São Paulo 2016
Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa
Aneliza Amaral
Ilustração
Cau Snevlan
Diagramação
Editora Baraúna
Revisão
Patrícia Amurari
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ A517s Amaral, Rodrigo Dardé Sampaio Socialismo : me conta essa história direito / Rodrigo Dardé Sampaio Amaral. 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. : il. ISBN 978-85-437-0701-3 1. Socialismo - Interpretação e crítica. 2. Socialismo - História. I. Título. 16-36341
CDD: 335.4 CDU: 330.85
________________________________________________________________ 19/09/2016 22/09/2016 Impresso no Brasil Printed in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
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A Valentina e Thomas, que possam desfrutar de um mundo livre.
Sumário Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Um gesto de vigarice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Capítulo I - Uma breve história do movimento comunista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Capítulo II - Testando uma teoria científica (com humanos). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Capítulo III - O atoleiro latino-americano. . . . . 111 Capítulo IV - Engels, onde foi que erramos???. . 143 Capítulo V - As metástases intelectuais . . . . . . . 163 Capítulo VI - E o que o Brasil tem com isso?. . . 207 Capítulo VII - O que se opõe ao socialismo?. . . 223 Capítulo VIII - Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . 241 Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Prefácio Se o autor não informasse, logo nos primeiros parágrafos deste livro cativante, que foi salvo da esparrela do esquerdismo, em plena ascensão do PT na década de 1980 do século passado, pela intuição de que havia uma relação entre “a estrela vermelha” e a ruína de tantos povos, eu juraria que “Socialismo. Me conta essa história direito!” foi escrito por um ex-comuna arrependido, um desses convertidos à razão aos quais comumente se aplica a frase célebre de Goethe: “contra nada somos mais severos do que contra os erros que abandonamos”. Bendita intuição! Na falta de conhecimento e maturidade, muitas vezes é só ela que nos resta quando algum militante acontece de se interessar pela nossa juventude e energia, e decide cooptar-nos para empregá-las em sua luta por uma “sociedade mais justa”. Não nos esqueçamos, porém, de que o menino, como nota o defunto Brás Cubas em suas Memórias Póstumas, é o pai do homem, de modo que a intuição do jovem Rodrigo Amaral era já, em alguma medida, a manifestação do mesmo espírito crítico, independência e coragem intelectual que encontramos ao longo de toda esta obra. 9
Essas qualidades, amadurecidas pela experiência e aguçadas pelo estudo, são postas aqui a serviço da dissecação impiedosa de um cadáver; um cadáver que produziu, em vida, a maior pilha de cadáveres da história humana, e que, a despeito do adiantado estado de putrefação, ainda procria por estas bandas: o socialismo. E procria, sobretudo, no segredo das salas de aula, tirando proveito da audiência cativa de milhões de estudantes cujas mentes desprevenidas oferecem um campo fértil à mitomania esquerdista. Este livro é, sem dúvida, um antídoto poderoso contra os efeitos da doutrinação e da propaganda comunista que come solta nas escolas e universidades brasileiras, para descrédito e vergonha do Ministério Público. Entre outros benefícios, sua leitura elimina por completo o risco de que você, leitor, venha a sentir um dia a compulsão de fazer uma tattoo com a imagem de Che Guevara. A essa desgraça vai preferir, decerto, que lhe apaguem um charuto cubano na pele! Num ritmo de exposição acelerado, empregando uma linguagem direta e acessível, Amaral apresenta ao leitor uma consistente resenha das imposturas e dos fracassos históricos do socialismo; da sua influência nefasta sobre a política, a economia, a cultura, a moral e o caráter dos indivíduos, nas sociedades que se deixaram impregnar por suas ideias. O vigor da argumentação impressiona. Como o pugilista cubano Guillermo Rigondeaux Ortiz ‒ citado a propósito de um dos mais vergonhosos episódios da era bolivariana da nossa diplomacia ‒, Amaral se movimenta com incrível velocidade, mantém os olhos fixos em seu oponente/objeto, desferindo-lhe golpes potentes e certeiros, com ambas as mãos. Não deixa pedra sobre pedra. 10
Um dos pontos altos do livro, a meu ver, é aquele em que se patenteia, por uma lista interminável de produtos que nos são oferecidos, como que por milagre, pela “mão invisível” do livre mercado, a absoluta impossibilidade de que nossas infinitas e infinitamente diversificadas necessidades materiais possam ser supridas pela burocracia modorrenta de qualquer economia planificada. Ao fim, o ceticismo abre espaço a uma esperança moderada, realista e conservadora, sem concessões ao wishful thinking: para o Brasil, pelo menos, o jogo não está perdido. Se a maioria hoje desiludida com o projeto socialista entender que o seu fracasso não se deve a falhas de execução, mas à inviabilidade historicamente comprovada do próprio projeto, encontraremos o caminho da prosperidade e da civilização; do contrário, continuaremos deslizando rumo à irrelevância. Como sempre, a escolha é nossa. Miguel Nagib
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SOCIALISMO Me conta essa HISTÓRIA direito! “Uma das penalidades por recusar-se a participar da política é que você acaba sendo governado por inferiores” – Platão, filósofo grego
Um gesto de vigarice “Não poderás ajudar aos homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios.” – Abraham Lincoln – Ex-lenhador e ex-Presidente americano
O pouco que restava da infância ia definitivamente se dissipando quando tínhamos pela primeira vez na vida que nos preocupar em ser adultos. Coisa muito sem graça... O 3o colegial (equivalente ao 3o ano do ensino médio) seguia de vento em popa e infelizmente não havia um 4o colegial, um 5o colegial, nem outros pela frente. Não havia tampouco a opção de continuar dormindo à tarde, jogar
videogame, futebol e viajar com os amigos. A farra chegava ao fim. Bem à nossa frente, ocupando todo o horizonte, só o que se via era o vestibular, como uma barreira inevitável a ser superada, demarcando o início de uma nova fase das nossas existências. Particularmente, eu não via isso com muita excitação, mas sim já com um pouco de nostalgia antecipada, angústia e tensão, pois muito mais importante que a admissão em uma faculdade, estava diante de nós o seguinte dilema: Que tipo de adulto se tornar? É essa a pergunta que se faz a um jovem de 16 anos. Você vai ser engenheiro, advogado, artista, médico, surfista, arquiteto, professor? Uma decisão com implicações marcantes para o resto de nossas vidas, ainda mais porque os padrões inflexíveis impostos pela burocracia do Ministério da Educação e Cultura não possibilitam nenhum espaço para uma correção suave de rumo durante a fase acadêmica. Não existia, como continua não existindo, a opção de tatear o futuro e as possibilidades, tomando decisões intermediárias menos comprometedoras à medida que novas experiências e conhecimentos fossem revelando nossos reais talentos e preferências. Uma vez escolhido errado, o jeito seria abraçar o erro ou iniciar outro curso a partir do zero. Uma covardia. Portanto, nada mais justo e natural que fôssemos muito bem aconselhados por um especialista com experiência ilibada. Desta forma, ninguém menos que o Diretor da escola anunciou, com notável pompa, que faria uma palestra às duas classes do 3o ano, a fim de ajudar a orientar as nossas escolhas. E assim foi. No dia combinado, o sujeito surgiu à frente da classe exibindo sua calvície pronunciada, um vasto cavanhaque 14
um pouco grisalho, óculos redondos projetados à frente de olhos profundos e abriu o seu discurso com exatamente as seguintes palavras: “Se nós estivéssemos em Cuba…” e prosseguiu lamentando o quanto nós brasileiros éramos desafortunados em face aos jovens cubanos, em cujo país os ditadores orientavam a profissão que eles iriam seguir, tendo em vista seu suposto conhecimento superior das reais necessidades laborais, eximindo os alunos da chateação de refletirem sobre seus próprios destinos, apostarem em seus próprios talentos, acreditarem em seus próprios sonhos e de serem donos de seus próprios narizes. Do ponto de vista de seus propósitos oficiais, a palestra foi evidentemente inócua, tendo servido ao único objetivo vigarista de se aproveitar de mais uma oportunidade para praticar lavagem cerebral em cima dos alunos, em favor de uma filosofia falida, totalitária, desumana e cruel. Mas embora o teor da palestra houvesse me surpreendido de início, não foi de fato um choque, já que os sinais de toda aquela armação estavam presentes de forma indiscriminada havia muito tempo no dia a dia da escola: professores ministrando aulas com o broche da estrelinha vermelha de cinco pontas no peito, professores de História e Geografia absolutamente descomprometidos com o conteúdo curricular e preocupados em doutrinar os alunos, greves politizadas etc. e tudo isso acompanhado do comportamento normalmente associado àquela filosofia, como a falta de pontualidade, de organização, de rigor, de presença e compromisso, atributos tidos como virtudes burguesas. Ademais, havia anos que eu ouvia que o objetivo da escola não era apenas nos preparar para o ves15