Os meninos, as mรกgoas e as flores
A. Masini
Os meninos, as mágoas e as flores Ilustrações Luca Airosa
São Paulo 2013
Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Editora Baraúna Revisão Natalia Silveira Ilustração Luca Airosa CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _________________________________________________________________ M367m Masini, A. Os meninos, as mágoas e as flores/ A. Masini; ilustração Luca Airosa. - São Paulo: Baraúna, 2013. ISBN 978-85-7923-648-8 1. Crônica brasileira. I. Título. 13-0477.
CDD: 869.98 CDU: 821.134.3(81)-8
22.01.13 24.01.13 042330 _________________________________________________________________
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
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Sumário Um prólogo necessário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Para a minha e para toda mãe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Para renovar minha coragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Mariana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 O Wolverine é o meu irmão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Alma feminina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Bilhete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Quereres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Damas na Noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Outono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Nossos movimentos ondulantes . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Um passo no abismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Distanciando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Almeida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 A Magia das Motocicletas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Meninas dos olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Dia de Circo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Um homem que plantava esperanças . . . . . . . . . . . . . 44 Orvalho ontem, chuva hoje, reencontro amanhã . . . . 46 Liberdade é outra coisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Das perdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Baixios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Autonomia para seguir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A amora de Johnnie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Analista clichê . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Saudade é um marco no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . Memórias apagadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E Johnnie cresceu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Evoluir ou calar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Um prólogo necessário Pensando sobre os versos que aponho no papel, tirados da confraria das palavras que comungam, ora dolorida angústia, ora eufórica alegria, vejo-me um usurpador. As faço aproximar com armadilhas imaginativas e quando se seduzem dos atrativos que lhes ofereço, se permitem reunir como as reúno. É, porém, imprescindível antes convencê-las, pois que me falta talento e só pela sedução se despojam do orgulho e me perdoam por juntá-las em pseudo poemas. Temos um caso de amor, as palavras e eu; eu as amo e elas, por mim, se deixam amar.
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Para a minha e para toda mãe Lembro-me bem daqueles tempos de garoto recém-ingresso no mundo dos adultos e quantas mudanças e aporrinhações. Às vezes era o chefe, absolutamente rabugento, ou clientes igualmente chatos; noutras era o trânsito que emperrava sem motivos e o sufoco no coletivo se tornava interminável, também havia o time do coração que perdia (e como perdia naqueles tempos). Mas, fosse qual fosse o motivo da angústia, da tristeza ou da revolta, você sempre estava em casa, mãe. E com seu sorriso carinhoso e um afago em meus cabelos, fazia com que tudo ficasse lindo e meu coração de menino em paz novamente. Isso sem falar das tantas vezes que chegava meio bêbado e na manhã seguinte encontrava um chazinho milagroso de boldo na geladeira. Os anos passaram, eu cresci (confesso que mais por fora que por dentro) e a casa em que hoje moro já não é mais a mesma em que a senhora, embora meu lugar em sua casa, mãe, eu sei, ainda permanece. Os problemas de hoje também são outros: crises existências, morais, espirituais e financeiras; o safado do 9
farmacêutico que não me vende mais Fluoxetina sem receita, o cretino do síndico do prédio que é tão chato quanto o Galvão Bueno, o Lula e suas sandices, o atual chefe, que embora seja outro, é tão rabugento quanto todos os demais. Mas sabe do quê mais mãe? Embora a gente sempre tenha percebido que o verdadeiro chato seja eu mesmo, a senhora jamais deixou de sorrir pra mim ou de afagar meus cabelos, trazendo paz ao meu coração e me fazendo sentir um menino novamente em seu colo. Esses gestos, mãe, continuam os mesmos e fazem de mim um cara abençoado por ser seu filho. Então, capricha no carinho domingo mãe, que essa semana foi pra lá de pesada. (Homenagem às mães, esses infinitos mananciais de paciência, compreensão e amor)
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Para renovar minha coragem Grande Masini! Não é noutro lugar, que não no mais íntimo de mim que te reencontro. Impressa em cada célula que me forma, que me dá vida, está sua essência. Sua breve história também permanece em mim, registrados na minha alma eterna estão seus sorrisos, algumas lágrimas e valorosos ensinamentos. O melhor, e o melhor de você. Me orgulho de reconhecer em meu próprio corpo, a medida que o tempo passa, as formas do seu corpo, e até em meu olhar, embora desbotado da sagacidade do seu, te revejo e isso me faz feliz. Novamente você me socorre, me estende sua poderosa mão que invejo não ter herdado, me recolhe amoroso, me faz lembrar-me de onde venho e a força que tenho em mim, na sua família, e nos padrinhos a quem delegava minha proteção quando dizia: “São José e a Virgem Maria que te proteja”. Estamos juntos e me sinto pronto, porque que sou seu filho. Te amo pai. 11
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Mariana Não sei que idade você teria hoje, mas sei que te amaria tanto quanto te amei desde o seu primeiro choro, logo após o momento da graça em que emergiu ao mundo, e te abraçaria com a mesma devoção com que abracei seu pequenino corpo pela primeira vez, enquanto me perguntava que cor teriam seus olhinhos ainda fechados. Meu tempo passaria mais rápido sempre que estivéssemos juntos e a cada dia descobria em você novos encantos que me emocionariam às lágrimas. Por vezes me sentiria ridículo ao ser surpreendido cultivando o hábito de te vigiar o sono mesmo depois de crescida; ou quando não conseguisse disfarçar meu encanto diante da sua força de opinião ao recusar decidida o leite (talvez por não vir mais de fonte tão confiável) que, quando bebê, sorvia ávida nas mamas de sua mãe. “Brigaríamos” sim, como quando perdeste o primeiro dentinho e não consegui controlar o riso ao vê-la dar mais um passinho na direção de seu crescimento. Sabiamente me repreendeste: “você ainda vai ficar banguela”. 13
Te cultuaria os dias te estragando em mimos; fazendo de você a mais amada filha presenteada por Deus a um simples pai. Na adolescência, acompanhada das dificuldades e descobertas inerentes ao amadurecimento, mesmo naquele lindo corpo de moça, meus olhos correriam como antes, como na menina chorosa com medo do trovão. Com você, enfim, conseguiria aprender por experiência os valores que meus pais se esforçaram para me ensinar e a cada exemplo de dignidade que conseguisse te oferecer, me sentiria grato aos seus avós. Nenhum esforço seria demais para te proporcionar o crescimento com segurança e retidão porque muitas seriam as oportunidades em que me faria derramar lágrimas ao observá-la demonstrando a mesma generosidade, compaixão e graça certamente herdadas de sua mãe, vez que a mim tais adjetivos escapam. Comungaríamos suas conquistas e, dos eventuais tropeços, nos ergueríamos juntos, porque minha mão estaria sempre pronta para te afagar, te defender, te amparar, te acolher. Você cresceria, minha sempre amada Mariana, me proporcionando novos prazeres, novas descobertas, novos amores. E, mesmo depois de partir meu coração ao permitir-se roubar-se de mim por outro homem, eu continuaria a amá-la e a me perguntar que cor teriam seus olhinhos ainda fechados. (Carta aberta à Mariana — a amada filha que não tive)
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O Wolverine é o meu irmão Levantou-se quietinho, pé ante pé e, com o dia ainda por nascer, postou-se no escuro à porta do quarto do irmão mais velho. Ficou ali com os olhinhos pesados lutando contra o sono, mas desejava a todo custo ver o irmão sair para o seu dia de trabalho. Só o encontrava aos finais de semana, pois que sempre estava dormindo, tanto quando o irmão saia pela manhã ou quando voltava já tarde da noite e, mesmo naquelas oportunidades era difícil, vez que se ocupava com suas brincadeiras e o irmão com seus estudos. Eram apenas os três naquela casinha de periferia: o mais velho, ele e a mãe viúva, uma jovem senhora que se dividia entre os cuidados com o caçula e o trabalho de tomar conta de outro menininho um pouco mais novo que o filho menor. No dia anterior havia perguntado à mãe sobre o irmão, por que era tão difícil encontrá-lo, por que ele nunca vinha para casa mais cedo brincar. — Ele tem de trabalhar e estudar, querido. 15