a sociedade industrial e seu futuro
a sociedade industrial e seu futuro
THEODORE J. KACZYNSKI Apresentação e Apêndice por Último Reducto
Tradução de Rui C. Mayer
São Paulo 2015
Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda
Criação de Capa
Jacilene Moraes
Diagramação
Aline Benitez
Revisão Textual
Priscila Loiola
Revisão da Tradução
Gonzalo García Gómez
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ K13s Kaczynski, Theodore J. A sociedade industrial e seu futuro/Theodore J. Kaczynski; tradução Rui C. Mayer. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014. Tradução de: Industrial society and its future ISBN 978-85-437-0127-1 1. Ensaio americano. I. Título. 14-18504 CDD: 814 CDU: 821.111(73)-4 ________________________________________________________________ 09/12/2014 09/12/2014 Impresso no Brasil Printed in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br
Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Prólogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 A Sociedade Industrial e Seu Futuro. . . . . . . . . . . . . . 25 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Psicologia do Esquerdismo Moderno. . . . . . . . Sentimentos de Inferioridade . . . . . . . . . . . . . . . Sobressocialização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Processo de Poder. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Atividades Substitutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Autonomia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Causas dos Problemas Sociais. . . . . . . . . . . . . . . Perturbações do Processo de Poder na Sociedade Moderna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Como Algumas Pessoas se Adaptam. . . . . . . . . . Os Motivos dos Cientistas . . . . . . . . . . . . . . . . . A Natureza da Liberdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Alguns Princípios Acerca da História . . . . . . . . .
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A Sociedade Tecnoindustrial Não Pode Ser Reformada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 A Restrição da Liberdade É Inevitável na Sociedade Industrial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 As Partes “Más” da Tecnologia Não Podem Ser Separadas das Partes “Boas”. . . 106 A Tecnologia É uma Tendência Social Mais Poderosa que o Desejo de Liberdade. . . . . 109 Os Mais Simples Problemas Sociais Têm-se Demonstrado Insolúveis. . . . . . . . . . . . 119 A Revolução É Mais Fácil que a Reforma. . . . . 121 O Controle do Comportamento Humano. . . . 123 A Humanidade numa Encruzilhada . . . . . . . . . 137 O Sofrimento Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 O Futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 A Estratégia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 Os Dois Tipos de Tecnologia . . . . . . . . . . . . . . 171 O Perigo do Esquerdismo. . . . . . . . . . . . . . . . . 174 Nota Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 Notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190 Posfácio ao Manifesto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213 Nota sobre o Manifesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Apresentação A Sociedade Industrial e Seu Futuro, também conhecida como O Manifesto Unabomber, é uma das mais famosas argumentações contra a tecnologia moderna e o sistema social acarretado por ela. Tal popularidade, entretanto, deve-se antes, lamentavelmente, à forma como essa obra se tornou conhecida (mediante um ultimato antecedido por uma longa campanha de ataques terroristas) e às circunstâncias que se seguiram à sua publicação (os desdobramentos midiáticos em torno da prisão daquele que se supunha que fosse o único membro do grupo Freedom Club: Theodore John Kaczynski1) que 1 Theodore John (Ted) Kaczynski é um prisioneiro estadunidense. Nascido em 1942, na cidade de Chicago, Ted Kaczynski graduou-se na Universidade Harvard, obteve o título de PhD em matemática pela Universidade de Michigan e lecionou na Universidade da Califórnia (campus Berkeley). Depois disso, mudou-se para Montana, onde procurou levar uma vida de afastamento, simplicida7
a uma verdadeira compreensão, da parte do público em geral, das ideias expressas nessa obra. O que a maioria daqueles que conhecem a existência desse manifesto sabe é, única ou principalmente, que foi escrito por um doutor em matemática pela Universidade de Michigan, o qual se supunha que enviasse bombas, e que vivia sozinho em uma cabana na floresta. Ou seja, pouca gente realmente conhece ou recorda o conteúdo dessa obra. E, no entanto, é justamente esse conteúdo que faz dela particularmente interessante e digna de ser considerada. Quais são as características mais notáveis que fazem com que essa obra mereça ser lida e levada em consideração por aqueles que estão interessados no problema provocado pelo desenvolvimento tecnológico? Os principais aspectos que fazem essa obra merecer uma consideração especial são: — O enfoque com que o problema da tecnologia moderna é tratado em A Sociedade Industrial e Seu Futuro, em muitos aspectos, é diferente ou até mesmo incompatível com os enfoques de outras obras e discursos de e autossuficiência. Considerado pelo FBI como um “terrorista doméstico” (nos EUA, qualquer indivíduo ou grupo “terrorista” nativo ou ali estabelecido), e chamado “The Unabomber” (um acrônimo para University and airline bomber), Ted Kaczynski foi investigado, detido e condenado à prisão perpétua, acusado de enviar pacotes-bomba que resultaram na morte de três pessoas e ferimentos em outras 23. Ted Kaczynski passou a cumprir essa sentença, sem possibilidade de liberdade condicional, em uma prisão de segurança máxima, no Colorado. [N.T.] 8
supostamente críticos da sociedade tecnoindustrial. A maioria das críticas à tecnologia moderna ou bem não chega, no fundo, a tomar realmente uma posição contrária a tal tipo de tecnologia e ao modelo de sociedade inevitavelmente acarretado por ela, ou então são baseadas em pressupostos errôneos que as tornam ineficazes ao se tratar de combater seriamente a sociedade tecnoindustrial. Ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Um exemplo das primeiras, o temos no discurso de certos filósofos e intelectuais supostamente radicais que, apesar de reconhecer e denunciar que a tecnologia moderna é incontrolável, e que ela inevitavelmente causa graves transtornos à sociedade e ao mundo natural, sequer se prestam a levar suas próprias análises e críticas às últimas consequências, e se detêm em propor tímidas reformas ou simplesmente se calam acerca do que fazer. Um exemplo das segundas estaria constituído por grande parte do chamado movimento primitivista, em que muitos de seus membros, apesar de odiarem real e sinceramente a sociedade tecnoindustrial, adotam valores e ideais que, na realidade, são próprios dessa sociedade moderna que pretendem estar a combater (e, em especial, adotam valores e ideais próprios do esquerdismo). Com isso, tombam em cheio numa das principais armadilhas que a sociedade tecnoindustrial utiliza para defender-se das críticas e das correntes que, de outro modo, poderiam chegar a ser potencialmente perigosas para ela: o descontentamento, legítimo e genuíno, é aliviado através de atividades de protesto e reivindicações estereotipadas, fúteis, inócuas ou até mesmo úteis para a sociedade tec9
noindustrial, apesar de que aqueles que as praticam acreditarem que estão a afrontá-la. Já em outro exemplo, para as terceiras, temos o caso de certas correntes críticas autodenominadas “anti-industriais”, descendentes diretas de outras correntes históricas centradas na crítica social e política (marxismo e anarquismo). Essas correntes “anti-industriais”, apesar de seu nome, não se baseiam em valores incompatíveis com os da sociedade tecnoindustrial. Para essas correntes, bem como para suas antecessoras, o problema principal é a falta de democracia, a dominação capitalista ou a opressão do Estado, e não chegam jamais a defender a eliminação total da tecnologia moderna em si. Assim é que, em A Sociedade Industrial e Seu Futuro, não se encontrarão as banais alusões contrárias à competitividade, ao individualismo, à falta de solidariedade, à discriminação, à repressão estatal, ao poder, ao capital, etc., tão típicas de praticamente todos os discursos supostamente críticos da sociedade atual. Ao contrário, A Sociedade Industrial e Seu Futuro centra-se em expor, de maneira desapaixonada e objetiva, o modo pelo qual o desenvolvimento tecnológico interfere negativamente e de uma forma inevitável na livre expressão da verdadeira natureza humana. Além disso, nessa obra, mostra-se frequentemente como essa interferência por vezes consiste, precisamente, no impedimento da tendência humana natural para praticar, por exemplo, certas formas de poder ou de discriminação numa escala individual ou em pequenos grupos.
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Sua conclusão também é clara e convincente: a tecnologia moderna, e, com ela, a sociedade tecnoindustrial devem ser destruídas. — Numa estreita relação com o que foi antes exposto, outro dos atrativos dessa obra é a advertência quanto ao perigo expressado pelo esquerdismo para qualquer corrente ou movimento que realmente pretenda combater a sociedade tecnoindustrial. — Outra parte importante dessa obra é aquela dedicada à argumentação sobre por que se há de desprezar e rechaçar os intentos de se reformar a sociedade tecnoindustrial; por que se há de deixar de lado as tentativas de manter o desenvolvimento tecnológico sob controle e dentro de certos limites; e por que não se há de esboçar nem tentar alcançar modelos alternativos de sociedade que substituam a sociedade tecnoindustrial. — Igualmente importante é a exposição que nessa obra se faz de uma tendência e necessidade psicológica humana fundamental: o processo de poder. Boa parte de A Sociedade Industrial e Seu Futuro trata dos sintomas que produzem as perturbações no desenvolvimento desse processo e de como a sociedade tecnoindustrial inevitavelmente afeta o processo de poder dos indivíduos. E as ideias dessa parte são fundamentais para se entender corretamente o restante da obra (por exemplo, em que consiste a verdadeira liberdade humana, o que realmente é o esquerdismo, por que a 11
tecnologia moderna inevitavelmente interfere na liberdade humana, etc.). Todos esses aspectos dessa obra se encaixam e se entrelaçam, dando lugar, no geral, a um conjunto sobremaneira consistente e firme, que serve para montar a base teórica de um dos discursos mais contundentes e lúcidos jamais empunhados contra a tecnologia moderna. Ao mesmo tempo, deve-se ressaltar que A Sociedade Industrial e Seu Futuro não é a única obra de Ted Kaczynski.2 Muitas das ideias de A Sociedade Industrial e Seu Futuro, ali apresentadas de uma forma básica, são desenvolvidas com muito mais profundidade em vários artigos escritos posteriormente por Kaczynski. É de se lamentar 2 Aqui vai uma ressalva: existem alguns textos que estão sendo falsamente atribuídos a Ted Kaczynski, apesar de não ser ele o seu verdadeiro autor. Esses textos são obra de esquerdistas oportunistas e desleixados, que colocam na boca de Kaczynski discursos que nada têm a ver com as verdadeiras ideias desse autor. Por isso, pedimos prudência aos leitores se, em algum momento, se depararem com algum texto assim — aparentemente subscrito por Kaczynski —, cuja publicação não tiver sido expressamente autorizada pelo autor, que não apresente uma posição clara e explícita em contrário ao sistema tecnondustrial, que use uma linguagem descuidada, grosseira e/ou carregada de termos típicos da linguagem esquerdista (“capitalismo”, “patriarcado”, etc.) e se centre na análise dos assuntos triviais próprios da temática oposicionista e “radical” (críticas ao capital, a este ou àquele político ou governo, ao sexismo, à homofobia, ao Estado, etc.). Em tais casos, muito provavelmente, estarão diante de textos espúrios. 12
que muitos desses artigos ainda não se encontram traduzidos e publicados em português.3 A tudo isso vale acrescentar, finalmente, que A Sociedade Industrial e Seu Futuro está escrita em um estilo sóbrio e conciso, o que torna a sua leitura e compreensão relativamente fáceis, sem que se perca por isso a sua seriedade e a sua profundidade. Último Reducto4 — 2013
3 Uma parte desses textos foi compilada no livro Technological Slavery, Feral House, 2010. 4 “Último Reducto” é um pseudônimo do tradutor autorizado dos escritos de Ted Kaczynski para o espanhol e um dos responsáveis pelo reconhecimento de autenticidade dos seus escritos. [N.T.] 13
Prólogo
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Temos aqui, enfim, já agora em língua portuguesa, uma nova edição completa, formal e impressa da obra intitulada Industrial Society And Its Future, a qual também ficou conhecida como The Unabomber Manifesto, pela associação que dela se fez com a alcunha de seu único signatário conhecido: Theodore J. (Ted) Kaczynski — vulgo “The Unabomber”. De outra antes, impressa em português, só encontramos referências à edição de uma versão que foi chamada de “Manifesto do Unabomber — o futuro da sociedade industrial”, publicada em Portugal pela editora Fenda, em 1997, cerca então de dois anos após a publicação da primeira versão do texto original. 5 Este “Prólogo” foi adaptado da edição em espanhol para esta edição em português pela equipe das Edições Natura naturans — produtora editorial dedicada especialmente à publicação e divulgação de textos de crítica à sociedade tecnoindustrial. http://ednaturanaturans.blogspot.com 15