Era apenas um menino

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S達o Paulo 2013


Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa AF Capas / Cleiton Nascimento Parente Projeto Gráfico Aline Benitez Revisão Bianca Briones

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ P252e Parente, Vicente Gomes Era uma vez um menino/ Vicente Gomes Parente. - São Paulo: Baraúna, 2013. ISBN 978-85-7923-665-5 1. Romance brasileiro. I. Título. 13-1101.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

20.02.13 21.02.13 042922 ________________________________________________________________

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Dedicatória Este livro eu dedico a Deus que por Jesus Cristo, Seu filho amado, me resgatou do império das trevas e da ignorância. Dedico à minha esposa Fátima. Dedico aos meus familiares. Dedico a todos aqueles que, quando criança, encontraram na venda de pães, picolés, jornais, bananas, laranjas, amendoins e outras tantas fontes de renda lícita, um jeito de contribuir para o sustento de suas casas. Dedico aos sonhadores e a todos aqueles que acreditam que nada é impossível ao que crê.



Sumário Lembranças de um Menino . . . Primeiras palavras. . . . . . . . . O vento levou as revistas . . . . O menino e os passarinhos . . . O pequeno vendedor . . . . . . . A freguesa que fazia caridade . O pequeno fotógrafo. . . . . . . . Conclusões de um Menino. . . .

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Lembranças de um Menino Um dia, quando saí do cinema, tinha umas pessoas cantando no coreto da praça uma música que era muito bonita. Era um pouco triste, mas era muito bonita. Só ouvi aquela música uma vez, mas gostei muito. Eu não sei quem canta, mas é muito bonita. Acho que era assim: “Em todo rosto de criança reflete esperança, forte emoção; O riso puro e cristalino É verdadeiro hino de compreensão. Lugar tão bonito é ser menino, Inocência ser divino, Tão distante da paixão. Menino não tem preconceito, Sabe que é direito viver em comunhão,

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Menino vive de alegria, Semeia harmonia, alenta o perdão. Lugar tão bonito é ser menino, Inocência ser divino, Tão distante da paixão.” Eu queria que ela tocasse no rádio!

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Primeiras palavras Este livro foi escrito no outono de 2011, com a pretensão de homenagear a todos os meninos e meninas, em especial aqueles e aquelas que movidos por um sonho ou por uma necessidade, sem sacrificar o período de escola e sem qualquer acanhamento, tornaram-se, em algum momento, vendedores de jornais, picolés, frutas e verduras, peixes e amendoins, etc. Almejo que as homenagens alcancem também aos pais desses meninos e meninas, porquanto, apesar das adversidades, de algum modo contribuíram para que seus filhos alcançassem a realização de sonhos. Creio que muitos que um dia se dispuseram ao singelo serviço de venda de coisas simples e oportunas pelas ruas e bairros de suas cidades são hoje doutores da vida, diplomados pela decência e pela honestidade. Outros continuam a servir a sociedade com serviços úteis, necessários e honestos, sejam como médicos, advo11


gados, engenheiros e contadores; sejam como pedreiros, marceneiros, serralheiros ou domĂŠsticos. Louvo a Deus pela vida daqueles que nĂŁo se esqueceram de suas origens e que nĂŁo perdem a oportunidade de apontar o caminho por eles trilhado.

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O vento levou as revistas Nos domingos quase sempre é assim: pela manhã minha mãe sempre me obriga a ir à igreja assistir às missas celebradas pelo padre José Dumont e à tarde sempre que posso vou às matinês no Cine Itapoã. Das missas quase nada entendo; mas sempre fica alguma coisa na minha lembrança. Dos filmes que vejo, também não entendo muito, mesmo porque ainda não sei ler. Gosto muito de filme de ação. Gosto de todos, mas tem uns que eu gosto mais porque quase sempre o artista é ajudador das pessoas em dificuldade. Tem vez até que eu queria ser como um daqueles artistas e também ajudar as pessoas necessitadas. Parece que os dias e as semanas são sempre iguais: de dia, além da escola, eu me ocupo brincando com bola de capotão, bolinha de gude, pipa, bilboquê e com jogo de bete, carrinho de rolimã e tudo o mais que eu tiver pra brincar. Tem vez que eu aproveito umas latas

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de sardinha ou de quitute para fazer um caminhão ou mesmo uma caçamba para carregar terra de um lugar para o outro. Faço tratores, faço finca, faço carinho de rolimã, faço baladeira. Eu faço muitos brinquedos. É melhor fazer do que comprar, porque assim eu faço o brinquedo do jeito que quero. Além disso, como tudo é muito caro e não tenho dinheiro, nunca posso comprar o que desejo. À noite a gente brinca de pique-esconde ou vai mexer com as meninas nas brincadeiras de roda. Lá perto da minha casa tem um terreiro de macumba — pelo menos é assim que as pessoas dizem — o filho da mulher que toma conta do terreiro é quem melhor faz pipa ali por perto. Outro dia, parece que eles estavam fazendo uma sessão. Achei que era porque havia um toque de tambor, cânticos, palmas e gritos. Ao ouvir aquilo, um dos meninos que estava em frente da minha casa esperando os meus irmãos para brincar de pique — esconde, disse em tom de gaiatice: — Acho que eu vou acabar com aquela sessão de macumba! Sem nada mais dizer, ele caminhou a passos largos em direção ao terreiro, aproximou-se da porta e olhou pela fresta para cubar o movimento e após avaliar a situação, tirou do bolso uma bombinha de São João, riscou um palito de fósforo e tão logo o pavio começou a pegar fogo, ele empurrou a bomba por baixo da porta e correu. Enquanto corria, ele se parecia muito com um jumento correndo atrás de uma jumenta: na medida em que ele corria, parece que ele sorria por cima e por baixo. Os

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frouxos de riso eram por conta da arte que ele fez e os peidos, disse ele, eram pelo medo das consequências. Outro dia fui jogar bola com alguns colegas no campo dos marianos. Só que logo começou a chover e como não estava perto de casa, a gente foi se esconder no alpendre da igreja. Nisso um dos colegas queria porque queria saber como era badalar um sino. O lugar onde ficava o sino era alto, mas dava pra gente subir e puxar a corda. Teve um que disse que era pecado badalar o sino; outro disse que não era, mas que o padre não ia gostar. Um terceiro achou que que a mãe dele ia correr para a igreja achando que tivesse acontecido alguma coisa; talvez uma missa de corpo presente. Nisto o menino que queria saber como era badalar o sino disse: tô nem aí, eu só quero me divertir! Para não ficar atrás, também disse que queria me divertir. Ainda estava chovendo muito quando deixamos o alpendre da igreja. No caminho para a nossa rua havia pelo menos três casas que tinham latada de maracujá. Paramos na primeira e fomos tirar maracujá. Como estava chovendo era quase certo que o dono ou a dona da casa não ia sair pra brigar com a gente. Também tiramos na segunda e na terceira. Foi uma festa! Tinha maracujá de todo tipo: tinha daquele azedinho, do doce e também daquele que a gente chamava de maracujá de quilo que era grande, mas não era bom. Tem dia que a gente vai tomar banho no corgo e aí a gente aproveita pra atirar de baladeira. Tutu, o meu irmão é muito bom de baladeira. Até coelho ele já matou! Mas ele disse que tem medo dos carros que têm chapa branca, porque eles podem tomar a baladeira de qual-

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