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Ganhadores de lmas



VALDA FOGAÇA

Ganhadores de lmas A CONVOCAÇÃO DOS ESCOLHIDOS

São Paulo - 2018


Copyright © 2018 by Editora Baraúna SE Ltda.

Áthila Pereira Pelá

Capa

Diagramação Editora Baraúna Revisão

Gléssia Veras

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ T272e Fogaça, Valda Os ganhadores de almas 2: a convocação dos escolhidos / Valda Fogaça. - São Paulo : Baraúna, 2018. 200 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-437-0862-1

1. Romance brasileiro. I. Título. 16-30649

CDD: 869.93 CDU: 869.134.3(81)-4

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Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Sete de Abril, 105 – Cj. 4D, 4º andar CEP 01043-000 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


SUMÁRIO

CAPÍTULO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 CAPÍTULO II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 CAPÍTULO III. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 CAPÍTULO IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 CAPÍTULO V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 CAPÍTULO VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 CAPÍTULO VII. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 CAPÍTULO VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163



NOTA DE CONSIDERAÇÕES AO LEITOR “... Espero caro leitor ter lhe esclarecido sobre as religiões na história da humanidade...”

Depois dos episódios que foram relatados envolvendo os personagens da trama, na primeira parte deste livro os que se seguem não se distanciam do que subentende ao tema. “O mundo está de cabeça para baixo”, os valores não caíram apenas no relativismo, receio que estamos vivendo uma nova era ou retrocedemos aos valores apodrecidos. A verdade teológica tão difundida irrefutavelmente submerge nas águas escuras das nascentes do engano. O pior demônio na vida do homem é a ignorância, que lhe causa a cegueira e o emburrica. Em consideração ao leitor farei aqui o uso do eufemismo ao descrever fatos reais vivenciados por protagonistas reais. É claro que irei “salpicar” a trama com algumas fantasias para que você, caro leitor, se lembre, que é você a minha maior preocupação.



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I CAPÍTULO Após Lara finalizar seu trabalho e ter escrito suas considerações ao leitor ela disse no final: “Pronto! Tarefa comprida!”. Disse aliviada, ciente de que havia contribuído, de certo modo, para que o leitor pudesse atentar-se acerca da verdade teológica a ele imposta. Com o livro pronto a escritora toma aprimeira providência quanto a publicação:envia ume-mail ao seu editor. Eles acertam a questão de contrato etc. Feito isso ela se dispõe a tirar uns dias de férias, sabia que um trabalho árduo viria pela frente com a revisão junto com a editora. Nove meses se passaram desde a assinatura do contrato até o dia em que ocorreu o lançamento. Lara mal se aguentava de felicidade. E não era para menos, tratava-se de seu primeiro romance publicado. O lançamento fora um sucesso, realizado no espaço cultural da Associação Nacional de Escritores onde Lara era associada. Sua carreira literária estava deslanchando-se e ela não tinha do quê reclamar; seu livro estava disponível para vendas em e-book também nos idiomas: inglês, francês, espanhol, italiano e sueco, além do português. Lara preparava-se para expô-lo pela primeira vez na feira do livro de Brasília e na III Bienal de


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Brasília. Mediante as expectativas de sucesso ela resolve escrever a segunda parte de seu romance recém lançado, não sabia se iria ser uma trilogia ou uma série. Ocorre-lhe que em seus arquivos existiam vários manuscritos, nos quais havia pelo menos dois romances inacabados e alguns contos. Ela nunca deixara a mania de escrever aleatoriamente, sabia que, de certo modo, em um dado momento, seriam aproveitados. Altas horas de quinta-feira, dia 14 de julho, Lara encontra-se totalmente insone e resolve vasculhar seus arquivos, de repente, ela se fica extasiada, garimpando-os. A escritora deparar-se com uma carta escrita em 2005. Onde? Na Ilha catarinense, onde toda trama de seu livro vindouro tinha sido escrito; para quem a carta? Para seu “anjo fornicador”. Sim! Para o próprio. Nada mais nada menos que o professor João de Souza. Ela não conseguia acreditar como aquilo poderia ser possível. Como que ela podia já ter escrito o que viria ser parte de uma trama a qual nem de longe havia sonhado em escrevê-la? Lara passa os olhos naquela pilha de papéis, e em tudo aquilo existia boa parte da história de sua vida e ela sentiu-se deslumbrada. Por algumas horas ela fica separando papéis, e lendo alguns manuscritos, boa parte desses ela nem se lembrava da existência. Com a garganta e a narina ardendo por causa do pó dos papéis e com os olhos irritados devido a Uveite1 que piorava com o uso demorado das grossas lentes de seus óculos, ainda assim Lara teimava em continuar com o processo de garimpagem. 1

Uveite: inflamação da camada média do olho (úvea).


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Ela lia a carta cujo conteúdo dizia: “Olá Cherry! Como tem passado? Estimo a você e sua família muitas felicidades, que todos seus projetos sejam realizados. Fiquei muito contente por você ter passado no concurso do MEC. E mais contente ainda porque você pode conciliar o seu cargo de professor com a nova função que tu irás ocupar. Você é uma pessoa adorável, Cherry! É também muito batalhador e merece, de fato, ter uma vida com mais conforto. Eu procuro apagar de minhas lembranças a penúria que você vivia quando lhe conheci; era de dar pena. Uma cena que eu recordo e me emociono muito, a que, quando íamos à casa da Adê e você comia aqueles salgadinhos que ela nos servia com tanto apetite, o qual denunciava a fome que sentia naquele momento, pois você na ocasião, passava o dia na faculdade e pouco ou quase nada se alimentava. Partia-me o coração. Na ocasião você estudava pedagogia na Universidade de Brasília todos os sábados pela manhã, e a tarde estudava filosofia... Bem, isto é passado! O importante é que você deu a volta por cima, isso é o que importa agora. Cuide-se meu querido! Não deixes que o capitalismo o escravize, lhe transformando numa máquina de fazer dinheiro; não te esqueças que desta vida nada levamos, portanto, convenhamos que vivamos felizes cada minuto de nossas vidas. Receio que você possa ir à exaustão trabalhando em dois empregos. Não trabalhe mais que doze horas diária! Caso contrário não irá aguentar por muito tempo. Bem, sobre mim, estou levando uma vida que me aproxima de minhas perspectivas. Estou fazendo...


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Entre meio à avalanche de anotações em seu arquivo, Lara encontra uma que chamou a sua atenção, e ela interrompe a leitura da carta que acabara de achar entre milhares de anotações. A anotação referida dizia o seguinte: “Hoje dia 12/09/2007, 21h, 29m, 41s. Através de um telefonema que durou, precisamente, 26s, feito do número 3361-6002, provavelmente de um telefone público ou da escola... Claudio rompeu nosso relacionamento. Sucede que, havíamos tido uma briguinha depois que fizemos amor... Um pouco antes do telefonema dele eu recebi um telefonema da Isabel sugerindo que eu confessasse que eu teria telefonado para a Vera Lucia. É claro que neguei sumariamente. Eu havia dito-lhe que iria romper com Claudio. Fora uma decisão dissimulada, mas o tiro saiu pela culatra; o filho da mãe foi quem rompeu comigo. Mesmo que este rompimento acabe em pizza, não deixa de ser desagradável...” Aquelas lembranças do passado surgem desenfreadamente e Lara sente-se enojada. Ela faz a seguinte reflexão: como uma mulher igual a ela pôde ter vivido situações como aquelas? Ela não entendia. Num ímpeto de revolta sentiu vontade de por fogo naqueles papéis. Ali estava uma pequena parte da história de sua vida, nada que pudesse lhe dar orgulho, pelo contrário, mas acontece que a sua consciência lhe apontava como feitora daquela história, como executora de seus atos; e como um demônio implacável a sua consciência lhe atormentava. Nove anos tinham se passado, muitas coisas haviam mudado, e naquele contexto pouca coisa permaneceu imutável, porém, sujeita as mudanças do tempo que estava por vir.


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Debruçada sobre a pilha de anotações Lara abre as comportas de suas lembranças e recorda vivamente uma cena que ocorrera numa certa manhã... Como que guiados, seus dedos depararam com uma anotação que de início parecia uma carta, mas que poderia ser mais um de seus desabafos. Ela tinha o hábito de escrever o que desejava dizer a alguém, redigia em forma de carta ou simplesmente como relato. Já havia escrito dois diários, mas seus filhos violaram sua privacidade por esta razão ela fazia anotações aleatórias. Com a folha de papel ofício na mão contendo a tal anotação, Lara leu o conteúdo com certo enfado: “Querido Claudio, sem querer, a princípio, magoar seus sentimentos, peço desde já, perdão pela decisão que acabo de tomar...” Uma pausa foi necessária para que Lara pudesse prosseguir. “... após muitas orações conclui que o melhor para nós (eu, você, Isabel e as Veras e outras tantas (sobre as“Veras” Lara referia a Vera número 1 e anúmero 2; a 1 o professor conhecera antes da escritora, tratava-se de uma aluna dele que na ocasião, também era casada e tiveram um caso. Ele, a esposa e a Vera 1 foram amantes por três anos; a suruba corria solta, a Vera 2 ele a conheceu depois de Lara)é que devo sair de sua vida. É justo que penso em mim, principalmente... Sou grata por esses anos que esteve ao meu lado. Fostes para mim um “anjo virtuoso” que meu Deus me enviou nos momentos de agrura; portanto, agradeço-te, imensamente, por quase uma década de dedicação e carinho que tivestes por mim. Sempre me


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ajudando dentro de suas possibilidades. Embora, com o coração partido, sou forçada tomar esta decisão. Saí de sua vida com dignidade, respeitando sua escolha e, por fim, sepultar esse relacionamento que há um ano agoniza e agora dá seu último suspiro é a decisão mais sensata que devo tomar. Seja feliz na sua escolha! Meus sinceros votos. Brasília 12/09/07 Lara Ferraz. Aquela situação que Lara vivera no passado havia muito lhe aborrecido. Ela não conseguia acreditar que foi capaz de viver tudo aquilo, e fora tomada por uma sensação estranha de esvaziamento; agora ela se sentia completamente esvaziada. Sobre a montanha de papéis que formava seu arquivo Lara se lembrava de todos aqueles anos. Ela recorda que naquela ocasião, rotineiramente, no final do expediente, o professor voltava para casa, vendo-se como emergido, asfixiado, de um mundo subterrâneo onde as leis do espaço e do tempo haviam deixado de vigorar; finalmente ia parar, no fim do espetáculo diário. Por fim, exausto ao ponto de abandonar a esperança, rendia-se à lógica da sua loucura e saia arbitrariamente ao encontro daquela que ele havia escolhido para seu deleite. Na ocasião, ela morava nas mediações de sua residência, não havia necessidade dele desviar seu percurso do trabalho para casa, só teria dar uma paradinha no meio do percurso em busca da quimera felicidade e só depois, bem mais tarde, finalmente jogaria seu corpo craquelado no grosso


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colchão de mola e deixaria afundar-se no aconchego. Isso seria possível? Tudo dependia da disposição da esposa, pois esta estava sempre a cobrar-lhe direitos, os quais ela não estaria disposta em abrir mão. Lá para as tantas é que poderia descansar-se, finalmente. Ele reservava uma ou duas vezes por semana para ligar para Lara, mas, quase sempre uma; seus encontros variavam: uma vez por semana ou duas vezes por mês. Podia, raramente, serem mais vezes. Lara já não lhe cobrava mais nada, deixava as coisas acontecerem naturalmente, ela queria que ele viesse atrás dela, não ela mendigar seu amor. Naqueles dias o professor ia à sua casa, mas a sua estada era breve duas ou três horas no máximo. Os passeios a dois haviam se tornado raros, e quando ele partia uma exclamação de amargura ela deixava escapar dos lábios acompanhada de um suspiro em que se misturava a incredulidade, a alegria e um estranho ressentimento. Em seguida caia-se de joelho na solidão de sua casa absorvendo todo ar existente e deixando-se ser absorvida pela luz ectoplásmica que atravessava as vidraças rígidas e frias de sua casa. Ela recorda que na ocasião as suas duas filhas já tinham se casado e seu único filho (filho do ex-marido, o libanês) estava também tomando rumo na vida. Aos 15 anos ele estudava e trabalhava. Todos os dias ele levantava-se às 05h30 da matina, e ia para lida; trabalhava nas empresas da irmã mais nova. De segunda a sexta ele tinha o compromisso de abrir uma das lojas às 07h30 da manhã, mas antes teria que dar uma arrumadinha, e só então, lá por volta das 08 horas é que ele ia para escola


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