Evolução entre dois mundos 15 by Editora Baraúna SE Ltda

EvoluĂ§ĂŁo entre dois mundos

SÃ£o Paulo - 2016

Jacilene Moraes

Capa

Diagramação Felippe Scagion Revisão

Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

K45e

Kenutsen, Alberto Evolução entre dois mundos / Alberto Kenutsen. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. il. ISBN 978-85-437-0516-3 1. Filosofia. 2. Psicologia. 3. Teoria do autoconhecimento. I. Título. 16-34293

CDD: 100 CDU: 1

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Sumário

01 - AS NOTÍCIAS DAS MUTAÇÕES COTIDIANAS.............. 7 02 - A CONCENTRAÇÃO FAMILIAR.................................... 9 03 - CONCENTRANDO RECURSOS.................................... 11 04 - A ASTÚCIA DE JACOB............................................... 13 05 - O ASSALTO A SALÉM............................................... 15 06 - A TERRA PROMETIDA................................................ 17 07 - O SACRIFÍCIO NO DESERTO...................................... 19 08 - AS PRAGAS DO EGITO............................................. 21 09 - OS MAIS LONGOS DIAS........................................... 23 10 - O FERMENTO DOS FARISEUS .................................... 25 11 - A FIGUEIRA ESTÉRIL.................................................. 27 12 – 0 MAGNETISMO....................................................... 29 13 - OUTRA DOUTRINA................................................... 31 14 - ABEL E CAIM............................................................. 33 15 - A PRESSÃO COLETIVA............................................... 35 16 - AS EVASIVAS............................................................. 37 17 - OS VALES DE SUICIDAS............................................. 39 18 - PRODUÇÃO E CONSUMO......................................... 41 19 - A CONSAGRADA FAMÍLIA....................................... 43 20 - A DEIFICAÇÃO DA MEDIUNIDADE............................ 45

21 - AS CRISTAS MILITARES.............................................. 47 22 - AS GUERRAS AMERICANAS...................................... 49 23 - A MORTE DE INOCENTES.......................................... 51 24 – A VELHA CLASSE SOCIAL......................................... 53 25 - A IMORTALIDADE DE DEUSES................................... 55 26 - OS FILHOS DOS REIS ................................................ 57 27 - MECANISMOS DA DEMÊNCIA................................... 59 28 - DIFERENTES MEDIUNIDADES...................................... 61 29 - A DIVISÃO EM VÁRIAS TURMAS............................... 63 30 - A GENÉTICA HISTÓRICA........................................... 65 31 - MOISÉS E FIDEL CASTRO........................................... 67 32 - CIZÂNIA E CAPITALISMO.......................................... 69 33 - OS OCIOSOS QUE VEBLEN NÃO VIU........................ 71 34 - MULTIDÃO DE CEGOS E ALEIJADOS......................... 73 35 - CRISTIANISMO INVESTIGADO................................... 75 36 - CONQUISTA DA LIBERDADE...................................... 77 37 - HÁ POBRES POR TODA PARTE ................................. 79 38 - POLÊMICA PARABÓLICA.......................................... 81 39 - DAVID E AS GUERRILHAS.......................................... 83 40 - A GRANDE TRANSFORMAÇÃO................................. 85 41 - BREVE DIÁLOGO DE VIAGEM.................................... 87 42 - GUERRAS SIMULADAS.............................................. 89 43 - A TERGIVERSAÇÃO RESTRINGENTE........................... 91 44 - A BOA NOVA........................................................... 93 45 - UM ESTADO NOVO................................................... 95 46 - UM NOVO ESTADO................................................... 97 47 - UM CASAMENTO PERFEITO...................................... 99 48 - AS SOCIEDADES PROGRESSIVAS............................. 101 49 - O CAMINHO DAS PARÁBOLAS.............................. 103 50 - PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO........................ 105

01 - AS NOTÍCIAS DAS MUTAÇÕES COTIDIANAS

Coelho Neto (1864-1934), jornalista no tronco Rio-São Paulo e redator da Enciclopédia Lello Universal, descrêvera em crônica o ritual da morte, comentado por Paula Ney (1858-1897) quando o fora visitar dias antes do féretro. Depois de segurar-lhe as mãos com suas mãos frias, disse; meu amigo, não tenho só as mãos frias para te oferecer. A morte já me ronda os passos, e de dentro para fora, trazendo-me inspiração para o lápide do meu túmulo. Recostou-se ao travesseiro e continuou; os meus pés que gostavam de caminhar pela Urca, agora estão mais frios que as mãos, de modo que não os sinto mais, estão mortos. O estômago que se regalava com caipirinhas e feijoadas, agora só conhece o sabor a margo dos remédios que me prolongam a vida. Com certeza está morrendo. Meu fígado não dispõe da bile para a exclusão dos mortos e também está morto. A voz só trabalha aos solavancos e vai morrendo. Meus olhos não se interessam por muita coisa, e o sexo sempre foi uma mentira boa e passageira. São contrariedades que atestam a mor7

te. A saudade tão laureada nos meus ver sos, hoje vejo que foi outra longa mentira e eu falava o que não tinha. Tossiu mais uma vez e voltou a falar. Se queres me fazer mais um favor eu ainda te peço para pegar os meus chinelos e os colocar do lado de fora da porta; quem sabe alguém deixe aí o presente que esperei a vida toda. E o moribundo voltou a dormir na esperança. Paula Ney era um guardião. Sua literatura era seu instrumento. Defendia os mais fracos e combatia os poderosos, ocultos na coletividade que Sigismundo Feud (1856-1939) chamara de irracional, vista no inconsciente. Já na bíblia fazia escola em Jacob comentando o Ge 29: 27: “Acaba a semana deste primeiro casamento com Lia e dar-te-ei Raquel pelo trabalho de outros sete dias”. Ou corrigindo o espaço universal do dilúvio, reduzido para 100.800km2 pelas escavações arqueológicas de Charles Leonard Wooley (1880-1960). O poeta Paula Ney deixou ainda esboçada uma crônica da água do Nilo transformada em sangue por duas vezes seguidas.

02 - A CONCENTRAÇÃO FAMILIAR

Desde tempos recuados a endogamia era um hábito natural como medida de defesa e preservação das tribos ou grupos familiares, e representou uma verdadeira lei que separava indivíduos e nações, não raro causando a guerra. Em nenhuma tribo se permitia o relacionamento amistoso com os “de fora” por uma questão de sobrevivência. Como conseqüência a prática matriarcal endogâmica era pacificamente conservada, quando a mulher o cupava o centro da organização social e onde a sucessão das riquezas se dava pela linhagem colateral uterina, ou seja, era a mulher que fazia a transmissão da herança ao filho. Diante disto, nós podemos perceber o motivo que levou Abraão a abandonar a Caldéia durante a penetração dos amoritas. O patriarcado hebreu era utópico, a miscigenação uma quimera e a confraternidade impossível. Dos inconvenientes do matriarcado sobrevieram as necessidades de unirem-se indivíduos e povos, separados em conflitos, quando plasmou-se o ideal cosmopolita que teria condenado Sócrates (470-399 a. César) à mor9

te. A presença de um pai, doutrina ou interesse comum entre concorrentes permitiria a fraternidade, ou ainda a formação de cartéis em benefício econômico para todos. Foi assim que Amenotep IV (1388-1358 a. César) insiste no culto ao sol apresentando-o como o deus do Egito e regiões vizinhas. Nasce o patriarcado entre os hebreus para resolver o problema da subsistência enquanto Ramsés III (sec. XIII a. C.) ensaiava os cultos domésticos entre os muros do palácio real, com mandamentos repetitivos para fortalecer a monarquia, garantindo-se no poder. A escassez de alimentos aos escravos pedia austeridade. A contagem dos efetivos era feita por estimativas religiosas nem sempre exatas, e a distribuição de rendas não existia. Se em algumas regiões os grãos alimentares faltavam em outras os excedentes apodreciam nos paióis. A saída dos escravos no Egito era de interesse do rei, dominado pelos vassalos da corte que se dedicavam mais na construção de templos funerários piramidais como o de Medinet-habu. As pragas bíblicas teriam sido simulações colocadas por Moisés, e conforme a sábia recomendação de seu tio, o grande Ramsés III.

03 - CONCENTRANDO RECURSOS

Desde o primitivo regime matriarcal sentiam-se muitas dificuldades para a captação permanente de recursos econômicos em torno da prole. As mulheres não ofereciam meios robustos para centralizarem a reunião dos familiares. A partir do fato de seus filhos se encontrarem em tribos diferentes a transmissão da herança era dreno permanente no bolso do seu grupo, que não se negava a entregar dotes preciosos. O patriarca sofreria constantes “sangrias” com isso. A necessidade de capital e acúmulo de riquezas logo se fizeram sentir, entrando em gestação o capitalismo quando os patriarcas foram surgindo em todos os continentes, graças ao reconhecimento das vantagens advindas da concentração de capitais. Com o novo modelo todos os rebanhos e posses da tribo passaram a pertencer a um único indivíduo - o patriarca - que administrava também as posses de suas noras e genros, como os bens de seus próprios filhos; tal como fora estabelecido dotes para todos os estrangeiros que se sujeitassem a viver na comunidade. Com tal organização as tribos judaicas 11

ou hebréias cresceram rapidamente e eram na ocasião um formidável avanço sobre as famílias matriarcais em permanentes conflitos surgido pelo cruzamento das raças sob um só teto. O cooperativismo agrícola, criado por Hirohito (1901-1989) no Japão e Benito Mussolini (18831945) na Itália como as decápoles gregas no oriente eram superadas apenas pelos indígenas brasileiros que regulavam a subsistência da população pelos recursos alimentares necessários nas regiões de moradia; superado o limite regional da produção surgia o diáspora, com a separação familiar; de acordo com a necessidade alguns ficavam e outros partiam em busca de melhor condição de caça e pésca, como também onde não existam os ociosos que o estadunidense Thorstein Veblen (1875-1929) não viu e Adan Smith (1723-1790) com certeza não poderia conhecer. Mas a “Riqueza das nações” foi contestada por Robert Malthus (1766-1834) com produção de grãos abaixo da demografia. Não só a Inglaterra estaria em colapso.

04 - A ASTÚCIA DE JACOB

Historicamente, a endogamia foi uma medida usada para defender os integrantes de um determinado grupo social, contra as dissidências surgidas no cruzamento de valores vindos com aqueles que vêm de longe, os estrangeiros. Foi assim também utilizada na transformação do matriarcado para o regime patriarcal, quando foram criados os dotes para atrair-se os estranhos às linhas de produção na tribo patriarcal ou pré-capitalista. Assim foi também que Jacob partiu para a Síria a fim de casar-se com as filhas de Labão seu tio (Ge 28: 2), onde foi recebido como irmão nas atividades pastorís e sua presença não representava perigo algum. O hábito matriarcal da população causava danos profundos aos cofres da tribo, quando as mulheres mudavam-se para outra cidade. Recebendo Lia e Raquel em casamento a título de dote, Jacob era visto com freqüência a discorrer sobre as vantagens do patriarcado conquistando logo as simpatias. Seus cunhados e subalternos não tardaram em se deixar convencer, e na hora propícia partiram a caminho de Canaã com o filho de Isaac e Rebeca (Ge 31: 17). Fugi-

ram mas foram alcançados por Labão e os capatazes mais velhos. Formaram-se diversos grupos e o alarido gritante, até que resolveram comemorar com churrasco e ouvir as partes com aplausos separados pelo padrão de pedra fumegante. Longa série de discursos atravessou noites até que ouviu-se a voz de Labão: “Minhas filhas, meus filhos, estes rebanhos, tudo é meu e eu vim buscá-los” (Ge 31: 43). Poucos aplausos se ouviram. Em seguida falou Jacob: “Tu tinhas pouco antes de eu ter aqui chegado, e agora estás rico. É justo pois que eu tenha também a minha riqueza” (Ge 30: 30). “A separação causará o enfraquecimento de todos. Pais e filhos se olharão como estrangeiros” (Ge 31: 49). Quando o primeiro raio de sol se levanta foi que notaram a ausência de Labão que ia longe pensando na produção/consumo.

05 - O ASSALTO A SALÉM

Narrando os fatos, a bíblia começa pelo estupro da filha de Jacob, acidente comum em sociedade onde o matriarcado tenha raízes se não pelo direito, ao menos pelos fatos. Outro assim deverá ter sido o motivo que serviu às intensões do filho de Rebeca. O ardiloso plano ficou claro quando os filhos de Jacob se negaram a entregar sua irmã a um homem não circunciso. O discurso de Hemor, rei de Salém, mostrou que ele desejava associar-se com aquele povo recém-chegado e pacífico, os criadores de ovelhas. Esperava ele encontrar fraternidade entre os forasteiros, tanto quanto esperamos os benefícios do FMI atualmente. Os israelitas não concordaram com o enlace de Dina com um homem não circuncisado e porém, concordariam em fazer aliança caso todos os homens de Hemor se submetessem à operação do prepúcio. Sobraram as gargalhadas diante da pueril exigência. Siquém, o mais celebrado dos cananeus não vacilou diante disso e aceitou logo a majoração do dote das mulheres, acreditando levar vantagem no negócio que associava capitais com tão boa gente. Depois de inúmeras assembléias os súditos