SĂŠrie: Segredos Que Ferem
Márcia Paiva
Série: Segredos Que Ferem
São Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Adriana Brazil - http://www.adrianabrazil.com Revisão Bianca Bione Marcia Rios - http://www.apaixonadaporlivros.com Diagramação Monica Rodrigues Esta obra é fictícia, qualquer semelhança com nomes, locais e fatos é mera coincidência. Todas as informações contidas no livro foram incansavelmente pesquisadas.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________
P169s
Paiva, Márcia Sem Perdão / Marcia Paiva. - São Paulo : Baraúna, 2012. (Segredos que ferem, 1) Inclui índice ISBN 978-85-7923-469-9 1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série. 12-0143.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
09.01.12 11.01.12
032477
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Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04507-020 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br
Agradecimentos Agradeço a Deus em primeiro lugar. Obrigada, Senhor! Ao meu marido, por sua paciência e compreensão. Amor, sem você isso não seria possível! Aos meus filhos, Gustavo e Eduardo, que me viam sentada no computador por horas a fio, sem ter muito tempo para eles: Amo vocês! Obrigada por tentar ajudar a mamãe, não fazendo muita bagunça e nem gritando. Esse livro dedico a vocês três, que são minha vida. Um agradecimento especial ao meu cunhado e amigo Rafael Martins que foi a primeira pessoa a ler meu livro e a me incentivar a continuar. Não poderia deixar de agradecer às pessoas que conheci na blogosfera pelo carinho e força Edmundo Spot, Van Bosso, Danilo Barbosa, Paola Patricio, Márcia Rios, Fernanda Meireles, Nanuka Andrade, Babih Hilha, Adriana Oliveira e muitos outros. Obrigada a todos vocês.
Sumário Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Uma Promessa (Maia) 10 anos mais tarde . . . . . . 13 Um dia de cão (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Tragédia (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Flashes (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Pacto (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Onde está Maia? (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Morando nas Ruas (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Um fio de esperança (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . 83 Última noite (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Cumprindo o Pacto (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Reencontro (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Revelação (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 O que é certo? (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Smille (Maia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Longe dos olhos (Guedes). . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Fazer sexo e fazer Amor! (Maia) . . . . . . . . . . . . 147 Escape (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Descobrindo a verdade (Maia) . . . . . . . . . . . . . 169 Por um fio (Guedes). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Fuga por uma Noite (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Visita inesperada (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . 193 De volta ao centro (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 Como se fosse a 1ª vez (Guedes) . . . . . . . . . . . 219 Estela (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 Antunes (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Dia da Festa (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 Pesadelo (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273 Sem Perdão (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283 190 (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 Fio de vida (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309 Palavras de um menino (Guedes) . . . . . . . . . . . 323 Uma homenagem (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 331 Uma canção para nós dois (Guedes) . . . . . . . . . 337 Epílogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341
Prólogo Zona Leste, SP O suor cobria minha testa, os cachos de meus cabelos grudavam em meu pescoço. Estava deitada sob a cama com a testa encostada no chão frio. Procurei a mão do meu irmão que estava ao meu lado. Ele sorriu tentando passar confiança. Entrelacei meus dedos nos dele e senti que estavam gelados como os meus. Tentei não demonstrar o pavor que estava sentindo, mas um soluço involuntário saiu dos meus lábios. O som dos tiros, as rajadas de metralhadoras eram ouvidos à distância. — Acha que papai vai demorar, Rafael? — Deve estar esperando — disse apertando levemente minha mão — Assim que o confronto terminar, ele vem para casa. Concordei com a cabeça voltando a deita-la no chão. Aos poucos, os sons foram diminuindo até que o silêncio reinou. Suspiramos aliviados, esperamos por mais alguns minutos antes de deixarmos o esconderijo improvisado. — Acabou — Disse indo até a porta — Você esta bem? — Perguntou ajudando-me a ficar em pé. — Sim. E você? Ele sorriu.
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— Sim, sem um aranhão. Ele tinha dezoito anos, havia uma diferença de onze anos entre nós. — Gostaria de nunca mais ouvir esses sons. Eu tenho medo que uma bala nos acerte — reprimi um soluço — Tenho medo que você morra — continuei sem conseguir conter as lágrimas — Só tenho você e o papai. — Ei, pequena! Não chore! — pediu me abraçando — Não quero fazer promessas, mas confie em mim. Um dia tudo vai melhorar. E não esqueça que temos, além do papai, o Antunes. — Sim, ele é bom com a gente. Eu confio em vocês, Rafael. Aquele foi um dos muitos confrontos que presenciei entre traficantes e a polícia ao longo dos anos. Morávamos em uma comunidade carente, na verdade um morro que, por ser muito inclinado, era chamado de Torre de Babel. As escadarias eram vistas da avenida. Ali imperava a lei do silêncio. Cresci nesta lei, imposta pelo maior traficante do Estado de SP. A brincadeira das crianças era roubar carros e matar seus ocupantes. Os mais velhos que já caminhavam para o tráfico, ensinavam os mais novos o linguajar, como abordar as vítimas e principalmente manusear armas. Nunca era permitido se passar por policial. Essa era a primeira lição que aprendiam. Cinco meninos brincavam em uma carcaça de carro. Eles entraram e dominaram o motorista que era um deles. Antes que abrissem a boca, outro menino chegou pela lateral, em sua mão havia uma arma improvisada feita com um pequeno cabo de vassoura.
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— Parado, polícia! Levantem as mãos! — Gritou ele. Uma sombra cobriu os cinco. Os meninos olharam para o homem com os olhos arregalados. — Niko — disse o homem mansamente — Quando seu pai adoeceu e sua mãe ficou impossibilitada de trabalhar, quem colocou comida na mesa de vocês? Foi o policial? Foi o delegado? — Nenhum... Nenhum dos dois — respondeu o menino gaguejando de cabeça baixa. — Quem foi? — O senhor. — Quero ouvir o nome. — Daniel, o rei. — Isso, muito bem — falou passando a mão na cabeça do menino — Qual sua idade, Niko? — Cinco anos. — Já tem idade suficiente para começar a entender a lei do morro. Eu dou proteção, cuido das pessoas. E você se passa por um filho de uma puta de um policial! — exclamou ele irritado — Nunca mais, nem por brincadeira, faça isso. Entendeu? — Sim, senhor. — Ótimo! — ele sorria satisfeito — Isso vale para todos. Polícia aqui não entra, nem na brincadeira de vocês. Estava sentada nas escadas, quando percebi que meu irmão sentou-se ao meu lado. Olhava tudo com muita curiosidade. “Polícia aqui não entra nem na brincadeira de vocês” repetiu sério. Meu irmão não era um menino e sempre soube muito bem o que queria da vida. — Nunca me deixei seduzir pelo dinheiro fácil deles
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— disse na mesma noite olhando a movimentação dos carros que paravam a meio fio das escadarias — Essa vida nunca me atraiu. Até hoje não sabia muito bem o que queria. Só sabia o que não queria. — O que mudou, Rafael? — perguntei — Hoje tive a certeza do que quero ser — ele se aproximou — Vou ser policial, Maia. Vou defender a lei e prender pessoas como o Daniel. — Não pode. Ele… ele — Ele não vai saber de nada. Só eu e você saberemos o que sou realmente. Posso confiar meu segredo a você? — Claro, Rafa. Não vou abrir minha boca, nem sob tortura. Ele sorriu e foi um sorriso que há muito tempo não via. Observar era meu passatempo preferido. Por ser criança, eles não se incomodavam com meu olhar curioso. Foi observando que vi, ano após ano, Daniel ficar cada vez mais rico. Traficante esperto era aquele que traficava, mas não usava. Ele não era burro. Abastecia praticamente o Estado inteiro embaixo do nariz da polícia. Era muito meticuloso, nem todos os seus homens tinham livre acesso a ele. Os mais próximos eram seus irmãos e suas mulheres. Uma delas era minha mãe, que nos abandonou para viver com ele. Ela não deixou lacuna nenhuma, era uma mulher fria, não demonstrava carinho por mim e muito menos por meu irmão. Desde pequena, não me lembro de nenhum gesto de afeto ou de uma palavra carinhosa. Eu preferiria ouvi-la gritando ou esbravejando, mas se limitava a nos olhar com absoluta frieza, arrisco dizer até com desprezo. Definitivamente, foi um alívio quando saiu de casa. Até meu pai suspirou aliviado.
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Uma Promessa. (Maia). 10 anos mais tarde Ouvi meu irmão me chamar. — Maia! Vamos! Vou sair mais cedo, tenho que passar no banco. Faço companhia para você até a escola. Saí rapidamente do quarto, peguei meu violão e coloquei nas costas. Dei uma última olhada no espelho da sala. Não era bem uma sala. Como o espaço era mínimo, meu pai separou o cômodo em dois com um tapume. Um ficou sendo a cozinha, o outro a sala. Era pequeno, modesto, mas limpo. — Hoje vou fazer uma surpresa — Rafael levantou a mão quando viu que eu ia interromper — Sem perguntas. Só à noite vou falar. Vamos embora. — Disse pegando sua mochila que estava sobre o sofá. — Tudo bem. Vamos — Concordei fechando a porta. Descemos as vielas estreitas da favela. Onde passávamos éramos cumprimentados. As crianças eram maioria. Algumas mães desciam com seus filhos para leva-los à escola, outras lavavam roupas em tanques improvisados do lado de fora de suas casas. Morávamos quase no alto do morro. Passamos por um rapaz que exibia uma submetralhadora. Era um olheiro da boca. Não mexia com os moradores e eles faziam vista grossa. Olhei de rabo de 13
olho para o meu irmão e vi claramente sua fisionomia de revolta. Ninguém ali sabia da profissão dele. — Calma! Sozinho não fará nada. — Eu sei, eu sei — soltou um longo suspiro — Queria contar a novidade mais tarde, mas vou falar agora — parou fazendo suspense. — Maia, consegui um apartamento. Vamos sair daqui. — Jura? — Sim. É um condomínio para militares — Falou baixando o tom de voz — Vivo em constante perigo. Se algum deles descobrir o que faço para viver… — Não devia ter voltado, Rafael, devia ter ficado onde estava. — Só saí na época da academia. E depois papai faleceu. Não podia deixar você sozinha aqui. — Eu sei. Mas, tinha Antunes, ele sempre olhou por mim. E não se preocupe em ser descoberto, ninguém sabe o que você faz nem vai saber. Lavo sua farda e a deixo secar dentro da cozinha com tudo fechado. — Por isso quero tirar você daqui. Se corro perigo você, também corre. Antunes mesmo andando do lado errado sempre nos socorreu. — Eu sei, mas você não é o único que se esconde. Há outros também. — Sim, há. Queremos mostrar que nos orgulhamos, sou um tira, amo minha profissão. Mostrar isso aqui é pedir para morrer. Que inferno! Odeio ter de me esconder. Entendia sua revolta, na comunidade, PM não entrava sem ser recebido à bala pelos traficantes. Rafael por ser um, corria perigo de ser descoberto e as consequências
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disso seriam terríveis, para nós dois. Sacudi levemente a cabeça tentando afastar os pensamentos. Todos viviam em constante vigilância. Quando ouvíamos os estouros dos fogos, corríamos para dentro de casa sabendo que mais um confronto estava para acontecer. Eram horas de pânico. Olhei para ele e segurei sua mão. Ele tinha 28 anos, alto, musculoso, olhos verdes, seus cabelos eram castanho-escuros. Era um homem bonito. — Promete uma coisa, Maia? — Claro. — Se qualquer coisa sair errada a primeira coisa que vai fazer é sair daqui — parou fazendo-me parar também –— Sair, Maia, sem olhar para trás. — Por que está dizendo isso? — Perguntei com a impressão que ele sabia algo e não queria revelar. — Ouvi coisas. Não quero preocupar você. Só me prometa. Estranhei a ênfase com que ele fazia o pedido, mas concordei. — Ótimo, e não deixe de estudar, continue nas aulas de violão. Promete? — Para com isso! — pedi com irritação — Nada vai dar errado. E está pedindo três coisas. — Sim, eu sei. Mas promete? — E as crianças, Rafael? Vou abandoná-las? A custo consegui fazer algumas se interessarem pelas aulas de violão. — Eu sei, mas tem que pensar em você também. Daniel está fechando o cerco sobre você. Sei que Marta colocou você a par da situação — ele me parou — Ela falou aquilo para te proteger. Acho que foi uma maneira de se
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