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O exercĂcio do protagonismo idoso na internet no Espanha
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Caiu na rede é jovemB ?
O exercício do protagonismo idoso na internet no Espanha
Janara Sousa
São Paulo 2017
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Capa
Claudia Baccile
Foto da Capa
Claudia Baccile
Modelo da Capa Josina Neves Braz Diagramação
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Revisão
Mariana Benicá
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Secretaria Editorial Vanessa Negrini
Sumário Introdução....................................................................................13 Parte I – Terceira idad Capítulo I - tERCEIRA IDADE E O pROTAGONISMO IDOSO........27 1.1 Contando os cabelos brancos: o envelhecimento do mundo......................................30 1.2 Por uma revolução da vida...........................................................................................................38 1.3 Envelhecimento demográfico ou maturidade das massas?..........................................49 1.4 Para além de ser velho..................................................................................................................55 1.5 Empoderando-se: o surgimento de uma nova categoria................................................65 1.6 Existe um protagonismo idoso?.................................................................................................71
Capítulo Ii - Terceira idade e sociedade brasileira .......75 2.1 Diante do espelho: a reprivatização da velhice brasileira..........................................88 2.2 Políticas públicas de atenção aos idosos.............................................................................97 2.3 Eu, tu, eles: quem são os idosos brasileiros?..................................................................102 2.4 A feminilização da velhice...........................................................................................................111 2.5 Existe um protagonismo idoso no Brasil?...........................................................................119 2.6 Portfólio de riscos: perdas e ganhos do envelhecimento populacional brasileiro..................................................................................................................................................126
Capítulo Iii - Terceira idade e sociedade espanhola 133 3.1 A velha Espanha de idosos..........................................................................................................134 3.2 Os novos velhos espanhóis.......................................................................................................145 (porcentagem).........................................................................................................................................157 3.3 Velhice é coisa de mulher?........................................................................................................158 3.4 Políticas públicas de proteção à terceira idade...........................................................164 3.5 Quem tem medo dos cabelos brancos?...............................................................................168
Parte Ii – internet Capítulo Iv - “Desvendando a rede”................................ 173 4.1 Compreendendo a metáfora.......................................................................................................175 4.2 A história da rede..........................................................................................................................178 4.3 A rede no mundo..............................................................................................................................186 4.4 Portais..................................................................................................................................................194 4.5 Internautas da rede brasileira...............................................................................................200 4.5.1 Idosos na rede...............................................................................................................................203 4.6 Acesso na Espanha..........................................................................................................................207 4.6.1 Idosos na rede espanhola........................................................................................................214
Capítulo v - Abrindo a caixa preta................................. 219 5.1 Os estudos sobre a tecnologia................................................................................................220 5.2 caminho do meio...............................................................................................................................228 5.2.1 No meio da rede.............................................................................................................................232 5.2.2 O espaço para um discurso radical?..................................................................................235 5.3 Muito além do discurso...............................................................................................................240
5.4 Seguindo o ator-rede....................................................................................................................247 5.5 Por uma etnografia virtual simétrica..................................................................................254
Parte iiI – descrição e análise Capítulo vi - Terceira idade.com...................................... 257 6.1 Qual é o meu campo?.....................................................................................................................258 6.2 Blog de campo..................................................................................................................................262 6.2.1 Notícias do front.........................................................................................................................267 6.3 Ética de campo..................................................................................................................................274 6.4 Portal Terceira Idade – informação é cidadania.............................................................278 6.4.1 Cena 1 na geral: página principal........................................................................................280 6.4.2 Cena 2 Buscando informações...............................................................................................285 6.4.3 Cena 3 Posso ajudar? Utilidade pública...........................................................................292 6.4.4 Cena 4 Participe! Serviços interativos..............................................................................295 6.5 Portal Júbilo mayores, ocio, dependencia, viajes, salud y residencias...............306 6.5.1 Cena 1 Pelas mãos do Pepe: página principal.................................................................308 6.5.2 Cena 2 Terceira idade informada: jornalismo em evidência...................................313 6.5.3 Cena 3 De dependência e de sonhos: a terceira idade é uma viagem!..................321 6.5.4 Cena 4 Participe: venha fazer amigos!...............................................................................326
Capítulo viI - Caindo na rede............................................. 335 7.1 Primeiro ato: portal terceira idade......................................................................................339 7.1.1 A rede da rede...............................................................................................................................341 7.1.2 Portal temático............................................................................................................................345 7.1.3 Participação...................................................................................................................................354 7.1.4 A participação do protagonista: sistematizando os resultados..........................364 7.2 Segundo ato: Portal Júbilo........................................................................................................366
7.2.1 A rede da rede...............................................................................................................................368 7.2.2 Portal temático............................................................................................................................372 7.2.3 Participação...................................................................................................................................382 7.2.4. A participação do protagonista: sistematizando os resultados.........................387 7.3 Último ato: fechando as cortinas...........................................................................................390
consIderações finais............................................................ 393 referências............................................................................... 397
Introdução Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...) Parece meu velho pai – que já morreu! (...) Nosso olhar duro interroga: “O que fizeste de mim?” Eu, pai? Tu é que me invadiste. Lentamente, ruga a ruga... Que importa! Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre. E os teus planos enfim lá se foram por terra. Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra! Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste... (“O velho do espelho”, Mário Quintana).
Velho, idoso, ancião são palavras que não dizem precisamente o que nos acontece com o passar do tempo. A sensação de estranheza diante do espelho, descrita por Mário Quintana, talvez não seja algo incomum a muitos de nós. O tempo passa, o corpo muda, envelhece. Dor, maturidade, conformidade, sentimentos às vezes contraditórios, que se misturam e não nos dão certeza do que exatamente está em jogo, mas nos dizem precisamente que algo mudou. Mudou individualmente, mudou socialmente! O que sabemos com certeza é que a curva demográfica mudou. O mundo está ficando mais “velho” e a ciência e a tecnologia se voltam para entender esse fenômeno e seus impactos, para tentar dar respostas à sociedade. Isso, sem dúvida, não é tarefa fácil. É indiscutível o fato de que os estudos sobre infância e juventude fulguraram durante muitos anos como espaços privilegiados de pesquisa e atenção, 13
inclusive por parte dos governos e das sociedades. Assertivas repetidas à exaustão, como “os jovens são o futuro do país”, demonstraram e demonstram o espaço e a importância que cada faixa etária ocupa. No limbo das preocupações durante muitos anos, os idosos não souberam se eram o passado esquecido ou o presente incômodo. Contudo, será tremendamente injusto se não reconhecermos que a mudança demográfica teve e tem impactos na ciência e na tecnologia e, certamente, em diversas instituições sociais. É fácil percebermos isso, especialmente, no âmbito das ciências médicas. É notório o esforço da Medicina, da Nutrição, da Fisioterapia, por exemplo, em buscar soluções para os problemas que o envelhecimento pode causar. Assim como, também, é notório o discurso dessas ciências sobre antienvelhecimento e as promessas para a eterna juventude. No mesmo sentido, muitas vezes, também vão os discursos dos outros campos, como o político, que centra seu foco na questão da aposentadoria, nos possíveis problemas econômicos que o envelhecimento demográfico pode causar e na criação de políticas públicas para esse grupo etário. Sem dúvida, esse esforço é importante. Não pretendemos aqui julgar ou mesmo desmerecer o trabalho das ciências médicas que buscam soluções para as mudanças que o envelhecimento nos impõe. A Medicina se sobressai não somente no discurso, mas, igualmente, na sua penetração na sociedade, porque o problema da saúde é o mais tangível, o mais óbvio. Isso porque, indubitavelmente, as áreas médicas, especialmente a medicina, partiram na frente e deram respostas mais rapidamente (como medicamentos e terapias), que possibilitaram na prática o prolongamento da vida com mais saúde. Contudo, acreditamos que uma contribuição decisiva das outras áreas é favorecer a discussão sobre o processo de envelhecimento, não apenas na parte que toca ao indivíduo, mas em uma perspectiva mais ampla, de sociedade. As mudanças causadas por esse câmbio no perfil demográfico demandam muito mais do que esforços médicos. O cenário mundial é 14
fortemente impactado pelo surgimento desse novo ator social: o idoso. Arranjos familiares, aportes governamentais, trocas intergeracionais, decisões sobre o número de filhos e a hora de tê-los e, inclusive, a organização individual que cada pessoa faz sobre seus projetos de vida foram e são fortemente impactados pela possibilidade de viver mais. Portanto, acreditamos ser fundamental o concurso das Ciências Humanas e Sociais nesse debate. A questão da terceira idade não pode ser norteada unicamente pelo ponto de vista da saúde, mesmo considerando esta uma variável importante. Se isso assim acontecer, além de limitar o debate, corremos o sério risco de reforçar o discurso sobre o antienvelhecimento, o que pode gerar implicações sociais e pessoais gravíssimas, como o desprezo pelos mais velhos e a angústia diante do próprio envelhecimento. Diante desse cenário, a Sociologia e a Comunicação não podem se furtar a uma análise mais profunda desse fenômeno. O esforço dessas disciplinas, não só no Brasil, mas em todo o mundo, ainda é tímido sobre a questão da terceira idade. O debate precisa ser intensificado. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), dados de 2012, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos1 represen1 Para este livro, consideraremos “idosas” as pessoas com idade mínima de 60 anos, no que se refere ao Brasil, visto que temos legislação brasileira que a regulamenta, como o Estatuto do Idoso, e os órgãos de pesquisa brasileiros, como o IBGE, que tem dados fundamentais para o nosso trabalho e, também, classifica o idoso com esse recorte de faixa etária. É claro que, ao considerar uma pessoa como idosa somente por uma questão de faixa etária, incorre-se em um reducionismo, que termina por desprezar vetores importantes, como a questão do consumo, da autonomia, da própria condição física e psicológica. Mesmo sabendo das limitações que esse recorte nos impõe, optamos por trabalhar com ele por conta das referências bibliográficas, que amplamente seguem esse critério e por causa dos dados dos órgãos de pesquisa, os quais, via de regra, trabalham igualmente com esse recorte. Como evidência desse fato, o primeiro artigo do Estatuto dos Idosos, Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003, trata de esclarecer qual o recorte etário que define uma pessoa idosa: “Art. 1º: É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os di15