Acerca de um poeta prĂŠ-histĂłrico
Marcos Satoru Kawanami
Acerca de um poeta pré-histórico
São Paulo 2017
Copyright © 2017 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa
Editora Baraúna
Diagramação
Editora Baraúna
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ S31a Kawanami, Marcos Satoru Acerca de um poeta pré-histórico / Marcos Satoru Kawanami. - 1. ed. São Paulo : Baraúna, 2017. ISBN 978-85-437-0808-9 1. Poesia brasileira. I. Título. 17-44073 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 14/08/2017
15/08/2017
Impresso no Brasil Printed in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua Sete de Abril, 105 – Cj. 4C, 4º andar CEP 01043-000 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br
Acerca de um poeta prĂŠ-histĂłrico
Poeta Pré-Histórico Eu era um pré-histórico e selvagem menino analfabeto quando, um dia, passei a converter em poesia ideias que carecem de linguagem. Alheias ao vernáculo, as imagens pocavam em solares melodias, instantes perfumados de alegria, virtude imaculada e vadiagem. Hoje, longe de mim fazer poema igual aos que eu fazia analfabeto no tempo em que não ler era meu lema. Troquei aquele ar livre por um teto, e vejo-me a escrever sobre este tema que diz que, ao poetar, não mais poeto!
7
Soneto Rupestre Sejamos e ensejemos o futuro, que é hoje, que foi ontem, não é mais aquele de há bem pouco tempo atrás, pois muda que nem juro sobre juro. Nascemos, e, ao nascermos, vem o apuro da transitoriedade e coisas tais que herdamos sem querer dos ancestrais viventes de caverna em tempo obscuro... Nem lembro em que caverna fui nascer, mas foi uma do tipo apartamento que viu a minha infância florescer. Floresci em completo embotamento, e só o que aprendi foi escrever rupestres versos para o esquecimento.
Nhandeara, 21 de novembro de 2015
8
Graça Gratuito, gracioso, gratidão, a graça se expressando livremente distante da rapina do aparente despreza da aparência a servidão. É livre todo aquele bom cristão que mesmo encarcerado está contente, contraste na desgraça inconsequente do mundo, pois conhece a salvação. A graça de Maria é seu exemplo, a graça de Jesus é seu destino, a fé é sua graça e amuleto. Almejo, testemunho, enfim contemplo a sã gratuidade do divino que entrega-me de graça este soneto.
9
Desbunde Descarga biliar alheia ao nexo exaure minha tripa cerebral, e o oco craniano é que é o real sonhar de um neo-símio assaz perplexo. De tanto o que me aparta é o genuflexo entregue ao devaneio surreal retido no capacitor mental, gerando o espectro de um prisma convexo. Orgânica matéria se confunde, por meio de entre-laços eletrônicos, ao sonho acreditado que a fecunde. E o símio, em seus versos nada harmônicos, havendo terminado, que desbunde, fazendo embriaguez com Biotônico!
10
Misto Quente Algum lugar pensado, inexistente, existe na memória do que existo, ainda que o lugar eu tenha visto no tempo sem pensar de estar contente. Sentido algum me diz que agora sente aquele tal lugar que sinto, e, nisto, o mundo quer mostrar-se como um misto de hambúrguer e bauru, um misto quente. Mas em qualquer lugar felicidade constrói o pensamento quando pode, e agora humor feliz é o que me invade. Pois danço minha pena no pagode escrito nestes versos à vontade, enquanto um povo doido se sacode.
11
Locus Amoenus Esteve a tarde inteira ali sentada a velha que nos olha, sendo cega; um cão vadio passando agora rega os pés da pobre velha sem ver nada. A velha percebeu que foi mijada, devido à experiência que carrega; os velhos são bons nisso, não se nega, e, cega, soube que não foi cagada. Melhor assim, pensou, agora posso ficar mais um pouquinho aqui na praça, sem ver que o cão vadio fazia um troço. Sentindo a iminência da desgraça, corri com tanta gana, que alvoroço causei ao derrapar por sobre a massa.
12
Ave-Maria Pós-Moderna A luz que passa pelo cristalino dos olhos chega ao fundo cerebral recomposta em elétrico sinal diverso do universo extratino. A taça diz que “veritas in vino” em forma inversa, imagem espectral vertendo na retina, uma anormal verdade aceita por qualquer menino... Talvez o impulso elétrico reflita externamente apenas algo novo e tão antigo quanto a luz bendita no céu de cada qual de cada povo, cujo drama tem sido a mãe aflita dos elétrons por quem eu me comovo.
13
Caravana Eu sei que não saber não dá ciência a mim do que não sei, sabendo ou não, de tudo que, com lógica e razão, conheço e sei que sei, por evidência. Conduz-me tosca mão, falaz prudência, contudo, se é o saber a devoção à qual, estulto, entrego o coração no torpe turbilhão das aparências... Pondero que não há que mais saber, nem houve nunca, desde aquele pomo que vem se deglutindo sem querer. A bem desses milênios, que hoje somos além de caravana a percorrer o espaço numa busca do que fomos?
14
Aos Anjos Quem me dera escrever desta maneira e todos entendendo o que ora escrevo, acima das fronteiras, do relevo linguístico que impõe tosca barreira. Porém é tão canora a brasileira linguagem portuguesa, que me atrevo a procurar mover tamanho enlevo que ler em português o mundo queira. E, quando céus e terra enfim passarem, pereça com o mundo o que é tristeza de modo a nem de leve a recordarem. Pereçam a feiura e a beleza, só reste a perfeição, mas, ao cantarem, cantem, anjos, em língua portuguesa!
15