Apresentacao da filosofia crista 15

Page 1



Apresentação da Filosofia Cristã



Abraão Avelino de Lima

Apresentação da Filosofia Cristã

São Paulo 2017


Copyright © 2017 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Editora Baraúna

Diagramação

Emília Adamo

Revisão

Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ___________________________________________________________________________ L696a Lima, Abraão Avelino de Apresentação da filosofia cristã / Abraão Avelino de Lima. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016. ISBN: 978-85-4370-735-8 1. Cristianismo - Literatura polêmica. 2. Filosofia e religião. 3. Jesus Cristo - Historicidade. I. Título. 16-38424

CDD: 220.67 CDU: 27-23

___________________________________________________________________________ 07/12/2016 12/12/2016 Impresso no Brasil Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br


Sumário Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Capítulo I A apologética cristã e a filosofia grega. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Capítulo II A filosofia cristã no período da apologética latina. . . . . . . . . . . . 127 Capítulo III A filosofia cristã a partir do Concílio de Nicéia (325). . . . . . . . . 219 Capítulo IV A filosofia cristã latina do século IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315 Capítulo V A filosofia cristã latina do século V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333 Capítulo VI A filosofia cristã nos séculos VI e VII. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375


Capítulo VII A filosofia cristã dos séculos VIII ao XI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423 Capítulo VIII A filosofia cristã do século XII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 457 Capítulo IX A filosofia cristã da escolástica - século XIII . . . . . . . . . . . . . . . 505 Capítulo X A filosofia cristã do século XIV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 585 Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 631


Prefácio

Sou um filósofo cristão. Ou como soa bem entre alguns entendidos em filosofia, um cristão filósofo. Disso não abro mão em sempre reafirmá-lo, seja em espaços informais ou formais como, por exemplo, na sala de aula e em conversas com colegas de profissão. E o faço, em primeiro lugar, devido à visão restrita que muitos ainda continuam tendo – leigos e entendidos – de quem frequenta um curso de filosofia ou, de quem se forma na filosofia. Na melhor das hipóteses, trata-se de um reducionismo ingênuo, referir-se ao filósofo como se todos fossem ateus, ou que é próprio da filosofia de per si ser ateia. Lembro que certa vez entrei na sala, era a primeira aula de filosofia do ano. Ao apresentar de imediato minha formação filosófica e a disciplina, um aluno de expressão revolucionária – cabelos e barbas desleixados, vestimenta pouco social – entusiasmou-se, logo demonstrando gosto pela disciplina. Conquanto, ao conduzir a apresentação da matéria, deixando claro que nenhum dos pensadores gregos, e mesmos seus seguidores, não abarcaram totalmente a verdade (Aleteia) – evidentemente que já dentro de uma perspectiva inicial da filosofia cristã – e reafirmando minha formação religiosa (sem a mínima intenção de fazer proselitismo) o referido aluno foi perdendo seu entusiasmo. Sua pretensão de estudar filosofia comigo desabou. Nunca mais durante as aulas que se seguiram tornei a encontrá-lo. Ele esperava, talvez, encontrar pela frente um professor de filosofia revolucionário ou ateu. 7


Em segundo lugar, devido à visão histórica, no mínimo equivocada, ou no limite do anacronismo, que insiste perpetuar-se da atividade filosófica. Acreditam mesmo que a filosofia por natureza é ateísta, que seus filósofos foram ateus, ou o são em sua maioria; que a filosofia é circunscrita à Grécia em seu método e essência: buscar a verdade/conhecimento pela via racional. Nesse sentido, partindo da perspectiva de alguns historiadores negam se quer a possibilidade de que a Idade Média produziu propriamente uma filosofia. Ora, todos nós sabemos que a civilização medieval se caracteriza pela extraordinária importância que o elemento cultural religioso nela adquiriu. Tanto é que esses historiadores, mesmo negando a possibilidade de uma filosofia propriamente dita, sobretudo de uma filosofia cristã, afirmam que o período medievo produziu uma literatura e uma arte cristã. Posta a questão, trata-se, pois, de saber se houve cristãos filósofos e, não necessariamente, filósofos cristãos. Nesse sentido, o problema se colocaria de outra maneira, a saber que uma grande parte dos que sustentaram o pensamento filosófico (no sentido até mesmo de especulação e abstração racional) na Idade Média foram cristãos. Não é exagero dizer que graças ao trabalho dos pensadores e escritores que se autoproclamavam cristãos a filosofia sobreviveu até aos nossos dias. Até não escapa-me a tentação ou a ousadia em dizer que os filósofos gregos e pagãos – sem desmerecer sua importância histórica – apenas levantaram questões; aventaram hipóteses, deixando-as para que os extraordinários espíritos de homens convertidos ao cristianismo resolvessem. A. F. Ozanam em sua obra La Philosophie Chréstienne (A Filosofia Cristã), Paris, J. Lecoffre, 1855, pp. 365-7, afirma que... “Nem Platão nem Aristóteles se elevaram até a ideia verdadeira de Deus. O cristianismo veio renovar as forças do espírito humano (a razão) principalmente dando-lhe certezas... O cristianismo trazia a certeza e, com ela, dava a liberdade de escolher entre os diversos caminhos que deviam levar a ela”. Com efeito, não se trata de afirmar nem de considerar o fato de que não houve filosofias produzidas à parte do cristianismo, nem tampouco dizer que as filosofias elaboradas pelos cristãos durante a Idade Média fo8


ram concebidas por eles (inicialmente) independentemente das filosofias pagã, judaica e árabe. Ou como diria Gilson, ex nihilo. Como se sabe o pensamento cristão, o judaico, o muçulmano e o pagão agiram uns sobre os outros. Porém, foi estudando a Idade Média que Étienne Gilson definiu a filosofia cristã em sua essência ou por excelência. A ele, junta-se um coro de historiadores da filosofia medieval que defendem a existência de uma filosofia cristã como ideia,originada no próprio seio do cristianismo. Foi, portanto, na Antiguidade, após a morte de seus fundadores, que a filosofia dos gregos se encontra com a fé judaico-cristã. Alguns séculos logo após o seu início, por meio dos filósofos convertidos ao cristianismo, a sabedoria grega é utilizada como um instrumento de defesa da fé. Assim, a filosofia cristã foi forjada, firmada e consolidada em confronto com os escritos dos filósofos pagãos, judeus e muçulmanos, adquirindo sua independência, sua essência, sua característica peculiar. Desse modo, a reflexão filosófica cristã a partir do século II em diante foi sempre caracterizada por grandes medievalistas como se o vínculo com a filosofia pagã tivesse apenas um valor instrumental. Nesse sentido, o arcabouço filosófico traçado pelos filósofos cristãos, adquiriu um significado especulativo autônomo e inovador, importante para sua definição conceitual e essencial, e para seu conhecimento nos dias atuais. Nada é mais legítimo, do ponto de vista da história da filosofia cristã, do que indagar sobre o que aconteceu com os problemas filosóficos colocados pelos gregos durante os séculos da era cristã. Por isso, se quisermos estudar e compreender a filosofia de natureza cristã iniciada nessa época, temos que procurá-la exatamente onde ela se encontra, ou seja, nos escritos dos homens que se declaravam abertamente cristãos. Portanto, essa reivindicação do título de filósofo por um cristão não é um fato apenas atual, nem ficou isolado na Antiguidade, como teremos várias oportunidades de verificar ao longo dessa pesquisa. Mas, foi Justino de Roma que já no final do século II afirmava “cheguei à conclusão de que essa (a religião cristã) era a única filosofia segura e proveitosa. Eis como e por que sou filósofo”.1 1

Diálogo II, 6.

9


Atenágoras, por sua vez, defendeu claramente o direito de os cristãos proporem uma explicação filosófica do universo, elaborada pela razão sob a tutela da Revelação. E, Agostinho, apresenta - exageradamente - os profetas antigos como verdadeiros filósofos de Israel. Posta a questão, consiste pôs responder se a própria noção de filosofia cristã tem sentido e, se corresponde a uma realidade histórica; e de saber se houve cristãos filósofos, ou se pode haver filósofos cristãos. Essa história está toda ainda por escrever, e não pretendi sequer esboçá-la. Simplesmente assinalei, entre os textos dos dois maiores medievalistas que tive em mãos, e também com o auxílio da Patristica bem como da Patrologia, os que apresentam alguma direção, limitando-me estritamente aos escritores cristãos dos trezes séculos que se envolveram diretamente com a discussão filosófica helênica.

10


Introdução

A tendência quase generalizada entre muitos dos entendidos em filosofia e também entre os leigos nesse assunto parece ter sido imaginar o pensamento filosófico historicamente povoado por filósofos ateus e nunca por cristãos. Na trilha sonora da tradição de alguns historiadores, acreditam também que é impossível conciliar a sabedoria grega com a religião cristã. Sempre fui indagado por meus alunos como consigo fazer isso. Com efeito, não trabalho visando essa conciliação, também não me recuso em aceitar sua possibilidade; e o debate sobre a separação e a junção da filosofia com a teologia não é de hoje. A Idade Média deu o pontapé inicial nessa discussão, e os modernos e contemporâneos continuaram interpelando ambas as possibilidades. Todavia, nem mesmo entre os apologistas antigos, os neoapologistas e escolásticos, essa pretensa união se deu de forma unânime. Seguindo Gilson (A Filosofia na Idade Média, Martins Fontes, 1995), a religião cristã na figura de seus escritores empregou por vezes termos filosóficos para exprimir sua fé apenas por uma necessidade humana, mas substituindo seus significados filosóficos antigos e imprimindo-lhes (por via de regras) um sentido novo (religioso). Teremos várias oportunidades de verificar essa regra no decorrer desse trabalho, e esquecê-la é sempre perigoso. Sobretudo para o estudante de teologia. Os pensadores cristãos, ou apologistas dos séculos II e III d. C., foram os primeiros a buscar na sabedoria grega o mecanismo ideal 11


para interpretar as Escrituras Sagradas. Aristides de Atenas, Justino de Roma, Taciano, Teófilo de Antioquia, Clemente Romano, Atenágoras de Atenas, Tertuliano, Irineu de Lião, entre outros, figuram-se entre eles. Mas é sobre a égide intelectual de Clemente de Alexandria (morto antes de 215 d. C.) que no final do século II e início do século III, nasce a filosofia cristã, que vai adiante se consolidar com a trindade capadociana – Basílio de Cesaréia, Gregório Nazianzeno e Gregório de Nissa – e depois com Agostinho de Hipona, e finalmente com Tomás de Aquino no século XIII. Todos serão colocados cuidadosamente, um após o outro, com suas respectivas ideias para a análise histórica da filosofia cristã. Semelhantemente, outros, como Atanásio, Cirilo de Alexandria, Dionísio Areopagita, João Filopono, Máximo Confessor, os árabes Avicena e Averróis, Erígena, Boaventura, Bernardo de Claraval, Duns Scotus e Guilherme de Ockham, farão parte neste edifício magnífico que é a Filosofia Cristã. Portanto, todos até mesmo alguns que aqui não foram mencionados, mas que serão estudados, foram aqueles que, segundo alguns estudiosos e historiadores do cristianismo medieval colocaram seu capital cultural, muitos, depois de convertidos, ao serviço da religião cristã. Num passado recente, precisamente no século XIX em que vigorava o paradigma interpretativo constituído pela ciência filológica, liberal e positivista, a formação da filosofia cristã foi explicada como sendo apenas uma manifestação (forte ou fraca) da helenização na nova religião por obra da cultura greco-romana com a qual estava entrando em contato. De fato, Gilson nos informa que a filosofia só vem aparecer na história do cristianismo no exato momento em que certos cristãos cultos tomam posição em relação a ela, “seja para condená-la, seja para absorvê-la na nova religião” (p. 3). Porém, reduzido à sua essência, o cristianismo primitivo se baseava desde cedo no ensinamento dos Evangelhos, ou seja, na fé na pessoa e nas doutrinas de Jesus Cristo. Os Evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos anunciam ao mundo uma Boa Nova: o nascimento extraordinário de um menino que logo o chamaram de 12


Jesus Cristo, nome anunciado em circunstância extraordinária na visita de um anjo a sua mãe; esse menino se fez homem e ensinou que é o Messias anunciado pelos profetas de Israel, que é o Filho de Deus e o provou realizando muitos milagres; prometeu que restauraria o Reino de Deus juntamente com todos que se prepararão para sua vinda ao mundo observando seus mandamentos: o amor ao Pai que está no Céu; o mútuo amor entre os homens, agora seus irmãos filhos do mesmo Pai; o arrependimento dos pecados, por meio da renúncia ao mundo e a tudo que é mundano, por amor ao Pai acima de tudo; esse Jesus morreu em morte de cruz para redimir os homens; pela ressurreição confirmou sua divindade, e ele virá novamente nos fins dos tempos, para julgar os vivos e os mortos (que ressuscitarão uns para a glória eterna e outros para a vergonha eterna) e reinará com seus eleitos. Assim, a religião cristã se dirige aos homens para aliviá-los da miséria do seu pecado, mostrando-lhes as suas causas e oferecendo-lhes um remédio para elas. Não há, é verdade, nenhum conceito filosófico que seja puramente racional nessas palavras, nem mesmo nas mensagens bíblicas que se seguem. Toda a mensagem do Evangelho é uma doutrina de salvação. E é esse o sentido que lhe devemos atribuir, mesmo quando encontramos nela termos que se suspeitem serem de origens filosóficas. Nessa perspectiva deve permanecer nossa regra de interpretação exegética, cujo esquecimento é uma fonte permanente de perigo e confusão. Um exemplo desse complexo é o clássico caso do epílogo do Evangelho de João: “No princípio era o Verbo; ele estava com Deus; tudo foi feito por ele; nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens...” (Jo 1, 1-14).2 De fato, qualquer estudante de filosofia que tenham familiaridade com o texto joanino, observa surgir aí uma inegável noção de ressonância filosófica grega, principalmente estoica (Verbo ou Logos), que foi utilizada primeiramente por Filón de Alexandria, falecido pelo ano de 40 d. C., e depois por Justino de Roma. Mas que função ela representa no começo do Quarto Evangelho? Podemos admitir com Gilson (1995) que uma noção filosófica grega vem tomar o lugar As citações da Bíblia são da tradução portuguesa de João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil, 1962. (N. do T.) 2

13


aqui, do Logos divino, submetendo, assim, um desvio do curso do pensamento cristão que nunca mais será corrigido, devido o momento que é oportuno: helenismo e cristianismo acham-se, desde então, em contato permanente. A questão posta aqui é saber quem absorveu quem. Moreschini3 nos aponta um caminho. Se desse embate o helenismo tenha triunfado, foi um acontecimento de grande importância, uma vez que a filosofia do Logos (supremo inteligível) que tenta explicar na cosmologia grega a formação do mundo pela ação desse princípio, tenha encontrado pela frente um pensamento novo imposto por uma religião nova que prega pela Revelação um Messias, absorve esse Messias e faz dele uma manifestação do Logos filosófico e, talvez até veja nele um princípio de libertação e de salvação. Aliás, é de uma operação desse gênero que surgirá o gnosticismo, mas é também por isso que o cristianismo recusará tão firmemente confundir-se com ambos, mantendo a pureza da mensagem cristã. Ou dá-se mesmo o contrário? Isto é, o cristianismo tomou de empréstimos os conceitos do helenismo? Respondendo essa questão, A. Puech (1928) nos diz que muito mais do que apropriar-se de uma noção que servirá para a interpretação filosófica da fé, o cristianismo se apropriou de um elemento constitutivo dessa mesma fé. Por isso quando o evangelista se volta para os filósofos, é para lhes dizer que o que eles chamam de Logos é do Cristo da Revelação que se trata. Portanto, afirmar que Cristo é o Logos não era no Evangelho uma afirmação puramente filosófica, mas cristã. O mesmo vale para as Epístolas de são Paulo. Judeu de nascimento, mas originário de Tarso (na Cilícia) uma cidade aberta às influências da filosofia grega, ele certamente ouviu os seguidores do estoicismo e do platonismo e, evidentemente, conservou certas expressões dessas correntes. Daí, afirmam os medievalistas - que segue aqui a tradição -, o segundo encontro entre a filosofia e o cristianismo registrado no Novo Testamento, apresenta-se no seu bem conhecido discurso no Areópago, diante dos atenienses, narrado em Atos dos Apóstolos 17 versículos 16 3

História da Filosofia Patrística, Edições Loyola, 2013.

14


em diante. O discurso tem algo de simbólico, dado o lugar em que se deu, Atenas, cidade berço da filosofia grega. O apóstolo conhece a sabedoria grega, e denuncia-a em nome de uma nova sabedoria, que é uma loucura para a razão: a fé em Jesus Cristo. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. (1Cor 1, 22-25).

Essa denúncia da sabedoria grega não era, porém, uma condenação da razão em si. Segundo a crítica moderna que deu a advertência de Paulo em Colossenses 2 e 8 uma nova interpretação, limitando seu alcance à situação contingente em que Paulo escrevia, o termo filosofia, na referida passagem bíblica citada, não é objeto de condenação em si e de per si, mas deve ser referido ao ensinamento perverso dos falsos doutores da igreja colossense, grupo sincrético-religioso intelectual4 que havia se separado da igreja, todavia, mantinha grande influência sobre ela. Em um outro texto que será citado sem cessar na Idade Média pelos filósofos cristãos, são Paulo afirma que os homens têm de Deus um conhecimento natural suficiente para justificar sua severidade para com eles: A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos visíveis de Deus, assim, o seu eterno poder como também sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas (sic) que foram criadas. (Romanos, 1, 18-21). 4

O gnosticismo, por exemplo.

15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.