com.br Diretor de Marketing e Negócios Rodrigo Nunes rodrigo@editoraassare.com.br Diretor de Marketing, Vendas e Distribuição Pedro Paulo Boiczuk Rego ppaulo@editoraassare.com.br Editor‑chefe Lucílio Lessa lucilio@editoraassare.com.br Editor de Cultura e Arte Barros Alves barrosalves@editoraassare.com.br Editor de Arte Vladimir Pezzole vladimir@editoraassare.com.br Jornalistas André Teixeira, Georgea Veras, Karla Sousa e Samira de Castro nordeste21@editoraassare.com.br Estagiária de Jornalismo Maura Nascimento maura@editoraassare.com.br Diagramador Luiz Gonzaga Xavier luiz@editoraassare.com.br Assistente de Marketing e Vendas Mariana Leite mariana@editoraassare.com.br Gerente de atendimento Bárbara Freitas barbara@editoraassare.com.br Coordenador de comunicação Antonio Cardoso cardoso@@editoraassare.com.br Revisor Francisco Pelúcio Repórter fotográfico Paulo Rocha Colaboradores Arievaldo Viana, Benedito Vasconcelos Mendes, Flamínio Araripe, Luiz Carlos Antero e Juarez Leitão Impressão NewGraf Tiragem 25.000 exemplares
cAPA ILUSTRAÇÃO Arievaldo Viana Edição Nº 30 Ano III — Janeiro — 2012 Revista Nordeste VinteUm Política, Economia, Cultura e Educação www.nordestevinteum.com.br
Com exclusividade, o jornalista Amaury Jr. anuncia “A Privataria Tucana II” para este ano
Nordeste VinteUm é uma publicação mensal da Editora Assaré Ltda ME. Não nos responsabilizamos por artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo estes últimos de inteira responsabilidade dos anunciantes. Todos os direitos reservados.
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Capa Ícone da música nordestina, Luiz Gonzaga faria em dezembro 100 anos se estivesse vivo
Colunas 17. Perfil – Dominguinhos 18. Caleidoscópio 27. Artigo – Barros Alves 36. Saberes & Sabores 42. 3º Milênio 50. No Alpendre – Juarez Leitão 51. Sala de Reboco – Arievaldo Viana 56. Papo Cabeça – Presidenta da Ubes, Manuela Braga 66. Ateliê – Arievaldo Viana
Mídias sociais www.nordestevinteum.com.br @nordestevinteum Nordeste VinteUm nordestevinteum.wordpress.com
Carta do editor
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Série Especial Segunda matéria de série aborda o padrão liberal no ajustamento da economia à globalização na década de 1990
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Economia Nordeste é alvo de recursos públicos e deixa de ser o primo pobre do Brasil
52 Guerra no Sertão
A Revolução Federalista do Guanais ilustra nossas páginas nesta edição
44 Saúde Disparidade entre número de
médicos na rede pública e rede privada afeta principalmente o Nordeste
58 Poder Local O Instituto Formação, no Maranhão, oportuniza a inclusão de jovens através da informação e do esporte
62 Educar 21 Governo federal e as tentativas
para o combate à homofobia no ambiente escolar
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entre as figuras tidas como “imortais”, Luiz Gonzaga do Nascimento, o Lua, tem lugar de destaque no imaginário do povo nordestino e brasileiro. Ícone da música nordestina, ele deixou discípulos e um legado de valor inestimável, que o caracteri- Lucílio Lessa za como o maior repre- Editor‑chefe lucilio@editoraassare.com.br sentante das alegrias, dramas e injustiças do sertão. Em dezembro deste ano, Gonzagão, como também era conhecido, faria 100 anos se estivesse vivo. Não à toa, Nordeste VinteUm inicia 2012 com um relato sobre a trajetória do genial Rei do Baião. Esta edição também traz entrevista com o jornalista Amaury Ribeiro Jr, autor do polêmico livro A Privataria Tucana. Nele, o jornalista denuncia o esquema de lavagem de dinheiro existente no País e os bastidores das privatizações durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Entre publicadas e não publicadas, Amaury garante possuir mais de mil páginas com denúncias. São documentos adquiridos em 12 anos de pesquisa, que servirão de base para uma nova publicação ainda este ano e estimulam a abertura de uma CPI para a apuração de crimes de corrupção. Já em matéria sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a denúncia é de que estados do Nordeste são campeões na disparidade entre médicos da rede pública e privada em todo o Brasil, segundo entidades de classe. Uma realidade que destoa dos investimentos em obras de infraestrutura. É o que aponta matéria sobre projetos bilionários em estados nordestinos a partir do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também nesta edição, confira a segunda parte da série Nordeste na caça ao desenvolvimento. Na pauta, o padrão liberal na década de 1990. Boa leitura!
Capa
100 anos do
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Rei do Baião Luiz Lua Gonzaga, o Gonzagão, ícone da música nordestina, sanfoneiro danado de bom, tornou-se personalidade de estilo inconfundível na história da Música Popular Brasileira em razão do talento que o fez único como músico, cantor e compositor. 2012 será de comemorações pela passagem do centenário de nascimento do inexcedível pernambucano quase cearense. Nordeste VinteUm começa o ano prestando homenagem ao Rei do Baião. Por Barros Alves barrosalves@nordestevinteum.com.br
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uiz Gonzaga do Nascimento deu o ar da graça a este mundo no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, de propriedade do Coronel Manuel Aires. O cenário era a região serrana do Araripe, município de Exu, no estado de Pernambuco. Foi o segundo dos nove filhos nascidos da união entre o sanfoneiro Januário José dos Santos e Dona Ana Batista, apelidada Santana. O pai, além de ser conhecido tocador de sanfona na região, consertava instrumentos e era agricultor agregado na citada fazenda. Conta-se que o nome do futuro maioral da sanfona tem o significado místico de tríplice homenagem: a Santa Luzia, cujo dia 13 é a ela dedicado pelo hagiológio católico; e a São Luiz de Gonzaga. O sobrenome foi-lhe dado por conta do fato de que dezembro é o mês do nascimento de Jesus. Na Exu onde nasceu Luiz Gonzaga,
faltavam escolas e sobrava violência entre Sampaios e Alencares, clãs que disputavam o poder no município do semiárido pernambucano. O menino, inteligente e atilado, não se conformou em apenas observar o pai consertar instrumentos. Logo “agregou-se” como ajudante do “Sinhô” Aires, um rábula pertencente à família dos proprietários. Com o “sinhô” Aires aprendeu a ler e escrever. Com o pai aprendeu a tocar a “oito baixos” e passou a ganhar uns trocados tocando nas festas da redondeza. Namorador, logo se engraçou de uma cabrocha filha de um remediado da região. O pai de Nazarena – este o nome da pretensa namorada – não aprovou a ousadia do rapaz e Gonzaga resolveu tomar satisfações. Para criar coragem, bebeu uns tragos de cachaça. Perdeu a garota e ganhou uma surra da mãe, Dona Santana. A sova mudou o curso da vida de Gonzaga, que irritado com a situação decidiu dar adeus a Exu. Era o ano de 1929.
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Cronologia da vida de Luiz Gonzaga 1912 13 de dezembro, sexta-feira. Nasce Luiz Gonzaga do Nascimento, na Fazenda Caiçara, em Exu, situada junto à Serra do Araripe, no estado de Pernambuco. Segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos, o Mestre Januário, sanfoneiro de 8 baixos afamado na região; e Ana Batista de Jesus, conhecida por Santana (foto).
1920 O filho do Mestre Januário recebe seu primeiro cachê ao tocar substituindo um sanfoneiro em festa tradicional na fazenda: 20$000 (vinte mil réis). Ainda adolescente, torna-se conhecido na circunvizinhança.
Capela de São João Batista, em cujas festas do mês de maio mariano, e nas festas juninas, o menino Luiz Gonzaga se iniciou publicamente na música tocando tambor, pife e até sanfona de oito baixos.
1926 Aos treze anos, Luiz Gonzaga compra a primeira sanfona, de oito baixos, na cidade de Ouricuri-PE, graças a empréstimo concedido pelo coronel Manoel Ayres de Alencar. Era uma Koch, igual a do Mestre Januário. Custou 120 mil réis. Quando saldou sua dívida, anunciou ao coronel Ayres que não iria mais trabalhar com ele, pois a partir de então, seria sanfoneiro profissional.
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O soldado Luiz Gonzaga posa com sanfona na banda de música do quartel do Exército da cidade de Juiz de Fora, em meados da década de 1930
Do Exército para a fama no cenário musical
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uiz Gonzaga prestou serviço militar no Exército, no Ceará e em Minas Gerais, onde foi tocador de bumbo. Era o início da década de 1930. Ganhou uns bons trocados e comprou uma sanfona Honner, de 80 baixos, coisa de profissional. Ao dar baixa no Exército, rumou para Recife, capital do seu estado, cidade que ele não conhecia. O navio em que viajava fez pausa no Rio de Janeiro, e o sanfoneiro foi traído pelo espírito boêmio. Foi conhecer o Mangue, bairro onde se concentrava a boemia da cidade. Foi no Manque que conheceu o baiano Xavier Pinheiro, músico, casado com a portuguesa Leopoldina, a Dina, os quais farejaram o talento do moço nordestino e o levaram para morar com eles no Morro de São Carlos. Ali começou a carreira do futuro Rei do Baião, com a ajuda do melhor acordeonista da época, o mineiro Antenógenes Silva. Este ministrava aulas de acordeon em uma escola aberta instalada no Bairro do Flamengo. A essas alturas, Gonzaga já se apresentava com uma Scandali de 120 baixos nas rádios da Cidade Maravilhosa, centro propulsor da cultura musical brasileira. O repertório era vasto: valsas, choros, foxtrotes. Foi um grupo de estudantes do Ceará, entre eles Armando Falcão, que se tornaria ministro da Justiça, quem estimulou Gonzaga a usar o acordeon para tocar músicas de estilo sertanejo. Inicialmente ele estranhou a mudança, porque entendia que a sanfona era um instrumento citadino, inadequado para o tipo de música que se fazia no Nordeste. Para Gonzaga, então, “lá no sertão é só fole e o fole está para o acordeon como o pífano para a flauta”. Mas, finalmente, capitulou e compôs o “xamego” instrumental “Vira e Mexe”, ganhador do prêmio principal em programa de calouros comandado pelo compositor Ary Barroso. A sorte começou a sorrir para o matuto do Exu. www.nordestevinteum.com.br
1929
Gonzaga ganha fama nacional
Asa Branca é uma das músicas de maior sucesso de Luiz Gonzaga e reconhecidamente um “hino” do povo nordestino
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inha início a década de 1940 quando Gonzaga foi convidado a trabalhar no programa “A Hora Sertaneja”, sob a liderança de Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, paraibano e pioneiro na divulgação da cultura nordestina. O programa ia ao ar na Rádio Transmissora, a atual Rádio Globo. Posteriormente trabalhou com a dupla de humoristas Genésio Arruda e Januário França. Estes o levaram para gravação em cena cômica de uma faixa do disco “A Viagem de Genésio”, por terem visto em Gonzaga um sanfoneiro versátil e capaz. Gonzaga ganhava fama e gravava muitas músicas. O Rádio era o grande canal de divulgação dos artistas que se apresentavam em meados do século passado. Ele teve passagens pelas famosas rádios Mayrink Veiga e Tamoio, contratado pelo compositor pernambucano Fernando Lobo. Até aí Gonzaga somente puxava o fole. Apareceu-lhe, então, o primeiro parceiro letrista, o fluminense Miguel Lima. Outros surgiram e Gonzaga teve que arrostar obstáculos para gravar como cantor. E, como lembra o historiador da Música Popular Brasileira (MPB), Tárik de Souza, “para finalmente estrear como cantor, Gonzaga teve de ameaçar o diretor da gravadora onde era contratado, Vitorio Lattari, da RCA”. Disse que se seu desejo não fosse aceito iria mudar-se para a concorrente Odeon e usaria o nome do pai, Januário, caso continuasse a ser vetado. Era 1945. Então lhe foi aberta a porta e ele gravou a mazurca “Dança Mariquinha”, escrita em parceria com Miguel Lima, que obteve algum sucesso. Mas, os grandes êxitos estavam para vir com “Penerô Xerém” e “Cortando Pano”. Aí estava surgindo de fato o Rei do Baião. www.nordestevinteum.com.br
Participa de um grupo de escoteiros e conhece Nazarena, por quem se apaixona e com quem namora às escondidas. Rejeitado pelo pai da moça, de família importante, aproveita o dia da feira e, após uns goles de cachaça, vai tirar satisfações armado com uma faquinha. Leva uma surra da mãe, Santana, e foge de casa para o Crato, no Ceará, onde vende sua sanfoninha de 8 baixos.
Vista parcial do povoado do Araripe, no município do Exu (PE), onde Luiz Gonzaga viveu dos doze aos dezessete anos de idade, quando fugiu de casa para ingressar no Exército em Fortaleza (CE), em meados de 1930. O lugar seria fonte de inspiração perene da futura obra do Rei do Baião.
1930 Aumenta a idade para servir no Exército, em Fortaleza. Com o advento da Revolução de 1930, segue em missão militar pelo Brasil como soldado Nascimento. Mestre Januário consegue reaver a sanfona vendida no Crato por 80 mil réis, através de um amigo, o Sr. José Lindolfo.
1931 Após o término do tempo legal de serviço militar, Gonzaga decide permanecer no Exército, instituição que representou importante papel na formação dele.
1933 Por não conhecer a escala musical, é reprovado em concurso para músico em uma unidade do Exército, em Minas Gerais. Vira tambor-corneteiro e ganha o apelido de Bico de Aço.
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1936 Aprende a tocar sanfona de 120 baixos em Minas Gerais, com um soldado de polícia chamado Domingos Ambrósio. Para treinar, adquire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas da caserna para tocar em festas.
1938
Parceria com Humberto Teixeira produz grandes sucessos
Gonzaga é ludibriado por um caixeiroviajante, a quem paga 500 mil réis em prestações mensais para adquirir uma sanfona branca, Honner, de 80 baixos. Foge do quartel, em Ouro Fino (MG), para ir a São Paulo com o objetivo de reaver a sanfona. Descobre que não vendiam sanfona no endereço que o caixeiro lhe dera. Acaba comprando uma sanfona igualzinha à que procurava, pelo preço de 700 mil réis.
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
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Retrato do jovem acordeonista Luiz Gonzaga, talvez com 27 anos de idade, no início da sua carreira artística (1939), quando ainda tocava nos bares do Mangue do Rio de Janeiro. Observar a sanfona branca Honner 80 que ele comprara em São Paulo, capital, pouco antes de ser dispensado do Exército.
1939 Dá baixa das Forças Armadas. Muda-se para o Rio de Janeiro, mesmo tendo comprado bilhetes para Recife. No Rio resolve conhecer o Mangue, bairro boêmio. Lá, com sua sanfona Honner branca, faz sucesso tocando valsas, tangos, choros, foxtrotes e outros ritmos da época. Através Xavier Pinheiro, músico amigo, Gonzaga vai morar no morro de São Carlos.
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Zé Dantas e Luiz Gonzaga
omo observa Vasco Mariz, foi por volta de 1946 que “apareceu no cenário da música popular brasileira o avassalador baião, trazido do Norte por Luiz Gonzaga e o advogado cearense de Iguatu, Humberto Teixeira. O êxito seria estrondoso pela valiosa contribuição rítmica que o baião apresentava, justamente em uma época na qual os ritmos nacionais se amoleciam pela interpretação defeituosa de nossos cantores famosos e a crescente influência estrangeira”. Com efeito, a associação de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira foi profícua na produção de grandes músicas que se popularizaram de modo extraordinário. Mariz insiste que a popularidade de Gonzagão foi sobretudo resultado dessa parceria com Teixera, compositor de belíssimas letras da música nordestina. “O baião virou maré avassaladora no Brasil: Paraíba, Juazeiro, Baião de dois, Que nem jiló, divulgaram o ritmo nordestino, que atravessaria fronteiras com caravanas musicais”, observa o historiador. A parceria com Humberto Teixeira terminou em 1950, mas logo apareceram outros importantes nomes para dar continuidade ao trabalho de produção musical de Luiz Gonzaga, entre os quais destaca-se o médico pernambucano Zé Dantas, com quem Gonzaga compôs “A Dança da Moda”, “Xote das Meninas”, “Vozes da Seca” etc. Gonzaga teve muitos parceiros. Ele trabalhou sua história musical com 275 parceiros letristas e compositores em 833 faixas de discos, sendo 127 de 78 RPM (rotações por minuto), 114 regravações, 99 LPs. Os parceiros com os quais mais produziu foram João Silva (187 canções), Zé Dantas (152), Humberto Teixeira (133) e Onildo Almeida (120). Todavia, como lembra a pesquisadora da MPB e professora da Universidade Estadual do Ceará, Elba Braga Ramalho, “Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira produziram até o final dos anos 1950 parte do repertório mais representativo da música nordestina em disco; no entanto, Zé Dantas também contribuiu em parte para a construção desse patrimônio”.
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1940 Modifica o repertório e consegue tirar nota máxima no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, executando a música “Vira e Mexe”, um “xamego” (chorinho) do seu pé-de-serra. Depois vai trabalhar com Zé do Norte no programa “A Hora Sertaneja”, na Rádio Transmissora.
O declínio, mas não o fim
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m fins da década de 1950 do século passado, em razão da grande penetração do mercado norte-americano no País, especialmente com a popularização do rock and- roll, começou um certo declínio da popularidade do Rei do Baião e, consequentemente, da música nordestina. Segundo a professora Elba Braga Ramalho, o amigo e parceiro Humberto Teixeira, então deputado federal, “ainda tentou explorar a fama do baião, introduzindo as Caravanas de Cultura, que exportaram o gênero para a Europa e os Estados Unidos”, mas o esforço não foi suficiente, porque além do rock, “os interesses da classe média estavam voltados para a bossa nova”. Mas, se no geral havia declínio da popularidade do baião, o mesmo não se podia dizer da fama do Rei do Baião, que continuava a criar estratégias de audiência voltando-se para as populações nordestinas que migravam continuamente para os estados do Sul, do Sudeste e do Centro-oeste, especialmente para o Planalto Central, em razão da construção da nova capital federal. Gonzaga também empreendia turnês por todo o País e se gabava de conhecer todas as cidades brasileiras com mais de 4 mil habitantes. O sanfoneiro andarilho não deixou por menos e registrou as andanças em “Vida de Viajante”, que compôs com Hervê Clodovil, regravada com seu filho Gonzaguinha, posteriormente com Fagner, e continua fazendo sucesso. Em todos os aspectos, musicalmente Luiz Gonzaga não morreu apesar de ter falecido há 23 anos. Continua no coração do povo brasileiro e, em especial, das populações nordestinas espalhadas por este Brasil afora. De fato, como bem expressa-se a professora Elba Braga Ramalho, “além do mais, Gonzaga perpetuou sua produção através de diferentes gerações de músicos e compositores. Ele desencadeou o processo de afirmação da música popular nordestina, através de seus seguidores, aqueles simples reprodutores de seu estilo e de seu conjunto típico, anônimos profissionais que deram vida a forrós nas mais distantes cidadezinhas, aqueles que têm produzido um trabalho mais elaborado, conservando um sotaque musical do Nordeste, a exemplo de Dominguinhos”. O Rei do Baião continua sua viagem de ritmos e sons nordestinos na criatividade musical dos que se consideram seus legítimos sucessores e, sobretudo, na imaginação de quantos se deliciam com o som de sua sanfona choradeira e do seu vozeirão de cabra da peste. www.nordestevinteum.com.br
1941 5 de março. Primeira participação de Luiz Gonzaga em uma gravação da RCA Victor, como sanfoneiro da dupla Genésio Arruda e Januário França, na cena cômica “A Viagem de Genésio”. Seu talento chama a atenção de Ernesto Augusto Matos, chefe do setor de vendas da Victor.
Selo do disco 78 rotações por minuto do xamego “Vira e Mexe”, uma das quatro músicas instrumentais gravadas por Luiz Gonzaga em 14 de março de 1941, uma semana depois da sua estreia em estúdio de gravação acompanhando a dupla de humoristas Genésio Arruda e Januário França. Logo depois Luiz Gonzaga é contratado acordeonista exclusivo da RCA Victor.
14 de março. Grava, assinando pela primeira vez, como artista principal e exclusivo da RCA Victor. É publicada a primeira reportagem sobre Luiz Gonzaga na revista carioca Vitrine, com o título Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeon.
1944 O apelido Lua, invenção de Dino Sete Cordas em razão do rosto arredondado de Gonzaga, é divulgado pelo radialista Paulo Gracindo, na Rádio Nacional. Janeiro/2012
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1945
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11 de abril. Luiz Gonzaga grava o 25º disco de sua carreira como sanfoneiro, e o primeiro como cantor, com as músicas “Dança Mariquinha”, mazurca de sua autoria com letra de Miguel Lima; e “Impertinente”, polca também de sua autoria, instrumental. 22 de setembro. Nasce Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, Gonzaguinha, fruto de um relacionamento com a cantora Odaléia Guedes. Novembro. Afirma-se como intérprete com o lançamento do 31º disco. Sucesso estrondoso da mazurca Cortando o Pano, parceria com Miguel Lima e Jeová Portella. Desejoso de encontrar o parceiro certo para expressar sua musicalidade sertaneja, Luiz Gonzaga procura o cearense Lauro Maia. Este apresenta-lhe o cunhado, também cearense, advogado e poeta, Humberto Teixeira. Era o mês de agosto. Esse encontro rendeu o primeiro trabalho, No meu pé de serra, xote que só seria gravado em novembro do ano seguinte.
1946
1947 Março. Luiz Gonzaga grava “Asa Branca”, que se tornaria um clássico da música brasileira. É o terceiro trabalho em parceria com Humberto Teixeira. Nesse ano adota o chapéu de couro semelhante ao usado por Lampião, por quem tinha admiração. A direção da Rádio Nacional resistia a conceder-lhe permissão para se apresentar “como cangaceiro” nos programas. Mas a indumentária plasmava a identidade nordestina no cenário nacional. Em um domingo de julho, Gonzaga conhece na Rádio Nacional, a contadora Helena das Neves Cavalcanti, e a contrata para ser sua secretária. Rapidamente o namoro acontece. Janeiro/2012
1949 Gonzaga leva a esposa e sogra para conhecerem o Araripe, e sua terra Exu. Porém, interrompem a viagem no Crato, por causa das desavenças e mortes entre os Sampaios e os Alencares, clãs rivais cuja violência ameaçava sua própria família, ligada aos Alencares. Ele transfere os pais e irmãos para o Crato e providencia a mudança de sua família para o Rio de Janeiro.
1950 Janeiro. O médico Zé Dantas chega ao Rio, para fazer residência no Hospital dos Servidores. Junho. Gonzaga lança a música “A Dança da Moda”, parceria com Zé Dantas. O baião vira febre nacional.
Outubro. O conjunto “Quatro Ases e um Coringa”, da Odeon, acompanhado pela sanfona de Luiz Gonzaga, grava a segunda parceria de Gonzaga e Humberto Teixeira, a música “Baião”, sucesso nacional. Depois de receber a visita de Santana (sua mãe), Gonzaga volta à sua terra, Exu, após 16 anos de ausência. No retorno para o Rio, passa pela primeira vez no Recife, participando de vários programas de rádio e muitas festas. Nesse momento conhece Sivuca, Nelson Ferreira, Capiba e Zé Dantas, estudante de medicina, músico por vocação, apaixonado pela cultura nordestina.
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16 de junho. Luiz Gonzaga e Helena casam-se no Rio de Janeiro, e passam a morar, juntamente com a mãe de Helena, dona Marieta, no bairro de Caxambi.
1951 Luiz Gonzaga é consagrado como “Rei do Baião”, e o advogado Humberto Teixeira o “Doutor do Baião”. Maio. Gonzaga sofre um grave acidente de carro, juntamente com os músicos João André Gomes, apelidado Catamilho, do zabumba; e Zequinha, do triângulo. Humberto Teixeira candidata-se a deputado federal, e recebe o apoio do parceiro.
No programa “No Mundo do Baião”, Luiz Gonzaga coroou, com chapéu de couro, Carmélia Alves como Rainha do Baião. Ela interpretava o baião com acompanhamento de orquestra, e levava a música do Rei para as boates e ambientes da elite. Luiz Gonzaga e Helena adotam uma menina: Rosa Maria.
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1952
1960
Outubro. 71º disco da carreira e último 78 rpm com Humberto Teixeira. Hervê Cordovil é apresentado à Gonzaga por Carmélia Alves, e tornam-se parceiros.
1953 Catamilho é afastado por Gonzaga do seu conjunto, e Zequinha o acompanha. Gonzaga contrata Jurai Nunes, o Cacau, para tocar zabumba; e Oswaldo Nunes Pereira, o Xaxado, para o triângulo. Mais tarde, por causa de sua baixa estatura, Xaxado seria apelidado de Salário Mínimo.
1954 Conhece Neném, mais tarde Dominguinhos, aos 14 anos, na cidade de Garanhuns. Nesse mesmo ano seu primo, o vaqueiro Raimundo Jacó é assassinado na região do Araripe. A cantora Marinês, pernambucana de nascimento e paraibana por naturalidade, liderou a Patrulha de Choque de Luiz Gonzaga, e depois participou do conjunto Luiz Gonzaga e Seus Cabras de Peste, de curta duração. Marinês é a primeira mulher artista luiz-gonzaguiana de origem nordestina, a primeira mulher a cantar forró no Brasil, e a primeira a se apresentar trajada de cangaceira em palco nacional.
11 de junho. Morre Santana, sua mãe, vitimada pela doença de Chagas, no Rio de Janeiro. 5 de novembro. Januário, sue pai, aos 71 anos, casa-se com Maria Raimunda de Jesus, 32 anos, no Exu. Gonzaga participa, gratuitamente, da campanha de Jânio Quadros à Presidência da República.
1961 Gonzaguinha vai morar com o pai em Cocotá, Rio de Janeiro. Gonzaga torna-se maçom, e sofre outro acidente de carro que lhe desfigura o lado direito do rosto, ferindo gravemente o seu olho.
1962 11 de março - Morre Zé Dantas, aos 41 anos. Luiz Gonzaga conhece João Silva, com quem formaria parceria.
1963 Gonzaga teve sua sanfona Universal, preta, roubada. Antenógenes Silva, seu amigo e afinador, lhe empresta uma sanfona branca. A partir de então adota a cor branca para suas sanfonas e a inscrição “É do povo” em todos os seus instrumentos. Luiz Gonzaga conhece o poeta cearense Patativa do Assaré.
1955 Apresenta o trio formado por Marinês, Abdias e Chiquinho, que ficou conhecido como Patrulha de Choque Luiz Gonzaga.
1956 Marinês é coroada Rainha do Xaxado na Rádio Mayrink Veiga. A cantora japonesa Keiko Ikuta grava as músicas “Baião de Dois” e “Paraíba”.
Museu de Luiz Gonzaga, em Exú-PE
1964 Gonzaga compra terrenos em Exu, onde irá construir o Parque Asa Branca.
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1980 Luiz Gonzaga canta para o Papa João Paulo II na capital cearense. Inicia, em parceria com Gonzaguinha, turnê apresentando o show “Vida do Viajante”, que percorre várias cidades brasileiras. Lança no ano seguinte o álbum duplo da gravação do show.
1982 1968 Carlos Imperial, apresentador de programas de rádio e televisão, espalha o boato de que a banda The Beatles gravara a toada “Asa Branca”. Luiz Gonzaga conhece Edelzuíta Rabelo, advogada, em uma festa junina em Caruaru.
1971 A Missa do Vaqueiro é celebrada pela primeira vez, em memória de Raimundo Jacó. Desde então passa a ser anualmente celebrada, tornando-se evento tradicional em Pernambuco.
1972 Gonzaga apresenta o espetáculo “Luiz Gonzaga volta para curtir”, no Teatro Tereza Rachel, no Rio, produzido por Capinam, para uma platéia formada maciçamente por estudantes. Nesse ano, rompe o contrato de 32 anos com a RCA Victor.
1973 Gonzaga é levado para a EMI-Odeon por Fernando Lobo, onde permanece por dois anos. Recebe o título de Cidadão Paulista.
1975 Luiz Gonzaga reencontra Edelzuíta, o grande amor da fase final de sua vida.
1976
1984 Recebe o primeiro disco de ouro com o LP “Danado de Bom”, no qual tinha João Silva por principal parceiro. Logo depois ganha um segundo disco de ouro. João Silva tornou-se, então, seu grande parceiro. Gonzaga recebe o Prêmio Shell.
1985 Recebe o prêmio Nipper de Ouro, homenagem internacional da RCA, além de dois discos de ouro pelo LP “Sanfoneiro Macho”.
1986 Participa do festival de música brasileira na França, Couleurs Brésil, evento que inaugura o programa dos anos Brasil-França 86-88. Apresenta-se na Grand Halle de La Villette para um público aproximado de 15 mil pessoas. O LP “Forró de Cabo a Rabo”, deu a Luiz Gonzaga dois discos de ouro e um de platina.
1988 Junho. Divorcia-se de Helena e assume o relacionamento com Edelzuíta Rabelo. Desliga-se definitivamente da RCA.
Luiz Gonzaga assina novamente contrato com a RCA Victor.
1989
1978
Grava pela Copacabana Records seus últimos discos.
11 de junho. Morre o Mestre Januário.
1979 Outubro. Morre Humberto Teixeira.
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16 de maio. Em Paris, se apresenta na casa de espetáculos Bobino, a convite da cantora amazonense Nazaré Pereira. Passa a assinar como Gonzagão quase todos os seus discos, forma como havia sido chamado por ocasião de sua turnê com Gonzaguinha.
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21 de junho. É internado no Hospital Santa Joana, no Recife.
2 de agosto. Luiz Gonzaga morre aos 76 anos de idade. www.nordestevinteum.com.br
PERFIL
Dominguinhos
A versatilidade de um artista que não abandona o sotaque nordestino
O
pernambucano de Garanhuns, José Domingos de Morais, nascido em 12 de fevereiro de 1941, foi por muito tempo tratado carinhosamente por todos de sua terra pelo apelido de Neném. O já famoso sanfoneiro Luiz Gonzaga conheceu o adolescente Neném em 1954, tocando com seus dois irmãos em frente a um hotel, na cidade natal deles, onde o Rei do Baião estava hospedado. O talento dos garotos deixou Gonzaga impressionado e tão logo retornou ao Rio de Janeiro, enviou dinheiro e uma carta ao pai de Neném, convidando o Conjunto “Três Pinguins” – assim se chamava o grupo musical caruaruense – para uma temporada de apresentações na então capital da República e centro artístico do País. Era, como diz o rifão popular nordestino, o cavalo passando selado para os garotos liderados por Neném. Começou aí a aprendizagem do jovem que logo foi rebatizado por Gonzaga como Dominguinhos e que se tornou um discípulo à altura do mestre, consagrando-se também ele como um astro da música popular nordestina, dando-lhe uma feição citadina, moderna, sem, no entanto, descaracterizá-la em sua essência telúrica e sertaneja. É o próprio Gonzaga quem depõe: “Quem urbanizou mesmo a música que eu criei foi Dominguinhos, êmulo meu, que se mantém fiel ao Nordeste. Eu vim com a linguagem do sertão, com uma mensagem autêntica nortista para a cidade grande. Dominguinhos, porém, veio com uma técnica muito avançada, com harmonias modernas, coisas que não amarram o público simples. Dominguinhos urbanizou o forró, levou-o para todas as classes, para os grandes centros urbanos, que é onde ele se apresenta...” E a pesquisadora da Música Popular Brasileira, Elba Braga Ramalho, complementa: “Dominguinhos é versátil, pois, apesar do seu vasto campo de informações musicais recebidas nessa prática, sabe muito bem distinguir o que o faz o principal representante da música do sertão nordestino, além de Gonzaga”. Com efeito, Dominguinhos é um dos mais exímios sanfoneiros do Brasil, cuja versatilidade é por todos reconhecida, pois mais do que aprender, o discípulo inovou a arte do mestre e deu à sanfona sotaques novos e diferentes. Sem abandonar o baião, simbologia musical do seu mestre, não deixou de incursionar em outros gêneros da música brasileira. Dominguinhos consegue demonstrar que pouco importa o sotaque ou origens quando se trata de fazer boa música. No universo dos sons e dos ritmos o que conta mesmo é
a sensibilidade, responsável pela emoção; e o talento, capaz de transformar ideias e conceitos em obras de arte. Enfim, um músico é a síntese de diferentes elementos como talento, inspiração, força de vontade, perseverança e oportunidade. Uma mistura que resulta em arranjos e harmonias. No caso de Dominguinhos, essa composição surgiu a partir da origem Nordestina, na luta por uma vida digna, do temperamento calmo e da disposição em assimilar novas informações. A isso se juntaram os temperos brasileiros tradicionais, as pitadas de sonhos modestos que habitam o mundo do povo. Ao lado da identificação com as imagens, Dominguinhos exerce seu oficio tocando também outros ritmos. Talento e habilidade lhe garantiram autonomia para trilhar diversas veredas musicais, sem que, no entanto, isso tenha significado, em momento algum, abandono de suas raízes essencialmente nordestinas. Esses são os ingredientes mais constantes na trajetória de Dominguinhos. Tendo como pano de fundo um grande talento, eles compõem o quadro da vida de um dos importantes artistas brasileiros da atualidade.
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Funasa destina R$ 138,2 milhões para obras do PAC 2 na Paraíba FACEPE financia pesquisas em parceria com empresas francesas A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) lançou edital de cooperação científica com dois dos maiores institutos de pesquisa da França na área de Tecnologia da Informação e da Comunicação, o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e o Institut National de Recherche en Informatique et Automatique (INRIA). Outras dezesseis fundações de amparo à pesquisa (FAPs) do Brasil integram a chamada. Os recursos disponibilizados pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para o financiamento dessas pesquisas é de R$ 200 mil. Podem submeter projetos pesquisadores com vínculo empregatício com instituições de ensino superior (IES), centros e institutos de pesquisa e desenvolvimento públicos e privados com sede em Pernambuco.
Programa Brasil Profissionalizado liberou R$ 175 mi em 2011 Com recursos do Programa Brasil Profissionalizado, instituições de ensino técnico e profissionalizante das redes estaduais de todo o País receberam em 2011 investimentos de R$ 175,3 milhões da União – sendo R$ 162 milhões para a instalação de laboratórios e mais R$ 13,3 milhões para mobiliário. A iniciativa é do Ministério da Educação (MEC) que, entre 2008 e 2011, investiu R$ 2,047 bilhões em formação de profissionais e na construção, compra de equipamentos e ampliação de escolas técnicas. Para 2012 a meta é que R$ 4,4 milhões sejam investidos na formação de professores das redes estaduais.
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O estado da Paraíba vai receber R$ 138,2 milhões da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). São 44 municípios beneficiados com os serviços, que envolvem obras de abastecimento de água, esgotamento sanitário e esgotamento sanitário/solução estática. O valor do investimento é o segundo maior anunciado para estados nordestinos, ficando atrás apenas da Bahia, que terá cerca de R$ 230,8 milhões.
Verbas do FGTS para Obras de Infraestrutura Urbana Publicado em dezembro, o orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para 2012 viabiliza R$ 36 bilhões para investimentos em habitação e projetos de infraestrutura urbana. Desses, R$ 26 bilhões são para habitação e R$ 10 bilhões para saneamento básico e o programa pró-transporte, que garantirá a infraestrutura viária especialmente nas cidades sede da Copa do Mundo de 2014.
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Queda de juros beneficia pessoa física Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) afirma que em dezembro a taxa média de juros cobrados em operações de crédito para pessoas físicas atingiu a menor variação desde 1995, ou seja, 6,58%. Isso representa uma redução de 0,09 ponto percentual sobre a variação de novembro – 6,67%. No ano, as pessoas físicas que tomaram empréstimo pagaram juros de 114,84%, taxa que é 2,18 pontos percentuais menor do que a do acumulado de 2011 até novembro (117,2%). Comparando com dezembro de 2010, quando o juro anual ficou em 119,97%, a queda foi de 4,28%. Entre as seis linhas de crédito para pessoas físicas consideradas pelo indicador, apenas os juros do cartão de crédito foram mantidos estáveis em 10,69% ao mês. Todos os demais itens tiveram redução em suas taxas.
Recorde nas exportações brasileiras do agronegócio Somando US$ 94,59 bilhões, as exportações brasileiras do agronegócio registraram recorde em 2011. O valor foi 24% superior ao alcançado em 2010, quando atingiu a marca de US$ 76,4 bilhões. O bom desempenho fez de 2011 o melhor ano para a balança comercial do agronegócio desde 1997. A meta do governo federal para 2012 é ultrapassar US$ 100 bilhões, com estimativa de 5,7% de crescimento, segundo o Ministério da Agricultura.
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Cultura tem recursos ampliados em mais de R$ 270 milhões para 2012 O Ministério da Cultura informou que terá este ano mais recursos do que em 2011. A expectativa é de um total de pouco mais de R$ 2 bilhões, o que representa R$ 270 milhões a mais que o ano passado. Esse orçamento não inclui os recursos da Lei Rouanet (de incentivo à cultura) – que permite a pessoas físicas ou jurídicas aplicarem parte do Imposto de Renda em ações culturais. O salto orçamentário foi gerado pelo fato de 99% do programado para 2011 terem sido utilizados. A verba será empregada na construção de pelo menos 400 praças de esporte e cultura em todo o País, além de incentivo à leitura com programas específicos. Serão ampliados ainda os investimentos em artes visuais, dança, teatro, música, e melhorias na infraestrutura das casas de espetáculos.
Investimento de 45,9 para o Porto Digital até o ano de 2014. Pernambuco vai receber R$ 45,9 milhões de reais em investimentos até 2014 para o Porto Digital. O orgão é voltado para o desenvolvimento de software. O crescimento pretendido vai englobar agora a economia criativa, com a chegada de empresas ligadas à animação, design, música, fotografia e jogos, todas tendo como base a tecnologia. A ampliação acontecerá no primeiro semestre deste ano. Os planos foram apresentados ao ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, em 5 de janeiro, durante sua visita a capital pernambucana. Além de verbas do governo, estima-se que nos próximos três anos, 58% (R$ 26,5 milhões) das verbas venham de editais, projetos ou iniciativa privada.
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Entrevista Amaury Ribeiro Jr.
“A privatização foi o maior assalto ao patrimônio público brasileiro”
foto: aguinaldo-contramare.blogspot.com
Entrevista concedida ao jornalista Lucílio Lessa lucilio@editoraassare.com.br
A
pós virar fenômeno de venda com o livro A Privataria Tucana, no final de 2011, a despeito de todo o silêncio da grande mídia nacional, o vencedor de três prêmios Esso e quatro vezes vencedor do prêmio Vladimir Herzog, Amaury Ribeiro Jr, anuncia para este ano A Privataria Tucana II. A nova publicação promete colocar ainda mais lenha na fogueira que consome a honorabilidade de tucanos de alta plumagem com mais denúncias de corrupção, embasada nas cerca de mil páginas de documentos que Amaury adquiriu em 12 anos de pesquisa, publicadas, em parte, na sua recente obra. Esta, inclusive, serviu de base para a solicitação de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito protocolada junto à Mesa Diretora da Câmara Federal, por parte do deputado Protógenes Queiroz. As denúncias são de lavagem de dinheiro e recebimento de propinas durante o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso.
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NVU Já está respondendo algum processo por conta de A Privataria Tucana? ARJ Por enquanto não chegou nada. Tem a ameaça de dois processos. Ameaça do PSDB. Mas pelo que o PSDB vai me processar? Eu não ataquei o PSDB. Se o partido me processar, se vier para cima de mim, vai “levar chumbo” que não vai se levantar. Vai sobrar para todo mundo. Eu tenho arma contra todos. E esse livro não é partidário, tanto é que fala mal do PT e denuncia as falcatruas de todo mundo. Agora se eles vierem para cima, como estão falando que vão vir, pode deixar que a casa vai cair. Quem sabe a gente não faz o segundo livro daí? NVU O que podemos esperar do próxi‑ mo livro? Vai ser mais bombástico que o primeiro? O senhor tem uma previsão para lançamento? ARJ Do jeito que eles estão manipulando as coisas, vai ter que ser. Vamos ver se sai até o final do ano. Eu até estava trabalhando em outro
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foto: José Cruz/ABr
Nordeste VinteUm Quantas páginas de documentos com denúncias o senhor calcula possuir, entre publicadas e não publicadas? Amaury Ribeiro Jr Mais de mil páginas. Estamos sempre levantando novos documentos, trazendo-os à tona. Temos que nos documentar porque os caras vêm para a briga com força, mas eu não tenho medo porque nunca perdi nenhum processo na justiça. Só no caso da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Banestado (Banco do Estado do Paraná) foram 34 e eu ganhei todos. Estou sempre documentado, tranquilo. E a reação deles é muito fraca, demorada. Outro dia mesmo veio a filha do José Serra (Verônica Serra) com uma nota na imprensa que desmente ela mesma. No ano passado, ela disse que representava o Oportunity (banco do Daniel Dantas), e agora não representa, disse que quem representa é a irmã. Eles mesmos se desmentem, um negócio fraco demais, amador até. A oposição dos tucanos é constrangedora.
José Serra, ex-ministro de Planejamento do governo FHC.
O Serra é um cara que parecia não ter nada com tudo isso, mas todas as pessoas envolvidas no caso têm uma ligação com ele: ou é genro, ou é filha, ou é ex-sócio, ou é primo(...) Então embora ele não apareça, todas as pessoas envolvidas no livro são ligadas a ele www.nordestevinteum.com.br
projeto de livro, mas essas pessoas começaram a me provocar. Uma questão muito esquisita, por exemplo, é a tal da Lista de Furnas (um documento central sobre a distribuição de mensalão a tucanos). Recentemente teve um depoimento em jornal de Belo Horizonte no qual um deputado (estadual) do PMDB (Antônio Júlio) disse que recebeu dinheiro sim e que a lista é verdadeira. Roberto Jefferson (ex-deputado federal) já havia dito isso. A (revista) Veja inclusive fez uma matéria, mas o que ela não disse é que o laudo final da Polícia Federal afirma que a Lista de Furnas é verdadeira. A Veja sempre tenta distorcer. A revista pegou o primeiro laudo, que era de uma xerox, e mandou fazer um laudo para tentar desqualificar. Mas o processo está no Ministério Público. O relatório final da Polícia Federal diz que houve mesmo esse pagamento de Furnas para o tucanato. Perceba que a Veja sempre cria uma contra informação para tentar desmistificar. Então esse negócio de Furnas é outra denúncia que está para explodir. Não vai ficar do jeito que eles querem. NVU Finalmente, quem é o José Serra para o senhor? ARJ O Serra é um cara que parecia não ter nada com tudo isso, mas todas as pessoas envolvidas no caso têm uma ligação com ele: ou é genro, ou é filha, ou é ex-sócio, ou é primo. A figura dele mesmo não aparece. Ele mora numa casa que a filha comprou, o que já é estranhíssimo. A casa está no nome da Verônica, segundo o cartório e os documentos. Então embora ele não apareça, todas as pessoas envolvidas no livro são ligadas a ele. E é sempre assim que acontece. Quando se vai investigar algo desse tipo, principalmente com políticos, não se encontra nada no nome deles. Mesmo com o Ricardo Teixeira (presidente da CBF), que é um amador, você encontra coisas no nome do irmão. Então você deve procurar investigar as pessoas próximas. O Serra
NVU O senhor foi acusado de ter obtido os documentos de A Privataria Tucana de for‑ ma ilícita. Houve algum desdobramento dessa acusação? ARJ Todos os documentos são legais. A questão é que há uns idiotas dizendo: “Se é legal, por que ninguém havia ido atrás? Se qualquer um pode obter é porque não tem importância”. Ué?! Não é isso. Tem que saber como pegar esses documentos. É um processo, tem investigação, um cartório tira os documentos. Isso tudo está explicado no livro. Tanto é que eu mostro com documentos que as pessoas envolvidas já tinham tido seu sigilo quebrado em processo de justiça. O próprio Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil), o genro do Serra (Alexandre Bourgeois) e outros citados no livro. Aquilo (denúncia em 2010 de que Amaury teria supostamente encomendado a quebra dos sigilos fiscais de alguns tucanos) foi uma coisa que tentaram me envolver para inverter o jogo da campanha. Para você ter ideia, fui depor na Polícia Federal, dei quatro depoimentos, e nunca falei que tinha encomendado esses atos, só que a imprensa chegou ao cúmulo de mudar o depoimento que eu dei na Polícia Federal. Foi divulgado que eu havia confessado que tinha encomendado. Mudaram um depoimento público e publicado. O que esperar dessas pessoas? Então foi uma coisa eleitoral e o indiciamento não evoluiu, não virou denúncia. Foi tão eleitoral que um dia depois da eleição ninguém falava mais nisso. NVU Confirma que teve dificuldade em publicar denúncias antes? Em que veículo isso ocorreu? ARJ Algumas coisas eu já havia conseguido publicar, outras não. No jornal O Globo eu não consegui. As organizações Globo sempre foram beneficiadas com esses ne-
foto: Antonio Pralon
não aparece diretamente, mas tem uma teia de pessoas ligadas a ele que aparecem em tudo.
Os jornalistas Paulo Henrique Amorim e Amaury Ribeiro Jr em lançamento oficial do livro A Privataria Tucana, em São Paulo.
Para você ter ideia, fui depor na Polícia Federal, dei quatro depoimentos, e nunca falei que tinha encomendado esses atos, só que a imprensa chegou ao cúmulo de mudar o depoimento que eu dei gócios. Mas consegui publicar uma matéria no Jornal do Brasil sobre o Ricardo Sérgio. Também publiquei muita coisa na (revista) ISTOÉ. Mas esses documentos apresentados no livro são inéditos. Não havia publicado em lugar nenhum. www.nordestevinteum.com.br
NVU Diante dessa “resistência”, como avalia o engajamento da grande mídia no jogo dos tucanos? ARJ Muitos veículos adquiriram parte dos consórcios das empresas de telecomunicações. Eles sempre foram privilegiados. Temos o exemplo de um processo que eu estou mexendo agora, o de privatização da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), uma novidade. Sobre isso posso adiantar que um grande veículo de comunicação devia bilhões a Light (distribuidora), e quando a Cemig comprou a Light essa dívida sumiu. Há outro processo que está em um trabalho que não é meu – mas já o vi e vai ser publicado em breve – envolvendo um desses grandes veículos. Não vou citar o nome, mas é de um dos mais aguerridos em atacar a mim e a todo mundo. Trata-se de um documento apreendido na Operação Satiagraha, nos Estados Unidos, que mostra esse veículo como sócio do banco Oportunity, do Daniel Dantas. Precisa dizer mais alguma coisa? São sócios. Enfim, eles defendem ideologicamente que são a favor de qualquer tipo de privatização, nem que não dê lucro, mas está bem claro no livro que o beneficiado na verdade Janeiro/2012
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NVU Como está o processo de instaura‑ ção desta CPI? ARJ O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) já protocolou mais de duzentas assinaturas. Mas já havia outros seis pedidos de CPI na frente, protocoladas. Vai ficar muito mal se o governo do PT não abrir essa CPI, até porque as mesmas redes sociais que divulgaram o meu livro, vão fazer campanha para cobrar isso. Dia 6 de fevereiro, um dia antes da abertura do Congresso, vai começar uma marcha pela CPI em Belo Horizonte, na Assembleia. Será o lançamento do meu livro e a abertura da campanha pela CPI. Tenho certeza que as mesmas redes sociais que impediram a mídia de ocultar e desqualificar o meu trabalho, vão estar atentas para pressionar a abertura da CPI. Elas estão comprometidas com essa ideia. Acho que teremos um painel igual ao das Diretas Já. Não vamos deixar esse negócio se transformar numa grande pizza, porque vai ficar muito feio para o País. Ninguém aguenta mais esses desaforos. Chegou a hora de apurar. Se os caras são inocentes, então porque estão com medo? Se não houver CPI, vai ficar muito claro que trata-se de um acordão igual ao da época do Banestado. NVU E a posição do Ministério Público a partir das denúncias? Como acha que ele vai proceder nesse novo cenário? ARJ É o seguinte: já deveria ter sido aberto processo. Não sei o que está acontecendo. Já há fatos novos. O processo de privatização, na época, resultou em um processo criminal e dois de improbidade administrativa; um movido pelo procurador (da República) Luís Francisco; e o outro pelo Rogério Nascimento (procurador regional eleitoral). O processo do Rogério Nascimento, por sinal,
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foto: Antonio Cruz/ABr
não é o partido ou algum projeto político, e sim as pessoas do próprio partido. O que eu publiquei é uma coisa muito pequena perto do que vai vir à tona se for instaurada a CPI das privatizações.
Protógenes Queiroz, deputado federal
O deputado federal Protógenes Queiroz já protocolou mais de duzentas assinaturas. Mas já havia outros seis pedidos de CPI na frente, protocoladas. Vai ficar muito mal se o governo do PT não abrir essa CPI foi muito bem estudado, muito bem estruturado, mas foi arquivado ano passado sem que fosse julgado, nem analisado. Foi assim que acabou. Se há fatos novos, é óbvio que o processo deve ser reaberto. Se não for aberto eu vou entrar com uma representação na Polícia Federal e no Ministério Público para que abram as investigações. Qualquer cidadão pode fazer isso. www.nordestevinteum.com.br
NVU Apesar de o senhor ter apresentado documentos que provam as suas denún‑ cias, ainda há quem diga que esse ma‑ terial não tem nenhuma conexão com o processo de privatização. ARJ Isso é de um cinismo, de uma hipocrisia sem precedentes. Quem especulou isso foi a Folha de São Paulo, mas ninguém teve coragem de assinar a matéria. Texto feito pelo dono do jornal. O Ricardo Sérgio, piloto dos consórcios das privatizações, recebe dinheiro da empresa que foi beneficiada no processo das telecomunicações, num paraíso fiscal, através de uma rede de doleiros sujos. Quer prova maior que essa? Ele recebe muita grana, muito dinheiro lá fora, da mesma rede de doleiros sujos do primo do Serra (Gregório Marin Preciado, empresário espanhol naturalizado brasileiro), que levou o consórcio para o grupo espanhol Iberdrola. Então é uma hipocrisia muito grande. NVU E o que acha das denúncias feitas (pela oposição) contra o governo? ARJ Se você analisar as denúncias que derrubaram o Antonio Palocci (ex-chefe da casa civil no Governo Dilma, acusado de suposto enriquecimento ilícito), por exemplo, vai ver que ali não havia ligação com nada, mas eles afirmam que tinha. Esses cínicos, “serristas”, tucanos. Só que ficou muito feio para eles. Caiu no ridículo. Ninguém leva a sério. Tem matéria que virou análise de vários sociólogos, antropólogos, cineastas, ou seja, de gente intelectual. Para se ter uma ideia, os livros lançados contra o Lula não têm base em nenhum documento, não possuem prova nenhuma. Um bando de coisas pessoais, rasteiras. E isso para eles tem valor. São cínicos, não têm argumento. Quem escreveu que meu livro não prova nada é gente medíocre. E isso vai sujar ainda mais a página deles. Aí você pode me perguntar: “Por que eles estão falando que os documentos não provam nada?” Porque meu livro trata da posição de cada um
NVU Poderia citar algum desses críticos? ARJ Entre eles está o Merval Pereira (jornalista de O Globo), que foi meu diretor no Globo e hoje fica me acusando. No passado ele me elogiava, dizia que os melhores trabalhos no Globo eram meus. Coitado, publicou um livro de artigos muito mal escrito. Meu filho de 8 anos escreve melhor que ele. Aquilo não tem parágrafo, não tem nada. Então ficam duas, três pessoas falando mal, contra uma multidão que me elogia, gente até do próprio PSDB, perplexa com tantos desmandos, tanta coisa errada. Então vamos abrir a CPI, vamos investigar tudo isso. NVU Amaury, o livro A Privataria Tucana é fruto de 12 anos de pesquisa. Como foi esse processo? ARJ Começou no final da década de 1990, início do século, quando surgiram as primeiras notícias de que haveria cobrança de propina nas privatizações. Na época, eu trabalhava no jornal O Globo e comecei a seguir o caminho desse dinheiro. Em 2003 eu estava na ISTOÉ e escrevi sobre o caso Banestado, foi quando o Ricardo Sérgio moveu um processo contra mim. O Ricardo foi o grande artesão das privatizações, grande articulador tucano, ex-tesoureiro de campanha do José Serra e do Fernando Henrique Cardoso. Era ele quem pilotava os consór-
foto: divulgação
desses veículos, do papel ridículo que eles tiveram na eleição. Eles tiveram que me engolir porque o livro é um sucesso, um dos mais vendidos em todo o País, fenômeno editorial. As pessoas leem, acham um trabalho bem escrito, que trata de um problema de lavagem de dinheiro numa linguagem que o povo tem elogiado, gente de todos os lugares. E virou febre no Nordeste; virou até música de cordel, ou seja, até os artistas populares entenderam o livro; virou vídeo game, enfim, um fenômeno. Os caras que eu cito no livro são uns medíocres.
Ricardo Sérgio, ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil
Para se habilitar nos consórcios, os grupos precisavam de carta fiança do Banco do Brasil, e quem dava a carta fiança tanto para o grupo dos Jereissati, quanto para o Oportunity (banco do Daniel Dantas) era o Ricardo Sérgio cios. Quando a CPMI acabou em acordão, entrei com um processo para me defender, pois ele já movia um processo contra mim. Na realidade, pedi para o juiz obter os documentos necessários para eu provar que estava falando a verdade. E embora a CPMI tivesse feito um acordo, o Antero Paes de Barros (senador do PSDB, presidente da CPMI do Banestawww.nordestevinteum.com.br
do) foi obrigado a entregar para o juiz todas as propinas que ele tinha recebido de grupos ligados às telecomunicações. NVU Poderia fazer uma síntese da dinâ‑ mica do Ricardo Sérgio de Oliveira como personagem chave no processo da priva‑ tização tucana? ARJ Ele tinha o poder. Como ninguém tinha como entrar com dinheiro do próprio bolso, então usava-se o público, e o Ricardo Sérgio tinha o papel de direcionar a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), como está nos processos de improbidade administrativa movidos pelo Ministério Público. Tinha um homem dele dentro da Previ, o presidente João Bosco Madeiro da Costa, então ele tinha o poder de negociar quem a Previ ia fechar. Esse era o primeiro papel dele. O outro papel que ele detinha era o de cadastrar. Para se habilitar nos consórcios, os grupos precisavam de carta fiança do Banco do Brasil, e quem dava a carta fiança tanto para o grupo dos Jereissati, quanto para o Oportunity era o Ricardo Sérgio. Mas o processo dele vem de muito antes. Ricardo Sérgio, como diretor do Banco do Brasil, assinou uma portaria que abriu o duto do Banestado, permitindo o envio de dinheiro sujo para os bancos de Nova Iorque. Ele está dentro das operações desde a época do Banestado. Documentalmente, tudo isso está provado. NVU O livro também cita outros nomes. ARJ Sim, aparece, por exemplo, em documento, o pagamento do Carlos Jereissati (participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI) ao Ricardo Sérgio, que era de fato o cara motor do consórcio. Teve também o caso da privatização da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba). O primo do Serra, articulador do grupo espanhol Iberdrola na privatização da estatal, pagou ao Ricardo Sérgio, que favoreceu o grupo. E assim por diante. Em 2008, fui Janeiro/2012
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seguir o dinheiro do banqueiro Daniel Dantas (Amaury denuncia uma sociedade entre Verônica Serra, filha do ex-governador Serra, e Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas). Então foi um processo aprofundado. Penso em continuar o trabalho no próximo livro. NVU Mas se os documentos são de uma CPI e o relator era do PT, por que essa investigação não ocorreu na época? Por que não foram tomadas as providências? ARJ Vamos lembrar o que aconteceu. O José Mentor (deputado petista) assinou a CPI, e está dizendo por aí que o Antero Paes de Barros proibiu e dificultou os trabalhos. Mas não foi bem assim. Eu acho que começou a chegar muita coisa no PT também. Eles quiseram blindar o Henrique Meireles, que nem petista era, mas era o presidente do Banco Central. Aí começou a aparecer o Meireles operando com uma rede de doleiros sujos; começaram a aparecer as transações do Marcos Valério; começaram as do Duda Mendonça. O presidente do Banco do Brasil durante o governo (Cássio Casseb) era um cara que também operava com doleiro sujo. Este foi demitido. Veja: um banco estatal trabalhando com doleiro sujo. Mas o caso do Meireles foi blindado. Inclusive a matéria foi feita por colegas meus da ISTOÉ, a Sônia Filgueiras e o Weiller Diniz. Eles fizeram a matéria e ganharam o prêmio Esso de Economia, contando as transações nebulosas do presidente do Banco Central. NVU No livro, o senhor afirma que go‑ verno, oposição, narcotráfico, futebol, todos usam as mesmas lavanderias para lavagem de dinheiro. ARJ Há uma verdadeira lavanderia no Brasil. Se o presidente do Banco Central usa um duto sujo como esse, o que esperar do mundo? Quando eu quis fazer o livro, essa coisa da política não era a questão, mas acabou entrando. Minha questão era mostrar os mecanismos de lavagem de dinheiro e tentar coibir a sua entrada, bem
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que entrava era dinheiro sujo, que saia por uma rota de doleiros e entrava por operações casadas na Bolsa. O livro explica isso muito bem. Mostra que o mesmo método usado pelo senhor Ricardo Teixeira, pelo senhor Paulo Maluf (deputado federal), pelo Fernando Beira Mar (traficante), é usado pelo tucanato. Eles tentam dar uma roupagem de sofisticação, mas é a mesma coisa. Operações até amadoras, ridículas. O que se precisa fazer é discutir a questão da lavagem de dinheiro. O mundo está preocupado com isso.
Há uma verdadeira lavanderia no Brasil. Se o presidente do Banco Central (Henrique Meireles, ex-presidente) usa um duto sujo como esse, o que esperar do mundo? Quando eu quis fazer o livro, essa coisa da política não era a questão, mas acabou entrando como mudar a legislação, a lei para lavagem de dinheiro, mudar essas questões para evitar esse tipo de crime. Isso faz mal para o País. Queria endurecer essas operações casadas na Bolsa de Valores, flexibilizadas no governo Fernando Henrique Cardoso com pretexto de atrair capital de investidor. Na verdade, todo capital www.nordestevinteum.com.br
NVU O senhor acredita que na última década houve uma maior atenção a essa problemática dos paraísos fiscais? ARJ Pouco antes do ataque às torres gêmeas (Estados Unidos, 2001), todo mundo tinha dinheiro em paraíso fiscal e isso era sinônimo de impunidade. Aí descobriram que estavam lavando dinheiro de Serra Leoa (África Ocidental), dos diamantes; vieram então os atentados, e aí endureceram, criaram no mundo mecanismos para coibir essas operações de lavagem de dinheiro. O caso do Banestado é o maior de que se tem notícia e isso eu ouvia nos Estados Unidos. Fiquei seis meses lá em Nova Iorque, investigando. T rata-se do maior caso de lavagem de dinheiro do mundo. Então eu, policiais federais, os peritos federais, e a promotoria de Nova Iorque, conseguimos desmontar e ver como é esse sistema de lavagem de dinheiro mega milionário. Agora não se vai tomar medida? Tem que se mudar primeiro. Sobre esse negócio de ficar entrando empresa offshore (termo em inglês, referente a contas e empresas abertas em paraísos fiscais), está provado que é para ganhar dinheiro. Essas empresas são caixas postais, não são investidores que vêm para o Brasil. O meu livro explica exaustivamente e com exatidão essas operações e interações de dinheiro, justamente para fazer as pessoas entenderem.
Em Tese
*Barros Alves
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A folia dos Santos Reis barrosalves@editoraassare.com.br
a tradição das festas populares brasileiras, inscreve-se com relevo a Folia dos Santos Reis, ainda presente em várias regiões do Brasil, especialmente no Centro-Oeste e estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. A nomenclatura com que os brincantes se autodenominam é variada: Folia de Reis, Companhia de Reis, Caravana de Reis, Guarda de Reis, Terno de Santos Reis, Terno de Adoração dos Três Reis, Grupo de Santos Reis etc. Reisado é a denominação que se estabeleceu para os grupos que festejam as personagens bíblicas durante o período pós-natalino no Nordeste. Com efeito, a festa deriva do relato bíblico da visitação dos três reis que levaram presentes ao Menino recémnascido, Salvador da humanidade. Registra o autor do livro Legenda Aurea, do século XIII, sobre vidas de santos, que quando do nascimento do Senhor, foram a Jerusalém três magos, chamados em hebraico Apelio, Amerio e Damasco; em grego estes seriam Galgalar, Malgalat e Sarathim. Em latim são os magos Gaspar, Baltasar e Melquior, conforme nos legou a tradição católica. Homens justos e detentores de grande saber, por isso chamados magos, eles seriam descendentes de Balaão, profeta apontado como autor do anúncio, no Antigo Testamento, segundo o qual “uma estrela se erguerá sobre Jacó e um Homem sairá de Israel”. Ou seja, na plenitude dos tempos nasceria o Filho de Deus. Consoante ensina o folclorista Carlos Pe-
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Essa crença é lembrada em
droso, as Folias de Reis ou Companhias de Santos são originárias de quatro fontes, quais sejam: o capítulo 2 do Evangelho de São Mateus; a Festa da Epifania, celebrada no dia 6 de janeiro; os “Autos” apresentados à porta das Igrejas, na Idade Média, especialmente o “Auto dos Reis Magos”, do século XVI, de autoria do poeta português Gil Vicente; e os presépios de São Francisco. Essa crença é lembrada em veneração festiva em vários países do mundo cristão e, entre nós, ganhou feição folclórica porque adentrou no imaginário popular com força mística e ganhou corpo nas expressões da religiosidade do povo. Já nos começos do século XIX, Saint Hilaire dá conta de uma folia de reis (ou bandeiras do Divino, como chama Mello Morais Filho em Festas e Tradições Populares do Brasil) no sertão de Mato Grosso (Viagem às Nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás). As Folias de Reis sempre precedem a Festa da Epifania e são realizadas nos dias hodiernos e por comunidades do interior do Brasil, notadamente em áreas rurais, sobretudo as que praticam o catolicismo popular. Herança que nos foi legada pelo colonizador português, os grupos são compostos de várias personagens tradicionais, como o capitão, o alferes e os palhaços, que representam os soldados de Herodes, destinados, segundo o relato bíblico, a matar o Menino Jesus. Estes, às vezes mascarados, costumam assustar as crianças durante a apresentação. Câmara Cascudo lembra que “essas folias têm versos próprios para pedir, agradecer e retirar-se, dando as despedidas”. A Festa dos Santos Reis encerra o ciclo dos festejos natalinos.
veneração festiva em vários países
do mundo cristão
(*) Barros Alves é escritor, poeta e jornalista www.nordestevinteum.com.br
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Série Especial
Nordeste na caça ao desenvolvimento
O padrão liberal na década de 1990
Por Luiz Carlos Antero nordeste21@editoraassare.com.br
No vácuo e ausência das transformações estruturais historicamente requeridas, o Nordeste distanciou-se ao longo do tempo das possibilidades do planejamento e coordenação do desenvolvimento. Nesta segunda parte da série “O Nordeste na caça ao desenvolvimento”, examinamos como, no ambiente contraditório das disparidades regionais, a região ingressou com o País na desastrosa era neoliberal e amargou as consequências da destrutiva política de exclusão do Estado e da privatização criminosa do patrimônio público brasileiro — construído ao longo de décadas de labor de seu povo e transferido de modo fraudulento ao domínio privado pelas mãos de uma quadrilha estruturada pelo tucanato. 28
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o caso brasileiro — na contramão dos propósitos de inserção soberana do País e distanciando-se das saídas no padrão asiático — o ajuste da economia à globalização na década de 1990 obedeceu aos princípios econômicos da tradição liberal, com o ocaso da coordenação estatal em face da profunda crise fiscal e do endividamento, debilitando a capacidade nacional de enfrentar a desigualdade espacial do desenvolvimento. De acordo com uma corrente dos estudiosos do tema que envolve a política econômica e a questão regional brasileira, os efeitos mais visíveis da opção adotada nos anos 1990 consistiram na perda de capacidade do Estado para intervir na economia em favor do (re) equacionamento do modelo de crescimento. A definição da intervenção estatal no rumo de um “estado mínimo” produziu duradouros efeitos colaterais com resultados negativos ao tratamento das questões sociais e impulso do mercado interno — com graves repercussões na desigualdade entre regiões, suas economias e populações.
As taxas de crescimento dos PIBs (produtos internos brutos) regionais evidenciam a trajetória da política regional sob a coordenação estatal e o declínio do seu desempenho na vigência do modelo liberal
Nas opções de política econômica, após uma trajetória que compreendeu décadas e a criação de instituições, políticas e instrumentos voltados para acelerar o desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas, a coordenação estatal foi inoculada como dispositivo indutor de trajetórias de crescimento nas economias regionais, em uma ruptura com o desempenho precedente. As taxas de crescimento dos PIBs (produtos internos brutos) regionais, (ver tabela), evidenciam a trajetória da política regional sob a coordenação estatal e o declínio do seu desempenho na vigência do modelo liberal.
Taxas de Crescimento do Produto Interno Bruto, Total e per capita* Períodos Compreendidos entre 1960 e 2008
1960
Política Regional em 5 Décadas
<<
Nordeste
— Auge da Política Regional —
Periódos
1960 <<
5,9 %
6,4%
3,6%
3,8%
Décadas
8,5% 3,0 % 0,6 % 1960
PIB Total PIB per capita
4,3 % 2,1 %
6,2%
4,9%
1970
2008**
4,2 % Brasil 2,3 % Reformas 1990 << — Liberais — >> 2002
>> 1989
2,8% 1,6%
2,6% 1,1%
Novo Ativismo Fiscal 2003 << – >> 2008 5,3% 4,7% 4,2% 3,7%
8,5% 5,8% 3,5% 1,5%
2,0%
>>
1980
3,1% 0,9 %
2,% 1,7%
1990
3,3% 2,4%
2,8% 1,3% 2000
3,7% 2,4% 2008**
Fonte: Dados brutos: IBGE e Bacen. * Taxas de crescimento obtidas por ajustamento de uma função exponencial. — * Dados para 2000 a 2008.
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Este diagnóstico do comportamento da economia nordestina no período 1960 - 2008 revela uma dinâmica de expansão em patamar semelhante à média nacional, comparando-se a taxa de crescimento anual médio do PIB, no período, de 4,2% para o Nordeste contra 4,3% para o Brasil e de 5,9% e 6,4% (auge), respectivamente. E uma fase (2003-2008, de “novo ativismo fiscal”) de maior recuperação, no qual o Nordeste exibe um desempenho (5,3%) superior ao do País (4,7%). Na década de 1970, verifica-se a colheita dos estímulos das políticas de incentivos fiscais convertidos em investimentos na indústria regional e suas repercussões no crescimento econômico, em um elevado patamar de 8,5% ao ano para o Nordeste e para o Brasil, no auge do chamado “milagre econômico” — momento no qual a concentração da renda atingiu o paroxismo com graves repercussões sociais no País e nas suas regiões. Entretanto, apesar dos inegáveis avanços dos últimos 50 anos no País e na região, o Nordeste permaneceria — relativamente às demais regiões — com uma participação de longo prazo no produto nacional constante e bem inferior ao peso da sua população (próxima aos 30% do perfil nacional). Em consequência, isso se refletiria, do ponto de vista macroeconômico, na sua baixa produtividade e renda per capita regional média, que permaneceria abaixo da metade da renda nacional (47%) — também mantida desde os anos 1950, e que se relacionaria, por sua vez, ao menor nível de poupança e investimento regional, e de remuneração. Do mesmo modo que para outras regiões do País, no Nordeste a mera expansão da atividade econômica não produziria em si modificações substanciais nas estruturas sociais oriundas do seu deplorável
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passado colonial, refletidas nos indicadores do mercado de trabalho restrito, desigual e precário; miséria e pobreza, analfabetismo e desnutrição em “moderna” convivência estrutural com a concentração da riqueza e da renda — fenômenos contemporâneos persistentes.
A mesma linha de análise informa também que, não obstante um comportamento produtivo médio positivo no período recente, a Região Nordeste permaneceria com uma parcela constante no PIB nacional em torno dos 13% (1ver tabela abaixo).
PIB preço de mercado (1995-2009) (1) Nordeste e Brasil
Anos
PIB
(Em R$ milhões)
Nordeste
Brasil
(%) NE/BR
Variação anual (%) NE
BR
1995
84.970
705.641
12,0
-
-
1996
105.223
843.966
12,5
23,8
19,6
1997
116.981
939.147
12,5
11,2
11,3
1998
121.901
979.276
12,4
4,2
4,3
1999
132.577
1.065.000
12,4
8,8
8,8
2000
146.827
1.179.482
12,4
10,7
10,7
2001
163.465
1.302.135
12,6
11,3
10,4
2002
191.592
1.477.822
13,0
17,2
13,5
2003
217.037
1.699.948
12,8
13,3
15,0
2004
247.043
1.941.498
12,7
13,8
14,2
2005
280.545
2.147.239
13,1
13,6
10,6
2006
311.104
2.369.484
13,1
10,9
10,4
2007
347.797
2.661.345
13,1
11,8
12,3
2008
397.593
3.031.864
13,1
14,3
13,9
Fonte: Contas Regionais e Nacionais do Brasil 2008 – IBGE
Apesar dos inegáveis avanços dos últimos 50 anos no País e na região, o Nordeste permaneceria com uma participação no produto nacional bem inferior ao peso da sua população (próxima aos 30% do perfil nacional) www.nordestevinteum.com.br
Resumidamente, os 12 anos (1990-2002) de experimentos liberalizantes produziram taxas de expansão das economias regionais inferiores àquelas observadas na fase de declínio (1980-89) do período desenvolvimentista da intervenção estatal na questão regional brasileira. À medida que o modelo se aprofundou, as taxas rumaram ao declínio: nos anos iniciais da década de 1990 (entre 1990 e 1994) quando o modelo ainda não se consolidara, as taxas foram em média superiores às seguintes. Constatar-se-ia de um modo geral mínima discordância entre os estudiosos da questão regional brasileira: é praticamente consensual a conclusão de que, até meados dos anos 1980, o processo
Com a criação de fortes restrições sobre a política econômica, ocorreu substancial redução da capacidade de determinação do Estado sobre o crescimento econômico regional — e os sinais de redução das disparidades se tornaram gradualmente mais débeis de desconcentração produtiva e de convergência das rendas per capita regionais ainda estava em curso, como resultado dos efeitos favoráveis das políticas implementadas nas décadas de 1960, 1970 e início dos anos 1980. Tais efeitos, contudo, tornaram-se mais evidentes após os impactos perversos da crise da dívida externa. Com a criação de fortes restrições sobre a política econômica, ocorreu substancial redução da capacidade de determinação do Estado sobre o crescimento econômico regional — e os sinais de redução das disparidades se tornaram gradualmente mais débeis. Tanto o processo de desconcentração produtiva quanto a convergência das rendas per capita regionais foram prejudicados e adicionalmente verificou-se o enfraquecimento dos laços os quais, não obstante suas contradições, integravam as diversas regiões do País em torno do mercado nacional.
A ruptura da intervenção estatal e a equação liberal (1990-2002) o atual século evidenciou-se a diferença entre os padrões de intervenção estatal das décadas de 1960-80 e o da fase 1990-2002. Neste último período, as tentativas de resolução da crise fiscal e financeira do Estado, aprofundaram, ao invés de reduzir ou conter, o potencial explosivo das dificuldades ocasionadas e de uma vasta pauta de reivindicações oriundas de diversificadas origens. A política econômica determinou o baixo crescimento aos estados da Federação, negando-lhes simultaneamente a capacidade de criar alternativas fiscais para a expansão das demandas agregadas estaduais. A política de câmbio e de juros elevados desfez continuamente os resultados do ajuste fiscal e a dívida pública manteve-se em crescimento, promovendo uma instabilidade macroeconômica indiferente à “estabilidade de preços”. Crises financeiras internacionais envolveram o México em 1995 e o Sudeste da Ásia (Hong Kong, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia) em 1998, as quais provocaram vastos prejuízos ao Brasil em decorrência do novo modelo de total liberalização do movimento de entradas e saídas de capitais. No ano 2000 a política fiscal destinada a uma nova e definitiva restrição aos gastos governamentais foi novamente “aprimorada”, travando de vez os investimentos econômicos e sociais. Surge a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determinou aos estados uma rígida disciplina fiscal e o cumprimento de um regime de superávits fiscais limitador do gasto como ativador da demanda agregada — férrea disciplina não aplicável ao Banco Central. Frustrou-se o processo de descentralização de recursos, legitimado na Constituição de 1988, pela via da crescente parcela retida pelo governo federal mediante a Desvinculação de Recursos da União (DRU) e pelo crescimento dos gastos improdutivos obrigatórios de estados e municípios com despesas da dívida (juros, encargos e amortizações). O Nordeste acusou o golpe deste ambiente restritivo, que repercutiu sobre os instrumentos da política regional: os fundos fiscais – Finam (Fundo de Investimentos da Amazônia) e Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste) – e os fundos constitucionais – FCO (Financiamento do Centro-Oeste), FNE (Federação Nacional da Educação) e FNO (Fundo Constitucional de Financiamento
A trajetória predominante no país entre 1990-2002 abdicou da coordenação do crescimento, introduzindo na agenda nacional um comprometedor processo de privatizações e a deterioração dos principais instrumentos e instituições da política regional
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do Norte) – foram impactados em sua destinação de fomento à atividade econômica nas regiões marcadas pelas assimetrias do desenvolvimento. Tais dispositivos apresentaram uma significativa relevância — em especial nos anos de 1960 e 1980 — no fomento aos incentivos, a exemplo do mecanismo 34/18, ao lado dos fundos fiscais, e uma ação preponderante somatizada por organismos como Dnocs ( Departamento Nacional de Obras Contras as Secas), Codevasf ( Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e BNB (Bando do Nordeste). Sua vigência valorizou-se a partir das proposições dispostas na Constituição de 1988, que instituiu os fundos constitucionais, drenando mais recursos para as regiões. No ciclo da intervenção governamental dos anos 1990, foram golpeados os fundamentos da coordenação de Estado para o desenvolvimento nacional que — não obstante as contradições e diferenças políticas e ideológicas entre os governos do período 1960-80 — direcionava a geração de fundos públicos a políticas de gastos voltadas para a modernização das estruturas produtivas. As crescentes receitas tributárias rumaram sobretudo para o pagamento de juros a credores nacionais e internacionais da dívida pública — um dispositivo ainda atual —, desviando-se o gasto público antes voltado para o estímulo de atividades produtivas. A trajetória predominante no País entre 1990-2002 abdicou da coordenação do crescimento, introduzindo na agenda nacional um comprometedor processo de privatizações e a deterioração dos principais instrumentos e instituições da política regional. O paroxismo das disparidades regionais não se afirmou de modo generalizado porque se frustrou a plena realização da estratégia liberal. Em suma, as novas formas de coordenação do Estado surgidas neste período (em especial com a nova abertura comercial, financeira e das privatizações) e as opções de política econômica (com o câmbio
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As amarras criadas pelo governo federal para conter a descentralização fiscal retiraram dos governos estaduais a capacidade de execução do gasto público como elemento de ativação do crescimento econômico valorizado e os juros elevados) tornaram mais agudas a crise fiscal e financeira do setor público. No enfoque da questão regional, o ambiente ocasionado pelas reformas institucionais favoreceu o acirramento da guerra fiscal entre unidades da federação e inviabilizou os principais instrumentos de desenvolvimento regional, reduzindo a capacidade de implementação de políticas setoriais necessárias ao desenvolvimento das regiões. Os acordos realizados entre a União e os governos estaduais para a renegociação da dívida, os quais envolveram as privatizações aceleradas de ativos públicos — empresas de telecomunicações, de saneamento e de transportes, e até os bancos estaduais —, geraram um elevado comprometimento de receitas fiscais com o pagamento de dívidas contraídas. Enfim, as amarras criadas pelo governo federal para conter a descentralização fiscal em curso retiraram dos governos estaduais a capacidade de execução do gasto público como elemento de ativação do crescimento econômico, acentuando adicionalmente as assimetrias regionais. www.nordestevinteum.com.br
A coo
questão ênfase contemporânea no aspecto da coordenação estatal — essencial ao planejamento estratégico do desenvolvimento na relação com a ruptura das estruturas de atraso —, baliza-se desde as flutuações, nas últimas cinco décadas, das políticas e medidas do combate às desigualdades regionais, mediadas em especial pela instabilidade do sistema político e por um gradual esvaziamento de nexos e identidades, objetivos, meios e instrumentos. Decorreu daí um quadro de obstáculos ao planejamento sustentado de longo curso: a concentração espacial, a descontinuidade administrativa, a valorização do patrimonialismo, do fisiologismo ou do clientelismo sobre as necessidades sociais na definição das metas, na incidência da frustração das políticas públicas em prejuízo do desenvolvimento.
rdenação estatal e a regional no Século XXI A ênfase da política no momento atual requer o foco na coordenação das ações e instrumentos para o desenvolvimento, buscando eficiência, eficácia e impactos de médio e longo prazo Para Aristides Monteiro, coordenador do Projeto Brasil em Desenvolvimento, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) classificar-se-iam dois conjuntos de recursos para o crescimento regional, questionados quanto aos fatores de coordenação, superposição de ações, qualidade dos resultados, com recursos para: (1) Estímulo à atividade produtiva (notadamente incentivos fiscais e créditos subsidiados ao setor privado), os quais operariam com a lógica do empreendedor privado, tornando-se instrumentos da maior concentração de recursos para a industrialização nas principais regiões metropolitanas e, de modo secundário, nas demais capitais nordestinas. Tais instrumentos — que permitiriam a renovação industrial no Nordeste — também propiciariam a elevada concentração espacial da atividade produtiva regional. (2) Ampliação do capital social (educação, saúde, assistência social, cultura etc), mais consistentes nas últimas décadas, mas ainda rebaixados quanto aos padrões médios nacionais.
Nos dois níveis concluir-se-ia que os volumes de recursos cresceriam significativamente. Entretanto, sua origem não os vincularia a um planejamento sistemático e teriam sua ênfase comprometida por circuns-
No gasto público, a Região Nordeste participa de modo mais destacado em 2010 nos índices da indústria, comércio e serviços tâncias pontuais, carentes de coordenação e articulação, econômica e socialmente pulverizadas, com uma débil atenção aos efeitos da concentração intrarregional e interpessoal da produção afortunada. A ênfase da política no momento atual, nessas condições e nesta concepção, passaria a requerer o foco na coordenação das ações e instrumentos para o desenvolvimento, buscando www.nordestevinteum.com.br
eficiência, eficácia e impactos de médio e longo prazo quanto aos instrumentos que seriam previstos no orçamento público. Nos últimos anos, acentuando-se com as mudanças promovidas pelas gestões do período 2003-2010, as transferências fiscais constitucionais, de rendas, com os programas compensatórios (bolsa família, entre outros) e previdenciários (aposentadorias e aumento real do salário mínimo) elevariam a capacidade de demanda local e acarretariam a dinamização de alguns setores econômicos, a exemplo do comércio e serviços, somados à administração pública e à agropecuária enquanto maiores empregadores regionais no setor formal. Reforça-se a tese segundo a qual uma política estratégica e coordenada de desenvolvimento pode reduzir desigualdades nas transferências governamentais voltadas às demandas sociais na região (Saúde, Educação etc), e aos recursos destinados à promoção do investimento produtivo, fomentando um patamar médio de gasto público aproximado ao do País. Neste gasto público, o Nordeste participou de modo mais destacado em 2010 nos índices da indústria e comércio, e serviços. Entretanto, a distanciada participação da agricultura — fundamental na interação Janeiro/2012
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produtiva em um desenvolvimento mais equânime —, revela um desequilíbrio entre os setores da economia a requerer privilegiada atenção quanto ao planejamento estratégico e estrutural do desenvolvimento.
Este desequilíbrio se reduz no Sudeste quando se trata de indústria e agricultura, impulsionado pela histórica vitalidade da economia em sua precedência sobre as demais regiões, mas é bastan-
te acentuado no Nordeste onde a indústria chega a apresentar, no que se refere ao Sudeste e ao Total, uma relação invertida com relação ao setor comércio e serviços (2ver tabela abaixo).
Gastos públicos regionalizados por Função - 2010*(2) PREVISÃO DOS GASTOS TRIBUTARIOS 2010 - POR FUNÇÃO ORÇAMENTARIA- REGIONALIZADO Função Orçamentária
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Total
93.007.121
514.544.816
395.640.010
3.119.138.628
658.840.494
4.781.171.069
Saúde
201.147.455
820.279.946
837.900.309
8.951.216.963
1.521.887.110
12.332.431.782
Trabalho
173.699.671
845.154.402
1.107.356.010
8.234.758.678
1.388.514.061
11.749.482.821
Educação
202.630.734
580.935.607
389.286.720
3.053.852.444
853.227.699
5.079533.203
Cultura
44.663.478
51.952.252
128.468.467
1.354.538.956
141.730.863
1.721.354.015
Direitos da Cidadania
12.681.833
79.511.806
57.144.307
863.541.763
160.978.978
1.173558.686
67.483.952
262.390.896
167.081.019
1.883.988.797
376.790.748
2.757.735.411
8.181.698
19.982.230
16.257.784
180.562.380
35.844.558
260.828.650
31.424.794
180.102.451
96.988.655
2.321.455.769
338.305.280
2.968276.949
1.375.089.084
1.026.556.013
573.457.719
5.028.801.864
838.857.315
8.842.761.995
1.008.181
2.720.801
5.552.847
14.299.404
7.456.203
31.037.437
7.343.798.224
5.244.851.471
769.628.248
6.725.007.595
2.254.138.176
22.337.423.715
11.081.384.542
2.579.842.885
1.493.775.518
14.344.761.958
5.770.953.161
35.270.718.063
528.284
4.093.303
0
70.686.424
22.707.960
98.015.971
3.902.653
98.603.374
7.574.622
293.572.997
17.149.072
420.802.719
140.895.117
198.102.069
156.298.152
2.491.089.477
301.971.996
3.288.356.812
10.244.896
26.707.275
43.985.796
584.135.649
96.165.699
761.239.315
Assistência Social
Urbanismo Habitação Saneamento Gestão Ambiental Ciência e tecnologia Agricultura Organização Agrária Indústria Comércio e Serviço Comunicações Energia Transporte Desporto e lazer Encargos Especiais
Total Arrecadação Estimada
20.791.771.715 12.536.331.598 6.246.396.183 59.515.409.747 14.785.519.371 113.875.428.613 11.777.597.424
31.124.282.045
61.515.321.289
391.311.830.168
64.198.770.852 559.927.801.778
* A preços correntes
De um modo geral, os efeitos de curto prazo dos maiores investimentos tenderiam a beneficiar regiões mais ricas, fornecedoras imediatas dos insumos requeridos e com uma base produtiva e de bens de capital mais consistente. É, contudo, inconsistente a expectativa de que as repercussões desses investimentos concentrados deságuem por si e ao
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longo prazo para as sub-regiões mais pobres, desde a ênfase intrarregional nas áreas mais dinâmicas. Entre os dispositivos relevantes destaca-se a atuação de instituições de desenvolvimento nacional e regional, a exemplo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o BNB, que mostram um (diferenciado) auwww.nordestevinteum.com.br
mento das operações nos últimos anos, no Nordeste. No caso do BNDES, a forte concentração de recursos (de 61% em 2005 e 2006) no Sudeste voltou gradualmente em 2009 ao patamar de 53% verificado em 2004, mantendo ainda o perfil que compreende mais da metade dos seus investimentos (3ver tabela).
empenho das gestões iniciadas em 2003 quanto aos investimentos estruturantes na região, quando se destaca projetos de maior porte, a exemplo da Transnordestina ou da integração entre as bacias do rio São Francisco e do Nordeste Setentrional. Esses investimentos sugerem expectativas de impacto sobre as sub-regiões menos desenvolvidas, com a geração de emprego e renda — em um horizonte que apresentaria um panorama diferenciado dos programas estritamente compensatórios emergenciais e previdenciários, sob o estímulo de uma dinâmica produtivamente sustentada na economia regional. Abre-se também, entre as expectativas colaterais das maiores obras, a tendência às mudanças quanto aos fluxos migratórios nas dimensões inter e intra-regional, com repercussões sobre a estrutura produtiva no território nordestino. Em consequência, o quadro das disparidades regionais neste início do século XXI apresenta indicadores de uma realidade que polemiza com o perfil observado na segunda metade do século passado.
Financiamento do BNDES (2004-2009) (3) Desembolso Anual do Sistema BNDES - R$ milhões / (%) região 2004 2005 2006 2007 Norte 1.954,10 5% 1.615,80 3% 1.625,80 3% 3.460,90 5% Nordeste 2.737,30 7% 3.803,00 8% 4.836,20 9% 5.322,10 8% Sudeste 21.299,20 53% 28.739,80 61% 31.414,60 61% 37.581,30 58% Sul 8.682,80 22% 9.551,00 20% 9.782,60 19% 12.772,90 20% Centro Oeste 5.160,50 13% 3.270,60 7% 3.658,80 7% 5.754,70 9% TOTAL 39.833,90 100% 46.980,20 100% 51.318,00 100% 64.891,80 100%
2008 4.951,80 5% 7.627,20 8% 51.010,10 56% 17.407,60 19% 9.881,30 11% 90.877,90 100%
2009 11.213,50 8% 22.067,30 16% 71.660,40 53% 20.677,10 15% 10.738,10 8% 136.356,40 100%
Fonte: Contas Regionais e Nacionais do Brasil 2008 – IBGE
Entretanto, a elevação dos investimentos de 7% para 16% no Nordeste, no período de 2004 a 2009 ainda está muito aquém dos recursos dedicados ao Sudeste. Além disso, ainda que duplicando esses recursos, a ênfase restringiu-se basicamente aos investimentos direcionados ao complexo de Suape, no litoral pernambucano, no rumo tacitamente compartilhado pelas empresas estatais, notadamente a Petrobras, e pelo governo federal. O Nordeste já conheceu, em gestões passadas, mais aguda indiferença. Entretanto, a atuação do BNDES, uma expressiva fonte nacional de recursos para o estímulo ao desenvolvimento, resiste ao reconhecimento das fortes de-
mandas do PNDR (Política Nacional de Desenvolvimento Regional) em sua capacidade de promover a atenção estratégica ao imenso potencial das ações voltadas para o desenvolvimento regional. Quanto ao BNB, em um quadro que deve apresentar mudanças no período mais recente — os recursos do FNE (Fundo Constitucional para Desenvolvimento do Nordeste), tomando-se apenas o ano de 2009, foram da ordem de R$ 9 bilhões (4ver gráficos abaixo). Examina-se ainda, noutro aspecto, a necessária correção de rumo da referida e quase generalizada tendência intrarregional à concentração do dinamismo no litoral ou nas capitais nordestinas. Por outro ângulo, é evidente o
Financiamento do FNE-Banco do Nordeste - 2009 (4) Valor (R$ milhões)
Operações (mil)
Maranhão Bahia
Alagoas
5,2%
460 437 473
15,2% Pernambuco
5,0 %
Piauí
Alagoas
17,7%
4,2% 6,1%
683
Paraíba
Rio Grande do Norte
Pernambuco
Piauí
31 16 23
10,8%
6,0 % 7,5%
8,2%
69
18,2%
41
Ceará 548
44
68
Sergipe
1.619
1.384
11,6%
17,9%
1.342
1.792
4,8%
Bahia
14,7%
19,6%
Sergipe
Maranhão
Ceará 25
22
6,6% 5,8% Paraíba
Rio Grande do Norte
Fonte: BNB
A Série “Nordeste na caça ao desenvolvimento” prossegue na próxima edição de Nordeste Vinte e Um, em sua terceira parte, com O planejamento necessário: novos horizontes www.nordestevinteum.com.br
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ômico n o r t s a g Festival te Culinária” “Nordes rearil será b a e d 18 ição De 15 a al-RN a VI Ed t a á N n li ria. m lizado e l Nordeste Cu stival a fe iv do Fest r itinerante, o cie t apa De cará lidade c em a in f o s m essada tem co as inter gastronômio s s e p tar mo ow com ar no ra ingress endo aulas-sh ados, om rec co, ofe as e chefs ren as. t is s tem culinar o vário d n a lh e traba rmações no m.br. fo aria.co n li Mais in u c e t ordes www.n
“7 tesouros de São Luís” A Bureau Internacional de Capitais Culturais (www.ibocc.org) e a Prefeitura de São Luís divulgaram no início deste mês, em Barcelona (Espanha), os sete tesouros do Patrimônio Cultural Material de São Luís. Os monumentos foram escolhidos através de votação popular com cerca de seis mil votos de todo o Brasil. A disputa abrangeu 32 pontos turísticos. Os escolhidos foram: Azulejaria, Convento das Mercês, Igreja da Sé, Palácio dos Leões, Praça Gonçalves Dias, Rua Portugal e Teatro Artur Azevedo. Neste ano, a capital do Maranhão completa 400 anos. Com as escolhas, o município pretende aumentar o turismo cultural internacional para a cidade.
Academia Pernambucana de Letras tem uma mulher na presidência Pela primeira vez em 110 anos de história, a Academia Pernambucana de Letras elege uma mulher como presidente. A escritora e antropóloga Fátima Quintas assume o lugar que antes pertencia a Waldenio Porto. Fátima, além de escritora, é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e coordena o Instituto de Tropicologia da Fundação Gilberto Freyre. Sua obra mais recente foi o livro de contos “Espelho duplo”.
Museu Nacional de Belas Artes comemora 75 anos O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e vinculado ao Ministério da Cultura, completa 75 anos de criação neste mês (dia 13). Localizada no Rio de Janeiro, a instituição conta com um acervo de cerca de 70 mil itens, distribuídos em um espaço de 13 mil m². Há pinturas, esculturas e arte sobre papel, além de outras coleções, dentre elas, arte decorativa, arte popular brasileira e estrangeira, inclusive a africana e a indígena.
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Para a estante A Coluna no Rio Grande do Norte A Coluna Prestes, movimento revolucionário de feição comunista que surgiu no Brasil na primeira metade do século passado, era formada por homens idealistas, valentes, guerreiros. Lutou por transformações políticas e sociais, mas não conseguiu a adesão das massas. Prestes foi cognominado “Cavaleiro da Esperança” por ter plantado essa semente de transformação social. Durante a longa marcha de mais de 25 mil quilômetros por todo o País, os guerrilheiros travaram combates com tropas do governo, coronéis oligarcas e seus jagunços no interior do Nordeste. Um desses combates se deu em São Miguel, no Rio Grande do Norte, em 29 de janeiro de 1926. Esta saga está contada – e muito bem contada – no livro “Os Revoltosos em São Miguel-1926”, de autoria do historiador potiguar Raimundo Nonato, agora reeditado com o excelente selo da Coleção Mossoroense, editada pela Fundação Vingt-Un Rosado.
Sobre o santo do Nordeste Padre Neri Feitosa é uma personalidade das mais dignas da Igreja Católica Romana, sobretudo pela honestidade intelectual com que aborda temas de natu‑ reza teológica e social. Tem-se notabilizado como um pioneiro na defesa do Padre Cícero Romão Batista, o Patriarca do Juazeiro, contra quem as línguas equivocadas ou maledicentes já assacaram todas as diatribes que um candidato a santo pode sofrer. O “advocatus Dei” do Padim Ciço lança mais uma obra apologética sobre o santo nor‑ destino, em coleção comemorativa do centenário de Juazeiro do Norte. “Padre Cícero e Juazeiro” é uma coletânea de textos escritos ao longo de vários anos. Percucientes incursões que colocam mais lenha na fogueira da polêmica que há muito envolve Padre Cícero, a Igreja e todo o povo romeiro, em razão das expectativas da fé que eles, os romeiros, professam e da inquebrantável crença de que “Meu Padim” é inquestiona‑ velmente um santo.
Dicionário de Lampeão Paulo Medeiros Gastão, nordestino de quatro costados, é mestre reconhecido em contações de histórias do cangaço, tendo sido idealizador e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC). Do seu embornal de pesquisas já saíram preciosas jóias sobre fatos, coisas, bichos e gente desse mundo chamado Nordeste. Presentemente, mais uma obra da lavra de Paulo Gastão vem a lume, versando sobre o insuperável bandoleiro das caatingas, Virgulino Ferreira, o Lampeão. Trata-se de um perfil do famoso cangaceiro, suas características e manias, suas andanças e folganças, história e geografia do mitológico chefe cangaceiro, escrito em forma de vocabulário. “Lampeão de A a Z” é como está intitulado o trabalho com que o autor presenteia os leitores, sobretudo os apreciadores das estrepulias do Rei dos Cangaceiros. www.nordestevinteum.com.br
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Economia
Uma região em Não é novidade, nem para a grande mídia, que o Nordeste vem deixando de ser o primo pobre do Brasil. Desde o Governo Lula que a região é aquinhoada de recursos públicos, além de alvo direto da política de transferência de renda, criticada por muitos adeptos da filosofia do “ensinar a pescar o peixe”. Críticas a parte, a verdade é que o cenário é cada vez mais promissor para o desenvolvimento nordestino. Por Samira de Castro nordeste21@editoraassare.com.br
Estados campeões em investimentos 89
Rio de Janeiro
*(em bilhões de reais) São Paulo
62
Pará
51,1
Pernambuco Maranhão 45 Ceará 42
32,7
Rondônia
29,7
Pernambuco, Maranhão e Ceará, somados, ficam com R$ 119,7 bilhões
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m obras A
mais recente notícia alvissareira é a de que o Nordeste possui três estados campeões em volume de investimentos nas obras de infraestrutura – P ernambuco, Maranhão e Ceará. São inicia-
tivas que geram emprego e ajudam a fazer a festa do comércio varejista. Problemas a superar, sobretudo nas áreas de saúde e educação, ainda há muitos. Mas as conquistas teimam em apontar os rumos do desenvolvimento regional.
No país em obras – são cerca de 1.010 espalhadas em todo o território, somando R$ 558 bilhões –, os estados nordestinos concentram projetos no valor de R$ 150,4 bilhões, ou seja, cerca de 27% do total. Pernambuco, Maranhão e Ceará, somados, ficam com R$ 119,7 bilhões. Rio de Janeiro e São Paulo juntos abocanham R$ 151 bilhões, é bem verdade. Mas o fato de a região ter três estados entre os sete que mais vão receber projetos de infraestrutura já é uma conquista. Sobretudo comparando com anos de indiferença histórica de gestores públicos que decidiram, por conta própria, traçar um mapa de desenvolvimento industrial de Minas Gerais para baixo no mapa brasileiro. Engana-se quem pensa que essa verba toda vai apenas para os fabulosos estádios em construção nas subsedes da Copa de 2014. A maior parte dos recursos abrange obras nos setores de energia/combustíveis, transportes, energia elétrica, saneamento, telecomunicações e habitação. É o caso da Refinaria Premium 1, no Maranhão, orçada em R$ 40 bilhões. A Premium 2, no Ceará, que ainda está envolta em problemas com o terreno em áreas indígenas, está custando à Petrobras R$ 22 bilhões. A Abreu e Lima, em Pernambuco, aparece com R$ 21,1 bilhões. Todas elas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). São empreendimentos de grande envergadura e que, segundo a economista
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Tânia Bacelar, “quando prontos, devem mudar de vez a imagem do Nordeste tal qual vimos e ouvimos falar de nossos pais e avós”. A Premium 1 prevê processar 600 mil barris/dia de petróleo em duas fases. A refinaria cearense, por sua vez, 300 mil barris/dia e a Abreu e Lima, parceria da Petrobras com a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), 230 mil barris diários deste que ainda é o principal combustível mundial.
Entrando nos trilhos
Ainda sobre as obras, que vão em ritmo mais lento do que desejam governo e população, uma outra merece destaque: a Transnordestina. Lançada por Dom Pedro II, a superferrovia começou a sair do papel no governo Lula. Dos seus 1.728 quilômetros – ligando Eliseu Martins, no Piauí, passando por Missão Velha e com ramal até Pecém, ambos no Ceará, para chegar em Suape (PE), só
Projetos que demandam mais investimentos para sua conclusão (em bilhões de reais)
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40 foram feitos. Nos canteiros, a ordem é acelerar para terminar tudo em 2013. O trecho entre Salgueiro e Missão Velha é o mais adiantado, segundo Tufi Daher Filho, presidente da empresa Transnordestina Logística, concessionária da obra. Uma das obras de infraestrutrura mais antigas do País, a Transnordestina impressiona por seus números. Deverão ser consumidos 27,4 milhões de quilos de aço e 740 mil metros cúbicos de cimento (daria para erguer nove estádios como o Maracanã). As 25 frentes de obras contam
Concentração de máquinas a frota atual de aproximadamente 285 mil máquinas utilizadas em obras de infraestrutura no País, 23% estão em operação no Nordeste. A informação – que reforça a região como um dos polos nacionais de investimento – consta em levantamento inédito encomendado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema). A pesquisa “Frota Brasil em Atividade” tem por base um universo pesquisado de 45 mil equipamentos e máquinas. O estudo, na verdade, desdobra de um outro levantamento que mapeou as principais obras e investimentos em curso no Brasil. A liderança na concentração de máquinas ainda é do Sudeste, com 56% do total. As regiões Sul, Norte e Centro-Oeste têm, respectivamente, 7%, 6% e 3%. “A expressiva presença de equipamentos no Nordeste se deve à concentração de grandes obras em execução neste momento naquela região”, diz Afonso Mamede, presidente da Sobratema.
Décadas perdidas foto: Antonio Cruz/ABR
com 10 mil operários. E as máquinas chegam a 1.500, entre tratores, escavadeiras e motoniveladoras. São equipamentos avaliados em nada menos do que R$ 300 milhões. A ferrovia é, ao lado da transposição do São Francisco, um exemplo de como a infraestrutura era tratada no Brasil. Em 1877, ao visitar o Nordeste durante uma seca terrível, o imperador Dom Pedro II prometeu ajudar a região. Entre as medidas sugeridas por uma comissão criada à época havia a abertura de um canal para levar água do Velho Chico às áreas castigadas por estiagens e a construção de uma ferrovia para interligar a região.
Ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva
O
s investimentos em infraestrutura no Nordeste, assim como em todo o Brasil, sofreram considerável declínio nas “décadas perdidas”, ou seja, os anos 1980 e 1990. Este período ficou caracterizado pelo baixo crescimento econô‑ mico, elevadas taxas de inflação e reduzidos investimentos públicos, que por sua vez, estiveram associados à crise do endividamento externo, segundo levantamento do Escritório de Estudos Téc‑ nicos do Nordeste (Etene), ligado ao Banco do Nordeste (BNB). Ao fazer um balanço de oito anos de governo, o então presidente Lula da Silva (PT) declarou que
“o Nordeste, que só recebia atenção no período da seca, hoje é o berço de novas refinarias, estaleiros e grandes obras de infraestrutura, como a transposição do [Rio] São Francisco. O mesmo [ocorre] na Região Norte, onde estão em construção algumas das maiores, mais modernas e sustentáveis usinas hidrelétricas do mundo”, disse o ex-presidente em discurso. Como todo especialista gosta de lembrar, os avanços do governo petista só foram possíveis, em grande medida, graças à estabilidade monetária al‑ cançada pelo Plano Real. Depois de controlar o dra‑ gão da inflação, a União iniciou o processo de corte de gastos públicos, investindo apenas no essencial, em meados da década de 1990 até os anos 2000. Economizar para pagar juros da dívida era a receita dos tucanos. Com Lula e o seu PAC, o Brasil retomou a estratégia militar de colocar no papel os planos de metas. Grandes obras exigem planejamento e, obviamente, muito dinheiro em caixa.
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milênio 3º Estudante de 16 anos desenvolve aplicativo que condensa páginas da web
Uma ideia simples, mas muito útil: resumir textos da web em pontos importantes no seu iPhone. Criado por Nick D’Aloisio, um estudante britânico de 16 anos, o aplicativo Summly já atrai vários investidores da área de tecnologia, incluindo um dos homens mais ricos do mundo, Li Ka-Shing. A fama veio depois que o programa foi escolhido pela Apple como o aplicativo da semana, tendo sido baixado cerca de 115 mil vezes. O motivo do sucesso é óbvio: o Summly facilita as buscas na rede, resumindo os resultados encontrados em pontos de maior relevância. Para isso, ele utiliza o histórico de pesquisa do usuário. Além disso, o download é gratuito. O menino se reuniu com investidores do Vale do Silício, e já pensa em licenciar ou vender a tecnologia. Entusiasmado com a repercussão do aplicativo, ele declarou: “Ter o apoio da Apple tem sido incrível. Seis meses atrás, quando eu estava aprimorando a ideia, sabia que tinha potencial, mas a velocidade que as coisas têm tomado me surpreendeu”. O sucesso permitiu o encontro do estudante com o designer da Apple Jonathan Ive. Entre provas da escola que frequenta em Wimbledon e reuniões com empresários, Nick, que desenvolveu o software em casa com o apoio dos pais e a ajuda do irmão de 12 anos, já pensa em abrir um escritório e contratar funcionários de várias partes do mundo. O menino pretende ir para a Universidade estudar Filosofia, mas não descarta seu futuro como desenvolvedor: “Tenho várias outras ideias, mas no momento só quero ver como o Summly pode crescer”, revelou.
Tempo mundial pode mudar em 2012 Uma nova forma de marcar o tempo? Esta armadilha de átomos de estrôncio, parte principal de um relógio atômico, poderá mudar a forma como o mundo mede o tempo. O tempo, tal como o conhecemos hoje, poderá não ser exatamente o mesmo tempo nos séculos que virão. Tanto que os cientistas da área estão usando todo o seu tempo durante as festas de fim de ano para discutir uma nova definição da escala de tempo do mundo: o chamado Tempo Universal Coordenado (UTC). E a principal questão em debate é o segundo bissexto - mais especificamente, a abolição do segundo bissexto. http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/
noticia.php?artigo=mudancas-tempo-mundial-segundobissexto&id=010130111230
Bateria de ar-lítio
Carros elétricos com autonomia de 800 km Um dos maiores entraves à popularização dos veículos elétricos é a chamada “ansiedade da autonomia”. Os motoristas parecem morrer de medo de que a carga da bateria não consiga levá-los até seu destino ou trazê-los de volta para casa. Agora, cientistas da IBM afirmam ter resolvido um problema fundamental que poderá levar à criação de uma bateria capaz de dar a um carro elétrico uma autonomia de 800 quilômetros – o dobro da autonomia da maioria dos carros a gasolina ou etanol.
http://www.techtudo.com.br/noticias/
noticia/2012/01/estudante-de-16-anos-desenvolveaplicativo-que-condensa-paginas-da-web.html
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http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia. php?artigo=bateria-ar-litio&id=010115120110
Filmadora KODAK PLAYSPORT / Zx5 / Aqua
cyber space
Antonio Cardoso* cardoso@editoraassare.com.br
A
Absorve impacto. Provoca um efeito — em Full HD. Compartilhe seus momentos mais extremos com simplicidade. A filmadora KODAK PLAYSPORT / Zx5 oferece Full-HD de 1080p tem design resistente que é à prova de choque, à prova de poeira e à prova d’água até 3 m de profundidade. http://store.kodak.com.br/store/ekconsus/ pt_BR/pd/Filmadora_PLAYSPORT__ Zx5__Aqua/productID.223157800
Curiosidades Binoculars Building
partir desta edição, a blogosfera ganha este novo espaço para divulgação daquilo que acontece no ambiente virtual. Neste cenário, destaco as plataformas virtuais da Editora Assaré a partir de seu portal. Lá estão disponíveis edições online, notícias de última hora e o diferencial Para conferir a nova estrutura virtual, é só acessar o site que está na interação entre você leitor e www.editoraassare.com.br os profissionais que fazem os principais veículos da Assaré. Além disso, há blogs, miniblogs e redes sociais, possibilitando uma proximidade ainda maior, seguindo o pensamento do papa do webdesign, David Siegel, ao afirmar que “é preciso parar de encarar a Internet como uma rede de Acesso mais prático e rápido aos conteúdos com Código QR computadores. Ela é uma rede de pessoas”.
Conversa afiada é Top O blog “Conversa Afiada”, do jornalista Paulo Henrique Amorim, conquistou em dezembro duas premiações do Top Blog, concurso cultural que reconhece e premia os blogs mais populares do País. O blog venceu o Top Blog Brasil da categoria “Política” e uma homenagem especial, “o Top of Blogs”, o mais pontuado, por ter sido o mais votado entre todos os 153 mil blogs concorrentes. Com exclusividade a este colunista, a diretora executiva do Conversa Afiada, Geórgia Pinheiro, afirmou que a premiação foi importantíssima, visto que se avaliarmos, a página tem menos de dois anos no ar, e já chegou a marca de 10 milhões de acessos por mês, uma conquista para aqueles que estão na contra mão do PIG, o Partido da Imprensa Golpista. “É um reflexo do trabalho de uma equipe que, embora seja pequena, é muito aguerrida, assumindo o compromisso de todos os dias mostrar aquilo que o PIG não mostra. Vejo esse prêmio como motivação para todos os blogueiros progressistas do Brasil”, diz Geórgia. http://www.conversaafiada.com.br/
Brasil na rede Projetado pelo arquiteto Frank Gehry, o Edifício Binóculos (Binoculars Building), construído entre 1985-1991 para a agência de publicidade Chiat / Day (hoje TBWA \ Chiat Day \ ), é um edifício de escritórios comerciais, localizado próximo a Venice Beach em Los Angeles, Califórnia, onde a gigante da internet Google instalou em novembro de 2011 seus novos escritórios com mais de 500 empregados.
Com o objetivo de compreender o comportamento do usuário de redes sociais no Brasil, a E.Life, empresa especializada em monitoramento de mídias na internet, realiza a pesquisa “Hábitos e usos de Redes”. Ao responder as questões, você ainda pode ganhar um tablet Samsung Galaxy com tela de 7”. Em março de 2011, a E.Life divulgou resultado da pesquisa que apontou os usuários brasileiros como os que mais dedicam seu tempo nas redes sociais. Ainda de acordo com o estudo, 42,5% dos usuários passavam 41 horas por semana conectados às redes sociais, o que significa um total de 6 horas por dia. Agora é participar e aguardar o resultado do questionário disponível no link abaixo. http://pesquisa.elife.com.br/
“É preciso parar de encarar a Internet como uma rede de computadores. Ela é uma rede de pessoas” — David Siegel, papa do webdesign *Antonio Cardoso, jornalista, é Assessor de Comunicação da Editora Assaré
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SaĂşde
Ana Claudia e os filhos, Maria Clara (10 meses), Beatriz (9 anos), Iarley (8) e Arlindo (6).
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CadĂŞ www.nordestevinteum.com.br
foto: Lucílio Lessa
Estados do Nordeste têm a maior disparidade entre médicos da rede pública e privada do País. Uma realidade que dificulta a vida de famílias que necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o Ministério da Saúde, para ampliar a oferta de médicos o governo federal visa formar mais 4,5 mil médicos a cada ano e interiorizar a profissão no País. Um sonho distante, em que pese a atual situação da saúde pública no Brasil.
S
Por Karla Sousa nordeste21@editoraassare.com.br
ão 5h da manhã de uma quarta-feira quando a dona de casa Ana Claudia da Silva Barbosa, moradora da periferia de Fortaleza-CE, arruma os quatro filhos e caminha por cerca de uma hora e meia para chegar ao posto de saúde mais próximo de sua casa. O objetivo é encontrar um pediatra que possa consultar o seu bebê de dez meses de vida, que está bem gripado. Ao chegar à unidade de saúde, por volta das 6h30min da manhã, Claudia já se depara com uma longa fila à espera de uma ficha para marcar consulta. Segundo ela, cada paciente só tem direito a uma consulta de cada vez, caso tenha outros filhos doentes precisam voltar outro dia. Apesar da espera, muitas vezes a dona de casa precisou voltar sem consultar os filhos devido à ausência de médicos. A situação conforme Claudia, já é comum, mas não deixa de ser revoltante. “Às vezes, preciso brigar para conseguir uma ficha e marcar uma consulta. No posto de saúde que frequento só trabalham dois pediatras, mas quando um sai de férias não fica ninguém no lugar, então somos obrigadas a procurar outros postos bem mais distantes da nossa casa”, desabafa. Claudia e o marido, que é pedreiro, têm renda mensal de um salário mínimo e para ela até o dinheiro gasto com o deslocamento de ônibus às unidades de saúde influencia no orçamento da família. Por isso, a dona de casa acredita que se existisse uma oferta maior de médicos no SUS, a realidade seria bem diferente.
A situação vivida pela família de Ana Claudia da Silva é a mesma de milhares de pessoas em todo o Brasil e é apenas um reflexo da disparidade que existe entre os médicos que atuam no sistema público e privado do País. Para se ter uma ideia, na Região Nordeste, enquanto há 9,62 médicos trabalhando no sistema privado a cada mil habitantes, 1,42 profissionais atuam no sistema público na mesma proporção. Essa realidade classifica a região como a que tem a maior presença de médicos por usuário na rede privada em comparação com a rede pública, tomando por base todas as regiões do País.
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o doutor www.nordestevinteum.com.br
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O diagnóstico foi realizado em 2011 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). O estudo propõe a criação de um índice para medir as disparidades de abastecimento do SUS e da rede particular. Chamado de Indicador de Desigualdade Público/Privado (IDPP), o índice corresponde à razão entre o número de postos de
trabalho médico ocupado na rede privada por mil habitantes, sobre o número de postos ocupados na rede pública na mesma proporção. No Brasil, essa razão é 3,9, o que significa que a presença médica na rede privada é quase quatro vezes maior que na rede pública, considerando a população atendida por cada rede. O Censo 2011 contabilizou 371.788 médicos em outubro do ano passado, chegando
a uma razão de 1,95 médico para cada mil habitantes no País. Nessa conta, aparecem as disparidades regionais. Apenas o Sudeste fica abaixo da média, indicando uma igualdade maior de abastecimento de médicos no SUS e na rede particular (2,31). O Nordeste tem o índice mais elevado, chegando a 6,77. É seguido pelo Centro-Oeste (6,26), pelo Sul (5,9) e pelo Norte (5,26).
Bahia apresenta as maiores distorções
E
ntre os estados, a diferença sobe. A Bahia ilustra uma das distorções mais dramáticas do Nordeste. Quando se trata da população usuária do SUS, conta-se apenas 1,25 Maranhão postos ocupados por 1.000 habitantes, já na população usuária de planos de saúde, o número de médicos ocupados por 1.000 habitantes salta para 15,14, ou seja, aqueles que só têm acesso à saúde pública — que representam 89,7% da população do estado baiano — contam com 12,11 vezes menos postos de trabalho médico ocupados que seus vizinhos de planos de saúde. Mas, apesar da Bahia apresentar o maior índice de disparidade entre os dois serviços, o estado do Maranhão é o que apresenta a menor oferta no sistema público por usuários, 0,98 médicos a cada mil habitantes, ou seja, menos de um profissional disponível no SUS. O índice aumenta no sistema privado atingindo 6,75 médicos na mesma proporção. O Ceará de Ana Claudia, aquela do início da matéria, ocupa a 21ª posição no ranking nacional, ofertando apenas 1,36 médicos por mil usuários no sistema público, ficando abaixo da média do Nordeste que é de 1,42. Por outro lado, a disparidade entre o setor privado não é tão grande, pois são ofertados apenas 5,2 médicos na mesma proporção, atingindo um índice de 3,8. O Ceará só fica à frente dos estados de Alagoas (que oferece 1,3 profissionais por mil habitantes), Bahia com 1,25 e Maranhão 0,98. O estado que apresenta a situação mais favorável da Região Nordeste é o Rio Grande do Norte, ofertando 1,89 médicos por mil usuários e 9,8 profissionais no sistema privado.
SUS: 0,98 médicos
Sistema privado: 6,75 médicos
SUS: 1,36 médicos Sistema privado: 5,2 médicos Ceará
Bahia
SUS: 1,25 médicos
Sistema privado: 15,14 médicos
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* Número de médicos para cada 1.000 habitantes
Diferentes índices estipulados
C
omo índice desejável para países em desenvolvimento popularizou-se um padrão mínimo de 1 profissional médico para cada grupo de 1.000 habitantes. Essa relação “almejada”, atribuída à Organização Mundial da Saúde, nunca foi explicada nem justificada, embora continue empregada. O mesmo ocorre com o parâmetro de 2,5 médicos por 1.000 habitantes, meta divulgada pelos Ministérios da Saúde e da Educação que, supostamente, toma como referência países que em pouco se assemelham ao Brasil, principalmente da União Europeia. Segundo o neurocirurgião e presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Célio Jayme Carvalhaes, o Brasil ilustra bem o problema. Para ele, a distribuição atual dos médicos por número de usuários no sistema público é perversa e injusta com a população brasileira. Além disso, não existe política de Estado voltada para esse problema, qualificação de recursos nem condições de trabalhos para os profissionais. “Não é só uma questão salarial, os médicos evitam trabalhar no sistema público porque os
Países em desenvolvimento
1 médico
Países da UE e semelhantes ao Brasil
2,5 médicos
1.OOO Habitantes
postos de saúde não possuem estrutura”, diz. A consequência é um quadro profissional reduzido, o que prejudica o atendimento. Que o diga o clínico geral Saulo Abathi, há 16 anos no Sistema Único de Saúde. Diariamente, ele se divide entre dois expedientes no Centro de Saúde Evandro Aires, em Fortaleza, no Ceará, e à noite cumpre plantões em dois outros postos
de saúde. A média de atendimentos que deveria fazer era de 16 por turno, porém a grande demanda o obriga a atender até 25 pessoas. À noite, o número de atendimentos aumenta para 30. Na ponta do lápis, Saulo Abathi recebe diariamente em torno de 70 pacientes, o que segundo ele, é bastante sacrificante tanto para o médico quanto para as pessoas que querem ser bem atendidas na unidade de saúde.
Expectativa é positiva para 2016
A
pesar da realidade atual, o presidente da Fenam, Cid Carvalhaes, afirma que até 2016 o Brasil pode chegar próximo aos parâmetros mundiais, que é de 2,6 médicos a cada mil usuários. A expectativa é que até lá mais 16.800 médicos estejam formados, o que dará uma proporção de 2,35 médicos por mil pessoas. Entretanto, ele Cid Carvalhaes informa que o aumento da oferta de médicos no sistema público não é suficiente para suprir uma carência na rede, pois, atualmente, há um déficit de R$ 45 bilhões na saúde do Brasil. “Há uma legislação vigente que determina que o governo federal destine 8% do orçamento para saúde, estados
12% e municípios 15%, porém essa quantia ainda não é suficiente para atender à demanda, pois as necessidades do sistema são muito grandes”, afirma. Para Cid Cavalhaes, antes de tudo, é preciso elaborar metas mais concretas, diretrizes bem elaboradas para a saúde, programas de grandes dimensões, investimento na atenção básica, ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF), política de recursos humanos, Planos de Cargos Carreiras e Salários (PCCS), e planos plurianuais de acordo com a realidade de cada região. “O Brasil é um país de dimensões continentais, por isso é preciso desenvolver uma política que se adeque a cada região, e um padrão de acordo com as necessidades de cada estado. Enquanto isso não for feito a saúde do País ficará subfinanciada”, conclui.
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Salários baixos afastam os médicos do Sistema Público de Saúde
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disparidade de oferta entre os médicos do sistema público e privado de saúde no Nordeste está relacionada sobretudo à questão salarial. É o que relata o clínico geral Saulo Abathi, já citado nesta matéria. “Apesar de o sistema público ter suas vantagens quando o profissional é concursado, muitos não suportam enfrentar a falta de estrutura e a grande demanda de pacientes. Mas o principal motivo da migração de muitos médicos para o sistema privado são os baixos salários”, ressalta. No Nordeste, apenas os estados do Maranhão e Ceará estão acima da média nacional de salários que é de R$ 1.946,91, equivalente a uma jornada de 20 horas de trabalho diário. A média salarial mais baixa da região e também do País é na Bahia R$ 723,81. A baixa remuneração oferecida e a precarização dos contratos de trabalho têm assustado os médicos em geral, obrigando-os muitas
vezes a recusarem a possibilidade de atuar junto ao SUS. Parcela significativa dos profissionais prefere manter consultórios próprios ou estar na rede privada. A estimativa das entidades médicas nacionais é de que cerca de 190 mil médicos mantêm algum tipo de vínculo com o serviço público (direto ou indireto), o que representa pouco menos que 55% dos profissionais em atividade no País, ou seja, 350 mil.
Os médicos que são servidores concursados pelas secretarias de Saúde reclamam que os salários estão defasados e não correspondem à responsabilidade, dedicação e preparo exigidos. Um levantamento informal feito pelas entidades médicas mostra, por exemplo, que a média do salário-base (sem gratificações ou outros tipos de adicionais) pago ao profissional com contrato de 20 horas semanais fica em R$ 1.946,91. Os valores oscilam de R$ 723,81 a R$ R$ 4.143,67 (ver tabela
ao lado). De forma geral, os valores ficam aquém do piso para a categoria estabelecido pela Fenam que é de R$ 9.688. Na comparação direta, o salário-base mais baixo da relação obtida junto aos estados é 13 vezes menor que o mínimo
defendido pela Federação. O montante mais alto na lista corresponde a menos da metade do piso nacional (42%). Já a média nacional encontrada equivale a 20% do parâmetro proposto pelos sindicatos médicos, ou seja, é cinco vezes menor. Segundo Cid Cavalhaes, a maioria dos médicos que atua no sistema público de saúde recebe um salário médio de R$ 6, 200 para trabalhar 62 horas semanais, ou seja, uma jornada de trabalho quase 50% maior do que a de qualquer outra profissão. “Quase todos os profissionais médicos do SUS precisam de um posto de trabalho adicional. A jornada diária de trabalho injusta e a média de postos de trabalho por médicos no Brasil são de 3,2 para cada profissional”, diz.
MEC fiscaliza cursos de
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reocupado com a qualidade dos cursos de Medicina em todo o País, o Ministério da Educação deu início em novembro ao processo de supervisão dos cursos com baixo desempenho nas avaliações da pasta, suspendendo 514 vagas de 16 cursos de Medicina que tiveram nota 1 ou 2
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no Conceito Preliminar de Curso (CPC). O indicador varia em uma escala de 1 a 5 e é calculado com base no desempenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e em outros critérios como a infraestrutura e o corpo docente da instituição.
Salários-base pagos aos médicos concursados com jornada semanal de 20 horas EstadoRemuneração base por jornada de 20 h Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Dist. Federal E. Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato G. do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro Rio G. do Norte Rio G. do Sul Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Média
R$ 6.800,00 (jornada de 30h semanais) R$ 1.600,00 R$ 3.056,00 R$ 1.000,00 R$ 723,81 R$ 2.678,10 R$ 4.143,67 R$ 2.149,47 R$ 2.500,00 R$ 2.500,00, R$ 1.292,04 R$ 1.752,98 R$ 1.050,00 R$ 1.050,00 R$ 1.635,00 R$ 2.685,56 R$ 5.500,00 (plantão semanal de 24 h) R$ 1010,00 R$ 1.500,00 R$ 1.447,87 R$ 2.723,52 (jornada de 30 h semanais) R$ 3.300,00 R$ 2.190,11 R$ 1. 401,12 R$ 1.757,25 R$ 1.428,00 R$ 2.875,00 R$ 1.946,91
Fonte: *Levantamento informal a partir de dados fornecidos pelos sindicatos médicos e conselhos regionais de medicina apurados junto às secretarias estaduais de Saúde. Os valores não incluem acréscimos, como gratificações, anuênios, quinquênios, adicionais por insalubridade, etc. **O cálculo levou em consideração os valores dos salários-base de 25 estados. Não foram considerados os valores do Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul por terem carga horária diferenciada, superior a 20 horas por semana.
Medicina Os cursos que sofreram o corte determinado são de instituições privadas de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Rondônia, do Tocantins, do Mato Grosso e do Maranhão. O Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma) obteve CPC 2 no Enade, e terá que cortar 11 de suas 55 vagas.
Ministério atua com programas de incentivo
O
Ministério da Saúde ressalta que para diminuir a disparidade entre os profissionais do sistema público e privado e aumentar o interesse dos médicos para a atuação no SUS está desenvolvendo diversos programas de qualificação e melhorias dos serviços. Um deles é o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) que pretende qualificar os processos de trabalho das equipes de saúde e fortalecer os processos de monitoramento e avaliação. Os municípios e equipes de Atenção Básica, ao aderirem a esse Programa, assumem compromissos para a melhoria contínua da qualidade das suas ações, sendo posteriormente avaliados por meio de indicadores e padrões de qualidade que determinam o pagamento de um incentivo financeiro proporcional ao seu desempenho. Já aderiram ao PMAQ, 73% dos municípios brasileiros (4.069), com superação da meta nacional de 17.669 equipes participantes, definida para esse primeiro ciclo do Programa. Também serão realizadas pesquisas sobre a satisfação dos usuários e utilização dos serviços de atenção básica pela população. O Ministério da Saúde também está instituindo o Programa de Avaliação para a Qualificação do Sistema Único de Saúde, por meio do qual será avaliado o desempenho dos sistemas de saúde componentes do SUS nas esferas municipal, estadual e federal e em territórios regionais, baseado em indicadores de saúde calculados com base nos sistemas de informação em saúde. Ainda de acordo com o órgão, o governo quer formar mais 4,5 www.nordestevinteum.com.br
mil médicos a cada ano e interiorizar a profissão no País. Para atrair médicos para atuarem em Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde há carência desses profissionais e melhorar a distribuição de médicos no Brasil, o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, instituiu o Programa Saúde em Todo Lugar, que dará um desconto na Dívida do Financiamento Estudantil (Fies - 1% ao mês – no mínimo 1 ano) aos médicos que trabalharem em áreas com dificuldade de provimento de médicos, e o Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção Básica, que vai conceder até 20% de pontuação adicional na nota final das provas de residência aos egressos do curso de Medicina que optarem por atuar nos municípios de extrema pobreza e em periferias das grandes metrópoles. A bonificação já poderá ser utilizada nos exames que serão realizados em novembro de 2012. Além disso, está sendo ampliado o Telessaúde, programa que permite a troca de informações via internet entre médicos da Atenção Básica e médicos especialistas para segunda Opinião Formativa, Apoio Diagnóstico e Tutoria à distância. Segundo relatório divulgado em março de 2010 pelo Ministério da Saúde, 50% dos deslocamentos de pacientes em tratamento de nove estados brasileiros foram reduzidos com a implementação desse serviço.
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O AVARENTO Mais um “causo” de JUAREZ LEITÃO
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doutor Mateus passou pela vida com muito cuidado. Antes de dar o primeiro passo do dia sondava meticulosamente o terreno a pisar. Menino do interior veio para Fortaleza na adolescência para estudar, passando a morar numa “república” de estudantes com três outros companheiros, nos quais deixou a mais funda impressão de parcimonioso nos gastos, econômico demais para o gosto deles, exageradamente agarrado aos seus objetos. O pai era fazendeiro no interior e bem que podia prover seu rebento das necessidades básicas de um jovem, tais como dinheiro para as merendas, transporte, material de higiene e até, quem sabe, uma verba extra para uma senvergonhicezinha de vez em quando. O estudante Mateus, entretanto, dava outra destinação à mesada paterna: depositava quase tudo na Caixa Econômica. Chegou a vender o enxoval que a família lhe preparara, toalhas, lençóis e colcha de cama, arrumando-se com uma rede velha rejeitada por um colega e dormia se cobrindo com jornais em grande penúria. Nunca tinha pasta de dentes nem sabonetes e vivia a fitar essas coisas dos companheiros, com a maior cara de pau. Era xingado, humilhado, recebendo apelidos nojentos que extrapolavam o recinto da quitinete e ganhavam o prédio todo, mas ele não ligava. Quando veio o concurso para a Receita Federal todos se inscreveram num cursinho, menos ele que, quando os colegas retornavam, tomava de suas apostilas e virava a noite estudando. Foi o único que passou, alcançando por esforço próprio, e sem gastar, aquele que era considerado um dos melhores empregos do serviço público no Brasil. Poderia ter mudado de vida, casado, constituído família, mas ele não quis nada disso. Queria continuar a morar na “república” e seguir do mesmo modo, sem assumir nem o pitoco de pasta de dente do asseio matinal. Foi expulso, naturalmente, mas não se emendou. Obteve uma vaga na Casa do Estudante e por ali ficou até que
soubessem de seu rico salário e também o enxotassem. Economizava 98% do salário. Morava como um monge trapista, olhava por cima dos óculos para não estragar as lentes e se comprazia de ser chamado de mesquinho, muquirana e mão-de-vaca. Adquiriu muitos imóveis em vários bairros da Capital e, quando se aposentou, vivia de casa em casa cobrando os aluguéis de seus inquilinos, semanalmente. Isto mesmo: exigia pagamento semanal, para não correr o risco de atrasos e acumulações de mensalidades. Frequentador contumaz da Praça do Ferreira, ali fez amigos, por ser um homem gentil e inteligente, participando da roda do cafezinho nos baixos do Edifício Sul-América, onde havia sempre um disposto a pagar por todos. Ele, é claro, nunca pagou uma rodada. De repente sumiu da praça. Passou meses sem aparecer e quando o fez assustou todos os companheiros. Estava irreconhecível. Magro, descabelado, palidez acentuada, um trapo humano. Indagado sobre o que era aquilo, confessou com a maior naturalidade que estava com um câncer dos mais agressivos. Começara na próstata, mas já se irradiara por outros órgãos, num processo de metástase galopante. Diante do olhar de piedade dos outros, disse que estava lutando por sua vida, tomando o leite da janaguba (ou janaúba), uma planta miraculosa que estava salvando muita gente já desenganada, como ele. E, sem perder o costume da avareza, vociferou contra a exploração dos raizeiros do mercado São Sebastião, que estavam vendendo um litro do tal leite por dez reais, quando ele encontrara agora um fornecedor que o vendia por cinco. “É o roubo imperante neste País!!!” – gritava a plenos pulmões, como se isso fosse importante àquela altura. Um dos membros da roda, realista ao extremo, disse para o exaltado doente: “Mateus, você acha que se esse leite prestasse para alguma coisa, os
americanos não já o teriam descoberto e monopolizado? Olhe, o magnata norte-americano Nelson Rockefeller, um dos homens mais ricos do mundo, acaba de morrer de câncer”. Foi aí que uma sombra de tristeza cobriu a face daquele pobre homem rico. O sujeito lhe roubara a última esperança. Mas foi só por um momento. Porque, em seguida, já admitindo a morte próxima, falou de seus haveres. Tinha 65 imóveis e muito dinheiro na Caixa. Era, de fato, um milionário. Mas não deixaria nada para instituições de caridade, ordens religiosas ou entidades culturais. Não confiava em administradores filantrópicos, uns larápios, segundo ele. Tinha dois sobrinhos, que seriam seus herdeiros universais. Os amigos se preocuparam em saber se esses herdeiros eram equilibrados, gente que daria bom emprego à fortuna do Mateus. — “O quê? Meus sobrinhos são uns raparigueiros, bebarrões e, ambos, têm o vício do jogo. Estourarão minha fortuna em menos de dois anos, tenho absoluta consciência disso!” — “Veja, Mateus – ponderou um dos ouvintes – que grande furada. Você economizou a vida toda, se privando do conforto, de ter uma mulher e uma família, de ter viajado, conhecido o mundo, uma mansão, um belo carro, a degustação das mais finas comidas e dos melhores vinhos, para agora seus sobrinhos acabarem com tudo, na maior farra. Eles, os perdulários, é que vão desfrutar da felicidade que você nunca teve e gozar o prazer de que você se privou”. Foi aí que o avarento, sorrindo como se fosse um vitorioso, explicou sua filosofia de vida: “Engano seu e de quem pensar assim. O prazer que aqueles malandros vão ter de gastar meu dinheiro, nunca, nunca, estão entendendo? Nunca chegará a dez por cento do prazer que eu tive de juntar”.
(*) JUAREZ LEITÃO é escritor, historiador e membro da Academia Cearense de Letras.
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Sala de Reboco Por Arievaldo Viana, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel nordeste21@editoraassare.com.br
A FAMÍLIA “GONZAGA” Quando Luiz Gonzaga deu os seus primeiros passos rumo ao sucesso, no início da década de 1940, recebeu a visita de um de seus irmãos, José Januário dos Santos, na época com 20 anos de idade. Aconselhado pela mãe, o Zé deixara o Nordeste em busca do irmão quase famoso para pedir alguma ajuda, pois a família padecia com os rigores de uma seca. A relação entre Luiz e seu irmão José sempre foi tumultuada. A princípio Luiz estimulou o seu ingresso na carreira artística e até sugeriu que ele usasse o nome “Zé Gonzaga”, para que o público o identificasse de imediato como irmão do Rei do Baião. A medida que a carreira de Zé Gonzaga foi se firmando, Luiz, aconselhado por sua mulher Helena, proibiu o irmão de cantar suas músicas e até mesmo de usar o seu nome. Foi Paulo Gracindo quem fez finca-pé e disse que manteria o nome Zé Gonzaga de qualquer jeito em seu programa na Rádio Nacional.
BRIGA DE IRMÃOS – Briga de irmãos é coisa complicada. Segundo Zé Gonzaga, dona Santana saiu em sua defesa e até andou recolhendo velhas toadas para renovar o seu repertório musical. Os irmãos fizeram as pazes quando Luiz sofreu um grave acidente automobilístico e Zé Gonzaga gravou a música “Viva o Rei”, em sua homenagem.
Nesta foto raríssima
Filhos de Januário e Santana
vemos o casal Januário e Santana tocando para a filharada. Ele no fole de oito baixos, ela no zabumba. Note-se bem o casal Luiz Gonzaga e Helena entre os pares dançantes. Atrás deles aparece um bebê, pro‑ vavelmente Rosinha, filha adotiva do casal. Zé Gonzaga está de chapéu de couro e parece que está dançando com uma de suas irmãs, Chiqui‑ nha, que também utilizou o nome Gonzaga. Apenas Severino resolveu utilizar o nome de seu pai, mas foi uma jogada de marketing sugerida pelo próprio Luiz. É que Januário andou fazendo uma temporada de muito sucesso na Rádio Mayrink Veiga, ao lado de seis dos seus nove filhos. O grupo se chamava “Os sete Gonzagas” e gravou dois 78 RPM pela RCA, muito bem aceitos pelo público e pela crítica. Como Januário não quis prosseguir a carreira, o legado passou para Severino. Durante as décadas de 1960/70, muita gente achava que Severino Januário era o pai de Luiz Gonzaga.
* JOÃO JANUÁRIO (JOCA) : 17/09/1910 e 11/09/1947. Mor‑ reu em São Paulo/SP e deixou dois filhos e adotou uma filha. * LUIZ GONZAGA: 13/12/1912 e 02/08/1989. Morreu em Recife/PE e deixou dois filhos. * EFIGÊNIA BATISTA (GENI): 15/04/1915 e 23/04/2003. Mor‑ reu no Rio de Janeiro/RJ e não teve filhos, mas criou dois filhos. * SEVERINO JANUÁRIO (SEVERINO JANUÁRIO): 04/10/1918 e 02/07/1988. Morreu no Crato/CE e deixou seis filhos. * JOSÉ JANUÁRIO (ZÉ GONZAGA): 15/01/1921 e 12/04/2002. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou um filho que reside no Rio. * RAIMUNDA JANUÁRIO (DONA MUNIZ): 25/06/1923 e 22/02/2011. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou seis filhos. * FRANCISCA JANUÁRIO (CHIQUINHA GONZAGA): 11/12/1925 e 15/03/2011. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou três filhos e adotou dois filhos. * MARIA DO SOCORRO (DONA SOCORRO): 15/08/1927 e 02/12/1994. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou quatro filhos. * ALOÍSIO JANUÁRIO (ALOÍSIO): 13/05/1934. e 23/03/1985. Morreu no Rio de Janeiro/RJ e deixou três filhos.
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Guerra no Sertão
A Revolução Federalista do
GUANAIS
As Vilas de São Félix e Cachoeira, situadas no Recôncavo Baiano, foram cenário nos anos de 1832 e 1833 de um movimento federalista dos mais violentos da história do Brasil, denominado Revolta do Guanais ou Revolução Federalista, em razão de suas aspirações liberais e republicanas Por Barros Alves barrosalves@editoraassare.com.br
A
Revolta do Guanais configurou o embrião da grande revolução que passou aos Anais da História com o nome de Sabinada, insurreição autonomista ocorrida na mesma Bahia revolucionária do século XIX, por volta de 1837. Seu nome deve-se ao fato de que o líder do movimento chamava-se Bernardo Miguel Guanais Mineiro e
inscrevia-se entre os partidários dos ideais emancipacionistas republicanos que não se contentaram apenas com o processo independentista que separou o Brasil de Portugal, mas subordinou-o a uma forma de governo monárquica, administrativamente centralizadora, cujos poderes permaneciam nas mãos do jovem Imperador Dom Pedro I, filho do Rei de
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Portugal, simbolicamente alcunhado “Defensor Perpétuo do Brasil”. É certo que ao tempo em que foi deflagrada a Revolta do Guanais, o País vivia momento de transição, governado por regências, uma vez que Pedro I havia abdicado em favor de seu filho menor de idade, depois coroado como Dom Pedro II. Todavia, para os republicanos, essas nuances políticas constituíam ocorrências de somenos importância para o quadro institucional brasileiro. Foi, portanto, arrimado nesta instabilidade momentânea que acirraram-se os ânimos dos baianos liderados por Bernardo Miguel Guanais Mineiro. Para Guanais Mineiro e seus seguidores, era hora de intentar uma transformação substancial do regime de governo centralizador implantado na monarquia nascente, sob a Constituição de 1824, que considerava autoritária e antidemocrática. As mudanças em curso eram de fato superficiais e incipientes para os anseios dos revolucionários. Foram os ideários da Conjuração Baiana – insurreição autonomista cujo ideário estendeu-se por longos anos, indo desaguar nas lutas da Independência, as quais culminaram com o desfecho em 2 de julho de 1823 – que ressoaram no espírito dos que fizeram a Revolta do Guanais. Estes se levantaram contra o governo Imperial sob as Regências, no intento de estabelecer uma república no Brasil. Senão no País inteiro, pelo menos nos rincões da então província baiana.
Constitucionalismo da monarquia não contentava republicanos
C
omo se disse anteriormente, o Brasil, após a formalização da independência, continuava subordinado a parâmetros de governo que se assentavam nos moldes da monarquia portuguesa, até porque o que houve, de fato, foi uma sucessão no poder, com a adoção de medidas autonomistas em razão da adoção de um modelo constitucional pioneiro na América Latina, uma vez que naquele momento somente o Brasil estava praticando um regime políticoadministrativo fundado em uma Carta Constitucional. Os partidários de Guanais Mineiro, no entanto, reivindicavam algo mais do que uma monarquia constitucionalmente incipiente. Queriam a autonomia de uma República, com fundamentos filosóficos assentados na Revolução Francesa e no exemplo do Pacto das Colônias que estabeleceu a independência dos Estados Unidos da América do Norte, em 1776. O Recôncavo Baiano apresentava-se naquele momento histórico, um ambiente propício para a conjuração, posto que hawww.nordestevinteum.com.br
via insatisfação entre os proprietários rurais e pessoas de poder econômico e boa informação. Havia também, por influência de jovens brasileiros que estudavam na Europa, especialmente na França, a formação de sociedades secretas, que promoviam e estimulavam a população ao inconformismo com o status quo (expressão latina que designa o estado atual das coisas) da política vigente, quer em nível local quer em nível nacional. A proporção que o governo do Império usava mecanismos de repressão ou de cooptação, lideranças oposicionistas se levantavam contra o sistema imperial. Crescia o sentimento nativista que fizera surgir sérias agitações na capital da província, Salvador, em 1831. Este preconizava a deportação dos portugueses juntamente com Dom Pedro I, que abdicara do trono em abril daquele ano e embarcara para Portugal. O espírito federalista que movera os líderes dos Estados Unidos da América, aguçava o espírito dos baianos. Esse sentimento fez surgir vários movimentos nativistas durante a Regência Trina Permanente.
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Pregação insurrecional sublevou o Recôncavo
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m 1832, sob a liderança de Guanais Mineiro, as Vilas de São Félix e Cachoeira, no Recôncavo Baiano, estavam em avançado processo de mobilização e pregavam abertamente a sublevação contra o governo regencial. Havia um clima insurrecional em todos os lugares da região. Não apenas pessoas do povo atendiam ao chamamento para a revolta, mas a pregação emancipacionista republicana alcançou grande parte dos proprietários rurais e baianos abastados do Recôncavo e circunvizinhança. Guanais e uma centena de partidários levantaram-se em armas e atacaram as guarnições imperiais da região. A reação do governo regencial se fez imediata e precisa, sob o comando do Visconde de Pirajá, cujo nome de batismo era Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque. Tratava-se de um senhor de Engenho que pontificava no interior baiano, tinha o apeli-
do jocoso de coronel Santinho, e demonstrara grande capacidade bélica nas guerras em favor da Independência do Brasil. Apesar do apoio recebido por parte dos proprietários, simpatizantes da causa e de pessoas do povo dispostas a dar a vida pelos ideiais republicanos e pelo forte sentimento federalista, as forças lideradas por Guanais não puderam fazer frente à resistência do
poder constituído. O experiente Visconde de Pirajá adotou todas as medidas militares necessárias para debelar a revolta. Após três dias de lutas, os revoltosos se renderam e o líder insurreto, Guanais Mineiro, foi preso e enviado para a clausura no Forte do Mar, verdadeiro bastião de forma circular erguido em uma ilha artificial para a defesa do porto de Salvador.
Salvador aparece ao fundo, século XIX
A capacidade de convencimento e o caso do chefe revolucionário
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odavia, Guanais Mineiro revelou-se um articulador político de grande capacidade de convencimento. Mesmo preso, com as limitações próprias da condição carcerária, ele conseguiu uma proeza poucas vezes constatada na história das revoluções. Guanais convenceu os próprios oficiais que
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faziam a sua guarda da correção de seus ideais. Assim é que no dia 26 de abril de 1833, Guanais Mineiro conseguiu sublevar a fortificação onde estava confinado e, dali, bombardeou Salvador. Ergueram uma bandeira de três palas: branca, azul e branca e exigiram, sem sucesso, a negociação. Mas,
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mais uma vez os revoltosos foram debelados e este levante foi o “canto do cisne” do chefe revolucionário Guanais Mineiro que, desta feita, como castigo foi “exilado” para os confins dos sertões da Bahia, confinado em inóspito vilarejo onde, longe das inflamações da capital, encerrou seus dias, deixando grande descendência.
Visconde de Pirajá Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, primeiro barão e único visconde com grandeza de Pirajá, (Salvador, 1788 – Salvador, 29 de julho de 1848), muito conhecido no interior baiano por coronel Santinho, foi um nobre, senhor de engenho da Bahia e um dos principais heróis da guerra de Independência do Brasil. Descendente, por sua mãe, da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, na Bahia. Irmão do visconde da Torre de Garcia d’Ávila e do barão de Jaguaripe, não sendo o primogênito, não teve direito a suceder no morgado da família, mas couberam-lhe outros bens. Senhor de engenho muito politizado na Bahia, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, o coronel Santinho foi o primeiro a se rebelar militarmente contra a ditadura do português Madeira de Melo. Arregimentou índios seminus, armados de arco e flecha, e com eles fechou a estrada das Boiadas, utilizada para o abastecimento da cidade de Salvador. Foi também por influência de Santinho que seu irmão, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, futuro Visconde da Torre de Garcia d’Ávila, abrigou na
Casa da Torre, soldados que haviam se rebelado contra o governo português da capital. Militarmente, era muito mais agressivo que o general Pedro Labatut, comandante maior da luta, e foi com seu apoio e o de outros senhores de engenho do Recôncavo que as tropas coloniais foram capazes de vencer as forças de Madeira de Melo. Devido a suas imensas demonstrações de patriotismo e de entrega pessoal durante as lutas de Independência em relação ao reino de Portugal, para formar o recém proclamado Império do Brasil, o coronel Santinho recebeu o título nobiliárquico de Barão de Pirajá (5 de maio de 1826) e de Visconde de Pirajá (12 de outubro de 1826). Tornou-se amigo do Imperador Dom Pedro I. Após a vitória de 2 de julho de 1823, sempre às custas de seus negócios e tirando dinheiro do próprio bolso, o coronel Santinho ainda dedicou todas as suas forças na luta contra as guerras civis que surgiram no Nordeste brasileiro e que intencionavam estabelecer nas províncias de lá o sistema republicano, separando-as do restante do Brasil. Entre estas, esteve a Sabinada e a Confederação do Equador.
Forte do Mar
Cronologia da Revolta do Guanais • 28 de outubro de 1831, sublevação de intento republicano na localidade de Campo Grande; • 24 de fevereiro de 1832, levante na Vila de Cachoeira;
O Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo, popularmente conhecido como Forte do Mar, localiza-se em Salvador, capital do estado da Bahia. Erguido sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de 300 metros da costa, fronteiro ao centro histórico da cidade, destaca-se por se encontrar dentro das águas, como o Forte Tamandaré da Laje, no Rio de Janeiro, e ser o único de planta circular no País, inspirado no Castelo de Santo Ângelo (Itália) e na Torre do Bugio (Portugal). www.nordestevinteum.com.br
• Março de 1832, a Vila de São Félix se une à Vila de Cachoeira na insurreição; • 26 e 27 de abril de 1833, no Forte do Mar, em Salvador.
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foto: DIVULGAÇÃO
Papo‑cabeça 21
Manuela Braga é pernambucana e presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES)
Nordeste VinteUm – No 390 Congresso da Ubes, realizado em dezembro, na capital federal, foram definidos os novos rumos do movimento estudantil secundarista para os próximos dois anos. Quais as prioridades? Manuela - Tivemos nos últimos anos avanços importantes no que se refere à educação. A retomada do ensino técnico e a ampliação do acesso à universidade são sem dúvida dois grandes exemplos. Mas ainda há muito o que transformar na educação e, sem dúvida, a reforma curricular do ensino médio é um grande desafio, além de maiores investimentos e ampliação do ensino técnico. Sobre o 390 congresso, mobilizamos mais de 4 milhões de estudantes. Saímos direto para o OcupeBrasilia, um movimento que todos os dias reunia estudantes diversos, movimentos sociais e parlamentares em defesa da educação. Defendemos a aprovação de um Plano Nacional de Educação avançado, que responda ao novo momento de
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crescimento do País. Conseguimos aprovar na Comissão de Educação do Senado a destinação de 50% do Fundo Social do pré-sal para a educação. NVU - Ao assumir a função de presidenta da Ubes, você ganhou destaque no centro do debate público do País em relação às políticas para a juventude. Como avalia essas políticas? Manuela - Vivemos um novo momento em relação às políticas públicas de juventude, no qual os jovens passam a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e deveres, com acesso à universidade e escolas técnicas (ainda que com muita exclusão, é verdade), acesso a emprego e moradia. Tivemos recentemente a 20 Conferência Nacional de Juventude, um marco na construção de Políticas Públicas, e temos em tramitação no Senado o Estatuto da Juventude, que será nossa maior conquista. Estamos caminhando a passos largos e temos novas perspec-
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tivas de mudança de vida. NVU - Quais os principais desafios de sua gestão? Manuela - A aprovação de um Plano Nacional de Educação que corresponda às expectativas dos estudantes e ao novo momento econômico que vive o Brasil, com investimento direto de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação, reforma curricular do ensino médio e valorização dos profissionais em educação. NVU - Como você enxerga o fato de uma jovem de 19 anos poder assumir a presidência da Ubes e jovens com quase 18 anos não poderem ser responsabilizados criminalmente como adultos? Manuela - Temos uma parcela significativa da população que ficou excluída e que vive excluída. Não podemos encontrar a solução aprisionando-a em presídios lotados, que em grande parte das vezes servem apenas para
marginalizar cada vez mais. Atuar na prevenção da violência e dar oportunidade para os jovens através da educação tem que ser o princípio número 1 para o desenvolvimento justo do Brasil. Todos os jovens são absolutamente capazes de mudar de vida e escrever uma nova história, desde que tenham oportunidade. NVU – Como você avalia a posição dos jovens secundaristas sobre a questão ambiental? Acha que houve uma articulação desse segmento em relação, por exemplo, à aprovação do novo código florestal? Manuela - A pauta ambiental é algo que cada vez mais faz parte do cotidiano dos estudantes secundaristas. Em muitas escolas são feitos concursos de projetos e iniciativas ambientais. O novo código florestal se apresenta para grande parte dessa parcela como um marco na preservação ambiental. Pela primeira vez depois de décadas faz-se reformas profundas na legislação ambiental, com proteção à Amazônia, nossa maior riqueza natural, com incentivo e apoio a pequenos agricultores e com normatização e rigidez às punições aos que “grilam terra” e desmatam nossas florestas. NVU - Manuela, há quem afirme que a Ubes não possui legitimidade para dialogar pelos estudantes por estar ligada a articulações partidárias que apoiam o governo. O que você poderia dizer disso? Manuela - A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas tem 63 anos de uma história inabalável na luta pela educação pública, gratuita e de qualidade e esteve em todos os grandes momentos de transformação do País como “O Petróleo é Nosso” e “Fora Collor”. Recentemente ocupamos a esplanada em defesa do PNE (Plano Nacional de Educação) e hoje ocupamos as ruas de diversos estados contra aumentos abusivos de passagens. A Ubes reúne estudantes das mais diversas tribos, estudantes partidários e apartidários que se apresentam com ideologia de direita, esquerda, de centro, democratas, anárquicos,
enfim, das mais diversas opiniões. Essa é uma das mais importantes características da Ubes: garantir que todos os estudantes tenham espaço. Dessa forma a autonomia da Ubes é cada vez mais fortalecida. NVU - De zero a 10, qual a nota que você dá ao ensino público no País? Quais os caminhos a serem seguidos? Manuela - Há algumas décadas o Brasil adota como maneira de avaliação a adesão de notas com exames que avaliam os estudantes de forma ineficiente, portanto, não adotarei o mesmo método aqui atribuindo nota para a educação. Ainda temos um caminho longo a percorrer, e no decorrer dele novos desafios vão surgir. Uma mudança radical da educação passa substancialmente pela reforma do currículo escolar, a fim de nos preparar para o novo Brasil que vem sendo construído, com valorização dos profissionais em educação e o acesso universalizado. E isso só será possível com uma mudança estrutural na educação. NVU - A partir de episódios como o recente vazamento de questões do Enem em uma escola do Ceará, percebe-se, principalmente pela agressividade com o tema foi tratado nas redes sociais, que ainda há separatismo em relação aos jovens do Sul e Sudeste para com a Região Nordeste. Você, como nordestina, percebe isso? Manuela - É verdade que durante muito tempo nós, nordestinos, fomos tratados apenas como o povo da seca, que não tem acesso ao desenvolvimento. Mas o cenário que se forma no Brasil de hoje é outro. No último ano, o PIB que mais cresceu no País foi o de Pernambuco, um dos principais estados do Nordeste. Deixamos de ser a região que migra para o Sudeste e Sul para desenvolvermos a nossa região. Nosso povo, apesar das diversidades culturais e regionais, antes de tudo se identifica como brasileiro e, por isso, é identificado e admirado por ser um povo uno.
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ProJovem adolescente As inscrições para o ProJovem Urbano 2012 já podem ser feitas. Os interessados – jovens que saibam ler e escrever e não tenham terminado o ensino fundamental (8ª série) – podem acessar o site do programa. O curso tem duração de 18 meses e oferece um auxílio de cerca de R$100 por mês para quem participar. Para fazer a sua inscrição no ProJovem Urbano 2012 acesse: www.projovemurbano.gov.br ou então ligue gratuitamente para o telefone 0800722 7777.
Mudança no FIES 2012 A partir de agora, os estudantes que se inscreverem no SISFIES 2012 não terão mais que efetuar o pagamento antecipado de taxa de matrícula, ou seja, o FIES 2012 dispensará o pagamento prévio de taxa de matrícula na instituição superior de ensino em que o estudante pretende utilizar o financiamento. As faculdades e universidades participantes do FIES 2012 estão proibidas de efetuar a cobrança. Se o interessado não formalizar a assinatura do contrato de financiamento estudantil, deverá efetuar o pagamento de todas as mensalidades e taxas devidas sem, contuto, pagar juros e multas.
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Poder Local & Cidadania
Desenvolvimento a partir
foto: DIVULGAÇÃO
da formação
Desenvolver o caráter e preparar o indivíduo para a vida e o mercado de trabalho. Essas são as metas do Instituto Formação, Organização Não Governamental (ONG), sem fins lucrativos, com sede no Maranhão. Desde 2003, oportunizando a inclusão de jovens através da informação e do esporte. Por André Teixeira nordeste21@editoraassare.com.br
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pesar de objetivos nada modestos, o Instituto Formação se declara exitoso ao longo de oito anos de trabalho no Maranhão e ramificações espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. A diferença da entidade em relação a maioria de outras instituições que trabalham o desenvolvimento pessoal e coletivo, é que ele atua em áreas específicas do indivíduo, na busca por uma formação completa, preparando a pessoa nos aspectos educativo, profissional e social. O Formação foi fundado em 2003 por um grupo de educadores, militantes na área da educação básica e da educação popular, com experiências em análise e elaboração de propostas de políticas públicas, desenvolvimento de projetos educativos, produção de material didático, qualificação profissional de jovens e formação de professores. Com um campo vasto de atuação, a linha que guia o trabalho da equipe é a construção de bases políticas e educacionais, como explica o secretário executivo e coordenador de comunicação do instituto, Fábio Cabral: “Nós buscamos a construção dessas bases efetivando políticas públicas, especialmente nas comunidades mais pobres, sempre transversalizando com a educação, cultura, esporte e comunicação”, diz. O Formação é sediado na capital maranhense, São Luiz, e seus
membros já semearam o trabalho em 115 municípios do estado. O foco fica no território Campos do Lagos, na Baixada Maranhense, região de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão, portanto, a área não foi escolhida à toa. “É lá onde se percebem os maiores resultados do instituto, especialmente na zona rural”, diz Fábio Cabral. Para Fábio, o Formação fortalece a autoestima nas comunidades. “Sem essa confiança em si mesmo, fica difícil o processo de engrandecimento pessoal. Nós trabalhamos com pessoas com baixa autoestima. E é essa a primeira mudança que temos que superar”. Ele se refere às pessoas da zona rural da baixada maranhense,
onde 70% da população recebem menos de um salário mínimo. Para se ter uma ideia, com a ajuda do Formação a população local aumentou em 11% o número de graduandos e 6% o número de graduados, por exemplo. “Parte dos universitários aplica o conhecimento adquirido na universidade de São Luiz na própria comunidade, ou seja, eles voltam à sua comunidade para multiplicar o que aprenderam. Outros disseminam os valores em outras cidades ou estados. Nisso tudo, fica a lição de superação”, diz Fábio. Ele afirma que, com isso, as pessoas mudaram o significado de “estar na roça”, ditado popular pejorativo que se refere a alguém que está em má situação.
O Formação foi fundado em 2003 por um grupo de educadores, militantes na área da educação básica e da educação popular, com experiências em análise e elaboração de propostas de políticas públicas
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Desdobramentos do projeto
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acesso à comunicação e informação na internet é um dos direitos em pauta no Formação, e já alcançou resultados primorosos. Atualmente, 20% da população dos 115 municípios maranhenses onde atua o Formação têm acesso à internet; em 2003, esse índice nas mesmas cidades não passava de 1%. A expansão do acesso foi possível graças a 13 telecentros instalados em cidades com o menor IDH do Maranhão. Os telecentros são espécies de mini lan houses gratuitas. Os 13 prédios foram cedidos pelos municípios, já o serviço de acesso à internet foi desenvolvido em parceria com a telefonia Oi. A fundação Kellogg cedeu os equipamentos. Tudo adquirido por meio de negociações conduzidas pelo Formação.
“Hoje esses jovens já produzem conteúdo de grande qualidade, lido em todo o mundo por meio da internet” fábio cabral Secretário executivo e coordenador de comunicação do Formação
“Os telecentros permitiram uma democratização mais radical. Lá você tem um laboratório on-line” , explica o secretário executivo Fábio Cabral. Com o maior acesso à internet entre a população, os alunos da região se capacitaram para produzir conteúdo de comunicação e lecionar aulas para uso do computador e navegação na internet. “Hoje esses jovens já produzem conteúdo de grande qualidade, lido em todo o mundo por meio da internet” , diz Fábio Cabral.
Retribuindo a formação
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dinâmica de retorno dos ex-alunos para repassar conhecimentos, faz com que muitos membros da entidade sejam “cria” do Formação. Como forma de retribuição, eles dão aula e disseminam educação e formação política. O jovem Alexssandro Santos, de 26 anos, fez cursos de arte e cultura, esporte, lazer e educação comunicativa. Em 2007, foi monitor do Formação e desde 2010 é membro do instituto na área de comunicação. Ele diz que o Formação clareou sua escolha profissional, e hoje estuda relações públicas na Universidade Federal do Maranhão, cursando o sexto semestre.
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“Os cursos me ajudaram a ter uma formação política, uma visão crítica da sociedade. Quando se adquire conhecimento, a primeira coisa que se tem vontade de fazer é repassá-lo”, diz o jovem. Alexssandro foi “descoberto” pelo Formação quando a entidade mapeava jovens da baixada maranhense para desenvolvimento de um projeto voltado para o público de sua faixa etária, logo no ano de fundação do projeto. Ele queria desenvolver uma revista eletrônica sobre cultura, arte e comunicação. Desejo realizado. Alexssandro é um dos editores da revista COR (Coragem, Organizacão e Realização), com conteúdo ligado à formação powww.nordestevinteum.com.br
lítica para a juventude. O jovem ajuda ainda a encontrar outros possíveis beneficiários. Para isso, também conta com ajuda dos telecentros. Por meio de redes sociais na internet, acessadas nas lan houses gratuitas, e consegue angariar seguidores não somente virtuais, mas parceiros nos estudos escolares, de arte, cultura e conjuntura política. Nesse aspecto, a rede de atuação do Formação, diz Alexssandro, funciona com sinergia. “Com os telecentros, nós ajudamos não só a democratizar a comunicação, mas também a conseguir com que mais pessoas se eduquem nesse sentido. É um trabalho que fortalece o outro”.
Futebol como ferramenta de educação
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egando o embalo da onipresença do futebol de rua no Maranhão, o Formação transformou a modalidade em uma forma de educação e formação de jovens. O grupo enviou delegação com atletas do Nordeste brasileiro para um campeonato mundial de futebol de rua no Chile e outro na África do Sul. Este ocorreu de forma paralela à Copa do Mundo da Fifa em 2010. Sob comando de Diane Sousa, também egressa das salas de aula do Formação, agora eles se preparam para a Copa do Mundo de Futebol de Rua de 2014, no Brasil. O objetivo da modalidade vai além do gol. No início de cada partida, as duas equipes determinam em consenso as regras do jogo. Não há categoria com divisão de equipes por idade nem por sexo. No futebol de rua, vale, por exemplo, garota adolescente jogar em mesmo time que um papai de 40, como a própria Diane já fez. “Esse é um futebol integrador, sem discriminação do magrinho e do gordinho. É um movimento de inclusão no esporte”, diz Fábio Cabral. “Os próprios jogadores fazem as regras e mediadores acabam apitando a partida, uma postura que exige ética. Dessa forma, trabalha-se a formação das pessoas com diversão”. Diane já viajou e compartilhou experiências em três países estrangeiros com os torneios de futebol de rua e, agora, prepara a sua equipe, com jogadores de vários estados brasileiros, para a Copa do Mundo de Futebol de Rua de 2014. Fazer parte dessa seleção é o sonho de Eduardo Alves. “Que bom não existir a questão da idade, pois em 2014 eu só vou ter 16 anos. No futebol
Principais projetos do Formação Entre os principais trabalhos promovidos pelo Formação está o Projeto Jovem cidadão, desenvolvido em parceria com o Instituto Kellogg. O projeto está previsto para ocorrer durante todo o ano de 2012 e tem como objetivo impactar o desenvolvimento econômico e educacional das 115 cidades do Maranhão onde o instituto atua. Durante este ano, o trabalho em parceria promete aprimorar a capacitação do jovem no mercado de trabalho e envolvê-lo também em cursos educativos.
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Com o mapa da juventude do Maranhão, o Formação conseguiu com a Fundação das Nações Unidas para a Infância e Adolescência (Unicef) a elaboração e recursos financeiros para um segundo projeto que envolve atividades de educação com a juventude, que deve funcionar de forma complementar ao Projeto Jovem Cidadão em 2012. Para execução dos projetos, foram criados os Centros de Ensino Médio e Educação Profissional (Cemps). Os Cemps funcionam como uma segunda escola para os jovens, que terão oportunidade de acesso a cursos profissionalizantes.
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de rua, você precisa apenas saber jogar bola e respeitar o adversário, e nisso eu sou bom”, diz o estudante, hoje com 13 anos. Eduardo e outros jovens viajaram em 2010 ao Chile, onde participaram de um torneio com equipes de vários países. Ele diz que essa foi www.nordestevinteum.com.br
a maior experiência de sua vida. “Lá eles levam a sério a ideia de que o aprendizado é mais importante que a vitória na partida. Na verdade, a vitória mesmo é a amizade que se faz com todo o pessoal, mesmo os que falam outra língua. A gentileza é uma linguagem universal”. Janeiro/2012
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Educação a a r t con
Homofobia
Homofobia. Segundo o dicionário, significa repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou aos homossexuais. O tema não é coisa apenas de adulto, e ganha cada vez mais destaque, tornando-se pauta nas rodas de conversas e nas redes sociais. O governo federal já possui um olhar voltado para o trato da homofobia no ambiente escolar, mas ainda patina nas iniciativas.
Por Georgea Veras nordeste21@editoraassare.com.br
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partir de dados obtidos em 2011, o Ministério da Educação (MEC) afirma que foram atendidos no ano anterior (2010) seis mil estudantes em todo o País no projeto Escola que Protege, voltado para a promoção e a defesa dos direitos de crianças e adolescentes, além do enfrentamento e prevenção das violências no contexto escolar. Foram alunos que passaram por alguma situação de violência na escola, em que está incluída também a homofobia. Yago Alberto Santos da Silva, 19 anos, sabe bem o que é se sentir constrangido no ambiente escolar. Ele disse que sofreu bastante na escola devido a sua identidade sexual. “Viadinho, bicha e baitola” eram xingamentos constantes. Sentia-se ofendido e magoado. “Não tinha nem vontade de ir à escola na maioria das vezes”, desabafa. Yago lembra que as ofensas partiam dos meninos e a resposta dada aos insultos era um pedido de respeito. “Eu pedia que eles me respeitassem porque eu não os desrespeitava”, conta. Atualmente,
o Escola que Protege é a principal arma do governo federal para prevenção e combate ao ciclo da violência contra crianças e adolescentes no Brasil no âmbito escolar. Pretende-se capacitar os profissionais para uma atuação qualificada em situações de violência identificadas ou vivenciadas na escola. Em sua dinâmica de atuação, o projeto incentiva a discussão e o debate junto aos sistemas de ensino para que definam um fluxo de notificação e encaminhamento das situações de violência identificadas ou vivenciadas na escola, junto à Rede de Proteção Social. Há ainda a defesa da integração e articulação dos sistemas de ensino, dos profissionais da educação e, em especial, dos Conselhos Escolares à Rede de Proteção Integral dos Di-
Eu pedia que eles me respeitassem porque eu não os desrespeitava
reitos de Crianças e Adolescentes. O projeto é baseado e inspirado em várias legislações e em outros programas, como o Programa Brasil Sem Homofobia, criado em 2004, no primeiro governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil Sem Homofobia nasceu com o objetivo de promover a cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbica, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais. Para atingir tal objetivo, o Programa foi constituído de diferentes ações, dentre elas, a que previa a promoção de valores de respeito à paz e a não-discriminação por orientação sexual a partir da educação. São metas: elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação de ações que comprovem o respeito ao cidadão e a não-discriminação por orientação sexual; fomentar e apoiar curso de formação aos professores na área da sexualidade; formar equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos, de modo a eliminar aspectos discriminatórios por orientação sexual e a superação da homofobia; estimular a produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e superação da homofobia, dentre outros.
Yago Alberto Santos da Silva www.nordestevinteum.com.br
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Uma nova chance para o kit anti-homofobia
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m 2010 e 2011 o MEC bem que tentou, a partir do kit anti-homofobia, distribuir às escolas públicas do País um material didático, contendo cartilha, cartazes, folders e cinco vídeos educativos, com o objetivo de combater a homofobia no ambiente escolar, mas a iniciativa gerou bastante discussão e polêmicas alimentadas, principalmente, por parte da bancada evangélica no Congresso Nacional. Em maio de 2011, a presidenta Dilma Rousseff suspendeu a distribuição dos kits. Na época, ela chegou a afirmar que não aceitava propaganda de opções sexuais. A decisão da presidenta veio após a bancada evangélica ameaçar endossar o pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, que, naquele período, estava sendo questionado sobre o suposto aumento em 20 vezes do seu patrimônio entre 2006 e 2010, quando era deputado federal. A discussão sobre o então kit, apelidado de “Kit Gay”, ganhou espaço nas redes sociais e blogosfera. Os contrários ao projeto diziam que o material iria ser distribuído não apenas aos jovens, mas também às crianças e seria um estímulo
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à homossexualidade. O MEC, na época, esclareceu que o kit estava sendo pensado para o Ensino Médio e que seria vinculado à formação dos professores. Mas o argumento não foi suficiente para garantir a distribuição dos kits. Ao suspender o projeto, Dilma chegou a afirmar ter assistido a um dos vídeos e disse não ter gostado do conteúdo. Agora o MEC informa que o kit anti-homofobia terá uma nova chance. Ele irá passar pelo Comitê de Publicação do Ministério que irá analisar a qualidade e objetivo do material produzido. Se receber o ok do Comitê, segue então para a sanção da presidenta, que poderá dar uma chance ao projeto ou então descartar de vez o material. Yago, aquele do início da matéria, acredita que uma educação voltada para o combate à homofobia iria ajudar a criar uma consciência de respeito ao próximo, e, muito provavelmente, poderia evitar que outras pessoas passassem pela mesma situação que ele passou na escola. O jovem não terminou os estudos, resolveu largar a escola ainda no 6º ano, preferindo apenas trabalhar. “As ‘piadinhas” não pararam, elas continuam sendo feitas na rua. Nem ligo mais. Nem olho”, pontua. www.nordestevinteum.com.br
O MEC esclareceu que o kit estava sendo pensado para o Ensino Médio e que seria vinculado à formação dos professores. Mas o argumento não foi suficiente para garantir a distribuição dos kits. Ao suspender o projeto, Dilma chegou a afirmar ter assistido a um dos vídeos e disse não ter gostado do conteúdo
Escola tem a obrigação de socializar
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ara o educador e facilitador de aprendizagem e de mudanças, Luiz Rogério Nogueira, a posição do Governo foi de prudência ao suspender o kit devido à repercussão negativa que o material teve. Em sua opinião, uma situação como essa, de combate a homofobia, não é de competência governamental, e sim familiar. “Os pais buscam criar seus filhos sem os valores básicos de convivência, entre os quais o respeito às diferenças. Não adianta a escola ensinar uma coisa e a família ensinar outra, e na maioria das vezes, quando a escola resolve debater o tema, alguns pais buscam a direção para cobrar esclarecimentos, alegando que a escola não pode, nem deve, falar sobre isso aos filhos”, atenta. O educador esclarece que a escola tem duas funções básicas: social e intelectual. Contudo lamenta que algumas instituições de ensino estejam mais preocupadas com a função intelectual, deixando de lado a função de socializar, ensinar a conviver, a ser e a respeitar. Questionado se as instituições de ensino devem capacitar seus professores para lidar com a homofobia, Luiz Rogério entende que não apenas os professores precisam se capacitar sobre o tema, mas os pais também. O ideal, ressalta, seria uma parceria entre a escola e a família, pois acredita que ajudaria e muito a vencer uma série de problemas que temos hoje. “Como nossos filhos vão aprender sobre o tema? Com certeza da pior forma possível. Urge uma conversa franca entre pais e filhos, professores e alunos, religiosos e fiéis sobre sexualidade”, destaca. Luiz Rogério avalia que o preconceito nasce da ignorância, da falta de informação, da hipocrisia e da exclusão. Como uma forma de preconceito, a homofobia também serve de incentivo ao bullying, pois conforme o educador, esse tipo de prática está enraizado exatamente na não aceitação das diferenças, banalizado como normal, causando cada vez mais vítimas, e pouco se tem feito para erradicar o que considera ser uma epidemia social. Questionado se o fato de uma criança ou de um adolescente “tirar brincadeira” com um homossexual o torna homofóbico, Luiz Rogério alerta que tudo pode começar como uma “brincadeira”, mas se a criança não for educada para a aceitação da diferença a tendência com o tempo é piorar. Permitindo isso, avisa, estamos “tolerando” e tolerar é obrigar a aceitar. “Precisamos é aprender a aceitar as pessoas como elas são”, conclui. www.nordestevinteum.com.br
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Transporte escolar. Municípios atendidos pelo programa Territórios da Cidadania receberão recursos para a compra de veículos escolares do programa Caminho da Escola. Serão beneficiados 548 municípios, que poderão renovar a frota e garantir o acesso e a permanência dos alunos nas escolas da rede pública de educação básica. Foram selecionados municípios com menos de 50 mil habitantes que não receberam recursos do Caminho da Escola em anos anteriores. Para receber os recursos, os prefeitos das cidades selecionadas precisam validar o termo de compromisso no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec). Ciência sem Fronteiras. Brasil e França assinam memorando de entendimento que possibilitará a concessão de 10 mil bolsas de estudos a brasileiros em instituições francesas no período 2012-2015. O acordo será celebrado no Palácio do Planalto entre os ministérios brasileiros da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Ministério francês das Relações Exteriores e Européias, no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras, busca desenvolver a ciência e a tecnologia no Brasil por meio do intercâmbio de estudantes de graduação e de pós-graduação e da mobilidade internacional de estudantes e pesquisadores. Educação inclusiva. Escolas públicas de educação básica, secretarias de educação e estudantes têm agora mais tempo para fazer a inscrição no prêmio Experiências Educacionais Inclusivas: a Escola Aprendendo com as Diferenças. O prazo foi estendido até 16 de março de 2012. Nesta nova edição, serão premiados três trabalhos de escolas, três de secretarias de educação, três de estudantes dos anos finais do ensino fundamental e três de alunos de qualquer série do ensino médio. Um projeto desenvolvido em escola da educação infantil receberá menção honrosa.
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“Luiz Gonzaga” — Por Arievaldo Viana
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