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Leonardo Fernandes de Oliveira

Para as Flores, Anestesia e Letargia

SĂŁo Paulo - 2016


Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa

Emília Adamo

Ilustração

Flávio Augusto Claudiano

Diagramação Felippe Scagion Revisão

Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

O48p

Oliveira, Leonardo Fernandes de Para as flores, anestesia e letargia / Leonardo Fernandes de Oliveira . 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. ISBN 978-85-437-0679-5 1. Poesia brasileira. I. Título. 16-35298

CDD: 869.1 CDU: 821.134.3(81)-1

________________________________________________________________ 08/08/2016 10/08/2016

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


Apresentação Alma! Esta é a primeira palavra que me vem à mente quando leio as poesias e os escritos de Leonardo Fernandes de Oliveira. Posso seguramente dizer que estes escritos abarcam todas as condições da vida humana, pois falam de situações de alegrias e de tristezas, de dúvidas e certezas, de medos... e apresentam fatos corriqueiros ou inusitados. Enfim, falam bem próximo aos nossos sentimentos. Uma cena do pôr do sol, uma ocasião corriqueira, um questionamento, uma cena urbana, tudo isso serve como pano de fundo de onde brota uma poesia, que se renova a cada dia, a cada nova leitura, que se torna diferente a cada nova maneira de olhar, pois nosso olhar nunca é o mesmo, mas se modifica a cada nova experiência. Estas poesias nos ajudam a traçar o percurso existencial pelo qual todos passamos, ou devemos, necessariamente, passar. Através de cada cena poética retratada, vemos o caminho de cada ser humano na busca pela sua construção enquanto homem, enquanto humano. Veremos a beleza do lançar-se em direção à vida, construindo-se a cada dia e refazendo-se quantas vezes forem necessárias. Certamente vamos nos deparar com inúmeros questionamentos e somente a nós cabe a procura pela resposta. Entretanto, não tenha-


mos pressa pela resposta, mas saboreemos as questões que brotarão a partir desta leitura e, com calma, com paciência, façamos o percurso em busca das respostas. Na nostalgia dos lugares nunca visitados, proporcionada pelos escritos de Leonardo Fernandes, somos impulsionados a realizar uma grande viagem pelo nosso próprio ser. Nesta viagem tão necessária, vamos nos deparar conosco mesmos, descobriremos lugares esquecidos, deixados de lado, até mesmo inabitados. E a partir destes lugares poderemos nos construir, nos re-fazer, re-organizar nossa própria vida, re-entrelaçar a teia de nossa vida, dos sentidos atribuídos às nossas experiências e de nossas relações. Portanto, é necessário que permitamos que estes escritos falem profundamente ao nosso ser, que eles despertem em nós sentimentos novos, talvez esquecidos ou desconhecidos. Estes escritos, cada um com sua particularidade, falarão por nós, serão nossa voz para expressar o que talvez não saibamos nomear através de palavras. Deixemo-nos conduzir pelos nossos sentimentos através desta leitura, e tenho certeza de que realizaremos a viagem mais importante que temos de fazer: a viagem pelo nosso interior. Edson Durante de Oliveira


Dedico este pequeno pedaço de alma escrita às paixões do mundo contemporâneo. Lhe agradeço. “Mas eis ainda uma questão: para que e por que eu, de fato, desejo escrever? Se não é para um público, então não seria possível guardar tudo na memória, sem pôr no papel? Certamente, senhores. O papel inspira respeito, serei mais exigente comigo mesmo, o estilo lucrará. Além disso, escrevendo, talvez eu sinta de fato alívio. Neste momento, por exemplo, uma recordação antiquíssima me oprime. Ela me veio à memória com nitidez há alguns dias e desde então não me larga, como uma melodia aborrecida que não sai da cabeça. Entretanto, é necessário livrar-me dela. Tenho centenas de recordações desse tipo, mas de vez enquando alguma se destaca das outras e começa a me afligir. Por alguma razão, creio que, escrevendo-a, conseguirei livrar-me dela. Por que não tentar? Finalmente: sinto-me entediado, pois fico o tempo todo sem fazer nada. O ato de anotar é, de certo modo, um trabalho. Dizem que o homem se torna bom e honesto com o trabalho. Bom, pelo menos, eis aí uma chance. (Fiodor Dostoiévski, Notas do Subsolo, O Subsolo, parte II)”.



Sumário Prólogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Para as Flores – Da Superabundância. 61 O Disfarce . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 A Dupla Face de um Carpinteiro . . . . . . . . . . . 65 A Aposta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Summa Summarum, Com Nitidez. . . . . . . . . . 67 Receita de Francini. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 A Oferta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Aquilo Que Te Lembra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 As Sete Vozes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Vênus de Fernandes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 O Fascínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Proponho um Brinde a Nós, os Filólogos!. . . . . 80 O Poder de Seduçãodas Palavras. . . . . . . . . . . . 85 Das Sete Vocações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 “Let’s Do It, Let’s Fall In Love”. . . . . . . . . . . . . 87 Rascunhos para um Sábado. . . . . . . . . . . . . . . . 88 Para as Flores dos Amantes. . . . . . . . . . . . . . . . 89 Considerações A Posteriori. . . . . . . . . . . . . . . . 90 A Filha da Noite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 Sonitus Fidelitatis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94


Para a Anestesia – da Indiferença. . . . . 95 A Sós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Dos Inimigos do Rendimento – Sobre Como Procrastinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 Da Indiferença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Obsessão por Rimas – de Bobeira. . . . . . . . . . 103 Estádio Municipal Jair da Silva. . . . . . . . . . . . 104 Para a Letargia – do Torpor. . . . . . . . . . 105 Amanhã o quê?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Para a Psicologia de Quem Não Pode . . . . . . . 108 Da Incapacidade de Si – Versos ao Banho da Meretriz Antes da Cópula. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Respiração de um Des-Empregado. . . . . . . . . 111 A Função daPalavra Escrita. . . . . . . . . . . . . . . 112 Náusea Compulsiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Ao Mestre, Com Carinho! Ou – o Que Meu Fritz Me Ensinou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 Para Além da Verdade Alcoólica . . . . . . . . . . . 115 Porco Espinho Schopenhaueriano. . . . . . . . . . 116 Incompletude. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Asfalto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 Para a Superação –Da Condição das Escolhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Setas e Apontamentos – do Mais Silencioso Sorriso..125 Considerações Metafísicas de um Pedinte – do Tornar–Ser!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Madrugada ‘‘... Hipoteticamente o Homem Dorme...’’. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128


Poesia Gestada – O Poeta Como Embrião. . . . 130 O Poeta e Seus Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 O Ofegante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 Sobre Ateísmo – Adeus Deus... Deus?. . . . . . . 134 Resguardo Teológico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Quando Não Conseguir Amar o Teu Próximo, no Mínimo, Suportai-o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 Frenesi de Perdão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 Ao Martelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 O Convite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 Votos de um Viciado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 O Canto Noturno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Godfather Theme by Guns N’ Roses. . . . . . . 144 Sobre Introspecção – do Espírito Vadio. . . . . . 145 Sobre Introspecção – da Aceitação da Vida. . . 148 Leonardo Fernandes Fodeza . . . . . . . . . . . . . . 150 A Reunião. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Reflexão Sobre a Morte – do Amadurecimento. . 155 Reflexão Sobre a Morte – A Grande Porta . . . 160 Aos Meus Escolhidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 Entorpeça-Te . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Para a Mornidão Fulminante. . . . . . . . 165 Do Presente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Noite Nada-Inspiradora – Poema de Minuto. 168 Dottismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 Versos de um Fariseu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Fodelância. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 “Soneto’’ da Fodelidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 Poesia Contemporânea. . . . . . . . . . . . . . . . . . 178


Do Ato de Estudar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Do Ato de se Aprender!. . . . . . . . . . . . . . . . . . Ensaio Sobre a Aurora Contemporânea. . . . . . Submissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Contemporâneo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

179 180 182 185 186

Para as Flores Muzambinhenses . . . . . 187 Meia Dúzia de Agradecimentos para Meia Dúzia de Diferentes Livros, Propostas ouEmpreitadas Perigosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 Balada da Degustação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 ... Et Coetera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Aos que não Amo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196 Aos Indulgentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 O Cruzeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 O Oráculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199 Desaparição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 Felicidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 A Semideusa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202 Setembro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 O Inútil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 Avenidas Muzambinhenses. . . . . . . . . . . . . . . 207 Para a Falta de Valor – O Territoriante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 O Incomum. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211 Ao Bar do Neném Pocaia . . . . . . . . . . . . . . . . 212 Dizeres Incrédulos ao Cruzeiro. . . . . . . . . . . . 213 Minhas Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214 O Sem Valor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 12


Para Não Sei Mais o Que – Quando a Cabeça Aparenta Ser um Forno Vazio e Quente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 Quanto a Renúncia de Princípios. . . . . . . . . . 219 Café Solitário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 Casos de Vadiagem – Para a Gênese de Como se Formam os Poetas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 Aforismos Sem Valor e uma Pergunta Mais Sem Valor Ainda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 Da Disposição Para a Realidade Como Bala na Agulha de um Escritor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 A Des-Medida Áurea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226 Lácrima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 Conversas Com Meu Pai. . . . . . . . . . . . . . . . . 228 O Espírito das Ruas Contemporâneas. . . . . . . 231 Do Ter Lugar no Mundo. . . . . . . . . . . . . . . . . 234 Poesia Número Cento e Seis. . . . . . . . . . . . . . 235 O Coração Muzambinhense. . . . . . . . . . . . . . 236 Meizambinhense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238 Para um Novo Coração Muzambinhense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 Processo Centáurio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 Magis Quam. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246 Da Amizade e da Reafirmação da Vida. . . . . . 249 Do Cuidado e do Carinho Maior. . . . . . . . . . 255 Capacidade de Eternizar – da Superação do Tempo! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256 Apontamentos da Vida Contemporânea – O Arquiteto e o Todo, e o Tolo Como Arquiteto. . . 257 13


Préstimos Ao Trabalho Alheio. . . . . . . . . . . . . A Finalidade do Sexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Despudorado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Dança do Fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Ouvinte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introspecta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Saudade Altruísta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Felippo d’Esperanza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Notas de São Paulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

259 260 261 262 264 265 266 267 273

Para O Ausente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 O Ausente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289


Prólogo I Sei que esperavam ansiosos pelo meu retorno, como o servo que aguarda o amo, como o mundo e o tempo aguardavam a contemporaneidade, esse fascínio que invade nossas vias respiratórias, que nos faz conviver com tudo quanto é, com tudo que um dia (se) foi, e com o pouco que se emenda nas terrenas possibilidades de um vir a ser; sei que me aguardavam como uma memória inexistente, de algo que nunca aconteceu: Eis-me aqui, aquele, o aguardado. Mas como poderia eu retornar de um lugar onde nunca estive? Como poderia eu retornar do nosso mundo literário, por exemplo? Como poderia eu retornar dos nossos dias? Como poderia me lembrar de algo que não aconteceu? Como um bom homem contemporâneo – com as mãos abanando por ter pouca vontade, ou por raras vezes, movido só pelo desejo, quase me mover e levar a cabo meus projetos; com um sorriso modesto, por não levar uma vida emocionante; pois o mundo de hoje não é inspirador para propor muita coisa nova, muita coisa com 15


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