Jardins Suspensos
A EssĂŞncia perdida
Jardins Suspensos
A EssĂŞncia perdida
B. H. Cornish
SĂŁo Paulo 2014
Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda
Criação de Capa Gustavo Brinhosa Projeto Gráfico
Tatyana Araujo
Diagramação
Monica Rodriguês
Revisão Textual
Patrícia de Almeida Murari
Todos os nomes e sobrenomes citados na história são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos será mera coincidência.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ C835j Cornish, B. H. Jardins suspensos: a essência perdida / B. H Cornish. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2014. ISBN 978-85-437-0143-1 1. Romance brasileiro. I. Título. 14-18451 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 05/12/2014 05/12/2014
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.
Especialmente para minha mãe, a família Cassol e família Canani.
Sumário
CAPÍTULO UM A casa de chá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 CAPÍTULO DOIS Ponto de partida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 CAPÍTULO TRÊS O Palácio das Estações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 CAPÍTULO QUATRO Vërnion . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 CAPÍTULO CINCO A teoria de Leonardo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 CAPÍTULO SEIS O roubo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
CAPÍTULO SETE Mudança nos planos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 CAPÍTULO OITO Malditas aranhas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 CAPÍTULO NOVE O Guardião das Águas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 CAPÍTULO DEZ Uma dica no escuro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 CAPÍTULO ONZE A Essência Perdida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 CAPÍTULO DOZE Uma recepção calorosa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 CAPÍTULO TREZE O interrogatório. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 CAPÍTULO CATORZE O Caçador banido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 CAPÍTULO QUINZE Lealdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 CAPÍTULO DEZESSEIS Entrada alternativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 CAPÍTULO DEZESSETE Sempreverde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 CAPÍTULO DEZOITO O vigésimo terceiro andar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
CAPÍTULO DEZENOVE O falso rei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 CAPITULO VINTE A ponte d’água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 CAPÍTULO VINTE E UM O segredo de Hélvio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 CAPÍTULO VINTE E DOIS O que foi previsto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
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CAPÍTULO UM
A casa de chá
O
cheiro ali embaixo era uma mistura de peixe podre com algas secas. Suspeitei que o rio que antes passava ali desembocasse no mar não muito distante; conseguia ouvir o som das ondas quebrando mais além. Eu continuava no chão e a mulher continuava ali. Coloquei as mãos nas pedras úmidas para me levantar e olhei para cima. Não conseguia enxergar o topo do penhasco, nem mesmo algum sinal dos demais. — Benjamin Sullivan — ela disse, por fim, quebrando o silêncio. — Você era a pessoa que eu estava aguardando. Foi então que prestei mais atenção nela. Além de ser horrivelmente feia, notei que seus olhos estavam fora de órbita. Eram brancos, como os de Áster, mas de alguma forma, mortos. Cheguei a imaginar que fosse cega, só que muitas vezes ela me fitava. Por alguns segundos fiquei a observando melhor. Seus cabelos eram negros e caíam até sua cintura, e se 11
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moviam de acordo com o vento... Espere um segundo! Não está ventando aqui no meio desse abismo. — Desculpe se minhas meninas assustaram você — continuou ela, sem se mover, mostrando aqueles dentes podres novamente. — Perdoe-me também por trazê-lo até aqui de maneira informal. Mas precisava falar com você. Na verdade foi de uma forma que me deixou assustado. — Posso saber o motivo? — perguntei, tentando manter a calma. Ela fez uma pausa e se aproximou, deslizando pelas pedras. Era muito mais feia de perto e seus cabelos, na verdade, eram serpentes marrons, sem olhos, completamente cegas. Tentei imaginar se já havia visto criatura tão medonha como esta, mas nenhuma me veio à cabeça. Por outro lado, ela não dava medo, mas aquelas serpentes em sua cabeça... Evitei encará-las. Era quase um desafio não se assustar com os silvos baixos que elas davam o tempo todo. Enquanto eu me limpava, tentava ver se estava tudo comigo: a espada, as pedras nos bolsos, o diário. Ah, este não estava comigo! Acostumei demais quando andava com ele para cima e para baixo, levando para qualquer lugar, folheando suas páginas até altas horas às escondidas. Agora faz quase dois dias que não o tenho por perto. Isso me preocupava um pouco. Quando ergui a cabeça senti uma leve tontura como se tivesse girado centenas de vezes no mesmo lugar. Não estava mais no meio daquele penhasco. Havia paredes de pedra branca com alguns vasos pendurados contendo samambaias, um lustre com dezenas de pedrinhas de cristal no teto lançando na sala uma pequena 12
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iluminação, um tapete amarelo ao centro do piso de madeira maciça escura e uma mesa com duas cadeiras, coberta de pães, sucos, frutas e chás. A mulher estava ao lado de uma das cadeiras e apontou indicando o lugar para que eu me sentasse. De má vontade, dei alguns passos e sentei-me à mesa. Olhei ao redor e percebi uma coisa: não havia portas ou janelas. — Tenho uma mensagem de seu pai para você — disse ela sentando-se e me servindo uma xícara fumegante de chá e me empurrando algumas fatias de pão. Achei a princípio que fosse algum tipo de truque barato. Algo como o que Dora dissera sobre confiança. Essa mulher lançou suas serpentes contra nós, me derrubou de uma altura relativamente imensa e agora diz que tem um recado do meu pai. — Como ele sabia que eu viria até aqui? — perguntei com meu coração já acelerado de esperança. — Seu pai é um homem inteligente, mesmo que pareça distraído e desatencioso quando descobre alguma coisa importante. Sempre fala de você e do seu irmão mais velho quando temos nossos encontros e o peguei várias vezes olhando suas fotos. Ora, isso era algo novo para mim. Tudo bem que em sua última visita ele ficara extremamente feliz com a minha transformação em fadar e o lance da festa, mas não conseguia vê-lo em silêncio olhando para retratos. Quando ela virou o pedaço de papel logo reconheci a caligrafia dele, com sua assinatura e o brasão da família: um floco de neve e um “S” bem ao centro, gravado com cera azul meia-noite. Se ele deixou uma carta para uma criatura 13
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tão horripilante em aparência, acho que não deveria criar caso e confiar nessa mulher. — Posso ler a carta? — perguntei, ansioso, esticando minhas mãos para ela. As cobras em sua cabeça deram um silvo em uníssono e dei um passo para trás. A mulher sorriu e disse: — Não se preocupe com elas. Agora com sua presença aqui sei que isso deverá ser temporário — e ela acariciou suas mascotes. — Tenho certeza de que logo voltarei a ver o mundo com meus próprios olhos ao invés de ter minhas queridas fazendo este trabalho para mim. Tentei imaginar qual utilidade de cobras cegas para uma mulher cega, mas não entraria em detalhes sobre isso com medo de deixá-la constrangida. Voltei minha atenção à carta que eu segurava. Minhas mãos estavam trêmulas quando desdobrei o papel pardo e li em voz baixa o que meu pai deixara escrito:
Caros Benjamin e Leonardo, Desculpem-me pela ausência dos últimos meses, mas creio que em breve terão todas as respostas para essas perguntas perdidas em suas cabeças. Não se preocupem comigo, eu estou bem. Só aconteceram certos imprevistos e tive que permanecer por aqui. Naturi cuidou bastante de mim e agora chegou a hora de continuar minha jornada. Ela saberá quando um de vocês aparecer por aqui e entregará o meu recado. Caso eu seja descoberto, peço que não venham me procurar. É perigoso demais e não quero que nenhum de vocês se machuque por minha causa. A essa altura provavelmente Benjamin já com14
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pletou dezoito anos e se tornou um fadar e vocês já tenham encontrado o Diário do papai, então peço que o protejam e o mantenham longe dos Caçadores ou de qualquer outra pessoa suspeita. Leonardo, você pode não entender, mas é Benjamin quem deverá cuidar do Diário. Meu pai não explicou o motivo, mas quero que obedeça. Irei até o Jardim Botânico, tentar falar com nossos superiores. Certamente eles têm as respostas para tudo o que está acontecendo. Mantenham o Diário a salvo, repito! Benjamin e Leonardo, mais uma vez peço desculpas por não ter sido um pai presente.
Hélvio Sullivan 10 de março, Jardim Meticuloso Procurei por mais alguma coisa no verso da folha, mas não tinha nada. A velha assinatura dele — um “H” e um “S” abaixo — estava ao lado da data. Três dias antes do meu aniversário de dezoito anos. — A data deve estar errada — comentei, relendo a carta novamente. — Ele esteve em casa, um dia antes do meu aniversário. Iago, meu primo, estava com ele. Calei-me por uns segundos, lembrando-me de Iago. — Talvez possa ter acontecido algum engano — ela falou, mais tranquilamente, acariciando seus cabelos, distraída. — Mas Hélvio Sullivan sabia que estava correndo perigo quando voltou até aqui e meus informantes disseram tê-lo visto pela última vez, próximo a Sempreverde, antes de ser capturado. Eu desviei os olhos da carta de papai e a encarei. Sua expressão se fechou, e suas mãos esqueléticas foram caindo lentamente. 15