Ensino de Ciências e Biologia

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Org. Magda Medhat Pechliye


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Magda Medhat Pechliye e Editora Baraúna

Capa

Diagramação Editora Baraúna Revisão

Editora Baraúna

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Andreia de Almeida CRB-8/7889

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Ensino de ciências e biologia : a construção de conhecimentos a partir de sequências didáticas / organização de Magda Medhat Pechliye. -– São Paulo : Ed. Baraúna, 2018.

168 p.

ISBN: 978-85-437-0877-5 Bibliografia 1. Biologia – Estudo e ensino 2. Ciências – Estudo e ensino I. Título II. Pechliye, Magda Medhat 18-1014 CDD 570

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Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Sete de Abril, 105 – Cj. 4C, 4º andar CEP 01043-000 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


PREFÁCIO

“Pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamentalmente pensar certo – é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, não porque pensar certo seja forma própria de pensar de santos e de anjos e a que nós arrogantemente aspirássemos. É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temos de exercer sobre nós próprios para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências grosseiras.”

Paulo Freire [1], em seu Pedagogia da Autonomia, sintetiza, nas palavras entre as aspas acima, aquilo que tem sido um desafio cotidiano em minha carreira docente: criar com os outros as oportunidades educativas, sejam esses colegas docentes ou estudantes. Após receber o convite para prefaciar esta obra, impossível não buscar na memória e transpor para cá essas considerações iniciais. A sua organizadora, Magda Medhat Pechliye, tem sido durante os últimos onze anos


uma grande parceira na criação dessas oportunidades educativas no curso de Ciências Biológicas, particularmente na Licenciatura, em uma perspectiva de criação com (e não para) estudantes. Aqui teremos a clara representação do que consiste “criar com”: as sequências didáticas que serão apresentadas ao leitor, propostas pelas biólogas licenciadas Bárbara, Fernanda e Luana – com as quais também tive o prazer de viver a experiência da relação pedagógica, foram fruto do trabalho em parceria delas com a Magda. Uma parceria que se construiu em semestres acadêmicos de apostas comuns, objetivos compartilhados e muitas aprendizagens. Se assim não fosse, não teríamos a riqueza de propostas trazidas em cada uma das sequências didáticas. Ficará evidente, no transcorrer das páginas, que este livro não é um manual didático, mas sim uma oportunidade de reflexão sobre novas possibilidades para o ensino de biologia, pois nossos pensamentos vão longe impulsionados pelas ideias desenvolvidas pelas autoras, principalmente nas preocupações com o investimento na interdisciplinaridade. Ao mesmo tempo, as sugestões metodológicas certamente guardarão relação com os cotidianos escolares, permitindo a adoção de boa parte das propostas, se assim desejar o leitor. O zelo da obra quanto aos conhecimentos prévios dos sujeitos que aprendem remeteu-me a David Ausubel [2], propositor da “Aprendizagem Significativa”, quando este afirmou que se fosse necessário reduzir


toda a Psicologia da Educação a um único princípio, ele formularia este: “o fator de maior influência na aprendizagem consiste no que o aluno já sabe. Certifique-se disso e ensine-o adequadamente”. Indo além, em cada sequência didática ficará delineada uma “teia didática” – termo sugerido na própria obra para alertar o leitor a não nutrir compreensões lineares das propostas, pois nelas se destacará acima de tudo o convite à flexibilização dos conteúdos, para que conceitos estanques nunca sejam entendidos como linhas mestras dessas teias. E foi assim, pensando em teias, em interdisciplinaridade, que rememorei quando Edgar Morin [3], partindo da frase de Montaigne “mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia”, explicou: “O significado de ‘uma cabeça bem cheia’ é óbvio: é uma cabeça onde o saber é acumulado, empilhado, e não dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê sentido. ‘Uma cabeça bem-feita’ significa que, em vez de acumular o saber, é mais importante dispor ao mesmo tempo de: uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas; princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.”

É exatamente isso que este livro inspira: a valorização da autonomia intelectual do sujeito que aprende, que constrói novos conhecimentos, o que nos chama a objetivar ações educativas comprometidas com a sua aprendizagem significativa.


De minha parte, após o privilégio de poder ter feito esta leitura antes do prelo, preciso registrar o quanto me senti honrado pela oportunidade de redigir essas linhas sobre uma produção tão cheia de significados: do “criar com” ao contribuir para a ampliação das oportunidades de aprendizagens em Ciências Biológicas. Adriano Monteiro de Castro

1  Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 2  Educational Psychology, a cognitive view. N. York: Holt, Rinhart & Winston, 1968. 3  A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................. 11 CAPÍTULO 1 SOBRE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS .................. 15 CAPÍTULO 2 O SISTEMA CIRCULATÓRIO E SUAS ALTERAÇÕES EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA ............................................ 27 CAPÍTULO 3 OS CONHECIMENTOS BOTÂNICOS A PARTIR DA HISTÓRIA DA DOMESTICAÇÃO DO MILHO ........................................................ 71 CAPÍTULO 4 HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO ENSINO DO SISTEMA CIRCULATÓRIO ....................... 127 CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS SEQUÊNCIAS .................................................... 159



INTRODUÇÃO

O livro “Ensino de Ciências e Biologia: a construção de conhecimentos a partir de sequências didáticas” foi construído com base em sequências didáticas produzidas na disciplina Projetos Educacionais para o Ensino de Ciências e Biologia, em um curso de formação inicial de professores na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Essas sequências foram revistas e utilizadas, como parte, nos trabalhos de conclusão de curso (TCC) de três orientandas. O objetivo deste livro é propor ideias e alternativas para professores de Ciências e Biologia. Algumas considerações são muito importantes: as sequências não devem ser vistas como receitas prontas; são apenas sugestões que podem ser utilizadas por cada professor, por isso o docente pode optar por escolher uma aula, um bloco de aulas, a sequência como um todo ou, ainda, modificar as sequências conforme suas necessidades e realidade. Nesse sentido, os docentes devem levar em conta alguns pressupostos: devem refletir sobre suas concepções de ciência, de ensino e de aprendizagem e sobre suas Ensino de ciências e biologia  11


práticas; necessitam incluir os discentes como indivíduos ativos que fazem parte do processo de ensino e de aprendizagem; precisam valorizar a contextualização e evitar, ao máximo, a fragmentação dos conteúdos; necessitam selecionar conteúdos socialmente relevantes e que façam sentido e compartilhar conteúdos, procedimentos, atitudes, vivências, experiências etc. com seus pares. A obra está dividida da seguinte forma: Capítulo 1 – breve contextualização sobre o processo de ensino e de aprendizagem; o que são sequências didáticas. Capítulo 2 – a sequência “O sistema circulatório e suas alterações em função da atividade fisica”, de Fernanda Beraldo Lorena, tem como objetivo principal integrar as disciplinas de Biologia e Educação Física a partir da fisiologia do exercício. Capítulo 3 – o objetivo da segunda sequência, de Bárbara Fernandes Mellado, “os conhecimentos botânicos a partir da história da domesticação do milho”, é propor atividades visando ao ensino de botânica de maneira não fragmentada e contextualizada, relacionando-a ainda com aspectos sociais e culturais, além dos biológicos. Capítulo 4 – Luana Beatriz Xavier Nunes, com a sequência “História da Ciência no ensino do Sistema Circulatório”, tem como objetivos conhecer o sistema circulatório de modo integrado e contextualizado; relacionar sistema circulatório e problemas em seu funcionamento; reconhecer e perceber as influências sociais e históricas nas transformações dos conhecimentos científicos referentes ao sistema circulatório. 12  Ensino de ciências e biologia


As três sequências apresentadas podem ser utilizadas tanto no ensino fundamental II (Ciências) quanto no ensino médio (Biologia). Imaginamos, em média, entre 30 e 40 alunos por sala, sendo que o ensino pode ser público ou privado. Temos consciência de que as estruturas escolares em nosso país são extremamente diversas e que nem sempre laboratórios, salas de informática, quadras, anfiteatros, entre outros espaços, estão presentes ou em condições de uso, por isso entendemos que nossas propostas devem sofrer as adequações necessárias conforme cada realidade escolar. As sequências didáticas dos capítulos 2, 3 e 4 têm como estrutura básica: •  problematização (questão) que norteia a sequência; •  justificativa; •  objetivos: gerais e específicos; •  conteúdos a serem trabalhados; •  sequência didática propriamente dita entre 14 e 16 aulas. Essa sequência inclui os recursos materiais e um cronograma; •  produto final integrador; •  avaliação que leva em conta o processo; •  referências bibliográficas. O capítulo 5 traz comentários, considerações e reflexões sobre as sequências didáticas apresentadas.

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CAPÍTULO 1 SOBRE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS Magda Medhat Pechliye

O processo de ensino e de aprendizagem e as sequências didáticas Muito se fala sobre educação, e assim como para vários assuntos temos definições de senso comum e definições chanceladas pela ciência, ambas válidas, só que cada uma em seu domínio. Para o senso comum, mudar procedimentos seria o bastante para melhorar a educação; no entanto, apesar das mudanças de métodos e técnicas serem importantes, elas não eximem a reflexão sobre concepções como ciência, ensino, aprendizagem, entre outros. Uma das formas de refletirmos sobre as concepções de ciência, ensino e aprendizagem é entendermos que esses temas complexos são construídos e mudam ao longo do tempo. Nesse sentido, apresentamos três epistemologias: a empirista, a inatista e a interacionista. Falar em epistemologia é trazer à tona a origem dos conhecimentos, ou seja, como o conhecimento é entendido em cada contexto histórico cultural. Ensino de ciências e biologia  15


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