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PENUMBRA A LENDA ESQUECIDA



KAIO SARAIVA

PENUMBRA A LENDA ESQUECIDA

São Paulo 2018


Copyright © 2018 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Diego Mendes, Editora Baraúna e Kaio Saraiva

Diagramação

Editora Baraúna

Revisão

Áthila Pereira Pelá e Adriane Gozzo

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ T272e Saraiva, Kaio Penumbra: a lenda esquecida / Kaio Saraiva. - São Paulo : Baraúna, 2018. 192 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-437-0858-4 1. Contos. 2. Romance. 3. Literatura. ________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua Sete de Abril, 105 – Cj. 4C, 4º andar CEP 01043-000 – Centro – São Paulo – SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br


“A maior herança que uma nação pode receber é a sua própria história; que caminho tomar se não sabemos de onde viemos?”



SU MÁRIO INTRODUÇÃO............................................................9 I. UMA BELA DAMA ..................................................11 II .O CASAMENTO INESPERADO..........................17 III. A DOR BATE-LHES À PORTA.............................33 IV. CHEGANDO AO PARAÍSO..................................47 V. DIANTE DO PERIGO............................................63 VI. UM NOVO MUNDO............................................81 VII. O MISTERIOSO ATAQUE DE PENUMBRA...99 VIII. ÚLTIMO ENCONTRO......................................131 IX. UM LIVRO DIFERENTE.....................................167 X. ENFIM UMA VIDA TRANQUILA.........................181 FIM. UMA CARTA PARA VOCÊ!...............................185 POEMA AO AMOR......................................................187 A COR DA ALEGRIA...................................................189 CICATRIZ.....................................................................191



I NTRODUÇÃO A maioria de nós costuma levar a vida como ela é: imposta. Os porquês ficam de lado em relação a quase tudo. Só damos importância ao passado quando descobrimos danos no presente atribuídos a ele. O fato é que tudo no universo tem uma história; a história existe e é importante por guardar consigo os começos, os finais e tudo aquilo que o presente não pode carregar. A fruta que se saboreia hoje só é possível graças a sua história, àquela semente plantada anos atrás. Nesta obra, o objetivo é resgatar a percepção de tempo. Traremos nestas páginas uma representação fictícia e literária inspirada na história de nossa nação; aqui, detalhes deixados para trás serão questionados; um romance recheado de conjecturações e fatos, ação, confrontos e muito mais, para que a leitura seja saborosa e satisfatória. O mistério fica por conta de uma figura esquecida pelos contos populares, “Penumbra”; sua participação nesta história remonta aos tempos coloniais, 9


quando nossa gente ainda sofria o domínio de Portugal. Sabemos que as obras artísticas têm seu espaço de influência nas pessoas, desse modo procuramos ancorar o enredo em conformidade com o que se considera ético e respeitoso. Os personagens convergem para dois sentidos: o bem ou o mal; como na realidade, mascarar o bem de mal, ou vice-versa, não é nosso propósito. Entendemos que lições podem ser tiradas da leitura, logo ela deve conter elementos que enobreçam nosso caráter e nos façam evoluir como seres humanos; ambicionamos ser referência de inspiradora leitura, nunca o contrário. Desejamos um bom aproveitamento ao passear por esse presente maravilhoso: saber ler... Comunicação, no tempo apresentado nesta obra, saber ler era privilégio de poucos; hoje nossa trajetória converge para uma nova realidade, pois, se você está entendendo essas palavras, mais uma conquista temos (um vencedor, que é você, que foi à escola). Boa leitura!

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I. UMA BELA DAMA José Emanuel saiu de sua casa sob um vento frio e forte, que não era muito comum naquela época do ano em Lisboa. Tomou seu casaco e saltou para a carruagem; seu destino era buscar sua mãe, Raquel. Assim que chegou, ela o esperava fora da igreja, uma vez que a missa havia terminado. Delicadamente, ele a tomou pela mão e a conduziu até a carruagem; durante o trajeto, conversaram a respeito da péssima situação pela qual estavam passando. – É lamentável que seu pai tenha nos deixado nesta crise financeira tão cruel! – exclamou Raquel. – Certo que sim, minha mãe, mas os problemas existem para serem resolvidos, sempre há uma maneira de enfrentá-los – otimizou José Emanuel. – É uma pena que seu pai seja viciado em jogos e apostas – disse Raquel, num tom negativo. – Não fale desta maneira, minha mãe. Vossa mercê sabe que Emiliano, meu pai, é um bom homem e sempre fez o que pôde por nossa família – afirmou José Emanuel. 11


– Sim, meu filho, “fez”, contudo Emiliano deixou de ser o homem determinado que conheci na corte da coroa portuguesa; foi com ele que me casei. Quase não reconheço as atitudes de vosso pai! – argumentou Raquel, meneando a cabeça negativamente. No meio do trajeto, Raquel fez sinal para o cocheiro parar, desceu e apanhou algumas flores vermelhas no jardim. Dali seguiram para o funeral de um conhecido da família, que falecera na noite anterior. Durante o trajeto, José Emanuel avistou uma bela dama de classe inferior, que caminhava pela sarjeta. Não conseguiu conter-se em sua aflorada admiração, pois ficara encantado com a beleza da jovem; seu lindo rosto era delicado e simétrico. A carruagem prosseguiu em meio a uma chuvisquinha que caía por volta do meio-dia. Raquel não ficou satisfeita com o olhar que surgira na face de seu filho, que ergueu a cabeça para mirar a jovem caminhando. Repentinamente, José Emanuel estagnou-se, olhando para o nada (pensava como seria sua vida de casado, quem seria a amada? Mas os problemas financeiros da família lançaram todos os planos ao chão). A vida em Portugal estava um pouco complicada; algumas tensões políticas ameaçavam os objetivos da coroa portuguesa; a descoberta da terra de Vera Cruz conduziu muitas intenções militares e religiosas. José Emanuel ainda era jovem, mas, conforme o costume, já era o momento ideal para tratar de um casamento; seus pensamentos foram interrompidos por Raquel, que anunciou a chegada ao funeral. 12


Assim que entraram no local, dirigiram-se à família do falecido para prestarem-lhes as condolências. Poucos estavam comovidos com a triste perda; ao contrário, mostravam-se descontraídos e risonhos, comiam, bebiam; o evento não era o que aparentava, mais parecia uma festa comemorativa. José Emanuel sentia-se reclinado às atitudes de todos; os costumes dos nobres já não o atraíam; ele realmente começou a ser mais humilde por conta dos problemas financeiros. Raquel ficou muitíssimo emocionada ao aproximar-se do caixão. José Emanuel não entendeu muito bem o motivo de sua mãe ter chorado tanto, e Raquel explicou que o falecido era muito mais que um amigo da família; ele sempre esteve assistindo de todas as maneiras a José Emanuel e a ela. Então, o jovem se aproximou do caixão, tocou as mãos do finado e disse: – Vejo que minha mãe o admirava muito, obrigado! Que Deus tenha misericórdia de sua alma. – O falecido era o discreto chanceler Inácio. Enquanto apanhavam os agasalhos para a despedida do local, José Emanuel e sua mãe foram abordados por Joaquina Xavier, que também não era parenta do falecido; ela o odiava, mas fora ao funeral ainda assim. Joaquina tinha o costume de oferecer suas sobrinhas em casamento; deste modo, por meio de uniões arranjadas, conseguia manter seu nome e sua fama na alta sociedade; da mesma forma, apresentou uma jovem a José Emanuel: – Vossa mercê é um belo jovem, por que não se casa com minha sobrinha? Seria uma boa representante do bom nome de vossa família. 13


– Receio ter de mais uma vez recusar vossa proposta, senhorinha Joaquina – retrucou José Emanuel, como sempre fazia. – Tudo bem, mas deixa-me triste vê-lo em vossa vigorante idade ainda sem contrato de casamento – comentou Joaquina, num tom irônico. José Emanuel não se agradou das palavras da cortesã, pediu licença e se afastou. Raquel ficou a sós com Joaquina, então decidiu contar-lhe todos os acontecimentos. Imaginou que Joaquina se compadeceria em ajudá-la por meio de suas influências e contatos, mas isto não aconteceu. Joaquina fez pouco caso da situação, foi ignorante e desprezou Raquel quando a ouviu. – Senhorinha Joaquina, penso que vossa mercê tem meios de nos ajudar! – exclamou Raquel. – E o que ganharia eu em ajudar-vos, Raquel? – perguntou Joaquina. – Raquel se entristeceu muito com o que acabara de ouvir. – Vossa família está a ponto de perder o reconhecido nome – acrescentou Joaquina. Raquel deitou o olhar e se calou. O sepultamento foi à tarde; dezenas de pessoas circundavam o caixão; o chanceler Inácio era um homem muito importante para a cidade. Durante o retorno para casa, José Emanuel notou que sua mãe estava triste, porém não a questionou. Assim que chegaram, subiu e trocou-se para o jantar. Ao mesmo tempo em que estava preocupado, José Emanuel também estava esperançoso para rever a bela jovem de horas antes. Assim que desceu, foi falar com Emiliano, seu pai, que estava na sacada admirando o céu; abraçou-o fortemente, então Emiliano sussurrou no ouvido de seu filho: 14


– Não se preocupe comigo. Vossa mercê é um bom filho e em pouco tempo ficará em meu lugar na corte; se tornará o novo emissário de Portugal, vai conhecer os reinos vizinhos, talvez a nova terra que Pedro Álvares Cabral encontrou. Seja paciente com sua mãe, ela nunca teve tanto juízo. Ficaremos bem! José Emanuel concordou com seu pobre pai. Enquanto tentou continuar conversando, Emiliano começou a tossir tanto que escarrou sangue; aquilo foi tremendamente pavoroso para José Emanuel, que ficou muito preocupado com seu pai. Os dias se passaram, e Raquel insistiu que Emiliano fosse falar com um médico sobre sua saúde, mas a teimosia em ficar em casa foi maior. Raquel ficou aborrecida e desistiu de pedir. A casa da família de José Emanuel era muito bonita, mobiliada com artigos bem trabalhados e finos, com detalhes dourados, e um conjunto de cortinas de cor creme harmonizava os cômodos. Vasos, jarros e quadros no estilo português traziam elegância para a casa. O local predileto de José Emanuel era o gabinete de seu pai, que durante muitos anos servira à coroa portuguesa como emissário; no entanto, por motivos de saúde, fora afastado do cargo. O jardim em frente às escadas era a fonte de inspiração de Raquel, que pintava belos quadros. A casa tinha dois andares, com janelões azuis. Certa manhã, Raquel saiu para ir à igreja e José Emanuel acordou em seguida, notou que sua mãe havia esquecido o xale e o véu, então se higienizou e foi 15


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