Foto: Fernanda Turci Phaethornispretrei - Beija-flor-de-rabo-branco
Joana Aranha
São Paulo 2018
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A68p Aranha, Joana Príncipe das flores / Joana Aranha. - 1. ed., reimpr. - São Paulo : Barauninha, 2018. 104 p. ; 21 cm. Apresentação, introdução ISBN 978-85-437-0836-2 1. Poesia infantojuvenil brasileira. I.Título. 18-47458 CDD: 028.5 CDU: 087.5 29/01/2018
30/01/2018
Impresso no Brasil Printed in Brazil
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Apresentação Escrever um livro que consiga unir fatos narrados como uma história de bichos e ao mesmo tempo falar cientificamente de animais silvestres e domésticos não é uma tarefa fácil – é uma missão para poucos apaixonados pela natureza. Criar todo um clima envolvendo a vida de uma das mais representativas aves das Américas, dando a ela um papel de destaque na ficção e, ao mesmo tempo, mostrando a sua importância na vida das plantas e dos elos que unem os seres vivos, é difícil. Todas essas interligações, entre ficção e ciência, vamos percebendo à medida que caminhamos entre os parágrafos do livro “Príncipe das Flores”. Foi criada uma história que leva o leitor a entender a história natural do beija-flor, o protagonista que luta para sobreviver e cria um impacto emocional entre manter a sua presença ou liberá-lo para sua natural independência. Sem dúvidas é um livro tríplice: uma história de ficção para ser apreciada, uma história científica para ser ensinada e interligá-lo à natureza, é um livro de poesia que nos mostra a versatilidade da autora. Frederico Lencioni Neto Biólogo e Professor
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Introdução A escuridão profunda da depressão invadiu meus dias e por isso isolei-me na solidão de uma propriedade, às margens de um lago. Ali, me sentia protegida por uma pequena floresta. Precisava de um motivo para continuar no mundo dos vivos, por isso converti-me ao budismo de Nitiren Daishonim e passei a viver recolhida entre orações, pensamentos e reflexões. Plantei uma pequena horta orgânica, de onde tirava meu sustento, e um jardim com flores para as borboletas e os beija-flores ficarem próximos a mim. Escolhi viver somente com o ar puro, as plantas, os animais e lhes garanto que nunca estive em melhor companhia. Meu quintal era frequentado livremente pelas mais variadas espécies de animais, todas muito bem-vindas e respeitadas. Tornei-me vegetariana, alimentando-me quase somente daquilo que era produzido pela terra, salvo algumas proteínas à base de leite e seus derivados. Na minha mesa, nem mesmo os peixes faziam parte do cardápio. Muitos dizem que os animais têm o direito de viver sem serem ameaçados, mas se alimentam de sua carne. Os animais só tiram da natureza o que lhes é essencial à sobrevivência e não precisam acumular riquezas como os homens, mas estes não 7
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conseguem sobreviver livres na natureza e ainda se dizem evoluídos. Por isso passei a admirar cada vez mais os bichos. As plantas também devem ser preservadas e protegidas, uma vez que todos nós, “evoluídos” ou não, somos absolutamente dependentes delas, mas os humanos em sua maioria são invasores e destrutivos. Não que esteja eu a renegar a própria espécie, pois nasci humana, e isso não pode mudar, porém cansada estou de ser incompreendida por muitos. Mantenho meus bons amigos, conheço pessoas quase tão nobres quanto os bichos, mas prefiro viver longe delas para me sentir melhor. Aqui onde estou vivendo não sou ameaçada por leis humanas arbitrárias, que maltratam, insultam e ferem a dignidade do próprio semelhante. Mudei radicalmente meu modo de vida, preferindo isolar-me da sociedade humana exatamente por fazer parte dela e conhecê-la bem. Não há lugar para mim, onde uma classe privilegiada explora a outra que trabalha e ainda as impede de progredir, por obrigá-las a manter os vícios daqueles que detêm o poder. Fui acometida do mal resultante desse sistema, uma depressão galopante que quanto mais o tempo passava mais escuro tornava-se tudo ao meu redor. Até que me deram uma aposentadoria precoce e graças a ela pude adquirir esta pequena propriedade rodeada de verde, onde posso finalmente fazer o que mais gosto: refletir e escrever minhas memórias. Acompanha-me meu fiel cachorro Valente e os beija-flores passaram a 8
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ser as visitas mais frequentes, por isso resolvi escrever sobre eles. Na rota do beija-flor, Sรณ perfume e cor. (Jorge Ricardo Dias)
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Capítulo I Onde está o beija-flor? (Trecho extraído do livro: Passarino, um passarinho que não devia nada a ninguém)
Há muito tempo, Passarino, o passarinho que não devia nada a ninguém, tinha um grande amigo de infância. Ele era agitado, meio maluquinho, batia as asas setenta vezes por minuto e voava em todas as direções: horizontal, vertical, para a esquerda e a direita, em espiral, transformava suas asinhas em hélices, subia, descia e pairava várias vezes. Seu nome? Beija-flor. Eles gostavam de disputar voos a caminho da escola, e o beija-flor sempre ganhava. Sabe como eles se divertiam? Dando rasantes na cabeça de gatos. E o beija-flor fazia isso tão bem que às vezes Passarino se acomodava num galho de árvore só para assistir às suas peripécias. Um dia mudou para lá uma vizinha que tinha quinze gatos no quintal. Passarino e Beijaflor ficavam horas se divertindo com os bichanos. O Passarino se acomodava em cima do muro e ficava vendo o Beija-flor subindo e descendo acima da cabeça dos gatos. E, quando chegava bem pertinho deles, o gato esticava a patinha para pegar o Beija-flor e ele 11
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vupt! Subia e o Passarino ria muito. Um dia, porém, quando o Beija-flor subiu, teve câimbra na asinha e despencou no meio da gataiada. Snif, snif! “Só sobrou uma peninha do amigo Beija-flor”. Foi aí que Passarino compôs a canção “Uma peninha em meu paletó”, em homenagem ao amigo que desapareceu em um mar de gatos famintos. O que aconteceu com o Beija-flor? Será que morreu? Para entender melhor, sugiro que continue lendo...
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Capítulo II O príncipe das flores Há quem acredite em príncipes e contos de fadas em pleno século vinte e um, e para mim eles existem mesmo, mas não da forma como pensa a maioria dos sonhadores. Meu príncipe não vem montado em cavalo branco, preto ou de qualquer outra cor, mas é ágil e gentil como um cavalheiro. Seu castelo é a natureza, que antes era uma imensidão só e agora está cada vez mais reduzida. Esses príncipes de quem falo já foram abundantes no Brasil, mas no momento há uma escassez deles. Aliás, estão deixando de existir devido à falta de zelo dos nossos governantes. Meu príncipe é apaixonante. Esconde-se no inverno e reaparece para encantar a primavera junto com o desabrochar das flores. Usa trajes coloridos, fascinantes, e são indiscutivelmente belos. Quem quiser tê-los por perto não precisa fazer muito. Basta-lhes um céu amplo com ar puro para que voem, uma fonte de água limpa para que se banhem e um jardim florido para lhes servir de alimento. Isto lhes basta para viver. Não são diferentes dos demais 13
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príncipes glamorosos, refinados, desejados e cortejados, porém... são emplumados. Estou falando, claro, dos beija-flores, que têm esse nome por serem absolutamente dependentes delas. Essas avezinhas são por natureza tão frágeis que não duram muito mais que as flores das plantas de cujo néctar se alimentam. Quando as flores caem para dar vez às sementes, eles desaparecem como por encanto e só reaparecem na próxima florada, meses depois. Segundo Eurico Santos, uma das maiores autoridades brasileiras em beija-flores, durante o inverno essas aves são encontradas doentes e enfraquecidas, algumas semimortas, provavelmente por inanição. Outras dormem e só despertam para morrer em tempo maior ou menor, dependendo do seu estado de depauperamento. Alguns exemplares são encontrados enfraquecidos ou mortos, às vezes secos, embaixo de alpendres no campo ou em lugares abrigados, nos ranchos onde se encontram impossibilitados de voar. Geralmente, quando se acham em estado letargo, é porque a morte está iminente. Alguns observadores escrevem: “Há invernos em que se verifica grande mortandade de beija-flores. É de se supor que tal fato coincide com as condições climáticas desfavoráveis, talvez geadas precoces e persistentes que matam ou desalojam as aranhazitas das flores, sua principal fonte de proteínas. Quando chega o inverno eles se abrigam nos jardins das cidades, mas nas matas e capoeiras onde tenha uma árvore florida 14
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que tenha o seu néctar e os insetos preferidos podemse ver centenas deles voando ao mesmo tempo em seus arredores o ano todo”. Entre as plantas mais visitadas por eles estão as bromélias. Quase todas florescem o ano inteiro, e onde houver uma zona rica destas epífitas torna-se o principal motivo para fixação de residências dos beija-flores. Conclui-se com isso que eles não hibernam, apenas mudam a área de alimentação. Neste livro, relato um pouco do que aprendi sobre os beija-flores, especialmente um, que consegui conquistar, mesmo sendo difícil domesticá-los e quase impossível um relacionamento com eles, pois não se deixam adestrar e preferem morrer a serem cativos. Porém, este em especial teve que se render aos meus cuidados. Vou chamá-lo de “Flor”, meu pequenino amigo, por ter se tornado isso para mim. Como era bom acordar e tê-lo por perto; um prêmio para os olhos. E assim foi durante alguns dos melhores dias da minha vida. Minha trovinha singela Estribilho agitado Refrão à minha janela Neste universo encantado (Joana Aranha)
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Capítulo III Um amor de beija-flor
Ilustração: Gabriel Barbosa
Um dia, durante uma caminhada com meu cachorro Valente pelas cercanias do lugar, encontrei o Flor muito ferido, vítima de ataque dos inúmeros gatos que circulavam pela região. O gato, confesso, é o único animal que me causa arrepios e, além disso, é predador de passarinhos. Sou, sim, muito amiga dos pássaros e não aceito o fato de eles fazerem parte da sua cadeia alimentar. Voltando ao caso do beija-flor que encontrei, parecia estar com uma asinha quebrada e por isso piava de forma tão triste que mais parecia um lamento. Deveria ser um gemido de dor. Não sei como ele foi parar no meio daqueles gatos, talvez tenha sido vítima de estilingada de alguns dos garotos que rondavam por ali 17
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perseguindo passarinhos. Que era estranho, era, não se podia negar. Enfim acidentes acontecem e nem todos podem ser explicados. Recolhi-o em meu boné e espantei os gatos que estavam ameaçadoramente próximos, abri minha garrafa de água mineral e joguei o conteúdo neles. O Valente latiu e ajudou a dispersá-los. A sorte foi importante para o Flor naquele momento. Era um dia bastante frio, o que me causava espanto, pois os beija-flores aparecem mais nos dias quentes. Levei-o para casa, dei-lhe água e fiz um sumo de folhas de mastruz. Não que fosse tão conhecedora das propriedades medicinais dessa planta, mas por instinto mesmo. Sei que o mastruz tem várias propriedades, inclusive cicatrizante. Poderia estar envenenando o pássaro ou salvando sua vida, mas o importante naquele momento era fazer alguma coisa por ele. Coloquei um pouquinho do sumo em uma seringa, acrescentei mel com umas gotinhas de analgésico e gotejei a poção em seu bico, forçando-o a engolir. Como o dia estava frio, deixei-o próximo ao fogão a lenha, em lugar seguro, onde pudesse manter-se aquecido. Antes, ele piava e tremia como se estivesse tendo uma convulsão. Tive medo de que morresse, pois às vezes parecia que delirava. Talvez tivesse febre ou estivesse apenas estressado com a situação. Depois de medicado, ficou tão quieto e até pensei que estivesse morto, mas, conforme eu mexia nele, emitia aquele piado triste, então percebi que estava apenas dormindo. Passou por momentos tão críticos que parecia querer se entregar à própria sorte, mas eu conversava com 18
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ele e até arriscava um trissar desajeitado na tentativa de estabelecer contato. Por duas vezes emitiu sons parecidos com espirros e pensei que tivesse pegado uma gripe; eu não tinha a menor ideia de como tratar gripe de passarinhos. Passei a tarde inteira entretida com ele e valeu a pena, pois, acredite se quiser, parece que de alguma maneira sentia confiança em mim. Quando o Valente latia, ele se assustava e eu ralhava com o cachorro, que se escondia e choramingava, pois não era usual aquele procedimento entre nós. Sempre o tratei com carinho e respeitava seus latidos, mas aquela era uma situação diferente e ele precisava entender que tínhamos visita em casa: um beija-flor moribundo que precisava de silêncio para dormir. O dia já estava acabando e havia sido intenso. Eu precisava me alimentar e descansar. Apesar de não fazer uso de relógios, me dei conta do avançado da hora; percebi que começava a escurecer. Naquele momento soprava um vento gelado, alertando que era tempo de me recolher. Fechei portas e janelas da casa, reforcei a lenha no fogão para que queimasse lentamente e criasse um ambiente aconchegante, pois esta seria uma noite especial, em que eu dormiria muito bem acompanhada por um lindo beija-flor. Ele também parecia exausto e quando escureceu completamente não se mexia mais, nem gemia. Dormia profundamente como um bebê. Parecia confortável onde estava e eu também iria fazer o mesmo. Deitei em meu colchão encostado ao fogão a lenha, quentinho... 19
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Um beija-flor sobrevoou meu jardim, Beijou todas as flores e deixou versos pra mim. (Joana Aranha)
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Capítulo IV Néctar para o beija-flor Quando o dia amanheceu, fui ao jardim, cortei flores de ipê-amarelo e as deixei próximo a ele. Notei um brilho diferente em seus olhos ao ver o alimento preferido. Fiquei observando escondida atrás de uma porta quando deixou seu ninho improvisado e arrastando a asinha quebrada andou com dificuldade até chegar à flor para sugar-lhe o néctar. Nesta hora, lamentei não ter estudado veterinária em vez de biologia, mas lembrei-me do quanto me orgulhava ser bióloga, e na região em que morava quando jovem não existia outro curso que me interessasse mais que esse. Na cidade mais próxima, haveria de existir algum profissional confiável e eu iria até ele colher informações de como tratar uma fratura na asa de um beija-flor. Aproveitei a oportunidade para observar como era linda e graciosa aquela miniatura alada. Não media mais que sessenta milímetros de comprimento. Ostentava penas alongadas no pescoço, formando uma gargantilha ora mais, ora menos desenvolvida. A cor lateral era marrom com base castanha e ponta verde-escura. Na parte superior do corpo, mostrava tonalidade verde metálica que esmaecia, dependendo da posição 21
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em que se encontrava. As retrizes1 laterais eram castanhas, orladas de verde, e o bico, avermelhado com ponta negra. Beija-flor o colibri E alguém grita: “bem-te-vi” Então voando pra trás Ele deixa a flor em paz Mas, sem se importar com o vizinho Ela espanta o passarinho Pois a flor só quer amor Vem cá! Volta beija-flor! (Helenita Scherma)
1 Retrizes: diz-se de penas da cauda das aves. 22
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Capítulo V Disse-me o beija-flor Depois de lhe proporcionar o desjejum, voltei a dormir e acordei assustada com alguma coisa caindo e se espatifando no chão. Era um bibelô de cristal, algo que não servia para nada mesmo. Deram-me aquilo de presente e guardei para agradar a pessoa, não que gostasse destas coisas, mas porque entre humanos este é um costume comum, trocar bugigangas. Acho a atitude falsa às vezes, mas necessária, pois, além do respeito com nossos semelhantes, é uma maneira de sentir a pessoa mais próxima de nós. Porém, só guardo a bugiganga se gostar muito da pessoa, não era o caso, e acho que o Flor pressentiu isso. Por coincidência, o bibelô era a estátua de um gato aparentemente dócil, mas para um beija-flor traumatizado era ameaçador. Derrubar aquilo foi sua maneira de dar bom-dia, destruindo algo que incomodava a nós dois. Ao me aproximar, percebi que tentando voar ele havia colidido com o objeto que estava na ponta da estante. Acho que enquanto eu dormia tentou fugir, mas o que conseguiu foi se estatelar no vidro da janela e emitir um gemido de dor. Levantei com cuidado do meu leito improvisado ao lado do fogão, evitando movimentos bruscos para não as23
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sustá-lo, e fui ao jardim colher mais um cacho de flores frescas. Ao adentrar à casa novamente e fechar a porta atrás de mim com as flores nas mãos, notei seu olhar apreensivo na direção do jardim florido, feito especialmente para sua espécie. Pude ver uma gotinha de alguma coisa parecida com lágrimas sair de seus olhos. Se assim fosse, estaria eu presenciando um beija-flor chorar? Abri as cortinas, fechei portas e janelas, protegidas pelos vidros, pois tinha medo de que voasse e fosse capturado por algum predador. Ciúmes de ti eu tenho Pois beija todas as flores Sente o doce e a beleza Contidas nos seus amores Voa no seu caminho Vai em paz sem direção Sorrir é seu brilho forte Não teme nenhuma paixão Alegre no seu caminho Tens a ausência da dor Busca o certo sentido De viver Beija-flor (Rodolfo Andrade)
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Capítulo VI Nas asas do beija-flor Quando o dia amanhecia, eu preparava nosso desjejum, flores para ele e frutas para mim, assim tinha a honra de tomar o café da manhã na companhia de um beija-flor, fato histórico. Aquela era a única companhia que tivera, após uma semana morando sozinha, sem a presença de ninguém da minha espécie. Estávamos nos tornando bons amigos. Se é que poderia existir amizade entre uma mulher sofrendo de depressão e um beija-flor com a asa quebrada, mas ali onde eu estava morando não existiam regras nem leis para cumprir. Existia, sim, um beija-flor precisando de cuidados e alguém disposta a cuidar dele. E daí que era estranho? Eu estava me sentindo útil e feliz com aquele amigo que nada pedia, nem criticava, muito menos exigia que eu me comportasse ou explicasse minhas atitudes inusitadas. Tinha pensado em procurar um veterinário, mas para quê? Seria mesmo necessário? Resolvi eu mesma cuidar de sua asinha, até que ficasse boa para novamente voar ao céu onde gostava de estar. Se eu pudesse também iria com ele, voar entre as nuvens, sem precisar entrar em um avião recheado 25
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de humanos medrosos e que podiam pagar por passagens caras. Os beija-flores desaparecem no inverno e com o desabrochar das flores na primavera reaparecem. Onde será que se escondem? Sinto tanta falta deles nos dias frios. E quando reaparecem voam de graça, com tanta graça. Este é seu trabalho, voar e polinizar flores. Penso como deve ser linda a rotina de um beija-flor. E ainda tem gente que prefere se divertir roubando e explorando a sua própria espécie. Quem me dera ser um beija-flor, cuja única obrigação é beijar flores e voar. Voe, poema móvel Pequenos versos alados Meu arco-íris em trovas Sonetinho emplumado (Joana Aranha)
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Capítulo VII Beija-flor pequenininho O Flor era tão pequeno e ágil que mesmo com a asinha quebrada e sentindo dores era difícil imobilizá-lo, mas eu queria fazer isso para ajudá-lo. Encontrei uma velha gaiola, coisa que abomino, mas pertencia ao antigo dono da propriedade. Era bem grande, acho que a usava para criar codornas. Estava muito empoeirada, mas servia para meus propósitos. Limpei-a cuidadosamente, forrei-a com jornais velhos, coloquei um potinho com água e um cacho de flores dentro. Deixei a portinhola aberta próximo a ele. Na porta da gaiola, armei um dispositivo, uma espécie de arapuca, para que quando entrasse a portinha se fechasse imediatamente. Quando criança, eu era mestre em desarmar arapucas e soltar os passarinhos que estivessem presos dentro. A arte que me fez levar muita carreira dos meus irmãos agora ia servir para alguma coisa. Cada vez que soltava um passarinho, tinha que sair correndo senão era surra na certa. Na época, capturar passarinhos era comum entre os meninos da roça, e vejo que o aprendizado agora inverso estava servindo para alguma coisa. Não demorou muito e ouvi a portinhola disparar com o Flor dentro. Assim que se viu preso, começou 27
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a debater-se. Estava desesperado, acho que beija-flores são claustrofóbicos, porque não suportam ficar presos de jeito nenhum. A estratégia era prendê-lo sem parecer que eu tivesse alguma coisa a ver com isso. Era para tudo parecer um acidente. Não queria perder a confiança dele. E quando fui me aproximando da cena ele parou de se debater e fixou os olhos em mim. A intenção era levá-lo a um veterinário, mas aquele olhar desesperado pedindo socorro, como se dissesse: “você vai me tirar daqui, não vai?”, me desarmou completamente. Meu coração disparou, tive pena do bichinho, o sentimento bateu forte, tinha que pensar rápido: se o mantivesse preso, ele iria se debater muito e piorar sua situação. Se o levasse ao veterinário, poderia salvá-lo, mas talvez perdesse o amigo, pois depois de todo o estresse que teria de submetê-lo não ia mais confiar em mim. Será que na floresta existem veterinários? Acho que não e nem precisa. A natureza é sábia, o próprio sistema imunológico dele deveria reagir e se curar. Só precisava protegê-lo da melhor maneira possível e dentro de uma gaiola ninguém se sente bem, muito menos um beija-flor. Mantê-lo dentro de casa não estava sendo fácil, mas ainda era possível. Então rapidamente fechei portas e janelas, abri a porta da gaiola. Ele saiu como um foguete pela portinha, bateu as asinhas e conseguiu dar um voo curto e desajeitado. Bati palmas de alegria ao ver que meu 28
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amigo estava se recuperando, embora ainda precisasse de cuidados. Logo, logo, poderia estar voando de novo. Que ele era um guerreiro não se tinham dúvidas, indiscutivelmente o mais lindo deles. Beija-flor pequenininho Que beija a flor com carinho Dá-me um pouco de amor Que hoje estou tão sozinho (Roseana Murray)
Foto: Denilda Santos Helena e o beija-flor
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Capítulo VIII Conversa com o beija-flor Nos dias que se seguiram, o que se via era um beija-flor cada vez menos triste e mais confiante nas suas asinhas. Andava atrás de mim pela casa, se é que se possa chamar aquilo de andar. Explico: os pés dos beija-flores não foram feitos para caminhar. Eles não são apropriados para essa função. São garrinhas feitas para se fixar em galhos de árvores. A natureza sabia muito bem o que estava fazendo e não deu essa facilidade a eles, porque no chão seriam presas fáceis. Beija-flores fazem parte da cadeia alimentar de muitos bichos, não só terrestres, mas também aéreos, como corujas e gaviões. Então, quando digo que andava atrás de mim, na verdade saltitava, dava pulinhos graciosos. Eu tinha que estar atenta para não pisar nele. Quando eu entrava no banheiro e fechava a porta, ele ficava me esperando colado a ela, piando sem parar. Quando eu ia ao jardim, o Valente, ciumento, latia, assustando-o. Isso nos primeiros dias, porque depois de algum tempo os dois se enfrentavam. O Flor piava alto e o cachorro latia bravo. Eu ficava envaidecida no meio da discussão. Parecia que estava sendo 31
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disputada por dois príncipes gentis, um cachorro e um beija-flor. Muitas vezes os dois se ofendiam verbalmente, cada um na sua linguagem. O cachorro partia para cima dele e ele vinha se esconder atrás de mim. Às vezes eu perdia a paciência com os dois e gritava: – Parem agora com esse bate-boca! Senão vou embora daqui e não levo nenhum dos dois comigo, hein? Se me quiserem por perto, vão ter que se entender. Eles acalmavam os ânimos e me deixavam em paz. Cada um ia para seu canto. O Valente para a casinha dele e o Flor para a caixinha, pois bem sabia que devia favor ao cachorro. Há bem pouco tempo havia escapado do ataque fulminante de quinze gatos furiosos dentro de um quintal graças ao apoio do cachorro, que ouviu o alvoroço e entrou por um buraco no muro, acabando com a festa dos bichanos enfurecidos. Os gatos mudaram o foco dele para o cachorro e ele aproveitou aquele buraco para fugir do cenário horripilante em que era o centro das atenções. E foi assim que o recolhi com meu boné, salvando sua vida. No fundo, achava que os gatos só não o devoraram por achá-lo insuficiente para o apetite deles, mas não queria dizer isso ao cachorro e acabar com sua pose de herói. Engana-se quem pensa que na vida de um beija-flor tudo são flores. Aprendi com os passarinhos a liberdade. (Manoel de Barros)
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Capítulo IX O dia do beija-flor
Ilustração: Gabriel Barbosa
Estava eu ocupada com os afazeres domésticos quando ouvi um barulho e fui ver do que se tratava. O lugar que estava morando parecia mal-assombrado. Coisas estranhas às vezes aconteciam. Ouviam-se barulhos sem explicação plausível, sumiam objetos de onde havia deixado minutos antes, a tartaruguinha aparecia desemborcada, eu dizia que era o saci-pererê que diziam alguns já terem visto zanzando por lá. O Valente latia fazendo sua obrigação, mesmo sem nada ver. Desta vez, era apenas um gato invasor entrando nos nossos domínios. A confusão começou quando ele criou caso com o Valente, que já se sentia ameaçado com a presença de uma tartaruguinha verde, um monte 33
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de peixinhos num aquário enfeitando a sala e agora o Flor, que dava sinais de permanência no local. Ultimamente, não sobrava muito tempo para passear com ele. Imagine se eu resolvesse adotar também um gato? Então tratou logo de expulsá-lo do seu território. Pelo menos nisso os dois combinaram a ojeriza por gatos. E era bonito o talzinho encrenqueiro. Parecia siamês, ou quase isso, talvez um mestiço, sei lá, não entendo nada de gatos, justamente por não me relacionar bem com eles. Eu jamais adotaria um gato, mas meus dois amigos não sabiam disso. Consegui salvar o gato dos dentes afiados do cachorro, mas não ia ficar com ele de jeito nenhum. Consegui prendê-lo na gaiola rejeitada pelo Flor e ofereci um pratinho com leite, que ele sorveu rapidamente, mas estava com fome mesmo era de beija-flor, pois não tirava os olhos do bichinho. O Flor também não tirou os olhos dele. Propus um acordo: mandei que pensasse no beija-flor, tomando leitinho, e pronto, a imaginação fazia o resto. Coloquei uma roupa de caminhada, tênis, um boné e saí pela pouca vizinhança, com aquela gaiola de rodinhas com o gato dentro, à procura de seu dono. Não encontrei ninguém que se interessasse por ele, e ainda bem, pois melhor era não tê-lo por perto ameaçando meu sossego. Alguém o havia abandonado na rodovia que passava ali próximo, com toda certeza. 34
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Voltei para casa e liguei para meu amigo Lauro, que adora gatos, contei a história e propus que viesse buscá-lo de presente. Se não o quisesse, eu iria doá-lo para a associação de proteção aos animais ou o levaria para as meninas, Zezé e Olga, da casa de ração. Lá ele seria vendido rapidinho e, espero eu, levado para bem longe. Não demorou muito e ouvi o ronco do motor do carro dele adentrando a propriedade. Pediu desculpas pela demora, porque foi difícil achar a casa, que ficava bem escondida mesmo. Foi neste momento que percebi que meu cachorro, Valente, estava mancando. O gato havia machucado sua patinha durante a briga dos dois. Só depois que o gato se foi para o outro lado da cidade tive sossego para cuidar da pata do meu cachorro. Tinha alguns remédios em casa de uso veterinário, coloquei junto com sua ração e vi que havia engolido alguns comprimidos. Fiz um curativo, enfaixei sua patinha para lhe dar mais firmeza e conforto para andar, trouxe sua casinha também para a cozinha, próximo ao fogão, para que dormisse no quentinho. Agora dormiria acompanhada por um beija-flor troncho e um cachorro capenga. Eu também não estava me sentindo bem. Havia me assustado com os últimos acontecimentos, por isso estava exausta. Deitei em uma rede na varanda e adormeci profundamente até o anoitecer. A depressão havia se transformado em cansaço e um grande prazer em estar sendo útil. Acordei faminta e estranhamente feliz com o ruflar do Flor troncho e o latido de um Valente capenga. 35
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Eles pensavam que eu cuidava deles, mas na verdade eles é que cuidavam de mim.
Poesia é voar fora da asa (Manoel de Barros)
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Capítulo X O beijo do beija-flor Quando eu me sentava em frente ao oratório para fazer orações, ou ao computador para escrever, o Flor vinha se aproximando devagar, dando seus pulinhos graciosos, até chegar aos meus pés. Ali se aconchegava e não queria mais sair. Havia uma disputa entre ele e o Valente para se aproximar, mas um respeitava o espaço do outro e ambos respeitavam meu momento de silêncio. Parece que também gostavam das orações que eu fazia. Os dias passavam alegres e sua recuperação mais visível a cada dia. Às vezes seus amigos iam se alimentar no jardim e aproveitavam para visitá-lo. Era aquela algazarra. Muitos tentavam atravessar o vidro da janela, eu ouvia o barulho e corria para salvá-los. Então percebi que tinham hora certa para aparecerem e deixava os vidros abertos para que pudessem entrar e visitar o amigo sem acidentes. Observei que entre eles havia um em especial, talvez uma fêmea, que demorava um pouco mais para ir embora. Suas visitas eram mais frequentes e seu trissar com ela era diferente, mais carinhoso. A cor das fêmeas era um pouco diferente, pois tinham a face e a garganta pardo-amareladas e as retri37
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zes verdes com a ponta de cor castanha, não tinham topete. Será que aquele safadinho estava tendo um relacionamento amoroso? Até que um dia vi um encontro de bicos, um roçar de pescoços, um ruflar diferente, e tive a certeza de que aquele beija-flor sapeca, levado da breca, estava namorando. E pela primeira vez pude presenciar o beijo entre um casal de beija-flores. Beija-flor, meu namorado, Aonde vai com tanta pressa? Vou refrescar na nascente Que fica lá na floresta (Joana Aranha)
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Capítulo XI De flor em flor Todos os dias eu acordava com o canto dos pássaros, que eram abundantes em meu jardim. Vez ou outra aparecia um casal de passarinhos todo amarelinho com uma peninha verde na cabeça. Um cantava rouco com voz de taquara rachada, mas era super-simpático e estava sempre acompanhado por outro da mesma cor, que cantava lindamente. Estavam sempre rodeados por joões-de-barro, bem-te-vis e sabiás. Além das flores, alguns visitavam também a horta e beliscavam os tomatinhos vermelhos, que assim malfeitos pela natureza não aguentavam o peso dos próprios frutos e precisavam de ajuda humana para se equilibrarem nas ramas cuidadosamente organizadas, numa madeirinha seca encostada à tela de proteção que a cercava. O Flor sempre acordava feliz respondendo ao trissar dos amigos que vinham fazer o desjejum no jardim e aproveitavam para saudá-lo. Naquele dia, porém, acordou cedo e um pouco mais agitado que de costume. Parecia querer dizer alguma coisa, estava ansioso e inquieto para que eu abrisse logo as janelas, talvez quisesse se alimentar também das flores nas próprias árvores do jardim, como os outros faziam. 39
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Imagino que as flores na própria árvore tenham o mesmo significado que comer fruta no pé. Deve ser bem mais interessante do que elas colhidas por alguém, como eu vinha fazendo. Cozinhar nunca foi mesmo o meu passatempo preferido. Cozinhava mais ou menos para mim, e o Valente demonstrava preferir sua ração. Eu não tinha a menor pretensão de cozinhar para beija-flores; aliás, nem tinha ideia de como fazer isso. Depois de beijar as flores Sinto-me encalorado Aí procuro as nascentes Por quem sou apaixonado (Joana Aranha)
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Capítulo XII O voo do beija-flor Naquela manhã, assim que abri a janela, o Flor voou para o beiral do telhado. E de lá para o chão, pousando suavemente próximo a sua caixinha ao lado do fogão. Fez isso algumas vezes, depois atravessou a janela, voou até o jardim, onde havia muitas flores para ele se alimentar. Chegando ao jardim, pousou em um galho de ipê. Foi até um de seus buquês e se alimentou normalmente, sem precisar da minha ajuda. Senti um misto de alegria e tristeza, pois alguma coisa dizia que sua partida estava próxima. Quanto mais se recuperava, mais próximo estava o seu adeus. Meu coração disparou quando percebi que nada mais podia fazer por ele. Teria que pensar rápido em alguma coisa que pudesse fazer para evitar sua partida. Aproximei-me da janela, e ele, batendo as asas, se aproximou e ficou olhos nos olhos comigo por alguns segundos, mas se foi voando para longe. Esperei que voltasse, mas voava cada vez mais alto, até desaparecer completamente acima da copa das árvores. Desesperei-me ao ver que não existia mais nenhum vestígio dele, nem mesmo um pontinho se mis41
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turando à paisagem. Então desabei a chorar e, chorando, gritei bem alto: – Volte, Flor, por favor, não faz assim, pode beijar as flores, mas se apaixone por mim. Todas as despedidas são tristes, mas aquela estava sendo dolorosa demais. Eu pensava que estava preparada para o voo do Flor, mas ainda não estava. Fui pega de surpresa, ele não me deu nenhum sinal de que iria partir. O que seria de mim agora, sem um beija-flor para cuidar? Pior que perdê-lo era o fato de não saber se continuava vivo ou se estava bem. A natureza é bela, mas poderia ser hostil às vezes e estava repleta de predadores perigosos para um beija-flor em convalescença como ele; sem minha proteção, ele seria uma presa fácil. Minha esperança era de que voltasse com os amigos para se alimentar no jardim cultivado para eles com tanto esmero, pois todas as vezes que vieram à minha casa foram muito bem recebidos, mas vai saber o que pensam os passarinhos. Aqueles encontrões no vidro da janela poderiam tê-los assustado. Impossível decifrar seus pensamentos.
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Foto: Fernanda Turci Phaethornispretrei - Beija-flor-de-rabo-branco
Liberdade para voar Num horizonte qualquer Liberdade para pousar Onde o coração quiser (Cecília Meireles)
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Capítulo XIII Mil batimentos por minuto Os dias se arrastavam lentos e tristes sem a presença do Flor. Comprei um binóculo de longo alcance para monitorar as árvores mais distantes, especialmente as floridas. Tinha esperança de revê-lo, um vestígio que fosse, mesmo ao longe. O cachorro era um companheiro inseparável, fazia o que podia para me distrair e aliviar a tristeza. Eu retribuía seu carinho, mas o vazio deixado pelo Flor era imenso. Alguns dias se passaram sem que tivesse notícias dele. Já estava pensando em fechar a casa e voltar para a cidade. Lá pelo menos teria a companhia dos humanos, que nunca iriam me abandonar. Passaria um tempo na praia, observando os golfinhos e outras criaturas marinhas. Tomar banho de mar ia me fazer bem. Comecei a fazer as malas para partir em breve e, quando fui desfazer a caixinha com o ninho improvisado que havia feito para o Flor, desabei a chorar. Chorava a cântaros, como nunca havia chorado antes, mas mesmo assim coloquei tudo no terreiro e ateei fogo, porque não queria que sobrasse nenhum vestígio daquele bandoleiro. Assisti às labaredas acabarem 45
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com tudo que me fizesse lembrar que um dia ali havia dormido um beija-flor. Ao voltar para casa, passei pelo jardim e comecei a ouvir um ruflar tão familiar quanto a minha respiração, que agora estava ofegante, acelerada, disparada, incontrolável. Meus ouvidos não poderiam estar enganados. Comecei a procurar entre as árvores de onde vinha aquele som. Ao olhar para o galho florido do ipê, lá estava ele com a namorada se alimentando. Parecia tão ocupado que nem me percebeu. O Valente se posicionou mais adiante e uivou feliz. Era uma saudação ao regresso do amigo. Bati palmas de alegria e até chorei, mas desta vez era só felicidade. Ele se assustou com nossa presença, fez um sobrevoo curto acima da minha cabeça, beijou algumas flores e novamente desapareceu na paisagem. Corri para pegar o binóculo e tive a honra de presenciar ao longe o casal ocupado com alegres jogos de amor. Era manhã, por volta de nove horas, quando visualizei em meio à vegetação ele perseguir a fêmea, que ora fugia, ora pairava num fascinante brincar conjugal. Vi os dois pairar, suspensos no ar, para dançar colados um ao outro verticalmente para cima e para baixo. Segui-os com o binóculo por algum tempo até 46
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que a noiva me percebeu e veio ao meu encontro, enfurecida. Ouvi um trissar estridente, que soou como uma bronca do Flor para ela. A Florinda estava se revelando uma bela e distraída nora ou uma sonsa que não me reconheceu? Esteve tantas vezes em minha casa namorando o Flor e agora estava tentando me expulsar de suas vidas? Eu já estava me sentindo a sogra incompreendida. Depois que me perceberam, voaram para longe. Não consegui ver o fim do ritual de acasalamento, mas tive a certeza de que aquele safadinho esteve ausente em lua de mel e agora estava prestes a me dar netos. Nossa família não só estava completa de novo como também ia aumentar brevemente com toda certeza. Já haviam começado a construção do ninho. Pude presenciar a fêmea levando folhinhas, paina, algodão, musgos e unindo tudo com teias de aranha recolhidas das plantas e do beiral da casa. Também ia às vezes arrancar fiapinhos de algodão do tapete ou das toalhas estendidas no varal. O ninho construído em um galho bem alto parecia uma tigelinha enfeitada, decorada com musgos verdes exteriormente. Um dia, quando ela saiu para se alimentar, eu subi em uma escada e consegui fotografar o interior do ninho, que era todo acolchoado. Os andarilhos, as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia. (Manoel de Barros) 47
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Foto: Denilda Santos Helena e o beija-flor
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Capítulo XIV Os filhos do beija-flor Em aproximadamente cinco dias foi construído o ninho, em três a Florinda começou a pôr os ovos, incubaram-se durante quinze dias, quando então nasceram os filhotes. O Flor, neste período, nada fez. Não alimentou a fêmea no período da incubação dos ovos e nem a ajudou a alimentar os filhotes. Pensei que talvez esta ausência estivesse relacionada a despistar os predadores e resguardar o ninho, mas a literatura menciona que o beija-flor macho é antes de tudo um folgado, que apenas fecunda a fêmea e não a ajuda em nada. Cabe à mãe a tarefa de construir o ninho, chocar os ovos, alimentar e educar os filhotes. Estes, quando nascem, são bem menos bonitos que os pais. Tinham na cabeça e nas asas uma penugem acinzentada e só depois foram aparecendo o canhão das penas. Por volta de quinze dias depois aconteceu o desenvolvimento pleno. A mãe, quando os alimentava, pousava na borda do ninho. Eles inclinavam a cabeça para trás e ela introduzia o longo bico no de seus filhotes e ali regurgitava. Depois os agasalhava embaixo de seu corpo 49
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para protegê-los das intempéries da natureza: chuva, frio ou vento. Ao saírem do ninho voando pela primeira vez, pousaram no galho do ipê, retornando novamente ao ninho. Em seguida, se afastaram de novo, sempre cercados pela mãe, que os revolteava. Ensaiaram sobrevoos desengonçados, porém graciosos, para saciarem a fome nas flores do próprio galho que lhes servia de berço, até que se foram definitivamente, mas sempre voltavam para se alimentar nas flores do meu jardim. Ao que nasceu primeiro dei o nome de Benjamin; Flora era a fêmea, que tinha a determinação da mãe e a doçura do pai. Eram os meus bebês e melhores amigos dos que tinham uma peninha verde na cabeça. Eu só queria ser árvore para apreciar melhor os passarinhos. (Manoel de Barros)
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Esta segunda parte é a continuação da história do livro: Passarino, o passarinho que não devia nada a ninguém. Autora: Joana Aranha Editora: Giostri Ano: 2012
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Capítulo XV Os filhos do Passarino Depois que o beija-flor desapareceu no meio dos gatos, o Passarino nunca mais cantou. Seus filhos cresceram ouvindo as histórias que o pai contava sobre sua amizade com um beija-flor que desapareceu no meio de um mar de gatos famintos. Sensibilizados, criaram a Fundação Beija-flor, para a recuperação de passarinhos feridos ou traumatizados, vítimas de gatos malvados. Montaram então a patrulha do espantamento com o apoio dos cachorros injuriados, que não suportavam gatos metidos a valentões, e dos sapos da lagoa, que odiavam gaviões. Assim, terra, água e ar eram monitorados para prevenir os ataques. Como eles não tinham hora para acontecer, fizeram um seguro contra ataques inesperados. Atualmente, com a especulação imobiliária ameaçando soterrar nascentes e devastar áreas de florestas, os humanos invadindo cada vez mais o hábitat deles, a violência havia aumentado e todos os lugares estavam sujeitos a ataques de predadores, mas passarinhos eram os mais vulneráveis. Havia uma escassez de alimentos na floresta e para se alimentarem tinham 53
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que se virar com o que encontrassem nas cidades. As casas de joão-de-barro, construídas em lugares altos, eram consideradas seguras e, por isso, selecionadas e reformadas para serem usadas como centros de reabilitação. Todas as medidas tomadas eram importantes para a preservação das espécies, já tão escassas na natureza. Tanina, a filha mais velha do Passarino, era a presidente da fundação, tinha uma linda voz e queria fazer shows para arrecadar voluntários para os centros de recuperação. Tornou-se a maestrina da floresta e regia o coral formado pelos passarinhos jovens cantores, filhos dos amigos de seus pais. Joãozino, seu irmão mais novo, não gostava de cantar porque tinha voz de taquara rachada, mas junto com o sabiá-laranjeira, seu padrinho, compunha as lindas canções que eles cantavam. Era um bom compositor. Tanina sugeriu que ele fizesse uma avaliação com Janaína, a coruja fonoaudióloga da floresta. Então foi diagnosticada uma distonia, espécie de rouquidão totalmente curável. Tratava-se de uma alteração nas pregas vocais que o impedia de cantar no tom que cantava sua irmã. Foi quando ficaram sabendo que pela primeira vez no Brasil ia ter um congresso de canto de passarinhos e viria um grande especialista em voz, o Doutor Rouxinol, que também era professor de canto. Joãozino foi encaminhado para fazer um tratamento intensivo com ele. Diziam que este era o único a conseguir criar variações sobre as melodias. Joãozino, com sua ajuda, encontrou o tom perfeito para seu canto. 54
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O segredo estava em cantar como ele mesmo e não tentando imitar a irmã. “Cada um com seu timbre”, dizia o especialista. O tratamento prescrito foi um sucesso e agora Joãozino canta que é uma beleza no coral da floresta. A Tanina foi convidada a participar de um festival de música no domingão do Sabiazão, no Parque da Cidade, e todos os amigos voadores do Viveiro Municipal foram torcer por ela. Dizem que tinham borboletas e até morcegos disfarçados de passarinhos. Formaram uma grande caravana com várias espécies diferentes com o lema: “Diferentes sim, mas unidos sempre contra ataques de predadores dos passarinhos”. O papai Passarino foi nomeado chefe da caravana e Pica-pau o baterista da banda. O curió patrocinou a viagem depois de fazer várias recomendações descabidas, inclusive que não poderia ser citado nem visto para não despertar a cobiça dos fãs. Se mantivesse o anonimato do Viveiro Municipal, evitaria que terminasse seus dias preso numa gaiola. Eu queria crescer passarinho, Para ouvir as canções do vento (Manoel de Barros)
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Capítulo XVI Os traumas do beija-flor O ataque dos gatos deixou sequelas no Flor. Quando dormia, tinha pesadelos horríveis. Tinha confusão mental e amnésia pós-traumática. Nunca mais conseguiu voltar para o Viveiro Municipal, onde morava antes. Depois que teve câimbra na asinha e despencou no meio daquele bando de gatos, foi acolhido por uma humana estranha, que não deixou que morresse. Pense num absurdo absoluto? Seus conceitos haviam mudado um pouco com relação aos humanos, mas sua vida nunca mais fora a mesma. Ficou muito limitado para voar. Só fazia voos curtos e nada das acrobacias a que estava acostumado. A esposa Florinda teve que alimentar os filhotes e dar aulas de voo a eles porque o papai Flor não tinha jeito para isso. O que ninguém sabia é que ele era o famoso “Beija-flor”, sobrevivente do ataque de gatos e melhor amigo de infância do Passarino, o passarinho que não devia nada a ninguém, pai dos dois filhotinhos amarelinhos com uma peninha verde na cabeça, os melhores amigos de seus filhos.
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Passarinhos botavam primavera nas palavras. (Manoel de Barros)
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Capítulo XVII O papai Flor Agora o papai Flor precisava tirar os traumas deixados pelo ataque dos gatos. Flora também já dava sinais de que ia precisar de tratamento, pois era gaga de nascença. O cachorro Valente fazia parte da patrulha do espantamento e sugeriu que ambos fossem levados para uma avaliação na Fundação Beija-flor, no Viveiro Municipal. Qualquer ajuda era bem-vinda e oportuna àquela família. Flora e Benjamin nem bem haviam saído do ninho e já ouviam os outros pássaros comentar sobre essa Fundação, que estranhamente levava o nome de seu pai. Assim que começaram a voar, descobriram o endereço da Fundação e se matricularam no coral da floresta. Todos os passarinhos eram fãs da doce voz da fêmea amarelinha com uma peninha verde na cabeça e queriam ser regidos por ela. Queria ser árvore, para ter gorjeios. (Manoel de Barros) 59
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Capítulo XVIII O encontro dos pais Quando o Flor chegou com a família ao Viveiro Municipal, sentiu que já tinha estado ali antes. Sua memória andava fraca, mas se lembrava de algumas coisas. Resolveu voar pelos arredores e, ao levantar voo, deu um encontrão com Passarino, o passarinho que não devia nada a ninguém, seu velho amigo de infância. Os dois se reconheceram e saíram voando de felicidade, para cima e para baixo, esquerda e direita, em espiral. O Flor o levou à comunidade do Lago, onde tinha feito novos amigos, inclusive um dos tão temidos humanos que havia salvado sua vida no dia em que sofreu o terrível acidente que o fez despencar no meio dos gatos. Os dois sobrevoaram uma alameda de ipês-amarelos que existia ali bem próximo, banharam-se nas águas das nascentes que formavam o lago, conversaram com as garças, pousaram nas árvores floridas do lugar. Depois Passarino o levou às casas de joão-de-barro transformadas em centro de reabilitação para passarinhos feridos. Nas proximidades do lago haviam duas. Passarino então cantou a música “Uma peninha em meu paletó”, que havia feito em homenagem ao Flor. 61
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Seu canto atraiu muitos outros passarinhos e até formou-se uma plateia. Houve um caloroso bater de asas dando boas-vindas ao beija-flor e também pelo Passarino ter recuperado a alegria de viver e voltado a cantar com a afinação perfeita de antes. O sol brilhava intenso e o dia praticamente reamanheceu com o coro de passarinhos felizes, pois havia muito não se ouvia Passarino cantar. Passarino e Flor resolveram dar rasantes na cabeça dos gatos, como faziam antigamente, mas... deu câimbra na asinha do Passarino... Paira beleza inquieta Vai deixando seu recado No alimento escondido Nestes jardins bem cuidados (Joana Aranha)
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FIM DA HISTÓRIA
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Falando de beija-flores
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Capítulo XIX Quem são os beija-flores? Beija-flor é o nome genérico e vulgar pelo qual se conhecem os membros da numerosa família dos Troquilídeos. São diminutos, graciosos e espertos, provocando grande admiração, principalmente a visitantes do Brasil, onde são abundantes. Os bicos dessas belas aves são tão compridos quanto o resto do corpo inteiro, às vezes até maior. E já foram estudadas mais de cem formas que integram a avifauna brasileira. Tem plumagem brilhante, a qual, de acordo com a posição em que se encontra a ave, aviva-se ou esmaece. Esse fenômeno ocorre devido às minúsculas penugens que formam cada pluma, igual às facetas do diamante, e que devido a sua posição refletem a luz. O anãozinho dos beija-flores é o beija-flor-das-fadas, ou beija-flor-abelha (de Cuba), que tem o comprimento de cinco centímetros; a cauda e o bico medem mais que o resto do corpo. O beija-flor gigante presume-se que seja os do gênero Patagona, que ocorrem nos Andes do Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile, os quais alcançam vinte centímetros de comprimento. No Brasil, acham-se representados pelo gênero Topaza, com duas espécies as quais seguem, em tamanho, aos da Patagona. 65
Príncipe das flores
Os Topaza machos adultos são os beija-flores mais curiosos e brilhantes de todos os Troquilídeos neotrópicus, tanto pelo seu notável tamanho e a forma de sua cauda como pela variedade de cores da sua plumagem. Os Beija-flores em festa Com o Sol, com a luz, Com os rumores, Saem da grande floresta Como um punhado de flores. (Alberto de Oliveira)
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Capítulo XX Ocorrências Essas aves são originárias da América e encontradas no Alasca, Canadá, até o estreito de Magalhães. Por sua plumagem deslumbrante, são caçados desde o tempo dos astecas, que usavam as plumas na cobertura das capas dos nobres. Os índios da América do Norte usavam brincos feitos de penas de beija-flor e até a rainha Vitória usava enfeites confeccionados com penas dessa avezinha. Estes motivos levaram muitas espécies à extinção. Em toda a América existem mais de quinhentas espécies. Algumas andinas já foram encontradas acima de quatro mil metros de altitude, como o gênero Oreotrochilus. No Brasil, habitam-se em maior número nas regiões serranas dos estados da Bahia, de Goiás, de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Beija-flor pequenininho É certo que não sou flor Mas eu quero seu beijinho Que hoje estou sem amor (Roseana Murray)
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Capítulo XXI Características gerais Os beija-flores estão entre os menores vertebrados homeotérmicos do mundo. No Brasil, as menores espécies são: Lophornis magnificus, Heliactin bilophus, Phaethornis ruber e Calliphlox amethystina. Os maiores são os Topaza pella e Ramphodon naevius. A maior espécie da família é Patagona gigas, que vive nos Andes. A pele dos beija-flores é bem grossa e as penas muito resistentes. Com um bico longo e formatos diferentes eles se destacam das outras aves. Em algumas espécies os machos possuem forma e tamanhos do bico diferentes dos da fêmea. A língua dos beija-flores também é muito interessante, pois é longa como a do pica-pau e extensível para retirar o néctar do interior das flores. “É bífida e os “ hioides” sustentam a base da língua, contornam o crânio e alcançam a testa por baixo da pele. Os pulmões são grandes e estruturalmente muito simples, sem válvulas. As asas são longas e o esterno muito grande, assim como o coração, que perfaz de vinte a vinte e dois por cento do peso total do corpo. Os pés são minúsculos, servem apenas para pousar nos ramos ajudados pelas unhas finas, longas e em ganchos. 69
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A coloração iridescente se deve à difração e reflexão da luz pela microestrutura das penas. A cor depende do ângulo de incidência da luz. Algumas espécies mudam a cor das penas de escuro para metálico ou vermelho iridescente com um simples movimento, técnica utilizada no período reprodutivo para atrair as fêmeas. As espécies que vivem em locais abertos e ensolarados atingiram os mais altos efeitos cromáticos. Espécies que vivem na sombra das florestas possuem coloração modesta. Muitas adquirem essas colorações apenas no período reprodutivo. As fêmeas, na maioria das espécies, não apresentam essa coloração vistosa. Há muitos híbridos na natureza, a não formação de casais fixos no período reprodutivo deve ser uma das causas desse hibridismo. A alimentação consiste de néctar, que fornece a energia necessária para o voo constante e rápido, assim como pequenos insetos capturados no ar ou no interior das flores. A profundidade das corolas regula a espécie, que suga o néctar, longas para aquelas de bico longo, como Phethornis, e curtas para as de bico curto, como Calliphlox. O voo parado ou librado ajuda o beija-flor a retirar o néctar das flores. O nectário às vezes é atingido perfurando a flor no final da corola. Os insetos e aracnídeos encontrados aí fornecem as proteínas necessárias para o desenvolvimento e crescimento dos filhotes. Os machos são territorialistas, defendendo os locais de alimentação e possivelmente também garantem 70
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fêmeas para reprodução. Bastante agressivos, atacam aves bem maiores que tentam invadir seu território. O acasalamento é composto de várias etapas: o canto para atrair a fêmea, o voo nupcial, onde o macho exibe suas partes mais vistosas e coloridas. Após a cópula, apenas a fêmea é responsável pela nidificação. Há três tipos de ninhos: fixos sobre um galho, pendurados na ponta de uma folha ou pendurados sob um barranco. Todos são elaborados com materiais macios e fixos com fios de teias de aranha e saliva. Põem dois ovos brancos e alongados. O macho não participa do choco e nem da alimentação dos filhotes. A voz do beija-flor é muito aguda, como a dos insetos e morcegos, muitas vezes é inaudível para ouvidos humanos. Espécies menos vistosas na coloração ou que vivem no interior das florestas têm vozes mais fortes. Colibri serrirostris é uma espécie que vive nos ambientes abertos e que possui um belo canto, emitido por muito tempo de um mesmo poleiro. A voz do beija-flor é chamada arrular, ruflar ou trissar.
Bom dia, Beija-flor Aonde vai com tanta alegria? Vou visitar as nascentes Banhar-me em sua bacia (Joana Aranha)
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Capítulo XXII Comportamento A Migração A migração dos beija-flores é um fenômeno bastante estudado, tendo-se até traçado mapas dos caminhos aéreos por onde peregrinam. Essas migrações normalmente são em busca de temperaturas mais amenas. Sabe-se que algumas espécies avançam para o norte no verão, onde aninham, e deixam a região no outono, quando as flores começam a murchar. O beija-flor de peito azul costuma banhar-se no orvalho ou na água de chuva coletada nas folhas, bem como em filetes de águas límpidas de nascentes; por exemplo, Amazilia lactea. O beija-flor de fronte violeta, durante o processo de sugar o néctar, não emite nenhum canto, ficando perceptível apenas o «zumbido» produzido pelo rápido bater das asas. É uma espécie agressiva e comumente sai em perseguição a outro beija-flor que tente se aproximar de seu local de refeição; e neste momento, emite sons bem altos. 73
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Na sua rota florida Em manhĂŁs ensolaradas Jardins cheios de vida E rimas apaixonadas (Joana Aranha)
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B. Hibernação A primeira referência sobre a hibernação de beija-flores data de julho de 1933, na serra de Araçoiaba, perto de Sorocaba, no Estado de São Paulo, e foi dada pelo pesquisador naturalista Joãozino Paiva de Carvalho, que descreveu: “Estando eu numa fazenda, tive a atenção voltada para dois pontos escuros que pendiam de um fio elétrico que atravessava um dos cômodos internos da fazenda. Curioso, solicitei uma escada para observar de perto o que até então só tinha conhecimento através dos livros. Do citado fio pendiam dois beija-flores do gênero Thalurania. Encontravam-se presos pelos pés, mantendo a cabeça para baixo. À primeira vista, davam a impressão de estarem mortos. Despreguei um deles do incômodo poleiro e mantive-o durante cerca de vinte minutos aconchegado entre as palmas das mãos. Findo esse prazo, a mimosa ave magrinha e leve como uma pluma começou a dar sinais evidentes de vida. Seu corpo estremeceu, sua respiração acelerou-se pouco a pouco e os seus membros se movimentaram. A ave “acordou” e depois de permanecer algum tempo como desnorteada ensaiou um pequeno voo, curto e instável. Logo a seguir deu novos arrancos, até que no último foi de uma infelicidade tamanha que 75
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arrumou o peitinho contra a parede e cerrou seus olhos para sempre...” Queria ser um beija-flor Ter uma casa jardim Dentro dela colibris E esperar com fervor O beijo do beija-flor (Cecília Regina de Abreu Delape)
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C. Alimentação O beija-flor, na sua vida errante de flor em flor, dava a todos a ideia de que introduzindo o longo bico dentro das corolas procurava o néctar ali contido. Por isso foi-lhe dado nomes como: pica-flor, beija-flor, chupa-flor e suga-mel. Porém, observações sistemáticas do conteúdo estomacal dessas avezinhas revelaram que elas eram também insetívoras, e que o néctar encontrado era um complemento da ração alimentar para um perfeito equilíbrio desta. Os seguintes fatores foram observados: – Dão sempre preferência a flores nectaríferas, mas podem ser atraídas pela abundância de insetos encontrados nelas. – Visitam flores nectaríferas, de corolas pequenas, que não parece provável que possam ali vislumbrar insetos para apanhá-los.
Conclui-se que: A alimentação dos beija-flores é constituída de proteínas e néctar, mas apreciam também substâncias açucaradas. Ou seja, são loucos por carne, assim como por doces. 77
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Depois da nutrição ter sido extraída dos néctares, as partes indigestas se reúnem em pequenas bolinhas, que são expelidas para esvaziarem o estômago e assim fazer uma nova alimentação. Algumas espécies, particularmente as que habitam as florestas, pouca atenção dão às flores, mas passam grande parte do seu tempo debicando cascas cobertas de musgo das árvores, caçando seu alimento animal. Quanta flor já beijou? Voando em seu caminho Em quantos jardins parou? Recebem-te com carinho? (Joana Aranha)
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D. Ninhos Os autores estão de acordo em relação à construção dos ninhos dos beija-flores: formato de tigela ou taça, feito pelos beija-flores de bico reto, e formato de maçã, ornado de apêndices, curtos ou longos, em que termina o ninho propriamente dito, feito pelos de bico curvo. Apenas a fêmea toma para si esse encargo. O naturalista Augusto Ruschi, uma das maiores autoridades em costumes de Troquilídeos de nossa época, escreveu: “... Desde 1936 venho observando a nidificação da espécie Phaetornis sp: chega a criar duas ou três vezes durante um ano, e geralmente em novembro, janeiro e abril; quase sempre o segundo ninho é feito sobre o primeiro, e o terceiro sobre o segundo, e ainda no seguinte ano continua a nidificar sobre o terceiro ninho, ficando o ninho muito alongado. Só se observa isto quando o ramo em que se acha o primeiro ninho oferece facilidades para fixação dos seguintes, em caso contrário e não sendo afugentado por alguns fatores, o pássaro nidifica nas proximidades do primeiro...”. Mais alto que os passarinhos só Deus, a dúvida é saber se Deus também voava. (Manoel de Barros)
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Capítulo XXIII Classificação científica Classe: Aves Subclasse: Neornithes Ordem: Apodiformes Subordem: Trochilli Família: Trochilidae
Foto: Joana Aranha
Para que pôr nome em passarinhos? Basta dizer que era azul e voava. (Manoel de Barros)
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Capítulo XXIV Lendas O ciclo de lendas dos beija-flores inicia-se pela própria biologia deles; já houve quem dissesse que os beija-flores eram metade aves e metade moscas. Um padre jesuíta afirmou ter testemunhado uma borboleta se transformando em beija-flor, embaixo de um caramanchão, por metamorfose. Se esse padre não foi o mais clássico dos mentirosos, foi o mais mentiroso de todos os clássicos. Nas tradições folclóricas mexicanas, existe a lenda de que a esposa do deus da guerra conduzia para sua mansão no Sol as almas dos guerreiros mortos em defesa dos deuses e os transformava em colibris; e há quem diga que o colibri é o símbolo da ressurreição. Visita de beija-flores dentro de casa é sinal de boas-novas. Quando um beija-flor pousa no ombro de alguém é de bom agouro. Um Beija-flor mimoso Que visitou meu jardim Beijou todas as flores, E se apaixonou por mim (Joana Aranha)
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Histรณrias de beija-flor
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Capítulo XXV O príncipe das nascentes (Artigo publicado no jornal Diário de Jacareí, 22 de junho 2013)
Beija-flor é o nome vulgar pelo qual se conhece a numerosa família dos Troquilídeos. São exímios voadores, diminutos, graciosos e espertos. Provocam grande admiração aos apreciadores da avifauna brasileira, mas quem pensa que só se alimentam de néctar pode se decepcionar ao saber que formigas, aranhas e alguns outros insetos minúsculos, que habitam o interior das flores, formam o principal cardápio deles. Isso mesmo! São predadores. Alguns naturalistas antigos já diziam isso, entre eles Eurico dos Santos, que em seu livro “Da Ema ao Beija-flor” (1938) escreveu: “Por encontrar no estômago dos beija-flores muitos aracnídeos e não néctar creio que estes sejam seu principal alimento. Não se pode negar que sejam loucos por doces, mas apenas como guloseimas. Os aracnídeos incapazes ainda de caçar, estes, sim, se alimentam de néctar, ficando escondidos no cálice das flores ou entre as pétalas, de onde os beija-flores os capturam”. É claro que isso não tira o fascínio em observá-los na primavera de flor em flor, voando entre ipês de alamedas que existam nas ruas onde alguns têm o privilégio de morar. Anual87
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mente, quando estes florescem, não economizam beleza aos olhos, que se completam com o alvoroço dos beija-flores. Como diria Rubem Alves, o bom gosto para admirar coisas belas infelizmente não é para todos; alguns acham que as pétalas caídas dos ipês sujam as ruas. Nos dias de calor, os filhotes de beija-flores saem de seus ninhos, estendem um pouco mais suas aventuras, até onde existam nascentes que formam lagoas (infelizmente os lagos naturais limpos já quase não existem mais nos dias de hoje) e com grande algazarra se banham felizes. Invejo-os. Quisera eu encontrar uma nascente do meu tamanho, onde pudesse me refrescar nos dias quentes, ou mesmo nadar em um lago calmo e transparente, proveniente de nascentes abençoadas por banhos de beija-flores, os príncipes das nascentes. Enquanto houver nascentes Sempre haverá beija-flores De quem tira o alimento E renova seus amores (Joana Aranha)
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Capítulo XXVI Amigos do lago A primavera estava se aproximando e os ipês-amarelos já floresciam abundantes nas árvores desprovidas de folhas. Com as flores desabrochando lindamente por toda a região, notava-se a presença de inúmeros beija-flores a beijar suas flores repletas de néctares. As primeiras chuvas da estação já se anunciavam através do brotar das folhas, que, antes secas com o rigor do inverno, agora verdinhas, espalhando beleza em todo aquele vale, onde existia um lago formado pelas águas de nascentes que borbulhavam oriundas de uma pequena reserva natural repleta de borboletas e passarinhos. Tudo era harmonioso e belo, poderiam continuar assim se não fosse a ameaça que se anunciava em mentes nada ecológicas de pessoas que ameaçavam aquele paraíso. Planejavam derrubar as árvores, soterrar nascentes e destruir o lago para construir um piscinão no local com o nome disfarçado de “bacia de contenção de águas fluviais”. Para isso acontecer, bastava declarar o lago inóspito e a reserva desprovida de fauna e flora significativa. Por isso resolveram contaminar o lago, provocando a morte de milhares de peixes que lá viviam. A verba de que precisavam para construir o tal “piscinão” era 89
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fácil conseguir, pois políticos corruptos não hesitariam em aprová-las, já que parte da mesma seria usada para financiar suas campanhas eleitoreiras. Ninguém parecia preocupado com a flora, a fauna ou as nascentes. Alguma coisa envenenada foi introduzida no lago, provocando a morte dos peixes. Milhares deles amanheceram boiando nas águas antes limpas do lago, agora turvas como borra de café. Os moradores do entorno, inconformados, se mobilizaram, convocando a imprensa, que noticiou o acontecimento, mas isso não foi suficiente para mudar o modo de pensar dos políticos, que não desistiram de seus planos em acabar com as nascentes, destruir o lago e dizimar os beija-flores. Enquanto existirem flores para o Beija-flor beijar, nem tudo estará perdido. (Joana Aranha)
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Capítulo XXVII Beija-flor, o príncipe das nascentes
Assim que o sol saía, o beija-flor começava sua jornada à procura de flores para beijar. Depois ia se refrescar na água das nascentes que formava o lago do Parque Califórnia. Começou a perceber que as nascentes diminuíam a cada dia. Um dia, percebeu que suas penas tinham mudado de cor. A garça que visitava o lago também não estava mais branquinha como antes. E os peixes haviam morrido. A praga que reduzia as nascentes também havia cortado todas as árvores que formavam a mata ciliar do lago e acabado com as flores, sustento do beija-flor. Os beija-flores viajam durante o inverno e retornam famintos na primavera, à procura de flores. No seu hábitat cada vez mais reduzido, agora só restavam três nascentes das vinte e três que antes existiam. E o lago agora era abastecido somente por estas, que não conseguiam suprir a necessidade dos peixes. Além disso, as nascentes acabavam de nascer com água limpinha e menos de dois metros depois já se misturavam aos esgotos que estavam sendo jogados no lago. O que fazer?, pensou o beija-flor. 91
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E convocou todos os moradores do entorno do lago para lutar por seu sustento. As abelhas dependiam das flores para fazerem mel, que defendiam com seus ferrões bem afiados e nada docinhos. Os marimbondos dependiam das nascentes para refrescarem seus traseiros quentes, prontinhos para serem usados em quem ousasse violar seu santuário. As corujas se alimentavam dos insetos que ali habitavam. As garças se alimentavam dos peixes que ali antes existiam em abundância, normalmente são pacíficas, mas possuem garras enormes e poderosas. As cobras eram venenosas e pareciam inimigas, mas assinaram um tratado de paz com o beija-flor e declararam guerra aos destruidores da natureza onde viviam. E todos se puseram a lutar, cada um com suas armas. Unidos, puseram os humanos para correr. O beija-flor foi aclamado herói e tornou-se o príncipe das nascentes. O que mais se preocupava com elas. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos (Manoel de Barros)
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Capítulo XXVIII Um novo cardápio para o beija-flor
O beija-flor, cansado de beijar flores, resolveu experimentar um cardápio diferente e pensou: “A partir de segunda-feira, vou começar uma nova dieta, aquela dos passarinhos”. Bem perto de onde morava existia um pomar cheio de frutas suculentas e vistosas, das quais os outros pássaros se alimentavam, e ele queria muito prová-las. Observou bem como faziam para fazer igual. Foi até um pé de mamões maduros bem amarelinhos, perfurou a casca com seu longo bico e tentou sentir o perfume, como fazia com as flores, mas só sentiu um gosto adocicado. Adorou o experimento. Voou até o pé de caqui repleto de frutos vermelhos e sugou-os, achou apetitoso, doces eram, mas muito melados. Pousou em um pé de jilós verdinho, mas não gostou do cheiro e detestou o sabor amargo. Ainda perfurou limões, que achou muito azedos. Não quis mais saber de frutas e voou até as sementes 93
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de gergelim que secavam em um telhado, acabou se engasgando com elas. Os outros pássaros perceberam suas tentativas e começaram a se divertir muito. Formou até plateia para rir do beija-flor. Ele estava ficando barrigudo e não conseguia mais voar como antes. As frutas eram muito calóricas para ele, que engordou e ficou parecendo um besouro rola-bosta. Porque estava acostumado a se alimentar de néctar, que era levinho e de baixo teor calórico. Um gato se posicionou em cima do muro esperando que o beija-flor gordo passasse por ali para abocanhá-lo. Acho que mudar o cardápio não foi uma boa ideia do beija-flor. A natureza é sábia e preparou uma dieta para cada ser vivente da natureza, assim como deu uma história de vida para cada um. Cada um tem uma história e nenhuma é igual à outra. Todos têm que viver a sua própria história. E se alguém não gosta da sua cabe a ele transformá-la para que fique mais bonita. Não adianta um querer viver a história do outro porque não vai dar certo. Bem fez o beija-flor, que voltou a beijar flores.
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Capítulo XXIX Ele os amava tanto Ele amava os beija-flores e quando jovem gostava de voar no meio deles de asa-delta ou balão. Seu sítio na Serra da Mantiqueira era rodeado por jardins floridos para atraí-los. Era um festejar de cores o dia inteiro. Sua predileção chegava ao cúmulo de tentar capturar alguns para criar em cativeiro num viveiro particular construído especialmente para isso, mas sua maior frustração era não ter conseguido tal proeza. Os bichinhos eram ariscos e se tornavam tão agressivos ao ponto de debater-se de encontro à tela de proteção até sangrar. Preferiam morrer a serem cativos. Ele estava envelhecendo, sua vitalidade já não era mais a mesma. Sabia que seus dias estavam contados neste mundo e não se importava de morrer, só sentia pena em saber que não ia mais ver os beija-flores. Então passou os últimos anos de sua vida extraindo néctar das flores para esfregar em sua pele. Um belo dia sentou em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa e adormeceu para sempre. E quando seu corpo foi encontrado estava rodeado por beija-flores, como se estivessem se despedindo daquele que os amava tanto.
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Beija-flor, meu prĂncipe amado De quem recebo alegria De quem recebo carinho E espero todo dia (Joana Aranha)
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Capítulo XXX Um brinde aos beija-flores O dia estava apenas começando na região do Lago Parque Califórnia e suas nascentes. Sobrevoando a região, o beija-flor visualizou flores de ipê-amarelo numa alameda próxima, pousou em seu galho, saltitou até um buquê bem apetitoso, introduziu seu longo bico por entre as pétalas e assim fez o desjejum, sua primeira refeição do dia. Depois voou bem alto, pois de cima conseguia visualizar melhor os jardins floridos onde fazia outras refeições diárias. Lá do alto conseguia distinguir as flores naturais das coloridas artificialmente, montadas especialmente para atraí-los. Os humanos os brindavam com água e açúcar, uma mistura que causava mal ao fígado, dilatava a língua e provocaria cáries se dentes tivessem; como não os tinham, faria mal aos ossos, mas isso somente em longo prazo. De imediato só lhes causavam prazer. Eles os brindavam com sua beleza, mas tinham que estar alertas para não serem capturados por eles ou devorados por outros predadores. Certa vez, havia escapado das garras de um gavião e só sobreviveu porque se escondeu dentro de uma casinha de joão-de-barro abandonada. Agora, com o mundo cada vez 97
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mais violento, nem mesmo o interior das casas de joão-de-barro era seguro, os predadores não as respeitavam mais. Paira poesia móvel, Pequenos versos alados, Minúsculo como um soneto Jardim florido eu prometo (Joana Aranha)
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Capítulo XXXI Xandim Xandim estava zanzando pela floresta quando viu uma arapuca armada para pegar um passarinho. Dentro havia um beija-flor se debatendo, pois não nascem para cativeiro. Xandim ficou extasiado com a beleza do beija-flor e pensou: “Eu queria tanto ter um beija-flor só para mim, mas não devo mantê-lo preso, pois só fica bonito quando está voando livre entre as flores”. E soltou o beija-flor. Mais adiante, viu uma gaiola com um pássaro preto que cantava triste e pensou: “Eu queria esse pássaro preto para mim, mas não devo, tenho que libertá-lo para que alegre a floresta com seu canto”. Andou mais um pouco e viu em uma casa um papagaio preso a uma corrente e pensou: “Eu gostaria de ter um papagaio e ensiná-lo a falar, mas para que ensinar a linguagem humana aos pássaros? Nós é que temos que aprender a linguagem deles e sermos felizes como eles”. E soltou as correntes, dando liberdade ao papagaio. E então se sentiu cansado e resolveu voltar para casa. E ao chegar a casa adivinhe quem o estava esperando no jardim? O pássaro preto, o papagaio e o beija-flor. 99
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E livremente brincaram até a exaustão. Depois o menino dormiu e os amigos voltaram para a floresta, prometendo voltar todos os dias para brincar. Tudo que não invento é falso. (Manoel de Barros)
Foto: Dinamara Osses Joana Aranha em entrevista à TV Câmara Jacareí
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Agradecimentos Às letras e às combinações que se pode fazer com elas; Às crianças que me inspiraram escrever a continuação de uma história para salvar a vida do beija-flor de um destino trágico, relatado no livro “Passarino, um passarinho que não devia nada a ninguém”; em especial a minha sobrinha-neta Helena. A Benedito Veloso, pelas críticas literárias. Colaboração científica: Prof. Frederico Lencioni Neto (Com. pessoal) Dedico este livro a Mauricio de Oliveira Aranha, a quem amo mais que os beija-flores.
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Consultas bibliográficas HOFLING, V.; CAMARGO, F. A. & FONSECA, V. L., 1980 Aves da Mantiqueira. ICI do Brasil – São Paulo SANTOS, E., 1979. Da Ema ao Beija-flor Zoologia brasileira. Itatiaia. Belo Horizonte SILVA, l. N. C., Enciclopédia Universal dos animais Mirtes Ltda. STORER, T. I.; USINGER, R. C. & NBAKKEN, J. N. 1987. Zoologia Geral – São Paulo.
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