(livro 1) piparotes e o casulo de pedra vol1 15

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Ubiratan Nataribu

O locus do PiParotes Logos e o casulo volume 1de pedra

SĂŁo Paulo - 2016


Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Jacilene Moraes

Capa

Diagramação Felippe Scagion Revisão

Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

N227L

Nataribu, Ubiratan O locus do logos : piparotes e o casulo de pedra / Ubiratan Nataribu. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. ISBN 978-85-437-0527-9 1. Ficção brasileira. I. Título. 16-36175

CDD: 869.3 CDU: 821.134.3(81)-3

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Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.editorabarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (I Coríntios 10:31).



Sumário

DE QUEM ESCREVEU PARA QUEM VAI LER........... 9 PENSAMENTOS................................................................. 12 PENSAMENTOS PASSADOS.......................................... 18 PENSAMENTOS FUTUROS............................................ 21 AÇÕES NO PRESENTE.................................................... 23 PRIMEIROS SINAIS........................................................... 40 VAMOS ÀS COMPRAS!...................................................... 97 CONFLITOS........................................................................ 115 DECISÕES........................................................................... 122 NOVAS IDEIAS.................................................................. 134 MAIS IDEIAS...................................................................... 146 PRIMEIRAS AÇÕES......................................................... 181 O CASULO DE PEDRA.................................................... 197 NOTÍCIAS AO VIVO........................................................... 207 A FUGA................................................................................ 217 CONVERSA A QUATRO................................................... 239 PAUSA.................................................................................. 263


SEPARAÇÃO...................................................................... 270 ROTINA................................................................................ 276 A JUVENTUDE CHEGOU.............................................. 280 DOIS MUNDOS SE CONHECEM.................................. 283 NOVA ROTINA................................................................... 299 REVELAÇÕES................................................................... 304 NOVA ROTINA II............................................................... 349 NOVA SEPARAÇÃO?....................................................... 352 A VELHICE CHEGOU...................................................... 355 A SUCESSÃO...................................................................... 357 A PIOR SEPARAÇÃO....................................................... 363 O QUE VAI SAIR DO CASULO?..................................... 381 FIM....................................................................................... 385 DE QUEM ESCREVEU PARA QUEM LEU............... 388 PERSONAGENS DO LIVRO, POR ORDEM DE CITAÇÃO................................................................................. 390 LINHA DO TEMPO........................................................... 394


DE QUEM ESCREVEU PARA QUEM VAI LER

O que você lerá é uma obra de ficção, cujo tema principal é sobre o que o ser humano pode fazer para melhorar enquanto grupo, e o motivo para isso é a quase extinção da humanidade, por causa de uma guerra. Parafraseando José Dias, personagem de Machado de Assis em “Dom Casmurro”, não se trata de tema originalíssimo. Em 1991, nos Estados Unidos, foi criado o projeto Biosfera 21: em uma espécie de redoma, um grupo de pesquisadores passou a viver completamente isolado do meio exterior, como se estivesse na Lua ou em outro planeta. Eles mesmos teriam que plantar, colher, preparar os alimentos, reciclar os dejetos e o ar somente com o que http://super.abril.com.br/ideias/biosfera-2-ascensao-e-queda-de-uma-utopia-verde. Acesso em 21/10/2015. 1

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dispunham nessa redoma. Além disso, também haveria o modo de administrar a Biosfera. A experiência fracassou em questões cruciais, como a quantidade de gás carbônico excessiva e a redução preocupante do oxigênio; também houve problemas de relacionamento entre liderança e liderados; os cientistas não conseguiram produzir alimentos e tiveram fome — mas o emagrecimento é um ponto positivo. Houve uso abundante de tecnologia, que a matéria, publicada na revista Superinteressante, aborda, justificando a sua leitura. No caso do “Casulo” deste livro, o isolamento completo de um grupo de pessoas não permite esses tipos de falhas porque a Terra, devastada pela guerra, na prática tornou-se um outro planeta. O filme “A Colônia” (The Colony)2 mostra, nas suas primeiras imagens, um grupo de pessoas tendo que produzir seu próprio alimento em um abrigo subterrâneo, por causa de uma nova Idade do Gelo. Além do problema da fome, os relacionamentos humanos também são conflituosos, por causa de doenças que matam os habitantes desse lugar. Outro filme, “Expresso do Amanhã” (Snowpiercer)3, além de abordar a conflituosa convivência humana em um trem que nunca pode parar, também trata da sucessão da liderança. Nesses dois casos, predominam os adultos. Já em “Piparotes e o casulo de pedra”, poucos adultos cuidam http://www.adorocinema.com/filmes/filme-123530/. Acesso em 21/10/2015. 3 http://www.adorocinema.com/filmes/filme-203596/. Acesso em 21/10/2015. 2

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de um grupo de crianças, e a partir daí surge a chance de educá-las em outras bases, como se fosse possível que, assim, o ser humano melhorasse. Não é uma discussão nova, mas a partir desse ponto cada um poderá imaginar o que faria se estivesse no lugar dos adultos. Como qualquer leitura é proveitosa, que a leitura desse livro também faça esse efeito.

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PENSAMENTOS

Faltando uma hora e meia para o almoço, o carro circulava praticamente sozinho pela estrada, como se fosse um feriado. Dentro dele, o motorista dirigia como que olhando para o nada, enquanto a passageira, atrás dele, olhava diretamente para o banco da frente, assistindo a uma apresentação musical de uma banda. O veículo, de linhas que já começavam a ser consideradas ultrapassadas, era artificialmente pesado: havia sido produzido de maneira artesanal, e a lataria continha metal de outros vinte e cinco veículos; no interior da carcaça, muitas e diminutas cânulas faziam circular água em diferentes velocidades, com o objetivo de garantir a temperatura ideal quando o veículo estivesse em movimento. Por baixo, duas bolsas cheias com gás hélio ajudavam o veículo a reduzir o peso, melhorando o rendimento do

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motor e economizando combustível nos deslocamentos, embora isso não fosse importante para a sua proprietária. Não chamaria a atenção apenas pelo aspecto, mas também quando se sabiam coisas como essa, e muito mais quando se sabia que o motorista do veículo era cego. O veículo utilizava a ecolocalização para andar, era um verdadeiro “morcego sobre rodas”. A banda tocava uma música que era na maior parte instrumental, e quando o vocalista começou a cantar a passageira acompanhou, inicialmente apenas balbuciando, mas logo cantando em voz alta, um hábito que não conseguia — ou não queria — deixar: Não quero que reflita em meu rosto Sombras, cinzas, impurezas desse ar Olho o céu e o vejo mais escuro Quero vê-lo brilhar Como os raios coloridos deste sol Essa liberdade, que nunca chega De portas trancadas, preciso sair Eu quero sentar num banco de um jardim. Pensando em poder achar um mundo assim Com flores astrais ao redor de mim Quero um vale verde pra que eu Possa respirar, enfim4. — Esse não é o tipo de música que gostamos, não é? http://www.vagalume.com.br/casa-das-maquinas/vale-verde.html. Acesso em 21/10/2015. 4

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— Concordo, senhora, mas a letra é bonita. E pensou que o que mais gostava naquela banda era do baterista. Depois de ouvir a música, ela passou a folhear um jornal, não muito atenta, já que dividia a atenção com a paisagem; nos dois casos, estava atrás de novidades. Quando leu uma manchete que chamou sua atenção, deu um piparote no ombro do motorista, e já estendendo a mão ao lado do seu ombro direito, perguntou: — Salvador, tem uma bala de café? — Não, senhora, mas tenho de hortelã, aceita? — Aceito, sim, muito obrigada. Por que não me chama apenas de Sofia, Salvador? — Como será respeitada se o próprio motorista lhe chamar assim, de uma maneira tão íntima? — E é isso que fará as pessoas me respeitarem? — Achei a bala, quer apenas uma? Sim, o tratamento respeitoso induz outros a fazerem o mesmo. — É para rir, Salvador. O máximo que pode acontecer é que as pessoas interpretem um papel na minha frente. Quer saber como estou certa? Entre no banheiro da Companhia, fique quieto em uma das cabines e ouça as conversas. Pelo menos o que os homens realmente pensam de mim você saberá. Para saber das mulheres, não sei o que você precisaria fazer... Quem sabe sentado sozinho no refeitório, ao lado de um grupo de mulheres falantes? — Senhora, nem uma coisa nem outra. — Alguma escuta que nunca me contou? Um gravador na caneta? 14 - Ubiratan Nataribu


— Meus ouvidos, não se lembra que sou cego? — Mecanismo de compensação, como é que sempre me esqueço? — Acho que é porque me considera uma pessoa normal. — Devolvo o elogio com outro: você não é normal, é especial. Você me elogiou, não foi? — Para a senhora, eu só tenho elogios. — Muito obrigada, Salvador, pela bala e pela conversa agradável. Bem, fui citada em um artigo no jornal, quer ouvi-lo? — Certamente. Se o texto não for agradável, sua voz pelo menos será. — Gracias. Preparando-se para a leitura, colocou a bala de hortelã dentro da bolsa, que foi deixada de lado, tirou os calçados, aprumou a coluna da maneira mais correta possível e começou a ler, em voz alta: DEFINI SOFIA RAQUEL (Guttenberg Sottero) Que ela é a mulher mais conhecida do país, ninguém duvida; está na mídia, querendo ou não, e em pesquisas de opinião é a preferida para chefe, esposa, presidente da república, como companhia numa ilha deserta; o que ela diz ou faz repercute ad infinitum. Dizer “conversei com Sofia Raquel!” parece que vale mais do que ganhar prêmio de loteria. Faltava falar mais alguma coisa dela, defini-la? Eu achava que não, mas mudei de ideia. O locus do Logos PiParotes e o casulo de pedra - 15


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