Copyright © Socorro Acioli Capa e Projeto Gráfico Rex Design Ilustração Mariana Zanetti Editoração Eletrônica Rex Design Coordenação Editorial Editora Biruta 1a edição - 2006
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Acioli, Socorro Edite Oliveira O anjo do lago / Socorro Acioli Edite Oliveira ; [ilustradora Mariana Rodriguez Zanetti] – – São Paulo : Biruta, 2006. ISBN 85-88159-65-1 1. Literatura infanto-juvenil I. Zanetti, Mariana Rodriguez. II. Título
05-5916 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil 028.5 2. Literatura infanto-juvenil 028.5
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CDD-028.5
A primeira missão Eu havia acabado de completar quatorze anos, quando nadei pela primeira vez no Lago dos Segredos. Era a última lua cheia de dezembro e a água estava salpicada de estrelas. Lembro muito bem aquela noite, os meus cabelos compridos espalhados pela água e os peixes de todas as cores que brincavam perto de mim. Naquele dia, enquanto eu nadava com os peixes e estrelas, era Tiago quem acendia as velas para iluminar a casa onde eu iria morar, em uma pequena ilha bem no meio do lago. Após o banho, entrei no meu novo lar e vi as luzes das velas espalhadas por todos os lados. Foi ele, Tiago, quem iluminou a minha vida. E eu nem suspeitava que ele estava ali perto, o tempo todo.
Mas antes de chegar ao Lago dos Segredos, muitas coisas importantes aconteceram nos quatorze primeiros anos da minha vida, enquanto eu esperava o grande momento da minha primeira missão. Aos onze anos de idade, eu já sabia tocar cinco instrumentos, nadava muito bem, voava com perfeição, escrevia com as duas mãos e lia de trás para frente em mais de doze idiomas. Na escola onde eu estudava os alunos podiam escolher as matérias que gostariam de aprender, de acordo com os talentos de cada um. O início do meu trabalho chegaria muito em breve e certamente estaria de acordo com as minhas matérias preferidas. Além disso eu brinquei bastante, tive muitos amigos e fiz algumas travessuras que os anjos da minha idade faziam, como campeonato de bolinha de nuvem e carona em estrela cadente. Ainda lembro exatamente o dia em que eu soube que minha missão seria no Lago dos Segredos. Era uma segunda-feira, depois do almoço. Estávamos em casa, eu e meus pais, quando recebemos a visita de um consultor do Departamento de Trabalhos e Missões – DTM.
Nós líamos juntos na sala, como de costume. Nessa época eu havia aprendido a ler o que outros anjos tinham nas mãos, por telepatia, portanto eu acompanhava as histórias dos três livros ao mesmo tempo, quando o consultor tocou a sineta da porta. O nome dele era Bartolomeu, um anjo alto, careca, de óculos, com jeito sóbrio, voz sossegada e dentes muito bonitos. Era experiente e de muita idade, para lá dos 1850 anos. Via-se pela cor das asas, que já estavam escurecendo e pesavam nas costas.
Entrou em casa com um rosto tão triste que nos deixou assustados. O velho anjo caminhou em direção a meu pai e lhe deu os pêsames pela morte de Ivan, personagem do livro, que acabara de morrer. Papai aceitou as condolências, com os olhos rasos d´água, enquanto eu aproveitei para guardar o meu diário, que estava perto de mim, antes que ele comentasse alguma coisa, já que ele conseguia ler de longe até livros fechados. Felizmente, ele mudou de feição, olhou para mim e sorriu, dizendo: - Mas, precisamos também nos alegrar por Ranulla, uma mulher de muita força interior! – dessa vez referindo-se ao livro que eu tinha nas mãos e contava a história de uma angolana que acabara de ter um filho, sozinha, na selva africana. Eu sempre gostei de livros de aventura.
Virando-se para minha mãe, comentou a beleza do casamento da página 86 do livro que ela estava lendo, falou das flores, das comidas, das palavras do pai da noiva e, se deixássemos, o senhor Bartolomeu comentaria todos os livros da casa, que não eram poucos. Definitivamente, a conversa não teria fim se eu não tentasse mudar de assunto. Foi quando perguntei a ele se não era o momento de saber mais sobre a minha missão, já que meu aniversário de quatorze anos chegaria em breve e eu precisava fazer minha matrícula no Curso de Preparação Específica – CPE, que acontecia um mês antes de assumir a missão.
Foi então que ele bateu na testa, como se lembrasse de repente de algo que havia esquecido, e tirou três folhas de papel de um envelope lacrado com selo do Departamento de Trabalhos e Missões. Preparou a voz e leu um documento oficial, dizendo que, pelo excelente resultado do meu preparo para a Missão Inicial, na escola e em família, eu poderia ler os Classificados dos Anjos e escolher o trabalho que mais parecesse com minha vocação.
Praticamente nenhum anjo tem acesso a esse jornal, só mesmo a alta cúpula do Departamento de Trabalhos e Missões, que seleciona os anjos para as tarefas ao redor do mundo. A maioria recebe a primeira missão determinada e não tem opção de escolha. Meus pais ficaram muito orgulhosos, mas, antes de entregar o jornal, o Sr. Bartolomeu alertou, com uma cara muito séria, que eu deveria fazer a escolha sozinha. Eles teriam tempo para comentar o trabalho escolhido, mas somente depois de minha decisão. Enquanto eles, meus pais e o Sr. Bartolomeu, conversavam sobre as Missões Iniciais que estavam sendo determinadas para os outros anjos e sobre os problemas da Terra, eu fui ao meu quarto para ler o jornal. Aquele momento era de grande responsabilidade; eu precisava, de fato, ouvir o meu coração. A Missão Inicial seria uma das escolhas mais importantes da minha longa vida.