AS BAYADEIRAS
José Carlos Ribeiro
AS BAYADEIRAS
São Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Claudia Vieira Valente / Ctrês criação Revisão Priscila Loiola
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R367b
Ribeiro, José Carlos As Bayadeiras/ José Carlos Ribeiro. - São Paulo: Baraúna, 2012. Inclui índice ISBN 978-85-7923-475-0 1. Ficção brasileira. I. Título. 12-0538.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
30.01.12 31.01.12
032867
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D E N Ú N C I A de assassinato:
O GRANDE ASSASSINO: O ANIMAL “homem”. A INDEFESA VÍTIMA: O
PLANETA
“
”
Para que nossa qualidade de vida melhore e a de nossos filhos e netos seja pelo menos razoável, devemos nos unir e ajudar essa vítima a se safar das garras déspotas, imoral e vil dessa fera indomável, destruidora e implacável que é o homem sem consciência.
As Bayadeiras
Prefácio Uma história de amor ardente! Assim é a obra de José Carlos Ribeiro. Da mesma forma se caracteriza a própria caminhada do povo cigano pelo mundo. Seja de qual origem for, estamos falando de pessoas que sabem a real importância da ligação entre corpo e alma. Unem-se a isso todos os ingredientes possíveis da natureza para dar cor e sentido aos seus preceitos. Acima de tudo, são movidos por sua infinita esperança e inabalável fé. Ao longo dos séculos, inúmeras lendas foram criadas em torno do povo nômade. Entretanto, nem todas podem ser tomadas como absoluta verdade, uma vez que ciganos do mundo inteiro sempre foram perseguidos. Nos tempos de inquisição, centenas de milhares foram queimados em praça pública, como bruxos ou ladrões. A história é injusta e cruel, pois o povo cigano foi escravizado pelos grandes impérios, até que esse lutasse por sua própria liberdade fugindo pelas fronteiras. Dessa forma, trilharam caminhos diversos sobre suas carroças e seus cavalos. Levaram com eles suas crenças, 7
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seus costumes, sua incontida alegria e sua visceral tristeza. Firmaram acampamento onde puderam ou foram aceitos. Como nunca havia espaço para todos, houve separação entre eles, e com isso a formação de diversas tribos; o que nos ajuda a entender como foi possível o amor entre Ramon e Sarita. Personagens de As Bayadeiras, uma peça teatral escrita especialmente para uma grande atriz, a qual fora também a esperada oportunidade de um jovem e talentoso ator. Priscila Morrone e Andrews Veiga. A vida pessoal dos atores e suas relações entre si correm em paralelo com a própria trama do espetáculo grandioso que será encenado. Priscila Morrone, ícone da dramaturgia brasileira e mundialmente venerada, retorna à sua terra natal após ter brilhado durante anos no exterior. Muito curioso notar os caminhos sedutores e controvertidos na vida da atriz. Um talento brilhante e um fulgor capaz de hipnotizar uma plateia inteira com um simples olhar. E é justamente a intensidade da própria vida dos atores que faz com que a trama fictícia ganhe contornos absolutamente reais. No decorrer de extenuantes ensaios, o envolvimento dos atores acaba tomando de súbito seus próprios corações. Na vida e na arte, Priscila e Sarita são mulheres determinadas e lutadoras. Não há maldição capaz de roubar o que ambas acreditam que as pertence por direito. Seja a que preço for! A obra é completa de informações místicas, fórmulas e orientações a respeito das crenças e costumes ciganos. Um ótimo livro de cabeceira para os que desejam se aperfeiçoar no conhecimento cigano, suas relações com a 8
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natureza, seus valores morais, materiais, espirituais e, claro, sua maravilhosa habilidade em saber lidar com água, terra, fogo e ar. Com uma narrativa de reportagem, Ribeiro dá à sua história uma cadência galopante. É impossível não ficar com o coração acelerado a cada capítulo, tamanha a intensidade e contundência dos diálogos dos personagens. As Bayadeiras promete levá-lo à uma viagem que caminha a todo momento sobre o fio do punhal e a distância tênue quase inexistente entre o bem e o mal. Prepare-se para entrar num mundo onde a inconsequência das paixões faz todo o sentido. Este é o milenar povo cigano. Povo em que a terra é sua pátria, o céu o seu teto e a liberdade sua religião. Assim também foi o que viveram Priscila e Andrews, uma história sem precedentes na dramaturgia. Uma história onde a vida se confundiu com a arte e, por conta disso, se reconheceu enlouquecida, cega, linda e com final surpreendentemente épico e perfeito!
Juan Calamonaci
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Humanos Ah, esses humanos, esses humanos! O que foi que aconteceu com o homem moderno? Por certo, você terá também uma resposta. Os vegetais fotossintetizantes, ao produzirem compostos orgânicos, liberam, com subproduto da reação, oxigênio molecular que enriquece o meio. Eles produzem muito mais oxigênio do que necessitam para a sobrevivência, permitindo a respiração de todos os consumidores aeróbios (a respiração aeróbia é realizada em mais larga escala na natureza, inclusive pelos humanos). Pristley, no século 18, fez uma experiência interessante. Colocou um rato sob uma campânula de vidro e uma planta sob outra. Ambos os organismos morreram depois de algum tempo. O primeiro por falta de oxigênio, e o segundo por não ter quem consumisse seu oxigênio. Em seguida, o cientista colocou outro ratinho e outra planta sob a mesma campânula e os dois sobreviveram. Isso ilustra bem que a produção e o consumo de oxigênio é um processo fundamental à continuidade da vida no Planeta. 11
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O humano, como ser vivo, faz parte da biosfera e adapta o seu lar da maneira que ele precisar, causando modificações positivas e negativas à ela, sempre mais negativas, é claro. Os seres que vivem na superfície terrestre dependem uns dos outros e mantêm relação com as condições do meio ambiente; com exceção do humano, que consegue se fixar e viver em quase todos os lugares do planeta, devido ao alto grau de adaptabilidade que lhe é natural. Cada ser vivo tem um ambiente em que se adapta melhor quanto à temperatura, à umidade, ao frio, ao calor, às condições do solo etc. Esse ambiente ideal para cada ser vivo constitui o seu habitat e deve ser preservado, para que a biosfera possa subsistir com sua mágica divina. Percebe agora a relação de causa e efeito entre ecossistema e destruição de recursos naturais? Quando se derruba uma única árvore (recurso natural), derruba-se junto uma boa parte de um ecossistema de vida importante, mesmo que a princípio não se perceba isso, imagine então quando se destrói uma mata nativa (recurso natural) Quando polui um rio (recurso natural), o ar (recurso natural), o chão (recurso natural), a mesma destruição acontece, pois neles existem inimaginários ecossistemas de vidas. E o que é mais preocupante, triste e intolerável é que essas destruições são feitas exclusivamente pelo humano, pensando ser (ele) o superior no planeta. Eu, escritor e ativista ambiental, José Carlos Ribeiro, deixo registrado aqui o meu “pito” e muitos puxões de orelhas para esse talzinho humano inconsequente, como prova do descontentamento por seus atos irresponsáveis. 12
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Yuri Mascolini é o narrador da história As bayadeiras. Vejam como a vida é bela, e por certo há um Deus que nos encaminha. Vejam também como foi o ingresso dele na brilhante carreira de jornalista. Era final de fevereiro, recentemente eu havia concluído o curso de Jornalismo através da universidade de Porto Alegre. Oitenta por cento dos colegas já havia se colocado no ramo, fazendo jus ao diploma, ao tempo utilizado e à soma de dinheiro investida para chegar à reta final, fim do curso ou no início de um novo caminho que seria a vida profissional. O país passava por uma série de transformações; no setor econômico, político e social. A recessão era tão acentuada que chegava a amedrontar qualquer profissional, inclusive eu. Troca de governo; mudanças radicais; privatizações etc. Isso tudo era bom prato para jornalistas e repórteres, não para um profissional como eu, recém-formado, que não tinha o mínimo de experiência. O desânimo tomou conta de mim. No último ano na universidade, muitas vezes comentei sobre esse meu desinteresse com colegas e professores, porém, suas respostas explicativas pouco colaboravam para que minha ideia mudasse e nada para que o ânimo voltasse. Acredito sim que todos os profissionais, independente da área, têm que lutar para ocupar o seu espaço, mas estava muito difícil de conseguir o meu. Após o término do curso, cheguei a pensar em jogar tudo para o alto e voltar para a minha antiga profissão, que até então era tradutor da língua espanhola. 13
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Na noite da colação de grau, um tédio tomou conta de mim, percebi em certo momento que deveria urgentemente engavetar o diploma que eu havia recebido. Vi no rosto de cada colega o talento, a garra que às vezes não encontrava no meu, e isso muito me assustou. O mercado jornalístico gaúcho estava muito fechado. Isso fez com que eu tentasse novos horizontes; confesso que, demasiadamente desanimado, extremamente sem motivação, mesmo assim o fiz. Inicialmente o Rio de Janeiro foi meu alvo. Lá também encontrei as portas lacradas, com suas chaves jogadas não sei onde. A convite de uma colega, também jornalista, formada por uma Universidade Paulistana, fui conhecer a cidade de São Paulo, pois era rota para a minha capital. Tinha em mente regressar às terras gaúchas e definitivamente voltar a ser tradutor da língua espanhola, pois tal decisão já estava tomada. Foi na passagem por essa capital, num coquetel, num hotel de luxo na região dos jardins que conheci pessoalmente, Filó, Fylomena Bayão, ou FB, carinhoso apelido de uma talentosa e renomada jornalista, diretora cinematográfica, roteirista, mestra e autoridade máxima naquilo que fazia, pois seus trabalhos já eram conhecidos e admirados por mim e por todos profissionais dessas áreas. Com pouco tempo de conversa a achei bastante demagoga, ainda comentei com minha colega. Ela achava tudo descomplicado, talvez pelo pessimismo que apossava de mim. As horas passaram. De repente, ela começou a mostrar um potencial teórico e suas estratégias de ação. Fez explanações impactantes. Falou de jornais e seus nascimentos: 14
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— O jornal mais antigo do mundo ainda em circulação foi o sueco Post-och Inrikes Tidningar, que teve início em 1645. Até então, essas publicações tinham periodicidade semanal, quinzenal, mensal ou irregular. Foi só a partir de 1650 que surgiu o primeiro jornal impresso diário do mundo, o Einkommende Zeitungen (Notícias Recebidas) fundado na cidade alemã de Leipzig. A primeira revista, em estilo almanaque, foi o Journal des Savants (Diário dos Sábios), fundado na França em 1665. The Times (“Os Tempos”, em inglês) é um célebre e histórico jornal inglês, editado em Londres, publicado diariamente desde 1785, e sob seu nome atual desde 1788. Também costuma ser chamado, de forma não oficial, como The Times of London ou The London Times, para diferenciá-lo de outros jornais de nomes similares. The New York Times é um jornal de circulação diária, internacionalmente conhecido, publicado na cidade de Nova Iorque e distribuído nos Estados Unidos e em muitos outros países. Pertence à The New York Times Company. O jornal foi fundado em 18 de setembro de 1851 por Henry Jarvis Raymond e George Jones. O The Washington Post (“O Correio de Washington”), mais conhecido por Washington Post, ou até mesmo por Post, é um dos maiores e talvez o mais antigo jornal em Washington, nos Estados Unidos. Le Figaro, fundado em 1826, é um influente e importante jornal francês, o mais antigo ainda hoje publicado. Sua sede se encontra no 14, boulevard Haussmann, no 9e arrondissement de Paris. É um jornal nacional que faz parte do grupo Socpresse, o primeiro da França no 15