CemitĂŠrio da
Praia
Medo Estelar
Ubirajara da Silva Santos
CemitĂŠrio da
Praia
Medo Estelar
SĂŁo Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa AF Capas Revisão Bianca Brione Diagramação Monica Rodrigues
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ Z S234c Santos, Ubirajara da Silva Cemitério da praia: medo estelar/ Ubirajara da Silva Santos. - São Paulo: Baraúna, 2012. ISBN 978-85-7923-577-1 1. Romance espírita. 2. Espiritismo. I. Título. 12-3774.
CDD: 133.9 CDU: 133.9
11.06.12 18.06.12 35
036161
________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Glória, 246 - 3º andar CEP 01510-000 - Liberdade - São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br
Sumário
Prefácio................................................................... 7 A praça.................................................................... 9 Adoção...................................................................15 Os sinos da igreja................................................25 A Pandorga...........................................................29 Os livros................................................................ 33 A viagem............................................................... 37 A comunidade.....................................................49 As férias.................................................................65 O Altar................................................................... 75 A formatura..........................................................93 O Trem da transferência...................................99 A relva.................................................................. 113 A revelação......................................................... 155 O viajante estelar.............................................. 167 O pedido............................................................. 179 O milagre............................................................ 189 O Andarilho estelar..........................................203
Prefácio
Abandonado com meses de vida na porta de um orfanato e adotado por um casal muito estranho, Eli descobriu ser mais estranho que seus próprios pais adotivos. À medida que foi crescendo percebeu ter uma missão além das estrelas, levando-o a enveredar pelas mais diversas situações inusitadas e assustadoras. O livro conta a história do menino Eli desde a sua adoção até aproximadamente seus 17 anos de idade. Nesse período, aos poucos, foi percebendo ter uma missão a cumprir, sendo para isso dotado de capacidades especiais que ao desenrolar da história às usa em beneficio dos necessitados e oprimidos pela sociedade.
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1 A praça
Era inverno. Vacaria, era assim que se chamava a pequena cidade da serra gaúcha localizada nos pampas do Estado do Rio Grande do Sul. Não fosse a localização privilegiada, conhecida como porteira do Rio Grande e considerada a capital dos rodeios, seria sim, mais uma cidadezinha perdida nesse imenso Brasil. Naquela manhã de inverno em meados dos anos setenta, a neve passeava livremente dançando nas asas do vento. Podia até escolher onde pousar, ela não estava só, se dividia em milhões de gotículas de cristais de gelo. Elas se uniam em bandos, levadas pelo vento atacavam toda a pequena e indefesa cidade. Não perdoavam nem as torres da Catedral Nossa Senhora de Fátima, protetora daquela cidade. Os sinos da Igreja protetora tocavam avidamente chamando os fiéis para que esquecessem por alguns momentos o desenrolar de suas vidas e voltassem seus olhares ao Criador.
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Na plateia, trêmulo sentado no banco da praça, um senhor magro alto de cabelos grisalhos, ansioso aguardava a chegada de Maria. Já se passavam mais de uma hora de atraso, pensou: “Talvez, decidiu não vir ajudar.” Elias então, — deixou cair o semblante — só de pensar em uma possível alternativa, sabia que seria muito sacrificante e se arrepiava todo. Seu olhar se infiltrava entre as pessoas que por ali passavam na esperança que ela viesse ao seu encontro. De repente em meio ao nevoeiro, surge ao longe uma mulher bonita, magra e de estatura mediana. Ela vestia um lindo vestido de cor champanhe, de mangas longas e bem diferentes dos costumes daquela cidade. Elias não teve dúvida, era ela mesma e além do mais vinha em sua direção. A mulher caminhou lentamente até parar à frente de Elias, que permanecia sentado no banco da praça. Após fitar-lhe por alguns instantes, disse: — Desculpe a demora, eu estava analisando os pontos da nossa missão. — Não se preocupe, o importante é que você veio. — Bom! Então vamos lá? — Perguntou Elias. — Vamos, sim! — respondeu Maria. Elias levantou-se do banco e pegando na mão de Maria partiram deixando a praça. Os sinos da igreja voltaram a tocar assustando os pássaros que voaram em direção às copas das árvores. Elias e Maria, de mãos dadas e conversando lentamente atravessaram à praça central em direção às bandas do lado direito da igreja. Depois de andarem algumas quadras pararam em frente
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a um orfanato. Ficaram por um longo tempo observando-o. — Como é grande esse orfanato! Deve comportar muitas crianças. — disse Maria. — Sim, ele é um orfanato pertencente à igreja. Fica sob os cuidados e direção das freiras e sua subsistência vem da ajuda das igrejas e de doações voluntárias. — Respondeu Elias. — Será que há muitas crianças abandonadas? — Perguntou ela. — Sim, há muitas crianças e poucas adoções. — Bom! Então vamos lá escolher uma delas. — Emendou Maria. — Vamos, sim. — Acrescentou Elias. Elias tocou a campainha da porta do orfanato por três vezes até que atenderam. — Pois não? O que desejam? — Indagou a freira que atendeu a porta. — Eu e Maria gostaríamos de adotar uma de suas crianças. — Sejam bem-vindos, eu sou a Irmã Maria Dulce. Entrem e venham comigo até a sala da Madre Carmen Tereza, Senhor... — Elias. — Completou. Chegando a sala, a freira apresentou o casal a Madre, que os mandou entrar e sentar para conversarem. — Senhor Elias e Senhora Maria, Deus ouviu as minhas preces. Faz cerca de um ano que ninguém nos procura para adoção. Os recursos para manter o orfanato estão cada vez mais escassos. Sejam bem-vindos! Fico muito contente e agradecida a Deus quando vem alguém nos procurar para adotar nossas crianças.
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— Obrigada, Madre. — Agradeceu Maria. — Vamos para o pátio para vocês observarem as crianças e quem sabe escolherem uma delas para vocês. Estava havendo recreação no pátio. Elias e Maria se misturando entre as crianças para melhor observá-las. A Madre acompanhava de longe atentamente o casal com seu olhar. Elias observou que, enquanto as crianças brincavam, correndo de um lado para outro, havia um menino aparentando aproximadamente uns cinco ou seis anos de idade, separado do grupo, sentado no chão, no canto do pátio da escola, escrevendo em um caderno. Elias instigou Maria sobre o menino. — Maria, o que você acha que ele está fazendo? Maria olhou por um tempo e disse: — Parece que desenha em um caderno escolar e nos observa sutilmente, de cabeça baixa, de “rabo de olho”. — Eu vou até ele conversar, enquanto você obtém informações do menino com a Madre Tereza. — Ela foi. Elias se aproximou do menino e ficou observando-o desenhar. Após alguns instantes resolveu dizer: — Bonito o seu desenho! O menino parou de desenhar e ficou em silêncio por alguns segundos com o olhar fixo em seu desenho. Então, resolveu olhar para Elias e fitando-o momentaneamente, respondeu: — Você gostou? — Não tem como não gostar, seu desenho está perfeito. Ele está muito lindo e até parece real. — Como você se chama? — Instigou Elias.
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— Eli. — Bonito o seu nome! Eu me chamo Elias. — Estendendo a mão o cumprimentou — Prazer conhecê-lo. Elias voltou o olhar para o desenho e após alguns segundos disse: — Diga-me Eli; O rapaz que está no barco em seu desenho parece estar atravessando uma tempestade. Será que Ele está com medo? — Não, ele não está com medo, ele está triste e sozinho. — respondeu o menino. Elias ficou pensativo por alguns instantes. Porém levantou-se fazendo carinho nos cabelos de Eli e foi até Maria. — que conversava com a Madre. — Senhor Elias e Senhora Maria, antes de uma possível adoção, há coisas que acho que vocês precisam saber. Esse menino foi abandonado com cerca de três meses de vida na porta do nosso orfanato. Nunca conseguimos descobrir o paradeiro dos pais ou dos familiares. Ele já foi adotado por três vezes, porém devolvido em menos de um mês. Os casais que o adotaram alegaram as mesmas coisas, dizendo: ‘sentiram uma espécie de medo do menino que não sabiam explicar’. Um dos casais relatou que estava acontecendo coisas estranhas em sua casa. Também já ouvimos boatos, pela boca das crianças desse orfanato, sobre coisas estranhas que aconteceram aqui. Porém, nenhuma percebeu que tais fatos estranhos podem estar relacionados à Eli. Eu mesmo não acredito que tais fatos isolados tenham a ver com o menino. No meu entender pode ser uma espécie de coincidência temporal. — Madre, nós queremos adotar assim mesmo. —
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Disse Elias. — Não poderei conceder essa adoção nesse momento, tenho medo que vocês sejam o quarto casal a devolvê-lo. Preciso de mais tempo para ficar observando Eli. Rejeições constantes podem vir causar algum tipo de trauma para a criança e isso, jamais eu gostaria de tomar como culpa. Bom... Por outro lado, encontrar um lar permanente para Eli é o meu sonho. Não só para ele, mas para todas as crianças daqui. Afinal, esse é princípio fundamental da existência do nosso orfanato. Faremos o seguinte: — Voltem daqui a uns três meses. Nesse período observarei atentamente o menino mais de perto. Se nesse período nada de anormal acontecer concederei a adoção para o bem da criança. — Está bom... Madre Tereza. Voltaremos daqui três meses para conseguir adotá-lo. — Vou aguardá-los. — respondeu a madre. E assim, Elias e Maria se despediram e foram embora. Eli, ao ver o casal indo embora, ficou muito triste. Correu subindo as escadas que dava acesso a uma sala de aula que ficava no andar de cima e dava visão para a portaria do orfanato. Pela janela ele ficou observando atentamente o casal indo embora sem levá-lo. Ficou olhando com os olhos tristes até o casal desaparecer ao dobrar a esquina da rua. Eli, cabisbaixo sentou-se na carteira da sala e pensou consigo: ‘Acho que não gostaram de mim’. Chorou soluçando baixinho.
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2 Adoção
Passara-se dois meses sem que nada de anormal acontecesse no orfanato, exceto naquela manhã de domingo. Aproximava à hora do almoço e todas as crianças começavam a guardar seus lugares como de costume. Era uma mesa do tipo coletiva e comprida para que todos se alimentassem juntos. Sempre havia bate-bocas e brigas por lugares para sentarem primeiro. As crianças maiores sempre levavam vantagens. Naquele dia, Túlio, um menino líder de aproximadamente uns sete anos de idade, tinha se ausentado de seu lugar para ir ao banheiro. Eli sem perceber que aquele lugar tinha “dono”, sentou-se e ficou esperando para almoçar. Túlio ao voltar do banheiro vendo Eli em seu lugar, estarrecido de raiva parou por um instante na metade do caminho e ficou fitando-o com muita raiva. Enfim
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